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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Tema muito importante que constitui o caráter dos indivíduos nos fazendo refletirmos o quanto temos que nos vigiarmos e orientarmos as nossas crianças.

Em dia com o Espiritismo.
Por que mentimos?

“Da mesma boca provém bênção e maldição.” (Tiago, 3:10.)

MARTA ANTUNES MOURA


Por definição, a mentira é um engano, falsidade ou fraude. Algo que é contrário à verdade e à caridade. Pode ocorrer por vontade própria, por omissão ou por equívocos de interpretação de fatos e comportamentos.
Em qualquer situação os resultados são sempre negativos.
Primeiro porque contraria padrões morais, éticos e religiosos (a mentira é considerada “pecado” pelas religiões cristãs tradicionais); segundo porque pode desencadear reações imprevisíveis, com exacerbação de animosidade e conflitos entre as pessoas, estabelecimento de focos de maledicência, entre outros.
Alguns filósofos, como Platão (428/427-348/347 a.C.), admitiam aceitar algumas mentiras, desde
que não produzissem maiores prejuízos, como a chamada “mentira piedosa”. Immanuel Kant (1724- -1804), Santo Agostinho (354-430) e Aristóteles (384-322 a.C.) não aceitavam qualquer tipo de mentira,
por acreditarem que o mentiroso é um Espírito moralmente fraco. Este último filósofo, inclusive, a distinguia e classificava em dois tipos: a jactância, que consiste em exagerar a verdade, e a ironia que, ao contrário, diminui a verdade.1*
Não há dúvidas de que a mentira, parcial ou total, velada ou declarada, revela desarmonia espiritual
de quem a pratica. A questão que se coloca, porém, é outra: o que fazer para evitar queda nas malhas
da maledicência, fazendo opção pela verdade? Pois nem sempre é fácil discernir entre o falso e o verdadeiro. Pondera o Espírito São Luís, a respeito, que todo cuidado é pouco ao comentar o mal
alheio, ainda que este se revele verdadeiro:
[...] Se as imperfeições de uma pessoa só prejudicam a ela mesma, não haverá nenhuma utilidade
em divulgá-la.No entanto, se podem acarretar prejuízos a terceiros, deve-se preferir o interesse
do maior número ao interesse de um só. [...] Em tal caso, deve-se pesar a soma das vantagens e dos inconvenientes.2*
No rastro histórico da mentira, vamos localizá-la como abominável técnica de persuasão, largamente
utilizada por Adolf Hitler e os construtores do nazismo, a qual foi denominada Teoria da Grande Mentira. Trata-se de uma ferramenta da propaganda ideológica frequentemente usada, no passado e no presente, para se referir à crença de que uma mentira, repetida com frequência, de forma convicente que ignora todas
e quaisquer declarações que poderiam desmascará-la, irá com o tempo ser aceita pelas pessoas,
adquirindo o status de verdade, desde que repetida enfaticamente e soprada nos ouvidos certos.3*
Estudos de psicologia comportamental indicam que a mentira pode surgir por várias razões: receio
de que a verdade produza consequências negativas, por insegurança ou baixa autoestima, por opressão de autoridades (pais, amigos, chefes), para obtenção de vantagens ou regalias, e por motivos patológicos. Analisa, contudo, o filósofo estadunidense David Livingstone Smith, Ph.D e professor da Universidade da Nova Inglaterra (USA), que a mentira está há muito tempo integrada no ser humano, iniciada, possivelmente, logo após o surgimento da linguagem. Informa que o homem aprendeu a mentir, inicialmente,
para si mesmo, como forma de aliviar tensões, mas, ao mentir para si, aprendeu a enganar o outro.4*
De qualquer forma, a mentira, pequena ou grande, revela imperfeição moral que pode e deve ser
combatida, pois é mecanismo contrário à melhoria moral do Espírito, como enfatiza Emmanuel:
– Mentira não é ato de guardar a verdade para o momento oportuno [...].
A mentira é a ação capciosa que visa ao proveito imediato de si mesmo, em detrimento dos interesses alheios em sua feição legítima e sagrada; e essa atitude mental da criatura é das que mais humilham a personalidade humana, retardando, por todos os modos, a evolução divina do Espírito.5*

