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sábado, 26 de novembro de 2016



Revista Espírita 1867 » Dezembro » Um ressurrecto contrariado - Extraído da viagem de Sr. Hugo à Zelândia
  




O episódio seguinte é tirado do relato publicado pelo jornal la Liberté, de uma viagem do Sr. Victor Hugo à Holanda, na província de Zelândia. O artigo se acha no número de 6 de novembro de 1867:

“Acabávamos de entrar na cidade. Eu tinha os olhos erguidos, e chamava a atenção de Stevens, meu vizinho de banco no carro, para o pitoresco recorte dentado de uma sucessão de telhados hispano-flamengos, quando, por sua vez, ele me tocou no ombro, e me fez sinal para olhar o que se passava no cais.
“Uma multidão barulhenta de homens, mulheres e crianças cercava Victor Hugo. Descendo da viatura, escoltado pelas autoridades da cidade, ele avançava, com um ar simplesmente emocionado, a cabeça descoberta, com dois ramalhetes nas mãos e duas meninas de vestido branco ao seu lado.
“Eram as duas meninas que acabavam de lhe oferecer as flores.
“Que dizeis, por esse tempo de visitas coroadas e de ovações artificiais ou oficiais, desta entrada singularmente triunfal de um homem universalmente popular que chega de improviso a uma região perdida, de cuja existência ele nem mesmo suspeitava, e que aí se encontra muito naturalmente em seus Estados? Quem teria podido fazer o poeta prever que essa cidadezinha desconhecida, cuja silhueta tinha considerado de longe e com curiosidade, era a sua boa cidade de Ziéricsée?
“Durante o jantar, o Sr. Van Maenen disse a Victor Hugo:
“─ Sabeis quem são as duas lindas meninas que vos ofere­ceram flores?
“─ Não.
“─ São as filhas de um fantasma.
“Isto exigia uma explicação, e o capitão nos contou a seguinte aventura estranha:
“Isto fora há cerca de um mês. Uma tarde, ao crepúsculo, uma viatura onde estavam um homem e um menino entrava na cidade. É preciso dizer que pouco antes esse homem havia perdido a esposa e um dos filhos, com o que ficara muito triste. Embora ainda tivesse duas meninas e o menino que estava com ele nesse momento, ele não se havia consolado e vivia melancólico.
“Naquela tarde sua viatura seguia por um desses caminhos aterrados e abruptos que são, à direita e à esquerda, ladeadas por um fosso de água estagnada e às vezes profunda. De súbito o cavalo, sem dúvida mal dirigido através da bruma da tarde, bruscamente perdeu o equilíbrio e rolou ladeira abaixo para o fosso, arrastando consigo o carro, o homem e a criança.
“Houve nesse grupo de seres precipitados um momento de angústia atroz, de que ninguém foi testemunha, e um esforço obscuro e desesperado para a salvação. Mas o mergulho se fez com a confusão da queda, e tudo desapareceu na cloaca, que se fechou com a espessa lentidão da lama.
“Só o menino, que como por milagre ficou fora do fosso, gritava e chamava lamentoso, agitando os bracinhos. Dois camponeses que atravessavam um campo de garança, a alguma distância, ouviram os gritos e acorreram. Retiraram o menino.
“O menino gritava: ‘Meu papai! meu papai! eu quero o meu papai!’
“─ E onde está o teu papai?
“─ Ali, dizia o menino, mostrando o fosso.
“Os dois camponeses compreenderam e puseram-se ao trabalho. Ao cabo de um quarto de hora retiraram a viatura quebrada; depois de meia hora tiraram o cavalo morto. O pequeno continuava gritando e pedia seu pai.
“Enfim, após novos esforços, do mesmo buraco do fosso que o carro e o cavalo, pescaram e trouxeram para fora da água algo inerte e fétido que estava inteiramente negro e coberto de lodo: era o cadáver do pai.
“Tudo isto tinha levado cerca de uma hora. O desespero do menino redobrava; ele não queria que seu pai estivesse morto. Entretanto os camponeses o julgavam bem morto. Mas como o menino lhes suplicasse e se agarrasse a eles e eles fossem pessoas dispostas, tentaram, para acalmar o menino, o que se faz sempre em tais casos na região, e se puseram a rolar o afogado no campo de garança.
