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domingo, 24 de outubro de 2021

A MAIOR DÁDIVA (...)a viúva deu muitíssimo, porque, enquanto os grandes senhores aqui testemunharam a própria vaidade, com inteligência, desfazendo-se de bens que só lhes constituíam embaraço à tranqüilidade futura, ela entregou ao Todo-Poderoso aquilo que significava alimento para o próprio corpo...

 
Irmão X
 
Na assembléia luzida do Templo de Jerusalém, os descendentes do povo escolhido exibiam generosidade invulgar à frente da preciosa arca de contribuições públicas.

Todos traziam algum tributo de consideração ao Santo dos Santos, cada qual mostrando a liberalidade da fé.

Vestes de linho e valiosas peles, enfeites dourados e aromas indefiníveis impunham, ali, deliciosas impressões aos sentidos.

Os fariseus, sobretudo, demonstravam apurado zelo no culto externo, destacando-se pela beleza das túnicas e pelos ricos presentes ao santuário.

Jesus e alguns discípulos, de passagem, acompanhavam as manifestações populares, com justificado interesse. E Judas, entre eles, empolgado pelo volume das oferendas, abeirava-se do cofre aberto, seguindo os menores movimentos dos doadores, com a cobiça flamejante no olhar.

A certa altura, aproximou-se do Messias e informou-o :
– Mestre: Jeroboão, o negociante de tapetes, entregou vinte peças de ouro!...

– Abençoado seja Jeroboão – acentuou Jesus, sereno –, porque conseguiu renunciar a excesso apreciável, evitando talvez pesados desgostos. O dinheiro demasiado, quando não se escora no serviço aos semelhantes, é perigoso tirano da alma.

O discípulo voltou ao posto de observação, com indisfarçável desapontamento, mas, decorridos alguns instantes, reapareceu, notificando:
– Zacarias, o velho perfumista, sentindo-se enfermo e no fim dos seus dias, trouxe cem peças!...

– Bem-aventurado seja ele – disse o Cristo, em tom significativo –, mais vale confiar a fortuna aos movimentos da fé que legá-la a parentes ambiciosos e ingratos... Zacarias prestou incalculável benefício a ele mesmo.

Judas tornou, de moto próprio, à fiscalização para comunicar, logo após, ao grupo galileu:
– A viúva de Cam, o mercador de cavalos que faleceu recentemente, acaba de entregar todo o dinheiro que recebeu dos romanos pela venda de grande partida de animais.

E, baixando o tom de voz, completava, cauteloso, o apontamento:
– Dizem por aí que alguns centuriões planejavam roubar-lhe os bens...
Jesus sorriu e considerou:
– Muitos recursos amontoados sem proveito provocam as sugestões do mal. Feliz dela que soube preservar-se contra os malfeitores.

O aprendiz curioso regressou à posição e retornou, loquaz :
– Mestre: Efraim, o levita de Cesaréia, entregou duzentas moedas! Duzentas!...
– Bem-aventurado seja Efraim – falou o Amigo Divino, sem afetação –, é grande virtude saber dar o que sobra, em meio de tantos avarentos que se rejubilam à mesa, olvidando os infelizes que não dispõem de uma côdea de pão!...

Nesse instante, penetrou o Templo uma viúva paupérrima, a julgar pela simplicidade com que se apresentava.

Diante do sorriso sarcástico de Judas, o Senhor acompanhou-a, de perto, no que foi seguido pelos demais companheiros.

A mulher humilde orou e apresentou duas moedinhas ao fausto religioso do santuário célebre.

Muitos circunstantes riram-se, irônicos, mas Jesus apressou-se a esclarecer:
– Em verdade, esta pobre viúva deu mais que todos os poderosos aqui reunidos, porquanto não vacilou em confiar ao Templo quanto possuía para o sustento próprio.

A observação caridosa e bela congelou a crítica reinante.
Pouco a pouco, o recinto enorme tornou à calma.

Israelitas nobres e sem nome abandonaram, rumorosamente, o domicílio da fé.

Jesus e os apóstolos foram os derradeiros na retirada.

Quando se dispunham a deixar a enorme sala vazia, eis que uma escrava de rosto avelhentado e passos vacilantes surgiu no limiar para atender à limpeza.
Movimenta-se em minutos rápidos.

Aqui, recolhe flores esmagadas, além, absorve em panos úmidos os detritos deixados por enfermos descuidados.

Tem um sorriso nos lábios e a paciência no olhar, brunindo o piso em silêncio, para que o ar se purificasse na sublime residência da Lei.

Pedro, agora a sós com o Messias, ainda impressionado com as lições recebidas, ousou interrogar:– Senhor, foi então a viúva pobre a maior doadora no Templo de nosso Pai?

– Realmente – elucidou Jesus, em tom fraterno –, a viúva deu muitíssimo, porque, enquanto os grandes senhores aqui testemunharam a própria vaidade, com inteligência, desfazendo-se de bens que só lhes constituíam embaraço à tranqüilidade futura, ela entregou ao Todo-Poderoso aquilo que significava alimento para o próprio corpo...

Em seguida a leve pausa, apontou com o indicador a serva anônima que se incumbia da limpeza sacrificial e concluiu :– A maior benfeitora para Deus, aqui, no entanto, ainda não é a viúva humilde que se desfez do pão de um momento...

É aquela mulher dobrada de trabalho, frágil e macilenta, que está fornecendo à grandeza do Templo o seu próprio suor.
 
 
Do livro Pontos e Contos. Pelo Espírito Irmão X. - Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

O PENSAMENTO SEGUNDO LÉON DENIS : "Remontemos, pois, às origens celestes e eternas; é o único remédio para nossa anemia moral. Dirijamos o pensamento para as coisas solenes e profundas. Ilumine-se e complete-se a Ciência com as intuições da consciência e as faculdades superiores do espírito."