O Espírito que já possui algum esclarecimento sabe, portanto, que o ato de mentir implica aquisição
de satisfações pessoais por meios escusos e que não considera o constrangimento e o sofrimento
do próximo. É um comportamento errôneo, um deslize moral, como ensina Joanna de Ângelis:
O erro é sempre um compromisso negativo, e toda lesão moral, particularmente aquela
produzida no organismo social, constitui grave comprometimento, de cujos efeitos não se
pode evadir o responsável. Desse modo, todo e qualquer deslize moral é sempre uma agressão à
ordem, à saúde, ao equilíbrio, que devem viger em toda parte.
É muito comum censurar-se o crime hediondo que estarrece, enquanto se praticam defecções ditas menores [...].Aqui, é a mentira branca, disfarçando o mau hábito de escamotear a verdade [...]. Mentir é sempre um hábito doentio que encarcera o indivíduo nas suas malhas traiçoeiras.
Adiante, é a censura com ironia, ocultando a perversidade que se expande a soldo da maledicência
e da leviandade. [...]6*

A mentira é relativamente comum na infância, daí ser importante que pais e educadores aprendam
a distinguir a realidade da fantasia. A situação se revela especialmente grave quando a criança
e o adolescente mentem para se isentarem da culpa, para chamarem a atenção dos genitores, familiares, colegas e professores.
Persistindo-se nessas bases, o processo pode evoluir para algo mais sério, doentio, sobretudo se os
adultos, que servem de referência para a criança e o jovem, também têm o hábito de mentir, ou de
usar de subterfúgios para justificar os seus atos incorretos.

Para o professor David L. Smith, anteriormente citado, a questão é
muito mais ampla quando se trata da educação de filhos.
[...] a maioria de nós diz que ensina os filhos a não mentir.Embora seja verdade que as crianças
ouvem que não devem mentir, aprendem mais frequentemente a mentir de uma maneira socialmente aceitável. [...] As crianças aprendem a praticar as formas de engano que são publicamente proibidas, mas, secretamente, sancionadas.
A mentira socialmente apropriada não é meramente tolerada; é compulsória. A criança
que não consegue dominar essa habilidade paga o alto preço da desaprovação, da punição
e do ostracismo social.7*

A mentira sistemática produz, com o tempo, deformações no caráter
individual, sendo impossível, em determinados casos, discernir se a pessoa fala ou não a
verdade. A inteligência humana criou, então, instrumentos não verbais para detectar a mentira, os
quais, ainda que sejam considerados controvertidos, abusivos e antiéticos por várias comunidades
nacionais, são aceitos em investigações policiais de alguns países.
Entre eles estão os “polígrafos”, aparelhos de detecção de mentiras que medem o estresse fisiológico
do entrevistado quando ele fornece declarações ou responde a perguntas.
Acredita-se que os picos do estresse indicariam as mentiras.
A precisão desse método é amplamente contestada, pois o entrevistado tem condições de ludibriar
os registros do aparelho.
Outro detector de mentira é o soro da verdade, que também é considerado pouco confiável.
Recentemente, neurocientistas descobriram que a mentira ativa
estruturas específicas do cérebro, observadas durante exames de tomografia por ressonância magnética.
Trata-se de um método em fase de teste, pois é caro e pouco prático.
O certo, mesmo, é fugirmos da mentira, agindo com mais sinceridade no trato com as pessoas.
Para isto é necessário exercitar atos de boa conduta, apoiando-se nesta orientação do Codificador
do Espiritismo:
[...] Desde que a divisa do Espiritismo é Amor e caridade, reconhecereis a verdade pela prática
desta máxima, e tereis como certo que aquele que atira a pedra em outro não pode estar com a
verdade absoluta. [...].8
*
Referências:
1ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia.
Trad. Alfredo Bosi. 4. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2000. p. 660.
2KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra.
Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 10, item
21, p. 217.
3Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
wiki/A_Grande_Mentira_(livro)>.
4SMITH, David Livingstone. Por que mentimos:
os fundamentos biológicos e psicológicos
da mentira. Trad. de Marcelo Lino.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. Prefácio,
p. 11.
5XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo
Espírito Emmanuel. 28. ed. 3. reimp. Rio
de Janeiro: FEB, 2010. Q. 192.
6FRANCO, Divaldo P. Iluminação interior.
Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador:
LEAL, 2006. Cap. 24, p. 149-150.
7SMITH, David Livingstone. Por que mentimos:
os fundamentos biológicos e psicológicos
da mentira. Trad. Marcelo Lino.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. Cap. 1, p. 9.
8KARDEC, Allan. Viagem espírita em 1862
e outras viagens de Allan Kardec. Trad.
Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2007. Discurso de Allan Kardec
aos Espíritas de Bordeaux, p. 217.
Julho 2010 • Reformador 281

Artigo da Revista O Reformador tratando do assunto ligado aos trabalhadores das Casas Espíritas.