“Rolaram-no assim um bom quarto de hora. Nada mudou. Rolaram-no ainda mais. A mesma imobilidade. O pequeno acompanhava, chorando. Recomeçaram uma terceira vez, e iam renunciar, enfim, quando lhes pareceu que o cadáver movia o braço. Continuaram. O outro braço se agitou. Eles se obstinaram. O corpo inteiro deu vagos sinais de vida e o morto começou a ressuscitar lentamente.
“Isto é extraordinário, não é? Pois bem! Eis o que é ainda mais inusitado. O homem suspirou lentamente, voltando à vida e gritou com desespero: “Ah! Meu Deus! Que foi que fizestes? Eu estava tão bem onde estava! Estava com minha mulher, com meu filho. Eles tinham vindo a mim e eu tinha ido a eles. Eu os via, estava no Céu, estava na luz. Ah! Meu Deus! Que foi que fizestes? Não estou mais morto!”
“O homem que assim falava acabara de passar uma hora no lodo. Tinha o braço quebrado e contusões graves.
“Levaram-no para a cidade, e apenas acaba de se curar, acrescentou o Sr. Van Maenen, acabando de nos contar esta história. É o Sr. D..., uma das mais altas inteligências, não só da Zelândia, mas da Holanda. É um dos nossos melhores advogados. Aqui todo mundo o estima e o honra. Quando ele soube, Sr. Victor Hugo, que íeis passar pela cidade, quis a qualquer custo sair da cama, que ainda não havia deixado há um mês, e hoje fez a sua primeira saída para apresentar-se diante de vós e vos apresentar suas duas filhinhas, às quais tinha dado flores para vós.
“Houve um grito unânime em toda a mesa.
“Estas são coisas que só acontecem na Zelândia! Os viajan­tes aqui não vêm, mas os habitantes revivem.
“Deveriam tê-lo convidado para o jantar, aventurou a parte feminina da mesa.
“─ Convidá-lo! exclamei. Mas já éramos doze! Este não seria bem o momento de convidar um fantasma. Senhoras, gostaríeis de ter um morto como décimo terceiro?
“─ Há dois enigmas nesta história, disse Victor Hugo, que tinha ficado silencioso: o enigma do corpo e o da alma. Não me encarrego de explicar o primeiro, nem de dizer como pode um homem ficar submerso durante uma hora inteira numa cloaca sem que se siga a morte. A asfixia, cremos, ainda é um fenômeno mal conhecido. Mas o que compreendo admiravelmente é a lamentação dessa alma. Pois quê! Ela já tinha saído da vida terrena, desta sombra, deste corpo sujo, destes lábios negros, deste fosso negro! Ela tinha começado a evasão encantadora. Através da lama, ela havia chegado à superfície da cloaca e ali, ligada ainda apenas por uma última pena de sua asa a este horrível último suspiro estrangulado no pântano, ela já respirava silenciosamente a fresca inefável de fora da vida. Ela já podia voar para os seus amores perdidos e atingir a mulher e erguer-se até a criança. De repente, a semi fugida se arrepia; ela sente que o laço terrestre, em vez de se romper inteiramente, se reata; que em vez de subir na luz, ela desce bruscamente na noite, e que ela, a alma, teve que entrar violentamente no cadáver. Então ela solta um grito terrível.
“O que disto resulta para mim, acrescentou Victor Hugo, é que a alma pode ficar um certo tempo acima do corpo, em estado flutuante, já não sendo mais prisioneira e ainda não estando liberta. Esse estado flutuante é a agonia, é a letargia. O estertor é a alma que se lança fora da boca aberta e que aí recai por instantes, e que se sacode, arquejante, até que se quebre o fio vaporoso do último sopro. Parece-me que a vejo. Ela luta, escapa-se um pouco dos lábios, neles entra novamente, foge de novo, depois dá um grande golpe de asa, e ei-la que voa de um jacto e desaparece no azul imenso. Está livre. Mas algumas vezes também o agonizante volta à vida: então a alma desesperada volta ao agonizante. O sonho por vezes nos dá a sensação dessas estranhas idas e vindas da prisioneira. Os sonhos são alguns passos quotidianos da alma fora de nós. Até que tenha comple­tado seu tempo no corpo, a alma faz, cada noite, no nosso sono, o giro no pátio do sonho.

