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terça-feira, 14 de agosto de 2012

Seminário Apocalipse, Mitos e Verdades


Mensagem de Chico psicografada por Wagner da Paixão


Mensagem de Emmanuel através da psicofonia de Chico Xavier


Entrevista com Arnaldo Rocha e mensagem psicofonica de Chico Xavier. Confiram , vale a pena.


O sacrifício mais agradável a Deus

O Evangelho Segundo o Espiritismo


Se, portanto, quando fordes depor vossa oferenda no altar, vos lembrardes de que o vosso irmão tem qualquer coisa contra vós, — deixai a vossa dádiva junto ao altar e ide, antes, reconciliar-vos com o vosso irmão; depois, então, voltai a oferecê-la. — (S. MATEUS, cap. V, vv. 23 e 24.)
Quando diz: “Ide reconciliar-vos com o vosso irmão, antes de depordes a vossa oferenda no altar”, Jesus ensina que o sacrifício mais agradável ao Senhor é o que o homem faça do seu próprio ressentimento; que, antes de se apresentar para ser por ele perdoado, precisa o homem haver perdoado e reparado o agravo que tenha feito a algum de seus irmãos. Só então a sua oferenda será bem aceita, porque virá de um coração expungido de todo e qualquer pensamento mau. Ele materializou o preceito, porque os judeus ofereciam sacrifícios materiais; cumpria--lhe conformar suas palavras aos usos ainda em voga. O cristão não oferece dons materiais, pois que espiritualizou o sacrifício. Com isso, porém, o preceito ainda mais força ganha. Ele oferece sua alma a Deus e essa alma tem de ser purificada. Entrando no templo do Senhor, deve ele deixar fora todo sentimento de ódio e de animosidade, todo mau pensamento contra seu irmão. Só então os anjos levarão sua prece aos pés do Eterno. Eis aí o que ensina Jesus por estas palavras: “Deixai a vossa oferenda junto do altar e ide primeiro reconciliar-vos com o vosso irmão, se quiserdes ser agradável ao Senhor.”
 
(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. X, itens 7 e 8.)

As Penas Futuras Segundo o Espiritismo . A carne é fraca

Livro selecionado: "O Céu e o Inferno"
Capítulo VII
As Penas Futuras Segundo o Espiritismo
A carne é fraca
Há tendências viciosas que são evidentemente inerentes ao Espírito, pois que se ligam mais ao moral do que ao físico. Outras parecem antes resultar do organismo e por isso acredita-se que acarretam menos responsabilidade: tais são as predisposições à cólera, à preguiça, à sensualidade etc.
Hoje está perfeitamente reconhecido pelos filósofos espiritualistas que os órgãos cerebrais correspondentes às diversas aptidões devem o seu desenvolvimento à atividade do Espírito. Esse desenvolvimento é, assim, um efeito e não uma causa. Um homem não é músico porque tenha a bossa da música, mas ele tem essa bossa porque o seu espírito é músico.
Se a ação do Espírito influi no cérebro, deve igualmente influir sobre outras partes do organismo. O Espírito é assim o artífice do seu próprio corpo que ele modela, por assim dizer, apropriando-o às suas necessidades e à manifestação das suas tendências. Assim sendo, a perfeição corporal das raças adiantadas não seria conseqüência de criações distintas, mas o resultado do trabalho do espírito que aperfeiçoa o seu instrumento na medida em que as suas faculdades se desenvolvem.
Por uma conseqüência natural desse princípio, as disposições morais do Espírito devem modificar as funções sanguíneas, dando-lhes maior ou menor atividade, bem como provocar secreções mais ou menos abundantes da bilis ou de outros fluidos. É assim, por exemplo, que o glutão sente a boca encher-se de água ao ver comidas apetitosas. Não é a comida em si que pode excitar os orgãos do gosto, desde que não há nenhum contato. É pois o Espírito, cuja sensualidade foi despertada, que age pelo pensamento sobre esses órgãos, enquanto para outra pessoa a visão dessa comida não produz nenhum efeito.(25)
É ainda por essa mesma razão que uma pessoa sensível verte lágrimas com facilidade. Não é a existência de lágrimas em abundância que dá sensibilidade ao Espírito, mas é a sensibilidade do Espírito que provoca a secreção abundante de lágrimas. Sob a influência da sensibilidade espiritual o organismo apropriou-se a essa disposição natural do Espírito, como o do glutão se apropriou à disposição do seu Espírito.
Seguindo esta ordem de idéias, compreende-se que um espírito irascível deve impulsionar um temperamento bilioso, de maneira que um homem não é colérico por ser bilioso, mas é bilioso porque o seu Espírito é colérico. Acontece o mesmo com todas as demais disposições instintivas. Um Espírito fraco e indolente dará ao seu organismo uma condição de atonia em relação ao seu caráter, enquanto um espírito ativo e enérgico transmitirá ao seu sangue e aos seus nervos disposições bastante diferentes. A ação do Espírito sobre o físico é de tal maneira evidente, que vemos freqüentemente graves desordens orgânicas se produzirem por efeito de violentas comoções morais. A expressão comum: a emoção pôs-lhe o sangue a ferver não é tão desprovida de senso como se poderia pensar. Ora, o que poderia agitar o sangue se não o Espírito por suas disposições morais?(26)
(25) As famosas experiências de Pavlov com a salivação dos cães demonstraram, no campo da psicologia fisiológica, materialista, a verdade desta afirmação de Kardec. Os reflexos condicionados não devem o seu condicionamento à ação dos alimentos sobre os órgãos gustativos, mas ao conhecimento mental do animal aos sinais da campainha que anunciam o alimento. No homem, esse processo é mais refinado. (N. de T.)
(26) A Medicina Psicossomática, a Psicoterapêutica em geral, e atualmente a Parapsicologia vieram confirmar cientificamente, em nossos dias, através de pesquisas e experiências, a verdade desse princípio. (N. do T.)

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Capítulo VII
As Penas Futuras Segundo o Espiritismo
A carne é fraca (continuação)
Pode-se admitir que o temperamento é, pelo menos em parte, determinado pela natureza do Espírito, que é causa e não efeito. Dizemos em parte porque há casos em que o físico influi evidentemente sobre o moral. É quando um estado mórbido ou anormal é determinado por uma causa externa, acidental, independente do Espírito, como a temperatura, o clima, os vícios hereditários que influem na constituição, um mal-estar passageiro, etc. O moral do Espírito pode então ser afetado nas suas manifestações pelo estado patológico, sem que a sua natureza própria seja por isso modificada.
Desculpar-se dos seus defeitos com a fraqueza da carne é, pois, lançar mão de um sofisma para escapar à responsabilidade. A carne só é fraca quando o Espírito é fraco, o que inverte a questão e deixa ao Espírito a responsabilidade de todos os seus atos. A carne, que não tem pensamento nem vontade, jamais prevalece sobre o Espírito, que é o ser pensante e dotado de vontade. É o Espírito que dá à carne as qualidades correspondentes aos seus instintos, como um artista imprime na sua obra material o selo do seu gênio. O Espírito liberto dos instintos da animalidade modela um corpo que não é mais um tirano das suas aspirações de espiritualização. É então que o homem come para viver, porque viver é uma necessidade, mas não vive para comer.
A responsabilidade moral dos nossos atos na vida permanece, portanto, inteiramente nossa. Mas a razão nos diz que as conseqüências dessa responsabilidade devem estar em relação com o desenvolvimento intelectual do Espírito. Quanto mais ele for esclarecido, menos desculpável será, porque com a inteligência e o senso moral nascem as noções do bem e do mal, do justo e do injusto.(27)
Esta lei explica os insucessos da Medicina em certos casos. Desde que o temperamento é um efeito e não causa, os esforços feitos para modificá-lo são necessariamente embaraçados pelas disposições morais do Espírito, que opõe uma resistência inconsciente e neutraliza a ação terapêutica. É pois sobre a causa primeira que se deve agir. Dai, se possível, coragem ao poltrão e vereis cessarem os efeitos fisiológicos do medo.(28)
Isto prova mais uma vez a necessidade, para a arte de curar, de levar em conta a ação do elemento espiritual sobre o organismo. (Ver Revista Espírita de Março de 1869).

(27) Kardec deixa de lado, nesse texto, o problema das influenciações espíritas na conduta humana, para acentuar a responsabilidade individual e intransferível de cada um na prática dos seus atos. Mesmo porque as influências espíritas dependem das condições morais do homem. Assim como não podemos atribuir à carne as nossas imperfeições, também não podemos atribuí-Ias aos nossos inimigos ou perseguidores invisíveis. Pois eles só conseguem agir sobre nós na medida em que correspondemos aos seus estímulos. Sem a nossa aceitação, as suas sugestões e até mesmo os seus impulsos não produzem efeito. (N. do T.)
(28) Esta posição espírita coincide hoje plenamente com a posição das Ciências no campo da Medicina. Bastaria o desenvolvimento da Medicina Psicossomática para demonstrá-lo. Mas o avanço da Parapsicologia vai mais longe, abrindo caminho para a compreensão do problema da influenciação espiritual e das conseqüências da reencarnação na vida presente. Leia-se a respeito o livro La Guerison par Ia pensée, de Robert Tocquet, Paris, 1970, e o livro 20 Casos Sugestivos de Reencarnação, de lan Stevenson, tradução da Editora Edicel, Brasília (DF), 1970. (N. do T.)


