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sábado, 18 de agosto de 2012

Responsabilidade



 •  Postado por Redação


A Doutrina Espírita admite no homem o livre-arbítrio em toda a sua plenitude e, se lhe diz que, praticando o mal, ele cede a uma sugestão estranha e má, em nada lhe diminui a responsabilidade, pois lhe reconhece o poder de resistir, o que evidentemente lhe é muito mais fácil do que lutar contra a sua própria natureza.
Assim, de acordo com a Doutrina Espírita, não há arrastamento irresistível: o homem pode sempre cerrar ouvidos à voz oculta que lhe fala no íntimo, induzindo-o ao mal, como pode cerrá-los à voz material daquele que lhe fale ostensivamente.
Pode-o pela ação da sua vontade, pedindo a Deus a força necessária e reclamando, para tal fim, a assistência dos bons Espíritos. (L.E. 872)1
Sobre o tema em tela, seguem algumas contribuições de Cairbar Schutel, constantes do livro Fundamentos da Reforma Íntima (Casa Editora O Clarim):
Responsabilidade é inerente ao encarnado, visto que todo ser humano, em especial a partir dos dezesseis anos, quando possui completo livre-arbítrio, deve responder perante Deus pelo que faz e, consequentemente, pelo que causa (654).
Pode-se dizer: cada reação vivida pelo encarnado é fruto de sua anterior ação. Ele é responsável pelos atos que comete e pelas consequências que sofre. Sob outro aspecto, quando pratica um mal grave, além de estar dando início a uma ação, tem a obrigação de reparação. Logo, quando recebe a reação, vê-se a responsabilidade do encarnado somente sob o aspecto casual. Quando pratica a ação negativa, vê-se a sua responsabilidade sob o aspecto dúplice: causal e reparatório. (658)
A responsabilidade tem ainda a sua análise voltada para o campo deontológico, visto que todo encarnado tem deveres morais e possui, portanto, a responsabilidade de executá-los. (659)
Irresponsabilidade, no contexto da reforma íntima, não existe. Todos os encarnados são responsáveis pelos seus atos, cabendo à Superioridade Divina avaliar o grau de responsabilidade e suas consequências. (660)
São os encarnados levados diariamente a agir com diligência nos seus atos a fim de que não se tornem responsáveis por consequências negativas, que haverão de reparar no futuro. (668)
Portanto, é cabível ressaltar que toda ação contrária ao bem é uma decorrência da falta de conhecimento suficiente ou da inexata compreensão da moral cristã. Ninguém, em sã consciência, seria descuidado nos seus deveres morais e cristãos se tivesse pleno entendimento da teoria e dos ensinamentos contidos no Evangelho de Jesus. (669)
Núcleo fundamental de desenvolvimento do ser humano, a família convive com responsabilidades e desacertos de seus membros no seu cotidiano. (675)
Ser diligente no seio familiar é também cuidar do assunto com a devida atenção e não descurar da educação dos filhos nesse mesmo contexto, dando-lhes norteamentos indispensáveis à sua formação. (680)
Surge, após o advento da progênie, a responsabilidade pela sua boa educação. Devem os pais conduzir os filhos pela senda cristã, acima de tudo, dando-lhes toda a informação possível para que se tornem seres humanos melhores do que efetivamente o são. (684)
Filhos espelham-se geralmente em seus pais. (687)
Apesar de possuírem bagagem espiritual secular própria, com defeitos e virtudes individuais, os infantes carecem de orientação para aprimorarem os seus âmagos, tornando-se seres mais apurados na trilha cristã. Essa a responsabilidade dos pais. (688)
Aos médiuns, de um modo geral, um alerta: possuem responsabilidades inarredáveis pelas comunicações que proporcionam e pela sinceridade ou manipulação com que agem sobre elas. (695)
Ser médium acarreta, ainda, a responsabilidade de educar a mediunidade. (698

1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.