“PAUL DE LA MILTIÈRE.”

O fato em si mesmo é eminentemente espírita, como se vê. Mas se existe algo de mais espírita ainda, é a explicação dada pelo Sr. Victor Hugo. Dir-se-ia tirada textualmente da Doutrina. Aliás, não é a primeira vez que ele se exprime neste sentido. Lembramo-nos do encantador discurso que ele pronunciou, há cerca de três anos, no túmulo da jovem Emily Putron (Revista Espírita de fevereiro de 1865). Certamente o mais convicto espírita não falaria de outro modo. A tais pensamentos não falta absolutamente senão a palavra, mas que importa a palavra se as ideias se impõem! Por seu nome autorizado, o Sr. Victor Hugo é um de seus vulgarizadores. Entretanto, aqueles que os aclamam ridicularizam o Espiritismo, nova prova de que não sabem em que este consiste. Se eles soubessem, não tratariam a mesma ideia de loucura em uns e de verdade sublime em outros.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Brilhe vossa Luz


“De tal modo brilhe a vossa luz diante dos homens, que eles vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mateus 05:16)

Fazer brilhar nossa luz é apagar nossas imperfeições e refletir em nossa vida, nos nossos atos e pensamentos, sentimentos e vibrações, a Luz Pura do Cristo. É chegar à condição declarada por Paulo de Tarso: “(...) já não sou eu quem vivo, mas o Cristo que vive em mim” (Gálatas 02:20). Para chegar a esta condição, o caminho é longo e se inicia no autoconhecimento: identificar o que trazemos para melhorar, o que temos de modificar, o que devemos desenvolver. É novamente o trabalho do autoamor, o qual, bem conduzido, nos leva à reforma íntima. Um roteiro prático para tal é sugerido por Santo Agostinho, à questão 919 de “O Livro dos Espíritos”.

O apóstolo Paulo de Tarso, em três cartas a três povos distintos, aponta a necessidade de praticarmos o Bem, fazendo nossa parte para que a porta do Bem seja a “porta larga” da Terra.

Na segunda carta ao povo de Corinto, Paulo lembra a necessidade de levarmos adiante o Bem que recebemos:
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação, que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação (...)” (2ª carta de Paulo aos Coríntios 01:03-04)


Em sua carta a seus patrícios hebreus, Paulo alerta que devemos focar nossa atenção em nossa evolução moral, ou nossa salvação:
“Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, e que acompanham a salvação (...)” (Carta de Paulo aos Hebreus 06:09)


Escrevendo aos habitantes da Galácia, Paulo esclarece que o foco exclusivo nas ilusões mundanas a nada leva, enquanto que o trabalho pela evolução moral traz benefícios imperecíveis:
“Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará vida eterna.” (Carta de Paulo aos Gálatas 06:08)