IV. SÓCRATES E PLATÃO, PRECURSORES DA DOUTRINA CRISTÃ E DO ESPIRITISMO

IV. SÓCRATES E PLATÃO, PRECURSORES DA DOUTRINA CRISTÃ E DO ESPIRITISMO
Da suposição de que Jesus devia conhecer a seita dos Essênios, seria errado concluir que ele bebeu nessa seita a sua doutrina, e que, se tivesse vivido em outro meio, professaria outros princípios. As grandes idéias não aparecem nunca de súbito. As que tem a verdade por base contam sempre com precursores, que lhes preparam parcialmente o caminho. Depois, quando o tempo é chegado, Deus envia um homem com a missão de resumir, coordenar e completar os elementos esparsos, com eles formando um corpo de doutrina. Dessa maneira, não tendo surgido bruscamente, a doutrina encontra, ao aparecer, espíritos inteiramente preparados para a aceitar. Assim aconteceu com as idéias cristãs, que foram pressentidas muitos séculos antes de Jesus e dos Essênios, e das quais foram Sócrates e Platão os principais precursores.
Sócrates, como o Cristo, nada escreveu, ou pelo menos nada deixou escrito. Como ele, morreu a morte dos criminosos, vítima do fanatismo, por haver atacado as crenças tradicionais e colocado a verdadeira virtude acima da hipocrisia e da ilusão dos formalismos, ou seja: por haver combatido os preconceitos religiosos. Assim como Jesus foi acusado pelos Fariseus de corromper o povo com os seus ensinos, ele também foi acusado pelos Fariseus do seu tempo _ pois que os tem havido em todas as épocas, _ de corromper a juventude, ao proclamar o dogma da unicidade de Deus, da imortalidade da alma e da existência da vida futura. Da mesma maneira porque hoje não conhecemos a doutrina de Jesus senão pelos escritos dos seus discípulos, também não conhecemos a de Sócrates, senão pelos escritos do seu discípulo Platão. Consideramos útil resumir aqui os seus pontos principais, para demonstrar sua concordância com os princípios do Cristianismo.
Aos que encarassem este paralelo como uma profanação, pretendendo não ser possível haver semelhanças entre a doutrina de um pagão e a do Cristo, responderemos que a doutrina de Sócrates não era pagã, pois tinha por finalidade combater o paganismo, e que a doutrina de Jesus, mais completa e mais depurada que a de Sócrates, nada tem a perder na comparação. A grandeza da missão divina do Cristo não poderá ser diminuída. Além disso, trata-se de fatos históricos, que não podem ser escondidos. O homem atingiu um ponto em que a luz sai por si mesma debaixo do alqueire e o encontra maduro para enfrentar. Tanto pior para os que temem abrir os olhos. É chegado o tempo de encarar as coisas do alto e com amplitude, e não mais do ponto de vista mesquinho e estreito dos interesses de seitas e de castas.
Estas citações provarão, além disso, que, se Sócrates e Platão pressentiram as idéias cristãs, encontram-se igualmente na sua doutrina os princípios fundamentais do Espiritismo.
(1) A Morte de Jesus, que se diz escrita por um irmão essênio, é um livro completamente apócrifo, escrito a serviço de determinada opinião, e que traz em si mesmo a prova da sua origem moderna.
RESUMO DA DOUTRINA DE SÓCRATES E PLATÃO
I _ O homem é uma alma encarnada. Antes de sua encarnação, ela existia junto aos modelos primordiais, às idéias do verdadeiro, do bem e do belo. Separou-se delas ao encarnar-se, e lembrando seu passado, sente-se mais ou menos atormentada pelo desejo de a elas voltar.
Não se pode enunciar mais claramente a distinção e a independência dos dois princípios, o inteligente e o material. Além disso, temos aí a doutrina da preexistência da alma; da vaga intuição que ela conserva, da existência de outro mundo, ao qual aspira; de sua sobrevivência à morte do corpo; de sua saída do mundo espiritual, para encarnar-se; e da sua volta a esse mundo, após a morte. É, enfim, o germe da doutrina dos anjos decaídos.
II _ A Alma se perturba e confunde, quando se serve do corpo para considerar algum objeto; sente vertigens, como se estivesse ébria, porque se liga a coisas que são, por sua natureza, sujeitas a transformações. Em vez disso, quando contempla sua própria essência, ela se volta para o que é puro, eterno, imortal, e sendo da mesma natureza permanece nessa contemplação tanto tempo quanto possível. Cessam então as suas perturbações, e esse estado da alma é o que chamamos de sabedoria.
Assim, o homem que considera as coisas de baixo, terra à terra, do ponto de vista material, vive iludido. Para apreciá-las com justeza, é necessário vê-las do alto, ou seja, do ponto de vista espiritual. O verdadeiro sábio deve, portanto, de algum modo, isolar a alma do corpo, para ver com os olhos do espírito. É isso o que ensina o Espiritismo (Cap. II, nº 5).
III _ Enquanto tivermos o nosso corpo e a nossa alma se encontrar mergulhada nessa corrupção, jamais possuiremos o objeto de nossos desejos: a verdade. De fato, o corpo nos oferece mil obstáculos, pela necessidade que temos de cuidar dele; além disso, ele nos enche de desejos, de apetites, de temores, de mil quimeras e de mil tolices, de maneira que, com ele, é impossível sermos sábios por um instante. Mas, se nada se pode conhecer puramente enquanto a alma está unida ao corpo, uma destas coisas se impõe: ou que jamais se conheça a verdade, ou que se conheça após a morte. Livres da loucura do corpo, então conversaremos, é de esperar-se, com homens igualmente livres, e conhecermos por nós mesmos a essência das coisas. Eis porque os verdadeiros filósofos se preparam para morrer, e a morte não lhes parece de maneira alguma temível. (O Céu e o Inferno, Iª parte, cap. 2º, e IIª parte, cap. 1º)
Temos aí o princípio das faculdades da alma obscurecidas pela mediação dos órgãos corporais, e da expansão dessas faculdades depois da morte. Mas trata-se, aqui, das almas evoluídas, já depuradas; não acontece o mesmo com as almas impuras.
IV _ A alma impura, nesse estado, encontra-se pesada, e é novamente arrastada para o mundo visível, pelo horror do que é invisível e imaterial. Ela erra, então, segundo se diz, ao redor dos monumentos e dos túmulos, junto dos quais foram vistos às vezes fantasmas tenebrosos, como devem ser as imagens das almas que deixaram o corpo sem estar inteiramente puras, e que conservam alguma coisa da forma material, o que permite aos nossos olhos percebê-las. Essas não são as almas dos bons, mas as dos maus, que são forçadas a errar nesses lugares, onde carregam as penas de sua vida passada, e onde continuam a errar, até que os apetites inerentes à sua forma material as devolvam a um corpo. Então, elas retomam sem dúvida os mesmos costumes que, durante a vida anterior, eram de sua predileção.
Não somente o princípio da reencarnação está aqui claramente expresso, mas também o estado das almas que ainda estão sob o domínio da matéria é descrito tal como o Espiritismo o demonstra, nas evocações. E há mais, pois, afirma-se que a reencarnação é uma conseqüência da impureza da alma, enquanto as almas purificadas estão livres dela. O Espiritismo não diz outra coisa, apenas acrescenta que a alma que tomou boas resoluções na erraticidade, e que tem conhecimentos adquiridos, trará menos defeitos ao renascer, mais virtudes e mais idéias intuitivas do que na existência precedente, e que, assim, cada existência marca para ela um progresso intelectual e moral. (O Céu e o Inferno, IIª parte: exemplos).
V _ Após a nossa morte, o gênio (daimon, démon) que nos havia sido designado durante a vida, nos leva a um lugar onde se reúnem todos os que devem ser conduzidos ao Hades, para o julgamento. As almas, depois de permanecerem no Hades o tempo necessário, são reconduzidas a esta vida, por numerosos e longos períodos.
Esta é a doutrina dos Anjos guardiães ou Espíritos protetores, e das reencarnações sucessivas, após intervalos mais ou menos longos de erraticidade.
VI _ Os demônios preenchem o espaço que separa o Céu da Terra; são os laços que ligam o Grande Todo consigo mesmo. A divindade não entra jamais em comunicação direta com os homens, mas é por meio dos demônios que os deuses se relacionam e conversam com eles, seja durante o estado de vigília, seja durante o sono.
