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sexta-feira, 28 de maio de 2021

DIMAS : ARREPENDIMENTO E RECUPERAÇÃO
















Dimas: Arrependimento e Recuperação

Aqueles terríveis dias anunciados se concretizavam.

A semana, que se iniciara festiva entre cânticos e júbilos, culminava em tragédia de hediondez.

Fazia pouco, e a sinistra caravana atravessara as ruelas estreitas de Jerusalém até alcançar o Gólgota, fora dos muros da cidade.

O madeiro tosco já se encontravam aguardando as vítimas.

A crucificação era prerrogativa de Roma, que punia com crueza os inimigos de César e do Estado.

As tricas infames e as intrigas soezes levaram o Justo a uma triste peregrinação entre Anás, Caifás e Pilatos, num enredo político-religioso que a embriaguez farisaica, amparada pelos interesses subalternos do representante do Imperador que - embora a inteireza moral do Réu - cedeu às pressões hábeis da indignidade mal disfarçada, entregando-os aos Seus inimigos.

Ele não reagia de forma alguma, como se guardasse o veredicto já adrede tomado.

Imposto no cárcere após a humilhação pública no Pretório, no dia seguinte, ao Sol ardente e entre sarcasmos e doestos dos perseguidores gratuitos, Ele carregara a Cruz, tropeçando várias vezes sob o peso do madeiro da vergonha.

Agora, a música lúgubre das marteladas empurrando os cravos enferrujados que lhe rasgavam as carnes, os tendões e ossos, provocando dores acerbas, ficaria ribombando surdamente nos ouvidos das testemunhas...

Dois ladrões faziam-lhe companhia, como a caracterizá-lo na mesma condição de bandido, Ele que era a demonstração viva da Verdade.

Ao ser erguida a cruz e colocada na cova, calçada com pedras informes, o corpo derreou no poste e as farpas pontiagudas cravaram-se-lhe nas carnes e nos músculos relaxados uns e tensos outros, após longas horas de aflição...

Um gemido dorido escapou-lhe dos lábios arroxeados, e a coroa de cardos mais se lhe cravou na cabeça empastada de suor e de sangue.

Os vândalos, que zombavam, foram acometidos por estranho presságios, enquanto que a Natureza se enlutava e vestia-se da tormenta que arrebentou com violência, causando espanto e temor.

A terra exausto do calor refrescou-se e o céu voltou à transparência anterior.

As pessoas contemplavam a cena hedionda, quando Ele disse estar com sede em um grito rouco, para que cumprisse todas as Profecias.

Deram-lhe uma esponja mergulhada em fel e aloés, presa na ponta de uma lança, que foi encostada aos Seus lábios rachado, sangrentos...

Disfarçado na turbamulta, para não se identificado, Tiago, que era Seus discípulo, acompanhava com lágrimas o trágico acontecimento e se interrogava em silêncio:

Onde o carinho de Deus para com Seu Filho? 

Não era Ele o Messias? 

Assim retribuía às atividades de amor, que Ele realizara na Terra?

Tiago não podia entender, nas suas reflexões racionais, os desígnios de Deus, pensando conforme os padrões convencionais.

Nesse comenos, olhou em derredor, procurando um rosto conhecido, de alguém que o aplaudira em dias passados, quando da entrada triunfal em Jerusalém. Não havia ninguém.

Nem sequer um dos que lhe receberam a cura, as dádivas da Sua compaixão e misericórdia.

Ninguém que houvesse acompanhado. Nem os amigos de ministério se faziam presentes, à exceção de João, que abraçava a Sua mãe, ao lado de outras mulheres, trêmulas e receosas.

Tiago não pode dominar a aflição que o tomou por inteiro e pôs-se a chorar convulsivamente.

O Mestre olhou-o compassivo, e murmurou ternas palavras nos ouvidos do seu coração.

No mesmo instante, Dimas, o ladrão que estorcegava ao Seu lado direito, procurou identificar no grupo exótico que se movimentava aos pés das cruzes, além de conhecido, e os seus olhos se cruzaram com os de sua mãe Tamar.

Pelas reminiscências, a memória evocou-lhe a infância e a adolescência na orfandade paterna bem como os sacrifícios daquela mulher extraordinária.

Foi na juventude que se iniciara na rapina, unindo-se a outros desordeiros e atirando-se aos abismos do crime.

O instinto de mãe havia percebido a mudança do filho e advertira mil vezes, sem que ele se resolvesse por qualquer mudança real, embora não lhe confirmasse as suspeitas.

Quando se tornou notória a sua infeliz conduta, ele lhe prometera e à noiva Esther, que aquela seria a última viagem às terras fabulosas do além- Jordão, para poder oferecer-lhes a segurança de um lar honrado após consorciar-se e construir a família.

De tal maneira elaborou e apresentou o plano da viagem, que as duas mulheres acreditaram...

