Comentário de Miramez
Sexo, como se pensa ainda, é para corpos inferiores, servindo ao Espírito
nas mesmas condições. O Espírito, na medida da sua elevação espiritual,
vai abandonando todos os instintos inferiores e, quando não os abandona
compreende o modo pelo qual deve usá-los. Uma faca tem uma missão muito
importante nas mãos hábeis de um açougueiro; no entanto, quando portada
por uma criatura ignorante, pode provocar desastres inúmeros. Assim o
avião, a bomba, o carro etc.... O homem sem educação espiritual distorce
as suas próprias possibilidades de elevar-se, às vezes, com o seu próprio
corpo.
Precisamos estudar mais, e a quem deseja se instruir, sempre apresentam em
seu caminho os meios. No mundo espiritual, continuamos a estudar todos os
assuntos, porém, a diferença é que as anotações espirituais são sinceras,
e nunca nascem de interesses mesquinhos. Não vivemos à procura de ouro nem
de prata para nos sustentar, nem vestir. O único dinheiro em nosso plano é
o ouro do amor; esse é o alimento da alma em todas as faixas das nossas
necessidades. Por isso que Jesus nos disse: eu Sou o caminho, a verdade e
a vida. Ele nos ensinou a viver na Terra, dando início à vida espiritual.
De outra feita afirmou: Eu sou o pão que desceu do céu, e frente à
Samaritana afirmou: Se beberes da água que Eu te der, nunca mais terás
sede.
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Conversas familiares de além-túmulo - Sra. Ida Pfeiffer, célebre viajante
(SOCIEDADE, 7 DE SETEMBRO DE 1859)
O relato seguinte foi extraído da Segunda Viagem ao Redor do Mundo, da Sra. Ida Pfeiffer, pág. 345:
“Já
que vou falar de coisas muito estranhas, é preciso mencionar um
acontecimento enigmático, passado em Java, há alguns anos, e que causou
tal sensação que chegou a chamar a atenção do governo.
“Na
residência de Chéribon havia uma casinha, na qual, segundo dizia o
povo, apareciam Espíritos. Ao cair da noite, chovia pedras no quarto,
vindas de todas as direções e por todos os lados cuspiam siri. Tanto
as pedras quanto as cusparadas caiam junto às pessoas que estavam no
aposento, mas nem as atingiam, nem as feriam. Parece que tudo isso era
dirigido particularmente contra uma criança. Tanto se falou desse caso
inexplicável que o governador holandês encarregou um oficial superior de
sua confiança de examiná-lo.
O
oficial determinou que se postassem em torno da casa homens sérios e
fiéis, com ordem de vedar a entrada e a saída de quem quer que fosse.
Examinou tudo, escrupulosamente e, tomando em seu colo a criança
designada, sentou-se na sala fatal. Ao anoitecer começou, como de
costume, a chuva de pedras e de siri. Tudo caía perto do
oficial e do menino, sem atingi-los. Novamente examinaram cada recanto,
cada buraco. Nada, porém, foi descoberto. O oficial não podia
compreender. Mandou juntar as pedras, marcá-las e escondê-las num
recanto bem afastado. Foi tudo em vão. As mesmas pedras caíram novamente
na sala, à mesma hora.
“Por fim, e para pôr termo a essa história inconcebível, o governador mandou demolir a casa”.
A
pessoa que colheu este fato em 1853 era uma senhora realmente superior,
menos por sua instrução e por seu talento do que pela incrível energia
de seu caráter. Além dessa ardente curiosidade e dessa coragem indômita,
que a tornaram a mais admirável viajante que jamais existiu, a Sra.
Pfeiffer nada tinha de excêntrico. Era uma senhora de uma piedade suave e
esclarecida e que provou muitas vezes estar longe de ser supersticiosa.
Tinha como lei só contar aquilo que ela mesma tivesse visto, ou captado
em fonte insupeita. (Veja-se a Revue de Paris, de 1º de setembro de 1856 e o Dictionnaire des Contemporains, de Vapereau).
1. ─ Evocação da Sra. Pfeiffer.
─ Aqui estou.
2. ─ Estais surpresa pelo nosso chamado e por vos encontrardes entre nós?
─ Estou surpresa com a rapidez da minha viagem.
3. ─ Como fostes prevenida de que desejávamos falar-vos?
─ Fui trazida aqui sem o perceber.