A palavra daimon, da qual se originou demônio, não era tomada no mau sentido pela Antigüidade, como entre os modernos. Não se aplicava essa palavra exclusivamente aos seres malfazejos, mas aos Espíritos em geral, entre os quais se distinguiam os Espíritos menos elevados, ou demônios propriamente ditos, que se comunicavam diretamente com os homens. O Espiritismo ensina também que os Espíritos povoam o espaço; que Deus não se comunica com os homens senão por intermédio dos Espíritos puros, encarregados de nos transmitir a sua vontade; que os Espíritos se comunicam conosco durante o estado de vigília e durante o sono. Substitui a palavra demônio pela palavra Espírito, e tereis a doutrina espírita; ponde a palavra anjo, e tereis a doutrina cristã.
VII _ A preocupação constante do filósofo (tal como o compreendem Sócrates e Platão) é a de ter o maior cuidado com a alma, menos em vista desta vida, que é apenas um instante, do que em vista da eternidade. Se a alma é imortal, não é sábio viver com vistas à eternidade?
O Cristianismo e o Espiritismo ensinam a mesma coisa.
VIII _ Se a alma é imaterial, ela deve passar, após esta vida, para um mundo igualmente invisível e imaterial, da mesma maneira que o corpo, ao se decompor, retorna à matéria. Importa somente distinguir bem a alma pura, verdadeiramente imaterial, que se nutre, como Deus, da ciência e de pensamentos, da alma mais ou menos manchada de impurezas materiais, que a impede de elevar-se ao divino, retendo-a nos lugares de sua passagem pela Terra.
Sócrates e Platão, como se vê, compreendiam perfeitamente os diferentes graus de desmaterialização da alma. Eles insistem sobre as diferenças de situação que resultam para ela, de sua maior ou menor pureza. Isso que eles diziam por intuição, o Espiritismo o prova, pelos numerosos exemplos que nos põe diante dos olhos (O Céu e o Inferno, IIª parte).
IX _ Se a morte fosse a dissolução total do homem, isso seria de grande vantagem para os maus, que após a morte estariam livres, ao mesmo tempo, de seus corpos, de suas almas e de seus vícios. Aquele que adornou sua alma, não com enfeites estranhos, mas com os que lhes são próprios, ele somente poderá esperar com tranqüilidade a hora de sua partida para o outro mundo.
Em outros termos, quer dizer que o materialismo, que proclama o nada após a morte, seria a negação de toda a responsabilidade moral ulterior, e por conseguinte um estímulo ao mal; que o malvado tem tudo a ganhar com o nada; que o homem que se livrou dos seus vícios e se enriqueceu de virtudes é o único que pode esperar tranqüilamente o despertar na outra vida. O Espiritismo nos mostra, pelos exemplos que diariamente nos põe ante os olhos, quanto é penosa para o malvado a passagem de uma para a outra vida, a entrada na vida futura (O Céu e o Inferno, IIª parte, cap. 1º).
X _ O corpo conserva os vestígios bem marcados dos cuidados que se teve com ele ou dos acidentes que sofreu. Acontece o mesmo com a alma. Quando ela se despoja do corpo, conserva os traços evidentes de seu caráter, de seus sentimentos, e as marcas que cada um dos seus atos lhe deixou. Assim, a maior desgraça que pode acontecer a um homem, é a de ir para o outro mundo com uma alma carregada de culpas. Tu vês, Calicles, que nem tu, nem Polus, nem Górgias, poderíeis provar que se deve seguir outra vida que nos seja mais útil, quando formos para lá. De tantas opiniões, a única que permanece inabalável é a de que mais vale sofrer que cometer uma injustiça, e que antes de tudo devemos aplicar-nos, não a parecer, mas a ser um homem de bem. (Conversações de Sócrates com os discípulos na prisão).
Aqui se encontra outro ponto capital, hoje confirmado pela experiência, segundo o qual a alma não purificada conserva as idéias, as tendências, o caráter e as paixões que tinha na Terra. Esta máxima: mais vale sofrer do que cometer uma injustiça, não é inteiramente cristã? É o mesmo pensamento que Jesus exprime por esta figura: "Se alguém te bater numa face, oferece-lhe a outra". (Cap. XII, Mateus, V: 38-42 e nº 7 e 8).
XI _ De duas, uma: ou a morte é a destruição absoluta, ou é a passagem de uma alma para outro lugar. Se tudo deve extinguir-se, a morte é como uma dessas raras noites que passamos sem sonhar e sem nenhuma consciência de nós mesmos. Mas se a morte é apenas uma mudança, a passagem para um lugar em que os mortos devem reunir-se, que felicidade a de ali reencontrar os nossos conhecidos! Meu maior prazer seria o de examinar de perto os habitantes dessa morada, e dentre eles distinguir, como aqui, os que são sábios dos que crêem sê-lo e não o são. Mas já é tempo de partirmos, eu para morrer e vós para viver. (Sócrates a seus julgadores).
Segundo Sócrates, os homens que viveram na Terra encontram-se depois da morte e se reconhecem. O Espiritismo no-los mostra continuando suas relações, de tal maneira que a morte não é uma interrupção, nem uma cessação da vida, mas uma transformação, sem solução de continuidade.
Sócrates e Platão, se tivessem conhecido os ensinamentos que o Cristo daria quinhentos anos mais tarde, e os que o Espiritismo hoje nos dá, não teriam falado de outra maneira. Nisso, nada há que nos deva surpreender, se considerarmos que as grandes verdades são eternas, e que os Espíritos adiantados devem tê-las conhecido antes de vir para a Terra, para onde as trouxeram. Se considerarmos ainda que Sócrates, Platão, e os grandes filósofos do seu tempo, podiam estar, mais tarde, entre aqueles que secundaram o Cristo na sua divina missão, sendo escolhidos precisamente porque estavam mais aptos do que outros a compreender os seus sublimes ensinos. E que eles podem, por fim, participar hoje da grande plêiade de Espíritos encarregados de vir ensinar aos homens as mesmas verdades.
XII _ Não se deve nunca retribuir a injustiça com a injustiça, nem fazer mal a ninguém, qualquer que seja o mal que nos tenham feito. Poucas pessoas, entretanto, admitem esse princípio, e as que não concordam com ele só podem desprezar-se umas às outras.
Não é este o princípio da caridade, que nos ensina a não retribuir o mal com o mal e a perdoar aos inimigos?
XIII _ É pelos frutos que se conhece a árvore. É necessário qualificar cada ação segundo o que ela produz: chamá-la má quando a sua conseqüência é má, e boa quando produz o bem.
Esta máxima: "É pelos frutos que se reconhece a árvore", encontra-se textualmente repetida, muitas vezes, no Evangelho.
XIV _ A riqueza é um grande perigo. Todo homem que ama a riqueza, não ama nem a ele nem ao que possui, mas a uma coisa que é ainda mais estranha do que aquilo que ele possui. (Cap. XVI).
XV _ As mais belas preces e os mais belos sacrifícios agradam menos à Divindade, do que uma alma virtuosa que se esforça por assemelhar-se a ela. Seria grave que os deuses se interessassem mais pelas nossas oferendas do que pelas nossas almas. Dessa maneira, os maiores culpados poderiam conquistar os seus favores. Mas não, pois só são verdadeiramente sábios e justos os que, por suas palavras e seus atos, resgatam o que devem aos deuses e aos homens. (Cap. X, nº 7 e 8).
XVI _ Chamo de homem vicioso ao amante vulgar, que ama mais ao corpo que à alma. O amor está por toda a natureza, e incita-nos a exercer a nossa inteligência: encontramo-lo até mesmo no movimento dos astros. É o amor que adorna a natureza com suas ricas alfombras: ele se enfeita e fixa a sua morada onde encontra flores e perfumes. É ainda o amor que traz a paz aos homens, a calmaria ao mar, o silêncio aos ventos e o sossego à dor.
O amor, que deve unir os homens por um sentimento de fraternidade, é uma conseqüência dessa teoria de Platão sobre o amor universal, como lei da natureza. Sócrates, tendo dito que "o amor não é um deus nem um mortal, mas um grande demônio", ou seja, um grande Espírito que preside ao amor universal; esta afirmação lhe foi sobretudo imputada como crime.
XVII _ A virtude não pode ser ensinada; ela vem por um dom de Deus aos que a possuem.
É quase a doutrina cristã sobre a graça. Mas se a virtude é um dom de Deus, é um favor, e pode perguntar-se por que ela não é concedida a todos? De outro lado, se ela é um dom, não há mérito de parte daquele que a possui. O Espiritismo é mais explícito. Ele ensina que aquele que a possui, a adquiriu pelos seus esforços nas vidas sucessivas, ao se livrar pouco a pouco das suas imperfeições. A graça é a força que Deus concede a todo homem de boa-vontade, para se livrar do mal e fazer o bem.
XVIII _ Há uma disposição natural, em cada um de nós, para nos apercebermos bem menos dos nossos defeitos, do que dos defeitos alheios.
Capítulo XXIII • Moral Estranha
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Controle Universal do Ensino dos Espíritos