... Agora, surpreendido pelos soldados que o haviam emboscado no desfiladeiro por onde passavam as caravanas que ele e Giestas pretendiam assaltar, foram aprisionados e ali estavam punidos.

A mãe aflita chorava, interrogando com dorido silêncio:

- Por quê, meu filho? Em que errei a tua educação?!

Afogada em lágrimas esteve a ponto de cair, quando foi amparada pela jovem companheira, Esther, a noiva inditosa.

Dimas desejou gritar, estremunhado e louco, no justo momento em que o Mestre o fitou com suavidade.

Tomado de honesto arrependimento pelas alucinações praticadas, exorou, em agonia e fé:

- Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no paraíso.

Havia sinceridade e unção.

O arrependimento chegava-lhe na hora extrema. Reconhecia os erros e desejava reabilitação, anelava por confortar a mãezinha agônica e a noiva humilhada, mas era tarde.

Debatia-se na agonia, quando o Rabi, empapado do suor de sangue misturado ao pó, com chagas abertas como flores rubras de bordas rasgadas, lhe respondeu, misericordioso:

- Em verdade, em verdade, te digo hoje: entrarás comigo no paraíso...

Uma aragem fresca e suave passou pela alma do bandido.

Acompanhando a cena grandiloqüente, a Sua mãe percebeu a outra mulher quase desfalecida. Acercou-se-lhe com passo trôpego e interrogou-a com voz trêmula:

- É teu filho, o crucificado da direita?

- Sim, é meu filho...

- Então, mulher, se meu filho, o do meio, disse ao teu filho, que o atenderia, crê, porque meu filho é o Excelente Filho de Deus, o Seu Messias.

As duas mulheres se abraçaram, e novamente a terra tremeu, a tormenta voltou, e entre o ribombar dos trovões e o balé do relâmpago que cortava ziguezagueante as nuvens carregadas, Ele gritou:

- Está tudo consumado!
*
A Humanidade infeliz, vítima da ignomínia, tentou silenciar a Verdade que viera libertá-la, método infame utilizado pela covardia para retardar o próprio progresso.

Sempre porém, haverá oportunidade para o homem arrepender-se e recomeçar. Dimas era a última lição de arrependimento e de recuperação.
____________
(*) Lucas: 23-42.
Nota da Autora Espiritual
Do Livro : Até o Fim dos Tempos- Divaldo/Amélia Rodrigues.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

SIMÃO, O CIRINEU


Nenhuma voz que se erguesse para defendê-lO.

Pessoa alguma que se resolvesse falar a Seu favor.

Todos os verbos estavam calados, e o silêncio era a resposta da frágil gratidão humana Àquele que não titubeava entregar-se em holocausto de amor.

Tudo se realizava como se fosse uma patética entoando as tristes notas de uma mensagem fúnebre.

O medo aparvalhava os amigos e a palidez da covardia moral cobria os rostos dos beneficiados, a distância, com a mortalha da injustificação.

Não obstante as arbitrariedades da Lei, Israel mantinha no seu estatuto que qualquer pessoa podia levantar a voz a favor de um condenado. Isto bastaria para revisar o processo, concedendo outra oportunidade ao réu, embora já estivesse julgado. ..

Com Ele a acorrência se fazia diferente.

Cinco dias apenas eram transcorridos do sucesso que obtivera na Idade regorgitante que O exaltara, dizendo-O o Messias, o Esperado! naquela ocasião todos comentavam publicamente os Seus feitos, enquanto ofereciam tóxico para que os ódios fermentassem, culminando na tragédia que ora se consumava.
Curtos são os sentimentos da gratidão humana e breve o caminho dos que dizem amar. . .

Ele não enganara a ninguém, porquanto sempre se reportava a um reino que não era deste mundo.

Apesar disso, esparzira a ternura e a misericórdia como um Sol generoso aquecendo o pantanal e o transformando em campo fértil.

Agora se encontrava só. . . A sós, com Deus como, aliás, sempre estivera.

Tantos se haviam beneficiado, inobstante permaneciam silentes, distantes. ..

A estranha procissão percorreu a distância inferior a quinhentos metros, atravessou a porta Judiciária, e a silhueta do monte sombrio se desenhou entre o fulgor do dia em plenitude e o fundo azul abrazado da Natureza. ..

Abril já é período de seca, de calor, de sol intenso.. . A terra se torna de cor ocre, morrem as anémonas e os tons de chumbo substituem o verdor que embeleza.

Àquela hora, mais ou menos às onze, a atmosfera carregada alcançava índices de cansaço que desagradavam, abafados. . .

De semblantes sinistros, com varapaus, os membros da peregrinação torturam o Justo, agridem-nO com acrimônia, mordacidade e zombaria.

Sempre se fará assim com aqueles que se elevam acima da craveira da banalidade, com os que se erguem nas grimpas dos ideais de enobrecimento da Humanidade.