Jornal O Clarim -Agosto 2012

A urgência e a importância da Educação Espírita da Infância •



 •  Postado por Martha Rios Guimarães


Em 2006, ao aceitar o convite para dirigir o Departamento de Educação Espírita da Infância, pela União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, possuía uma visão abrangente das necessidades do setor, isso porque já participava ativamente de ações de troca de experiências com trabalhadores dessa área. Mesmo assim entendia ser essencial obter informações que atestassem minha visão do setor ou, se necessário, a corrigisse. Em outras palavras, busquei elementos concretos para planejar a forma de atuação do departamento, com vistas a auxiliar da melhor forma possível outros Educadores. Assim sendo, minha primeira ação foi a realização de uma pesquisa estadual que, entre outros assuntos, levantou as principais dificuldades dos Educadores Espíritas da Infância (a pesquisa foi realizada entre 2006 e 2007, porém, desde então vem sendo atualizada através dos participantes dos cursos de Formação de Educadores Espíritas da Infância e Juventude).
O primeiro item destacado pelos trabalhadores da área de infância espírita foi o fato de se sentirem despreparados (28%) para cumprir a função de levar a mensagem espírita aos mais novos. Dessa dificuldade, ainda segundo apontamento dos pesquisados, nascem pelo menos mais duas: a primeira é a falta de interesse dos Educandos e a segunda, a difícil tarefa de elaborar aulas sem uso de material já pronto. O segundo obstáculo mais citado é a falta de trabalhadores (23%), seguido de: estrutura física inadequada (16%), falta de público infantil (12%), desinteresse dos pais (11%) e falta de apoio dos Dirigentes (8%). Com 1% cada foram listados por último o acúmulo de tarefas do Educador e a desvalorização do trabalho.
Ao analisarmos esses dados percebemos que a atividade de Educação Espírita Infantojuvenil está longe de ter seu merecido espaço dentro da maioria das Casas Espíritas que, muitas vezes, se contentam com atividades de recreação – onde crianças são entretidas enquanto os adultos assistem sossegados às suas reuniões, essas sim, pensadas e realizadas com os cuidados necessários. Da mesma forma, percebe-se que nem sempre a escolha do trabalhador para esse setor passa pelo mesmo cuidadoso processo de escolha dispensado a outros segmentos da instituição, como se a única característica deste tarefeiro fosse relacionar-se bem com os pequenos. Essa, claro, uma qualidade essencial, mas não mais importante do que o conhecimento da Doutrina Espírita, base de todo trabalho de Educação Espírita Infantojuvenil, que deve ser criteriosamente planejado e executado pela equipe de Educadores.
A falta de trabalhadores não é exclusividade deste campo de atuação, entretanto, nota-se que muitos Dirigentes não se empenham com a mesma intensidade quando a equipe está desfalcada. Para efeito de comparação basta que pensemos o que faria um Dirigente espírita cuja instituição atravessasse um período de escassez de médiuns, por exemplo. Provavelmente, toda a Diretoria seria convocada para, juntos, buscarem soluções urgentes para o grave problema (no que, como Dirigente, concordo plenamente), contudo, muitas vezes quando isso ocorre na equipe de Educadores Espíritas, fecha-se o setor até que espontaneamente apareçam trabalhadores. O mesmo ocorre com a falta de público infantil, situação que exige esforços para atrair pessoas dessa faixa etária.
Espaços inadequados representam outra grande dificuldade, nem sempre encarada com a devida preocupação. Também nesse quesito os adultos saem ganhando, uma vez que, normalmente, os melhores espaços são destinados a esse público. E o mais interessante é que os menores têm maior necessidade de ambientes especificamente pensados para eles, não apenas por uma questão de segurança, mas porque o meio físico interfere no rendimento, na capacidade de compreensão e na interação entre o grupo.
Também os pais, principais responsáveis pela Educação dos filhos, nem sempre percebem o quão importante é colocar a criança (desde a tenra idade) em contato com a base doutrinária, uma vez que os ensinamentos espíritas abrem uma nova forma de pensar e agir e quanto antes penetrarem na alma do ser reencarnado, maiores benefícios oferecerão. Desta forma, muitos acabam – sem perceber, provavelmente – passando aos seus rebentos a ideia de que Centro Espírita é local para ir quando estamos com problemas - quando na verdade deve ser um local de frequência constante, local de fazer e interagir com amigos, local de aprendizado! A falta de apoio dos Dirigentes se evidencia ainda no acompanhamento ao trabalho executado na área aqui enfocada. De acordo com a pesquisa, ainda são raras as instituições cuja Diretoria estimula a equipe do setor a se preparar para a importante (e estratégica) tarefa, que busca materiais para fornecer aos tarefeiros, que conhecem a forma de trabalho, enfim.
Outro ponto interessante é a preocupação com turmas lotadas (essa, infelizmente, uma preocupação que se estende a todas as atividades das sociedades espíritas, podendo ocasionar sérios problemas doutrinários – mas esse é assunto para um outro artigo), como se quantidade e qualidade andassem sempre de mãos dadas.
Pode parecer que este texto tem o objetivo único de criticar as Casas Espíritas, mas não é essa a intenção. Apenas exponho esses pontos para que possamos refletir sobre a necessidade urgente (não apressada, como diria Bezerra de Menezes) de olhar (e agir) para este trabalho tão fundamental.
Toda tarefa na seara espírita (e fora dela) tem obstáculos, mas se acreditamos em sua importância devemos superá-los com dedicação e responsabilidade. Culpar os Dirigentes pela falta de apoio ou recusar a tarefa por não ter o reconhecimento que julgamos merecer não é a postura adequada para mudarmos o quadro aqui retratado. Muitos são os benefícios que a Educação Espírita oferece aos Educandos, à família, à Casa Espírita e até à sociedade, mas para que ela atinja os resultados esperados há que se unir esforços entre todos os envolvidos no processo educacional (Educadores, Educandos, pais e Dirigentes). Começar a refletir sobre os obstáculos e buscar forma de superá-los já é um bom começo, porém!

Fonte: Jornal O Clarim -Agosto 2012

Tem base bíblica o Espiritismo, e é dogmático o outro cristianismo

Crônicas e Artigos
Ano 6 - N° 274 - 19 de Agosto de 2012
JOSÉ REIS CHAVES
jreischaves@gmail.com
Belo Horizonte, MG (Brasil)
      
 


Pouco se fala da diferença entre os dois cristianismos: o bíblico e o dogmático. Mas até guerras eles já causaram.
Há dogmas que unem os cristãos. Mas há os que os dividem como os dogmas da Transubstanciação e da infalibilidade papal.
Os adeptos do cristianismo espírita procuram não ser apenas alunos do excelso Mestre, ou seja, aqueles que só estudam o seu evangelho, mas esforçam-se também para serem seus discípulos, pois eles têm como princípio religioso e moral a vivência de fato do evangelho. Realmente, o Espiritismo segue apenas a Bíblia, superando nisso a Igreja Católica e demais igrejas cristãs. E a doutrina dos Espíritos não aceita os dogmas, que foram imaginados e instituídos pelos teólogos com base em interpretações abusivas simbólicas e literais da Bíblia, e isso quando eles não são frontalmente contrários a ela. Por isso, o Espiritismo é a religião cristã mais combatida por católicos, protestantes e evangélicos.
E há mais um fator que agrava esses ataques. Os líderes religiosos espíritas são voluntários no seu trabalho de divulgação do evangelho. Assim, enquanto os outros líderes religiosos cristãos vivem da sua religião, os líderes cristãos espíritas vivem para a sua religião. Jesus disse que não podemos servir a Deus e a mamom (deus da riqueza). E, exatamente por ser o Espiritismo assim diferente, é que o caluniam de macumbaria, feitiçaria, doentes mentais, superstição, charlatanice, contato com os demônios (na interpretação ainda errada de muitos cristãos) etc. Mas como as pessoas, em sua maioria, não estão mais acreditando nessas mentiras e calúnias, muitos líderes religiosos não espíritas estão apelando agora para outra tática, gritando para os quatro cantos do mundo que o Espiritismo não é cristão, porque não aceita os dogmas, entre eles, o polêmico e politeísta, que quer sustentar que Jesus é outro Deus, dogma esse decretado no tumultuado Concílio Ecumênico de Niceia (325). É um direito que os teólogos ainda tentem sustentar esse dogma, mas também que eles não estranhem que o cristianismo tradicional está, lamentavelmente, em decadência, e que o Islamismo está avançando na Europa, continente que sempre foi um terreno fértil para a difusão e crescimento do Cristianismo.
O Espiritismo não segue a Bíblia às cegas, pois Deus nos deu a inteligência para ser usada. A Bíblia contém a palavra de Deus ou dos Espíritos, anjos de Deus trabalhando no seu projeto. (Hebreus 1:14).  E é errado afirmar que a Bíblia é literalmente a palavra de Deus. Esse erro decorre do fato de os teólogos do passado pensarem que todo Espírito manifestante na Bíblia fosse o do próprio Deus, quando isso nunca aconteceu.
E eis um exemplo de que até satanás é confundido com o Espírito do próprio Deus. O Senhor incita Davi a fazer o censo dos israelitas. (2 Samuel 24:1). Mas, em outra parte bíblica, é satanás que incita Davi a fazer esse censo. (1 Crônicas 21:1). Também se diz no episódio da sarça ardente (Êxodo 3:7) que foi Deus que falou com Moisés. Mas Paulo, Atos (7:30), afirma que foi um anjo, isto é, um Espírito.
O Espiritismo, realmente, segue a Bíblia, mas com uma interpretação raciocinada, como é raciocinada também a sua fé!
 