Livro selecionado: "O Evangelho Segundo o Espiritismo"
II Autoridade Da Doutrina Espírita
Controle Universal do Ensino dos Espíritos
Se a doutrina espírita fosse uma concepção puramente humana, não teria como garantia senão as luzes daquele que a tivesse concebido. Ora, ninguém neste mundo poderia ter a pretensão de possuir, sozinho, a verdade absoluta. Se os Espíritos que a revelaram se houvessem manifestado a apenas um homem, nada lhe garantiria a origem, pois seria necessário crer sob palavra no que dissesse haver recebido os seus ensinos. Admitindo-se absoluta sinceridade de sua parte, poderia no máximo convencer as pessoas do seu meio, e poderia fazer sectários, mas não chegaria nunca a reunir a todos.
Deus quis que a nova revelação chegasse aos homens por meio mais rápido e mais autêntico. Eis porque encarregou os Espíritos de a levarem de um pólo ao outro, manifestando-se por toda parte, sem dar a ninguém o privilégio exclusivo de ouvir a sua palavra. Um homem pode ser enganado e pode enganar-se a si mesmo, mas não aconteceria assim, quando milhões vêem e ouvem a mesma coisa: isto é uma garantia para cada um e para todos. Demais, pode fazer-se desaparecer um homem, mas não se faz desaparecerem as massas; podem-se queimar livros, mas não se podem queimar Espíritos. Ora, queimem-se todos os livros, e a fonte da doutrina não será menos inesgotável, porque não se encontra na Terra, surge de toda parte e cada um pode captá-la. Se faltarem homens para a propagar, haverá sempre os Espíritos, que atingem a todos e que ninguém pode atingir.
São realmente os próprios Espíritos que fazem a propaganda, com a ajuda de inumeráveis médiuns, que eles despertam por toda parte. Se houvesse um intérprete único, por mais favorecido que esse fosse, o Espiritismo estaria apenas conhecido. Esse intérprete, por sua vez, qualquer que fosse a sua categoria, provocaria a prevenção de muitos; não seria aceito por todas as nações. Os Espíritos, entretanto, comunicando-se por toda parte, a todos os povos, a todas as seitas e a todos os partidos, são aceitos por todos. O Espiritismo não tem nacionalidade, independe de todos os cultos particulares, não é imposto por nenhuma classe social, visto que cada um pode receber instruções de seus parentes e amigos de além-túmulo. Era necessário que assim fosse, para que ele pudesse conclamar todos os homens à fraternidade, pois se não se colocasse em terreno neutro, teria mantido as dissenções, em lugar de apaziguá-las.
Esta universalidade do ensino dos Espíritos faz a força do Espiritismo, e é ao mesmo tempo a causa de sua tão rápida propagação. Enquanto a voz de um só homem, mesmo com o auxílio da imprensa, necessitaria de séculos para chegar aos ouvidos de todos, eis que milhares de vozes se fazem ouvir simultaneamente, em todos os pontos da Terra, para proclamar os mesmos princípios e os transmitir aos mais ignorantes e aos mais sábios, a fim de que ninguém seja deserdado. É uma vantagem de que não pôde gozar nenhuma das doutrinas aparecidas até hoje. Se, portanto, o Espiritismo é uma verdade, ele não teme nem a má vontade dos homens, nem as revoluções morais, nem as transformações físicas do globo, porque nenhuma dessas coisas pode atingir os Espíritos.
Mas não é esta a única vantagem que resulta dessa posição excepcional. O Espiritismo ainda encontra nela uma poderosa garantia contra os cismas que poderiam ser suscitados, quer pela ambição de alguns, quer pelas contradições de certos Espíritos. Essas contradições são certamente um escolho, mas carregam em si mesmas o remédio ao lado do mal.
Sabe-se que os Espíritos, em conseqüência das suas diferenças de capacidade, estão longe de possuir individualmente toda a verdade; que não é dado a todos penetrar certos mistérios; que o seu saber é proporcional à sua depuração; que os Espíritos vulgares não sabem mais do que os homens; que há, entre eles, como entre estes, presunçosos e falsos sábios, que crêem saber aquilo que não sabem; sistemáticos, que tomam suas próprias idéias pela verdade; enfim, que os Espíritos da ordem mais elevada, que são completamente desmaterializados, são os únicos libertos das idéias e das preocupações terrenas. Mas sabe-se também que os Espíritos embusteiros não têm escrúpulos para esconder-se atrás de nomes emprestados, a fim de fazerem aceitar suas utopias. Disso resulta que, para tudo o que está fora do ensino exclusivamente moral, as revelações que alguém possa obter são de caráter individual, sem autenticidade, e devem ser consideradas como opiniões pessoais deste ou daquele Espírito, sendo imprudência aceitá-las e propagá-las levianamente como verdades absolutas.
O primeiro controle é, sem contradita, o da razão, ao qual é necessário submeter, sem exceção, tudo o que vem dos Espíritos. Toda teoria em contradição manifesta com o bom senso, com uma lógica rigorosa, com os dados positivos que possuímos, por mais respeitável que seja o nome que a assine, deve ser rejeitada. Mas esse controle é incompleto para muitos casos, em virtude da insuficiência de conhecimentos de certas pessoas, e da tendência de muitos, de tomarem seu próprio juízo por único árbitro da verdade. Em tais casos, que fazem os homens que não confiam absolutamente em si mesmos? Aconselham-se com os outros, e a opinião da maioria lhes serve de guia. Assim deve ser no tocante ao ensino dos Espíritos, que nos fornecem por si mesmos os meios de controle.
A concordância no ensino dos Espíritos é portanto o seu melhor controle, mas é ainda necessário que ela se verifique em certas condições. A menos segura de todas é quando um médium interroga por si mesmo numerosos Espíritos sobre uma questão duvidosa. É claro que, se ele está sob o império de uma obsessão, ou se tem relações com um Espírito embusteiro, este Espírito pode dizer-lhe a mesma coisa sob nomes diferentes. Não há garantia suficiente, da mesma maneira, na concordância que se possa obter pelos médiuns de um mesmo centro, porque eles podem sofrer a mesma influência.
A única garantia segura do ensino dos Espíritos está na concordância das revelações feitas espontaneamente, através de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e em diversos lugares.
Compreende-se que não se trata aqui de comunicações relativas a interesses secundários, mas das que se referem aos próprios princípios da doutrina. A experiência prova que, quando um novo princípio deve ser revelado, ele é ensinado espontaneamente, ao mesmo tempo, em diferentes lugares, e de maneira idêntica, senão na forma, pelo menos quanto ao fundo. Se, portanto, apraz a um Espírito formular um sistema excêntrico, baseado em suas próprias idéias e fora da verdade, pode-se estar certo de que esse sistema ficará circunscrito, e cairá diante da unanimidade das instruções dadas por toda parte, como já mostraram números exemplos. É esta unanimidade que tem posto abaixo todos os sistemas parciais surgidos na origem do Espiritismo, quando cada qual explicava os fenômenos a seu modo, antes que se conhecessem as leis que regem as relações do mundo visível com o mundo invisível.
Esta é a base em que nos apoiamos, para formular um princípio da doutrina. Não é por concordar ele com as nossas idéias, que o damos como verdadeiro. Não nos colocamos, absolutamente, como árbitro supremo da verdade,e não dizemos a ninguém: "Crede em tal coisa, porque nós vo-la dizemos". Nossa opinião não é, aos nossos próprios olhos, mais do que uma opinião pessoal, que pode ser justa ou falsa, porque não somos mais infalíveis do que os outros. E não é também porque um princípio nos foi ensinado que o consideramos verdadeiro, mas porque ele recebeu a sanção da concordância.
Na nossa posição, recebendo as comunicações de cerca de mil centros espíritas sérios, espalhados pelos mais diversos pontos do globo, estamos em condições de ver quais os princípios sobre que essa concordância se estabelece. É esta observação que nos tem guiado até hoje, e é igualmente ela que nos guiará, através dos novos campos que o Espiritismo está convocado a explorar. É assim que, estudando atentamente as comunicações recebidas de diversos lugares, tanto da França como do exterior, reconhecemos, pela natureza toda especial das revelações, que há uma tendência para entrar numa nova via, e que chegou o momento de se dar um passo à frente. Essas revelações, formuladas às vezes com palavras veladas, passaram quase sempre despercebidas para muitos daqueles que as obtiveram, e muitos outros acreditaram tê-las recebido sozinhos. Tomadas isoladamente, elas seriam para nós sem valor; somente a coincidência lhes confere gravidade. Depois, quando chega o momento de publicá-las, cada um se lembrará de haver recebido instruções no mesmo sentido. É esse o movimento geral que observamos e estudamos, com a assistência dos nossos guias espirituais, e que nos ajuda a avaliar a oportunidade de fazermos uma coisa ou de nos abstermos.
