Vazio existencial
A alucinação midiática, a
serviço do mercantilismo de tudo, vem, a pouco e pouco, dessacralizando o
ser humano, que perde o sentido existencial, tombando no vazio agônico
de si mesmo.
Numa cultura eminentemente utilitarista e
imediatista, o tempo-sem-tempo favorece a fuga da autoconsciência do
indivíduo para o consumismo tão arbitrário quão perverso, no qual o
culto da personalidade tem primazia, desde a utilizaçào dos recursos de
implantes e programas de aperfeiçoamento das formas, com tratamentos
especializados e de alto custo, até os sacrifícios cirúrgicos
modificando a estrutura da organização somática.
O belo, ou aquilo que se convencionou denominar como
beleza, é um dos novos deuses do atual Olimpo, ao lado das
arbitrariedades morais e emocionais em decantado culto à liberdade, cada
vez mais libertina.
A ausência dos sentimentos de nobreza,
particularmente do amor, impulsiona o comércio da futilidade e do
ilusório, realizando-se a criatura enganosamente nos objetos e
utensílios de marca, que lhe facultam o exibicionismo e a provocação da
inveja dos menos favorecidos, disputando-se no campeonato da insensatez.
Em dias de utopia, nos quais se vale pelo que se
apresenta e não pelo que se é, o eto convencional, os ideais que
dignificam e trabalham as forças normais cedem lugar aos prazeres
ligeiros e frustrantes que logo abrem espaço a novas mentirosas
necessidades.
O cárcere do relógio, impedindo que se vivencie cada
experiência em sua plenitude e totalidade, sem saltar-se de uma para
outra apressadamente, torna os seus prisioneiros cada vez mais ávidos de
novidades, por se lhes apresentar o mundo assinalado pela sua
fugacidade.
Exige-se que todos se encontrem em intérmino banquete
de alegrias, fingindo conforto e bem-estar nas coisas e situações a que
se entregam, distantes embora da realidade e dos significados
existenciais.
A tristeza, a reflexão, o comedimento já não merecem
respeito, sendo tidos como transtornos de conduta, numa exaltação
fantasiosa e sem limite em relação aos júbilos destituídos de
fundamentos.,
Certamente, não fazemos apologia desses estados
naturais, mas eles constituem pausas necessárias para refazimento
emocional nas extravagâncias do cotidiano.
Sempre quando são recalcados e não logram
conscientização, inevitavelmente se transformam em problemas orgânicos
pelo fenômeno da somatização.
Muito melhor é a vivência da tristeza legítima e
necessária, em caráter temporário, do que a falsa alegria, a máscara da
felicidade sem conteúdos válidos.
Nesse contubérnio infeliz, tudo é muito rápido e passa quase sem deixar vestígio da sua ocorrência.
O agora, em programação de longo alcance, elaborado
ao amanhecer, logo mais, à tarde, transforma-se em passado distante, sem
recordações ou como impositivo de esquecimento para novas formulações
prazerosas.
Quando não se vivencia o presente em sua
profundidade, perdem-se as experiências que ficaram arquivadas no
passado. E todo aquele que não possui o passado nos arquivos da memória
atual é destituído de futuro, por faltarem-lhe alicerces para a sua
edificação.
Nessa volúpia hedonista, o egotismo governa as mentes
e condutas, produzindo o isolamento na multidão e a solidão nos
escaninhos da alma.
Todo prazer que representa alegria real impõe um alto
preço pela falta de espontaneidade, pela comercialização dos seus
valores e emoções.
* * *
Não seja de estranhar-se que a juventude
desorientada, sempre arrebatada pela música de mensagem rebelde e
agressiva, de conteúdo deprimente e aterrorizante, com a INTERNET
exibindo as imagens de adolescentes suicidas em demonstração de coragem e
desprezo pela vida, ignore as possibilidades de um futuro risonho, que
lhe parece falacioso.
