As escrituras deixam claro que o conceito de
reencarnação era ensinado ao povo, apesar das diversas traduções terem
deturpado os tentos.
Por Laylla Toledo
Elias foi um dos profetas referidos no Velho
Testamento que viveu no século IX a.C. Não há livro na Bíblia escrito por ele,
mas existem referências a seu respeito em diversos autores como Terceiro Livro
dos Reis (Cap. 17) e Quarto Livro dos Reis (Cap. 1), Juizes e Malaquias.
Ele viveu ao tempo do Rei Acab e da rainha Jezabel, com quem esteve em
constante oposição, por causa do culto que era promovido ao deus pagão Baal.
É considerado servo intrépide do Javismo (termo que vem de Javé ou Jeová, Deus
segundo os hebreus), apesar do excessivo rigor e das atrocidades que ele
praticou. Dentre essas, destaca-se aquela que fez descer fogo do céu e queimar
um capitão juntamente com seus cinqüenta comandados, quando este foi buscá-lo
por ordem do rei Acab.
O mesmo fato se repetiu com uma segunda brigada (um capitão e mais os seus
cinqüenta soldados), assim como a mortandade dos 450 sacerdotes de Baal, que os
fez passar pelo fio da espada, junto ao ribeiro de Quison (3° Reis, 18:40).
Tem-se no total um saldo de 552 mortos.
A volta do Profeta Elias foi prevista por Malaquias: “Eis que vos enviarei o
profeta Elias, antes que venha o dia grande e terrível do Senhor” (4:5).
A VIDA DE JOÃO BATISTA
João Batista era primo de Jesus, filho de Isabel e Zacarias. Levou uma vida
muito austera. Abstendo-se de bens e prazeres, vivendo unicamente para o
ministério do bem, convocando o povo ao arrependimento dos pecados e a se
prepararem para receber o Redentor.
Chamado de “O Precursor”, vestia-se de peles e alimentava-se de mel e animais
silvestres e verberava intimoratamente os atos de degradação humana, fosse em
que nível fosse. Por esta razão, caiu na antipatia de Herodíades, acusada por
ele pela sua união ilícita com o cunhado, o rei Herodes, irmão de Filipe
(Marcos 6:17).
A REENCARNAÇÃO NA BÍBLIA
A identificação dos dois personagens como sendo o mesmo espírito está bem claro
nas escrituras. O retorno de Elias foi anunciado pelo anjo Gabriel: “[...] o
anjo disse-lhe: Não temas, Zacarias, porque foi ouvida a tua oração; e tua
mulher Isabel te dará a luz um filho, e por-lhe-ás o nome de João. E converterá
muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus; e irá adiante dele com o
espírito e a virtude de Elias, a fim de reconduzir os corações dos pais para os
filhos” (Lucas 1:13).
Outra passagem que assinala a identificação do profeta como sendo o próprio
João Batista é quando os apóstolos Pedro, Tiago e João perguntaram a Jesus,
após a Transfiguração, sobre a volta de Elias: “Por que, pois, os escribas
dizem que é preciso que Elias venha antes? Mas Jesus lhes respondeu: é verdade
que Elias deve vir e restabelecer todas as coisas; mas eu vos declaro que Elias
já veio, e não o conheceram, mas trataram como lhes aprouve. É assim que eles
farão sofrer o Filho do Homem. Então seus discípulos compreenderam que era de
João Batista que lhes havia falado”. (Mateus 17:10)
Aqui se trata da reencarnação de Elias na figura de João, explicação esta vista
pelos apóstolos com muita naturalidade, justamente por estarem familiarizados
com a realidade da reencarnação e esta fazer parte de sua crença religiosa, o
judaísmo.
As palavras de Jesus confirmam tal fato em Mateus, referindo-se a João como o
próprio Elias (espírito): “E, desde os dias de João Batista até agora, o reino
dos céus adquire-se à força, e os violentos arrebatam-no. Porque todos os
profetas e a lei, até João, profetizaram. E, se vós o quereis compreender, ele mesmo
é o Elias que há de vir. O que tem ouvidos para ouvir, ouça” (11:12).
A violência da lei mosaica ordenava o extermínio dos infiéis para ganhar a
terra prometida – Paraíso dos Hebreus, por isso a citação “o reino dos céus
adquire-se à força”. No período de Jesus, a nova lei estabelecia que, para se
ganhar o reino dos céus o trajeto deveria ser outro – o da caridade e da
doçura.
ELIAS VOLTA COMO JOÃO BATISTA
Quando Jesus disse que Elias já teria vindo e que ninguém o reconheceu, muitos
interpretam que João era inspirado por Elias e não que era o próprio profeta.
Mas essa identificação dos dois personagens sendo a mesma pessoa mostra também
um outro aspecto, a Lei de Causa e Efeito. Na figura de Elias, mesmo falando em
nome de Deus, ele cometeu alguns excessos e violências em sua época.