ESPERANÇA CONSTANTE

ESPERANÇA CONSTANTE


O pessimismo é uma espécie de taxa pesada e desnecessária sobre o zelo que a responsabilidade nos impõe, induzindo-nos à aflição inútil.

Atenção, sim.
Derrotismo, não.

Para que nos livremos de semelhante flagelo, no campo íntimo, é aconselhável desfixar o pensamento, muitas vezes, colado a detalhes ainda sombrios da estrada evolutiva.

Para que sustente desperto o entendimento, quanto à essa verdade, recordemos as bênçãos que excedem largamente às nossas pequenas e transitórias dificuldades.

É inegável que o materialismo passou a dominar muita gente, perante o avanço tecnológico da atualidade terrestre: contudo existem admiráveis multidões de criaturas, em cujos corações a fé se irradia por facho resplendente, iluminando a construção do mundo novo.

As enfermidades ainda apresentam quadros tristes nos agrupamentos humanos; no entanto, é justo considerar que a ciência já liquidou várias moléstias, dantes julgadas irreversíveis, anulando-lhes o perigo com a imunização e com as providências adequadas.

Destacam-se muitos empreiteiros da guerra, tumultuando coletividades; todavia, os obreiros da paz se movimentam em todas as direções.

Muitos lares se desorganizam; mas outros muitos se sustentam consolidados no equilíbrio e na educação, mantendo a segurança entre os homens.

Grande número de mulheres se ausentam da maternidade; entretanto, legiões de irmãs abnegadas se revelam fiéis ao mais elevado trabalho feminino no Planeta, guardando-se na condição de mães admiráveis no devotamento ao grupo doméstico.

Os processos de violência aumentam, quase que em toda parte; ampliam-se, porém, as frentes de amor ao próximo que os extinguem.

Anotando as tribulações que se desdobram no Plano Fiasco, não digas que o mundo está perdido.
Enumera as bênçãos de Deus que enxameiam, em torno de ti.

E se atravessas regiões de trevas, que se te afiguram túneis de sofrimento e desolação, nos quais centenas ou milhares de pessoas perderam a noção da luz, é natural que não consigas transformar-te num sol que flameje no caminho para todos, mas podes claramente acender um fósforo de esperança.



pelo Espírito Emmanuel - Do livro: Atenção, Médium: Francisco Cândido Xavier

AMOR E PERDÃO

AMOR E PERDÃO



E Madalena fora ao túmulo querido
Entre pedras de extremo desconforto...
Levava flores para o Mestre morto,
Tinha o peito magoado e enternecido.

O Sol reaparecia, resplendente,
A névoa da manhã fundia-se no ar,
Na dourada invasão das flamas do Nascente,
Maria estava ali, unicamente,
A fim de estar a sós, recolher-se e chorar.

A desfazer-se em pranto, ela argüía:
- “Por que, por que Senhor?
Tanta saudade e tanta dor?!...
Toda a felicidade que eu sentia
Jaz aqui sepultada...
Transformou-se-me a vida em sombra e nada
No ermo deste pouso derradeiro...”

Nisso, ela viu alguém... Seria um jardineiro?
Um zelador daquele campo santo?
Mas tomada de espanto,
Viu-se à frente do Mestre Nazareno,
O excelso benfeitor ressuscitado,
A envolver-lhe de paz o coração cansado...
Ela gritou: “Senhor!”
Ele disse: “Maria!”

Ela era a expressão da perfeita alegria,
Ele, o perfeito amor.
Madalena ajoelhou-se e quis beijar-lhe os pés...
- “Maria, por quem és” – explicou-se
“Não me toques, porquanto
não te esperava aqui neste recanto,
e ainda não fui ao Pai revestir-me de luz...”
Maria, surpreendida,
indagou em seguida:
- “Senhor, onde estiveste?
Em que jardim celeste
Encontraste o descanso necessário,

Que vem de Deus, nos dons da paz completa?
Perdoa-me, Senhor, a pergunta indiscreta,
Dói-me, porém, pensar na angústia do Calvário,
Revolto-me, padeço, mas não venço
A mágoa de lembrar-te o sacrifício imenso”
Mas Jesus respondeu:
- “Não, Maria, não fui ainda ao Alto,
Nem me elevei sequer um palmo à luz do firmamento,

Quem ama não consegue achar o Céu de um salto...
Ao invés de subir aos Altos Resplendores,
Desci, mas desci muito aos reinos inferiores...
Despertando no túmulo, escutei
Os gritos da aflição de alguém que muito amei
E que muito amo ainda...
Embora visse Além, a Luz sempre mais linda,
Sentia nesse alguém um amado companheiro,

Em crises de tristeza e de loucura...
Fui à sombra abismal para a grande procura
E ao reencontra-lo amargurado e louco,
A ponto de não mais me conhecer,
Demorei-me a afaga-lo e, pouco a pouco,
Consegui que ele, enfim, pudesse adormecer...”
- “Senhor” – interrogou a Madalena
“Quem é o amigo que te fez descer,

Antes de procurar a luz do Pai?”
Mas Jesus replicou, em voz clara e serena:
- “Maria,
um amigo não esquece a dor de outro amigo que cai...

Antes de me altear à Celeste Alegria,
Ao sol do mesmo amor a Deus, em que te enlevas,
Vali-me, após a cruz, das grandes horas mudas,
E desci para as trevas,
A fim de aliviar a imensa dor de Judas”.



pelo Espírito Maria Dolores - Do livro: Coração e Vida, Médium: Francisco Cândido Xavier.

ATIRE A PRIMEIRA PEDRA -LIVRO : LUZ DO MUNDO-DIVALDO-AMÉLIA RODRIGUES


Apedrejar!

Transcorreram as Festas dos Tabernáculos e as gentes retornavam às cidades, aos povoados, aos campos, às atividades diárias.

Aqueles dias foram de júbilos e exaltação nos quais a alma de Israel se rejuvenescera, tomada do entusiasmo festivoque irrompera em Jerusalém naquela ocasião.

As comemorações evocativas dos dias passados, no deserto, sob tendas, após a saída do Egito, significavam a vitória do povo sobre o estigma do cativeiro e das rudes provações.

Aquela fora uma ceifa dadivosa.
Os peregrinos vinham de toda parte confundir os seres nos sorrisos generalizados e a capital se transformava na Casa de todos.

Naqueles dias de outubro já se conhecia a estranha e poderosa voz do Cantor
Diferente, delimitando as novas fronteiras do Reino de Deus. As multidões esfaimadas ouviam aquela Palavra e se entusiasmavam, acompanhando o singular Peregrino.

