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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

NO REINO DOMÉSTICO do Livro Cartas e Crônicas

32 - NO REINO DOMÉSTICO
Você, meu amigo, pergunta que papel desempenhará o Espiritismo, na ciência das relações
sociais, e, muito simplesmente, responderei que, aliado ao Cristo, o nosso movimento
renovador é a chave da paz, entre as criaturas.
Já terá refletido, porventura, na importância da compreensão generalizada, com respeito à
justiça que nos rege a vida, e à fraternidade que nos cabe construir na Terra?
A sociologia não é a realização de gabinete. É obra viva que interessa o cerne do homem, de
modo a plasmar-lhe o clima de progresso substancial.
Reporta-se você ao amargo problema dos casamentos infelizes, como se o matrimônio fosse
o único enigma na peregrinação humana, mas se esquece de que a alma encarnada é
surpreendida, a cada passo, por escuros labirintos na vida de associação.
Habitualmente, renascem juntos, sob os elos da consangüinidade, aqueles que ainda não
acertaram as rodas do entendimento, no carro da evolução, a fim de trabalharem com o
abençoado buril da dificuldade sobre as arestas que lhes impedem a harmonia. Jungidos à
máquina das convenções respeitáveis, no instituto familiar, caminham, lado a lado, sob os
aguilhões da responsabilidade e da traição, sorvendo o remédio amargoso da convivência
compulsória para sanarem velhas feridas imanifestas.
E nesse vastíssimo roteiro de Espíritos em desajuste, não identificaremos tão somente os
cônjuges infortunados. Além deles, há fenômenos sentimentais mais complexos. Existem
pais que não toleram os filhos e mães que se voltam, impassíveis, contra os próprios
descendentes. Há filhos que se revelam inimigos dos progenitores e irmãos que se
exterminam dentro do magnetismo degenerado da antipatia congênita, dilacerando-se uns
aos outros, com raios mortíferos e invisíveis do ódio e do ciúme, da inveja e do despeito,
apaixonadamente cultivados no solo mental.
Os hospitais e principalmente os manicômios apresentam significativo número de enfermos,
que não passam de mutilados espirituais dessa guerra terrível e incruenta na trincheira
mascarada sob o nome de lar. Batizam-nos os médicos com rotulagens diversas, na esfera
da diagnose complicada; entretanto, na profundez das causas, reside a influência maligna da
parentela consangüínea que, não raro, copia as atitudes da tribo selvagem e enfurecida.
Todos os dias, semelhantes farrapos humanos atravessam os pórticos das casas de saúde
ou da caridade, à maneira de restos indefiníveis de náufragos, perdidos em mar tormentoso,
procurando a terra firme da costa, através da onda móvel.
Não tenha dúvida.
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O homicídio, nas mais variadas formas, é intensamente praticado sem armas visíveis, em
todos os quadrantes do Planeta.
Em quase toda a parte, vemos pais e mães que expressam ternura, ante os filhos
desventurados, e que se revoltam contra eles toda vez que se mostrem prósperos e felizes.
Há irmãos que não suportam a superioridade daqueles que lhes partilham o nome e a
experiência, e companheiros que apenas se alegram com a camaradagem nas horas de
necessidade e infortúnio.
Ninguém pode negar a existência do amor no fundo das multiformes uniões a que nos
referimos. Mas esse amor ainda se encontra, à maneira do ouro inculto, incrustado no
cascalho duro e contundente do egoísmo e da ignorância que às vezes, matam sem a
intenção de destruir e ferem sem perceber a inocência ou a grandeza de suas vítimas.
Por isso mesmo, o Espiritismo com Jesus, convidando-nos ao sacrifício e à bondade, ao
conhecimento e ao perdão, aclarando a origem de nossos antagonismos e reportando-nos
aos dramas por nós todos já vividos no pretérito, acenderá um facho de luz em cada
coração, inclinando as almas rebeldes ou enfermiças à justa compreensão do programa
sublime de melhoria individual, em favor da tranqüilidade coletiva e da ascensão de todos.
Desvelando os horizontes largos da vida, a Nova Revelação dilatará a esperança, o estímulo
à virtude e a educação em todas as inteligências amadurecidas na boa vontade, que
passarão a entender nas piores situações familiares pequenos cursos regenerativos, dandose
pressa em aceitá-los com serenidade e paciência, de vez que a dor e a morte são
invariavelmente os oficiais da Divina Justiça, funcionando com absoluto equilíbrio, em todas
as direções, unindo ou separando almas, com vistas à prosperidade do Infinito Bem.
Assim, pois, meu caro, dispense-me da obrigação de maiores comentários, que se fariam
tediosos em nossa época de esclarecimento rápido, através da condensação dos assuntos
que dizem respeito ao soerguimento da Terra.
Observe e medite.
E, quando perceber a imensa força iluminativa do Espiritismo Cristão, você identificará Jesus
como sendo o Sociólogo Divino do Mundo, e verá no Evangelho o Código de Ouro e Luz, em
cuja aplicação pura e simples reside a verdadeira redenção da Humanidade.

