"Porfiai
em entrar pela porta estreita." (Lucas, 13:24)
Um
exemplo empolgante de perseverança e luta persistente em favor de um
ideal nos é oferecido por Paulo de Tarso, o valoroso paladino das verdades
cristãs, que levou as palavras do Evangelho ao seio de muitos povos da
sua época.
Em
sua segunda epístola aos Coríntios, o grande apóstolo narra
as suas vicissitudes da seguinte forma:
"Recebi
dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um. "Três vezes
fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri
naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo.
"Em
viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos
da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade,
em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos.
"Em
trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum
muitas vezes, em frio e nudez."
Somente
os que são norteados por um idealismo sadio e por uma fé viva
podem suportar, com estoicismo, os sofrimentos dessa natureza, sem que ocorra
qualquer esmorecimento.
A
visão da Estrada de Damasco deu a Paulo de Tarso o dinamismo necessário
para levar avante a sua missão, uma vez que poucos são os homens
que se revestem da couraça da fé para realizar uma tarefa redentora.
Muitos ficam à margem do caminho ou preferem se demorar na estagnação
ou obstado pelo apego ao comodismo ou à observância de vãs
tradições.
À
certa altura da mesma epístola, o Apóstolo dos Gentios proclamou:
"E, para que me não exaltasse pelas excelências das revelações,
foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para
me esbofetear, a fim de me não exaltar. Acerca de qual três vezes
orei ao Senhor para que se desviasse de mim".
Isso
significa que a ação do apóstolo importunou os inimigos
da luz e estes investiram violentamente contra ele, fazendo com que, além
de sofrer as investidas de muitos homens empedernidos de sua época, sofresse
também os obstáculos impostos pela ação de Espíritos
trevosos, interessados na manutenção de um status fundamentado
sobre o império das trevas.
Para
se vencer na luta é imperioso que sejamos norteados por uma disposição
inquebrantável, sem a preocupação com as quedas e as adversidades
que possam surgir.
A
perseverança deverá presidir a nossa ação, quer
estejamos propugnando pela implantação de um ideal nobre, cuja
vitória implicará o advento de relevantes benefícios para
a Humanidade, em cujo caso enquadramos a missão desenvolvida por Paulo
de Tarso,
quer estejamos empenhados numa luta pelo nosso próprio aprimoramento
e cujos únicos bneficiários seremos nós mesmos.
Quando
Jesus Cristo proclamou que "aqueles que perseverassem até o fim
seriam salvos", quis dizer que, qualquer que seja a tarefa que estejamos
desenvolvendo, não devemos jamais permanecer estacionários à
margem do caminho, mas devemos emprestar dinamismo e persistência na luta
que travamos até que surja a vitória final.
Os
Evangelhos registram vários ensinamentos importância da perseverança.
Quando
Jesus Cristo foi procurado pela Mulher Cananéia, a princípio não
atendeu a sua rogativa, afirmando que havia sido enviado tão-somente
às ovelhas desgarradas da Casa de Israel, entretanto a mulher persistiu,
seguiu-o, clamou, suplicou, acabando por merecer do Mestre a tão almejada
cura para a sua filha.
Maria
Madalena, após defrontar-se com o Mestre, optou por uma persistente batalha
em favor da sua reforma interior, perseverando na luta íntima e conseguindo
colimar apoteótica vitória sobre os vícios que a atormentavam,
merecendo por isso o prêmio de ser a primeira pessoa a ser visitada pelo
Espírito de Jesus, logo após o episódio da crucificação.
O Mestre havia sentido que Maria fora a mulher que havia travado e vencido uma
das mais gigantescas lutas contra o império do mal.
O
publicano Zaqueu alimentava o propósito de dialogar com Jesus e perseverou
até o fim, chegando mesmo a subir numa figueira, onde recebeu o convite
generoso do Mestre para o tão almejado diálogo, no qual, após
se predispor a distribuir metade da sua fortuna com os pobres, mereceu as célebres
palavras proferidas pelo Senhor:
"Zaqueu,
hoje entrou a salvação em tua casa".
João
Batista, o precursor de Jesus, perseverou na ingente tarefa a que se havia proposto,
combatendo o erro e ensinando como evitá-lo, chegando por isso mesmo
a enfrentar o ódio de Herodes. Ele só pôs um paradeiro em
sua luta quando, após enviar dois dos seus emissários a Jesus,
certificou-se de que ali estava realmente o Messias prometido, o que significava
que a sua missão estava cumprida.
Existe,
no entanto, a perseverança na prática do mal, a qual tem conseqüências
danosas e imprevisíveis.
Judas
Escariotes dispôs-se a trair o Mestre, recebendo em troca trinta moedas
de prata. Na última ceia teve uma autêntica advertência e
uma oportunidade ímpar de voltar atrás. Mas a persistência
no erro fez com que realizasse o seu intento, o que redundou em seu próprio
suicídio e obviamente em longos séculos de sofrimentos espirituais.
Os
escribas e fariseus tiveram a demonstração mais viva de que Jesus
Cristo era o tão aguardado Messias, no entanto, preferiram perseverar
na cegueira e na incompreensão, não encerrando a perseguição
enquanto não viram o Mestre suspenso no madeiro infamante.
Devemos,
pois, perseverar até o fim, mas sempre no caminho do bem, na senda da
reforma interior, na luta em favor do aprimoramento espiritual da Humanidade.
Paulo
A. Godoy