Pratiquemos, portanto:
  • Consolar. Consolo é palavra formada pela união de duas palavras do latim: cum + solis (com + sol). Portanto, consolar é levar a Luz e calor ao coração, após as “tempestades” das provas a que todos estamos sujeitos para nosso aprendizado e evolução;
  • Solidariedade. É a ação de solidar, ou oferecer solo para os que, por traumas em sua história de vidas, ficaram “sem chão”, física e/ou emocionalmente;
  • Misericórdia. É a união das palavras do latim misereo (miséria) + cor (coração) sentimento de empatia, de colocar a miséria do próximo em nosso próprio coração.
Carla e Hendrio

domingo, 25 de setembro de 2016

D. Pedro II "Apenas quero dizer que não só os republicanos, mas também nós, os da monarquia, estávamos redondamente enganados. O erro da nossa visão, quando na Terra, foi supor no Brasil o mesmo espírito anglo-saxônio que a Inglaterra legara aos norte-americanos. Eu também fui apaixonado pelo liberalismo, mas a verdade é que, em nossa terra, prevaleciam outros fatores mesológicos e, até agora, não temos sabido conciliar os interesses da nação com esses imperativos."[...]Não posso aplaudir nenhum movimento de destruição, pois entendo que, sobre a revolução, deve pairar o sentimento nobre da evolução geral de todos, dentro da maior concórdia espiritual. 19 Considere que, examinando a minha consciência, não me lembro de haver fortalecido nenhum sentimento de rebeldia nos meus tempos de governo; entretanto, muito sofri, verificando que eu poderia ter suavizado a luta entre os nossos estadistas e os políticos da América espanhola.

Novas mensagens — Humberto de Campos ©

 

