E - Cap. X - Item
21
Compreender e
desculpar sempre, porque todos necessitamos de compreensão e desculpa, nas
horas do desacerto, mas observar a coerência para que os diques da
tolerância não se esbarrondem, corroídos pela displicência sistemática,
patrocinando a desordem.
Disse Jesus: "amai
os vossos inimigos".
E o Senhor
ensinou-nos realmente a amá-los, através dos seus próprios exemplos de
humildade sem servilismo e de lealdade sem arrogância.
Ele sabia que Judas,
o discípulo incauto, bandeava-se, pouco a pouco, para a esfera dos
adversários que lhe combatiam a mensagem renovadora...
A pretexto de amar
os inimigos, ser-lhe-ia lícito afastá-lo da pequena comunidade, a fim de
preservá-la, mas preferiu estender-lhe mãos fraternas, até a última crise
de deserção, ensinando-nos o dever de auxiliar aos companheiros de tarefa,
na prática do bem, enquanto isso se nos torne possível.
Não ignorava que os
supervisores do Sinédrio lhe tramavam a perda...
A pretexto de amar
os inimigos, poderia solicitar-lhes encontros cordiais para a discussão de
política doméstica, promovendo recuos e concessões, de maneira a poupar
complicações aos próprios amigos, mas preferiu suportar-lhes a perseguição
gratuita, ensinando-nos que não se deve contender, em matéria de
orientação espiritual, com pessoas cultas e conscientes, plenamente
informadas, quanto às obrigações que a responsabilidade do conhecimento
superior lhes precoitua.
°°°
Certificara-se de
que Pilatos, o juiz dúbio, agia, inconsiderado...
A pretexto de amar
os inimigos, não lhe seria difícil recorrer à justiça de instância mais
elevada, mas preferiu agüentar-lhe a sentença iníqua, ensinando-nos que a
atitude de todos aqueles que procuram sinceramente a verdade não comporta
evasivas.
Percebia, no
sacrifício supremo, que a multidão se desvairava...
A pretexto de amar
os inimigos, era perfeitamente cabível que alegasse a extensão dos
serviços prestados, pedindo a comiseração pública, a fim de que se lhe não
golpeasse a obra nascente, mas preferiu silencia e partir, invocando o
perdão da Providencia Divina para os próprios verdugos, ensinando-nos que
é preciso abençoar os que nos firam e orar por eles, sem, contudo,
premiar-lhes a leviandade para que a leviandade não alegue crescimento com
o nosso apoio.
°°°
Jesus entendeu a
todos, beneficiou a todos, socorreu a todos e esclareceu a todos,
demonstrando-nos que a caridade, expressando amor puro, é semelhante ao
sol que abraça a todos, mas não transigiu com o mal.
Isso quer dizer que
fora da caridade não há tolerância sem coerência.
(De
“Opinião Espírita”, de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, pelos
Espíritos Emmanuel e André Luiz)
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