Revista Espírita 1860-Agosto
(méd., senhora Costel.)
Eu vos falarei da necessidade singular que têm os melhores Espíritos de se
misturar sempre com coisas que lhes são as mais estranhas; por exemplo, um
excelente comerciante não duvidará um instante de sua aptidão política, e o
maior diplomata porá do amor-próprio para decidir as coisas mais frívolas. Esse
erro, comum a todos e a todas, não tem outro móvel senão a vaidade e esta não
tem senão necessidades factícias; para o toucador, para o espírito, mesmo para o
coração, ela procura, antes de tudo o falso, vicia o instinto do belo e do
verdadeiro; conduz as mulheres a desnaturarem a sua beleza; persuade os homens a
procurarem precisamente o que lhes é mais nocivo. Se os Franceses não tivessem
esse erro, seriam, uns os mais inteligentes do mundo, os outros os mais
sedutores de Evas conhecidos. Não tenhamos, pois, essa absurda humildade;
tenhamos a coragem de sermos nós mesmos; de carregar a cor de nosso Espírito,
como a de nossos cabelos. Mas os tronos desabarão, as repúblicas se
estabelecerão, antes que um Francês leviano renuncie às suas pretensões à
gravidade, e uma Francesa às suas pretensões à solidez; dissimulação contínua,
onde cada um toma o costume deu ma outra época, ou mesmo, muito simplesmente,
ode seu vizinho; dissimulação política, dissimulação religiosa, onde todos,
arrastados pela vertigem, vos procurais perdidamente, não encontrando nesse
tumulto nem o vosso ponto de partida, nem o vosso objetivo.
Delphine de girardin.