O pensamento

O pensamento é criador. Assim como o pensamento do Eterno projeta sem cessar no espaço os germens dos seres e dos mundos, assim também o do escritor, do orador, do poeta, do artista, faz brotar incessante florescência de idéias, de obras, de concepções, que vão influenciar, impressionar para o bem ou para o mal, segundo sua natureza, a multidão humana.

É por isso que a missão dos obreiros do pensamento é ao mesmo tempo grande, temível e sagrada; é grande e sagrada porque o pensamento dissipa as sombras do caminho, resolve os enigmas da vida e traça o caminho da humanidade; é a sua chama que aquece as almas e ilumina os desertos da existência; e é temível porque seus efeitos são poderosos tanto para a descida como para a ascensão.

Mais cedo ou mais tarde todo produto do Espírito reverte para seu autor com suas conseqüências, acarretando-lhe,segundo o caso, o sofrimento, a diminuição, a privação da liberdade, ou então as satisfações íntimas, a dilatação, a elevação do ser.

A vida atual é, como se sabe, um simples episódio de nossa longa história, um fragmento da grande cadeia que se desenrola para todos através da imensidade. E constantemente recaem sobre nós, em brumas ou claridades, os resultados de nossas obras. A alma humana percorre seu caminho cercada de uma atmosfera brilhante ou turva, povoada pelas criações de seu pensamento. É isso, na vida do Além, sua glória ou sua vergonha.
*
Para dar ao pensamento toda a força e amplitude, nada há mais eficaz do que a investigação dos grandes problemas.

Por bem dizer, é preciso sentir com veemência; para saborear as sensações elevadas e profundas é necessário remontar à nascente de onde deriva toda a vida, toda a harmonia, toda a beleza.

O que há de nobre e elevado no domínio da inteligência emana de uma causa eterna, viva e pensante. Quanto mais largo é o vôo do pensamento para essa causa, tanto mais alto ele paira, tanto mais radiosas também são as claridades entrevistas, mais inebriantes as alegrias sentidas, mais poderosas as forças adquiridas, mais geniais as inspirações!

Depois de cada vôo, o pensamento torna a descer vivificado, esclarecido para o campo terrestre, a fim de prosseguir a tarefa pela qual continuará a desenvolver-se, porque é o trabalho que faz a inteligência, como é a inteligência que faz a beleza, o esplendor da obra acabada.

Eleva teu olhar, ó pensador, ó poeta! Lança teu brado de apelo, de aspiração e prece! Diante do mar de reflexos variáveis, à vista de brancos cimos longínquos ou do infinito estrelado, não passaste nunca horas de êxtase e embriaguez, em que a alma se sente imersa num sonho divino, em que a inspiração chega poderosa como um relâmpago, rápido mensageiro do Céu à Terra?

Escuta bem! Nunca ouviste, no fundo de teu ser, vibrarem as harmonias estranhas e confusas, os rumores do mundo invisível, vozes de sombra que te acalentam o pensamento e o preparam para as intuições supremas?

Em todo poeta, artista ou escritor há germens de mediunidade inconsciente, incalculáveis,e que desejam desabrochar; por eles o obreiro do pensamento entra com o manancial inexorável e recebe sua parte de revelação. Essa revelação de estética, apropriada à sua natureza, ao gênero de seu talento, tem ele por missão exprimir em obras que farão penetrar na alma das multidões uma vibração das forças divinas, uma radiação das verdades eternas.

É na comunhão freqüente e consciente com o mundo dos Espíritos que os gênios do futuro hão de encontrar os elementos de suas obras. Desde hoje, a penetração dos segredos de sua dupla vida vem oferecer ao homem socorros e luzes que as religiões desfalecidas já lhe não podem proporcionar.

Em todos os domínios, a idéia espírita vai fecundar o pensamento em atividade.

A Ciência dever-lhe-á a renovação completa de suas teorias e métodos, assim como a descoberta de forças incalculáveis e a conquista do universo oculto.

 A Filosofia obterá um conhecimento mais extenso e preciso da personalidade humana. Esta, no transe e na exteriorização, é como uma cripta que se abre, cheia de coisas estranhas e onde está escondida a chave do mistério do ser.

As religiões do futuro hão de encontrar no Espiritismo as provas da sobrevivência e as regras da vida no Além e, ao mesmo tempo, o princípio de uma união das duas humanidades, visível e invisível, em sua ascensão para o Pai comum.

A Arte, em todas as suas formas, descobrirá nele mananciais inexauríveis de inspiração e emoção.

O homem do povo, nas horas de cansaço, beberá nele a coragem moral. Compreenderá que a alma pode desenvolver-se tanto pela lide humilde como pela obra majestosa e que não se deve desprezar dever algum; que a inveja é irmã do ódio e que, muitas vezes, o ser é menos feliz no luxo que na mediocridade.

O poderoso aprenderá nele a bondade com o sentimento da solidariedade que a todos liga através de nossas vidas e pode obrigar-nos a retornar pequenos para adquirirmos as virtudes modestas.

O céptico achará nele a fé; o desanimado as esperanças duradouras e as resoluções viris; todos os que sofrem encontrarão a idéia profunda de que uma lei de justiça preside a todas as coisas, de que não há, em nenhum domínio, efeito sem causa, parto sem dor, vitória sem combate, triunfo sem rudes esforços, mas que, acima de tudo, reina uma perfeita e majestosa sanção e que ninguém está abandonado por Deus, do qual é uma parcela.

Assim, vagarosamente se operará a renovação da humanidade, tão nova ainda, tão ignorante de si mesma, mas cujos desejos se dirigem pouco a pouco para a compreensão de sua tarefa e de seu fim, ao mesmo tempo em que se alarga seu campo de exploração e a perspectiva de um futuro ilimitado. E, em breve, eis que ela avançará mais consciente de si mesma e de sua força, consciente de seu magnífico destino. A cada passo que transpõe, vendo e querendo mais, sentindo brilhar e avivar-se o foco que arde em si, vê também as trevas recuarem, fundirem-se, resolverem-se os sombrios enigmas do mundo e iluminar-se o caminho com um raio poderoso.

