(PARIS, GRUPO FAUCHERAUD ─ MÉDIUM: SR. PLANCHE)
Venho
a vós, pobres tresmalhados num terreno escorregadio, cuja brusca
inclinação não espera mais do que alguns passos para que vos precipiteis
no abismo. Como bom pai de família, venho estender-vos a mão caridosa
para vos salvar do perigo. Meu maior desejo é conduzir-vos para o teto
paternal e divino, a fim de vos fazer sentir o amor de Deus e do
trabalho pela fé e pela caridade cristã, pela paz e pelos prazeres
suaves do lar. Como vós, meus caros filhos, conheci alegrias e
sofrimentos, e conheço todas as dúvidas dos vossos Espíritos e as lutas
dos vossos corações. É para vos premunir contra os vossos defeitos e
para vos mostrar os escolhos contra os quais vos podeis arrebentar que
serei justo, mas severo.
Do
alto das esferas celestes que percorro, meu olhar mergulha com
satisfação em vossas reuniões e é com vivo interesse que acompanho as
vossas santas instruções. Mas, ao mesmo tempo em que minh’alma se
regozija por um lado, por outro experimenta um amargo sofrimento, quando
penetra em vossos corações e aí ainda vê tanto apego às coisas
terrenas. Para a maioria, o santuário de nossas lições é para vós uma
sala de espetáculo e esperais sempre que de nossa parte surjam coisas
maravilhosas. Não estamos encarregados de vos apresentar milagres, mas
de trabalhar os vossos corações, abrindo grandes leiras para nelas
lançar a mancheias as sementes divinas.Empenhamo-nos incessantemente em
torná-la fecunda, porque sabemos que suas raízes devem atravessar a
Terra de um a outro polo e cobrir-lhe a superfície. Os frutos que daí
saírem serão tão belos, tão agradáveis e tão grandes que subirão até os céus.
Feliz
aquele que tiver sabido colhê-los para se fartar, porque os Espíritos
bem-aventurados virão ao seu encontro, cingirão a sua fronte com a
auréola dos escolhidos e o farão subir os degraus do trono majestoso do
Eterno, e lhe dirão que participe da felicidade incomparável, dos
prazeres e das delícias sem fim das falanges celestes.
Infeliz
aquele a quem foi dado ver a luz e escutar a palavra de Deus e que
tiver fechado os olhos e tapado os ouvidos, porque o espírito das trevas
o envolverá com suas asas lúgubres e o transportará para o seu negro
império, para fazê-lo expiar, durante séculos, por tormentos sem conta,
sua desobediência ao Senhor. É o momento de aplicar a sentença de morte
do profeta Oséias: Coedam eos secundum auditionem coetus eorum. (Eu
os farei morrer conforme o que tiverem ouvido). Que estas poucas
palavras não sejam uma fumaça a evolar-se nos ares, mas que elas captem
vossa atenção para que as mediteis e nelas reflitais seriamente.
Apressai-vos em aproveitar os poucos instantes que vos restam para
consagrá-los a Deus. Um dia viremos perguntar-vos o que fizestes dos
nossos ensinos e como pusestes em prática a doutrina sagrada do
Espiritismo.
A
vós, pois, espíritas de Paris, que muito podeis por vossa posição
pessoal e por vossa influência moral, a vós, digo, a glória e a honra de
dar o exemplo sublime das virtudes cristãs. Não espereis que a
infelicidade venha bater à vossa porta. Marchai à frente dos vossos
irmãos sofredores; dai ao pobre o óbolo do dia; enxugai as lágrimas da
viúva e do órfão com palavras doces e consoladoras. Levantai o ânimo
abatido desse velho curvado ao peso dos anos e sob o jugo de suas
iniquidades, fazendo brilhar em sua alma as asas douradas da esperança
numa vida futura melhor. Por toda parte, à vossa passagem, prodigalizai o
amor e a consolação. Elevando, assim, as vossas boas obras à altura dos
vossos pensamentos, merecereis dignamente o título glorioso e brilhante
que mentalmente vos conferem os Espíritos do país e do estrangeiro,
cujos olhos estão fixados sobre vós e que, tocados de admiração à vista
das ondas de luz que escapam de vossas reuniões, vos chamarão de Sol da
França.
LACORDAIRE
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