Esse controle universal é uma garantia para a unidade futura do Espiritismo, e anulará todas as teorias contraditórias. É nele que, no futuro, se procurará o criterium da verdade. O que determinou o sucesso da doutrina formulada no O Livro dos Espíritos e no O Livro dos Médiuns, foi que, por toda parte, cada qual pode receber, diretamente dos Espíritos, a confirmação do que eles afirmavam. Se, de todas as partes, os Espíritos os contradissessem, esses livros teriam, após tão longo tempo, sofrido a sorte de todas as concepções fantásticas. O apoio mesmo da imprensa não os teria salvo do naufrágio, enquanto que, privados desse apoio, não deixaram de fazer rapidamente o seu caminho, porque tiveram o dos Espíritos, cuja boa vontade compensou, com vantagem, a má vontade dos homens. Assim acontecerá com todas as idéias emanadas dos Espíritos ou dos homens, que puderem suportar a prova desse controle, cujo poder ninguém pode contestar.
Suponhamos, portanto, que alguns Espíritos queiram ditar, com qualquer título, um livro de sentido contrário; suponhamos mesmo que com intenção hostil, e com o fim de desacreditar a doutrina, a male volência suscitasse comunicações apócrifas. Que influência poderiam ter esses escritos, se eles são desmentidos de todos os lados pelos Espíritos? É da adesão desses últimos que se precisa assegurar, antes de lançar um sistema em seu nome. Do sistema de um só, ao sistema de todos, há a distância da unidade ao infinito. Que podem, mesmo, todos os argumentos dos detratores contra a opinião das massas, quando milhões de vozes amigas, vindas do espaço, chegam de todas as partes do Universo, e no seio de cada família os repelem vivamente? A experiência já não confirmou a teoria, no tocante a este assunto? Que foi feito de todas essas publicações que deviam, segundo afirmavam, destruir o Espiritismo? Qual delas conseguiu, pelo menos, deter-lhe a marcha? Até hoje não se havia considerado a questão desse ponto de vista, sem dúvida um dos mais graves? Cada um contou consigo mesmo, sem contar com os Espíritos.
O princípio da concordância é ainda uma garantia contra as alterações que, em proveito próprio, pretendessem introduzir no Espiritismo as seitas que dele quisessem apoderar-se, acomodando-o à sua maneira. Quem quer que tentasse fazê-lo desviar de seu fim providencial fracassaria, pela bem simples razão de que os Espíritos, através da universalidade dos seus ensinos, farão cair toda modificação que se afaste da verdade.
Resulta de tudo isto uma verdade capital: é que quem desejasse atravessar-se na corrente de idéias estabelecida e sancionada, poderia provocar uma pequena perturbação local e momentânea, mas jamais dominar o conjunto, mesmo no presente, quanto menos no futuro.
E resulta mais, que as instruções dadas pelos Espíritos, sobre os pontos da doutrina ainda não esclarecidos, não teriam força de lei, enquanto permanecessem isoladas, só devendo, por conseguinte, ser aceita sob todas as reservas, a título de informações.
Daí a necessidade da maior prudência na sua publicação, e no caso de julgar-se que devem ser publicadas, só devem ser apresentadas como opiniões individuais, mais ou menos prováveis, mas tendo, em todo o caso, necessidade de confirmação. É esta confirmação que se deve esperar, antes de apresentar um princípio como verdade absoluta, se não se quiser ser acusado de leviandade ou de credulidade irrefletida.
Os Espíritos Superiores procedem, nas suas revelações, com extrema prudência. Só abordam as grandes questões da doutrina de maneira gradual, à medida que a inteligência se torna apta a compreender as verdades de uma ordem mais elevada, e que as circunstâncias são propícias para a emissão de uma idéia nova. Eis porque, desde o começo, eles não disseram tudo, e nem o disseram até agora, não cedendo jamais à impaciência de pessoas muito apressadas, que desejam colher os frutos antes de amadurecerem. Seria, pois, inútil, querer antecipar o tempo marcado pela Providência para cada coisa, porque então os Espíritos verdadeiramente sérios recusam-se positivamente a ajudar. Os Espíritos levianos, porém, pouco se incomodando com a verdade, a tudo respondem. É por essa razão que, sobre todas as questões prematuras, há sempre respostas contraditórias.
Os princípios acima não são o resultado de uma teoria pessoal, mas a forçosa conseqüência das condições em que os Espíritos se manifestam. É evidente que, se um Espírito diz uma coisa num lugar, enquanto milhões dizem o contrário por toda parte, a presunção de verdade não pode estar com aquele que ficou só, e nem aproximar-se da sua opinião, pois pretender que um só tenha razão, contra todos, seria tão ilógico de parte de um Espírito como de parte dos homens. Os Espíritos verdadeiramente sábios, quando não se sentem suficientemente esclarecidos sobre uma questão, não a resolvem jamais de maneira absoluta. Declaram tratar do assunto de acordo com a sua opinião pessoal, e aconselham esperar-se a confirmação.
Por maior, mais bela e justa que seja uma idéia, é impossível que reúna, desde o princípio, todas as opiniões. Os conflitos que dela resultam são a conseqüência inevitável do movimento que se processa, e são mesmo necessários, para melhor fazer ressaltar a verdade. É também útil que eles surjam no começo, para que as idéias falsas sejam mais rapidamente desgastadas. Os espíritas que revelam alguns temores devem ficar tranqüilos. Todas as pretensões isoladas cairão, pela força mesma das coisas, diante do grande e poderoso criterium do controle universal.
Não será pela opinião de um homem que se produzirá a união, mas pela unanimidade da voz dos Espíritos. Não será um homem, e muito menos nós que qualquer outro, que fundará a ortodoxia espírita. Nem será tampouco um Espírito, vindo impor-se a quem quer que seja. É a universalidade dos Espíritos, comunicando-se sobre toda a Terra, por ordem de Deus. Este é o caráter essencial da doutrina espírita, nisto está a sua força e a sua autoridade. Deus quis que a sua lei fosse assentada sobre uma base inabalável, e foi por isso que não a fez repousar sobre a cabeça frágil de um só.
É diante desse poderoso areópago, que nem conhece o conluio, nem as rivalidades ciumentas, nem o sectarismo, nem as divisões nacionais, que virão quebrar-se todas as oposições, todas as ambições, todas as pretensões à supremacia individual, que nós quebraríamos nós mesmos, se quiséssemos substituir esses decretos soberanos por nossas próprias idéias. Será ele somente que resolverá todas as questões litigiosas, que fará calar as dissidências e dará falta ou razão a quem de direito. Diante desse grandioso acordo de todas as vozes do céu, que pode a opinião de um homem ou de um Espírito? Menos que uma gota d'água que se perde no oceano, menos que a voz de uma criança abafada pela tempestade.
A opinião universal, eis portanto o juiz supremo, aquele que pronuncia em última instância. Ela se forma de todas as opiniões individuais. Se uma delas é verdadeira, tem na balança o seu peso relativo; se uma é falsa, não pode sobrepujar as outras. Nesse imenso concurso, as individualidades desaparecem, e eis aí um novo revés para o orgulho humano.
Esse conjunto harmonioso já se esboça; portanto, este século não passará antes que ele brilhe em todo o seu esplendor, de maneira a resolver todas as incertezas; porque daqui para diante vozes poderosas terão recebido a missão de se fazerem ouvir, para reunir os homens sob a mesma bandeira, uma vez que o campo esteja suficientemente preparado. Enquanto isso, aquele que flutuar entre dois sistemas opostos poderá observar em que sentido se forma a opinião geral: é o indício seguro do sentido em que se pronuncia a maioria dos Espíritos, dos diversos pontos sobre os quais se comunicam; é um sinal não menos seguro de qual dos dois sistemas predominará.
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Evangelho em Casa por Meimei

