Nem dirão: Ei-lo aqui, ou ei-lo ali, porque eis que o reino de Deus está entre vós".
(Lucas, 17:20-21).
Já se
foram os tempos em que os homens supunham ser o nosso mundo o centro
de todo o Universo, quando então teorias aberrantes foram impostas
como verdades irretorquíveis.
Os
gregos, por exemplo, admitiam a Terra como imenso disco, supondo que o
centro de tal disco estava exatamente no famoso santuário de Apoio, em
Delfos, a poucos quilômetros do golfo de Corinto. Nesse santuário,
famoso pelo seu oráculo, havia mesmo um cone de mármore branco,
considerado por todos como o "umbigo" do mundo...
No
tocante aos céus, também existiam várias teorias, pois, segundo a
opinião generalizada, havia sete céus. Os muçulmanos admitem nove
céus, em cada um dos quais se aumenta a felicidade dos crentes.
n sábio Ptolomeu, que viveu em Alexandria, no segundo século da era
cristã, contava onze céus e denominava ao último Empireu (do grego,
pur ou pyr, fogo) por causa da luz intensa que afirmava nele existir.
Os poetas afirmavam ser esse o lugar da eterna glória. A teologia
cristã, por sua vez, reconhece três céus: o primeiro é o da região do
ar e das nuvens, o segundo o espaço em que giram os astros, e o
terceiro, a morada do Altíssimo, onde estariam aqueles que segundo os
seus ensinos, gozam da bem-aventurança e estão no estado de
contemplação beatífica.
Sobre a
vida no além-túmulo, ensina também que o homem vive uma só vez, depois
do que será submetido a dois julgamentos distintos: um logo depois da
morte, chamado juízo particular, e outro no fim do mundo, denominado
juízo universal, ou final. Depois do primeiro, as almas vão
diretamente ou para o céu, onde "se goza da vista de Deus e de todos
os bens, sem mistura de mal", ou para o inferno, onde, ao contrário,
"se sofre a privação da vista de Deus, o fogo eterno e todos os males,
sem mistura de bem". Sustenta ainda que as almas que tenham apenas
pecados venais, permanecem por algum tempo em uma estância
intermediária o purgatório, antes de serem recebidas no céu.
Por
outro lado, essa teologia situou Deus nos confins do Universo, em vez
de colocá-lo no centro, donde o seu pensamento poderia irradiar e
abranger tudo.
A
evolução se processou de forma espantosa, a ciência desvendou novas
verdades, a Terra deixou de ser o centro do universo, o céu foi
deslocado e a região estelar, sendo ilimitada, deitou por terra a
teoria na existência desses céus superpostos, e isso fez emudecer
todas as religiões.
Paulo,
em sua 11 Epístola ao Coríntios, afirmou: "Conheço um homem em Cristo
que há quatorze anos (se no corpo não sei, se fora do corpo não sei;
Deus o sabe) foi arrebatado até ao terceiro céu. E sei que o tal homem
(se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado
ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, de que ao homem não é licito
falar". (I1 Cor. 12:2-4).
É
inegável que o homem mencionado por Paulo foi arrebatado, em espírito,
a um plano espiritual de grande elevação e, ali, ouviu instruções de
grande alcance, inacessíveis á compreensão dos homens encarnados.
Qualquer um desses planos espirituais do Mundo Maior, narrados nos
ensinamentos espíritas, pode ser comparado ao chamado terceiro céu,
pois, obviamente os que ouviam Paulo não estavam em condições de
compreender o céu senão como um lugar situado acima das regiões das
nuvens e do:; astros, uma vez que se concebia (crença que perdurou até
Galilei) que a Terra era o centro do Universo.
Quão
diferentes são estes ensinamentos daqueles que o Espiritismo vem
apregoar na atualidade.
Jesus
afirmou que não deveríamos buscar o Reino de Deus aqui ou acolá, pois
ele está entre nós, e os espíritas têm como ponto pacífico que a
fórmula para á conquista desse Reino é a vivência pura e simples dos
preceitos cristãos que levam á reforma íntima. O reino dos céus não se
toma de assalto, mas conquista se com as boas obras. (Lucas, 16:16).
Após a
oficialização da igreja cristã, no século IV, cessou praticamente o
intercâmbio mediúnico entre os primitivos cristãos e o mundo
espiritual.
A justificativa apresentada pelos doutores da igreja foi
uma proibição lançada vinte séculos antes por Moisés, cujo objetivo
era combater a mercantilização com as coisas
divinas e a ação nefasta dos falsos médiuns.
A
revelação dos espíritos passou a ser um empecilho aos intuitos dos
homens que tinham interesse numa igreja temporal. Para por um
paradeiro no processo de intercâmbio entre o mundo corpóreo e o plano
espiritual, inúmeras fogueiras foram acesas, e, como decorrência, a
revelação deixou de ser a pedra angular das chamadas religiões
cristãs.
Surgiram
então os dogmas e durante outros vinte séculos a humanidade passou a
ter uma visão distorcida das coisas divinas, pois, através deles
tomaram forma as esdrúxulas teorias das penas eternas, do pecado
original, dos céus superpostos, da existência do purgatório, da
unicidade das existências do homem na Terra, da unicidade dos mundos
habitados e outras mais, tudo isso em flagrante contraste com os
ensinamentos contidos nos Evangelhos.
Ao
Espiritismo cabe a tarefa de restabelecer todos os ensinamentos de
Jesus Cristo em seus devidos lugares, consoante a promessa do Mestre
de que suscitaria entre nós, em época propícia, o Espírito de Verdade.
Paulo Alves de Godoy
O Semeador