Emmanuel
Enquanto nos demoramos encarnados no plano
terrestre, um tipo de impaciência existe, sutil, capaz de arrastar-nos aos
piores distúrbios emotivos: a revolta contra nós mesmos.
Acolhemos receios infundados, em torno de
opiniões que formulem de nós, seja por deformidades físicas, frustrações
orgânicas, conflitos psicológicos ou empeços sociais de que sejamos
portadores, e adotamos o medo por norma de ação, no exagerado apreço a nós
mesmos, e dessa inquietação sistemática comumente se deriva um desgosto
contínuo contra as forças vivas que nos entretecem o veículo de
manifestação.
E tanto espancamos mentalmente esses recursos
que acabamos neuróticos, fatigados, enfermos ou obsessos, escorregando
mecanicamente para a calha da desencarnação prematura. Tudo por falta de
paciência com as nossas provações ou com os nossos defeitos. Decerto,
ninguém nasce no corpo físico para louvar as deficiências que carrega ou
ampliá-las, mas é preciso aceitar-nos como somos e fazer o melhor de nós.
Desinibirão construtiva. Compreensão do aprendizado que se tem pela frente.
Acolher o instrumento físico de que o Alto Comando da Vida nos considera
necessitados, tanto para resgatar culpas do pretérito na esfera individual,
quanto para a consecução de empresas endereçadas ao benefício coletivo, e
realizar todo o bem que pudermos.
O corpo carnal de que dispões ou a paisagem
doméstico-social em que te situas, representam em si o utensílio certo e o
lugar justo, indispensáveis à provação regeneradora ou à missão específica a
que te deves afeiçoar. Por isso mesmo, o ponto nevrálgico da existência é o
teste difícil que te exercita a resistência moral, temperando-te o caráter,
no rumo do serviço maior do futuro.
Nossas perturbações emocionais quase sempre
decorrem da nossa relutância em aceitar alguns dos aspectos menos
agradáveis, conquanto passageiros da nossa vida. Saibamos, pois, rentear com
eles honestamente, corajosamente. Nada de subterfúgios. Temos um corpo
defeituoso ou estamos em posição vulnerável à crítica? Seja assim.
Contrariamente a isso, porém, reflitamos que ninguém está órfão da Bondade
de Deus e, confiando-nos a Deus, procuremos concretizar tudo de bom ou de
belo, no círculo de trabalho que se nos atribui.
Por outro lado, vale observar que reconhecer a
existência do erro ou do desajuste em nós é sinal de melhoria e progresso.
Os espíritos embutidos na inércia não enxergam as próprias necessidades
morais. Acomodam-se à suposta satisfação dos sentidos em que se lhes
anestesia a consciência, até que a dor os desperte, a fim de que retomem o
esforço que lhes compete na jornada de evolução e aprimoramento.
Agradeçamos, desse modo, a luz espiritual de
que já dispomos para analisar a nossa personalidade e, abraçando as tarefas
de equilíbrio ou reequilíbrio que nos compete efetuar no próprio espírito,
enfrentemos os nossos obstáculos com paciência e serenidade, na certeza de
que podemos solucionar todos os problemas na oficina do serviço com a bênção
de Deus.
Do livro “Alma e Coração”. Psicografia de
Francisco Cândido Xavier.