terceira  reunião
Meimei
      
     
          No primeiro domingo de maio, o grupo mostrava-se a postos, na hora prevista.
         Achavam-se presentes não apenas Dona Romualda e Milota, que voltavam aos estudos, mas também Dona Matilde, uma senhora simpática que as seguia.
         Explicara Dona Romualda que ela e a filha; extremamente beneficiadas na semana anterior, não hesitavam em trazer Dona Matilde às orações, para que se reconfortasse, porquanto a estimada senhora, além de haver perdido o único filhinho, vitimado por insidiosa moléstia, lutava imensamente no lar, com a presença de sofredora irmã obsidiada.
            PRECE INCIAL
         Ante a quietude do recinto, Veloso orou com o habitual sentimento:
        
         -Cristo, Senhor Nosso, agora que começamos a ver, em espírito, guia=nos no caminho da verdade para que a sombra da ilusão não mais nos envolva.
         Inclina-nos para o bem de que necessitamos, e faze-nos conhecer os teus desígnios, a fim de que abracemos na vida o que seja melhor para nós. Assim seja.
LEITURA
         Concluída a prece, Veloso passou o Novo Testamento às mãos de Milota, que, após abri-lo, fez a reentrega do livro em que o orientador, depois de atento exame, leu o versículo 15, do capítulo 4, da Carta do Apóstolo Paulo aos Efésios:
         “Antes, seguindo a verdade em caridade, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo”.
         Indicando Marta para a continuidade da tarefa, passou a ler em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo IX, a mensagem sob o título “A Paciência”, assinada por “Um Espírito Amigo”.
COMENTÁRIO
         O diretor da reunião passou a elucidar:
         -Analisemos a mensagem que estamos recebendo em nossas preces de hoje.         O Apóstolo Paulo recomenda-nos “seguir a verdade em caridade”, para que venhamos a crescer no entendimento de Jesus, e O Evangelho Segundo o Espiritismo, na advertência da Esfera Superior, assevera-nos que “a paciência também é uma caridade”, e que nos cabe pratica-la, em obediência aos ensinos do Mestre.
         Quero crer que, na essência, estamos sendo prevenidos contra qualquer manifestação de crítica em nosso caminho.
         Que os outros possuem defeitos, tanto quanto os temos, é inegável. Mas, perdermos tempo na fixação deles, esquecendo que a vida evolui com a bênção de Deus, é futilidade e perturbação.
         Maledicência não resolve problema algum. Além disso, é sempre um corredor para a vala das trevas.
         Destacando os males alheios, olvidamos aqueles que são nossos.
         E, censurando, adotamos invariavelmente, perante a pessoa reprovada, a posição desagradável do aguilhão que lhe agita, no corpo, a parte ulcerada, sem dar-lhe remédio.
         A crítica é semelhante à soda cáustica sobre a ferida ou ao petróleo no incêndio.
         Só a loucura utilizaria uma e outro, à guisa de bálsamo para sanar uma chaga ou à feição da água para extinguir o fogo.
         A palavra maliciosa não ajuda nem mesmo aos nossos irmãos caídos no crime, visto que a acusação apenas lhes agrava o desprezo para consigo próprios e a revolta para com os outros.
         Quem faz a crítica de alguém, adotando semelhante procedimento, decerto indica a si mesmo para fazer algo melhor que o criticado.
         Ora, como fazer é mais importante que falar, faça o melhor quem se disponha à reprovação.
         Sabemos que as idéias são corporificadas em obras por nós mesmos.
         Se tivermos, portanto, que condenar esse ou aquele companheiro de trabalho ou de luta, ao invés de amargura-lo ou complica-lo, usando irritação e azedume, ajudamo-lo com o nosso próprio exemplo.
         Se uma criatura de nossas relações parece preguiçosa, não precisamos atrair-lhe a antipatia, ironizando-lhe a conduta.
         Trabalhemos nós mesmos, de maneira a acorda-la silenciosamente para o serviço.
         Surgindo viciado esse ou aquele amigo, não é justo que lhe busquemos a aversão com palavras cruéis, mas sim que lhe doemos, na demonstração de nossos exemplos, uma idéia nova da vida, para que se restaure.
         E não nos esqueçamos de que, às vezes, tudo resulta de mera suposição, porquanto, em muitos sucessos, o que se nos afigura preguiça ou viciação pode ser doença ainda oculta.
         Nós, os cristãos, não vêem Jesus exercendo a função de crítico em hora alguma. Aliás, empenhou-se em mostrar as qualidades nobres de todas as criaturas que lhe desfrutaram a convivência, aproveitando-as, sem se deter no que haviam sido, para ajuda-las a se encontrarem, como deviam ser. E, por fim, achou mais justo concretizar os seus princípios de perfeição na renúncia suprema, que clamar, ante o povo, contra os juízes de sua causa.
         É indispensável satisfazer à sábia fórmula do Evangelho, buscando “seguir a verdade em caridade”, porque a verdade, sem amor para com o próximo, é como luz que cega ou braseiro que requeima.
         Xingamentos, maldições, pragas, desesperos e exigências, não auxiliam. Servem apenas à intolerância e à separação que, em muitos casos, precedem a enfermidades e o crime.
         Cultivemos o bom exemplo. Nele deixou-nos o Cristo a única solução para os problemas de soerguimento e conduta.
         Quanto mais unidos a Jesus, mais amplas se nos fará a integração espontânea na caridade, em cujo clima toda censura desaparece.
CONVERSAÇÃO
         Veloso fez o sinal característico de quem havia terminado e já se inclinavam todos à conversação, quando um pássaro irrompeu no aposento, entrando pela janela escancarada.
         Houve surpresa.
         Lina deslocou-se, à pressa, com o evidente intuito de aprisiona-lo.
         O pai adiantou-se, porém, e explicou:
         -Ajudemos a pobre ave, Deve sentir-se desorientada na volta ao ninho.
         Dito isso, abriu uma outra janela, que se encontrava cerrada.
         Volteando no aposento revelava-se o passarinho assustadiço e cansado.
         Após o auxílio de Veloso, que o seguia de pé, ganhou o espaço livre e desapareceu.
         Os presentes sorriram, aliviados, e o entendimento da noite começou:
         VELOSO (Dirigindo-se a Lina) – Observou, minha filha? A ave repentinamente encarcerada suspirava pela liberdade. Não seria caridoso detê-la.
         CLÀUDIO – É como se um de nós estivesse perdido, a distância de nossa casa, não é, papai? Naturalmente, que o senhor e mãezinha ficariam ansiosos à nossa espera...
         VELOSO – Isso mesmo, meu filho.
         LINA – (Como querendo modificar o ambiente em que se via reprovada) – Papai, hoje tenho um assunto em que preciso muito de seus conselhos.
         VELOSO – Diga, filha. Estamos aqui para ouvir-nos uns aos outros.
         LINA – Tia Júlia e Silvia zombam de nós, quando o senhor está ausente. Dizem que Espiritismo é ilusão e que nós não devemos crer na comunicação dos que “morreram”...
         D. Zilda – Vocês estão rixando em matéria de religião?
         LINA – Nos não, mãezinha. Elas é que se riem de nós.
         VELOSO – Filha, ainda hoje, o nosso tema foi a caridade para com todos. Júlia e Silvia não estão podendo compreende-las, ainda mais. A Doutrina Espírita confirma o Evangelho de Nosso Senhor. E ninguém poderá negar, em sã consciência, que Jesus voltou do túmulo pela ressurreição, a conversar com os discípulos e a orienta-los. Mas discutir, quase sempre é instalar a irritação na própria alma. Nós, os espíritas, segundo crêem, devemos responder aos que nos critiquem, mesmo aos mais amados, com os nossos próprios exemplos. Calemo-nos, fazendo o melhor ao nosso alcance, em favor dos que nos cercam. Nossa Doutrina necessita ser lida e conhecida, antes de tudo, em nossos atos.
         CLÁUDIO – Quem sabe tia Júlia e Silvia virão a receber algum conselho de vovó Rosália? Ela estará conosco, no domingo próximo, que será Dia das Mães, e, como é velha, poderá falar sem que elas se riam...
         VELOSO – Filho, não diga que vovó é velha. A palavra “velha”, em nos referindo às pessoas, é vocábulo descabido. Há criaturas que mostrando longa experiência no corpo, revelam consigo maior mocidade que a dos jovens; porquanto, a mocidade, acima de tudo, é um estado da alma. Quando afirmamos que alguém está velho, insinuamos que está gasto e imprestável e essa não é definição que se faça para quem quer que seja...
         D. ZILDA – A observação é muito oportuna. Aliás, não se pode olvidar que os meninos e moços de hoje serão as pessoas amadurecidas de amanhã.
         VELOSO – Sim, o tempo é instrutor da vida para todos, Mas, voltemo-nos para nossas visitas. Dona Romualda trouxe-nos Dona Matilde. Procuremos ouvi-las.
         D. ROMUALDA – Nossa Matilde tem uma irmã bastante obsidiada.
         D. MATILDE – É minha irmã Iracema. Há dois meses grita sem cessar, atacada por Espíritos turbulentos e viciosos... Soube que os prezados amigos mantém aqui está reunião espírita e decidi-me a rogar-lhes cooperação...
         VELOSO – Sim podemos incluir nossa irmã enferma em nossas preces.
         D. ROMUALDA – Mas, não podemos fazer aqui alguma doutrinação direta, atraindo os obsessores? Matilde é médium e serviria na posição de instrumento...
         VELOSO – Decerto há que considerar algum engano... O culto do Evangelho no lar não inclui o tratamento dos desencarnados infelizes. Essa tarefa permanece mais sob a responsabilidade dos nossos templos.
         D. ROMUALDA – Então não se justifica o socorro aos Espíritos infelizes, acaso existentes em nosso ambiente doméstico...
         VELOSO – De modo algum. Indiscutivelmente, se o problema surge no ambiente familiar, é claro o impositivo de fazer-se o possível no amparo aos sofredores dessa espécie; contudo, a própria vida nos ensina que a delinqüência pode ser interpretada por enfermidade da alma, e, assim, os delinqüentes devem ser internados em lugar adequado ao tratamento preciso. Insistir pela manifestação dos Espíritos conturbados, no culto evangélico mais íntimo seria o mesmo que buscar pessoas desorientadas na praça pública a fim de tumultuar-nos serviço tão grave.
         D. MATILDE – Sua opinião é respeitável... Mas, sou médium escrevente e ficaria confortada se pudesse aproveitar a oportunidade, pelo menos para receber, se possível, a palavra de Jorge, meu irmão há tempos desencarnado, que me vem amparando, de mais perto. Trata-se de um mentor esclarecido...
         VELOSO – Nesse caso, a argumentação é diferente. O amigo espiritual que nos ajude é sempre visita estimável. A educação não pode cerrar as portas a quantos lhe possam acender novas luzes. Ao término de nossa reunião, esperaremos a palavra do benfeitor a que se reporta.
         D. ROMUALDA – As explicações são muito lógicas.
         D. ZILDA – Não podemos esquecer igualmente que, em nossas tarefas evangélicas do lar, os vários irmãos desencarnados sofredores, que porventura nos acompanhem, ouvem palavras de consolação e absorvem idéias renovadoras.
         D. ROMUALDA – (Designando Dona Matilde que chora em silêncio) – Além das muitas provações em casa, Matilde acaba de perder um filhinho devorado pelo câncer... Menino de apenas alguns meses de idade...
         D. MATILDE – Meu pobre David! Desencarnar canceroso aos dez meses! ... (Dirigindo-se ao diretor da reunião) – Qual a sua opinião irmão Veloso? Teria sido um fim de prova?
         VELOSO – (Após meditar alguns instantes) – Tivemos um caso semelhante em nosso templo espírita, há precisamente dois meses. Confortando o pai sofredor, um amigo espiritual explicou-nos que o pequenino havia perpetrado o suicídio, em existência anterior. Depois de vasto período de agonia purgativa, nas esferas inferiores, reencarnou-se com as seqüelas da tortura que infligira a si próprio, a projetar no corpo tenro os desajustamentos de que se fazia portador. Quanto ao pequeno David, em que órgão se lhe manifestou a enfermidade?
         D. MATILDE – Nos intestinos.
         VELOSO – É possível tenha ele usado violento corrosivo na existência última, adquirindo grande perturbação no corpo espiritual.
         D. ROMUALDA – Como vemos, a Doutrina Espírita pede estudo para que venhamos a entender os nossos problemas.
         D. ZILDA – O que mais lamento é a minha dificuldade para ler. Trabalho num estabelecimento escolar e lido com crianças durante o dia inteiro. Entretanto, se procuro ler esse ou aquele volume que não se refira à escola, começo imediatamente a cochilar. É um sono terrível...
         D. ROMUALDA – De qualquer modo, no entanto, precisamos conhecer e confrontar, porque a vida, em si mesma, é um grande livro sem letras, em que as lições são as nossas próprias experiências.
         VELOSO – Dona Romualda está certa. Todo dia é ocasião de aprender.
         D. ZILDA – (Fixando carinhosamente Lina e Marta, depois de pequeno intervalo em que Dona Matilde enxuga as lágrimas) – Tenho hoje uma comunicação para o grupo. Marta anunciou no culto da semana passada que Lina passou a auxilia-la espontaneamente. Acontece que, com isso, Marta agora vem cooperando com mais tempo e carinho nos serviços da casa. A providência aliviou-me bastante e, podendo dispor assim de novos recursos, dediquei-me a nova tarefa. (E abrindo pequeno pacote que trouxera para a mesa) – Com possibilidades novas, fiz nesta semana um enxoval para bebê, que ofereceremos, em nome do nosso culto evangélico, a alguma de nossas irmãs em necessidade maiores e que esteja aguardando a hora divina da maternidade.
         LINA – Oh! Mãezinha!...
         MARTA – Que peças lindas!
         CLÁUDIO – Tudo tão bonito!...
         VELOSO – Estou feliz, vendo nossa casa começando a produzir o bem para os outros, sem prejuízo do orçamento doméstico. Disse-nos o Apóstolo que a fé sem obras é morta. Do ponto de vista do Evangelho, tudo segue melhorando, quando sentimos necessidade de auxiliar com desinteresse. Anotamos hoje um ensinamento edificante. O Evangelho ajudou nossa Lina a cumprir o próprio dever. O Evangelho e Lina cooperaram com Marta, a fim de que esta pudesse fazer um pouco a mais em seu trabalho e, agora, o Evangelho, Lina e Marta auxiliaram nossa Zilda a socorrer, em nome de nosso conjunto, a outro lar em lutas maiores que as nossas. Agradeçamos a Deus semelhantes bênçãos!...
        
