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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Falar com amor


Aylton Paiva
Incorre em culpa o homem, por estudar os defeitos alheios?
Incorrerá em grande culpa, se o fizer para os criticar e divulgar,
porque será faltar com a caridade. Se o fizer, para tirar daí proveito,
para evitá-los, tal estudo poderá ser-lhe de alguma utilidade.
Importa, porém, não esquecer que a indulgência para com os defeitos
de outrem é uma das virtudes contidas na caridade.”
(Questão 903 de O Livro dos Espíritos.)
“Ninguém sendo perfeito, seguir-se-á que ninguém tem o direito
de repreender o seu próximo?
Certamente que não é essa a conclusão a tirar-se, porquanto
cada um de vós deve trabalhar pelo progresso de todos e, sobretudo,
daqueles cuja tutela vos foi confiada. Mas, por isso mesmo, deveis
fazê-lo com moderação, para um fim útil, e não, como as mais
das vezes, pelo prazer de denegrir. Neste último caso, a repreensão
é uma maldade; no primeiro, é um dever que a caridade manda seja
cumprido com todo o cuidado possível.” (O Evangelho segundo
o Espiritismo, cap. X – Bem-aventurados os que são misericordiosos,
item 19.)

Em nossa vida social, que envolve os ambientes familiar e profissional, grupo religioso,
momentos de lazer, temos que conviver necessariamente com o próximo.
Jesus nos mandou amar o próximo como a nós mesmos, porém como amaremos o próximo quando ele fala ou tem comportamento que achamos não estar correto, quando analisados pelo princípio do direito e dever a que todos estamos submetidos? Simplesmente silenciar,
omitir-se, ainda que as suas palavras ou conduta possam prejudicar o outro?
Observamos, então, que amar o próximo estabelece ações concretas para que possamos ajudá-lo, tanto quanto a nós mesmos.
É necessário saber analisar e exercitar a crítica, e não a maledicência, para amorosamente falar com a pessoa, de forma construtiva.
Nesses momentos em que devemos exercitar a crítica, a Doutrina Espírita e a Psicologia trazem- -nos orientações oportunas a fim de que a nossa ação verdadeiramente
construa algo de bom e útil para o outro e também para nós.
Com base em onze itens extraídos de um estudo de Psicologia sobre habilidades sociais cristãs (referência ao final), podemos associar princípios espíritas a todas as situações em que a crítica for pertinente ou necessária.
Então, tendo em vista o conhecimento do Espiritismo e o conhecimento da Psicologia com
relação à crítica, deve-se, ao FAZER:
1. Dirigir-se diretamente à pessoa.
A análise e as observações que precisamos fazer a respeito de alguém devem ser feitas diretamente a ela, pelo respeito e consideração para com essa pessoa.
Fazer comentários sobre uma pessoa com outra é, na maioria das vezes, dar ensejo à maledicência e cair na famosa “fofoca”, ou seja, comentário que não deseja oferecer algo
positivo ao outro, mas denegri- -lo, rebaixá-lo numa tentativa de, falsamente, elevar a própria personalidade.
2. Referir-se ao comportamento e não à pessoa.
Quando se analisa e se faz uma crítica sobre o erro de uma pessoa, deveremos apontar o erro no seu comportamento e não fazer um julgamento negativo sobre ela.
3. Escolher a ocasião adequada.
Para que uma crítica seja bem recebida é necessário que a pessoa a quem iremos fazê-la seja respeitada.
Precisamos analisar se a ocasião é a melhor. Se não há alguém por perto, a quem não interessa o que vamos dizer. Se a pessoa já não está com o estado emocional alterado por outros problemas ou questões íntimas.
4. Controlar a emoção.
Crítica não é desabafo.
Por mais que a conduta da pessoa ou o erro que ela cometeu tenha produzido em nós algo de ruim, desde a irritação até a raiva, ao nos diri-girmos a ela precisamos ter sob controle
as nossas emoções, porque ninguém constrói nada de produtivo agredindo, ao utilizar-se da crítica.
5. Evitar produzir desconforto excessivo no interlocutor.
Se efetivamente queremos usar a crítica como forma positiva de ajudar, melhorar, aperfeiçoar o outro, deveremos não só ter o controle das emoções, como, também, usar
as palavras de forma adequada para esclarecer e orientar.