Proveitosa conquista

CLARA LILA GONZALEZ DE ARAÚJO
“Quando fordes convidados, ide colocar-vos no último lugar, a fim de que,
quando aquele que vos convidou chegar, vos diga: meu amigo, venha mais
para cima. Isso então será para vós um motivo de glória, diante de todos os
que estiverem convosco à mesa; – porquanto todo aquele que se eleva será
rebaixado e todo aquele que se abaixa será elevado.” 1*



O capítulo VII, de O Evangelho segundo o Espiritismo, itens 3 a 6, destaca o princípio de humildade como fator determinante para a ascensão espiritual de todas as criaturas e fundamenta- se, entre outras, na passagem evangélica em destaque. A análise oferecida por Allan Kardec, no texto em questão, enaltece a
ideia fundamental de que necessitamos nos despojar de certas vaidades, chamando atenção, sobretudo,
para o cuidado que devemos ter ao assumir situações de relevo social, profissional, ou religioso,
frente ao mundo material:
O Espiritismo aponta-nos outra aplicação do mesmo princípio nas encarnações sucessivas, mediante as quais os que, numa existência, ocuparam as mais elevadas posições, descem, em existência seguinte, às mais ínfimas condições, desde que os tenham dominado o orgulho e a ambição. Não procureis, pois, na Terra, os primeiros lugares, nem vos colocar acima dos outros, se não quiserdes ser obrigados a descer. [...]2*
A valiosa ressalva permite-nos avaliar, essencialmente, as práticas espíritas que desenvolvemos, ao
alimentar a superioridade ou a infalibilidade na execução dos trabalhos voluntários, considerando- os extremamente importantes ou prestigiosos. A questão suscita outras indagações indispensáveis
à nossa reflexão: Contribuímos sem impor exigências? Abraçamos os deveres humildes com devoção
e atendemo-los com amor? Acreditamos cooperar melhor quando nos tornarmos coordenadores de
equipes, em tarefas específicas e essenciais? Damos maior valor às próprias ideias do que às orientações
estabelecidas pela instituição, para o bom êxito dos labores?
Essas perguntas ajudarão na análise do problema. O Centro Espírita oferece-nos inúmeras oportunidades na realização de tarefas nobres e permite- -nos, pelo serviço no Bem, curar as mazelas morais adquiridas no
pretérito de nossas existências. As múltiplas ações que abarcamos – no estudo edificante, na mediunidade,
na evangelização, na assistência social, no atendimento fraterno, na imprensa espírita, na
propaganda libertadora – nos faz viver tempos de renovação e servir motivados pela Doutrina que
nos convoca às fileiras da caridade, sem olvidarmos os necessitados do caminho. Cada qual servindo a seu modo. Nem sempre, contudo, estamos preparados para dar a verdadeira importância às obras na esfera doutrinária e compreender o que elas representam para melhoria do nosso aperfeiçoamento
próprio. A maneira com que agimos, os motivos que determinam o nosso comportamento sincero, ao aceitarmos de boa vontade determinadas tarefas,é o que irá fixar o valor maior ou menor das nossas ações em benefício dos semelhantes. No entender de Vinícius (pseudônimo de Pedro de Camargo, 1878--1966), “o valor das obras não está nas suas grandes proporções, mas na pureza de intenção com que são executadas e no esforço empregado para sua consecução. [...]”.3* O autor, considerado um
dos maiores educadores e evangelizadores espíritas do nosso tempo, lembra-nos:
“[...] A viúva pobre fez mais deitando no gazofilácio do templo uma moedinha de cobre do que os ricos que ali despejavam punhados de ouro. O óbolo da viúva representa um valor maior, porque é a expressão do sumo esforço; era tudo que ela possuía. Dando tudo, não podia dar mais [...]”,3* como a querer dizer- nos: na seara do amor, onde operamos, não há serviço insignificante, não há tarefas menores; elas são apreciadas por Deus, segundo a sua soberana justiça, pela exteriorização dos nobres sentimentos que encobrimos no âmago do nosso coração.
Certos autores espíritas convocam- nos à labuta simples, sem que tenhamos pretensões de executar
grandes feitos, antes mesmo de amadurecermos como tarefeiros, por meio da aquisição de experiências
e estudos necessários ao cumprimento de ações que exijam especial dedicação, fidelidade e expressiva responsabilidade.
Yvonne A. Pereira (1906- -1984), a inesquecível médium, em uma de suas obras, lastima
profundamente a incompreensão de alguns iniciantes no Espiritismo, sobretudo os que aspiram
trabalhar na utilização de suas faculdades psíquicas, conforme suas possibilidades individuais, a serem bem cultivadas e praticadas, aconselhando-os:
[...] Todo médium deverá iniciar o seu desempenho no campo da Doutrina Espírita pelas vias da beneficência, porque assim fazendo desenvolverá os seus poderes psíquicos envolvido
nas faixas vibratórias superiores, junto aos Guias Espirituais, sempre incansáveis em recomendar a prática da beneficência e o estudo constante e metódico, desestimulando a ação arbitrária, de começar pelo fim[...].4*
A autora esclarece que o profitente, ao principiar na tarefa maior, deve compreender que o trabalho da caridade [...] é o serviço do silêncio, da modéstia; não vai para os jornais, nem para as tribunas ou rádios. Não serve para exaltar a vaidade, nem o orgulho, nem o prazer de se sentir admirado. É o trabalho da mão direita, que a esquerda não vê... Mas pelo Mestre e seus mensageiros é conhecido e saudado...5*

