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quarta-feira, 22 de setembro de 2021

QUE É A VERDADE? "Qualquer elucidação sobre a verdade também não interessava aos Espíritos trevosos, interessados na consumação do hediondo sacrifício da cruz."



''Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade ?" (João, 18:38)


Afirma o Evangelho de João que, ao entrar Pilatos na audiência, após um ligeiro colóquio com Jesus Cristo, perguntou-lhe: "Logo tu és rei?", indagação que mereceu do Mestre a seguinte resposta: "Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz".


Face a uma resposta de tamanha grandeza, Pilatos limitou-se a perguntar-lhe: "Que coisa é a Verdade?".


Entretanto, como o obscurantismo e os interesses mundanos sempre foram os maiores inimigos da verdade, houve naquela hora um início de tumulto no pátio do Pretório, provocado pelos fanáticos que ali estavam sob a égide dos escribas, dos fariseus e daqueles que tinham nas mãos os poderes religiosos, todos eles interessados na crucificação do tão esperado Messias.


A pergunta ficou, portanto, sem resposta, uma vez que as trevas se fazem sentir sempre, nos momentos psicológicos, em todos os lugares onde a luz do esclarecimento ameaça brilhar.


Talvez o Mestre não quisesse discorrer sobre a verdade com um homem que não a podia compreender, pois, minutos após, apesar de não ver em Jesus qualquer crime, não trepidou em entregá-lo nas mãos dos seus detratores para que o levassem ao sacrifício. Qualquer elucidação sobre a verdade também não interessava aos Espíritos trevosos, interessados na consumação do hediondo sacrifício da cruz.


Evidentemente, Pilatos não tinha qualquer noção sobre o que fosse a verdade. A verdade apregoada pelos judeus não calava bem aos olhos do procônsul romano. O representante do Império não podia aceitar como expressão da verdade os seguintes ensinamentos ministrados pelos escribas:


- Teria o mundo sido criado em seis dias?


- Teriam Adão e Eva sido os primeiros habitantes da Terra?


- Teria realmente Josué conseguido parar o movimento do sol para poder completar um morticínio?


- Como poderia Moisés receber do Alto um mandamento que ordenava o "não matarás", e ele mesmo ordenava verdadeiras matanças de criaturas humanas?


- Se Caim matou Abel e saiu pelo mundo, não existindo qualquer outra mulher, como poderia ele constituir família e ter descendentes?


- Teria realmente Jonas vivido três dias e três noites no ventre de uma baleia?


- Poderia a mulher de Lot transformar-se numa estátua de sal?


Com que técnica poderia Noé ter construído uma arca tão descomunal que pudesse abrigar em seu interior um casal de cada espécie vivente na Terra? Como poderia ele conciliar dentro dela animais tradicionalmente inimigos bem como alimentá-los durante quarenta dias?


Desconhecendo Pilatos a interpretação dessas narrativas o bafejo do Espírito, é evidente que não podia também aceitar como verdadeiras .


De forma idêntica, não podia o Procônsul entender como poderia ser "eleita" de Deus uma casta sacerdotal eivada de sentimentos felinos e de interesses profundamente político mundanos.


Como conciliar os atos, maus e cheios de rapinagem desses homens, com os resplendores da verdade? Uma religião que se baseava nas tradições inócuas, nos atos exteriores do culto, no ódio e na vingança, jamais poderia ter qualquer parentesco com o que é apregoado como verdade. Se Jesus chamou os escribas e fariseus de hipócritas, como poderiam eles ser lídimas expressões dessa mesma verdade?


O Espiritismo representa o advento do Consolador prometido e, como tal, o seu papel é de restabelecer na Terra as primícias da verdade. Evidentemente, quando ele se consolidar definitivamente no seio dos povos, ruirão por terra todos os sistemas e métodos alicerçados sobre a mentira, Tudo aquilo que não for representativo da verdade, será removido dos seus pedestais.

Não tendo Jesus Cristo a oportunidade de esclarecer Pilatos sobre o que é a verdade, o Espiritismo vem agora, na hora propícia, quando os tempos são chegados, fazer com que a luz da verdade possa iluminar os horizontes do mundo, onde, até agora, somente tem prevalecido a mentira, o mistério, o orgulho, a vaidade, o fanatismo, a hipocrisia, a intolerância e o ódio.


O Cristo poderá, então, através das vozes que emanam dos Espíritos, responder não somente a Pilatos, mas a todos os homens o que é a verdade.


Paulo A. Godoy

segunda-feira, 31 de maio de 2021

CIDADES IMPENITENTES


[...]"O Espiritismo, através de suas obras fundamentais, esclarece que, da mesma forma como os homens são submetidos a resgates por causa dos seus transviamentos, as cidades também pagam alto preço pelas suas transgressões.[...]Os desígnios de Deus são sábios, e as grandes provações, as expiações que à primeira vista parecem aberrantes e ostensivas negações da misericórdia de Deus, são providenciais e eficientes meios de resgate coletivo de Espíritos pecaminosos. As destruições de cidades, os cataclismos, as inundações e outras formas de expiação coletiva são salutares advertências e, de modo geral, apresentam o reajuste de grandes aglomerados humanos que prevaricaram com seus deveres."







CIDADES IMPENITENTES

“Digo-vos, porém, que menos rigor haverá para a terra de Sodoma do que para ti.” (Mateus, 11:24)

Da mesma forma como os homens são submetidos a penosos resgates individuais, quando malbaratam o legado precioso que Deus lhes concedeu, as cidades também experimentam quedas e dores quando não dão acolhida aos ensinos que, de um modo ou de outro, são proporcionados à sua população pelos mensageiros dos Céus.

As cidades de Sodoma e Gomorra foram destruídas em conseqüência dos seus
inúmeros transviamentos; no entanto, segundo a própria expressão de Jesus Cristo, menos rigor haverá para elas no julgamento divino, do que para Corazim, Betsaida,Cafarnaum e Jerusalém, onde autênticos sinais foram produzidos pela interferência do Mestre, sem que houvesse ocorrido o devido aproveitamento. 

Jerusalém é o exemplo típico desta assertiva. A antiga capital da Judéia teve a oportunidade de presenciar todos os fatos operados por Jesus Cristo: viu a cura de cegos, de paralíticos, de leprosos, a expulsão de Espíritos inferiores; ouviu a voz do tão esperado Messias; presenciou a apoteótica recepção que a sua população prestou
ao Mestre, quando da sua chegada àquela cidade; no entanto, nada serviu de lição, o que o levou a subir a um monte e exclamar amargurado: Jerusalém, Jerusalém! Que matais os profetas e apedrejais os que vos foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir vossos filhos como a galinha ajunta os do seu próprio ninho debaixo das asas, e vós não o quisestes! Eis que a vossa casa vos ficará deserta. E em verdade vos digo que não mais me vereis até que venhais a dizer — Bendito o que vem em nome do Senhor (Lucas, 13: 34-35).

Por reiteradas vezes o Senhor insistiu para que a cidade e a nação voltassem
atrás em seus desatinos e desvios, abandonando uma vida eivada de vaidade e orgulho. Muitos sábios e profetas desceram do Alto para essa finalidade. O próprio Jesus Cristo ali surgiu para complementar a tarefa dos seus prepostos. Nada disso valeu. Consumou-se, então, no tocante a Israel, a parábola dos lavradores malvados:
Havia um homem, pai de família, que plantou uma vinha. Cercou-a de uma sebe, construiu nela um lagar, edificou-lhe uma torre e arrendou-a a uns lavradores, depois se ausentou do país.
Ao tempo da colheita, enviou seus servos aos lavradores para receber os frutos que lhe tocavam.
E os lavradores, agarrando os servos, espancaram a um, mataram a outro e a outro apedrejaram.
Enviou ainda outros servos em maior número; e trataram-nos do mesmo modo.
E por último enviou-lhes o próprio filho, dizendo: a meu filho respeitarão.
Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; ora,matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança.
E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e o mataram.
Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores?
Responderam-lhe: Fará perecer horrivelmente a estes malvados, e arrendará a vinha a outros que lhe remetam os frutos nos seus devidos tempos.
O Senhor da vinha é Deus, os lavradores são os homens, os enviados que foram mortos, expulsos ou apedrejados, foram os profetas e os grandes missionários que vieram à Terra; o filho do senhor da vinha é Jesus Cristo.
Jerusalém apedrejou, expulsou e matou numerosos enviados de Deus; o Pai enviou-lhe o seu próprio Filho, e também este foi morto. Os homens se recusaram a produzir bons frutos e a retribuir a misericórdia infinita do Criador que lhes deu a Terra, com todas as possibilidades de produção.
A cidade de Jerusalém e toda a Judéia foram então tiradas desse povo e entregues a um outro. Os filhos de Israel foram dispersos no ano 70, perdendo sua pátria e praticamente todo o seu patrimônio e, da suntuosidade do seu famoso Templo, não restou pedra sobre pedra. Cumpriu-se, desta forma, o vaticínio de Jesus: “A Casa ficou realmente deserta.” (Lucas, 13:35).