2 D. Pedro II


1 Enquanto os vivos se reuniam em torno do monumento que o Brasil erigiu ao Patriarca da Independência, no Rio de Janeiro, os grandes “mortos” da pátria igualmente se colocavam entre os encarnados, aliando-se ao povo carioca nas suas comovedoras lembranças.
2 Também acorri ao local da festa votiva dos brasileiros, acompanhado do meu amigo José Porfírio de Miranda, antigo milionário do Pará, que a borracha elevara às culminâncias da fortuna, conduzindo-o, em seguida, aos declives da miséria, nos seus caprichosos movimentos.
3 Os vivos e os mortos do Brasil se reuniam na mesma vibração afetiva das recordações suaves, enviando ao nobre organizador da vida política da nacionalidade um pensamento de amizade e de veneração.
4 Antigo companheiro nosso, também no Plano Invisível, em plena via pública acercou-se de mim, exclamando:
— Chegas um pouco tarde. José Bonifácio já não está presente mas poderás ainda conseguir uma proveitosa entrevista para os teus leitores. Sabes quem saiu daqui neste momento?
— Quem? pergunto eu, na minha fome de notícias.
— O Imperador.
— D Pedro II?
— Ele mesmo. Após lembrar a grande figura do Patriarca, dirigiu-se com alguns amigos para Petrópolis, a reavivar velhas lembranças…
5 Em meu íntimo, havia um alvoroço de emoções. Lembrei-me de que, em toda a minha existência de jornalista no mundo, só enxergara um monarca diante dos meus olhos: o rei Alberto I, dos Belgas, quando, no Clube dos Diários, a elite dos intelectuais do país lhe oferecera a homenagem de uma comovida admiração. E ponderei se haveria mérito em consultar o pensamento de um rei, no outro mundo, onde todas as majestades desaparecem. Recordei a figura do grande imperador que Victor Hugo considerava o monarca republicano. Com os olhos da imaginação, vi-o, de novo, na intimidade dos Paços de São Cristóvão: o perfil heráldico, onde um sorriso de bondade espalhava o perfume da tolerância; as barbas compridas e brancas, como as dos santos das oleografias católicas; o olhar cheio de generosidade e de brandura, irradiando as mais doces promessas.
6 Um vivo, em havendo de ir a Petrópolis, é obrigado ao trajeto penoso dos ônibus, embora as perspectivas maravilhosas do mais belo trecho de todas as estradas do Brasil; os desencarnados, porém, não necessitam de semelhantes sacrifícios. Num abrir e fechar de olhos, eu e o meu amigo nos encontrávamos na encantadora cidade das hortênsias, onde os milionários do Rio de Janeiro podem descansar nas mais variadas épocas do ano.
7 Não fomos encontrar o Imperador nos antigos edifícios em que estabelecera a residência patriarcal de sua família mas justamente num recanto de jardim, contemplando as deliciosas paisagens da Serra da Estela e apreciando o sabor das recordações amigas e doces.
8 Acerquei-me da sua individualidade, com um misto de curiosidade e de profundo respeito, procurando improficuamente identificar os dois companheiros que o rodeavam.
— Majestade! — tentei chamar-lhe a atenção com a minha palavra humilde e obscura.
— Aproximem-se, meus amigos! — respondeu-me com benevolência e carinho. — Aqui não existe nenhuma expressão de majestade. Cá estão, fraternalmente comigo, o Afonso  n  e o Luís,  n   como três irmãos, sentindo eu muito prazer na companhia de ambos. Se o mundo nos irmana sobre a Terra, a morte nos confraterniza no Espaço infinito, sob as vistas magnânimas do Senhor.
9 E, fazendo uma pausa, como quem reconhece que há tempo de falar e tempo de ouvir, conforme nos aconselha a sabedoria da Bíblia, exclama o Imperador com bondade:
— A que devo o obséquio da sua interpelação?
10 — Majestade! — respondi, confundido com a sua delicadeza — desejara colher a vossa opinião com respeito ao Brasil e aos brasileiros. Estamos no limiar do cinquentenário de República e seria interessante ouvir o vosso conselho paternal para os vivos de boa vontade. Que pensais destes quarenta e tantos anos de novo regime?
— Minha palavra — retrucou D. Pedro — não pode ter a importância que a sua generosidade lhe atribui. Que poderia dizer do Brasil, senão que continuo a amá-lo com a mesma dedicação de todos os dias! Do Plano Invisível, para o mundo, prosseguimos no mesmo labor de construção da nacionalidade. 11 As convenções políticas dos homens não atingem os Espíritos desencarnados. O exílio termina sempre na sepultura, porque a única realidade é o amor, e o amor, eliminando todas as fronteiras, nos ligou para sempre ao torrão brasileiro. Não tenho o direito de criticar a República, mesmo porque todos os fenômenos políticos e sociais do nosso país tiveram os seus pródromos no mundo espiritual, considerando-se a missão do Brasil dentro do Evangelho. 12 Apenas quero dizer que não só os republicanos, mas também nós, os da monarquia, estávamos redondamente enganados. O erro da nossa visão, quando na Terra, foi supor no Brasil o mesmo espírito anglo-saxônio que a Inglaterra legara aos norte-americanos. Eu também fui apaixonado pelo liberalismo, mas a verdade é que, em nossa terra, prevaleciam outros fatores mesológicos e, até agora, não temos sabido conciliar os interesses da nação com esses imperativos.
