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quinta-feira, 28 de março de 2013

Muito Será Perdoado a Quem Muito Amou

Muito Será Perdoado a Quem Muito Amou

Artigo publicado no jornal "Unificação" - Ano XIV - Agosto de 1966 - Número 161

E eis que uma mulher da cidade, uma pecadora, sabendo que ele estava à mesa em casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com ungüento.
E, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas, e enxugá-los com os cabelos; e beijava-lhe os pés, e ungia-lhes com o ungüento.
Quando isto viu o fariseu que o tinha convidado, falava consigo, dizendo: Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, pois é uma pecadora.
E respondendo, Jesus, disse-lhe: Simão, uma coisa tenho a dizer-te. E ele disse: Dize-a, Mestre.
Um certo credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos dinheiros, e o outro cinqüenta.
E, não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize, pois: qual deles o amara mais?
E Simão, respondendo, disse: Tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou. E ele disse: julgaste bem.
E voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; mas esta regou-me os pés com lágrimas e me enxugou com os seus cabelos.
Não me deste ósculo, mas esta, desde que entrou, não tem cessado de me beijar os pés.
Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta ungiu-me os pés com ungüento.
E por isso te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou: mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama”.
(Lucas, 7:37-47).

Os evangelistas Mateus e Marcos, narrando a mesma ocorrência, afirmaram que os apóstolos de Jesus, ali presentes, se indignaram com aquele desperdício de ungüento, ponderando que o melhor seria vendê-lo por bom preço, fazendo com que o produto da venda fosse revertido em favor dos pobres. O Mestre, discordando desse modo de pensar dos seus discípulos esclareceu: “ela fez uma boa ação. Porquanto sempre tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre. Em verdade vos digo que, onde quer que este Evangelho for pregado, em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua”.
Os apóstolos não sentiam, em toda a sua extensão, o que se passava no coração de Maria de Betânia, e, em vez de compreender o significado daquele gesto, preferiram antes criticar a perda daquele ungüento de alto valor.
A virtude coexiste com o amor. Aquela mulher, em cujo coração existia o amor em potencial, começava a aninhar no recesso de sua alma uma forma de virtude que não podia ser vista ou sentida, nem pelos apóstolos, nem pelo fariseu Simão, dada a montanha de preconceitos que mantinham dentro de si, mas que o olho bom do Divino Pastor via e compreendia em toda a sua plenitude.
Os espíritos nos ensinam que o ser encarnado se depara com duas alternativas nos tramites da sua evolução espiritual, para cujo discernimento goza do livre-arbítrio; ou faz com que sua evolução se processe normalmente pelas pautas do amor, ou terá que fazê-lo, violentamente, sob o guante da dor.
A lei inflexível do progresso não permite que o espírito permaneça indefinidamente na ociosidade, menosprezando as dádivas generosas que a Justiça Divina, por excesso de misericórdia lhe concede, e que representam inequívoca demonstração do exuberante amor de Deus para com suas criaturas. O espírito terá que demandar, inexoravelmente, as culminâncias dos planos espirituais, através dos renascimentos sucessivos na carne.
A sublimidade do gesto daquela mulher, ungindo os pés de Jesus, retratava, em toda a sua profundeza, os anseios por uma vida pautada nos maravilhosos preceitos daquele manso Cordeiro de Deus, que percorria as províncias da Judéia sugerindo aos homens que porfiassem em entrar pela porta estreita das responsabilidades e da observância das leis morais recebidas por Moisés, no alto do Sinai, e ratificadas por Jesus Cristo, repelindo o acesso à porta larga das satisfações dos gozos mundanos.