A fome de pão se misturava à necessidade da paz, e as massas angustiadas, especialmente naquele período, aguardavam o Messias. Havia sinais comprobatórios
da Sua vinda. Muitos foram, pressurosos, à "Casa da Passagem" para escutar, na vau do Jordão, o Batista. Êle, no entanto, afirmara e todos repetiam: — Eu souapenas o preparador dos caminhos, para Êle passar.. . aquele que segue primeiro, à frente, endireitando a passagem...
E de fato, êle passara deixando um apelo veemente para a consciência dos homens: o do arrependimento de todos os erros, com o conseqüente nascimento do homem novo sobre os escombros do homem velho.

Herodes, ao decapitá-lo, penetrou em funda amargura, no entanto, o povo que lhe conhecia a vida atribulada e a conduta adulterina comentava, mordaz, sobre as consequências do seu crime e os lastimáveis resultados que adviriam no futuro.

A Voz, porém, se fizera mais forte, surpreendentemente, após ti morte de João.
Paralíticos e cegos, leprosos e meretrizes, pescadores e a grande plebe a ouviam...
Homens representativos dentre os doutores e os levitas a escutavam e conquanto se ressentissem das duras verdades que ela enunciava, não conseguiam condições para silenciá-la, reconhecendo-a autêntica.

Expectativas felizes pareciam dominar todo o Israel e os sonhos de liberdade longamente acalentados voltavam a interessar as paixões dos sôfregos corações humanos.

Preconizava um Reino e ensinava onde repousavam as suas primeiras balizas, já
fincadas no solo dos espíritos. Todavia, quando se fitavam os olhos transparentes Daquele que projetava a voz da esperança se identificavam neles a melancolia e a poesia latentes que esparziam em farta messe.

Êle viera a Jerusalém para participar das Festas, conhecer o povo mais intimamente, nas explosões coletivas, nas exaltações generalizadas. Muitos O viram e O escutaram antes, provocando que as notícias da Sua presença comunicasse intensas emoções no povo e nos encarregados da Lei e da Religião.
Onde surgia todos O buscavam. . .
Êle estava próximo à porta Nicanor, do lado leste do Templo, chegando pelo caminho do Monte das Oliveiras, acompanhado dos discípulos.

Narra João, com emotividade e linguagem sucinta :
"Os Escribas e os Fariseus trouxeram uma mulher que fora surpreendida em adultério e a apresentaram dizendo: Mestre, esta mulher foi apanhada em adultério. Moisés manda que se lapidem tais mulheres pelo apedrejamento. Tu, pois, que dizes?" (*)
Êle olhou de relance a mulher ultrajada e se abaixou, sensibilizado, e com o dedo
começou a traçar garatujas no solo. (1)
A interrogação se demorava no ar, sem resposta.

Êle era o Embaixador da Verdade, porém o Príncipe representativo da Paz e do Amor. Moisés significava a aspereza literal da Lei fria e dura. Roma retirara de Israel o direito sobre a vida dos seus filhos. Ninguém, senão o Imperador ou seus Representantes, poderia dispor da vida de qualquer pessoa.

O adultério era condenado pelo Decálogo de forma irreversível. Outras mulheres ali foram trazidas "pela gola dos vestidos" e apedrejadas, até consideradas mortas, noutros tempos...
Sua resposta, de qualquer natureza, criaria dificuldades.

Com as Festas havia nos corações uma cantilena de tolerância e benignidade, uma quase tendência ao perdão por parte do povo. Perdoá-la, no entanto, não seria
conivir com o adultério, oferecendo o estímulo da aceitação tácita do nefasto crime?
— "Tu que dizes?"
Havia ali corações em febre de desejos irreprimíveis, devastadores.

As mulheres caem porque encontram alçapões disfarçados no solo das ansiedades, nos quais são atiradas pela volúpia de homens que as hipnotizam com desejos infrenes.

Atrás de cada organização feminina violada, há um companheiro oculto.
Em cada adúltera se esconde um adúltero, comparsa do mesmo erro. Onde estaria aquele que a infelicitou, explorando a sua fraqueza e a abandonando?

A mulher, não obstante desvalorizada, não representava qualquer significação antes d'Êle. Só depois, quando Êle a ergueu do nada em que se encontrava é que passou a ocupar o devido lugar de rainha e santa no altar do amor dos corações...
— "Tu que dizes?"
Êle não a fitou certamente para poupá-la da transparência da Sua visão.

— "Aquele que dentre vós estiver sem erro, atire-lhe a primeira pedra..."
A frase Lhe fluiu dos lábios lentamente, com segurança, nitidez, serenidade.
Continuou a escrever no chão. "Atire-lhe a primeira pedra." A pedrada!
Mas todos ali estavam mergulhados em erros, laborando em terreno infeliz de preconceitos violados, de legislação desrespeitada, de ultrajes ocultos, de crimes que a consciência temia enfrentar diretamente.
Os que estivessem isentos de erros!.. . Quem estaria nessa condição?
A exuberância da luz solar incide sobre as personagens da cena que marcaria História na História...

"Em silêncio os circunstantes se afastaram, um a um a começar dos mais velhos a terminar pelos mais novos, ficando Jesus e a mulher."
Sim, os mais velhos trazem maior soma de empeços e problemas, remorsos e azedumes.. .
É fácil esmagar e exigir quando não se olha interiormente as paisagens do espírito.
Adúlteras, porque há adúlteros que as malsinam.

O silêncio dominou o local em que se encontravam.
Só então Êle se levantou outra vez.
Fitando-a, agora, com doçura e compreendendo o seu drama íntimo, revisando aqueles dias passados, que foram de dissipações, falou, em melodia de ternura e disciplina:
— "Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? Nem eu tão pouco te condeno: vai e não tornes a pecar!
A autoridade do Rabi penetra o espírito da mulher infeliz e repudiada, e harmoniza o país da sua alma em guerra. Antes do erro quanta indecisão e incerteza, quanta frustração e receio atormentaram aquele ser!

Quanto flagelo interior experimenta todo aquele que se entrega ao erro, ao pecado!
"Não tornes a pecar!"
Todo o Evangelho se assenta nessa base: da compaixão e da misericórdia.
Ter oportunidade nova mas não repetir o erro.
Cair e levantar-se.
Equivocar-se e retificar a atitude.
Nem conivência com a irresponsabilidade nem dureza com a correção.

Todos se podem enganar, no entanto, perseverar no engano é acumpliciamento com a ignorância e a leviandade.
O Reino de Deus, cantado por Jesus, é o amor em todas as latitudes e dimensões a alongar-se pela Terra inteira numa explosão de misericórdia e educação.
"Não tornes a pecar."
"Isento de erro."