Colaborar, anonimamente, em qualquer auxílio de assistência aos irmãos necessitados, fazendo o
bem sem ostentação, é uma recomendação indispensável!
Trabalhadores existem, aos milhares, colaborando, ativamente, nas instituições espíritas; todavia,
raríssimos buscam enriquecer os seus talentos no plantio da verdadeira caridade.
Mesmo os mais
experientes deixam-se dominar pelo cultivo excessivo do raciocínio, esquecendo-se dos generosos
sentimentos no coração, que deve nortear a autêntica prática do Espiritismo junto de Jesus. O livro
espírita Os Mensageiros, do Espírito André Luiz, psicografado por Francisco C. Xavier, relata o caso de Monteiro, servidor entusiasta da colônia “Nosso Lar”, preparado para ser colaborador na iluminação de companheiros encarnados e desencarnados. Ao reencarnar, no entanto, aprimorou-se na aplicação do vício intelectual, desorientando- se completamente.6* Em seu desabafo, comenta alguns aspectos sobre as causas de sua derrota como trabalhador espírita, dirigindo-se aos companheiros que o visitaram, após a desencarnação difícil que tivera:
[...] Chegava ao cúmulo de estudar, pacientemente, longos trechos das Escrituras, não para
meditá-los com o entendimento, mas por mastigá-los a meu bel-prazer, bolçando-os depois aos Espíritos perturbados, em plena sessão, com a ideia criminosa de falsa superioridade espiritual. [...]
Andava cego. [...] Talhava o Espiritismo a meu modo. Toda a proteção e garantia para mim, e valiosos conselhos ao próximo.
Ao demais disso, não conseguia retirar a mente dos espetáculos exteriores. [...]*7

Quando, pois, nos seja oferecido o ensejo de ajudar na seara espírita, saibamos agir com simplicidade
e humildade, sob os efeitos da legítima fraternidade cristã, sem esperar recompensas, de nenhuma
ordem, mas procurando enriquecer os dotes de eficiência imprescindível, apurados nos predicados
de bondade, modéstia, perseverança e espírito de sacrifício, para o engrandecimento das realizações que nos aguardam, sob o amparo dos mentores espirituais que nos assistem com conselhos e orientações legítimas. E, conforme adverte o Espírito Emmanuel, estejamos vigilantes para não deixar que “[...] se amorteça, entre os discípulos sinceros, a campanha contra o elogio pessoal, veneno das obras mais santas
a sufocar-lhes propósitos e esperanças”. 8* Assim procedendo, haveremos de obter proveitosa conquista,
multiplicando as partículas de amor que tivermos distribuído em bênçãos de luz para todos.
Revista O Reformador 2010-Julho
Referências:
1KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 25. ed.
de bolso. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB,
2009. Cap. 7, item 5.
2______. ______. Item 6, p. 145.
3VINÍCIUS (pseudônimo de Pedro de Camargo).
Em torno do mestre. 9. ed. 1.
reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. P. 2,
cap. O valor das obras.
4PEREIRA, Yvonne A. À luz do consolador.
3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Psicografia
e Caridade, p. 184-185.
5______. ______. p. 186.
6XAVIER, Francisco C. Os mensageiros.
Pelo Espírito André Luiz. 2. ed. esp. 2.
reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 12,
p. 79-83.
7______. ______. p. 80-81.
8XAVIER, Francisco C. Pão nosso. Pelo Espírito
Emmanuel. 29. ed. 2. reimp. Rio de
Janeiro: FEB, 2009. Cap. 70.