Com as sombras, desvanecem-se pouco a pouco os preconceitos, os vãos terrores; as contradições aparentes do universo dissipam-se; faz-se a harmonia nas almas e nas coisas. Então, a confiança e a alegria penetram-lhe e o homem sente desenvolver-se-lhe o pensamento e o coração. E de novo avança pelo caminho das idades para o termo de sua obra; mas esta não tem termo, porque de cada vez que a humanidade se eleva para um novo ideal, julga ter alcançado o ideal supremo, quando, na realidade, só atingiu a crença ou o sistema correspondente ao seu grau de evolução.

Mas de cada vez, também, de seus impulsos e de seus triunfos decorrem-lhe felicidades e forças novas, e ela encontra a recompensa de seus labores e angústias no próprio labor, na alegria de viver e progredir, que é a lei dos seres, comunhão mais íntima com o universo, numa posse mais completa do bem e do belo.
*
Ó escritores, artistas, poetas, vós, cujo número aumenta todos os dias, cujas produções se multiplicam e sobem como a maré, belas muitas vezes pela forma, mas fracas no fundo, superficiais e materiais, quanto talento não gastais com coisas medíocres! Quantos esforços desperdiçados e postos ao serviço de paixões nocivas, de volúpias inferiores e interesses vis!

Quando vastos e magníficos horizontes se desdobram, quando o livro maravilhoso do universo e da alma se abre de par em par diante de vós e o gênio do pensamento vos convida para nobres tarefas, para obras cheias de seiva, fecundas para o adiantamento da humanidade, vós vos comprazeis bastas vezes com estudos pueris e estéreis, com trabalhos em que a consciência se estiola, em que a inteligência se abate e definha no culto exagerado dos sentidos e dos instintos impuros.

Quem de vós contará a epopéia da alma, lutando pela conquista de seus destinos no ciclo imenso das idades e dos mundos, suas dores e alegrias, suas quedas e levantamentos, a descida aos abismos da vida, o bater de asas para a luz, as imolações, os holocaustos que são um resgate, as missões redentoras, a participação cada vez maior das concepções divinas!

Quem dirá também as poderosas harmonias do universo, harpa gigantesca vibrando ao pensamento de Deus, o canto dos mundos, o ritmo eterno que embala a gênese dos astros e das humanidades! Ou então a lenta elaboração, a dolorosa gestação da consciência através dos estádios inferiores, a construção laboriosa de uma individualidade, de um ser moral!

Quem dirá a conquista da vida, cada vez mais completa, mais ampla, mais serena, mais iluminada pelos raios do Alto, a marcha, de cimo em cimo, em busca da felicidade, do poder e do puro amor? Quem cantará a obra do homem, lutador imortal, erguendo, através de suas dúvidas, dilaceramentos, angústias e lágrimas o edifício harmônico e sublime de sua personalidade pensante e consciente? Sempre para frente, para mais longe e para mais alto! Responderão: Não sabemos. E perguntam: Quem nos ensinará essas coisas?

Quem? As vozes interiores e as vozes do Além. Aprendei a abrir, a folhear, a ler o livro oculto em vós, o livro das metamorfoses do ser. Ele vos dirá o que fostes e o que sereis, ensinar-vos-á o maior dos mistérios, a criação do “eu” pelo esforço constante, a ação soberana que, no pensamento silencioso, faz germinar a obra e, segundo vossas aptidões, vosso gênero de talento, far-vos-á pintar as telas mais encantadoras, esculpir as mais ideais formas, compor as sinfonias mais harmoniosas, escrever as páginas mais brilhantes, realizar os mais belos poemas.

Tudo está aí, em vós, em torno de vós. Tudo fala, tudo vibra, o visível e o invisível, tudo canta e celebra a glória de viver, a ebriedade de pensar, de criar, de associar-se à obra universal. Esplendores dos mares e do céu estrelado, majestade dos cimos, perfumes das florestas, melodias da Terra e do espaço, vozes do invisível que falam no silêncio da noite, vozes da consciência, eco da voz divina, tudo é ensino e revelação para quem sabe ver, escutar, compreender, pensar, agir!

Depois, acima de tudo, a visão suprema, a visão sem formas, o pensamento incriado, verdade total, harmonia final das essências e das leis que, desde o fundo de nosso ser até a estrela mais distante, liga tudo e todos em sua unidade resplandecente. É a cadeia de vida, que se eleva e desenrola no infinito, escada das potências espirituais que levam a Deus os apelos do homem pela oração e trazem ao homem as respostas de Deus pela inspiração.

Agora, uma última pergunta. Por que é que, no meio do imenso labor e da abundante produção intelectual que caracterizam nossa época, se encontram tão poucas obras viris e concepções geniais? Porque deixamos de ver as coisas divinas com os olhos da alma! Porque deixamos de crer e amar!

Remontemos, pois, às origens celestes e eternas; é o único remédio para nossa anemia moral. Dirijamos o pensamento para as coisas solenes e profundas. Ilumine-se e complete-se a Ciência com as intuições da consciência e as faculdades superiores do espírito. O Espiritualismo moderno a auxiliará.

Livro: O Problema do Ser do Destino e da Dor. Léon Denis

terça-feira, 5 de outubro de 2021

INSTRUÇÃO MORAL POR LACORDAIRE "Marchai à frente dos vossos irmãos sofredores; dai ao pobre o óbolo do dia; enxugai as lágrimas da viúva e do órfão com palavras doces e consoladoras. Levantai o ânimo abatido desse velho curvado ao peso dos anos e sob o jugo de suas iniquidades, fazendo brilhar em sua alma as asas douradas da esperança numa vida futura melhor"

(PARIS, GRUPO FAUCHERAUD ─ MÉDIUM: SR. PLANCHE)

Venho a vós, pobres tresmalhados num terreno escorregadio, cuja brusca inclinação não espera mais do que alguns passos para que vos precipiteis no abismo. Como bom pai de família, venho estender-vos a mão caridosa para vos salvar do perigo. Meu maior desejo é conduzir-vos para o teto paternal e divino, a fim de vos fazer sentir o amor de Deus e do trabalho pela fé e pela caridade cristã, pela paz e pelos prazeres suaves do lar. Como vós, meus caros filhos, conheci alegrias e sofrimentos, e conheço todas as dúvidas dos vossos Espíritos e as lutas dos vossos corações. É para vos premunir contra os vossos defeitos e para vos mostrar os escolhos contra os quais vos podeis arrebentar que serei justo, mas severo.