Apedrejar a própria consciência, lapidando-a, aprimorando o espírito para galgar maior expressão de paz e ventura.
— ... "Atire a primeira pedra!"
(*) João 8: 1 a 11.
(1) Narram diversos intérpretes deste texto, que escrevendo no chão, o Senhor grafava
a marca moral do erro de cada um, que O observava fazendo que recordasse sua própria
imperfeição. Por exemplo: ladrão, adúltero caluniador...
Notas da autora espiritual.

Encontro de Reparação.



          Encontro de Reparação
          O diálogo, na praça ensolarada, no qual a mulher adúltera foi compreendida por Jesus, tornou-se um esperado escândalo.

          Surpreendentemente, o Mestre não censurou o delito, recomendando a lapidação da equivocada, nem a liberou de responsabilidade, considerando-a inocente.

          Reportou-se, isto sim, à leviandade dos acusadores que se encontravam incursos no mesmo crime.

          Tal atitude havia desconcertado os intrigantes e vingadores gratuitos, que se rebelavam contra a terrível chaga do organismo social, que é o adultério, esquecidos de que, ao lado da caída encontrava-se o comparsa que tombara no mesmo erro.

          Passada a surpresa e debandada a multidão sedenta de sangue, e porque a sós, com a infortunada, o Senhor recomendou-lhe que não voltasse a pecar a fim de que não lhe acontecesse mal pior, conforme era habitual.

          Naquela noite, no entanto, quando o episódio já esmaecia, inclusive, entre os discípulos, a mulher, decidida a imprimir novo rumo à existência, procurou o Amigo Divino, na residência que O acolhia ...

          Demonstrando, no constrangimento que exteriorizava, todo o drama, e sofrimento maceradores, solicitou e conseguiu uma entrevista com Aquele graças a cuja interferência tivera a vida poupada.

          Compreendendo a angústia que a apunhalava, o Senhor ensejou-lhe o início da conversa de edificação, saudando-a com carinho e sem afectação.

          - Rogo perdão - disse ela reticente - por vir perturbar-Vos a paz.

          - A verdadeira paz - retrucou-lhe, calmo - é a que flui do coração aclimatado ao culto do dever, que nada perturba.

          "Fala, tranquila e te ouvirei... "

          - Sinto-me aturdida - ripostou-Lhe em pranto - sem saber que rumo dar à minha existência. Lutei muito antes de tombar... O sedutor rondou-me os passos como lobo voraz, ante a presa invigilante ...

          "Meu esposo, passados os primeiros dias da novidade conjugal, retornou às noitadas alegres, deixando-me em solidão... Enferma da alma e carente de bondade, permiti-me envenenar por tormentos que não merecem compaixão.

          "Com sede de ternura, embriaguei-me de concupiscência e ansiosa pela água pura do amor, chafurdei no lodaçal dos desejos doentios. O resultado foi a tragédia ...

          "Abandonada e sem lar, agora padeço o desprezo e a zombaria geral, não sabendo que rumo seguir, nem como agir.

          "Peço-Vos um roteiro e uma lâmpada acesa de


          esperança, a fim de prosseguir... "

          Jesus penetrou naquela alma, ansiosa e sofrida, nela encontrando as dores da Humanidade através dos tempos e considerou, bondoso:

          - A paciência e a confiança em Deus serão as duas providências iniciais que te facultarão a cura e a renovação da saúde. Cometido o erro, ele passa a pesar na economia social e a sobrecarregar a consciência culpada.

          "Não são de importância o que os outros pensam de nós e a cobrança, pela impiedade, com que .desejam fazer justiça. O problema íntimo é vital, e somente quando o homem se reintegra no concerto da ordem, do bem, é que pode fruir de tranquilidade.

          "Arma-te de humildade e confia no amanhã.

          "A memória do povo é fraca e passa rápida em relação às virtudes do próximo. Todavia, é firme, clara e duradoura de referência às faltas alheias, sempre recordadas com o ácido da acusação e os acepipes da malícia.

          "O exemplo decorrente do arrependimento se transforma na defesa do equivocado, que assim repara perante o Pai, ante si mesmo e a sociedade, o engano perpetrado."

          - Para onde irei, agora? - inquiriu, vencida ..

          - As aves dos céus têm ninho, as serpentes e feras os seus covis, mas o filho do Homem não tem onde se agasalhar, vivendo sob a abóbada estrelada e avançando na direcção do Infinito ...

          "Assim, busca a oportunidade de reparação e adapta-te à situação actual, aguardando o amanhã com a disposição de quem compreende o prejuízo a si mesmo causado, ao arrojar fora o hoje ...

          "A negligência do esposo ingrato e leviano não constitui respaldo para que assumisses compromisso infeliz semelhante. E porque ele é doente também, vivendo num organismo comunitário alienado do amor, não tem condições de distender-te a mão amiga, quando dele necessitas e conforme de ti no futuro igualmente dependerá.

          "A vida é feita de permutas, que facilitam a felicidade para todos, sem cujo concurso faz-se mais difícil.

          "Segue, porém, renovada pela certeza do triunfo, porquanto todo aquele que se levanta da queda, encontra apoio na fé e na luta para firmar-se.

          "O Pai Criador não desampara filho algum e vela, devotado, por todos."

          Fazendo-se um silêncio natural, profundo e tocante, foi a mulher quem o arrebentou, rogando:

          - Permiti-me, seguir-Vos, na minha pequenez, e dai-me a Vossa bênção.

          Jesus envolveu a sofredora em uma onda de ternura ímpar, e, erguendo-a, pois que, comovida, se Lhe prosternara aos pés, concluiu:

          - Vai, filha, e não sofras mais. Aqueles que se arrependem e buscam ensejo de redenção, encontram-no. Há sempre um lugar no rebanho do amor para as ovelhas que retornam e desejam avançar.

          "Onde quer que vás, eu estarei contigo e a luz da verdade, no archote do bem brilhará à frente, clareando o teu caminho."

          No céu silencioso, a sinfonia dos astros espalhava luz cintilante, apontando o futuro.

          *

          Dez anos depois, na cidade de Tiro, uma casa humilde de aspecto e rica de amor, recolhia peregrinos cansados e enfermos sem ninguém.

          Uma mulher, que traía na face desgastada vestígios de grande beleza em decadência, reunia ali os infelizes, limpava-lhes as chagas e falava-lhes de Jesus.

          Tornara-se, por isso, querida e respeitada por todos.

          Num cair de tarde amena, chegou, trazido por mãos piedosas, um homem chagado, em extrema penúria, quase morto sob o fardo de mil vicissitudes.

          Recolhido com carinho, teve as úlceras lavadas e aliviadas com unguentos medicamentosos, recebendo caldo reconfortante das mãos da caridade.