Chico Xavier / Irmão X

O CAMINHO DO REINO do Livro Cartas e Crônicas

05 - O CAMINHO DO REINO
Na tosca residência de Arão, o curtidor, dizia Jesus a Zacarias, dono de extensos vinhedos
em Jericó:
- O Reino de Deus será, por fim, a vitória do bem, no domínio dos homens!... O Sol cobrirá o
mundo por manto de alegria luminosa, guardando a paz triunfante. Os filhos de todos os
povos andarão vinculados uns aos outros, através do apoio mútuo. As guerras terão
desaparecido, arredadas da memória, quais pesadelos que o dia relega aos princípios da
noite!... Ninguém se lembrará de exigir o supérfluo e nem se esquecerá de prover os
semelhantes do necessário, quando o necessário se lhes faça preciso. A seara de um
lavrador produzirá o bastante para o lavrador que não conseguiu as oportunidades da
sementeira e o teto de um irmão erguer-se-á igualmente como refúgio do peregrino sequioso
de afeto, sem que a idéia do mal lhes visite a cabeça... A viuvez e a orfandade nunca mais
derramarão sequer ligeira lágrima de sofrimento, porquanto a morte nada mais será que
antecâmara da união no amor perpétuo que clareia o sem-fim. Os enfermos, por mais
aparentemente desvalidos, acharão leito repousante, e as moléstias do corpo deixarão de
ser monstros que espreitam a moradia terrestre, para significarem simplesmente notícias
breves das leis naturais no arcabouço das formas. O trabalho não será motivo de cativeiro e
sim privilégio sagrado da inteligência. A felicidade e o poder não marcarão o lugar dos que
retenham ouro e púrpura, mas o coração daqueles que mais se empenham no doce
contentamento de entender e servir. O lar não se erigirá em cadinho de provação, porque
brilhará incessantemente por ninho de bênçãos, em cujo aconchego palpitarão as almas
felizes que se encontram para bendizer a confiança e a ternura sem mácula. O homem
sentir-se-á responsável pela tranqüilidade comum, nos moldes da reta consciência,
transfigurando a ação edificante em norma de cada dia; a mulher será respeitada, na
condição de mãe e companheira, a que devemos, originariamente, todas as esperanças e
regozijos que desabrocham na Terra, e as crianças serão consideradas por depósitos de
Deus!... A dor de alguém será repartida, qual transitória sombra entre todos, tanto quanto o
júbilo de alguém se espalhará, na senda de todos, recordando a beleza do clarão estelar... A
inveja e o egoísmo não mais subsistirão, visto que ninguém desejará para os outros aquilo
que não aguarda em favor de si mesmo! Fontes deslizarão entre jardins, e frutos
substanciosos penderão nas estradas, oferecendo-se à fome do viajor, sem pedir-lhe nada
mais que uma prece de gratidão à bondade do Pai, de vez que todas as criaturas alentarão
consigo o anseio de construir o Céu na Terra que o todo misericordioso lhes entregou!...
Deteve-se Jesus contemplando a turba que o aplaudia, frenética, minutos depois da sua
entrada em Jerusalém para as celebrações da Páscoa, e, notando que os israelitas se
diferençavam entre si, a revelarem particularidades das regiões diversas de que procediam
acentuou:
- Quando atingirmos, coletivamente, o Reino dos Céus, ninguém mais nascerá sob qualquer
sinal de separação ou discórdia, porque a Humanidade se regerá pelos ideais e interesses
de um mundo só!...
Enlevado, Zacarias fitou-o com ansiosa expectação e ponderou com respeito:
- Senhor, vim de Jericó para o culto às tradições de nossos antepassados; todavia, acima de
tudo, aspirava a encontrar-te e ouvir-te... Envelheci, arando a gleba e sonhando com a paz!...
Tenho vivido nos princípios de Moisés; no entanto, do fundo de minha alma, quero chegar ao
Reino de Deus do qual te fazes mensageiro nos tempos novos!... Mestre! Mestre!... Para
buscar-te percorri a trilha de minha estância até aqui, passo a passo... De vila em vila, de
casa em casa, um caminho existe, claro, determinado... Qual é, porém, Senhor, o Caminho
para o Reino de Deus?
- A estrada para o Reino de Deus é uma longa subida... – começou Jesus, explicando.
Eis, contudo, que filas de manifestantes penetraram o recinto, interrompendo-lhe a frase e
arrebatando-o à praça fronteiriça, recoberta de flores.
* * *
Zacarias, em êxtase, demandou o sítio de parentes, no vale de Hinom, demorando-se por
dois dias em comentários entusiastas, ao redor das promessas e ensinos do Cristo, mas, de
retorno à cidade, não surpreende outro quadro que não seja a multidão desvairada e
agressiva...
Não mais a glorificação, não mais a festa. Diante do ajuntamento, o Mestre, em pessoa, não
mais querido. Aqueles mesmos que o haviam honorificado em cânticos de louvor apupavamno
agora com requintes de injúria.
O velho de Jericó, translúcido de espanto, viu que o Amado Amigo, cambaleante e suarento,
arrastava a cruz dos malfeitores... Ansiou abraçá-lo e esgueirou-se, dificilmente, suportando
empuxões e zombarias do populacho... Rente ao madeiro, notou que um grupo de mulheres
chorosas abrigava o Mestre a parada imprevista e, antecedendo-se-lhes à palavra, ajoelhouse
diante dele e clamou:
- Senhor!... Senhor!...
Jesus retirou do lenho a destra ferida, afagou-lhe, por instantes, os cabelos que o tempo
alvejara, lembrando o linho quando a estriga descansa junto da roca, e falou, humilde:
- Sim, Zacarias, os que quiserem alcançar o Reino de Deus subirão ladeira escabrosa...
Em seguida, denotou a atenção de quem escutava os insultos que lhe eram endereçados...
Finda a pausa ligeira, apontou para o amigo, com um gesto, a poeira e o pedregulho que se
avantajavam à frente e, como a recordar-lhe a pergunta que deixara sem resposta, afirmou
com voz firme:
- Para a conquista do Reino de Deus, este é o caminho...