Do alto das esferas celestes que percorro, meu olhar mergulha com satisfação em vossas reuniões e é com vivo interesse que acompanho as vossas santas instruções. Mas, ao mesmo tempo em que minh’alma se regozija por um lado, por outro experimenta um amargo sofrimento, quando penetra em vossos corações e aí ainda vê tanto apego às coisas terrenas. Para a maioria, o santuário de nossas lições é para vós uma sala de espetáculo e esperais sempre que de nossa parte surjam coisas maravilhosas. Não estamos encarregados de vos apresentar milagres, mas de trabalhar os vossos corações, abrindo grandes leiras para nelas lançar a mancheias as sementes divinas.Empenhamo-nos incessantemente em torná-la fecunda, porque sabemos que suas raízes devem atravessar a Terra de um a outro polo e cobrir-lhe a superfície. Os frutos que daí saírem serão tão belos, tão agradáveis e tão grandes que subirão até os céus.

Feliz aquele que tiver sabido colhê-los para se fartar, porque os Espíritos bem-aventurados virão ao seu encontro, cingirão a sua fronte com a auréola dos escolhidos e o farão subir os degraus do trono majestoso do Eterno, e lhe dirão que participe da felicidade incomparável, dos prazeres e das delícias sem fim das falanges celestes.

Infeliz aquele a quem foi dado ver a luz e escutar a palavra de Deus e que tiver fechado os olhos e tapado os ouvidos, porque o espírito das trevas o envolverá com suas asas lúgubres e o transportará para o seu negro império, para fazê-lo expiar, durante séculos, por tormentos sem conta, sua desobediência ao Senhor. É o momento de aplicar a sentença de morte do profeta Oséias: Coedam eos secundum auditionem coetus eorum. (Eu os farei morrer conforme o que tiverem ouvido). Que estas poucas palavras não sejam uma fumaça a evolar-se nos ares, mas que elas captem vossa atenção para que as mediteis e nelas reflitais seriamente. Apressai-vos em aproveitar os poucos instantes que vos restam para consagrá-los a Deus. Um dia viremos perguntar-vos o que fizestes dos nossos ensinos e como pusestes em prática a doutrina sagrada do Espiritismo.

A vós, pois, espíritas de Paris, que muito podeis por vossa posição pessoal e por vossa influência moral, a vós, digo, a glória e a honra de dar o exemplo sublime das virtudes cristãs. Não espereis que a infelicidade venha bater à vossa porta. Marchai à frente dos vossos irmãos sofredores; dai ao pobre o óbolo do dia; enxugai as lágrimas da viúva e do órfão com palavras doces e consoladoras. Levantai o ânimo abatido desse velho curvado ao peso dos anos e sob o jugo de suas iniquidades, fazendo brilhar em sua alma as asas douradas da esperança numa vida futura melhor. Por toda parte, à vossa passagem, prodigalizai o amor e a consolação. Elevando, assim, as vossas boas obras à altura dos vossos pensamentos, merecereis dignamente o título glorioso e brilhante que mentalmente vos conferem os Espíritos do país e do estrangeiro, cujos olhos estão fixados sobre vós e que, tocados de admiração à vista das ondas de luz que escapam de vossas reuniões, vos chamarão de Sol da França.
LACORDAIRE

domingo, 3 de outubro de 2021

O JOIO PERVERSO E O TRIGO DE LUZ "O joio são os filhos do maligno, que são os vícios e as perversões que se permitem as criaturas no trânsito de crescimento interior, sem a necessária coragem para vencê-los"

 O Joio Perverso e o Trigo de Luz (*)

Cessada a algavaria(tagarelice)  produzida pela turbamulta( multidão em desordem) sempre ansiosa e insatisfeita, depois de inesquecíveis lições de sabedoria, o doce-enérgico Rabi, acompanhado pelos amigos, foi para casa.

Sopravam os favônios do entardecer e o céu cobria-se com sucessivos tecidos evanescentes de variado colorido.

As trilhas luminosas do Astro-rei confraternizavam com as nuvens arredondadas que se adornavam de cores multifárias e uma harmonia mágica pairava no ambiente calmo.

As casas, esparramadas nas praias de seixos escuros e areia marrom, eram abrigos e remansos tranqüilos para os seus habitantes, que falavam sem palavras do intercâmbio de vibrações sutis entre o mundo físico e o transcendental.

A presença de Jesus irradiava harmonia e toda uma sinfonia quase inaudível de incomum beleza permanecia vibrando onde Ele se encontrava.

Aquele havia sido um dia afanoso. As multidões revezavam-se e os aflitos não cessavam de apregoar as suas mazelas, rogando amparo e saúde, que logo desperdiçavam no terrível banquete das alucinações destemidas.

Para que não voltassem aos tumultos nem às insensatezes comprometedoras, o Mestre, dando cumprimento ao que estabelecera a Profecia, abriu a sua boca em parábolas e proclamou coisas que estavam ocultas desde o princípio, e, por isso mesmo, ignoradas.

A partir daquele momento, ninguém se poderia considerar ignorante da verdade, deserdado do reino dos céus, esquecido da Divina Providência. João, o Batista, viera aparelhar, corrigir os caminhos por onde Ele prosseguia ampliando trilhas e anunciando a Era Nova.

A humanidade ali representada reaparecia no futuro dos tempos, renascendo em novos corpos e repetindo a música incomparável do Seu verbo libertador.