          Quando se recobrou um pouco do desalento que o vitimava, ouviu a mensagem de encorajamento, em nome de Jesus, enunciada com unção e carinho pela desconhecida benfeitora.

          Emocionado, e quase sem vitalidade, indagou interessado:

          - Esse Jesus a quem vos referis é o galileu que foi crucificado em Jerusalém?

          - Sim, é Ele mesmo. Morreu por nós, mas volveu ao nosso convívio para nunca mais deixar-nos.

          - E vós O conhecestes para terdes a certeza de que os Seus ensinos são verdadeiros?

          - Sim, eu O conheci oportunamente, quando a mim Ele salvou-me ...

          - Também eu tive a honra de O conhecer - respondeu o moribundo, quase sem forças - mas não soube beneficiar-me. A vós Ele salvou, mas, eu, egoísta e mau, O detestei, afastando-me da Sua presença, confuso e amargurado.

          - Que vos fez Ele para que fugísseis, magoado?

          - Salvou a minha mulher que adulterara contra mim e não me concedeu uma palavra, sequer, de consolação. Não pude compreendê-lO, então.

          "Abandonei a companheira a quem eu infelicitara com os meus vícios e envenenei-me de dor.

          "Passados os anos e havendo despertado para a verdade, tenho-a buscado em vão por toda parte, até que a doença me devorou o corpo e aqui estou... "

          Embargada pelas emoções em desenfreio, naquele momento, a mulher recordou-se da praça e do diálogo, à noite, com o Mestre, um decénio antes, reconheceu o companheiro do passado e sem dizer-lhe nada, segurou-lhe a mão suavemente e o consolou:

          - O arrependimento do erro, a confiança em Deus e a paciência são os primeiros passos para a reparação de qualquer delito.

          "Deus é amor, e, Jesus, por isso mesmo nunca está longe daqueles que O querem e buscam.

          "Agora durma em paz enquanto eu velo, porquanto, nós ambos já O encontramos ... "


          
Pelos caminhos de Jesus -  Divaldo Pereira Franco – Amélia Rodrigues

A mulher equivocada

A mulher equivocada

Matéria publicada no Jornal Mundo Espírita - fevereiro/2004

Seu nome não é citado nos Evangelhos, nem as tradições apostólicas o registraram de alguma forma que alcançasse os nossos dias.

O evangelista João é o único a narrar seu encontro com Jesus, no capítulo 8 do seu Evangelho, nos versículos 2 a 11, portanto, deve ter sido testemunha ocular.

As folhas do outono juncavam o chão. Terminadas estavam as festividades dos Tabernáculos, ou Festa das Tendas, considerada pelo povo de Israel a mais espetacular de todas as festas.

Para a celebrar, cada família devia construir nos arredores de Jerusalém uma cabana de folhagens, na qual residiria por uma semana. As cabanas deviam relembrar aos filhos de Israel que Iavé os fizera morar nelas, quando saíram do Egito e peregrinavam pelo deserto. Dos rituais, fazia parte toda manhã, uma procissão de sacerdotes que descia o monte Moriá até a fonte de Siloé, acompanhada pelo povo, que levava palmas, ao som do shofar (longo chifre de carneiro que serve de trombeta).

Colhida a água em vaso de ouro, tornava a multidão a subir a colina do templo, onde os sacerdotes derramavam o líquido, misturado com vinho, no altar dos holocaustos.

Jesus viera a Jerusalém para participar da Festa e permanecera, concluídas as festividades, pregando. Naquele dia, "Ele estava próximo à porta Nicanor, do lado leste do Templo, chegando pelo caminho do Monte das Oliveiras, acompanhado dos discípulos." (1)

Então, um grupo de fariseus, em meio a um grande alvoroço, lhe trouxe uma jovem mulher, aparentemente apanhada em flagrante adultério.

Diga-se que, entre o povo de Israel, a definição de adultério não era a mesma para o homem e a mulher. O homem somente era acusado de adultério se tivesse relações com uma mulher casada ou noiva, porque, entendia-se, agredia outro homem. A mulher, adulterando, agredia o matrimônio.

Suspeita de adultério, era submetida à prova da água amarga. Devia beber uma monstruosa bebida à base de pó apanhado no Templo. Se vomitasse ou ficasse doente, era considerada culpada. Surpreendida em flagrante, a pena era a morte, que igualmente era aplicada à mulher que fosse violada dentro dos muros da cidade, pois supunha a Lei que, dentro da cidade, se ela tivesse gritado por socorro, teria sido ouvida e socorrida.

Os fariseus submetem a adúltera ao julgamento de Jesus. Em verdade, embora tivessem olhos de lince para todas as faltas do próximo, a questão daquela hora visava muito mais aproveitar o incidente para armar uma cilada ao Profeta de Nazaré do que zelar pela pureza do matrimônio.

Eles a jogaram no chão e ela ali ficou, sem coragem sequer de erguer os olhos. Sabia que delinqüira e conhecia a penalidade. Sabia, igualmente, que ninguém dela se apiedaria. Ninguém, senão Ele.

Enquanto a indagação dos fariseus aguarda uma resposta do Rabi, sobre a pecadora, Ele se inclinou e traçou na areia do pavimento caracteres misteriosos.

Que escreveria Ele? O nome do cúmplice que se evadira? O nome do marido que, ferido no orgulho, permitia fosse sua esposa tão vilmente tratada?

Narram diversos intérpretes do texto evangélico, que Ele grafava a marca moral do erro de cada um. Curiosos, os que ali esperavam a sentença de morte, para se extasiarem no espetáculo de sangue e impiedade, podiam ler: ladrão, adúltero, caluniador... Em síntese, as suas próprias mazelas morais.

Crescia a expectativa. Jesus se ergueu, percorreu o olhar perscrutador pela turbamulta dos acusados, que sentiu atingir-lhes a intimidade, e disse tranqüilamente:

"Aquele dentre vós que estiver sem erro, atire-lhe a primeira pedra."

Em silêncio, os circunstantes se afastaram, um a um, a começar pelos mais velhos. "Sim, os mais velhos trazem maior soma de empeços e problemas, remorsos e azedumes..." (1)

No meio da indecisão geral, Jesus tornou a traçar na areia sinais enigmáticos. Quando o silêncio se fez, Ele se levantou. Ali estava a mulher à espera do seu castigo. Se todos os demais haviam partido, ela devia esperar da parte dEle a sentença e a execução. O Divino Pastor considerou a fragilidade do ser humano e, compadecido com suas misérias morais, lhe disse: "Mulher, onde estão aqueles que te acusavam? Ninguém te condenou?"