Dirigindo-se à mulher, e afirmando que “os seus muitos pecados lhe eram perdoados”, não estava, logicamente, nas cogitações do Mestre, dar demonstração de uma exceção na lei ou de um tratamento unilateral no quadro da Justiça Divina.
É óbvio que, procedendo daquela forma, o Cristo não derrogou qualquer lei divina e nem premiou um espírito em quem não havia mérito.
No desenvolvimento daquela passagem evangélica, o Senhor deixou bem patenteado que os sofrimentos inenarráveis daquela criatura, retemperada pelo remorso, haviam transmudado os seus sentimentos, assim como o fogo aplicado ao cadinho faz com que o ferro se derreta e adquira novas formas. Os seus padecimentos físicos e morais, sob a influência do remorso retificador, fizeram com que todos os sentimentos inferiores que haviam se aninhado no recôndito da sua alma, cedessem lugar a uma forma irrestrita de amor, que foi enaltecida por Jesus.
O Senhor sondava as profundezas dos corações humanos e, no caso específico daquela mulher via retratado, em seu íntimo, todo um mundo de dor querendo tomar a configuração de um sentimento nobre. O amor havia coberto toda uma multidão de pecados, e Maria de Betânia produzindo aquele fato grandioso de ungir os seus pés, derramar neles as suas lágrimas e enxugá-los com os seus cabelos, deu efusiva demonstração do seu estado de alma.
Eis aí o poder maravilhoso do Evangelho, que opera as transformações mais inconcebíveis para o gênero humano: fazendo com que, na mesma existência física, uma criatura deixe de se chafurdar nos vícios para dar inicio a um processo de auto-reforma.
Maravilhosa explosão de fé propiciada por uma mulher pecadora, que sentia no recesso da sua alma toda a iniqüidade reinante nos corações dos homens e se predispunha a procurar aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida, a fim de que ele lhe desse uma certeza de que nem tudo estava perdido. Procedendo daquela maneira, a mulher procurava fazer ressaltar a sublime sinceridade do seu arrependimento e a sua firme disposição de lutar pela sua própria reabilitação.
A reforma de Maria foi decisiva e a comprovação da mesma temo-la em um fato ocorrido posteriormente e narrado em Lucas 11:38-41, onde está descrito que Jesus, visitando a casa de Lázaro, Maria se pôs a zelar pelas aparências do lar, e como Maria se comprazia unicamente em ouvir os ensinos do Mestre, Marta obtemperou: Mestre não se te dá de que minha irmã me deixe servir só? A que o Senhor respondeu: Marta, Marta está ansiosa e afadigada com muitas coisas. Mas uma só é necessária: e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada.
A falência da alma é transitória e dura apenas o suficiente para um adequado amadurecimento da razão, pois, quando o espírito encarnado aquilata o quanto perde por transigir com o erro, e vê, de relance, toda a majestosidade de um plano de progresso incessante, onde os espíritos bons são os despenseiros da vontade de Deus, deixa de lado todas as formas de viciações, de inércia, de titubeações, para se integrar, de uma vez para sempre, no sistema que leva a criatura ao Criador de um modo eficiente.
Assim como a ovelha transviada ouve a voz de seu pastor, Maria de Betânia ouviu a voz do Mestre apregoando em sua cidade e anunciando o reino de Deus. Como decorrência decidiu palmilhar o caminho por ele ensinado, todo ele entrecortado de promessas vivas de um Pai generoso e bom que não quer a perda de nenhuma de suas ovelhas, e que através dos ensinos propiciados pela parábola do filho pródigo, deseja que todas as ovelhas voltem para o redil, para que um dia, no decurso dos séculos, haja um só rebanho e um só pastor, em cujo seio imperará a paz, a concórdia, a fraternidade e o amor em suas expressões mais sublimadas, e onde reinará a certeza de que não haverá mais quedas e que todas as lágrimas serão enxugadas.

Não andeis cuidadosos de vossa vida...

Não andeis cuidadosos de vossa vida...

Artigo extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989.