Assim aturdidos por tudo quanto haviam visto e ouvido, os companheiros, que não conseguiram entender o incomum significado das declarações, impressionados com alguns dos ensinamentos, aproveitando-se de um momento de repouso, acercaram-se-lhe e pediram-lhe que explicasse a complexa parábola do joio, há pouco narrada.

Invadido pela imensa ternura com que sempre elucidava os atônitos discípulos, Ele esclareceu: 

- O mundo é um campo imenso e abençoado que aguarda a sementeira. Neutro, depende daquele que o vai utilizar, preparando-o convenientemente para que a ensementação se faça coroada de êxito.

" Sempre tem estado aguardando a bênção das sementes que o dignifiquem, para tornar-se área de vida.

" Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem, que veio distribuí-la em toda parte, a fim de que a terra gentil se converta em formoso jardim-pomar. Sem temer qualquer impedimento, entrega-se à tarefa com os olhos postos no futuro.

" A boa semente são os filhos do reino, como as palavras renovadoras e diretrizes de segurança, para que tudo se faça de acordo com os desígnios do Pai, que deseja a felicidade dos Seus filhos e providencia para que nada lhes falte no cometimento da evolução.

"O joio são os filhos do maligno, que são os vícios e as perversões que se permitem as criaturas no trânsito de crescimento interior, sem a necessária coragem para vencê-los".

"O inimigo que semeou o joio é a inferioridade moral do ser que nele predomina, retendo-a na retaguarda do processo de iluminação pessoal, a que se entrega sem resistência, porque lhe atende os desejos primários a que se encontra acostumado.

" A ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os anjos. O mundo moral está em constante transformação, por causa da transitoriedade da existência física, das suas alternâncias e seus processos degenerativos. Por mais longa, sempre se interrompe pelo fenômeno da morte e se encerra o capítulo existencial, chegando o momento da ceifa, que se apresenta na consciência, que refaz o caminho percorrido sob a inspiração dos seres angélicos encarregados de orientar os seres humanos.

"Assim, pois, como é o joio colhido e queimado no fogo, assim será no fim do mundo, quando cessar as experiências carnais de cada criatura, que enfrentará a semeadura do mal realizada no próprio coração. Os erros, na condição de erva perniciosa, reaparecerão com todo o vigor, exigindo prosseguimento de viciação agora sob outras condições inexeqüíveis, afligindo e atormentando com as chamas do desejo infrene, ardendo no sentimento e na razão do desgoverno.

"O Filho do homem enviará os Seus anjos que hão de tirar do Seu reino todos os escandalosos e todos quantos praticam a iniquidade, e lançá-los-ão na fornalha ardente; ali haverá choro e ranger de dentes, porque a consciência quando desperta e avalia o mal que a sim mesma se fez, sem oportunidade imediata de reparação, aflige-se, leva o indivíduo ao sofrimento que o faz estorcer-se e chorar se consolo, por haver-se iludido sem qualquer necessidade.

" O anjo da morte e dos renascimentos físicos, após acolher os aficionados dos escândalos, dos crimes, da perversão, selecionará aqueles que poderão prosseguir na Terra e aqueles outros que serão enviados ao exílio em mundo inferiores, mais primitivos e infelizes, onde recomeçarão a jornada interrompida em condições menos propiciatórias. Será realizada a seleção natural pelos valores espirituais de cada qual, que compreenderá a insânia que se permitiu, envidando esforços hercúleos para se recuperarem.

"Enquanto isso, os justos resplandecerão como o Sol, no reino do seu Pai, porque estarão em paz consigo mesmos, sintonizados com a imortalidade em triunfo, livres das paixões e vinculações com o crime, a hediondez, a sombra que antes neles predominavam."

Um silêncio, feito de unção de alegria e de paz, se abateu sobre a sala modesta onde Ele acabara de falar.

A sua voz permanecia fixada na memória deles para sempre, que se recordariam daquele momento de mágica poesia e grandiosa sinfonia para todos os dias do porvir.

As ansiedades da natureza no entardecer cediam lugar às primeiras manchas de sombras desenhando figuras estranhas no firmamento adornado de luz e calor.

A partir daquele momento as responsabilidades cresciam e delineavam com maior precisão os compromissos que firmariam com o suor do trabalho e sangue do sacrifício.

Já não eram menos, aqueles homens simples arrebanhados entre os pescadores, os de menos cultura, os cobradores de impostos, os exegetas, os indagadores. Eles eram uma síntese da humanidade, sem os vernizes sociais enganosos e alguns envolvidos pela ganga dura que ocultava o diamante precioso. 

O Amigo se encarregava de trabalhá-los a todos para as tarefas que teriam que executar até o fim dos milênios.

... Eram homens tocos e modestos, sem dúvida, no corpo, mas antes de tudo, Espíritos convidados para o grande banquete da Boa Nova, para o qual vieram...

_________

(*) Mateus 13 - 36 a 43.

Nota da autora espiritual 


Amélia Rodrigues por Divaldo P.Franco

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

O MUNDO NÃO O VÊ NEM O CONHECE "O Mestre afirmou aos apóstolos que eles conheciam o Espírito de Verdade, mas o mesmo não acontecia com o mundo. Este não o conhecia e nem o podia receber, porque não estava suficientemente preparado para isso.


“O Espírito de Verdade, que o mundo do não pode receber, porque não o vê, nem o conhece.” (João, 14: 17)

Afiançam os porta-vozes de algumas religiões que o Espírito de Verdade, ou o
Consolador, veio ao mundo no chamado dia de Pentecostes, e que, como decorrência, nada há mais a esperar.

Entretanto, se a evolução humana é tão vagarosa, não dá saltos e se processa harmoniosamente, por que razão em poucos meses teria operado transformação tão brusca? Na Terra ainda estavam os mesmos homens, dentre eles os acerbos inimigos do Cristo, os mesmos que o levaram ao cimo do Calvário.

O Mestre afirmou aos apóstolos que eles conheciam o Espírito de Verdade, mas o mesmo não acontecia com o mundo. Este não o conhecia e nem o podia receber, porque não estava suficientemente preparado para isso.