"Ninguém, Senhor" - ousou responder à meia-voz. Então, em vez do sibilar mortífero das pedras, ela ouviu as palavras do perdão e da vida: "Nem eu tão pouco te condeno: vai e não tornes a pecar!"

As anotações evangélicas se resumem ao episódio. Contudo, o espírito Amélia Rodrigues nos conta que, naquela noite, a equivocada procurou o Mestre, na residência que O acolhia.

Falou da fraqueza que a dominara, nos dias da mocidade, sentindo-se sozinha. O esposo, poucos dias após o matrimônio, retomara as noitadas alegres e despreocupadas junto dos amigos. Ela se sentira carente e cedera ao cerco do sedutor, que a brindava com atenção e pequenos mimos.

Nada que a desculpasse, reconhecia. E agora, consumada a tragédia, para onde iria? O esposo não a receberia, após o espetáculo público. Também não poderia contar com a proteção paterna, porque fora levada à execração pública, não simplesmente recebendo uma carta de repúdio, o que poderia servir até como indenização ao seu pai, pois o marido que assim procedesse deveria devolver uma parte do dote da noiva ao sogro.

Não havia lugar para ela em Jerusalém.Que seria dela, só e desprotegida?

O Mestre lhe acenou com horizontes de renovação, discorrendo sobre a memória do povo que é duradoura para com as faltas alheias. Ela sentiu, nas entrelinhas, que deveria buscar outras paragens, lugares onde não a conhecessem, nem o drama que acabara de viver.

Na despedida, Jesus a confortou: "...Há sempre um lugar no rebanho do amor para as ovelhas que retornam e desejam avançar. Onde quer que vás, eu estarei contigo e a luz da verdade, no archote do bem brilhará à frente, clareando o teu caminho."

Dez anos passados e ei-la, em Tiro, em casa humilde, onde recebe peregrinos cansados e enfermos sem ninguém. Um pouso de amor ela erguera ali.

Não esquecera jamais daquele entardecer e da entrevista noturna. Tornara-se uma divulgadora da Boa Nova. De seus lábios brotavam espontâneas as referências ao Doce Rabi, alentando as almas, enquanto limpava as chagas dos corpos doentes.

Foi em um cair de tarde que lhe trouxeram um homem quase morto. Ela o lavou e pensou-lhe as chagas. Deu-lhe caldo reconfortante e tão logo o percebeu aliviado das dores, lhe ofereceu a mensagem de encorajamento, em nome de Jesus.

Emocionado, confessa ele que conhecera o Galileu, num infausto dia, em Jerusalém. Odiara-O, então, porque Ele salvara a mulher que adulterara, a sua esposa, mas não tivera para com ele, o ofendido, nenhuma palavra.

O tempo lhe faria meditar em como se equivocara em seu julgamento. Confessa que, desde algum tempo, vinha buscando a companheira, procurando-a em muitos lugares, sem êxito. Até que a doença lhe visitara o corpo, consumindo-lhe as energias.

"Embargada pelas emoções em desenfreio, naquele momento, a mulher recordou-se da praça e do diálogo, à noite, com o Mestre, um decênio antes, reconheceu o companheiro do passado e sem dizer-lhe nada, segurou-lhe a mão suavemente e o consolou: '...Deus é amor, e, Jesus, por isso mesmo nunca está longe daqueles que O querem e buscam. Agora durma em paz enquanto eu velo, porquanto, nós ambos já O encontramos..." (2)

Bibliografia:
01.FRANCO, Divaldo Pereira. Atire a primeira pedra. In:___. Luz do mundo. Pelo espírito Amélia Rodrigues. Salvador: LEAL, 1971. cap. 13.
02.______. Encontro de reparação. In:___. Pelos caminhos de Jesus. Pelo espírito Amélia Rodrigues. Salvador: LEAL, 1988. cap. 15.
03.______. A consciência de culpa. In:___. Trigo de Deus. Pelo espírito Amélia Rodrigues. Salvador: LEAL, 1993. cap. 13.
04.ROHDEN, Huberto. A adúltera. In:___. Jesus nazareno. 6. ed. São Paulo: UNIÃO CULTURAL. v. 2, cap. 92.
05.ROPS, Daniel. Família, "Meus ossos e minha carne". In:___. A vida cotidiana na Palestina no tempo de Jesus. Livros do Brasil. pt. 2, cap. 2, item VII.
06. SAULNIER, Christiane e ROLLAND, Bernard. As instituições religiosas. In:___. A Palestina no tempo de Jesus. 2. ed. São Paulo: PAULINAS, 1983. item As festas.
07.VAN DER OSTEN, A . Adultério. In:___. Dicionário enciclo-pédico da bíblia. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1985.

JESUS e três motivadores psicológicos ::.

:: JESUS e três motivadores psicológicos ::.
     Estudo por: Adilton Pugliese
     IN : Revista "Reformador" Maio 2005 - nº.2114 - Ed.FEB (págs.19 e 20)
 
No Evangelho segundo o Espiritismo, mantendo diálogo com um Espírito que se identifica como São Luís (Luís IX, Rei de Fraça - 1214-1270); Allan Kardec faz três perguntas que podem ser resumidas numa única questão: (1)
"- É permitido repreender os outros, notar as imperfeições de outrem, divulgar o mal de outrem?"
O Espírito São Luís destaca algumas condições:
(1) podemos fazê-lo com moderação, tudo depende da intenção;
(2) com um fim útil, como uma caridade, mas com todo o cuidado, sem prazer de denegrir, o que seria uma maldade. Ele sugere que a censura que alguém faça a outrem deve dirigi-la a si próprio. Isso nos lembra a imagem da atitude do dedo indicador em riste, apontando, acusando, mas enquanto um dedo acusa quatro apontam para o acusador.

Interpretando e trazendo para a actualidade esses ensinamentos, o Espírito Joanna de Ângelis tece comentários em torno da nossa atitude quando alguém está sendo acusado. O que devemos fazer? Qual deverá ser a nossa posição? E se formos nós os acusados?
Recomenda a Benfeitora mantermo-nos em silêncio, porquanto os acontecimentos podem ter antecedentes que são ignorados pelos que acusam e observam e que nem sempre as coisas são como se apresentam. Destaca, por fim, que quem está sendo acusado merece comiseração e oportunidade de reeducação. (2)
Ao refletirmos em torno dessas orientações fizemos uma conexão com três motivadores psicológicos que podem influenciar nas atitudes de acusados e acusadores :
(1) a auto-estima, que pode apresentar-se em nível alto, médio ou baixo, e que pode ser o reflexo de antecedentes desta ou de outras vidas;
(2) a afectividade, expressando, sentimento de compaixão ou de piedade; e
(3) a empatia, sugerindo colocar-se psicológica e emocionalmente no lugar do acusado, ensejando a sua reeducação.