Posteriormente, o seu espírito veio na figura de João Batista para preparar o
povo para receber as palavras do Messias. Entretanto, pelo fato de ter cometido
os excessos em sua vida anterior, veio resgatar parte de seus débitos sofrendo
a decapitação por ordem de Herodes, a pedido de Salomé, que o agradou numa
apresentação de dança, manobrada ardilosamente pela sua mãe, Herodíades.
Note-se a analogia das circunstâncias: na ocasião em que era conhecido como
Elias, enfrentou a rainha Jezabel, tendo-a vencido pelos poderes, matando os
sacerdotes e suprimindo o culto ao deus Baal. Na segunda ocasião, já como João
Batista, ele é morto por maquinação também de uma rainha.
O conceito de reencarnação fazia parte das crenças judaicas. Esse conhecimento
dos judeus só foi ampliado no momento em que Jesus trouxe-lhes mais informações
sobre o processo reencarnatório. No diálogo entre Nicodemos e o Mestre podemos
observar a atenção dada ao assunto: “Mestre, sabemos que vieste da parte de
Deus para nos instruir como um doutor; porque ninguém poderia fazer os milagres
que fazeis, se Deus não estivesse com ele. Jesus lhe respondeu: Em verdade, em
verdade vos digo: Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo.
Nicodemos lhe disse: Como pode nascer um homem que já está velho? Pode ele
entrar no ventre de sua mãe, para nascer uma segunda vez? Jesus lhe respondeu:
Em verdade, em verdade vos digo: Se um homem não renascer de água e de
Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e
o que é nascido do Espírito é Espírito. Não vos espanteis do que eu vos disse,
que é preciso que nasçais de novo. O Espírito sopra onde quer, e ouvis sua voz,
mas não sabeis de onde ele vem e para onde ele vai. Ocorre o mesmo com todo o
homem que é nascido do Espírito. Nicodemos lhe respondeu: Como isso pode se
dar? Jesus lhe disse: Que! Sois mestre em Israel e ignorais essas coisas? Em
verdade, em verdade vos digo que não dizemos senão o que sabemos, e que não
testemunhamos senão, o que vimos; e, entretanto, vós não recebeis nosso
testemunho. Mas se não me credes quando vos fato das coisas da Terra, como me
crereis quando vos falar das coisas do céu?” (João 3:2-12).
Como nota de esclarecimento, é preciso identificar o significado da palavra
água no texto. O renascimento “de água” e “de espírito” é nada mais do que a
retomada da experiência física, cuja constituição é eminentemente líquida.
Portanto, o renascer de água é reencarnar e o renascer de espírito é evoluir,
progredir moralmente.
ERROS DE TRADUÇÃO: NEGLIGENCIA
O prof.. Carlos Juliano Torres Pastorino (19101980), Docente do Colégio Pedro
II e catedrático da Universidade Federal de Brasília, diplomado em Teologia e
Filosofia pelo Colégio Internacional Santo Antônio Maria Zaccaria, em Roma, era
um exímio latinista, helenista e poliglota. De acordo com os conhecimentos do
Prof. Pastorino, freqüentemente são traduzidos por “ressuscitar” os verbos
gregos egeírô (estar acordado, despertar) e anístêmi (tornar a ficar de pé, regressar),
e que este último, encerra um sentido em geral negligenciado pelos tradutores:
o de reencarnar. As Escrituras não falam em “ressurreição dos corpos” ou “da
carne”, mas em anástasis ek ton nekrõn, ou seja, “ressurreição dos mortos”. De
posse destes esclarecimentos oferecidos por uma autoridade lingüística,
torna-se relativamente fácil identificarmos os sentidos negligenciados
propositadamente pelos tradutores modernos. A ressurreição ocorre com os mortos
e não com os corpos.
Na Epístola aos Hebreus (11:35), onde se lê: “Mulheres receberam os seus mortos
pela ressurreição”, vemos que são as “mulheres” e não os homens, pois elas é
que podem gerar em seus ventres os corpos destinados à reencarnação, ao
ressurgimento dos espíritos “mortos” no mundo físico.
Os gregos acreditavam na existência do Hades (lugar dos mortos), de onde as
almas retornavam para a vida, denominando este fenômeno como “palingênese”
(palinggenesia: novo nascimento). Assim como os gregos, os hebreus também
acreditavam que as almas dos mortos voltavam à vida, que do Sheot elas
retornavam ao mundo da matéria, conhecido como “anástasis” (do verbo anístêmi,
composto de ana: ´para cima´, ´de novo´ ou ´para trás´; e ístêmr. ´estar de
pé´. Ou seja: tornar a ficar de pé, regressar), expressão traduzida por
“ressurreição”. Está escrito: “O Senhor é o que tira a vida e a dá: faz descer
ao sheol e faz tornar a subir dele.” (1 Sm 2:6). Apesar de tentarem alterar o
significado do texto, traduzindo inúmeras vezes “Sheol” por “sepultura”, para
os mais atentos, se buscarmos a origem das palavras, veremos que a mensagem é
clara quanto a afirmação: regressar do Sheol, regressar do mundo dos mortos.