6. Ao fazer a crítica, apresentar um aspecto positivo e, em seguida, falar do comportamento inadequado.
Ao final, referir-se a outro comportamento adequado da pessoa.
É muito difícil receber uma crítica com tranqüilidade, por isso, comecemos apresentando à pessoa algo que ela tenha de bom, falando de forma autêntica e verdadeira; em seguida apresentemos a crítica.
Quando necessário, para amenizar o impacto emocional produzido, comentemos algo positivo que a pessoa também tem. Ela se tornará mais receptiva à análise feita.
7. Ao falar, ser claro e sucinto.
Quando fizermos a crítica, deveremos falar com clareza, com tranqüilidade e prender-nos estritamente ao que necessariamente tenha que ser dito naquele instante.
Ficar com circunlóquios e repetições desnecessárias acaba por irritar o interlocutor, bloqueando a sua possível receptividade.
8. Evitar estilo professoral e moralista.
Ao fazer uma crítica nunca deveremos posicionar-nos como se falássemos de cátedra ou com pretensa superioridade moral ou espiritual.
Considerando-se o erro como elemento inerente às nossas experiências
de aprendizagem, ao fazer a crítica não deveremos assumir uma postura de quem não erra nunca e já se sente como um ser perfeito.
Esse comportamento gera uma postura por parte da outra pessoa de defensibilidade e de bloqueio; ainda que a crítica seja procedente ela, mentalmente, já terá assumido
um estado mental e emocional de impermeabilidade.
9. Dar oportunidade ao outro para se justificar.
O grande avanço nas normas do Direito que regem a elaboração das leis, principalmente na área da punibilidade, foi o estabelecimento do princípio do contraditório.
Ninguém pode ser condenado se não tiver o direito de responder às acusações que lhe são imputadas, ou seja, o inarredável direito de defesa.
Da mesma forma, no relacionamento comum, quando surge um fato em que alguém é criticado, ele tem o direito de se justificar e deve ser-lhe dada a oportunidade para tal.
Se a sua argumentação justifica ou não a ocorrência, dependerá de nova
análise, podendo ser acolhida ou não.
10. Não permitir atitudes subservientes.
Como há aquelas pessoas que ao serem criticadas, no sentido de apontar-lhes erros, se irritam ou se enraivecem partindo para o ataque a fim de se defender, outras assumem
um comportamento de subserviência, ou seja, de se rebaixar, desconsiderando-se.
Adotam uma postura de “coitadinho inferior”
É preciso mostrar à pessoa o erro cometido e que se deseja apenas a sua reparação, sem que isso fira a sua dignidade e a sua auto-estima.
Às vezes esse comportamento revela uma compreensão autêntica da sua falha, mas exagerado quanto à autocrítica, outras vezes, porém,pode manifestar uma manobra para
escusar-se de encarar os próprios erros.
11. Manter contato visual sem ser intimidatório.
Ao dialogarmos com a pessoa a qual fazemos a crítica, mantenhamos
contato visual com ela, sem que ele seja intimidatório ou que a
nossa postura revele uma pretensa superioridade.
Que esse contato visual expresse compreensão, clareza e firmeza respeitosa para com a pessoa a quem estamos expressando a nossa crítica.
Finalmente, ao adotarmos o comportamento de fazer a crítica de maneira construtiva e educativa, estaremos atendendo à orientação do Mestre Jesus: “Fazei aos homens
tudo o que queirais que eles vos façam, pois é nisto que consistem a
lei e os profetas.” (Mateus, 7:12.)
“Tratai todos os homens como quereríeis que eles vos tratassem.”
(Lucas, 6:31.)
BIBLIOGRAFIA:
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1. ed.
especial. Rio de Janeiro: FEB, Parte Terceira,
cap. XII, 2005.
_____. O Evangelho segundo o Espiritismo,
3. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, cap. X,
2005.
PRETTE, Almir e Zilda. Habilidades Sociais
Cristãs, 1. ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes,
2003.