“ Não andeis cuidadosos de vossa vida, pelo que haveis de comer, nem do vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é mais a alma que a comida, e o corpo mais que o vestido?
Olhai para as aves do céu, que não semeiam nem segam, nem fazem provimento nos celeiros, e, contudo vosso Pai Celestial as sustenta. Porventura não sois muito mais do que elas?
E por que andais solícitos pelo vestido? Considerai como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem fiam; entretanto, nem Salomão em toda a sua glória se cobriu jamais como um deles.
Pois se ao feno do campo, que hoje existe e amanhã é lançado no forno, Deus veste assim, quanto mais a vós, homens de pouca fé?
Não vos aflijais, pois, dizendo: que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos cobriremos? Por que os gentios é que se cansam por essas coisas. Vosso Pai sabe que tendes necessidade de todas elas”. (Mateus, 6:25-32).
O texto que encima estas linhas, longe do que possa parecer à primeira vista, não é uma exaltação à ociosidade. Interpretá-lo “ao pé da letra”, supondo nos seja lícito cruzar os braços, à espera de que a Providência nos forneça tudo o de que precisamos, sem qualquer esforço de nossa parte, fora grande estultícia.
O trabalho é o instrumento de nossa auto-realização: o suprimi-lo equivaleria a sustar o progresso individual e, conseqüentemente, a evolução da Humanidade.
Além disso, é ordenação divina que “o homem deve prover ao seu sustento com o suor do seu rosto”, chegando o apóstolo Paulo a declarar que “quem não trabalha não deve comer”.
Essas palavras de Jesus são, pois, isto sim, um incitamento a que tenhamos fé em Deus, nosso Pai Celestial, confiemos em Sua bondade infinita e não invertamos a hierarquia dos valores, preocupando-nos mais (ou só) com a conquista dos bens materiais, sem dar a devida atenção à nossa edificação espiritual.
De fato, Aquele que nos deu a vida sabe que precisamos de alimentos para a subsistência de nosso corpo, assim como de vestimenta para cobri-lo e resguardá-lo das intempéries.
E porque nos tem amor maior do que o amor que temos a nós próprios, não se limita a prover-nos meramente de quanto nos seja indispensável à existência, mas esparge a mancheias, por toda parte, traços de beleza e cânticos de alegria, a fim de que nossa jornada neste mundo se torne mais suave e mais prazerosa.
As flores gráceis e perfumadas, as árvores frondosas e amigas, as aves com suas plumagens policrômicas e álacres gorjeios, são bênçãos maravilhosas com que Deus envolve a todos os Seus filhos, para ensinar-nos que assim também devemos proceder uns com os outros, fazendo cada qual quanto lhe seja possível para a alegria e a felicidade de todos.
Aprofundando a explicação, Jesus nos esclarece: “Olhai as aves do céu, que não semeiam nem ceifam, não amontoam nos celeiros e, no entanto, o Pai Celestial as alimenta. Não valeis muito mais do que elas?”.
É como se nos dissesse:
Por que tanto vos inquietais com “o vosso futuro?” Por que a obsessão de acumular mais do que podeis consumir? Não percebeis que aquilo que retendes, em demasia, vai causar a fome e a miséria de vossos irmãos? Não notastes ainda que o egoísmo é a fonte de quase todos os males que perturbam e afligem a Humanidade?
Vivei como os pássaros: joviais e despreocupados, na certeza de que, seguindo o preceito evangélico do “buscai e achareis”, sempre obtereis o de que precisais.
Não vos convencestes ainda da munificência divina? Contemplai, então, os lírios do campo: “Eles não trabalham nem fiam; não obstante, nem Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu com tanta graça e formosura”.
Crede: Deus é nosso Pai, e, se demonstra cuidado com as aves e as flores, que, na escala evolutiva, estão muito abaixo de vós, quanto mais desvelo, quanto mais carinho, não há de ter para convosco?
Não vos martirizeis, portanto, pelo que haveis de comer ou beber, nem pelo que haveis de vestir, porque não fostes colocados na Terra apenas para isso, mas para que aprendais a viver segundo as leis da bondade e da justiça...
Tal – assim nos parece – o verdadeiro sentido desta preciosa lição do Mestre dos mestres.