A palavra Sheol é hebraica, e designa o lugar para onde iam todos após a morte:
tanto os justos como os injustos, havendo, no entanto, nessa região dos mortos,
uma divisão para os justos, e outra para os injustos, separados por um “abismo
intransponível” (Lc 16.26). O lugar dos justos era de felicidade, prazer e
segurança. Já o lugar dos ímpios era medonho, ignífero (onde há fogo), cheio de
dores, sofrimentos, estando todos perfeitamente conscientes.
Em muitas das passagens bíblicas, as inúmeras referências ao Sheol possuem
imperfeições na sua tradução. Certas versões em português traduzem a designação
hebraica por sepultura e outros termos afins, como inferno (Dt 32.22; 2 Sm
22.6; Jó 11.8; 26.6; 5116.10), o que traz confusão. (Gn 37.35; Nm 16.30,33; Já
17.16;11.8; SI 30.3; 86.13;139.8; Pv 9.18; 15.24; Is 14.9; 38.18-32; Ez
31.15,17; Am 9.12).
A expressão grega “palinggenesia” (palingênese), segundo o Prof. Pastorino, era
o termo técnico da reencarnação entre os gregos. No entanto, São Jerônimo,
geralmente, o traduzia por regeneração.
Já a palavra “ressurreição” é a tradução da expressão grega “anastasis” originária
do verbo “anistemi”, que significa tornar a ficar de pé, mas também
“regressar”.
A palavra “reencarnação” não se encontra nas escrituras, mas na cultura
judaico-cristã. Entre eles havia o conceito de ressurreição, que é justamente o
que chamamos hoje de “reencarnação”.
O conceito reencarnacionista foi dissimulado nos textos bíblicos ao longo dos
séculos, alterando-se com isso, o seu conteúdo. Referências do século II d.C.,
onde Orígenes, um dos pais da Igreja, comenta que: “Presentemente, é manifesto
que grandes foram os desvios sofridos petas cópias, quer pelo descuido de
certos escribas, quer pela audácia perversa de diversos corretores, quer pelas
adições ou supressões arbitrárias.” Portanto, a intenção de distorcer o
conteúdo bíblico já vem de longa data.
Se nos dedicarmos ao estudo profundo dos fatos, veremos que tudo é uma questão
de resgate do verdadeiro sentido das palavras, que assumiram significados
diversos no decorrer do tempo. Através da pesquisa etmológica, sem dúvida,
chegaremos à verdade original dos textos.
O RETORNO DO CRISTIANISMO PURO
O início do Cristianismo, conhecido como Cristianismo primitivo, trazia em si
uma pureza doutrinária, sendo recente a passagem do Cristo peta região. Mas o
Cristianismo sofreu uma transformação no momento em que se tornou a religião
oficial do Império Romano. A mistura de costumes politeístas (crença de vários
deuses) com o Cristianismo puro inaugurou o Catolicismo. Este evento modificou
os costumes cristãos e introduziu hábitos de cultura politeísta, surgindo
rituais que não existiam até então.
O conceito de reencarnação, como meio pela qual a alma se redimi por si só,
significava a falência do poder político e religioso da Igreja. Por este
motivo, começou a considerar-se todos os seguidores da idéia da reencarnação
como criminosos passíveis de pena de morte a partir do ano de 553 d. C., no
Concílio de Constantinopla.
Assim, a tradução dos textos evangélicos primitivos e a confecção do Novo
Testamento (Vulgata Latina) buscaram eliminar qualquer informação que se
reportasse ao conceito de sobrevivência de alma e o seu retorno a um novo
corpo, para uma nova existência.
Por se tratar de um obstáculo aos interesses de alguns, este importante
ensinamento deixou de fazer parte das celebrações cristãs e dos cultos da
Igreja. Mas o assunto em foco reapareceu muito tempo depois, com toda a sua
força e transparência através dos fenômenos das Irmãs Fox em 1848, e com a
publicação da obra O Livro dos Espíritos, em 1857.
Portanto, a idéia da reencarnação sempre esteve presente no cristianismo
primitivo dos tempos apostólicos, e algum tempo depois, na pureza dos ensinos
cristãos contidos nas comunicações reveladas pelo espiritismo. Os elementos
básicos como a caridade, o amor ao próximo e a reencarnação são semelhanças
facilmente observáveis entre os dois. Sendo este o principal motivo que
identifica o espiritismo como sendo o Cristianismo Redivivo.
A reencarnação é fato, e negá-la não é suficiente para justificar e manter o
atual sistema religioso. Até a Ciência, recentemente, dá provas de que a vida
não termina com a morte do corpo, mas que continua em outra dimensão. A
divulgação da verdade depende de nós – os caminheiros redivivos.
(Extraído da Revista Cristã de Espiritismo, nº 24, páginas 48-52)