Revista o Reformador-Ano 2005-outubro

Reforma Moral

Editorial
Na questão 895 de O Livro dos Espíritos, no capítulo que trata da Perfeição Moral, Allan Kardec
indaga: “Postos de lado os defeitos e os vícios acerca dos quais ninguém se pode equivocar, qual o
sinal mais característico da imperfeição?” Ao que os Espíritos Superiores respondem: “O interesse
pessoal. (...) O apego às coisas materiais constitui sinal notório de inferioridade, porque, quanto mais se
aferrar aos bens deste mundo, tanto menos compreende o homem o seu destino. Pelo desinteresse, ao
contrário, demonstra que encara de um ponto mais elevado o futuro.”
Dependendo do ponto de vista que tem a respeito da própria vida, o homem pode tomar atitudes
diversas: se tem dúvidas com relação à sua condição de Espírito imortal, que continuará a existir e a progredirdepois da morte do corpo físico, ele se apega aos valores materiais, que são temporários; se, ao contrário,está convicto da sua imortalidade, ele administrará os bens materiais como quem está com a responsabilidadede cuidar de algo por tempo determinado, findo o qual deixará na matéria o que é da
matéria, prestando contas da sua administração, e conquistando valores espirituais, estes sim permanentes,
que decorrem do respeito e do amor ao próximo que pratica.
O excessivo apego às coisas materiais leva o homem ao cultivo do orgulho e do egoísmo e, por conseqüência,a toda desagregação social que ambos provocam. E quando isto ocorre, esse homem busca, inquieto,soluções as mais diversas, apelando para reformas sociais, reformas econômicas ou reformas políticas,muito válidas, sem dúvida, mas que por si não são suficientes para eliminar suas angústias.
Uma única reforma, se faz necessária, que está na base de todas as demais: é a reforma moral do ser
humano, a qual consiste em substituir o orgulho pela humildade e o egoísmo pela fraternidade. Esta reforma
será sempre mais consistente quanto mais convicto estiver o ser humano de sua imortalidade.
Com esta transformação moral constrói-se uma paz duradoura para toda a Humanidade, evita-se a
guerra entre seres e nações, elimina-se a miséria e a ignorância no mundo e distribuem-se com equanimidade
os valores econômicos entre todos os seus habitantes. Isto porque não se pode pretender uma
sociedade justa constituída por seres injustos, nem, tampouco, uma sociedade fraterna e solidária constituída
por seres violentos.
Analisando as conseqüências decorrentes da convicção que a Doutrina Espírita nos traz – de que somos
Espíritos imortais em constante processo de evolução; já existíamos antes de nascer e vamos continuar
a existir depois da morte do corpo físico; temos um claro objetivo a alcançar que é o nosso aprimoramento
intelectual e moral, como Espírito encarnado ou desencarnado –, Allan Kardec não teve
dúvidas em afirmar: “O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade,
na sua maior pureza.” (O Livro dos Espíritos, q. 918; O Evangelho segundo o Espiritismo,
cap. XVII, item 3.)
E Jesus, depois de nos alertar para não andarmos muito cuidadosos com as coisas da matéria, já nos
ensinava no seu Evangelho: “Buscai primeiramente o Reino de Deus e a sua Justiça e todas essas coisas
vos serão dadas de acréscimo.” (Mateus, 6:33.)

Revista o Reformador Ano 2005 -Outubro

A Mesa e o Pão



Kardec explicou o problema da mesa nas sessões espíritas com a sua habitual naturalidade: é o móvel mais cômodo para sentarmos ao seu redor. Afastava assim qualquer resquício de misticismo e magia, de rito e sacramento no ato mediúnico. Não obstante, há quem considere esse ato puramente místico e mágico, lembrando a evocação e a prece. Não nos sentamos em torno da mesa apenas para conversar ou escrever, mas também para nos alimentarmos. A alimentação que tomamos na mesa espírita não é material, mas espiritual. A evocação não é um rito, mas um convite. Antes de sentar à mesa os convites já foram feitos, pois basta pensarmos num espírito para o evocarmos. Ele atende ou não ao nosso convite, pois é livre e não está submetido a nenhum poder humano. Mas o pão que pomos sobre a mesa é o pão espiritual da prece, que será partido e servido na hora da doutrinação.