4. ─ Entretanto deveríeis ter recebido um aviso qualquer.
─ Um arrastamento irresistível.
5. ─ Onde estáveis quando do nosso chamado?
─ Junto a um Espírito que tenho a missão de guiar.
6. ─ Tivestes consciência dos lugares que atravessáveis para vir até aqui, ou aqui vos encontrastes subitamente, sem transição?
─ Subitamente.
7. ─ Sois feliz como Espírito?
─ Sim. Não se pode ser mais feliz.
8. ─ De onde vinha o vosso pronunciado gosto pelas viagens?
─
Eu havia sido marinheiro numa vida precedente. O gosto adquirido pelas
viagens naquela existência refletiu-se nesta, a despeito do sexo que eu
havia escolhido para me subtrair a isso.
9. ─ As viagens contribuíram para o vossa progresso como Espírito?
─
Sim, porque eu as fiz com espírito de observação, que me faltou na
existência anterior, em que não me ocupei senão do comércio e das coisas
materiais. Eis porque supunha que pudesse progredir mais numa vida
sedentária. Mas Deus, tão bom e tão sábio em seus desígnios para nós
impenetráveis, permitiu que eu utilizasse as minhas inclinações em favor
do progresso que eu solicitava.
10.
─ Das nações que visitastes, qual a que vos pareceu mais adiantada e
qual preferis? Não dissestes em vida que colocáveis certas tribos da
Oceania acima das mais civilizadas nações?
─ Era uma ideia errada. Hoje prefiro a França, porque compreendo sua missão e prevejo o seu destino.
11. ─ Que destino prevedes para a França?
─ Não vos posso dizer o seu destino, mas sua missão é de semear o progresso e as luzes e, portanto, o Verdadeiro Espiritismo.
12. ─ Em que vos pareciam os selvagens da Oceania mais adiantados que os americanos?
─ Eu via neles, abstraídos os vícios do estado selvagem, qualidades sérias e sólidas que não encontrava em outros lugares.
13. ─ Confirmais o fato passado em Java e relatado numa de vossas obras?
─
Confirmo-o em parte. O caso das pedras marcadas e novamente atiradas
merece uma explicação. Eram pedras semelhantes, mas não as mesmas.
14. ─ A que atribuís esse fenômeno?
─
Não sabia a que atribuí-lo. Eu me perguntava se o diabo existiria de
fato, e respondia para mim mesma que não. Não passei disso.
15.
─ Agora que percebeis a causa, poderíeis dizer-nos de onde vinham essas
pedras? Eram transportadas ou fabricadas especialmente pelos Espíritos?
─ Eram transportadas. Para eles era mais fácil trazê-las do que aglomerá-las.
16. ─ E de onde vinha aquele siri? Era feito por eles?
─ Sim. Era mais fácil e mesmo inevitável, pois que impossível lhes era encontrá-lo já preparado.
17. ─ Qual era o objetivo dessas manifestações?
─ Como agora, atrair a atenção e fazer constatar um fato do qual se tinha de falar e procurar a explicação.
OBSERVAÇÃO: Alguém
observa que tal constatação não poderia conduzir a nenhum resultado
sério entre aquela gente. Pode-se responder que há um resultado real,
pois que, pelo relato e testemunho da Sra. Pfeiffer, o mesmo chegou ao
conhecimento de povos civilizados, que o comentam e lhe tiram as
conclusões. Aliás, os holandeses é que foram chamados a constatá-los.
18. ─ Haveria nesse caso um motivo especial, sobretudo quanto à criança atormentada por esses Espíritos?
─ A criança possui uma influência favorável, eis tudo, pois pessoalmente não sofreu sequer um arranhão.
19. ─ Desde que esses fenômenos eram produzidos por Espíritos, por que cessaram quando a casa foi demolida?
─ Cessaram porque foi julgado inútil continuar, mas não iríeis decerto perguntar se eles teriam podido continuar.
20. ─ Agradecemos a vossa vinda e a bondade de responder às nossas perguntas.
─ Estou inteiramente às vossas ordens.
A
expressão “aglomerá-las” equivale, no caso, a “fabricá-las”. O Espírito
se refere ao processo de aglomeração dos elementos materiais do espaço
para a produção de objetos materiais no fenômeno de materialização. (N.
do R.)
Fonte: Revista Espírita 1859 -Dezembro