Esta parábola de Jesus, obviamente, não se aplica somente o a Jerusalém, mas a muitas cidades e nações.

Quando o Mestre obtemperou: Ai de ti, Corazim, ai de ti, Betsaida, o seu pensamento era de fazer distinção entre as cidades que recebem a palavra de Deus, e aquelas que não o fazem.

Para ilustração, mencionemos a população da cidade de Nínive, a qual, decidindo-se a ouvir as advertências do profeta Jonas e a se penitenciar dos seus
desregramentos, evitou a sua própria destruição.

A maleabilidade que existe no seio de alguns povos, mais do que em outros, para a assimilação dos ensinamentos vindos do Alto, levou o Mestre a exclamar: Se em Tiro ou em Sidônia se tivessem operado os fatos maravilhosos que se produziram em Corazim, em Betsaida e em Cafarnaum, por certo elas há muito haviam mudado de roteiro.

O Espiritismo, através de suas obras fundamentais, esclarece que, da mesma forma como os homens são submetidos a resgates por causa dos seus transviamentos, as cidades também pagam alto preço pelas suas transgressões.

Quantas cidades e nações opulentas do passado não foram guindadas às posições mais culminantes e, posteriormente, quando o orgulho e a vaidade se haviam constituído em seu apanágio, não foram precipitadas às posições mais ínfimas? Foi o que sucedeu com Cafarnaum, conforme prognosticou Jesus Cristo:
“Serás elevada até ao Céu e depois precipitada até o hades terrível da destruição e da dor”.

A velha Grécia dos filósofos discutidores e falazes se impôs ao mundo como paradigma de luz e poder, e depois caiu no ostracismo. Roma dominou o mundo, avassalando as nações e ostentando o cetro do orgulho e da prepotência, vendo, posteriormente, a sua própria derrocada, vítima dos seus próprios erros.

A velha Cartago não se contentou com a situação de proeminência que Deus lhe concedeu, e seu espírito expansionista ocasionou sua própria destruição.

As tribos de Israel não se limitaram aos territórios que o Pai havia prometido aAbraão. Invadiram terras de outros povos e o cativeiro, sob o tacão dos caldeus, dos babilônicos, dos egípcios e dos romanos, foi o choque de retorno. Suas cidades e suas preciosidades foram destruídas e seu povo submetido a terríveis e prolongados cativeiros.

Quantas cidades são assoladas por cataclismos de toda a espécie: incêndios,
inundações, terremotos, maremotos, erupções de vulcão?

Os desígnios de Deus são sábios, e as grandes provações e expiações coletivas,que à primeira vista parecem aberrante e ostensiva negação da misericórdia de Deus, são providenciais e eficientes meios de resgate coletivo de Espíritos pecaminosos. 

As destruições de cidades, os cataclismos, as inundações e outras formas de expiação coletiva são salutares advertências e de um modo geral representam o reajuste de grandes aglomerados humanos que prevaricaram com seus deveres.

PAULO ALVES DE GODOY

CASOS CONTROVERTIDOS DO EVANGELHO

quarta-feira, 21 de abril de 2021

TIRADENTES DIALOGA COM IRMÃO X SOBRE A INCONFIDÊNCIA MINEIRA.




(...)"antes de tudo, devo afirmar que não fui um herói e sim um Espírito em prova, servindo simultaneamente à causa da liberdade da minha terra. Quanto à Inconfidência de Minas, não foi propriamente um movimento nativista, apesar de ter aí ficado como roteiro luminoso para a independência da pátria. Hoje posso perceber que o nosso movimento era um projeto por demais elevado para as forças com que podia contar o Brasil daquela época, reconhecendo como o idealismo eliminou em nosso espírito todas as noções da realidade prática(...) Fomos os títeres de alguns portugueses liberais, que, na colônia, desejavam adaptar-se ao novo período histórico do planeta, aproveitando-se dos nossos primeiros surtos de nacionalismo. Não possuíamos um índice forte de brasilidade que nos assegurasse a vitória, e a verdade só me foi intuitivamente revelada quando as autoridades do Rio mandaram prender-me na rua dos Latoeiros.”(...)A nação ainda não foi realizada para criar-se uma linha histórica, mantenedora da sua perfeita independência. Todavia, a vitalidade de um povo reside na organização da sua economia e a economia do Brasil está muito longe de ser realizada. A ausência de um interesse comum em favor do País, dá causa não mais à derrama dos impostos, mas ao derrame das ambições, onde todos querem mandar, sem saberem dirigir a si próprios.”




Tirandentes:

Dos infelizes protagonistas da Inconfidência Mineira,  no dia 21 de abril de todos os anos, aqueles que podem excursionar pela Terra volvem às ruínas de Ouro Preto,  a fim de se reunirem entre as velhas paredes da casa humilde do sítio da Cachoeira, trazendo a sua homenagem de amor à personalidade do Tiradentes.

Nessas assembleias espirituais, que os encarnados poderiam considerar como reuniões de sombras, os preitos de amor são mais expressivos e mais sinceros, livres de todos os enganos da História e das hipocrisias convencionais.

Ainda agora, compareci a essa festividade de corações, integrando a caravana de alguns brasileiros desencarnados, que para lá se dirigiu, associando-se às comemorações do protomártir da emancipação do País.

Nunca tive muito contato com as coisas de Minas Gerais, mas a antiga Vila Rica [atualmente Ouro Preto],  atualmente elevada à condição de Monumento Nacional, pelas suas relíquias prestigiosas, sempre me impressionou pela sua beleza sugestiva e legendária. Nas suas ruas tortuosas, percebe-se a mesma fisionomia do Brasil dos vice-reis. Uma coroa de lendas suaves paira sobre as suas ladeiras e sobre os seus edifícios seculares, embriagando o espírito do forasteiro com melodias longínquas e perfumes distantes. Na terra empedrada, ainda existem sinais de passos dos antigos conquistadores do ouro dos seus rios e das suas minas e, nas igrejas, ainda se ouvem soluços de escravos, misturados com gritos de sonhos mortos, do seu valoroso heroísmo. A velha Vila Rica, com a névoa fria dos seus horizontes, parece viver agora com as suas saudades de cada dia e com as suas recordações de cada noite.

Sem me alongar nos lances descritivos acerca dos seus tesouros do passado, objeto da observação de jornalistas e escritores de todos os tempos, devo dizer que, na noite de hoje, a casa antiga dos Inconfidentes tem estado cheia das sombras dos mortos. Aí fui encontrar, não segundo o corpo, mas segundo o Espírito, as personalidades de Domingos Vidal Barbosa, Freire de Andrada, Mariano Leal, Joaquim da Maia, Cláudio Manuel, Inácio Alvarenga, Doroteia de Seixas, Beatriz Francisca Brandão, Toledo Pisa, Luís de Vasconcelos e muitos outros nomes, que participaram dos acontecimentos relativos à malograda conspiração. Mas, de todas as figuras veneráveis ao alcance dos meus olhos, a que me sugeria as grandes afirmações da pátria era, sem dúvida, a do antigo alferes Joaquim José da Silva Xavier, pela sua nobre e serena beleza. Do seu olhar claro e doce, irradiava-se toda uma onda de estranhas revelações, e não foi sem timidez que me acerquei da sua personalidade, provocando a sua palavra.

Falando-lhe a respeito do movimento de emancipação política, do qual havia sido o herói extraordinário, declinei minha qualidade de seu ex-compatriota, filho do Maranhão, que também combatera, no passado, contra o domínio dos estrangeiros.

— “Meu amigo — declarou com bondade —, antes de tudo, devo afirmar que não fui um herói e sim um Espírito em prova, servindo simultaneamente à causa da liberdade da minha terra. Quanto à Inconfidência de Minas, não foi propriamente um movimento nativista, apesar de ter aí ficado como roteiro luminoso para a independência da pátria. Hoje posso perceber que o nosso movimento era um projeto por demais elevado para as forças com que podia contar o Brasil daquela época, reconhecendo como o idealismo eliminou em nosso espírito todas as noções da realidade prática mas, estávamos embriagados pelas ideias generosas que nos chegavam da Europa, através da educação universitária. E, sobretudo, o exemplo dos Estados Americanos do Norte, que afirmaram os princípios imortais do direito do homem, muito antes do verbo inflamado de Mirabeau, era uma luz incendiando a nossa imaginação. O Congresso de Filadélfia, que reconheceu todas as doutrinas democráticas, em 1776, afigurou-se-nos uma garantia da concretização dos nossos sonhos. Por intermédio de José Joaquim da Maia procuramos sondar o pensamento de Jefferson, em Paris, a nosso respeito; mas, infelizmente, não percebíamos que a luta, como ainda hoje se verifica no mundo, era de princípios.  O fenômeno que se operava no terreno político e social era o desprezo do absolutismo e da tradição, para que o racionalismo dirigisse a vida dos homens. Fomos os títeres de alguns portugueses liberais, que, na colônia, desejavam adaptar-se ao novo período histórico do planeta, aproveitando-se dos nossos primeiros surtos de nacionalismo. Não possuíamos um índice forte de brasilidade que nos assegurasse a vitória, e a verdade só me foi intuitivamente revelada quando as autoridades do Rio mandaram prender-me na rua dos Latoeiros.”