Conta-nos o Evangelho de Lucas o episódio comovente dos discípulos na estrada de Emaús. Após a ressurreição de Jesus, Cleófas e um companheiro seguiam, ao entardecer, para essa aldeia, afastando-se do cenário angustiado de Jerusalém. Um estranho os alcançou e acompanhou, conversando sobre a morte e a ressurreição de Jesus. Pararam numa estalagem para alimentar-se. Sentaram-se à mesa com aquele estranho. Mas, no momento em que ele partiu o pão, os discípulos o conheceram: era o Mestre ressuscitado. Mas logo a seguir o Senhor desapareceu e a mesa só tinha os dois ao seu redor. É fácil imaginar-se o assombro dos discípulos. O vazio da mesa e o silêncio do anoitecer, que já começava, devem ter-lhes parecido muito mais cheio de rumores e alegrias que as mesas dos banquetes festivos do mundo.
É precisamente o que se passa na mesa simples, sem aparatos, de uma verdadeira sessão mediúnica. A cor da toalha pouco importa. A cor branca não interessa mais ao ato mediúnico do que a vermelha ou a preta. A pureza exigida é apenas a das intenções. Os convivas estão ao redor e não são conhecidos. Surgem da estrada, na penumbra do crepúsculo, como estranhos. Mas no momento de partir o pão eles se revelam. Feita a prece simples de abertura dos trabalhos podemos ver, pela maneira deles partirem o pão, quem são eles. Iniciamos então a conversação necessária e logo depois eles desaparecem como apareceram, retornando ao invisível, no seio da noite.
Como podem os cristãos de todas as denominações censurar esse repasto singelo e atribuí-lo a influências diabólicas? Como podem dizer que isso tudo não passa de ilusão, loucura ou mistificação? Nunca leram, nem mesmo por acaso, o tópico sobre os dons espirituais na I Epístola de Paulo aos Coríntios? Não viram que o apóstolo confirma a simbologia comovente da Estrada de Emaús, relatando as sessões mediúnicas da era apostólica? E como podem alguns espíritas quebrar a harmonia dessas reuniões espirituais com aparatos inúteis e desnecessários, com a introdução de sistemas pretensiosos nas sessões mediúnicas? Se quisermos deformar e ridicularizar a prática espírita, basta exigirmos a toalha branca na mesa, vestir os médiuns de vestes brancas e rituais, obrigá-los a formar a corrente de mãos dadas e outras muitas tolices dessa espécie. É o que fazem os espíritos mistificadores, através de dirigentes supersticiosos e simplórios.
Para comer o pão da verdade só necessitamos dos dentes do bom-senso. Por isso o comensal da estalagem de Emaús simplesmente desapareceu depois de partir o pão. Todos os acréscimos de técnicas inventadas por homens vaidosos, de disciplinas rígidas na hora da sessão, de palavras mágicas e gestos misteriosos não passam de joio na seara. A prática espírita deve ser racional e simples, pois toda encenação e aparato só servem para estimular mistificações.
Há pessoas que desejam fazer sessões à plena luz, por entender que a penumbra habitual dá motivo a desconfianças e representa uma modalidade de formalismo. Mas a penumbra é necessária à boa concentração dos médiuns e mesmo dos assistentes. A iluminação normal da sala provoca distrações, penetra nas pálpebras e quebra o ambiente de recolhimento. Claro que não se deve fazer o escuro excessivo e muito menos completo, mas a penumbra do ambiente não é um aparato formal, é uma exigência natural da concentração serena. Além dessas razões evidentes, convém lembrar que o excesso de luz exerce influência inibitória sobre os médiuns e a emanação fluídica do ectoplasma. Em todas as reuniões mediúnicas o ectoplasma se libera para ajudar as ligações perispirituais entre médiuns e espíritos. Temos de saber distinguir entre o necessário e o supérfluo, entre o conveniente e o inconveniente, sem fazer concessões à ignorância ou à desconfiança dos que não entendem do assunto.