LIÇÃO DAS TREVAS do Livro Cartas e Crônicas

LIÇÃO DAS TREVAS
No vale das trevas, delirava a legião de Espíritos infelizes.
Rixas, obscenidades, doestos, baldões.
Planejavam-se assaltos, maquinavam-se crimes.
O Espírito Benfeitor penetrou a caverna, apaziguando e abençoando.
Aqui, abraçava um desventurado, apartando-o da malta, de modo a entregá-lo, mais tarde, a
equipes socorristas; mais adiante, aliviava com suave magnetismo a cabeça atormentada de
entidades em desvario.
O serviço assistencial seguia difícil, quando enfurecido mandante da crueldade, ao descobrilo,
se aquietou em súbita acalmia e, impondo respeitosa serenidade a chusma de loucos,
declinou-lhe a nobre condição. Que os companheiros rebelados se acomodassem, deixando
livre passagem àquele que reconhecia por missionário do bem.
- Conheces-me? - interrogou o recém-chegado, entra espantado e agradecido.
- Sim - disse o rude empreiteiro da sombra -, eu era um doente na Terra e curaste meu corpo
que a moléstia desfigurava.
Lembro-me perfeitamente de teu cuidado ao lavar-me as feridas.
Os circunstantes entraram na conversação de improviso e um deles, de dura carranca,
apontou o visitador e clamou para o amigo:
Que mais te fez este homem no mundo para que sejamos forçados à deferência?
Deu-me teto e agasalho.
Outro inquiriu:
Que mais?
Supriu minha casa de pão e roupa, libertando-nos, a mim e a família, da nudez e da fome.
Outro ainda perguntou com ironia:
Mais nada?
Muitas vezes, dividia comigo o que trazia na bolsa, entregando-me abençoado dinheiro para
que a penúria não me arrasasse.
Estabelecido o silêncio, o Espírito Benfeitor, encorajado pelo que ouvia, indagou com
humildade:
Meu irmão, nada fiz senão cumprir o dever que a fraternidade me impunha; entretanto, se te
mostras tão generoso para comigo, em tuas manifestações de reconhecimento e de amor
que reconheço não merecer, porque te entregas, assim, à obsessão e à delinqüência?! .
O interpelado pareceu sensibilizar-se, meneou tristemente a cabeça e explicou:
Em verdade, és bom e amparaste a minha vida, mas não me ensinaste a viver!
Espíritas, irmãos!
Cultivemos a divulgação da Doutrina Renovadora que nos esclarece e reúne!
Com o pão do corpo, estendamos a luz da alma que nos habilite a aprender e compreender,
raciocinar e servir.
Chico Xavier / Irmão X