— E nada tendes a dizer sobre a defecção de alguns dos vossos companheiros? — perguntei.

— “Hoje, de modo algum desejaria avivar minhas amargas lembranças… Aliás não foi apenas Silvério quem nos denunciou perante o Visconde de Barbacena; muitos outros fizeram o mesmo, chegando um deles a se disfarçar como um fantasma, dentro das noites de Vila Rica, avisando quanto à resolução do governo da província antes que ela fosse tomada publicamente, com o fim de salvaguardar as posições sociais de amigos do Visconde que haviam simpatizado com a nossa causa. Graças a Deus, todavia, até hoje, sinto-me ditoso por ter subido sozinho os vinte degraus do patíbulo.”

— E sobre esses fatos dolorosos, não tendes alguma impressão nova a nos transmitir?

E os lábios do Herói da Inconfidência, como se receassem dizer toda a verdade, murmuraram estas frases soltas:

“Sim… a Sala do Oratório e o vozerio dos companheiros desesperados com a sentença de morte… a Praça da Lampadosa, minha veneração pelo Crucifixo do Redentor e o remorso do carrasco… a procissão da Irmandade da Misericórdia, os cavaleiros, até o derradeiro impulso da corda fatal, arrastando-me para o abismo da morte…”

E concluiu:

“Não tenho coisa alguma a acrescentar às descrições históricas, senão minha profunda repugnância pela hipocrisia das convenções sociais de todos os tempos.”

— É verdade, acrescentei, reza a História que, no instante da vossa morte, um religioso falou sobre o tema do Eclesiastes — “Não atraiçoes o teu rei, nem mesmo por pensamentos.”

E terminando a minha observação com uma pergunta, arrisquei:

— Quanto ao Brasil atual, qual a vossa opinião a respeito?

“Apenas a de que ainda não foi atingido o alvo dos nossos sonhos. A nação ainda não foi realizada para criar-se uma linha histórica, mantenedora da sua perfeita independência. Todavia, a vitalidade de um povo reside na organização da sua economia e a economia do Brasil está muito longe de ser realizada. 
A ausência de um interesse comum em favor do País, dá causa não mais à derrama dos impostos, mas ao derrame das ambições, onde todos querem mandar, sem saberem dirigir a si próprios.”

Antes que se fizesse silêncio entre nós, tornei ainda:

— Com relação aos ossos dos inconfidentes, vindos agora da África para o antigo teatro da luta, hoje transformado em Panteão Nacional,  são de fato autênticos esqueletos dos apóstolos da liberdade?

— “Nesse particular, respondeu Tiradentes com uma ponta de ironia, não devo manifestar os meus pensamentos. Os ossos encontrados tanto podem ser de Gonzaga, como podem pertencer, igualmente, ao mais miserável dos negros de Angola. O orgulho humano e as vaidades patrióticas têm também os seus limites… Aliás, o que se faz necessário é a compreensão dos sentimentos que nos moveram a personalidade, impelindo-nos para o sacrifício e para a morte…”

Mas, não pôde terminar. Arrebatado numa aluvião de abraços amigos e carinhosos, retirou-se o grande patriota que o Brasil hoje festeja glorificando o seu heroísmo e a sua doce humildade.

Aos meus ouvidos emocionados ecoavam as notas derradeiras da música evocativa e dos fragmentos de orações que rodeavam o monumento do Herói, afigurando-se-me que Vila Rica ressurgira, com os seus coches dourados e os seus fidalgos, num dos dias gloriosos do Triunfo Eucarístico mas, aos poucos, suas luzes se amorteceram no silêncio da noite, e a velha cidade dos conspiradores entrou a dormir, no tapete glorioso de suas recordações, o sono tranquilo dos seus sonhos mortos.


(.Irmão X)

21 de abril de 1937.

  

Livro: Crônicas de Além Túmulo- Psicografado por Chico Xavier

domingo, 11 de abril de 2021

A CRIANÇA REJEITADA: “(...) Sem dúvida, muitos pais, despreparados para o ministério que defrontam em relação à prole, cometem erros graves, que influem consideravelmente no comportamento dos filhos, que, a seu turno, logo que podem, se rebelam contra estes, crucificando-os nas traves ásperas da ingratidão, da rebeldia"



A pior sensação que o filho ou a filha poderá ter é exatamente a de que é rejeitada por seus pais, por um ou por ambos.

Em verdade, não rejeita a criança apenas aquele pai ou aquela mãe que a abandona na via pública, ou a interna num orfanato, jamais indo vê-la. Rejeita-a também, aquele pai ou aquela mãe que promete amar a criança se ela for “boazinha”, se se conservar limpa numa quadra da vida em que o natural é a criança brincar livremente no solo (claro que protegida dos perigos), se fizer certinho um trabalho que está além de suas possibilidades infantis. Fica configurada a chantagem emocional, altamente perniciosa no processo da educação dos filhos.

Vale dizer que de igual modo rejeita o filho aquele pai ou aquela mãe que tudo faz quanto a criança ou o jovem peça só para se ver livre do pimpolho. É não lhe dar a mínima atenção, já se vê sem dificuldades.

Todos os excessos são danosos em nossas vidas, como se percebe facilmente.Se é danosa a rejeição da parte de um pai ou de uma mãe indiferente ou omissa, não deixa de ser ruim também a superproteção. Dentro deste raciocínio, se uma criança escorraçada, uma criança que viva debaixo de castigos corporais( mediante os quais os genitores descarregam suas tensões por outros motivos da vida estressante que levam hoje em dia), acaba vendo em todos os semelhantes inimigos em potencial, indivíduos que estariam prontos a maltratá-la, fazendo-se ao longo dos anos uma criatura amarga, pessimista, com raríssimos momentos de bom-humor,trazendo quase nulo o sentimento de solidariedade humana,uma criança superprotegida,criada cheia de dengos, de mimos excessivos, de cuidados exagerados, a quem tudo é simplesmente facilitado, vai-se acostumando a receber sem retribuir.

Resultado: a infância será um paraíso no lar, porém, a idade adulta será um inferno na sociedade. O indivíduo não saberá contar com ele mesmo nos momentos de decisão. Nutrirá, não raro, o sentimento de dependência não sendo capaz de solucionar os mais comezinhos problemas da experiência terrestre.

Aliás, quando a família é numerosa, tem vários filhos, não há mesmo condição para que os filhos sejam superprotegidos. Nesta situação, as crianças têm maiores oportunidades de viverem e se desenvolverem um tanto independentes. De certa forma, esta relativa independência auxilia o seu desenvolvimento, amadurecendo-as adequadamente. Desde pequenos, os filhos enfrentam alguns problemas e aprendem a resolvê-los. Inclusive há inúmeros casos ( sobretudo na presente atualidade planetária ) em que, a mãe trabalhando fora, vê-se na contingência de ter de contar com a ajuda da filha mais velha nos trabalhos domésticos, a cuidar dos irmãozinhos menores. O mesmo se dá relativamente ao filho mais velho; às vezes tem até de abandonar a escola ainda nas primeiras séries da educação fundamental (ensino de primeiro grau )a fim de ingressar no trabalho pesado, ou, no mínimo ao lado do pai, exercendo também alguma função com vista a equilibrar( ou colaborar a equilibrar, melhor dizendo) o precário orçamento doméstico, desempenhando atividades ditas masculinas.

Quando os pais sabem ajustar as situações assim criadas, os filhos aceitam bem os papéis que lhes são atribuídos e os conflitos momentâneos podem ser superados, desde que os mesmos pais não exijam perfeição de seus filhos. Aliás, os pais devem ser modelo mas nunca deverão pôr-se num pedestal dizendo aos filhos que nunca erraram na vida, o que não é, evidentemente, uma verdade. Melhor seria dizer-lhe que já cometeram enganos, ainda os cometem e se corrigem os filhos neste ou naquele particular é porque querem fazê-los felizes.

A segurança emocional, em parte sustentada pelo relacionamento entre irmãos, facilita muito o ajustamento do indivíduo fora de casa. Mas tudo isto( seria até desnecessário lembrar) vai depender em boa medida do comportamento dos pais.

Bem, há filhos que ser revoltam contra o tratamento que os pais lhe deram. Pois bem, para estes filhos deixaremos algumas frases do Espírito Joana de Ângelis, escritas pelo médium Divaldo Pereira Franco, constantes do livro “Após a Tempestade”( Livraria Espírita Alvorada Editora):
(...) Sem dúvida, muitos pais, despreparados para o ministério que defrontam em relação à prole, cometem erros graves, que influem consideravelmente no comportamento dos filhos, que, a seu turno, logo que podem, se rebelam contra estes, crucificando-os nas traves ásperas da ingratidão, da rebeldia e da agressividade contínua, culminando não raro em cenas de pugilato e vergonha”.
“(...) Aos filhos compete amar aos pais, mesmo quando negligentes ou irresponsáveis,porquanto é do Código Superior da Vida, o impositivo do honrar o pai e a mãe, sem excluir os que o são apenas por função biológica, assim mesmo, por cujo intermédio a Excelsa Sabedoria programa necessárias provas redentoras e pungitivas expiações liberativas”.

Termina sua exportação aquela mentora espiritual dizendo aos filhos estas orientações, com relação ao genitor que não lhes deu carinho:
“Se te falarem sobre recalques que ele traz da infância, em complexos que procedem desta ou daquela circunstância,(...) recorda, em silêncio, de que o Espírito procede do berço, trazendo gravados nas tecelagens sutis da própria estrutura gravames e conquistas, elevação e delinqüência, podendo, então, melhor compreendê-lo,mais ajudá-lo, desculpá-lo com eficiência e socorrê-lo com proibidade, prosseguindo ao seu lado sem mágoa(...) resgatando pelo sofrimento e amor os teus próprios erros, até o dia em que, redimido, possas reorganizar o lar feliz a que aspiras”.

Orientou assim Joana de Ângelis porque ninguém é pai ou mãe ou filho ou filha de outro alguém por um simples acaso biológico.Não. Nascemos e renascemos nas constelações familiares em que estávamos no mais das vezes envolvidos desde outras experiências corporais.Dá-se aqui o reencontro para que possamos solucionar os “desencontros” do passado.As possíveis algemas de ressentimentos devem ser transformadas em laços de amor para o nosso próprio bem.Reconhecemos ser tarefa árdua que exige renúncia abnegação e tempo.Todavia, será gratificante a sua execução porque teremos coroando o nosso esforço, às vezes não prontamente compreendido, a satisfação do dever cumprido!


Celso Martins

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

O Ricaço Distraído - " não te esqueças de que o tesouro de cada homem permanece onde tem o coração, porque toda alma reside onde coloca o pensamento.[...homem, sem qualquer proveito para os semelhantes, transformam-no em prisioneiro delas. A lei determina sejamos escravos dos excessos a que nos entregarmos.]

 

Existiu um homem devoto que chegou ao Céu e, sendo recebido por um Anjo do Senhor, implorou, enlevado:

- Mensageiro Divino, que devo fazer para vir morar, em definitivo, ao lado de Jesus?

- Faze o bem - informou o Anjo - e volta mais tarde.

- Posso rogar-te recursos para semelhante missão?

- Pede o que desejas.

- Quero dinheiro, muito dinheiro, para socorrer o meu próximo.

O emissário estranhou o pedido e considerou:

- Nem sempre o ouro é o auxiliar mais eficiente para isso.

- Penso, contudo, meu santo amigo, que, sem ouro, é muito difícil praticar a caridade.

- E não temes as tentações do caminho?

- Não.

- Terás o que almejas - afirmou o mensageiro -, mas não te esqueças de que o tesouro de cada homem permanece onde tem o coração, porque toda alma reside onde coloca o pensamento. Tuas possibilidades materiais serão multiplicadas. No entanto, não olvides que as dádivas divinas, quando retidas despropositadamente pelo homem, sem qualquer proveito para os semelhantes, transformam-no em prisioneiro delas. A lei determina sejamos escravos dos excessos a que nos entregarmos.

Prometeu o homem exercer a caridade, servir extensamente e retornou ao mundo.

Os Anjos da Prosperidade começaram, então, a ajudá-lo.

Multiplicaram-lhe, de início, as peças de roupa e os pratos de alimentação; todavia, o devoto já remediado suplicou mais roupas e mais alimentos. Deram-lhe casa e haveres. Longe, contudo, de praticar o bem, considerava sempre escassos os dons que possuia e rogou mais casas e mais haveres. Trouxeram-lhe rebanhos e chácaras, mas o interessado em subir ao paraíso pela senda da caridade, temendo agora a miséria, im­plorou mais rebanhos e mais chácaras. Não cedia um quarto, nem dava uma sopa a ninguém, declarando-se sem recursos para auxiliar os necessitados e esperava sempre mais, a fim de distribuir algum pão com eles. No entanto, quanto mais o Céu lhe dava, mais exigia do Céu.

De espontâneo e alegre que era, passou a ser desconfiado, carrancudo e arredio.

Receando amigos e inimigos, escondia grandes somas em caixa forte, e quando envelheceu, de todo, veio a morte, separando-o da imensa fortuna.

Com surpresa, acordou em espírito, deitado no cofre grande.

Objetos preciosos, pedaços de ouro e prata e vastas pilhas de cédulas usadas serviam-lhe de leito. Tinha fome e sede, mas não podia servir-se das moedas; queria a liberdade, porém, as notas de banco pareciam agarrá-lo, à maneira do visco retentor de pássaro cativo.

- Santo Anjo! - gritou, em pranto - vem! Ajuda-me a partir, em direção à Casa Celestial!...

O mensageiro dignou-se baixar até ele e, reparando-lhe o sofrimento, exclamou:

- É muito tarde para súplicas! Estás sufocado pela corrente de facilidades materiais que o Senhor te confiou, porque a fizeste rolar tão sômente em torno de ti, sem qualquer benefício para os irmãos de luta e experiencia...

- E que devo fazer - implorou o infeliz -para retomar a paz e ganhar o paraíso?

 

O Anjo pensou, pensou... e respondeu:

- Espalha com proveito as moedas que ajuntaste inutilmente, desfaze-te da terra vasta que retiveste em vão, entrega à circulação do bem todos os valores que recebeste do Tesouro Divino e que amontoaste em derredor de teus pós, atendendo ao egoísmo, à vaidade, à avareza e à ambição destrutiva e, depois disso, vem a mim para retomarmos o entendimento efetuado há sessenta anos...

Reconhecendo, porém, o homem que já não dispunha de um corpo de carne para semelhante serviço, começou a gritar e blasfemar, como se o inferno estivesse morando em sua própria consciência.

 

XAVIER, Francisco Cândido. Alvorada Cristã. Pelo Espírito Neio Lúcio. FEB. Capítulo 9.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Função do Egoísmo no Desenvolvimento Humano [...]A parábola do moço rico, no Evangelho, dá-nos o mais claro exemplo do apego ao mundo gerado pelo egoísmo nos Espíritos que se deixam fascinar pelas ilusões materiais . O ego gera as falsas idéias de superestimação individual, de segregação do indivíduo e sua grei, considerando os demais como estranhos e impuros. Age como um centro hipnótico absorvente, impedindo o ser de abrir-se no altruísmo, fechando-lhe o entendimento para tudo o que não se refira aos seus interesses individuais. A vaidade, a arrogância, a prepotência, a insolência, a brutalidade se formam no cortejo de estupidez das pessoas egoístas e dos Espíritos egoístas. Por isso, o Espiritismo proclama a caridade como a virtude libertadora, fora da qual não há salvação para o homem do mundo[...]O Espiritismo nos ensina a dar, além da moeda, o nosso amor a toda a Humanidade, sem discriminações raciais, religiosas, políticas e de espécie alguma. A estrutura social da civilização perfeita não surgirá das mãos dos opressores que tudo prometem,mas das mãos humildes da viúva que depositou a sua moeda pequenina e única no cofre em que os ricos despejaram tesouros para comprar o Céu.




Tudo tem a sua utilidade na Natureza. O Universo é teleológico, finalista, busca sempre e em tudo uma finalidade. Os filósofos anti finalistas apóiam suas teorias no erro humano, de todos os tempos, que interpreta a Natureza como criada especialmente para o homem. Esse erro surgiu nas selvas, permaneceu nas civilizações primitivas e projetou-se nas civilizações posteriores.
Os próprios deuses e demônios de toda a Antigüidade foram postos ao serviço do homem, que embora os reverenciando, pretendiam utilizá-los como seus auxiliares. O Universo tem, naturalmente, uma finalidade única e superior, em que todas as finalidades se conjugam num resultado único. Mas esse resultado  escapa às nossas possibilidades de pesquisa, de compreensão e mesmo de imaginação. A mais inútil das coisas e os mais prejudiciais dos seres são necessários. E ser necessário é ser indispensável, é pertencer a um elo da cadeia inimaginável que Kardec nos apresenta nesta frase tantas vezes repetida n’O Livro dos Espíritos: Tudo se encadeia no Universo.

Os problemas ecológicos da atualidade, surgidos com o desenvolvimento tecnológico, deram ênfase à importância da Ecologia, ciência das relações entre sujeito e meio e mesmo entre objeto e meio. O meio físico em que vivemos, com seus elementos naturais configurando determinada situação mesológica humana, é formado por uma infinidade de substituições necessárias à vida vegetal e animal. A ignorância do homem a respeito, tentando aniquilar elementos nocivos do meio, provoca o desencadeamento de desequilíbrios perigosos e até mesmo fatais. Minerais, vegetais e animais considerados perniciosos, quando retirados do meio, revelam a sua função necessária e têm de ser repostos ou substituídos por outros que os compensem.
Esse delicado equilíbrio das coisas mínimas apresenta-se também
nas coisas máximas, como no jogo de forças que sustentam
o equilíbrio planetário e o próprio equilíbrio das galáxias no espaço sideral. O mesmo acontece na nossa estrutura corporal, com seus vários aspectos físicos, psíquicos e espirituais. Por isso oEspiritismo é contrário a todas as práticas de mortificação, extinção, asfixia ou desenvolvimento de funções, instintos, percepções e poderes inferiores ou superiores na criatura humana.
Esta deve ser respeitada em sua integridade, com seus defeitos, de formações, deficiências e assim por diante, cabendo-nos apenas o direito, que é também dever, de auxiliar as criaturas no seu processo natural de aperfeiçoamento e reajustamento, nos rumos naturais da transcendência. Nem mesmo a mediunidade deve ser desenvolvida por supostas técnicas provindas de tradições místicas ou de invenção de pretensos mestres espirituais. O Espiritismo se opõe a todas essas tentativas imaginosas, que podem levar, como tem levado, muitas pessoas a desequilíbrios graves.

O egoísmo, a vaidade, o orgulho, a pretensão, a ambição representam elementos negativos da constituição do ser humano,que devem ser eliminados. Mas essa eliminação não se dá pelos métodos antigos das corporações religiosas, até hoje empregados, apesar dos terríveis malefícios causados. Kardec e os Espíritos Superiores, em suas comunicações, consideraram o egoísmo como verdadeira praga que impediu o desenvolvimento real do Cristianismo na Terra. Mas jamais aconselharam métodos artificiais para o combate ao egoísmo. As penitências, os cilícios, o
isolamento, as autoflagelações de toda espécie tornaram mais negra a Idade Média e ainda hoje se escondem nas furnas da ignorância religiosa que só serviram para desequilibrar milhões de criaturas que constituem o triste e pesado legado da Antigüidade para nosso tempo. São Tomaz de Aquino advertiu: “Mães, vossos filhos são cavalos”, e a educação das crianças transformou- se em domesticação, processo esmagador da sensibilidade infantil e das esperanças da adolescência. Gerações recalcadas saíram das estrebarias escolares em que os mestres domavam crianças e jovens a pancadas e castigos brutais, para moldá-los segundo os modelos estabelecidos à formação de multidões padronizadas. Todos nós carregamos ainda as marcas profundas e dolorosas, deformantes, do relacionamento humano na Terra.
Com a caridade os homens vão aprendendo a sair do egoísmo para o altruísmo, a não pensar apenas nos seus problemas particulares, a não dividir o seu tempo e bem-estar apenas com os familiares, mas levar um pouco de si mesmos e dos seus recursos para a família maior que sofre lá fora. É essa a finalidade do princípio cristão da caridade no Espiritismo. Por isso a caridade espírita não pode cercar-se de barreiras e dificuldades, de exigências e desconfianças. Deve ser ampla e generosa, acessível a todos, evitando constranger ou humilhar os que a recebem. O ego é como uma flor que primeiro se fecha no botão para depois desabrochar na corola e por fim doar-se nos frutos.
Tentemos visualizar o processo de formação do ego, para compreendermos a função do egoísmo. A dialética espírita nos ensina que o espírito (não individualizado, mas como o elemento espiritual catalisador, capaz de atrair e aglutinar a matéria esparsa no espaço) liga-se à matéria para lhe dar forma, estrutura.
Podemos seguir esse processo no caso humano, em que o ego aparece como um pivô da personalidade em formação, desde a infância. A criança é egocêntrica, é um pivô em torno do qual giram as atenções e as afeições da família. Ela se torna, naturalmente, no centro do mundo. Porque esse é o meio de consolidação da sua individualidade. Tudo quanto ela atrai e absorve do ambiente, do exemplo familial, das relações progressivas na escola e nos brinquedos, é automaticamente centralizado no ego, que é o seu ponto interior de segurança ante a dispersividade do mundo. O botão fechado centraliza as suas energias, preparando o momento de abrir-se na corola colorida e perfumada. Essa a primeira função do ego, e essa função não é egoísta, mas centralizadora por necessidade de estruturação interna. Quando essa estruturação se define como tal, a criança se abre timidamente para oferecer ao mundo a sua contribuição inicial de beleza e ternura. É um novo ser que surge no mundo, vestido com a
roupagem da inocência, como diz Kardec, e ao mesmo tempo trazendo a incógnita de um passado que se revelava pouco a pouco no esquema de um destino com idéias e hábitos negativos que nos foram impostos à força de milênios de brutalidade civilizadora. Por isso o nosso tempo, em que tomamos consciência do absurdo desse massacre universal realizado em nome de Deus, mostra-se dominado por inquietações e desesperos, revolta e loucura, psicopatias e obsessões que levam a espécie humana a todos os desvarios e ao suicídio individual e coletivo. Temos de examinar essa situação à luz do Evangelho desfigurado e mal interpretado, muitas vezes contraditado frontalmente pelas teologias do absurdo. E temos de confrontar esse mundo hospício, em que a loucura mansa dos clérigos e dos fascinados pela mentira consciente ou inconsciente é a mais perigosa de todas, gerando a hipocrisia das vozes impostadas e do comportamento social simulado. A simulação na luta pela vida, estudada por Igenieros num livro assustador, é o sintoma mais evidente das condições patológicas do homem atual, que se tornou num ego atrofiado, por isso mesmo vazio e faminto, que tudo quer exclusivamente para si mesmo. E isso a tal ponto que a palavra caridade, definida pelo Apóstolo Paulo numa síntese insuperável e adotada por Kardec como o fundamento da evolução humana, transformou-se na linguagem atual num sinônimo de hipocrisia.
No próprio meio espírita encontramos os desavisados que condenam essa palavra, sem lhe aprofundarem o sentido. E há os
que pretendem disciplinar a caridade, fiscalizar o seu aproveitamento pelos beneficiados e obrigá-los a determinadas exigências para socorrê-los. Há também os que alegam a inutilidade dessa forma de ajuda. Esses não pensam no bem que uma palavra amiga e confortadora, uma visita de solidariedade, um socorro de emergência a quem está desprovido de roupas para enfrentar o inverno ou de remédio para uma chaga, podem representar. A caridade espírita não é esmola, é doação de amor, solidariedade humana que vale não só pelo amparo material, mas acima de tudo pelo conforto da relação humana. Sua prática não tem por finalidade sanar os males sociais com remendos eventuais, mas mudar as formas egoístas da relação humana na Terra, ampliando-a e aprofundando-a nas dimensões superiores do altruísmo.Nesse estranho panorama de castas privilegiadas, povo necessitado e multidões miseráveis, o Espiritismo considera a mecânica da caridade como o instrumento ideal para abrir corações, despertar consciências e alentar esperanças. As ideologias políticas apresentam fórmulas de efeitos superficiais e na reforma muitas vezes penosa de estruturas, mas o Espiritismo restabelece a técnica simples do Cristo, que toca o íntimo das criaturas para atingir as causas profundas dos desajustes. Em cada reencarnação o ser repete ao mesmo tempo a filogênese material e espiritual do homem, no desenvolvimento do embrião e na abertura progressiva do egoísmo no meio social. Vejamos os vetores desse processo duplo nas linhas da transcendência:
a) Na magia do amor, reminiscência das atrações misteriosas
na selva, o par humano se liga sob a impulsão dos instintos
reprodutores e os genes se fundem no ventre materno produzindo
o embrião, síntese das formas animais superadas pela espécie. A
recapitulação genésica reintegra o espírito na linha filogenética e
restabelece o pivô do ego em seu poder centralizador. Na gestação,
o paralelismo psicofísico reordena as forças da evolução nos
rumos da ascensão. A forma humana resulta das formas anteriores
na sublimação do caos instintivo e sua hereditariedade psicobiológica.
O espírito ligado ao caos exerce as funções discriminadoras na conformação do novo ser, disciplinando as energias conscienciais que marcam as conquistas do passado e as autopunições de erros e crimes anteriores. A Providência Divina envolve o novo ser em sua bênção com aparência da inocência, que lhe permitirá atrair  afeição dos familiares no restabelecimento de afetividades perturbadas ou aprofundamento das afeições sobreviventes. O novo cérebro está virgem como a tabula rasa dos empiristas ingleses, pronto a gravar um novo rol de lembranças na nova memória em organização. No arquivo do inconsciente (nessa consciência subliminar de Myers) as heranças válidas permanecem ocultas, masprontas a emergir na consciência de relação pelo mecanismo das associações de idéias e sentimentos.
b) Vencida a etapa uterina e a primeira infância, o ser se mostra pronto a enfrentar as vicissitudes de uma nova existência.
Recobrou sua vida terrena nas entranhas da mãe, sob as influências
psicofisiológicas do organismo gerador de seu novo corpo.
Revela anomalias ou perfeição física e mental, segundo o seu passado. É de novo o centro do mundo e traz em si mesmo os fatores de seu desenvolvimento e amadurecimento. No lar esses fatores se manifestam desde logo, mas vão sofrer as influência modificadoras da família e da escola, para o seu ajuste necessário
às novas condições de vida. O instinto de imitação lhe favorece
a adaptação ao novo mundo. O ego centralizado volta a abrir-se nessas relações primárias, através do desenvolvimento da afetividade em termos eletivos. Suas preferências são ainda impulsivas, provocadas por fatores ambientais e circunstanciais, mas pouco a pouco se define a linha preferencial da razão em desenvolvimento, revelando as afinidades ocultas. O ser toma pé
na realidade e manifesta as suas tendências vocacionais. É o momento de reintegração nos esquemas frustrados do passado ou de renovação do esquema em face das novas exigências da realidade nova.
c) A crise da adolescência vai revelar em breve a posição ôntica
precisa ou indecisa do novo ser, herdeiro de si mesmo e das
contribuições paternas e maternas, familiais e sociais, excitadas
pelo meio cultural e reorientadas pela influência espiritual das
entidades espirituais que protegem e o assistem constantemente.
Está completa a tarefa da ressurreição na carne. Daí por diante,
o novo destino do ser na transcendência dependerá de sua própria
consciência. Ele está preparado e aparelhado para enfrentar os problemas da juventude e suas graves opções, da madureza e seus desafios, da velhice e sua recapitulação de toda a odisséia existencial que deve tê-lo elevado acima do passado no processo
irreversível da transcendência. O egoísmo do adulto será a marca
de um distúrbio psíquico: o infantilismo. O altruísmo será o
troféu conquistado da sua vitória na escalada evolutiva.
Seu regresso à vida espiritual o colocará em face de sua verdadeira
situação. Será certamente um vitorioso em muitos aspectos de sua personalidade, mas o fracasso na transcendência do egoísmo lhe mostrará que todas as conquistas secundárias não podem compensá-lo. Terá de voltar à existência terrena em reencarnações de abnegação forçada, não compulsórias, mas de sua própria escolha, para conseguir a superação difícil do apego a si mesmo. Por sua própria natureza de elemento centralizador da estrutura ôntica, responsável pela sua unidade, o ego é a grande barreira contra a qual se quebram os impulsos da transcendência.Seu solipsismo tautológico o transforma numa viragem do espírito, imantando-o a si mesmo. A parábola do moço rico, no Evangelho, dá-nos o mais claro exemplo do apego ao mundo gerado pelo egoísmo nos Espíritos que se deixam fascinar pelas ilusões materiais . O ego gera as falsas idéias de superestimação individual, de segregação do indivíduo e sua grei, considerando os demais como estranhos e impuros. Age como um centro hipnótico absorvente, impedindo o ser de abrir-se no altruísmo, fechando-lhe o entendimento para tudo o que não se refira aos seus interesses individuais. A vaidade, a arrogância, a prepotência, a insolência, a brutalidade se formam no cortejo de estupidez das pessoas egoístas e dos Espíritos egoístas.
Por isso, o Espiritismo proclama a caridade como a virtude libertadora, fora da qual não há salvação para o homem do mundo. A mecânica da caridade pode ser desencadeada, no  homem do mundo, por situações aflitivas; de saúde ou de problemas familiais ou financeiros, levando-o a dar, não raro por vaidade, a primeira moeda a um mendigo. Essa doação insignificante abre uma pequena brecha no egoísmo. A seguir virão outras doações mais generosas, até que a fortaleza do ego se abale e o ser orgulhoso possa perceber a sua própria imagem refletida no espelho doloroso de um rosto de pedinte esfomeado.
O Espiritismo nos ensina a dar, além da moeda, o nosso amor a
toda a Humanidade, sem discriminações raciais, religiosas, políticas e de espécie alguma. A estrutura social da civilização perfeita não surgirá das mãos dos opressores que tudo prometem,mas das mãos humildes da viúva que depositou a sua moeda pequenina e única no cofre em que os ricos despejaram tesouros para comprar o Céu.
Herculano Pires . Curso dinâmico do Espiritismo

terça-feira, 11 de novembro de 2014

A nova era (II)"... O mundo está abalado em seus fundamentos; reboará o trovão. Sede firmes! ""...A revolução que se apresta é antes moral do que material. Os grandes Espíritos, mensageiros divinos, sopram a fé, para que todos vós, obreiros esclarecidos e ardorosos, façais ouvir a vossa voz humilde, porquanto sois o grão de areia; mas, sem grãos de areia, não existiriam as montanhas. ..."

Um dia, Deus, em sua inesgotável caridade, permitiu que o homem visse a verdade varar as trevas. Esse dia foi o do advento do Cristo. Depois da luz viva, voltaram as trevas. Após alternativas de verdade e obscuridade, o mundo novamente se perdia. Então, semelhantemente aos profetas do Antigo Testamento, os Espíritos se puseram a falar e a vos advertir. O mundo está abalado em seus fundamentos; reboará o trovão. Sede firmes!
O Espiritismo é de ordem divina, pois que se assenta nas próprias leis da Natureza, e estai certos de que tudo o que é de ordem divina tem grande e útil objetivo. O vosso mundo se perdia; a Ciência, desenvolvida à custa do que é de ordem moral, mas conduzindo-vos ao bem-estar material, redundava em proveito do espírito das trevas. Como sabeis, cristãos, o coração e o amor têm de caminhar unidos à Ciência. O reino do Cristo, ah! passados que são dezoito séculos e apesar do sangue de tantos mártires, ainda não veio. Cristãos, voltai para o Mestre, que vos quer salvar. Tudo é fácil àquele que crê e ama; o amor o enche de inefável alegria. Sim, meus filhos, o mundo está abalado; os bons Espíritos vo-lo dizem sobejamente; dobrai-vos à rajada que anuncia a tempestade, a fim de não serdes derribados, isto é, preparai-vos e não imiteis as virgens loucas, que foram apanhadas desprevenidas à chegada do esposo.
A revolução que se apresta é antes moral do que material. Os grandes Espíritos, mensageiros divinos, sopram a fé, para que todos vós, obreiros esclarecidos e ardorosos, façais ouvir a vossa voz humilde, porquanto sois o grão de areia; mas, sem grãos de areia, não existiriam as montanhas.
Assim, pois, que estas palavras — “Somos pequenos” — careçam para vós de significação. A cada um a sua missão, a cada um o seu trabalho. Não constrói a formiga o edifício de sua república e imperceptíveis animálculos não elevam continentes? Começou a nova cruzada. Apóstolos da paz universal, que não de uma guerra, modernos São Bernardos, olhai e marchai para frente; a lei dos mundos é a do progresso. – Fénelon. (Poitiers, 1861.)

 

(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. I, item 10.)

sábado, 1 de novembro de 2014

O Espírita e o Mundo Atual

O Espírita e o Mundo Atual

A Terra está passando por um período crítico de crescimento. Nosso pequenino mundo, fechado em concepções mesquinhas e acanhados limites, amadurece para o infinito. Suas fronteiras se abrem em todas as direções.
Estamos às vésperas de uma Nova Terra e um Novo Céu, segundo as expressões do Apocalipse. O Espiritismo veio para ajudar a Terra nessa transição.
Procuremos, pois, compreender a nossa responsabilidade de espíritas, em todos os setores da vida contemporânea. Não somos espíritas por acaso, nem porque precisamos do auxílio dos Espíritos para a solução dos nossos problemas terrenos. Somos espíritas porque assumimos na vida espiritual graves responsabilidades para esta hora do mundo. Ajudemo-nos a nós
mesmos, ampliando a nossa compreensão do sentido e da natureza do Espiritismo, de sua importante missão na Terra. E ajudemos o Espiritismo a cumpri-la.
O mundo atual está cheio de problemas e conflitos. O crescimento da população, o desenvolvimento econômico, o progresso cientifico, o aprimoramento técnico, e a profunda modificação das concepções da vida e do homem, colocam-nos diante de uma situação de assustadora instabilidade.
As velhas religiões sentem-se abaladas até o mais fundo dos seus alicerces. Ameaçam ruir, ao impacto do avanço cientifico e da propagação do ceticismo. Descrentes dos velhos dogmas, os homens se voltam para a febre dos instintos, numa inútil tentativa de regressar à irresponsabilidade animal.
O espírita não escapa a essa explosão do instinto. Mas o Espiritismo não é uma velha religião nem uma concepção superada. É uma doutrina nova, que apareceu precisamente para alicerçar o futuro. Suas bases não são dogmáticas, mas cientificas, experimentais. Sua estrutura não é teológica, mas filosófica, apoiada na lógica mais rigorosa. Sua finalidade religiosa não se define pelas promessas e as ameaças da Teologia, mas pela consciência da liberdade humana e da responsabilidade espiritual de cada indivíduo, sujeita ao controle natural da lei de causa e efeito. O espírita não tem o direito de tremer e apavorar-se, nem de fugir aos seus deveres e entregar-se aos instintos. Seu dever é um só: lutar pela implantação do Reino de Deus na Terra.
Mas como lutar? Este livrinho procurou indicar, aos espíritas, várias maneiras de proceder nas circunstâncias da vida e em face dos múltiplos problemas da hora presente. Não se trata de oferecer um manual, com regras uniformes e rígidas, mas de apresentar o esboço de um roteiro, com base na experiência pessoal dos autores e na inspiração dos Espíritos que os auxiliaram a escrever estas páginas. A luta do espírita é incessante. As suas frentes de batalha começam no seu próprio íntimo e vão até os extremos limites do mundo exterior. Mas o espírita não está só, pois conta com o auxílio constante dos Espíritos do Senhor, que presidem à propagação e ao desenvolvimento do Espiritismo na Terra.
A maioria dos espíritas chegaram ao Espiritismo tangidos pela dor, pelo sofrimento físico ou moral, pela angústia de problemas e situações insolúveis. Mas, uma vez integrados na Doutrina, não podem e não devem continuar com as preocupações pessoais que motivaram a sua transformação conceptual. O Espiritismo lhes abriu a mente para uma compreensão inteiramente nova da realidade. É necessário que todos os espíritas procurem alimentar cada vez mais essa nova compreensão da vida e do mundo, através do estudo e da meditação. É necessário também que aprendam a usar a poderosa arma da prece, tão desmoralizada pelo automatismo habitual a que as religiões formalistas a relegaram.  A prece é a mais poderosa arma de que o espírita dispõe, como ensinou Kardec, como o proclamou Léon Denis e como o acentuou Miguel Vives. A prece verdadeira, brotada do íntimo, como a fonte límpida brota das entranhas da terra, é de um poder não calculado pelo homem. O espírita deve utilizar-se constantemente da prece. Ela lhe acalmará o coração inquieto e aclarará os caminhos do mundo. A própria ciência materialista está hoje provando o poder do pensamento e a sua capacidade de transmissão ao infinito. O pensamento empregado na prece leva ainda a carga emotiva dos mais puros e profundos sentimentos. O espírita já não pode duvidar do poder da prece, pregado pelo Espiritismo. Quando alguns "mestres" ocultistas ou espíritas desavisados chamarem a prece de muleta, o espírita convicto deve lembrar que o Cristo também a usava e também a ensinou.
Abençoada muleta é essa, que o próprio Mestre dos Mestres não jogou à margem do caminho, em sua luminosa passagem pela Terra!
O espírita sabe que a morte não existe, que a dor não é uma vingança dos deuses ou um castigo de Deus, mas uma força de equilíbrio e uma lei de educação, como explicou Léon Denis. Sabe que a vida terrena é apenas um período de provas e expiações, em que o espírito imortal se aprimora, com vistas à vida verdadeira, que é a espiritual. Os problemas angustiantes do mundo atual não podem perturbá-lo. Ele está amparado, não numa fortaleza perecível, mas na segurança dinâmica da compreensão, do apercebimento constante da realidade viva que o rodeia e de que ele mesmo é parte integrante. As mudanças incessantes das coisas, que nos revelam a instabilidade do mundo, já não podem assustar o espírita, que conhece a
lei de evolução. Como pode ele inquietar-se ou angustiar-se, diante do mundo atual?
O Espiritismo lhe ensina e demonstra que este mundo em que agora nos encontramos, longe de nos ameaçar com morte e destruição, acena-nos com ressurreição e vida nova. O espírita tem de enfrentar o mundo atual com a confiança que o Espiritismo lhe dá, essa confiança racional em Deus e nas suas leis admiráveis, que regem as constelações atômicas no seio da matéria e as constelações astrais no seio do infinito. O espírita não teme, porque conhece o processo da vida, em seus múltiplos aspectos, e sabe que o mal é um fenômeno relativo, que caracteriza os mundos inferiores. Sobre a sua cabeça rodam diariamente os mundos superiores, que o esperam na distância e que os próprios materialistas hoje procuram atingir com os seus foguetes e as suas sondas espaciais. Não são, portanto, mundos utópicos, ilusórios, mas realidades concretas do Universo visível.
Confiante em Deus, inteligência suprema do Universo e causa primária de todas as coisas, - poder supremo e indefinível, a que as religiões dogmáticas deram a aparência errônea da própria criatura humana, - o espírita não tem o que temer, desde que procure seguir os princípios sublimes da sua Doutrina. Deus é amor, escreveu o apóstolo João. Deus é a fonte do Bem e da Beleza, como afirmava Platão. Deus é aquela necessidade lógica a que se referia Descartes, que não podemos tirar do Universo sem que o Universo se desfaça. O espírita sabe que não tem apenas crenças, pois possui conhecimentos. E quem conhece não teme, pois só o desconhecido nos apavora.
O mundo atual é o campo de batalha do espírita. Mas é também a sua oficina, aquela oficina em que ele forja um mundo novo. Dia a dia ele deve bater a bigorna do futuro. A cada dia que passa, um pouco do trabalho estará feito. O espírita é o construtor do seu próprio futuro do mundo. Se o espírita recuar, se temer, se vacilar, pode comprometer a grande obra. Nada lhe deve perturbar o trabalho, na turbulenta mas promissora oficina do mundo atual. Em resumo:
O espírita é o consciente construtor de uma nova forma de vida humana na Terra e de vida espiritual no Espaço; sua responsabilidade é proporcional ao seu conhecimento da realidade, que a Nova Revelação lhe deu; seu dever
de enfrentar as dificuldades atuais, e transformá-las em novas oportunidades de progresso, não pode ser esquecido um momento sequer; espíritas, cumpramos o nosso dever!

Herculano Pires

Livre-Arbítrio e Providência Divina

Livre-Arbítrio e Providência Divina

Autor: Léon Denis

Um dos problemas que mais preocuparam os filósofos e os teólogos é o do livre arbítrio: conciliar a vontade e a liberdade do homem com o fatalismo das leis naturais e com a vontade divina, parecia tanto mais difícil quanto um cego acaso parecia pesar, aos olhos de muitos, sobre o destino humano. O ensinamento dos espíritos esclareceu o problema: a fatalidade aparente que semeia de males o caminho da vida, não é mais que a conseqüência lógica do nosso passado, um efeito que se refere a uma causa, é o cumprimento do destino por nós mesmos aceito antes de renascer, e que nossos guias espirituais nos sugerem para nosso bem e nossa elevação.

Nas camadas inferiores da criação, o ser não tem ainda consciência; apenas a fatalidade do instinto o impele, e não é senão nos tipos superiores da animalidade que surgem, timidamente, os primeiros sintomas das faculdades humanas. A alma, jungida ao ciclo humano, desperta para a liberdade moral, o juízo e a consciência desenvolvem-se cada vez mais no curso de sua imensa parábola: colocada entre o bem e o mal, ela faz o confronto e escolhe livremente, tornada sábia pelas quedas e pela dor; e na prova, sua experiência forma-se e sua força mental se afirma.

A alma humana, livre e consciente, não pode mais recair na vida inferior: suas encarnações sucedem-se na dos mundos, até que, ao fim de seu longo trabalho, tenha conquistado a sabedoria, a ciência e o amor, cuja posse a emancipará para sempre das encarnações e da morte, abrindo-lhe a porta da vida celeste.

A alma alcança seus destinos, prepara suas alegrias ou dores, exercendo sua liberdade, porém, no curso de sua jornada, na prova amarga e na ardente luta das paixões, a ajuda superior não lhe será negada e, se ela mesma não a afasta, por parecer indigna dela, quando a vontade se afirma para retomar o caminho do bem, o bom caminho, a providência intervém e propicia-lhe ajuda e apoio, Providência é o espírito superior, o anjo que vigia na desventura, o Consolador invisível cujas inspirações aquecem o coração enregelado pelo desespero, cujos fluidos vivificadores fortalecem o peregrino cansado; providência é o farol aceso na noite para salvação daqueles que erram no oceano proceloso da existência; providência é, ainda e sobretudo, o amor divino que se derrama sobre suas criaturas. E quanta solicitude, quanta previdência neste amor. Não suspendeu os mundos no espaço, acendeu os sois, formou os continentes, os mares, para servir de teatro à alma, de campo aos seus progressos? Esta grande obra de criação cumpre-se somente para a alma, para ela combinam-se as forças naturais, os mundos deixam as nebulosas.

A alma é nascida para o bem, mas para que ela possa apreciá-lo na justa medida, para que possa conhecer-lhe todo o valor, deve conquistá-lo desenvolvendo livremente as próprias potencialidades: a liberdade de ação e a responsabilidade aumentam com sua elevação, pois quanto mais ela se ilumina mais pode e deve conformar a sua obra pessoal às leis que regem o universo.

A liberdade do ser é exercida, pois, em um círculo limitado, parte pelas exigências da lei natural que não sobre violações ou desordens neste mundo, parte pelo passado do próprio ser, cujas conseqüências se refletem sobre ele através dos tempos, até a completa reparação.

Assim o exercício da liberdade humana não pode obstar, em caso algum, a execução do plano divino, sem o que a ordem das coisas seria continuamente perturbada: acima de nossas vistas limitadas e variáveis, permanece e continua a ordem imutável do universo. Somos quase sempre maus juizes daquilo que é nosso verdadeiro bem; se a ordem natural das coisas devesse dobrar-se aos nossos desejos, que espantosas perturbações não resultariam disto?

A primeira coisa que o homem faria, se possuísse liberdade absoluta, seria afastar de si todas as causas de sofrimento, e assegurar para si uma vida plena de felicidade: ora, se existem males que a inteligência humana tem o dever e os meios de conjurar e destruir, como os que provêm do ambiente terrestre, outros existem que são inerentes à nossa natureza, como os vícios, que somente a dor e a repressão podem domar.

Neste caso a dor torna-se uma escola, ou antes, um remédio indispensável, pelo qual as provas são apenas uma repartição equânime da infalível justiça: é por ignorar os fins desejados por Deus, que nos tornamos rebeldes à ordem do mundo e às suas leis, e se elas são suscetíveis de nossas críticas, é apenas porque ignoramos o seu oculto poder.

O destino é conseqüência de nossos atos e de nossas livres resoluções: no suceder-se das existências, na vida espiritual, mais esclarecidos sobre nossas imperfeições e preocupações com os meios de eliminá-las, aceitamos a vida material sob a forma e nas condições que nos parecem adequadas a atingir esta finalidade. Os fenômenos do hipnotismo e da sugestão mental explicam-nos o que acontece em tais casos, sob a influência de nossos protetores espirituais; no estado de sonambulismo, a alma empenha-se a realizar uma certa ação em certo momento, por sugestão do magnetizador, e, despertada, sem recordar aparentemente a promessa, executa com exatidão o ato imposto. Assim o homem não conserva lembrança das resoluções que tomou antes de renascer, mas, chegada a hora, afronta os acontecimentos previstos, e participa deles na medida necessária ao seu progresso, ou ao cumprimento da lei inexorável.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

A INFLUÊNCIA DO ESPIRITISMO

 

Emmanuel

 
A influência do Espiritismo, em verdade, à feição de movimento libertador das consciências, será precioso fator de evolução, em toda parte.
*
Na Ciência criará novos horizontes à glória do espírito.
*
Na filosofia, traçará princípios superiores ao avanço inelutável do progresso.
*
Na religião, estabelecerá supremos valores interpretativos, liberando a fé viva das sombras que a encarceram na estagnação e na ignorância.
*
Na justiça, descortinará novos rumos aos direitos humanos.
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No trabalho, proporcionará justa configuração ao dever.
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Nas artes, acenderá a inspiração da inteligência para os mais arrojados vôos ao país da beleza.
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Na cultura, desabotoará novas fontes de Luz para a civilização fatigada e decadente.
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Na política, plasmará nova conceituação para a responsabilidade nos patrimônios públicos.
 
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Na legislação, instituirá o respeito substancial ao bem comum.
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E, em todos os setores do crescimento terrestre, à frente do futuro, ensinará e levantará, construindo e consolando, com a verdade a nortear-lhe a marcha redentora.
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Entretanto, somente no coração é que o Espiritismo pode realmente transformar a vida.
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Não basta erguer-se o homem às novas experiências de natureza exterior sem bases no sentimento.
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Civilizações múltiplas há surgindo no mundo, alcançando o apogeu e descendo de novo aos sepulcros de pós e cinza.
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Conduzamos o coração às bênçãos da Doutrina Salvadora que abraçamos com o Cristo e, desse modo, a ressurreição da Terra, começando por dentro de nós, constituir-nos-á, no abençoado amanhã, o Paraíso conquistado para a nossa Alegria Perpétua em Perpétuo Esplendor.
 
Da Obra “A Verdade Responde” – Espíritos: Emmanuel E André Luiz – Médium: Francisco Cândido Xavier
Digitado por: Lúcia Aydir
 

domingo, 16 de março de 2014

O que é o Espiritismo segundo Kardec e os Espíritos

O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que decorrem dessas mesmas relações.
Podemos defini-lo assim: O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal. (Allan Kardec, O que é o Espiritismo, Preâmbulo.)
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 O Espiritismo é, sem dúvida, uma ciência de observação, mas é, talvez mais ainda, uma ciência de raciocínio, e o raciocínio é o único meio de fazê-lo progredir e triunfar de certas resistências. Este fato só é contestado porque não é compreendido. A explicação lhe tira todo o caráter maravilhoso, fazendo-o entrar nas leis gerais da Natureza. Eis por que vemos diariamente criaturas que nada viram e creem, apenas porque compreendem, enquanto outras viram e não creem, porque não compreendem. Fazendo entrar o Espiritismo na trilha do raciocínio, tornamo-lo aceitável para aqueles que querem conhecer o porquê e o como de todas as coisas, e o número deles é grande neste século, porque a crença cega já não está mais nos nossos costumes. Ora, se tivéssemos apenas indicado a rota, teríamos a consciência de haver contribuído para o progresso desta Ciência nova, objeto de nossos estudos constantes. (Allan Kardec, Revista Espírita, agosto de 1859, Mobiliário de Além-túmulo).
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O Espiritismo é uma doutrina moral que fortifica os sentimentos religiosos em geral e se aplica a todas as religiões. Ele é de todas, e não é de nenhuma em particular. Por isso não diz a ninguém que a troque. Deixa a cada um a liberdade de adorar Deus à sua maneira e de observar as práticas ditadas pela consciência, pois Deus leva mais em conta a intenção do que o fato. Ide, pois, cada um ao templo do vosso culto, e assim provai que vos caluniam, quando vos taxam de impiedade. (Allan Kardec, Revista Espírita, janeiro de 1862, Resposta à mensagem de Ano Novo dos Espíritas lioneses.) 
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Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e as suas relações com o mundo corpóreo. Ele no-lo mostra, não mais como coisa sobrenatural, porém, ao contrário, como uma das forças vivas e sem cessar atuantes da Natureza, como a fonte de uma imensidade de fenômenos até hoje incompreendidos e, por isso, relegados para o domínio do fantástico e do maravilhoso. É a essas relações que o Cristo alude em muitas circunstâncias e daí vem que muito do que ele disse permaneceu ininteligível ou falsamente interpretado. O Espiritismo é a chave com o auxílio da qual tudo se explica de modo fácil(Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. I, item 5.) 
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O Espiritismo está chamado a esclarecer o mundo, mas ne­cessita de um certo tempo para progredir. Existiu desde a Cria­ção, mas só era reconhecido por algumas pessoas, porque, em geral, a massa pouco se ocupa em meditar sobre questões espíritas. Hoje, com o auxílio desta pura doutrina, haverá uma luz nova. Deus, que não quer deixar a criatura na ignorância, permite que os Espíritos mais elevados nos venham em auxílio, para contrabalançarem o Espírito das trevas, que tende a envolver o mundo. O orgulho humano obscurece a razão e a faz cometer muitos erros. São necessários Espíritos simples e dóceis, para comunicarem a luz e atenuarem todos os males. Coragem! Per­sisti nesta obra, que é agradável a Deus, porque ela é útil para a sua maior glória, e dela resultarão grandes bens para a salva­ção das almas. (Francisco de SalesRevista Espírita, abril de 1860.)

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