O problema da concentração mental é também um dos menos compreendidos. A concentração dos pensamentos numa reunião mediúnica não corresponde ao tipo de concentração individual de uma pessoa num determinado problema a resolver ou num estudo a fazer. Trata-se de uma concentração coletiva de pensamentos voltados para um mesmo alvo. Quando todos pensam em Deus ou em Jesus, todos os pensamentos se concentram numa só idéia. A palavra concentração sugere um esforço mental contínuo para se manter o pensamento fixado numa imagem. Isso prejudicaria os trabalhos mediúnicos, criando um ambiente de tensão mental exaustiva. Não é de tensão, de esforço cansativo que se necessita, mas de afrouxamento e despreocupação. Todos devem voltar o seu pensamento para um alvo superior, geralmente para Jesus (pois pensar em Deus é mais difícil) e todos devem manter a idéia de Jesus na mente, sem esforço ou preocupação, como quem se lembra saudoso de um amigo distante. Esse estado mental de lembrança, não de uma imagem ou figura de Jesus, mas da sua pessoa, dos seus atos, dos seus ensinos e do que ele representa para nós, deve ser mantido no decorrer da sessão. Quando se nota que o pensamento se desvia para outros rumos, o que é natural, faz-se que ele retorne suavemente à idéia centralizadora. O ambiente de uma sessão é tanto mais favorável quanto menos tensões e preocupações existirem na reunião. As evocações mentais de assistentes e médiuns, solicitando a manifestação de entes queridos ou de espíritos amigos são prejudiciais, pois quebram e tumultuam o ambiente mental da sessão. Pensar num espírito é evocá-lo, como ensina Kardec. Quem comparece a uma sessão com a esperança de receber uma comunicação deste ou daquele espírito, já o evocou. Ele atenderá se for possível. Mas durante a sessão só se deve pensar em Jesus. Criando-se no ambiente um clima tranqüilo e confiante, pode-se esperar a possibilidade dos melhores resultados
Não há regras específicas e formais para a realização das sessões espíritas. Entre a prece de abertura e a de encerramento desenvolvem-se as manifestações mediúnicas, sob a orientação e muitas vezes a interferência de espíritos dirigentes. O sistema autoritário, em que o presidente determina aos médiuns receberem as comunicações, uma de cada vez, provém da recomendação do Apóstolo Paulo à comunidade de Corinto. Nas reuniões de Kardec, mesmo nas psicográficas, havia ampla liberdade, permitindo as conversações entre espíritos comunicantes, às vezes através de vários médiuns. Léon Denis usava também de liberdade em suas sessões. Cabe aos espíritos protetores determinar quais os espíritos que devem comunicar-se e quais os médiuns em condições de recebê-los. O presidente ou dirigente humano da sessão tem a função de mantê-la equilibrada, orientar o decorrer dos trabalhos e intervir, quando necessário, nas doutrinações e no reajustamento da concentração. Se há muitos médiuns à mesa, há naturalmente a possibilidade de se atender a número maior de espíritos comunicantes, através de vários doutrinadores. O que importa na doutrinação não é o muito falar, mas o falar com propriedade e com amor, procurando-se atingir a consciência e o sentimento do espírito. Quando vai se aproximando o fim do horário destinado à sessão, o presidente faz um aviso, para que os médiuns o ajudem no controle da reunião. As comunicações de espíritos violentos, desejosos de tumultuar os trabalhos, exigem atitude enérgica para que sejam contidos e afastados. Energia serena, sem agressividade, mas com firmeza. Não se deve esquecer de que se trata de entidade sofredora, necessitada de amparo e orientação. Não é a força que age contra o espírito, nem a elevação da voz, mas a intenção de ajudá-lo, o desejo sincero de fazê-lo melhorar e tornar-se nosso companheiro, porque essa disposição nos dá a autoridade moral sobre os espíritos inferiores. É importante que não falte em nossa mesa espírita o pão da prece e a luz do amor. Basta quase sempre uma só palavra de amor sincero para acalmar o espírito mais violento. O amor brota da compreensão humana, da nossa capacidade de nos colocarmos em pensamento no lugar e na situação da criatura que se encheu de ódio e violência em existências brutais em que o amor não floriu em seu coração.
Uma sessão espírita é um ato de amor. Não é uma cerimônia destinada à finalidade egoísta de nos livrar de espíritos-parasitas, por nós mesmos atraídos e alimentados, mas com o objetivo de levar ajuda espiritual aos que padecem. O Espiritismo nos ensina, como ensinou Jesus, que somos todos irmãos e companheiros, criados por Deus para o mesmo destino de transcendência, de elevação espiritual. Esse é o pensamento central da compreensão espírita e precisamos dar-lhe eficácia, traduzi-lo em ação.