Abraham Maslow (1908-1970) (3) , um dos teóricos da terceira-força em Psicologia, que é a Psicologia Humanista, após o Behaviorismo e a Psicanálise, viu no atendimento das necessidades do Ego - destacando a auto-estima e a afectividade - motivadores psicológicos que fortaleceriam o ser humano nos confrontos que mantêm, periodicamente, com os desafios existenciais, motivadores esses que, juntamente com a empatia, são trabalhados pelos chamados terapeutas da auto-ajuda.
Esses motivadores, embora utilizados como técnicas modernas dentro de uma visão holística do ser humano, ou numa visão transpessoal , que identifica o homem com uma alma preexistente ao nascimento e sobrevivente à morte, têm suas raízes na época do Cristianismo primitivo.
JESUS os praticou e estimulou numa comovedora aula em praça pública.

O relato é feito pelo evangelista João (8:3-11), que certamente presenciou o episódio, em Jerusalém, quando Jesus retornava ao Templo, para ensinar, acompanhado de enorme multidão.
Aproxima-se, então, um grupo de escribas e fariseus, apresentando-lhe uma mulher apanhada em adultério.
Pondo-a no meio do povo disseram-lhe:
- Mestre, esta mulher acaba de ser surpreendida em flagrante adultério. Moisés nos ordena na Lei que as adúlteras sejam apedrejadas.
Qual, sobre isso, a Tua opinião? E Tu, que dizes?
Era uma Lei antiga, prevista em livros de Moisés, no Deuteronómio (22:22) e no Levítico (20:10), tradição, porém, arcaica e em desuso naquele tempo, sobretudo porque o Decálogo já previa "não matarás" e a condenação desse delito era simbólica, considerando que desde o domínio romano a pena de morte fora retirada do Sinédrio e reservada ao Procurador de Roma. (4)


         "De nada adianta apedrejar o corpo e sim apedrejar a consciência"
Imaginemos a cena em praça pública: a multidão enfurecida, provocada pelos fariseus, assumindo o papel dos jurados, a expressar decisão antecipada; a mulher, acuada e sendo acusada, na posição de ré, aguardando veredicto e sentença; e Jesus, feito ali, pelos que a acusavam, advogado e juiz.

Em todos os tempos o Mestre sempre é chamado para defender os fracos e em diversas ocasiões coloca-se ao lado das mulheres, socorrendo-as, defendendo-as e, sobretudo, através delas exemplifica a necessidade do exercício da misericórdia, como observamos nos relatos que envolveram a mulher hemorroíssa, a mulher encurvada, a viúva de Naim, a mulher cananéia, a samaritana, Salomé mãe dos filhos de Zebedeu, Maria Madalena, Marta e Maria, a pecadora citada por Lucas e a mulher de Betânia, aquela que envolveu a cabeça de Jesus com perfume caro e puríssimo, tendo sido o seu acto questionado pelos discípulos, levando o Mestre a declarar que "onde quer que venha a ser proclamado o Evangelho o que ela fez jamais será esquecido." (Mateus, 26: 6-13).

- Tu, pois, que dizes? Insistia a multidão dos acusadores.

Era aquele um momento histórico do Cristo. Era, em verdade, uma cilada. Desafiando-O, promovendo-O a advogado de defesa e de acusação e simultaneamente a juiz, queriam a Sua perdição. Para a multidão pouco importava a mulher. A expectativa de todos era em torno da decisão que Ele tomaria. Como reagiria ao desafio? Se desculpar a mulher estará transgredindo a Lei de Moisés; se confirmar a sentença, Sua misericórdia, que intensamente prega, será colocada em dúvida.

Nesse instante , o silêncio do Cristo, que escrevia no chão com o dedo, segundo o Evangelista que testemunhou o facto, é por Ele quebrado, quando ao erguer-se, pronuncia a sentença:

" - Aquele que dentre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra."

A multidão fica em choque. Não esperava por isso. Era um conjunto de seres-instinto , comandados pelas sensações. Egocêntricos e violentos, haviam desafiado o homem-razão, que no dizer do Espírito Manoel Philomeno de Miranda são homens que
"pensam com calma nas circunstâncias mais graves, desenvolvendo o sentimento do altruísmo". (5) Ao pronunciar a sentença inesquecível o objectivo do Mestre é terapeutico e pedagógico: busca desenvolver nos acusadores a postura da empatia , de se colocarem no lugar daquela mulher, compreendendo as suas lutas e estimulando-os a serem empáticos , embora tenham preferido ser egocêntricos. Assim, os fariseus e seus liderados, desafiados agora pelo Cristo, que lhes submete a Lei de todos os tempos, de todos os mundos, a Lei das Causas e dos Efeitos, retiram-se vencidos.

Dirige-se, então, à mulher:
" - Onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou? Nem Eu tão pouco te condenarei.
Vai, e não peques mais."


É toda a expressão da afectividade . O Mestre não a condena. Orienta, conversa, interage, respeita a situação difícil daquela mulher, preocupando-se com ela. Sabe que está sujeita aos mecanismos da Lei Divina e que "de nada adianta apedrejar o corpo e sim apedrejar a consciência, lapidando-a através de acções renovadoras".

O Espírito Amélia Rodrigues, através do médium Divaldo Franco (6) , narra que naquele mesmo dia, à noite, Jesus teria o Encontro da Reparação com aquela mulher, quando se estabelece um diálogo motivador, e o Mestre busca elevar a sua auto-estima, afectada pelo acontecimento que poderia destruir a sua vida, comprometendo a oportunidade reencarnatória. A misericórdia do Cristo, através da aplicação da empatia, da afectividade e da auto-estima, motivaria aquela alma sofrida a vivenciar uma existência renovada, agora nas directrizes do amor e da caridade.



(1) - KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo.
       117 ed.FEB, cap.X, item 19, p.180.

(2) - FRANCO, Divaldo. Vida Feliz
       pelo Espírito Joanna de Ângelis. 12.ed. LEAL, p.53.

(3) - MASLOW, Abraham H. Uma Teoria da Motivação Humana
       O Comportamento Humano na Empresa.
       BALCÃO, Yolanda Ferreira.
       CORDEIRO, Laerte Leite. 2.ed. FGV, p.337.



(4) - PASTORINO, C. Torres. Sabedoria do Evangelho.
       Ed. Sabedoria, 1977, volume 5, p.71.

(5) - FRANCO, Divaldo P. Loucura e Obsessão
       pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. 7.ed. LEAL,
       p.241.

(5) - Franco, Divaldo C. Pelos Caminhos de Jesus
       pelo Espírito Amélia Rodrigues. 1.ed. LEAL, p.131.