Alguns poderão redargüir, dizendo: o Espírito de Verdade veio somente aos apóstolos, no dia de Pentecostes. Isso também não tem lógica, pois a promessa feita por Jesus não abrangia somente os apóstolos, mas toda a Humanidade.

Os apóstolos de Jesus eram evoluídos espiritualmente, e, dada essa circunstância, antes de nascerem na Terra, teriam forçosamente de saber quem era o Espírito de Verdade.

A segunda revelação foi trazida à Terra por Jesus Cristo, dois mil anos após a primeira, trazida por Moisés. O Espírito de Verdade trouxe à Humanidade a Terceira Revelação, quase dois mil anos após o advento do Mestre Nazareno.

O Espírito de Verdade, ou o Consolador prometido por Jesus Cristo, veio ao mundo na segunda metade do século passado, quando foram lançadas as bases fundamentais do Espiritismo. É patente aos olhos de todos que a Humanidade não está suficientemente preparada para o receber, mas existe melhor adequação espiritual do que no tempo do advento da doutrina cristã.

As reformas que se concretizarão na Terra com o advento do Consolador, dentre outras, serão as seguintes:

— Implantação dos postulados da reencarnação e da multiplicidade dos mundos habitados;

— Demonstração da incoerência das doutrinas das penas eternas, do pecado original e da existência do inferno e do céu como lugares circunscritos de penalidades e de gozos;

— Comprovação da imortalidade da alma, da preexistência e persistência do Espírito e da sua evolução incessante rumo a Deus;

— Abolição de falsas teorias como as da Trindade, que nos apresenta um Deus trino; da crença num unigênito de Deus e outras doutrinas aberrantes.

Essas alterações far-se-ão com base nos próprios Evangelhos de Jesus. As maravilhosas parábolas ensinadas pelo Mestre, dentre elas a do Filho Pródigo, da Ovelha Perdida, encarregar-se-ão de destruir as teorias das penas eternas e do pecado original; o colóquio com Nicodemos e as palavras de Jesus alusivas a João Batista terão o mérito de destruir as teorias sobre a uni cidade das existências; as palavras do Senhor, sobre as muitas moradas da Casa do Pai, serão decisivas para a destruição da crença na existência de um só mundo habitado.

Destruindo as tendências humanas das encenações e da prática exterior do culto, combatidas pelo Cristo na passagem evangélica sobre a Mulher Samaritana, serão também decisivas para que o homem compreenda em toda a sua extensão a afirmação do Mestre, quando disse: “Deus é Espírito e deve em Espírito ser adorado, pelos verdadeiros adoradores”.

Já dizia o profeta Ezequiel: “Deus não quer a morte do ímpio, mas que ele se
redima e viva”. Conseqüentemente, o papel a ser desempenhado pelo Espírito de Verdade terá por finalidade básica situar a criatura em seu verdadeiro lugar, face ao Criador de todas as coisas.

Padrões Evangélicos-Paulo Alves de Godoy

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

MULTIDÃO E JESUS "Por muitos séculos soarão as vozes das multidões necessitadas e torpes, no festival demorado das lágrimas.Mesmo hoje, evocando os acontecimentos de Genesaré, defrontam-se as multidões buscando as soluções imediatas para o corpo, no pressuposto de que estão tentando atender o espírito exculpando-se das paixões, aparentando manter os compromissos com Jesus mediante um comércio infeliz para com as informações e conquistas imperecíveis."

 


A multidão! Sempre o Senhor esteve visitado pela multidão.


A multidão, porém, são as chagas sociais, as dores superlativas, as agonias e decepções, as lutas e angústias, as dificuldades.


Em toda parte o Mestre esteve sempre cercado pela multidão.


Através das Suas mãos perpassavam as misericórdias, as blandícias, manifestava-se o amor. . .


O seu dúlcido e suave olhar penetrava a massa amorfa sob a dor repleta de aflitos e ansiosos lenindo as desesperações e angústias que penetram as almas como punhais afiados e doridos.


A multidão são o imenso vale de mil nonadas(argueiros) e muitas necessidades humanas mesquinhas, onde fermentam os ódios, e os miasmas da morte semeiam luto e disseminam a peste em avalanche desesperadora num contágio de longo porte. . .


Ele viera para a multidão, que somos todos nós, os sedentos de paz, os esfaimados de justiça, os atormentados pelo pão do corpo e na alma. ..


Todos os grandes Missionários desceram das altas planuras para as multidões que são o nadir da Humanidade.


Por isto sempre encontraremos Jesus cercado pela multidão.


Ele é paz.


Sua presença acalma, diminuindo o fragor da batalha, amainando guerras de fora quanto conflitos de dentro.


Ele é amor.


O penetrar do seu magnetismo dulcifica, fazendo que os valores negativos se convertam em posições refletidas, em aquisições de bênçãos.


Quando Ele passa, asserenam-se as ansiedades. Rei Solar, onde esteja, haverá sempre a claridade de um perene amanhecer.


Ele tomara a barca com os Amigos do ministério e vencera o mar na serenidade do dia.


As águas tépidas, aos ósculos do Astro-rei, refletem o céu azul de nuvens brancas e garças. . .


Há salmodias que cantam no ar, expectativas que dormem e despertam nos espíritos. . .


Chegando às praias de Genesaré, a notícia voa nos pés alígeros da ansiedade e a multidão se adensa. ..


As informações se alargam pelas aldeias vizinhas, pelos povoados ribeirinhos. . .


Todos trazem os seus. . . Os seus pacientes, familiares e conhecidos, problemas e querelas. . .


Exibem chagas purulentas, paralisias, dificuldades morais, misérias e tormentos de toda espécie.


Obsessos ululam e leprosos choram, cegos clamam e surdos-mudos atordoam-se.


A atroada (estrondo) dos atropelos que o egoísmo desatrelado produz, a inquietação individual, o medo de perder-se a oportunidade tumultua todos, os semblantes se angustiam, os ruídos se fazem perturbadores, enquanto Ele, impávido, sereno, acerca-se e toca, deixando-se tocar. . .