Tratamos aqui da sessão mediúnica comum, não da sessão específica de desobsessão. A sessão rotineira dos Centros é a que se realiza todas as semanas, em dias e horas certos, dispondo de freqüência regular. Há quem discorde desses trabalhos públicos, alegando as exigências de Kardec na Sociedade Parisiense, quando não permitia a presença nas sessões de pessoas que não tivessem algum conhecimento doutrinário. A medida de Kardec era justa e necessária, numa fase em que o Espiritismo nascia, sob um alarido universal de protestos e ameaças. Hoje estamos a mais de um século dessa fase e o Espiritismo só é combatido por pessoas sistemáticas ou ignorantes. A maioria absoluta das pessoas que procuram as sessões é necessitada, tratando-se geralmente de médiuns em franco desenvolvimento de suas faculdades. Negar-lhes acesso às sessões seria como negar a um sedento acesso a uma fonte. A mediunidade não se desenvolve por acaso e muito menos sob o poder mágico da vara de Moisés, que tirou água da rocha. Em geral, o desenvolvimento mediúnico começa por diversas perturbações e não raro por processos obsessivos. Não se pode querer que uma pessoa em estado de alteração psíquica vá primeiro estudar uma doutrina através de cursos demorados para depois submeter-se aos métodos de cura. Por isso, nas instituições bem dirigidas as sessões mediúnicas normais não se restringem à prática mediúnica. Iniciam-se os trabalhos com leitura e preleção evangélicas, de O Evangelho Segundo o Espiritismo. A seguir, há uma exposição doutrinária que prepara os freqüentadores para os trabalhos práticos. Os médiuns em desenvolvimento recebem a mensagem evangélica e os ensinos doutrinários em dosagens apropriadas e, a seguir, participam do trabalho mediúnico. Isso concorre para uma compreensão simultânea da doutrina, de sua natureza cristã, de sua moral evangélica e das relações diretas e necessárias de teoria e prática em Espiritismo. As críticas a esse método referem-se à extensão das sessões. Mas é evidente que a preparação das matérias permite reduzir a parte oral aos limites necessários. O aproveitamento verificado nos Grupos e Centros que usam esse método provaram a sua validade. Nos centros que realizam várias sessões por semana, a divisão da matéria pode ser feita com mais amplitude, nas várias sessões. Isso não impede que, além desse processo sinérgico ou gestáltico, em que o iniciante adquire desde logo uma visão global da doutrina e da sua prática, o Centro mantenha, quando possível, um curso especial de doutrina em outro dia e horário.
Quando possível, é conveniente intercalar os passes entre a parte evangélica e a doutrinária. Se isso prolongar demais a sessão, pode-se estabelecer uma sessão especial para os passes, sempre iniciada com uma exposição sobre o assunto.
A vantagem de se fazer tudo em seqüência, numa única sessão, é a de se dar ao iniciante, em doses apropriadas e na seqüência natural do tempo, na prática, a compreensão da unidade do problema espírita. Essa compreensão, infelizmente, falta até mesmo a veteranos do trabalho espírita, em virtude da dispersão e até mesmo da restrição das práticas tradicionais apenas a um aspecto da doutrina. Claro que o problema de desobsessão em casos graves não pode ser tratado em sessões dessa natureza. Para isso, os Centros bem orientados dispõem de sessões especiais, privativas, com médiuns e doutrinadores capacitados, e, sempre que possível, com a participação de médicos espíritas conhecidos por seu desinteresse profissional em casos de ordem doutrinária. Colocamos estas questões com base em experiência própria e de conjunto, observadas atentamente no correr dos anos de trabalho e estudo incessantes. Quando o sistema é bem aplicado, contando com elementos humanos dedicados, os resultados são sempre surpreendentes. Não se trata de uma inovação, mas apenas de urna conjugação de práticas tradicionais que, reunidas e articuladas, produzem mais e melhor.
No tocante à mediunidade é necessário o mais rigoroso critério kardecista, baseado nos livros específicos de Kardec: Instruções Práticas sobre Manifestações Espíritas e O Livro dos Médiuns. Essa é a base necessária e insubstituível do estudo e do ensino da mediunidade. Livros como No Invisível, de Léon Denis, e os livros de orientação mediúnica de Emmanuel e André Luiz podem também ser usados como subsidiários, mas jamais colocados como obras básicas da doutrina. Sem esse critério, muitos Centros e Grupos, e até mesmo grandes instituições, caíram num plano de misticismo igrejeiro e de autoritarismo sacerdotal que desfiguram e ridicularizam o Espiritismo. Precisamos compreender que lidamos com uma doutrina revolucionária, que deve modificar a rotina espiritual da Terra, abrindo-lhe as perspectivas de uma nova concepção do Espírito. Sem isso, nossa mesa só terá pão murcho e envelhecido.