Os esportes que os gregos cultivavam, assim como
outros povos, como meios de recreação, arte e beleza – exceção feita aos
espetáculos grosseiros nos circos de Roma imperial – vemos alguns deles
hoje transformados em campos de batalha, nos quais os seus grupos de
aficionados armam-se para rudes refregas com os opositores e em que os
atletas não têm outro vínculo com os seus clubes, senão o interesse
pelos altos rendimentos, favorecem a brutalidade e a barbárie com a
destruição de imóveis, veículos e vidas, quando um deles perde na
disputa nem sempre honorável...
Aprendendo com os adultos a negar as qualidades do
bem e da paz, na azáfama exclusiva do desfrutar, essa aturdida mocidade
entrega-se à drogadição, em busca do êxtase que logo passa trazendo-a à
realidade decepcionante. O desencanto, que se lhe instala, de imediato
deve ser diminuído no tempo e no espaço, facultando-lhe buscar novos
estimulantes ou entorpecentes para esquecer ou para gozar.
Nesse particular, a comercialização do sexo aviltado
com os ingredientes do erotismo tecnicista, exaure os seus dependentes,
consumindo-os.
É inevitável, nesta cultura pagà e perversa, a presença do vazio existencial nas criaturas humanas, suas grandes vítimas.
Apesar da ocorrência mórbida, bem mais fácil do que parece é a conquista dos objetivos da reencarnação.
Pessoa alguma encontra-se na indumentária carnal por impositivo do acaso ou por injunção de um destino cego e cruel.
Existe uma finalidade impostergável no renascimento
do Espírito na organização carnal, que se constitui da oportunidade para
o autoburilamento por colisões e atritos, qual ocorre com as
gemas preciosas que necessitam da lapidação para libertar a luminosidade
adormecida no seu interior.
Uma releitura atenta dos códigos de ética e de
justiça de todos os tempos proporciona o reencontro com os reais valores
que devem nortear a vida humana.
O tecido social ora esgarçado e tênue ante uma
revisão sistêmica dos objetivos de elevação moral em favor da aquisição
da alegria real, sem as máscaras da mistificação, adquiriria resistência
para os enfrentamentos, abrindo espaço para a justiça social, para o
auxílio recíproco.
Esse ser biopsicossocial é, antes de tudo, imortal, criado por Deus para viver em plena harmonia durante a viagem orgânica.
Indispensável, pois, se torna a elaboração de programas educacionais e labores que propiciem a autoconsciência.
As conquistas tecnológicas e midiáticas são neutras
em si mesmas, considerando-se os inestimáveis benefícios oferecidos à
sociedade terrestre, que saiu da treva e da ignorância para a luz e o
conhecimento.
A ganância e os tormentos interiores de alguns dos
seus executivos e multiplicadores de opinião respondem pela fabricação
de líderes da alucinação, de exibidores da rebeldia, de fanáticos da
agressividade e da promiscuidade.
Usadas de maneira adequada, encaminhariam com
saudável conduta os milhões de vítimas que arrasta, especialmente na
inexperiência da juventude rica de sonhos que se transformam em hórridos
pesadelos.
O vazio existencial consome o ser e atira-o na depressão, empurrando-o para o suicídio.
Em uma cultura saudável, a alegria nào impede a
tristeza, nem essa atormenta, por constituir-se um fenômeno psicológico
natural do ser, profundo em si mesmo.
* * *
Se experimentas esse vazio interior, desmotivado para
viver ou para laborar em favor do bem-estar pessoal, abre-te ao amor e
deixa-te conduzir pelas suas desconhecidas emoções que te plenificarão
com legítimas aspirações, oferecendo-te um alto significado psicológico e
humano.
Reflexiona, pois, na correria louca para lugar nenhum
e considera a vida a oportunidade de sorrir e produzir, descobrindo-te
útil a ti mesmo e à comunidade.
Mas, se insistir essa estranha sensação, faze mais e
melhor, esquecendo-te de ti mesmo, auxilia outrem a lograr aquilo por
que anela, e descobrirás que, ao fazê-lo feliz, preenchido de paz,
estarás ditoso também.
Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira
Franco, do Espírito Joanna de Ângelis, na reunião mediúnica de 29 de
outubro de 2008, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador,
Bahia.
Em 26.02.2009.
Em 26.02.2009.