Transfiguram-se as faces, sorriem os rostos antes deformados, inovimentam-se os membros hirtos e os sorrisos, em lírios brancos ngastados nas molduras dos lábios arroxeados, abrem-se, exaltam o Rabi, cantam aleluias.


A música da saúde substitui a patética da enfermidade, a paz adorna a fronte fatigada dos guerreiros inglórios.


Partem os que louvam, chegam os que rogam. . .


Há silêncios que se quebram em ribombar de solicitações contínuas. Há vozes que emudecem na asfixia das lágrimas.


Das fímbrias(franjas) das suas vestes, que brilham em claridade desconhecida, desprendem-se as virtudes e estas curam, libertam, asserenam, felicitam. . .


Genesaré encontra o seu apogeu, encanta-se com o Profeta. . . O Rabi, o Aguardado, reveste-se de misericórdia e todos exultam.


Narram os evangelistas que naquela visita à cidade formosa e humilde ocorreram todos os milagres que o amor produz.


No entanto, por cima de tais expectativas e conquistas transitórias, Jesus alonga o olhar para o futuro e descortina, além dos painéis porvindouros, a Nova Humanidade destituída das cangas atribulatórias, constringentes e justiçadoras com que o homem se libera, marchando na direção do Pai.


Até este momento, o Senhor sabe que os homens ainda são as suas necessidades imediatas e tormentosas em cantochões de agonia lenta. . .


Por muitos séculos soarão as vozes das multidões necessitadas e torpes, no festival demorado das lágrimas.


Mesmo hoje, evocando os acontecimentos de Genesaré, defrontam-se as multidões buscando as soluções imediatas para o corpo, no pressuposto de que estão tentando atender o espírito exculpando-se das paixões, aparentando manter os compromissos com Jesus mediante um comércio infeliz para com as informações e conquistas imperecíveis. . .


Cristianismo, todavia, é Jesus em nós, insculpido no santuário dos sentimentos, esflorando esperança e fé.


Atendamos à enfermidade, à viuvez, ao abandono, à solidão e à fome sem nos esquecermos de que, revivendo o Mestre Insuperável, os Imortais que ora retornam, buscam, essencialmente, libertar o homem de si mesmo, arrebentando os elos escravocratas que os fixam às mansardas soezes do primitivismo espiritual de cada um, a fim de alçá-lo à luz perene e conduzi-lo às praias da nova Genesaré do amor, onde Ele, até hoje, espera por todos nós, a aturdida multidão de todos os tempos.


(*) Mateus 14:34-36. Marcos 6:53-56. (Notas da Autora espiritual).


Amélia Rodrigues

Psicografia de Divaldo Franco

domingo, 26 de setembro de 2021

O Semeador saiu a semear... sob a ótica de Amélia Rodrigues

SEMENTE DE LUZ E VIDA

(...) Assentado no barco , Jesus alongou os olhos pela planície dos corações e lembrou se da terra inculta . Tomado de imenso Amor pelos homens , depois de falar sobre muitas coisas, considerou:

Eis que o semeador saiu a semear. E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho.

A luz derrama filões de ouro vivo no céu anilado
O ar transparente cicia aos ouvidos atenciosos da multidão.

(...) E vieram as aves, e comeram-na...

O Reino dos Céus é semelhante...
O homem bom semeou a boa semente na boa terra; enquanto dormia, um homem mal semeou joio na boa terra. E cresceram o trigo e joio. Ora, para salvar o grão sadio foi necessário arrancar o escalracho, erradicando naturalmente , muito trigo são. O joio , em molhos , foi queimado e o trigo ensacado foi posto no celeiro.  

                                                                    * * *

O grão de mostarda é o menor de todos, no entanto, cresce e a planta se torna grandiosa. As aves nela se alojam, procurando agasalho nos seus ramos...

                                                                    * * *

O fermento insignificante leveda a massa toda.

                                                                   * * *

O tesouro que um homem encontrou é tão valioso , que quando possuía vendeu para tê-lo seu.
Outro homem descobriu uma pérola de incomparável valor e de tudo se desfez para consegui-la...

                                                                   * * *

Uma rede lançada ao mar reuniu muitos peixes, bons e maus, que foram separados pelo pescador. Assim , mais tarde, serão separados os homens que se candidatam ao Reino dos Céus...

                                                                   * * * 

Outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante . Vindo o Sol , queimou-se, e secou-s, porque não tinha raiz...
As coisas ocultas, Ele as desvela em parábolas.
Era uma vez...
Um homem , pai de família, preparou a terra,planou-a , circundando-a de um valado(vala rasa guarnecida de tapume...que cerca uma propriedade rural) , e construiu nela um lagar , edificou uma torre e arrendou-a a trabalhadores. À época dos frutos mandou buscar a parte que lhe pertencia. Os posseiros da terra mataram os primeiros servos , os que vieram depois , e mesmo o Filho do Homem , os criminosos o mataram. Quando, porém, o dono veio...
                                                                 * * *

O pai disse ao filho: Vem trabalhar em minha vinha.
-Não quero !-mas, arrependendo-se , foi. Chamado o segundo filho , este respondeu:
-Vou!- Mas não lhe dou importância...

                                                                 * * *

O rei, chegando a ocasião das bodas do filho, mandou os servos convidarem amigos.Os amigos ,porém, não quiseram ir. Novos áulicos saíram a repetir o convite, narrando a excelência do banquete que os aguardava , mas eles não desejaram respeita-lo. Revoltados com a insistência do rei , mataram os servos. O rei, sabendo da ingratidão dos convidados, ordenou ao seu exército que fosse exterminar os homicidas...
                                                                * * *
Dez eram ao todo.
Cinco eram noivas loucas.Gastaram o óleo e ficaram sem luz. Puseram-se a dormir.Ao chegarem os noivos...
Eram cinco noivas, virgens e loucas...
                                                        
                                                                * * *

-Eu sei que és severo. Amedrontado, enterrei o seu talento, o que me confiaste.
-Mau servo!Tome quanto tem deem-no a quem já o tem.