Livro : Mediunidade
Autor: Herculano Pires

Função e Significação( O Centro Espírita)



O Centro Espírita não é templo nem laboratório – é, para usarmos a expressão espírita de Victor Hugo: point d’opotique do movimento doutrinário, ou seja, o seu ponto visual de convergência. Podemos figurá-lo como um espelho côncavo em que todas as atividades doutrinárias se refletem se unem, projetando-se conjugadas no plano social geral, espírita e não espírita. Por isso mesmo a sua importância, como síntese natural da dialética espírita, é fundamental para o desenvolvimento seguro da Doutrina e suas práticas. Kardec avaliou a sua importância significativa no plano da divulgação e da orientação dos Grupos, explicando ser preferível a existência de vários Centros pequenos e modestos numa cidade ou num bairro, à existência de um único Centro grande e suntuoso.
Um Centro Espírita pequeno e modesto – como na maioria o são – atrai as pessoas realmente interessadas no conhecimento doutrinário, cria um ambiente de fraternidade ativa em que as discriminações sociais e culturais desaparecem no entrelaçamento de todos os seus componentes, considerados como colaboradores necessários de uma obra única e concreta. O ideal é o Centro funcionar em sede própria, para maior e mais livre desenvolvimento de seus trabalhos, mas enquanto isso não for possível, pode funcionar com eficiência numa sala cedida ou alugada, numa garagem vazia ou mesmo numa dependência de casa familiar. As objeções contra isso só podem valer quando se trate de casas em que existam motivos impeditivos materiais ou morais.
Muitos Centros Espíritas surgiram do desenvolvimento de grupos familiais, desligando-se mais tarde da residência em que formara. A alegação de que a casa fica infestada ou coisas semelhantes é contraditada pela experiência. Um trabalho de amor ao próximo, feito com sinceridade e intenções elevadas, conta com a proteção dos Espíritos benevolentes e a própria defesa de suas boas intenções. Os Centros oriundos de grupos familiares mostram-se mais coesos e mais abertos conservando a seiva fraterna de sua origem. É esse o clima de que necessitam os trabalhos doutrinários.
Organizado o Centro, com uma denominação simples e afetiva, com o nome de um Espírito amigo ou de uma figura espírita abnegada, de pessoa já desencarnada, preparados, aprovados em assembléia geral e registrados em estatutos, sua função e significação estão definidas como estudo e prática da Doutrina, divulgação e orientação dos interessados, serviço assistencial aos espíritos sofredores e às pessoas perturbadas, sempre segundo o Codificação de Allan Kardec. Sem Kardec não há Espiritismo, há apenas mediunismo desorientado, formas do sincretismo religioso afro-brasileiro, confusões determinadas por teorias pessoais de pretensos mestres.
Dirigentes, auxiliares e freqüentadores de um Centro Espírita bem organizado sabem que a obra de Kardec é um monumento científico, filosófico e religioso de estrutura dinâmica, não estática, mas cujo desenvolvimento exige estudos e pesquisas do maior rigor metodológico, realizadas com humanidade, bom-senso, respeito à Doutrina e condições culturais superiores. Opiniões pessoais, palpites de pessoas pretensiosas, livros mediúnicos ou não de conteúdo mistificador, cheios de absurdos ridículos – seja o autor quem for – não têm nenhum valor para um verdadeiro Centro Espírita.