NOTA SEMANAL
         O silêncio envolveu a assembléia, prenunciando o encerramento, e Veloso tomou a palavra sorrindo:
         -Já que nossa Zilda experimenta cansaço, relatarei aqui um episódio curioso que me foi narrado por um amigo. Poderemos denomina-lo:
O SUSTENTO DO CORPO E DO ESPÍRITO
         Certo aprendiz, em conversa com o professor, queixou-se de grande incapacidade para reter as lições.
         Sentia-se sonolento, desmemoriado...
         Ao cabo de alguns instantes de leitura, esquecia de todo os textos mais importantes, ainda mesmo os que se referissem às suas mais prementes necessidades.
         Que fazer para evitar a perturbação?
         Travou-se então entre os dois o seguinte diálogo:
         -Meu filho, quando tens sede, foges do copo d’água?
         -Impossível. Morreria torturado.
         -Quando nu, abandonas a veste?
         -De modo algum. Não dispenso o agasalho.
         -Esqueces de levar o alimento à boca, ao te apresentarem a refeição?
         -Nunca. Como poderia andar sem comer?
         -Pois também não podes viver sem educação – concluiu o orientador – Lembra-te dessa verdade e estarás acordado para os ensinamentos de nossos mestres.
         O mentor do grupo esboçou silencioso gesto de bom humor e salientou:
         -Nossa alma precisa estudar e conhecer, tanto quanto nosso corpo necessita de respirar e nutrir-se.
ENCERRAMENTO
         Veloso pediu aos circunstantes alguns minutos de silêncio para que Dona Matilde pudesse funcionar como médium de instrução e consolo.
         Atendida a solicitação, a senhora amiga desse assinalar a presença do irmão desencarnado, a que se referira, e, tomando do lápis, psicografou-lhe a seguinte mensagem:
                   Meus Irmãos.
                            Deus seja louvado!
                   A Terra é nossa escola e a dor é nossa lição.
                   Tende paciência para que o aprendizado não se perca.
                   Não podemos olvidar que o farão das provas corresponde sempre às nossas forças.
                   Matilde; guardemos esperança.
                   Nosso David permanece sob a assistência de abnegados Benfeitores da Vida Maior e nossa irmãzinha doente nunca esteve desamparada.
                   Os Mensageiros Divinos estão a postos.
                   Confiemos em Deus.
                                                                           Jorge.
         Veloso, satisfeito, destacou a importância dos conselhos recebidos e orou, encerrando a reunião.
        
         -Amado Jesus, procurando-te a luz divina no Evangelho que nos deixaste, queremos ser mais úteis. Agrademos, Senhor, o amparo que nos dispensas e contamos com o teu auxílio para que sejamos amanhã melhores que hoje. Assim seja.
*
         Lina e Cláudio serviram a água fluidificada aos presentes e, enquanto se comentavam, em torno, a excelência da palavra do Cristo aos corações, Dona Romualda pedia a Dona Zilda algumas instruções sobre a melhor maneira de instituir o culto do Evangelho em sua própria casa.
Da Obra “EVANGELHO EM CASA” – Espírito: MEIMEI –
Médium: FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Evangelho em Casa-Por Memei

primeira  reunião
Meimei
 
         Encorajada pelo esposo, Dona Zilda, naquele belo domingo de abril, colocou sobre a mesa a melhor toalha de que dispunha.
         Alinhou dois livros carinhosamente tratados – um exemplar do Novo Testamento e outro de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
         Em seguida, trouxe pequeno vaso com água pura.
         Soaram seis horas da tarde.
         O senhor Veloso, chefe da família, entrou no aposento acompanhado de Lina e Cláudio, filhinhos do casal, quase meninos, e de Marta, jovem servidora que parecia ter mais de vinte anos de idade.
         Dona Zilda perguntou pela filha mais velha, Silvia, e por Dona Júlia, a irmã viúva que residia junto deles, na mesma casa.
         Veloso, porém, notificou que ambas se haviam esquivado. Não desejavam partilhar o nosso hábito doméstico.
         Sem mais demora, como se todos já houvessem estabelecido o propósito de a ninguém reprovar, o pequeno grupo assentou-se tranqüilo.
         Pairava brando silêncio, quando Veloso ergueu a voz e orou, comovido.
 
PRECE INICIAL
 
         Senhor Jesus!
         Quando Deus não é colocado por centro de nossa vida, perdemos o rumo, quais viajores que se distancia, da luz, caindo nas trevas... E és entre nós, Senhor, a imagem mais fiel do Pai que nos criou.
         Para nos reunires a Ele. Concede-nos, assim, a força de percorre-lo! Inspira-nos a compreensão de tua palavra, porquanto sabemos que o Reino de Deus, como felicidade eterna, há de começar em nós mesmos.
         Guia-nos, Mestre, e ajuda-nos a entender-te à vontade! Assim seja.
 
LEITURA
 
         Finda a prece, solicitou Veloso que a filhinha abrisse o Novo Testamento ao acaso.
         Efetuada a operação, Lina passou o livro ao exame paterno.
         O diretor da pequenina assembléia deteve-se, por momentos, contemplando a fisionomia da página, e leu, depois, o versículo 14, do capítulo 4, nos Apontamentos do Apóstolo João Evangelista:
         “Mas, aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna”.
         Logo após, atendendo à recomendação do esposo, Dona Zilda consultou o Evangelho Segundo o Espiritismo, igualmente ao acaso, e leu nas “Instruções dos Espíritos”, do capítulo XVII, a mensagem de Lázaro, intitulada “O Dever”.
 