2- ÂMBITO DE AÇÃO. Capítulo do Livro Atendimento Fraterno.


A Equipe do Projeto
Os problemas que aturdem as criaturas humanas, nos dias de hoje, são os
mais diversificados possíveis e vão, desde a necessidade pura e simples do
conhecimento, às angústias superlativas dos que se encontram sobraçando os
mais pesados fardos. Nesta variada gama está a clientela que busca o
Atendimento Fraterno dos Centros Espíritas.
Uns perderam entes queridos e não conseguiram superar a dor dessas
perdas; outros, não alcançando um relacionamento estável na vida afetiva ou
familiar, transferem para o convívio social os seus conflitos, desajustando-se e
fracassando nas metas programadas; alguns, pedindo por outros, tocados de
compaixão ou incomodados pelo desequilíbrio daqueles com quem se
relacionam; há os vitimados pela pobreza, pelo desemprego, cuja problemática,
conquanto de ordem material, tem raízes e implicações mais profundas; também,
entre essa clientela, se incluem os viciados, vitimas de si mesmos mas, de um certo modo,
atingidos pelo meio hostil de uma sociedade ainda não transformada pelas luzes do Evangelho;
incluem-se os doentes de toda ordem: da mente, do corpo e da emoção, em
processos demorados de inadaptação social; por fim, os que, de uma hora para
outra, se vêem a braços com desafios superiores às suas forças. Todos pleiteando
soluções específicas e encaminhamentos adequados para suas dificuldades.
Em síntese, poderíamos dizer que o alcance do Atendimento Fraterno
engloba as diversas nuances do sofrimento humano e diretamente os
problemas engendrados pelo ego personalístico, que propelem os indivíduos
àutilização incorreta do livre arbítrio.
Destaque para a problemática da obsessão a doença do século, ainda
pouco considerada — pois de permeio com muitos desses conflitos humanos
estão as interferências espirituais variadas, gerando alterações do comportamento
e da emoção de ampliados riscos e conseqüências.
É o Centro Espírita um campo de trabalho, entre tantos outros, onde o
Cristo espera que a distribuição de Sua misericórdia seja prodigalizada.
Todavia, a atividade de ouvir e orientar-dialogando está presente em todo
lugar, é parte da vida, podendo e devendo ser exercida onde se esteja. Não há
quem não se recorde que, em algum momento da existência, precisou ser
ouvido e auxiliado por outrem a encontrar um rumo, a solucionar um conflito
interno. Esse alguém pode ter sido o pai, a mãe, um professor,um amigo ou mesmo um estranho que se aproximou, providencialmente, a
partir daí fazendo-se o benfeitor a favorecer com elementos decisórios
importantes para o existir.
Propomos, a seguir, algumas situações ou oportunidades onde o
Atendimento Fraterno se impõe como dever daqueles que disputam a honra de
ajudar e servir.
NO LAR
Esteja atento ao comportamento psicológico do seu familiar. Registrando
algo de anormal na sua convivência com ele, induza-o a abrir o coração.
Possivelmente ele está precisando de uma palavra de conforto moral, um
roteiro orientador para uma problemática iniciante, que poderá ser contornada
em tempo hábil mediante o apoio no seio da família. Lembre-se, sempre, que
Deus ajuda à criatura através de outra criatura.
Quando notar, no seu filho, os primeiros sinais da conduta anti-social e
anti-fraterna, aborde-o com bondade austera, evitando que a repetição da
ocorrência crie o hábito infeliz. Erradique no nascedouro as raízes do mal, não
permitindo que a falta de atenção lhe tolde a visão do que é mais essencial
para a sua própria vida: os deveres que o amor impõe no cuidado e zelo com
as plantas tenras que Deus lhe confiou.
Notando que alguém do círculo familiar vive dificuldades ásperas, inerentes
ao carreiro evolutivo, adiante-se para oferecer sua contribuição de ajuda,
tornando-se solidário. Conquanto não deva assumir por ele os deveres que a
ele compete, contribua, de algum modo, passando as suas experiências e
dando, com ele, os passos necessários para que se sinta seguro e amparado.
Receite, incessantemente, o tônico preventivo do amor, ensinando dentro
do lar os caminhos de Deus e da retidão de caráter, através do próprio
exemplo, antes que o “fermento” deteriorado das influências alheias arraste os
filhos dalma para o corredor escuro das viciações.
Ensinamentos sonegados no lar, colheita de êxitos diminuída.
NO TRABALHO
Não se isole do companheiro que divide com você as horas estafantes de
sua jornada de trabalho. Estando emocionalmente a ele ligado, em surgindo na
vida do colega a dificuldade moral e o momento inquietante, eis o seu instante
de compartilhar-ajudando, extravasando sentimentos fraternais em ondas de