Cada Centro Espírita tem os seus protetores e guias espirituais que comprovam a sua autenticidade pelos serviços prestados, pelas manifestações oportunas e cautelosas, pela dedicação aos princípios kardecianos. A autoridade moral e cultural dos dirigentes e dos espíritos protetores e guias de médiuns e trabalhos decorre da integração dos mesmos na orientação de Kardec. O Centro que se esquece disso cai fatalmente em situações negativas, adotando práticas anti-espíritas e enveredando pelo caminho da traição a Kardec e ao Espírito da verdade. As conseqüências dessa falência são altamente prejudiciais a todo movimento espírita. Não se trata de nenhum problema sobrenatural, mas simplesmente de falta de vigilância – principalmente contra o orgulho e a vaidade, que levam muitas pessoas a quererem evidenciar-se mais do que outras. Isso acontece também em todos os campos da atividade humana, nos quais encontramos cientistas pretensiosos e sistemáticos, negociantes fraudulentos, médicos apegados às suas idéias próprias. A pretensão humana não tem limites e cada indivíduo pretensioso está sempre assessorado por entidades mistificadoras.
A Ciência Espírita é um organismo vivo, de natureza conceptual, estruturada em leis psicológicas, ou seja, em princípios espirituais e racionais. Essa estrutura é íntegra, perfeita, harmoniosa, e não podemos violentar um só dos seus princípios sem pôr em perigo imediato todo o seu sistema. No Centro Espírita em que essa compreensão da doutrina não se desenvolve, na verdade não existe Espiritismo, mas apenas um vago desejo de atingi-lo. As raízes dessa estrutura conceptual estão no Cristianismo, não em seu aspecto formal-igrejeiro, mas em sua existência evangélica, definida da Codificação Kardeciana. Os evangelhos canônicos das Igrejas Cristãs estão carregados de elementos da Era Mitológica e superstições judaicas. São esses elementos do passado pagão-judeu que deformaram o ensino puro de Jesus, permitindo interpretações flagrantemente contrárias ao que Jesus ensinou e exemplificou. No livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e no livro “A Gênese” Kardec mostrou como podemos restabelecer a pureza das raízes evangélicas, usando a pesquisa histórica das origens cristãs, o método analítico-positivo de estudo histórico e o método lógico comparativo dos textos. Sem a pureza das raízes não teremos a pureza dos textos e cairemos facilmente nas trapaças ou nas ilusões dos mistificadores encarnados e desencarnados.
Nas primeiras comunidades cristãs, onde o culto pneumático[i] era praticado, manifestavam-se espíritos furiosos, defensores de suas crenças antigas, que injuriavam o Cristo e seus adeptos. O culto constituía a parte prática do ensino espírita de Jesus. Na I Epístola aos Coríntios o Apóstolo Paulo dá instruções à comunidade de Corinto sobre a realização desse culto, ensinando até mesmo como os médiuns (então chamados profetas) deviam se comportar na reunião. Os Espíritos se manifestavam pelos médiuns e eram doutrinados pelos participantes do culto. Esse trecho expressivo encontra-se no tópico da epístola que trata dos Dons Espirituais. Não obstante, as Igrejas Cristãs deram interpretações inadequada e absurda a esse trecho, como fizeram com todos os trechos do Evangelho em que Jesus se refere à reencarnação. Incapazes de doutrinar os espíritos mistificadores ou agressivos, que atacavam Jesus e sua missão, os que se ligaram ao Império Romano suprimiram o culto pneumático, alegando que as entidades que neles se manifestavam eram diabólicas. Essa a razão porque Igrejas Cristãs repelem até hoje o Espiritismo como prática diabólica, rejeitando as manifestações espíritas.
Num Centro Espírita bem organizado esses problemas são estudados e ensinados, para que as pessoas interessadas no ensino real do Cristo possam compreender o sentido do Espiritismo. Sem isso, o Centro Espírita deixa de cumprir a sua missão na grande obra de restauração do Cristianismo em espírito e verdade. O que o Espiritismo busca é a verdade cristã, cumprindo na Terra a promessa de Jesus, que através de Kardec e seu guia Espiritual, o Espírito Superior que deu a Kardec, quando este lhe perguntou quem era, esta resposta simples: “Para você, eu sou A Verdade”. O Centro Espírita significa, assim, uma fortaleza espiritual da grande batalha para o restabelecimento da verdade cristã na Terra. Mas tudo isso deve ser encarado de maneira racional e não mística, no Centro Espírita. Ninguém está ali investido de prerrogativas divinas, mas apenas de obrigações humanas.



[i] A expressão culto pneumático vem do grego, pois “pneuma” quer dizer espírito.


Livro : O Centro Espírita por Herculano Pires