13 A ausência de tradição nos elementos de nossa origem, como povo, estabeleceu uma descentralização de interesses, prejudicial ao bem coletivo do pais. Para a formação nacional, não vieram da metrópole os espíritos mais cultos. Pesando, de um lado, os africanos, revoltados com o cativeiro, e, de outro, os índios, revoltados com a invasão do estrangeiro na terra que era propriedade deles, a balança da evolução geral ficou seriamente comprometida. Sentimentos excessivos de liberdade não nos permitiram um refinamento de educação política. Todos querem mandar e ninguém se sente na obrigação de obedecer. 14 Quando no Império, possuíamos a autoridade centralizadora da Coroa, prevalecendo sobre as ambições dos grupos partidários que povoavam os nossos oito milhões e meio de quilômetros quadrados; mas, quando os republicanos sentiram de perto o peso das responsabilidades que tomaram à sua conta, os espíritos mais educados reconheceram o desacerto das nossas concepções administrativas. 15 Enquanto as nações da Europa e os Estados Unidos podiam empregar livremente em nosso país os seus capitais, a título de empréstimos vultosos que desbaratavam compulsoriamente a nossa economia, o Brasil podia descansar na monocultura, fazer a política dos partidos e adiar a solução dos seus problemas para o dia seguinte, dentro de um regime para o qual não se achava preparado em 1889. 16 Mas, quando se manifestou a crise mundial de 1929, todas as instituições políticas sofreram as mais amplas renovações, dentro dos movimentos revolucionários de 1930. Os capitais estrangeiros não puderam mais canalizar suas disponibilidades para a nossa terra, controlados pelos governos autárquicos dos tempos que correm, e o Brasil acordou para a sua própria realidade. Aliás, nós, os desencarnados há muito tempo procuramos auxiliar os vivos na sua tarefa.
17 — Quer dizer que também tendes inspirado os labores dos estadistas brasileiros?
— Sim, de modo indireto, pois não podemos interferir na liberdade deles. Há alguns anos, procurei auxiliar Alberto Torres nas suas elucubrações de ordem social e política. Em geral, nós, os desencarnados, buscamos influenciar, de preferência, os organismos mais sensíveis à nossa ação e Torres era o instrumento de nossas verdades para a administração. A realidade, porém, é que ele falou como Jeremias [Oh! Jerusalém!…]. Somente a gravidade da situação conseguiu despertar o espírito nacional para novas realizações.
18 — Majestade, as vossas palavras me dão a entender que aprovais o novo estado de coisas do Brasil. Aplaudistes, então, a queda da denominada república velha, sob as vibrações revolucionárias de 1930?
— Com as minhas palavras — disse ele bondosamente — não desejo exaltar a vaidade de quem quer que seja, nem deprimir o esforço de ninguém. Não posso aplaudir nenhum movimento de destruição, pois entendo que, sobre a revolução, deve pairar o sentimento nobre da evolução geral de todos, dentro da maior concórdia espiritual. 19 Considere que, examinando a minha consciência, não me lembro de haver fortalecido nenhum sentimento de rebeldia nos meus tempos de governo; entretanto, muito sofri, verificando que eu poderia ter suavizado a luta entre os nossos estadistas e os políticos da América espanhola. 20 Outra forma de ação  n  poderíamos ter empregado no caso de Rosas e de Oribe e mesmo em face do próprio Solano López, cuja inconsciência nos negócios do povo ficou evidentemente patenteada. E note-se que o problema se constituía de graves questões internacionais. O nosso mal foi sempre o desconhecimento da realidade brasileira. Os nossos períodos históricos têm sofrido largamente os reflexos da vida e da cultura europeias. 21 Nos tempos do Império, procurei saturar-me dos princípios democráticos da política francesa, tentando aplicá-los, amplamente, ao nosso meio, longe das nossas realidades práticas. Os republicanos, como Benjamim Constant, Deodoro, etc., deram-se a estudar a “República Americana”, de Bryce, distantes dos nossos problemas essenciais. 22 Quando regressei das lutas terrestres, procurei imediatamente colaborar na consolidação do novo regime, a fim de que a divisão e os desvarios de muitos dos seus adeptos não terminassem no puro e simples desmembramento do País. Graças a Deus, conseguimos conduzir Prudente de Morais ao poder constitucional, para acabarmos reconhecendo agora as nossas realidades; mais fortes. 23 Devo, todavia, fazer-lhe sentir que não me reconheço com o direito de opinar sobre os trabalhos dos homens públicos do País. Cabe-me, sim, rogar a Deus que os inspire, no cumprimento de seus austeros deveres, diante da pátria e do mundo. O grande caminho da atualidade é a organização da nossa Economia, em matéria de política, e o desenvolvimento da Educação, no que concerne ao avanço sociológico dos tempos que passam. Os demais elementos de nossas expressões evolutivas dependem de outros fatores de ordem espiritual, longe de todas as expressões transitórias da política dos homens.
24 A essa altura, notei que a minha curiosidade jornalística começava a magoar a venerável entidade e mudei repentinamente de assunto.
— Majestade, que dizeis da grande figura hoje lembrada?
— O vulto de José Bonifácio foi sempre objeto de meu respeito e de minha amizade. E olhe que foi ele o mais sensato organizador da nacionalidade brasileira, cujo progresso acompanha, carinhosamente, com a sua lealdade sincera. Hoje, que se comemora o centenário de sua desencarnação, devemos relembrar o seu regresso de novo ao Brasil, em meados do século passado, tendo sido uma das mais elevadas expressões de cultura, na Constituinte de 1891.
25 Dispunha-me a obter novos esclarecimentos; mas o Imperador, acompanhado de amigos, retirava-se quase que abruptamente da nossa companhia, correspondendo fraternalmente a outros apelos sentimentais.
Palavras amigas de adeus e votos de ventura no Plano Imortal, e eu e o meu amigo José Porfírio lá ficávamos com a suave impressão da sua palavra sábia e benevolente.
26 Daí a momentos, o meu companheiro quebrava o silêncio de minha meditação:
— Humberto, os monarquistas tinham razão!… Este velho é um poço de verdade e de experiência da vida! Você deve registar esta entrevista, oferecendo aos vivos estas palavras quentes de conhecimento e de sabedoria!
27 E aqui estou escrevendo para os meus ex-companheiros pelo estômago e pelo sofrimento.
Acreditarão no humilde cronista desencarnado?
Não guardo dúvidas nesse sentido. Penso que obteria mais amplos resultados, se fosse ao Cemitério do Caju e gritasse a palavra do Imperador para dentro de cada túmulo.