amizade pura. O verbo, utilizado a serviço da compreensão, é como gotas de
remédio oportuno para minimizar aflições e abrir horizontes alentadores de
otimismo e de esperança. Se hoje você ajuda, mais adiante poderá ser aquele
que necessita ser ajudado.
Esforce-se para conservar o bom-humor, para que não seja você o
interruptor a desligar o circuito da alegria, destoando dos demais. Porém, a
pretexto de estar bem com todos não comungue com o anedotário vulgar e a
conversação vazada em termos maledicentes e depreciativos. Todos acabarão
se acostumando com o seu jeito de ser e respeitando os valores morais de seu
caráter reto. Essa é uma mensagem de auxílio que você passa silenciosamente.
Ante o rastilho de pólvora da desconfiança e da competição inescrupulosa. sejam seus a palavra sensata, a atitude fiel e o comportamento
recatado quanto nobre. E de real valor a presença de alguém que se pronuncie
com eqüanimidade e justiça onde medra a discórdia. disfarçada ou nao.
Defenda princípios de cooperação, valorizando o esforço de todos. Não
explorar nem se deixar explorar é atitude educativa que abre, sempre,
possibilidades para trocas de qualidade superior.
Passe uma mensagem não verbal que traduza a sua alegria de viver,
mantendo-se organizado e disponível. Uma decoração personalizada em sua
sala de trabalho, uma mensagem otimista, emoldurada num quadro de parede
ou sobre a sua carteira, pode ser o toque de sua presença falando à intimidade
das outras pessoas.
NA VIA PÚBLICA
Talvez seja coincidência um encontro inesperado, na rua, com uma pessoa
desconhecida; mas pode ser alguém trazido à sua presença, por Deus, a fim
de que você exercite a capacidade de amar ao próximo. Cumprimentando-a,
gentilmente, ouça-a com a devida atenção. a fim de que possa ser útil e (quem
sabe?) ajudá-la na solução de alguma dificuldade. Suas palavras, envolvidas
por um sentimento empático, podem redirecionar aquela mente, se atribulada,
abrindo espaço para que encontre resposta adequada.
*
Um ídolo do voleibol citadino percorria despreocupadamente a via pública,
dirigindo-se ao treinamento diário, quando, inesperadamente, ouviu alguém chamar-lhe. Voltou-se, curioso, para
identificar o apelante e deparou-se com um adolescente que, de imediato,
declarou-se seu admirador incondicional.
Conversaram durante alguns minutos, o suficiente para que o atlético
desportista notasse o rosto do rapaz coberto de feias cicatrizes, dando-lhe uma
aparência muito desagradável. Inquirindo, veio a saber que ojovem sofrera um
atropelamento que redundou naquele ser deformado que estava, agora, diante
dos seus olhos, fragilizado e infeliz.
Fizera oito operações plásticas de efeitos benéficos diminutos. Na semana
seguinte iria submeter-se à nona intervenção e encontrava-se muito
angustiado.
A sua família não lhe dava a atenção desejada e, naquele encontro casual,
estava recorrendo a um estranho para rogar apoio, compreensão, amizade.
Sim, estava pedindo que lhe fosse feita uma visita ao hospital geral da cidade,
onde seria operado, pois a sua convalescença seria muito difícil de enfrentada,
como das vezes anteriores, sem a presença dos familiares.
Sabendo da impossibilidade de atender àquela solicitação, em decorrência
dos compromissos profissionais do clube que defendia, o astro, religioso que
era, aproveitou o ensejo para estimular o rapaz, dizendo-lhe da excelência da
fé em Deus, que a ninguém desampara. Que ficasse tranqüilo porque tinha
certeza que, daquela vez, os resultados da cirurgia seriam exitosos.
Incutiu naquela mente juvenil as bênçãos do otimismo, da esperança, e já
ia despedir-se, quando o adolescente segredou-lhe:
— “Não fosse este encontro com você e, talvez, eu desse cabo da minha
vida, pois estava desesperado”.
NO TRANSPORTE COLETIVO
Verifique, sempre, quem está sentado ao seu lado, familiarizando-se com
aquela fisionomia que lhe parece desconhecida.
Pense: “Poderá ser alguém que esteja enfrentando as dificuldades naturais
da existência, carregando, nos ombros, difíceis problemas íntimos; senão,
poderá ser um amigo que a vida está me trazendo de volta”.
Tente auscultar o que transita na mente da pessoa, mantendo uma
conversação amistosa; aborde um assunto agradável para sondar-lhe a alma e,
notando algum indício de qualquer carência relacionada com a personalidade
fragilizada, fale da necessidade da comunhão com o Criador, que sempre dá
sinal de Seu amor pelas criaturas através de uma infinidade de meios, e, em
particular, pelos fios invisíveis do pensamento quando, em prece, a Ele nos
ligamos.