COMENTÁRIO
 
         Feito silêncio, Veloso analisou, sereno:
         -Em nossa reunião temos o objetivo de estudar os ensinamentos do Cristo, de modo a percebermos com mais segurança o quadro de nossas obrigações.
         Aceitamos a Doutrina Espírita, em nome de Jesus, entretanto, como dignifica-la, sem conhecimento das lições do Divino Mestre?
         Na informação do evangelista, diz o Senhor: “Quem beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque essa água se fará nele qual fonte de água viva”.
         Anotemos, em seguida, nos ensinamentos coligidos por Allan Kardec, a palavra de Lázaro quanto à excelência do dever como “Lei da Vida”.
         Naturalmente, aludindo à água que nos oferta, reportava-se Jesus aos princípios redentores de que se fez mensageiro.
         Quem lhes absorva a essência sublime decerto se renovará integralmente, abrindo novo caminho aos próprios pés.
         E, ligando a promessa do Senhor à conceituação da mensagem lida, reconheceremos claramente que Jesus não apenas nos reconfortou a existência física, descerrando-nos luminosa esperança ao sentimento ou curando-nos os corpos doentes, mas, acima de tudo, nos traçou normas de ação, ante as quais nos compete aperfeiçoar o senso de disciplina.
         A fim de compreendermos semelhante verdade, estampou as suas instruções em sua própria conduta.
         Desceu das Esferas Superiores, sem preocupar-se com a dureza de nossos corações, e distribuiu amor e luz com todas as criaturas.
         Começou, no entanto, pelos mais infortunados e mais tristes.
         Andou entre os homens sem deles exigir considerações e privilégios.
         Nasceu numa estrebaria e morreu numa cruz.
         Amparou a quantos lhe partilharam a marcha, sem pedir agradecimento ou moeda.
         Todavia, cada máxima que lhe saiu da boca representa um artigo da Lei Divina para a edificação do Reino de Deus entre nós.
         O Reino de Deus inclui, porém, todo o Universo.
         Assim, pois, onde palpite a consciência, seja na Terra ou noutros mundos, os princípios de Jesus constituem a religião viva.
         Não é difícil, desse modo, aprender que o Celeste Amigo demarcou-nos a estrada real para a verdadeira felicidade, assim como entendemos trilhos sólidos, de acordo com a experiência da engenharia, para que a locomotiva alcance a meta.
         Que acontece, entretanto, ao comboio que abandona as linhas da vida férrea? Descarrila, provocando desastres. Ameaça a vida dos passageiros, além de estragar a si próprio.
         Interpretemos nossos desejos e ideais, tarefas e obrigações, como sendo passageiros que transportamos conosco, e façamos de nossa mente o maquinista.
         Se o maquinista não obedece às regras instituídas para a viagem, que é a nossa própria existência, converte-se a vida em aventura perigosa, na qual arruinamos os interesses e aspirações de que sejamos depositários, e perturbamos, conseqüentemente, a nós mesmos.
         As lições de Jesus, portanto, indicando-nos a bondade e o serviço, a paciência e a humildade, a caridade e o perdão, expressam a senda que nos cabe trilhar, se quisermos viver em harmonia com a Lei de Deus.
 
CONVERSAÇÃO
 
            Terminando o comentário, Veloso explicou que seria interessante uma palestra rápida, a fim de que as idéias do “culto evangélico” fossem colocadas em movimento.
         Depois da troca de expressivo olhar com a mãezinha, foi Lina quem tomou a iniciativa, perguntando:
         -Papai, por que motivo não temos um retrato de Jesus, diante de nós, em nossas preces?
         E o entendimento estabeleceu-se, afável.
         VELOSO – Filhinha; decerto não somos contra o trabalho artístico que mentaliza o Divino Mestre as telas e esculturas que encontramos a cada passo, e um lar espírita pode guardar perfeitamente semelhantes recordações, sempre que não atentem conta a dignidade do Senhor e contra o respeito que devemos à obra cristã; contudo, nas atividades de nossa Doutrina, dispensamos apetrechos materiais, a fim de que não olvidemos a presença do Eterno Amigo dentro de nós mesmos.
         CLÁUDIO – E a água, papai?... Por que a água na mesa?
         VELOSO – Meu filho, a água é, reconhecidamente, um dos corpos mais sensíveis à magnetização. Nessa condição, armazena os recursos balsamizantes e curativos que nos são trazidos pelos Emissários Divinos ou por nossos Amigos Espirituais, em visita ao nosso recinto de orações.
         LINA – Se tia Júlia mora conosco, não compreendo as razões por que se afasta de nossas preces.
         D. ZILDA – Júlia tem idéias religiosas diferentes das nossas.
         LINA – E Silvia?
         VELOSO – Silvia é hoje uma jovem com vinte anos. Cresceu sem que lhe dedicássemos qualquer cuidado ao problema da fé. Quando pequenina Ilda e nós, muito inexperientes em matéria de responsabilidade, confiamo-la à guarda moral de Júlia. Não podemos agora lhe reclamar uma atitude para a qual, em verdade, não a preparamos. (E sorrindo) – Segundo é fácil de notas, estamos começando o nosso culto do Evangelho em casa com um atraso de vinte anos...
         CLAUDIO – Com que fim precisamos estudar o Evangelho?
         D. ZILDA – Para melhorar o coração, meu filho, para aprendermos que todos somos filhos de Deus e que devemos viver no mundo como irmãos uns dos outros.
         MARTA – Para cumprirmos nossos deveres com alegria.
         CLAUDIO – Quer dizer (e fez um rosto brejeiro) que Lina não deve rusgar tanto com a empregada.
         VELOSO – Meu filho, retifique a expressão, Marta não é nossa empregada, como se fora nossa escrava, e você se referiu a ela em tom de desprezo. É um erro ferir, mesmo sem intenção, aqueles que trabalham conosco, tratando-os como se estivéssemos em posição inferior. Marta é abnegada auxiliar no estabelecimento de ensino a que presta serviço e quanto seu pai é colaborador no escritório de que recebe o pão. Sem que as mãos dela nos preparem a mesa, ser-nos-á difícil o desempenho das nossas obrigações.
         D. ZILDA – Nosso culto do Evangelho é, assim, um meio para nos sentirmos mais compreensivos. Nem Lina precisa agastar-se com Marta nem nós mesmos uns com os outros. A cada qual de nós cabe o máximo de esforço para que a bondade e a ordem, o serviço e a gentileza permaneçam aqui com todos, para que a felicidade, brilhando conosco, se irradie de nós para os que nos cercam.
 
NOTA SEMANAL
 
         Findo o entendimento geral, Veloso disse:
         -Concluamos nossos estudos, cada semana, com alguma nota que nos enriqueça a meditação.
         Nesse sentido, lembro-me hoje de uma lenda que pertence ao pensamento mundial. Adaptando-a as nossas necessidades, nomeá-la-ei:
 
 
O DEVER ESQUECIDO
 
         Certo rei muito poderoso, sendo obrigado a longa ausência, tomou de grande fortuna e entregou-se ao filho, confiando-lhe a incumbência de levantar grande casa, tão bela quanto possível.
         Para isso, o tesouro que lhe deixava nas mãos era suficiente.
         Acontece, porém, que o jovem, muito egoísta, arquitetou o plano de enganar o próprio pai, de modo a gozar todos os prazeres imediatos da vida.
         E passou a comprar materiais inferiores.
         Onde lhe cabia empregar metais raros, utilizava latão; nos lugares em que devia colocar o mármore precioso, punha madeira barata, e nos setores de serviço, em que obra reclamava pedra sólida, aplicava terra batida...
         Com isso, obteve largas somas que consumiu, desorientado, junto de amigos loucos.
         Quando o monarca voltou, surpreendeu o príncipe abatido e cansado, a apresentar-lhe uma cabana esburacada, ao invés de uma casa nobre.
         O rei, no entanto, deu-lhe a chave do pequeno casebre e disse-lhe, bondoso:
         -A casa que mandei edificar é para você mesmo, meu filho... Não me parece a residência sonhada por seu pai, mas devo estar satisfeito com a que você próprio escolheu...
         Após ligeira pausa, Veloso advertiu:
         O conto impele-nos a judiciosas apreciações, quanto ao cumprimento exato de nossos deveres.
         Comparemos o soberano a Deus, nosso Pai.
         O príncipe da história poderia ter sido qualquer alma de nós.
         A fortuna para construirmos a moradia de nossa alma é a vida que Deus nos empresta.
         Quase sempre, contudo, gastamos o tesouro da existência em caprichosa ilusão, para acabarmos relegados, por nossa própria culpa, aos pardieiros apodrecidos do sofrimento.
         Mas, aqueles que se consagram à bênção do dever, por mais áspero que seja, adquirem a tranqüilidade e a alegria que o Supremo Senhor lhe reserva, por executarem, fiéis, a sua divina vontade, que planeja sempre o melhor a nosso favor.
        
ENCERRAMENTO
 
         Atendendo à solicitação de Veloso, Dona Zilda orou, no encerramento:
         -Senhor, agradecemos a riqueza que nos concedeste, a exprimir-se no lar que nos reúne.
         Aqui nos situaste por amor, para que aprendamos a servir ao próximo, servindo a nós mesmos.
         Inspira-nos resoluções elevadas, a fim de que a correção no desempenho de nossos deveres nos faça mais felizes e mais úteis.
         Não permitas, Jesus amado, venhamos a esquecer as nossas obrigações, perante os teus ensinamentos, e abençoa-nos, hoje e sempre, Assim seja.
 
**
         Dona Zilda distribuiu a água cristalina em pequenas porções com os familiares, enquanto a alegria lhes clareava o semblante. E Veloso, satisfeito, notou que Lina abraçava Marta, pela primeira vez, de modo diferente...
 
 
Da Obra “EVANGELHO EM CASA” – Espírito: MEIMEI –
Médium: FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER