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quarta-feira, 5 de junho de 2013

EVANGELIZAÇÃO (...)"A grande necessidade, ainda e sempre, é a da evangelização íntima, para que todos os operários da causa da verdade e da luz conheçam o caminho de suas atividades regeneradoras"...

EVANGELIZAÇÃO
Emmanuel
 
Todos os estudiosos que solicitam de amigos do Além um roteiro de orientação não devem esquecer o Evangelho de Jesus, roteiro das almas em que cada coração deve beber o divino ensinamento para a marcha evolutiva.
 
Habitualmente, invoca-se a velhice de sua letra e a repetição de seus enunciados. O Espírito do Evangelho de Cristo, porém, é sempre a luz da vida. Determinados companheiros buscam justificar o cansaço das fórmulas, alegando que em Espiritismo, temos obras definitivas da revelação, com o sabor de novidade preciosa, em matéria de esclarecimento geral e esforço educativo. O Evangelho, todavia, é como um Sol de espiritualidade. Todas essas obras notáveis dos missionários humanos, na sua tarefa de interpretação, funcionam como telescópios, aclarando-lhe a grandeza. É que a sua luz se dirige à atmosfera interior da criatura, intensificando-se no clima da boa vontade e do amor, da sinceridade e da singeleza.
 
A missão do Espiritismo é a do Consolador, que permanecerá entre os homens de sentimento e de razão equilibrados, impulsionando a mentalidade do mundo para uma esfera superior. Vindo em socorro da personalidade espiritual que sofre, nos tempos modernos, as penosas desarmonias do homem físico do planeta, estabelece o Consolador a renovação dos valores mais íntimos da criatura e não poderá executar a sua tarefa sagrada, na hipótese de seus trabalhadores abandonarem o esforço próprio, no sentido de operar-se o reajustamento das energias morais de cada indivíduo.
 
A capacidade intelectual do homem é restrita ao seu aparelhamento sensorial; todavia, a iluminação de seu mundo intuitivo o conduz aos mais elevados planos de inspiração, onde a inteligência se prepara, em face das generosas realizações que lhe compete atingir no imenso futuro espiritual.
 
A grande necessidade, ainda e sempre, é a da evangelização íntima, para que todos os operários da causa da verdade e da luz conheçam o caminho de suas atividades regeneradoras, aprendendo que toda obra coletiva de fraternidade, na redenção humana, não se efetua sem a cooperação legítima, cuja base é o esclarecimento sincero, mas também é a abnegação, em que o discípulo sabe ceder, tolerar e amparar, no momento oportuno.
 
Para a generalidade dessa orientação moral faz-se indispensável que todos os centros de estudo doutrinário sejam iluminados pelo Espiritismo evangélico, a fim de que a mentalidade geral se aplique à luta da edificação própria, sem fetichismos e sem o apoio temporal de forças exteriores, mesmo porque se Jesus convocou ao seu coração magnânimo todos os que choram com o “vinde a mim, vós os que sofreis”, também asseverou “tomai a vossa cruz e segui-me!...”, esclarecendo a necessidade de experiências edificantes no círculo individual.
 
Resumindo, somos compelidos a concluir que, em Espiritismo, não basta crer. É preciso renovar-se. Não basta aprender as filosofias e as ciências do mundo, mas sentir e aplicar com o Cristo.
 
De “Relicário de Luz”, de Francisco Cândido Xavier

A Árvore do Tempo

a  árvore  do  tempo

Irmão X

 

Quando o Anjo da Morte cumpriu suas atribuições junto aos primeiros homens que habitavam a Terra, houve grande revolta entre os que eram separados da vestimenta material. O generoso missionário sentiu-se crivado de observações ingratas. No íntimo, as almas guardavam a certeza, relativamente às finalidades gloriosas de seus destinos. Todas haviam sido chamadas à existência para se elevarem ao Trono de Deus; entretanto, nenhuma se conformava com a própria situação.
Debalde o sábio mensageiro procurava lembrar o objetivo divino e esclarecer a excelência de sua cooperação. Os homens, porém, cobriam-no de impropérios, alegando os trabalhos incompletos que haviam deixado sobre a face do mundo. Uns recordavam as famílias ameaçadas sem a sua presença, outros comentavam as nobres intenções com que se atiravam na Terra aos serviços da evolução. E as lágrimas se confundiam com os gritos de desespero irremediável.
*
Acabrunhado pelos acontecimentos, o solícito missionário, como quem começa um serviço sem o conhecimento de toda a sua complexidade e extensão, suplicou ao Senhor o socorro de seu auxilio divino, de modo a fazer face à situação.
Foi por esse motivo que o Salvador veio al encontro da grande fileira de Espíritos infortunados, acercando-se de suas amarguras com a inesgotável generosidade e sabedoria de sempre.
*
_ Ah! Senhor _ exclamou um dos infelizes _ O Anjo da Morte nos reduziu à miserável condição de escravos sem esperanças. Sabemos que a nossa marcha se dirige ao Altíssimo; entretanto, fomos subtraídos ao laborioso esforço de preparação na Terra...
_ Existem, porém, outros planos à espera de vossas atividades _ esclareceu o interpelado com bondade carinhosa. _ O planeta terrestre não é o único santuário consagrado à vida. Além disso, o mensageiro da morte não é um tirano e sim um benfeitor que personifica a grande lei de renovação.
A essas palavras, todavia, a pequena turba avançou a reclamar lamentosamente, invocando as razões que a vinculavam ao mundo terreno.
_ Jamais me poderei separar dos filhos idolatrados _ dizia um velhinho de semblante inquieto _ não desejo marchar sem a afetuosa companhia deles! Não me submetais ao sacrifício insuportável da separação!
*
_ Meu esposo _ bradava uma pobre mulher _ clama por mim, dia e noite!... Meu estado de inquietação é angustioso!... Não creio que possa ser feliz, nem mesmo nas claridades do Paraíso!...
_ E minha fazenda? _ Ponderava ainda outro, em tom de súplica. _ Não permitais que meus trabalhos sejam interrompidos... Assim procedo, Senhor, em obediência ao dever de velar pelos patrimônios que me conferistes!...
_ Nunca julguei _ comentava um jovem, desesperadamente _ que o Anjo da Morte me roubasse o sonho do noivado, quase no instante de minha desejada ventura... Nada mais conservo em meus olhos, senão o derradeiro quadro de minha companheira a chorar... Não haverá compaixão no céu para uma aspiração justa e santa da Terra?...
*
Nesse instante, o Senhor entrou em grande meditação, mostrando triste o semblante. A pequena multidão continuou revelando o grau de seu desespero em rogativas dolorosas. Dando a entender pelo seu silêncio a importância e a complexidade das aquisições que os Espíritos  da Terra necessitavam realizar, prosseguiu por largo tempo em serenas reflexões e, quando se aquietou o ânimo geral, em forte expectativa, tomou a palavra na assembléia e falou solenemente:
_ Conheço a extensão das vossas necessidades, mas não disponho de tempo para velar pessoalmente pela solução dos vossos problemas particulares, mesmo porque não sois os meus únicos tutelados. Se pretendesse convencer-vos pela palavra, não sairíamos, talvez, dos círculos escuros da contendas e, se desejasse acompanhar-vos, individualmente, nas experiências indispensáveis, teria de me acorrentar aos fluidos da Terra por milênios, descurando de outros deveres sagrados confiados ao meu coração por Nosso Pai! Estarei convosco, por todos os séculos, ligado perenemente ao vosso amor, mas não posso estacionar à maneira de um homem. Tenho de agir e trabalhar por todos, sem o capricho de amar somente a alguns.
A presente situação, porém, será remediada. Dar-vos-ei, doravante, a árvore bendita do tempo.
 
 
Fonte: Livro “Doutrina E Aplicação”. - Psicografia Chico Xavier - Espíritos Diversos.
Digitado por: Maria Luiza da Silveira Chaves.

DEPRESSÕES

DEPRESSÕES

Emmanuel
 
Se trazes o Espírito agoniado por sensações de pessimismo e tristeza, concede ligeira pausa a ti mesmo, no capítulo das próprias aflições, a fim de raciocinar.
*
Se alguém te ofendeu, desculpa.
Se feriste alguém, reconsidera a própria atitude.
Contratempos do mundo estarão constantemente no mundo, onde estiveres.
Parentes difíceis repontam de todo núcleo familiar.
Trabalho é Lei do Universo
Disciplina é alicerce da educação.
Circunstâncias constrangedoras, assemelham-se a nuvens que aparecem no firmamento de qualquer clima.
Incompreensões com relação a caminhos e decisões que se adote são empeços e desafios, na experiência de quantos desejem equilíbrio e trabalho.
Agradar a todos, ao mesmo tempo, é realização impossível.
Separações e renovações representam imperativos inevitáveis do progresso espiritual.
Mudanças equivalem a tratamento da alma, para os ajustes e reajustes necessários à vida.
Conflitos íntimos atingem toda criatura que aspire a elevar-se.
Fracassos de hoje são lições para os acertos de amanhã.
Problemas enxameiam a existência de todos aqueles que não se acomodam com estagnação.
*
Compreendendo a realidade de toda pessoa que anseie por felicidade e paz, aperfeiçoamento e renovação, toda vez que sugestões de desânimo nos visitem a alma, retifiquemos em nós o que deva ser corrigido e abraçando o trabalho que a vida nos deu a realizar, prossigamos à frente.

Do Livro “Coragem”. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
 

NO DOMÍNIO DAS PROVAS

NO  DOMÍNIO  DAS  PROVAS

Emmanuel
 
 Imaginemos um pai que, a pretexto de amor, decidisse furtar um filho querido de toda relação com os revezes do mundo.
 Semelhante rebento de tal devoção afetiva seria mantido em sistema de exceção.
 Para evitar acidentes climáticos inevitáveis, descansaria exclusivamente na estufa, durante a fase de berço e, posto a cavaleiro, de perigos e vicissitudes, mal terminada a infância, encerrar-se ia numa cidadela inexpugnável, onde somente prevalecesse a ternura paterna, a empolgá-lo de mimos.
 Não freqüentaria qualquer educandário, a fim de não aturar professores austeros ou sofrer a influência de colegas que não lhe respirassem o mesmo nível; alfabetizado, assim, no reduto doméstico, apreciaria unicamente os assuntos e heróis de ficção que o genitor lhe escolhesse.
 Isolar-se-ia de todo o contacto humano para não arrostar problemas e desconheceria todo o noticiário ambiente para não recolher informações que lhe desfigurassem a suavidade interior.
 Candura inviolável e ignorância completa.
 Santa inocência e inaptidão absoluta.
 Chega, porém, o dia em que o genitor, naturalmente vinculado a interesses outros, se ausenta compulsoriamente do lar e, tangido pela necessidade, o moço é obrigado a entrar na corrente da vida comum.
 Homem feito, sofre o conflito da readaptação , que lhe rasga a carne e a alma, para que se lhe recupere o tempo perdido, e o filho acaba, enxergando insânia e crueldade onde o pai supunha cultivar preservação e carinho.
 A imagem ilustra claramente a necessidade da encarnação e da reencarnação do espírito nos mundos; inumeráveis da imensidade cósmica, de maneira a que se lhe apurem as qualidades e se lhe institua a responsabilidade na consciência.
 Dificuldades e lutas semelham materiais didáticos na escola ou andaimes na construção; amealhada a cultura, ou levantado o edifício, desaparecem uns e outros.
 Abençoemos, pois, as disciplinas e as provas com que a Infinita Sabedoria nos acrisolam as forças, enrijando-nos o caráter.
 Ingenuidade é predicado encantador na personalidade, mas se o trabalho não a transfigura em tesouro de experiência, laboriosamente adquirido, não passará de flor preciosa a confundir-se no pó da terra, ao primeiro golpe de vento.
(De “Coragem”, de Francisco Cândido Xavier – Espíritos Diversos)
 

ASSUNTO E TENTAÇÃO

ASSUNTO  E  TENTAÇÃO

Cornélio Pires

Deseja você saber,
Meu caro Joaquim Frazão,
De que maneira vencer
A força da tentação.
 
Quero crer que você pensa
Que a morte, em si, nos ajeita
Para viver entre os anjos
Em paz na vida perfeita.
 
No entanto, não é assim...
A pessoa unicamente
Prossegue desencarnada
Em dimensão diferente.
 
Aí começa o conflito
Em que ainda me concentro:
Por fora, é muita mudança
E nós, os mesmos por dentro.
 
Nesses instantes, a sós,
Contamos, na revisão,
O tempo que se perdeu
Nos dias de provação...
 
Quanta vitória às avessas
Entre sonhos em falência!...
 
Triunfo em nós e por nós
Exige, em linhas gerais,
A decisão de servir
Agüentando sempre mais.
 
A tentação me parece
Gênio mau em nosso peito,
Quer vantagem sem trabalho,
Quer desejo satisfeito.
 
Reclama prêmios em tudo,
Tem ânsias de dominar,
Quando está junto dos outros
Quer o primeiro lugar.
 
Não consegue perceber
Se fere ou se grita em vão,
Em lucro, posse ou poderão
Quer a parte do leão.
 
Em razão disso, meu caro,
Na tentação, não a tente;
Muito mais vale humilhar-se
Que agir desastradamente.
 
Se alguém lhe agita a cabeça
Mesmo estando quase louco,
Use calma e tolerância,
Silencie mais um pouco.
 
Se a questão é sentimento,
Fique firme no dever,
Domínio próprio é lição
Que nos compete aprender.
 
Injúrias, lutas, pedradas,
Dor que pareça sem fim?
Se você busca vencer,
Trabalhe e agüente, Joaquim.


Livro "Baú de Casos" - Psicografia de Francisco Cândido Xavier - Espírito Cornélio Pires

 

ADVERSÁRIOS "Jesus, por isso, pede, acima de tudo, esquecimento do mal e disposição sincera para o bem, com atitudes positivas de boa vontade, a fim de que os nossos adversários nos identifiquem, com mais clareza, as boas intenções..."

ADVERSÁRIOS

 

Emmanuel

 
Quando o Mestre nos recomendou amor aos inimigos, não nos induziu à genuflexão improdutiva à frente dos nossos adversários.
*
Ninguém precisa oscular o lodo escuro do pântano a fim de auxilia-lo.
*
Ninguém necessita introduzir um espinho no próprio coração, a pretexto de aniquilar-lhe a expressão dilacerante.
*
O Senhor pede entendimento.
*
Imaginemo-nos na posição dos nossos inimigos, gratuitos ou não, e observemos como seria a nossa conduta se estivéssemos em lugar deles.
*
Permanecerá o nosso adversário em nossa posição de madureza espiritual quando conseguirmos examina-lo com segurança moral?
Terá tido as mesmas oportunidades de que já dispomos para conhecer a verdade e semear o bem?
 
Guardaríamos o coração sem fel se nos demorássemos na posição onde se encontram, muitas vezes, dominados pela ignorância ou pelo desespero:
 
Assumiríamos conduta diferente daquela que lhes assinala as atividades, se fôssemos constrangidos a atravessar a zona empedrada em que jornadeiam?
*
Dificilmente chegaríamos a conclusões afirmativas.
*
Jesus, por isso, pede, acima de tudo, esquecimento do mal e disposição sincera para o bem, com atitudes positivas de boa vontade, a fim de que os nossos adversários nos identifiquem, com mais clareza, as boas intenções.
*
Recebemos o inimigo como instrutor e auxiliá-lo-emos a dilatar a visão que lhe é própria.
*
A compreensão é a raiz da verdadeira fraternidade.
 
*
Aprendamos, assim, a perceber a luz onde a luz se encontra, a fim de que nos armemos contra o poderio das trevas em nosso coração.
*
A boa vontade realiza milagres em nossa vida, se estamos realmente dispostos a caminhar para os cimos da vida.
*
Lembremo-nos de que Jesus, até hoje, está trabalhando no auxílio aos inimigos e o único caminho por Ele escolhido para esse apostolado de amor, é o caminho do sentimento, porque só aquele que sabe conquistar o coração dos adversários pela cooperação e pela boa vontade pode, efetivamente, inflamar-se ao Sol do Amor Eterno, com a vitória sobre si mesmo, na subida espinhosa e santificante para a Glória Imortal.
 
Da Obra “A Verdade Responde” – Espíritos: Emmanuel E André Luiz – Médium: Francisco Cândido Xavier
Digitado por: Lúcia Aydir
 
 

O Mancebo Rico

O momento era de profunda significação. Sabia, por estranha intuição, que um dia defrontaria a Realidade, e a encontrava agora (*).
     No ar abafado do entardecer serenavam as ânsias da Natureza.
     Doces perfumes evolavam de miúdas flores derramadas nos flancos do aclive. As águas transparentes cantavam melodias ignotas, deslizando sobre o leito de pedras arredondadas.
     O apelo pairava vibrando em derredor: - “Vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres, e terás um tesouro no céu; vem, e segue-me”.
     Aquela voz penetrava como um punhal afiado e impregnava qual perfume de nardo.
     Havia um magnetismo inconfundível naqueles olhos severos e profundos como duas estrelas engastadas na face pálida do amanhecer.
     Tinha sede de paz.
     Embora repousasse em leito de madeiras preciosas incrustado de ébano e lápis-lazúli, se banqueteasse em repastos opíparos, cuidasse do corpo com massagens de óleos e ungüentos raros, envolvendo-o em tecidos de linho leve, e suas arcas estivessem abarrotadas de gemas e ouro, sabia-se infeliz, sentia-se infeliz. Faltava-lhe algo que não se consegue facilmente.
     Hesitava, no entanto.
     Sua vivenda era luxuosa, seus pertences valiosos e vazio o seu coração.
     Conquanto a juventude cantasse alegrias e festas em convites constantes ao prazer no corpo ágil e vigoroso, acalentava melhores aspirações, se disputava a posse total da paz. Era mais do que um tormento essa necessidade. Não que desejasse a tranqüilidade aparatosa dos fariseus ou o repouso entorpecente dos mercadores opulentos, nem a serenidade enganosa dos cambistas abastecidos ou a senectude vitoriosa dos conquistadores em aposentadoria compulsória. Buscava integração harmoniosa, mas não sabia em quê.
     Confragia-se e angustiava-se,  ignorando as nascentes da melancolia renitente que lhe dissipava sonhos e esperanças sob guante de inenarrável amargura.
     Buscava as competições em Cesaréia, todavia ignorava se essa busca representava uma realização ou fuga.
     Agora, pela primeira vez, sentia-se arrebatado.
     A meiguice e a ordem daquela voz, enunciada por aquele Homem, ecoavam como cascatas em desalinho nos abismos do espírito.
     Interiormente gritava: “Irei contigo, Senhor, mas...”
     Hesitava, sim, e a hora não comportava dubiedades.
     Uma roseira de flores rubras, que abraçava os ramos do arvoredo próximo, sacudida pelo vento, desgarrou-se e as pétalas da cor de sangue caíram-lhe aos pés, junto dEle, no alpendre, como sinais...
     Donde O conhecia? – indagava, a medo , procurando recordar-se, com indizível esforço mental.
     Tudo àquela hora era importante; mais do que isso: vital!
     Ao vê-Lo, de longe, era como se reencontrasse um amigo, um Celeste Amigo.
     Quando os seus descansaram nos olhos d’Ele, sentiu-se desnudado, o coração em descontrole sob violenta pulsação. Emoções inusitadas vibravam no seu ser, como jamais acontecera anteriormente. Desejou arrojar-se ao solo, esmagado por indômita constrição no peito.
     Percebeu que o Estranho sorriu, como se o esperasse, como se o amasse, poderia afirmá-lo...
     O tempo corria célere galopante as horas fugidias.
     Seus lábios se afiguravam selados, e frio impertinente gelava-lhe as mãos.
     Lutava por quebrar aquele torpor que o imobilizava.
     Retalhos de luar tímido prateavam nuvens soltas no firmamento, bordando de luz oliveiras altivas e loendros em flor.
     – Permite-me primeiro – conseguiu articular, vencendo a emoção que o transfigurava – competir em Cesaréia, logo mais, disputando para Israel os triunfos dos jogos...
     – Não posso esperar. O Reino dos Céus começa hoje e agora para o teu espírito. Não há tempo a perder.
     – Aguardei muito essa ocasião e ela se avizinha, com a chegada do período das competições... Exercitei-me, contratei escravos que me adestraram... aos partos comprei, por uma fortuna, duas parelhas de fogosos  cavalos... os jogos estão próximos...
     – Renuncia, e segue-me!
     Quem era Ele, que assim lhe falava? Que poder exercia sobre sua vontade?!  Por qual sortilégio o dominava?!... Gostaria de fugi ou deixar-se arrastar;  estava perturbado; ignorada sofreguidão o aniquilava...
     A horizontalidade das aflições humanas contemplava a verticalidade da sublimação divina; o cotidiano deparava com o infinito; o vale fitava o abismo das alturas e se perdia na imensidão.
     O homem e o Filho do Homem se defrontavam.
     O diálogo parecia impossível, reduzindo-se a um monólogo atormentante para o moço diante daquele Homem.
     Vencendo irresistível temor, continuou o príncipe afortunado:
     –  Não receio dar o que possuo: dinheiro, ouro, gemas, títulos, se possível, pois sei que estes se gastam mui facilmente, mas...
     –  ...Dá-me a ti próprio e eu te oferecerei a ventura sem limite.
     Que alto prêmio! Que pesado tributo! – pensou desanimado.
     Era muito jovem e muitos confiavam nele. Possivelmente Israel lucraria com os seus lauréis e triunfos. Príncipe,  tinha pela frente as avenidas do poder a que se afervorara, poder que no momento se destituía de qualquer valor.
     Os bens, poderia ofertá-los, sim. Porém a fortuna da juventude, os tesouros vibrantes da vaidade atendida e dos caprichos sustentados, as honras de família resguardadas pela tradição, os corifeus agradáveis e bajuladores, oh! seria necessário renunciar-se a isso tudo? – interrogava-se, inquieto.
     – Sim! – Respondeu-lhe, sem palavras, com os olhos fulgurantes.
     Sofria naqueles minutos a soma dos sofrimentos que experimentara a vida toda.
     O ar cantava leves murmúrios enquanto as tulipas do campo teciam um manto sutil, rescendendo aromas.
     O Rabi, em silencio, aguardava. E ele, em perplexidade, lancinava-se.
     O diálogo tornara-se realmente impossível.
     Subitamente, o príncipe de qualidade, num átimo de minuto, lembrou-se que amigos o aguardavam na cidade. Compromissos esperavam-no. Deveria debater os detalhes finais para a corrida na grande festa da semana entrante.
     Acionado por estranho vigor, que dele se apossou repentinamente, fitou o Messias sereno e triste, balbuciando com voz apagada:
     E saiu quase a correr.
***

     Sopravam os ventos frios que chegavam de longe, musicados pelo bulício das estrelas balouçantes.
     A terra estuava sob a gramínea orvalhada.
    O Mestre sentou-se e se encheu de profundo sofrimento.
     Era assim, sempre assim que Ele ficava após a deserção dos convidados ao Banquete da Luz. A expressão de mansuetude e perdão que lhe brilhava nos olhos mergulhava em lágrimas, agasalhada em leves tons de amargura.
     Assim O encontraram os discípulos. Interrogado, respondeu:
     –  “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas”!
***

     Uma semana depois Cesaréia era a capital do ócio, do prazer.
     Situada ao norte da planície de Sarom e a 30 quilômetros ao sul do Monte Carnelo, foi embelezada por Herodes que, no local, mandou erguer grande porto de mar, caracterizado por colossal quebra-mar enriquecendo-a com imponente Templo onde se levantava descomunal estátua do imperador.
     Esse porto valioso sobre o Mediterrâneo era importante escoadouro de Israel e porta de entrada marítima onde atracavam embarcações de toda parte.
     As vilas ajardinadas debruçavam-se sobre as encostas pardacentas da cidade, exibindo estilos arquitetônicos variados.
     Pelo seu clima agradável, tornara-se residência oficial dos procuradores romanos, em Israel.
     Tamareiras onduladas pelo vento adornavam as ruas e odores exóticos misturavam-se no ar varrido pela maresia.
     Os festins de Cesáreia pretendiam rivalizar com os de Roma, atraindo aficionados até mesmo da Metrópole longínqua.
     Ao som alegre de trompas e fanfarras começavam as festas públicas.
     Competições de bigas abrem as corridas ante a aflição de judeus, romanos e gentios que deixaram sobre as mesas dos cambistas pesadas apostas nos seus ases.
     Gladiadores em combates simulados, tocadores de pífanos e flautas, alaúdes e címbalos, enchem os intervalos de som e cor.
     As quadrigas estão na linha de partida. Os fogosos corcéis, adquiridos aos partos, oriundos da Dalmácia, de Tiro, Sidon e da Arábia, empinam, lustrosos, ajaezados. Ao sinal disparam, sob estrondosa ovação.
     Chicotes vibram no ar, mãos firmes nas rédeas, os guias e condutores dão velocidade aos carros frágeis. A celeridade prende a respiração em todos os peitos.
     Numa manobra menos feliz, um carro vira e um corpo tomba na arena, despedaçado pelas patas velozes, em disparada.
     O moço rico sente as entranhas abertas, o suor e o sangue em pastas de lama, a respiração estertorada...
     Enquanto escravos precípites arrastam-no na pista, foge mentalmente à cena brutal que o esmaga, e entre as névoas que lhe sombreiam os olhos parece vê-LO.
     Silenciando os gritos na concha acústica tem a impressão de escutá-lo.
     –  Renuncia a ti mesmo, vem, e segue-ME.
     –  Amigo!...
     Dois braços o envolvem veludosos e transparentes.
     Apesar da face deformada e lavada pelas lágrimas, o suor e o sangue, ele dá a impressão de sorrir.
Pelo Espírito de Amélia Rodrigues – Primícias do Reino
(*) Mat. 19: 16 a 30
     Mar. 10: 17 a 31
     Luc.  18: 18 a 30
     (Nota da Autora espiritual)