Demonstre o seu interesse por aquilo que ele fala pois, assim, terá a
oportunidade de prender a atenção do novo amigo para o que você lhe quer
transmitir. E passe-lhe pequenas notas de compreensão e de interesse, construindo,
a partir daquele instante, vínculos novos de amizade fraternal.
É a sua oportunidade para, discretamente, aplicar os recursos de uma
construção de ajuda, sem interesses subalternos. Introduza, nos sentimentos
dessa pessoa, que lhe parece um estranho, a força estimulante da sua
afetividade, qual o bom samaritano que usa dos recursos da caridade ao próximo sem a
preocupação de identificar-se.
*
Não se preocupe em tornar-se inoportuno. Fale sem constrangimento,
atirando a semente de bom-humor no solo promissor daquela alma merecedora
de atenção.
Sentado ao lado de um rapaz, visivelmente deprimido, na classe de um
trem suburbano, aquele coração gentil conseguiu saber, através de suas
habilidades inter-pessoais, do grande drama que se escondia naquele coração:
— “Minha prisão envergonhou meus pais. Nenhum dos meus parentes
visitou-me durante os oito anos que passei na Penitenciária Estadual pagando
a dívida que contraí para com a Sociedade.”
O rapaz conjecturava que isso tivesse acontecido porque seus genitores
eram pessoas de poucas letras e sem recursos financeiros para viajar. No
entanto, uma grande interrogação o inquietava a todo instante: “Será que os
meus entes queridos já me perdoaram?”
Para facilitar as coisas, escrevera previamente para eles, dizendo que
colocassem um aviso qualquer onde o trem iria parar, afim de facilitar a sua
decisão de continuar viagem ou regressar difinitivamente ao lar.
Quando o comboio de ferro se aproximou da cidade, embora as palavras
otimistas e cheias de esperança que o amigo inesperado lhe dissera, o jovem
não estava em condições psicológicas de olhar para a janela com o intuito de
verificar a mensagem que os pais tinham para ele.
Seu companheiro de viagem delicadamente ofereceu-se para essa incumbência, trocando de lugar com ele e se pondo a observar
através da janela. Minutos depois, colocou a mão no braço trêmulo do exsentenciado
dizendo em sussurro e emocionado:
— Vê, agora.
E o rapaz, com lágrimas incontidas nos olhos, leu a mensagem de boas
vindas:
— Benvindo sejas, filho de nossa alma.
NO CENTRO ESPÍRITA
Ao perceber alguém que chega, por primeira vez, a Casa Espírita a que
você está vinculado por laços de afeição e compromissos de serviços,
aproxime-se, sorria, converse... seja alguém a dar boas-vindas com efusão de
legítima fraternidade. Esse não é um trabalho protocolar e formal da
responsabilidade exclusiva de quem dirige a Casa, mas um impulso
espontâneo de quem está feliz com a convivência cristã e, por isso mesmo,
interessado em expandir sentimentos de amizade.
Lembre-se que uma recepção fria traduz apatia injustificável, e que a
presença de alguém na Casa Espírita, por muito tempo despercebida,
demonstra que os que estão ali albergados se encontram enclausurados em si
mesmos e pouco interessados na expansão da Boa Nova na Terra.
Que seja a sua presença na Casa Espírita uma viagem permanente ao
coração de seu irmão.
Integre-se no espírito da alegria, disputando a honra de trabalhar, com
todos e entre todos, sem preocupações hegemônicas ou dominadoras.
Cordialidade permanente, silêncio a qualquer impulso maledicente, o máximo de empenho para o aproveitamento de toda e qualquer
contribuição, sem cobranças, exibicionismos, querelas... lembre-se que, em
parte, depende de você o clima de amizade que atrairá os bons Espíritos.
Se marcas do passado e desafios do presente lhe ameaçam o
compromisso com a postura fraternal, discipline os impulsos e cumpra o seu
dever de trabalhar e servir até que possa amarem profundidade. Não seja você
a pedra de escândalo, nem o ácido dissolvente da amizade, mas, antes de
tudo, um ponto de referência para que o amor triunfe.
Cuidado com a indiferença, o desapreço e as preferências para que tais
atitudes não maculem a sua participação no esforço coletivo.
Se o companheiro se afastou, conquanto não saiba o motivo, interesse-se
por ele; nada custa um telefonema, uma visita, uma conversa estimuladora e,
se enfermo, a sua presença junto a ele. São essas atitudes deveres impostergáveis,
sem os quais a convivência cristã deixa de ter sentido, tornandose
igual a outra qualquer.
As vezes, você deixa de adotá-las, não por descaso, mas por excesso de
trabalho ou preocupações com os seus próprios problemas. Todavia, reveja a
atitude e refaça as prioridades, pois os deveres da solidariedade estão em
primeiro lugar no coração do espírita.