                                                               * * *
As melodias cantam no ar leve e transparente.
(...)outra caiu entre os espinhos e os espinhos cresceram e sufocaram-na...
Quem poe uma candeia acesa sob o alqueire ou escondida?

                                                               * * *
Uma figueira brava à borda do caminho foi solicitada à doação de frutos;como não fosse ocasião própria de produzi-los, foi considerada inditosa, digna de ser arrancada e lançada ao fogo até converter-se em cinza...

                                                                * * *
Respondeu-lhe o enfático doutor da Lei: "Aquele que usou de misericórdia com ele."
Vai e faze o mesmo. Esse é o teu próximo...

                                                                * * *

Amigo, empresta-me três pães.
- Não me importunes. 
Levantar-se-á esse amigo para livrar-se do importuno.

                                                               * * *
Oh! Dize a meu irmão que reparta os seus bens comigo. 
-Quem me pôs a mim por juiz ou repartidor de bens?

                                                               * * *

Nunca te sentes nos primeiros lugares, sem que tenhas sido mandado pelo teu anfitrião...

                                                              * * *

(...)e outra caiu em boa terra, e deu fruto: um a cem , outra a sessenta e outro a trinta...
Hipérbatos , sínquises e hipérboles veste as abstrações; e, como poemetos, são excertos de vida as canções do Reino de Deus.
Era uma vez...
Um credor tinha dois devedores, e como ambos não lhe pudessem pagar...
Bem-aventurados aqueles servos,os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando!...

                                                                    * * *

"Qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim...
"-Pai , pequei contra o céu e perante a ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; faze me como um dos teus jornaleiros.
" Trazei o melhor vestido e vesti-lo , pondo lhe um anel na mão , alparcas nos pés. Este meu filho estava morto e vive; tinha se perdido , e foi achado..."
   
                                                                    * * *

E o fariseu dizia : eu pago o tributo , sou justo, cumpro com os deveres que a Lei prescreve...Mas aquele que ali está...
No entanto, o Senhor lhe disse...
                                                                   * * *

Louvou o amo aquele mordomo injusto por haver procedido prudentemente ,porque os filhos desse mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz...
Granjeai amigos... Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito...
                                                           
                                                                  * * *

E a viúva dizia : faze-me justiça contra o meu adversário...
Far-lhe-ei justiça, disse o juiz, para que ela não volte a importunar-me...

                                                                 * * *

"Deu-lhe dez minas..."
"Havia um homem rico, a quem , depois de morto, Abraão disse..."
"Estes, os últimos, são os primeiros e os primeiros serão os últimos..."
"Quem tem ouvidos, ouça..."

                                                                 * * *

E Ele falava por parábolas.
Parábolas , "alegorias que escondem verdades".
Revestidos da pureza das pombas e da vivacidade das serpentes os discípulos da verdade chegam à vida.
"Se a vossa fé for do tamanho de um grão de mostarda..."
O semeador saiu a semear...
Parábolas, verdades nas alegorias. 

                                                                 * * *
                                                           
Os grãos se transformam em grãos e a messe(conquista) afortunada é ouro em pendões de vida.
Simples e desataviadas(que não é rebuscado) , suas palavras são palavras do povo. Ninguém , no entanto, as coordenava como Ele as enunciava.
Havia realmente "algo"n´Ele, na sua forma de dizer.
"Ninguém fala como Ele fala" - murmuravam até mesmo os que , conspirando , procuravam motivo de traí-LO.
"Fala com autoridade" - reconheciam todos.

                                                                 * * *

A semente é luz e vida.
Vida na semente.
Luz na Vida.

                                                                 * * *

O Bom Pastor dá Vida pelas suas ovelhas.
Entretanto pela porta estreita, a que se caracteriza pelas dificuldades, o acesso ao reino da Ventura plena se faz triunfal.
Vigiando à porta da entrada, pode o morador defender a casa do assalto dos bandidos que espreitam e se vestem de sombras para agressão nas sombras.
Os escolhidos são os grãos felizes que se multiplicam em mil sementes compensando a sementeira toda.

                                                              * * *

A charneca das paixões é planície de esperança sob ação da semente.
Na imensa várzea , porém , o dia a dia das criaturas se transforma em lutas por nada.
O solo a arrotear , imenso, quase ao abandono...
" O semeador saiu a semear."

                                                            * * *

Parábolas e espírito de vida.
Vida nas parábolas.
Aos seus, aos discípulos, Ele as explicava.

                                                            * * *

Já não é dia.
O negro tule(seda muito fina) da noite corisca nos engastes alvinitentes(branca brilhante) dos astros, e o vento canta uma onomatopéia em litania(ladainha) ininterrupta.
O Semeador repousa.
" O Reino dos Céus está dentro de vós..."
"Vos sois deuses..."
"Buscai primeiro o Reino..."
"Quando eu for erguido atrairei todos a mim."                                     

                                                            * * *

A madrugada da Era Nova raia.
O semeador foi erguido...numa cruz.
Rasgados , os braços atraem, o coração aguarda.
Caminho para a Vida- o semeador.
Caminho até a porta- o semeador
A cruz das renúncias e sacrifícios como uma áspera charrua na gleba do espírito -ponte entre os abismos : o "eu" propínquo( vizinho, próximo) e "ele" próximo - longínquo.
A charneca (terreno arenoso...,com vegetação rasteira) reflete a estrela.
A estrela desce ao charco , fica presa à água que a retém e repousa na montanha altaneira.

                                                          * * *
O semeador espera...
"Ele saiu a ensinar por parábolas."
" E outras caíram em terra fértil e produziram."
A semente é a Palavra para quem busca a Verdade.
A Verdade é Vida.
O semeador saiu a semear...


Fonte: Primícias do Reino. Divaldo Franco, pelo Espírito Amélia Rodrigues.
12ed. 2015.Editora Leal