.Humberto de Campos
(.Irmão X)


[1] Afonso Celso de Assis Figueiredo — Visconde de Ouro Preto. Foi presidente do último gabinete ministerial que teve a monarquia.

[2] Luís Filipe Gastão de Orleãns, Conde d’Eu. Foi genro de D Pedro II por ter casado com a princesa Isabel.

[3] Outra forma de ação… — Alusão às lutas e à guerra em que se envolveu o Brasil com as Repúblicas do Uruguai, da Argentina e do Paraguai.
 
Citação parcial para estudo, de acordo com o artigo 46, item III, da Lei de Direitos Autorais.

Fonte:http://bibliadocaminho.com/ocaminho/TXavieriano/Livros/Nms/Nms02.htm

Passes terapia "a medida que o passista se afeiçoa à atividade e adquire auto confiança , mais facilmente registrará as presenças dos nobres guias espirituais que passarão a supervisionar lhe a tarefa, predispondo-se ao auxílio valioso com segurança por seu intermédio."





[...] A transmissão da energia constituída por raios psíquicos-magnético está ao alcance de todas as criaturas que se queriam devotar à ação do bem.
O dom de curar não constitui privilégio de ninguém, embora algumas pessoas sejam mais bem aquinhoadas dos recursos energéticos destinados a esse fim [...] dos recursos hábeis para o desiderato [...] o desejo sincero de servir tornar sê-lhe fundamental para o empreendimento a que se propõe interessado em adquirir o conhecimento para lograr os resultados melhores , cabe-lhe conhecer a natureza humana, a constituição orgânica e os fulcros de energia no corpo físico, bem como no perispiritual, assim também as leis dos fluidos, desse modo equipando-se com os elementos valiosos indispensáveis ao tentame .
Em seguida, torna-se necessário a consciência do contributo que dever oferecer, trabalhando os sentimentos de simpatia, da amizade , da compaixão, a fim de envolver o enfermos em ondas de energia favorável à sua recuperação.
Dos cuidados especiais:
[...] a higiene física e mental, mediante hábitos superiores da oração e dos bons pensamentos, cultivando as ideias edificantes reflexionando em páginas portadoras de conteúdos morais relevantes para servirem de sustentáculo emocional ao equilíbrio[...] A iniciativa do bem nasce no sentimento da criatura humana e encontra ressonância na Espiritualidade.[...] a medida que o passista se afeiçoa à atividade e adquire auto confiança , mais facilmente registrará as presenças dos nobres guias espirituais que passarão a supervisionar lhe a tarefa, predispondo-se ao auxílio valioso com segurança por seu intermédio.
Trabalhando-se emocionalmente e cada vez mais conscientizando-se da responsabilidade assumida é imperioso esforçar-se e multiplicar os bônus de energia que possa doar. Tal recurso é conseguido como decorrência natural do esforço que empreende e da dedicação ao serviço socorrista.