Ele viera para isto, para ensinar cada homem a carregar sua cruz conforme o fazia, sem queixas nem murmurações.
Cirenaica, o antigo reino, fora colonizado pelos gregos, que fundaram Cirene. Posteriormente, sob a dinastia que tivera origem com Bato, de Tera, progrediu, nascendo outras cidades. Depois da desencarnação de Alexandre, o Grande, caiu em mãos dos Ptolomeus que passaram a chamá-la Pentápolis, em razão das cinco cidades que a formavam: Arsinoé, Berenice, Ptolomaide, Apolônia e Cirene.

No ano 67 a. C, passou à Província romana. São de Cirene: Aristipo, Calímaco, Eratóstenes...

Cirene, sua capital, passaria à narração evangélica graças a Simão, ali nascido, judeu de família grega que se encontrava acompanhando a sinistra procissão pelas vias estreitas de Jerusalém, naquele dia.

Aquele homem de olhar triste fascinou-o.

A pesada cruz, com quase setenta quilos, a dilacerar os ombros e as mãos do condenado, que cambaleia, comove-o.

A noite de vigília demorada, as viagens entre Anaz e Caifaz, o Pretório exauriram o Filho de Deus.

O centurião fustigava o preso, a fim de que não desfalecesse. A penalidade deveria ser cumprida.

Enfurecido, experimenta o soldado um misto de piedade e dever, ferido pelo amor do prisioneiro pacífico e escravo, serviçal pela paixão a César. No tormento que o vence, deseja diminuir a carga que ameaça esmagá-l0. Perpassa o olhar injetado pelas filas de mudos espectadores e chama o homem de Cirene.

O convocado não reage. Parece até que se rejubila interiormente. Submisso curva-se, oferece o ombro e auxilia o estranho.

A cruz se ergue mais leve. Jesus dirige-lhe um olhar de profundo amor.

Lampeja um lucilar de ternura e de gratidão que penetra o benfeitor inesperado e fá-lo tremer de emoção desconhecida.. .

Pai de dois jovens, Rufo e Alexandre, pensa nos filhos e apiada-se dos pais do condenado, umedecendo os olhos.

Estranha voz balbucia no seu coração uma cantilena de esperança. ..
Tem a impressão de que o Homem lhe devassa o pensamento e responde às inquirições que lhe brotam nalma, espontâneas.

As lágrimas se misturam ao suor que molha o rosto queimado, coberto de pó.

Viera do campo, sendo surpreendido pela alucinação da intolerância e do ódio.

Claro, que ouvira falar de Jesus. Conhecia-O, admirava-O à distância. Agora, porém, O amava.

O amor é um sentimento veloz. Toma do coração e reina absoluto. Dar-lhe-ia a vida se fosse necessário — pensou.

Nesse momento, a comitiva torva chegava ao topo do monte. O crime deveria ser consumado antes do cair do dia, quando se iniciava o sábado, reservado ao repouso, ao esconder-se o Sol. . .
Viu-0 ser preso ao madeiro.

A patética do martelo nos pregos repercutiria nos seus ouvidos por muito tempo. ..

O som metálico e as contrações musculares do Submisso dilaceraram-no, também. Os semblantes suarentos dos crucificadores e os olhares de lince, a agonia e o sangue a fluir abundante, eram a moldura vergonhosa que contrastava com a nobre serenidade dEle.

Quando as cordas O arrastaram nas traves, Ele oscilou no ar. O corpo arriou, rasgado. A linha vertical tombou no fundo da grota calcada por pedras que a impediam de cair. Culminava a injustiça criminosa dos homens que se arrastariam por milênios futuros, tentando repará-la.

Permitiu-se ficar a contemplá-lO...

Percebeu as mulheres que choravam e participou, intimamente, daquela dor honesta e corajosa.

Era, sim, o estoicismo feminino que se Lhe fazia solidário, quando todos O abandonaram. . .

Quedou-se ali, petrificado, a meditar até o Seu último hausto.

Jamais O esqueceria.

Volveu ao lar e penetrou-se do Espírito de Jesus.

Buscou mais tarde os Seus discípulos, ouviu-lhes as narrativas tardias e luminosas, passando a seguí-los e fazendo que seus filhos se convertessem àquele incomparável amor. . .

Simão, o cireneu, é o testemunho da solidariedade que o mundo nos solicita até hoje.

Símbolo e ação de bondade, imortaliza-se e liberta-se da timidez, da escravidão a que se jugula crescendo no rumo do Infinito.

Quinhentos metros eram a distância a percorrer entre o local do julgamento arbitrário e o acume do monte da Caveira. . .

Em curta distância, a impiedade e a zombaria são grandes. Também o testemunho da solidariedade fraternal fez-se enorme.

Todos encontraremos pelo caminho da aflição os cireneus em nome e honra de Jesus. A nosso turno devemos tornar-nos novos homens de Cirene a ajudar os que passam sobrecarregados aguardando, esperando socorro.
Amélia Rodrigues
Livro: Quando voltar a Primavera-Divaldo