Reunião Desobsessiva.

A Medicina evoluiu a partir do estudo das doenças.
O que os médicos registraram nos compêndios primeiros lhes foi transmitido pelos doentes sobre os quais se debruçavam.
Na lida com os espíritos enfermos, domiciliados na Vida Maior , os médiuns têm muito que aprender.
Quem tem a visão da luz não tem a visão da treva.
O intercâmbio seguro com os desencarnados se manifestam na desobsessão encerra preciosos depoimentos que nem sempre serão obtidos através da palavra exclusiva dos Benfeitores.
A chamada reunião desobsessiva não deve ser relegada a plano secundário nas casas espíritas, sob pena de os homens se iludirem a respeito das verdades concernentes à vida além da morte.
O arquiteto , por mais culto se revele, não tem a prática do pedreiro.
O fruto que prende na árvore nada sabe da raiz a partir da qual se formou.
A palavra dos espíritos equivocados, ditos obsessores, se constitui , no mínimo ,  em permanente alerta para os que vivem distraídos no corpo.
Se o médico conhece a doença pelo nome, quem sabe descrever a dor é quem a está sentindo.


Ditado por Dr Odilon Fernandes.
Psicografado por Carlos A. Baccelli

Livro: Mediunidade Consciente.

Instrumentos Preferenciais

Os médiuns invigilantes são os instrumentos preferenciais das trevas para agredir o Espiritismo.
O médium que não saiba qual o seu lugar de servir ou não o aceita extrapola em suas atribuições.
Em mediunidade, o que faz a diferença é o espírito receptor do médium e não, como se crê, o espírito comunicante.
Mais difícil que convencer o médium quanto às realidades da Vida de além-túmulo é convencê-lo a manter a simplicidade.
O anseio afetivo do medianeiro torna-o naturalmente carente de projeção.
Quando o médium quer mostrar a si mesmo, o brilho do trabalho dos espíritos se eclipsa.
Todo médium espírita deveria buscar, solitariamente , o aval da periferia para  a tarefa pública que pretende desempenhar.
As flores que ornamentam os jardins no centro das grandes cidades não nasceram lá....
Os médiuns sem discernimento são os calcanhares-de-Aquiles do Movimento Espírita.
Infelizmente - é verdade!-, de maneira sorrateira, o profissionalismo mediúnico vem se instalando na Doutrina.

Ditado pelo Dr Odilon Fernandes
Psicografia: Carlos A.Baccelli.
Livro: Mediunidade Consciente.