Trechos retirados do Livro Mediunidade: desafios e bênçãos ditado por Manoel Philomeno de Miranda , capítulo Passes terapia

Massificação "A massa absorve, devora as expressões individuais e consolida as paixões perversas"



Ao tempo em que as informações se multiplicam, oferecendo o conhecimento de muitas ocorrências simultaneamente, aquelas que têm primazia nos veículos de comunicação — tragédias, excentricidades, violências e crimes, sexo em desvario, ameaças de morte e de guerra — deixam o indivíduo inseguro. 
Porque não dispõe de tempo para digerir e bem absorver as notícias, selecionando-as, abate-se com facilidade ou excita-se, armando-se emocionalmente para os enfrentamentos.
[...]Deixando-se arrastar pelo volume, massifica-se e perde o contato com a própria identidade, passando a ser apenas mais um no grupo, no qual se movimenta —trabalho, recreios, estudos, em quaisquer atividades submetendo-se ao estabelecido, ao gosto geral, à vontade alheia, às necessidades que os organizadores definem, sem o consultarem anteriormente. 
[...] A massificação deságua na desumanização, reconduzindo o ser ao anterior estágio dos impulsos e instintos básicos[...]Nela, não há liberdade plena, nem harmonia gratificante, porquanto é artificial, ruidosa, agressiva, propondo contínuo, exaustivo estado de alerta contra os seus métodos e membros igualmente violentos. A massa humana, como ser grupal, é destituída de alma, de sensibilidade. 
(...)Porque os seus membros perderam a capacidade de ser indivíduos, estouram a qualquer voz de comando, arrastados pelos que os sediciam, e assim agem, para não ficarem esmagados. Os seus tornam-se os interesses coletivos, e tudo é programado, extinguindo no homem a espontaneidade, que lhe expressa a individualidade, o nível psicológico e de consciência, no qual se encontra. [...]O ser humano é um universo com as suas próprias leis e constituição embora em harmonia com todos os demais, formando imensa família. Massificado, perde a capacidade, ou lhe é impedida, de expressar-se, de anelar e viver, conforme o seu paradigma de aspiração e progresso, pois que, do contrário, é expulso do grupo, onde não mais tem acesso. Marginalizado, deprime-se, aflige-se. Cabe-lhe, porém, amadurecer reflexões para viver no grupo sem pertencer-lhe; para estar em sociedade sem perder a sua identidade; para encontrar-se neste momento com os demais, porém, não se permitir os arrastamentos insensatos e compulsivos da massificação. [...]A aquisição da consciência de si, porém, é resultado de um esforço individual concentrado.[...]Quando defrontado com o Si profundo, o indivíduo opta por controlar e bem direcionar a máquina orgânica ao invés de ser conduzido pelos instintos prevalecentes. Esse empenho racional converte-se de imediato em desafio que o engrandece, oferecendo-lhe significado existencial, por cujo termo lutará com denodo[...]A massa absorve, devora as expressões individuais e consolida as paixões perversas. [...]Vivendo-se uma atualidade globalizadora , inevitável, pode-se no entanto, evitar a massificação, preservando-se a individualidade, sendo-se autêntico consigo mesmo, enfrentando as imposições do ego e harmonizando-as com o Self.

Fonte: Trechos do Livro "Amor Imbatível Amor" do tema Massificação.
Autor espiritual: Joana de Angelis psicografado por Divaldo Pereira Franco