O FILHO OCIOSO

Neio Lúcio

Reportava-se a pequena assembléia a variados problemas da fé em Deus, quando Jesus, tomando a palavra, narrou, complacente: — Um grande Soberano possuía vastos domínios.
Terras, rios, fazendas, pomares e rebanhos eram incontáveis em seu reino prodigioso.
Vassalos inúmeros serviam-lhe a casa, em todas as direções.
Alguns deles nunca se perdiam dos olhos do Senhor, de maneira absoluta.
De tempos a tempos, visitavam-lhe a residência, ofereciam-lhe préstimos ou traziam-lhe flores de ternura, recebendo novos roteiros de trabalho edificante.
Outros, porém, viviam a belprazer nas florestas imensas.
Estimavam a liberdade plena com declarada indisciplina.
Eram verdadeiros perturbadores do vasto império, porquanto, ao invés de ajudarem a Natureza, desprezavam- na sem comiseração.
Matavam animais pelo simples gosto da caça, envenenavam as águas para assassinarem os peixes em massa, perseguiam as aves ou queimavam as plantações dos servos fiéis, não obstante saberem, no íntimo, que deviam obediência ao Poderoso Senhor.
Um desses servidores levianos e ociosos não regateava sua crença na existência e na bondade do Rei.
Depois de longas aventuras na mata, exterminando aves indefesas, quando o estômago jazia farto, costumava comentar a fé que depositava no rico Proprietário de extenso e valioso domínio.
Um Soberano tão previdente quanto aquele que soubera dispor das águas e das terras, das árvores e dos rebanhos, devia ser muito sábio e justiceiro — explanava consciente.
Sutilmente, todavia, escapava-lhe a todos os decretos.
Pretendia viver a seu modo, sem qualquer imposição, mesmo daquele que lhe confiara o vale em que consumia a existência regalada e feliz.
Decorridos muitos anos, quando as suas mãos já não conseguiam erguer a menor das armas para perturbar a Natureza, quando os olhos embaciados não mais enxergavam a paisagem com a mesma clareza da juventude, inclinando-se-lhe o corpo, cansado e triste, para o solo, resolveu procurar o Senhor, a fim de pedir-lhe proteção e arrimo.
Atravessou lindos campos, nos quais os servos leais, operosos e felizes, cultivavam o chão da propriedade imensa e chegou ao iluminado domicílio do Soberano.
Experimentando aflitivo assombro, reparou que os guardas do limiar não lhe permitiam o suspirado ingresso, porque seu nome não constava no livro de servidores ativos.
Implorou, rogou, gemeu; no entanto, uma das sentinelas lhe observou:
— O tempo disponível do Rei é consagrado aos cooperadores.
— Como assim? — bradou o trabalhador imprevidente.
— Eu sempre acreditei na soberania e na bondade do nosso glorioso ordenador...
O guarda, contudo, redargüiu, sem pestanejar:
— Que te adiantava semelhante convicção, se fugiste aos decretos de nosso Soberano, gastando precioso tempo em perturbar-lhe as obras? O teu passado está vivo em tua própria condição...
Em que te servia a confiança no Senhor, se nunca vieste a Ele, trazendo um minuto de colaboração a benefício de todos? Observa-se, logo, que a tua crença era simples meio de acomodar a consciência com os próprios desvarios do coração.
E o servo, já comprometido pelos atos menos dignos, e de saúde arruinada, foi constrangido a começar toda a sua tarefa, de novo, de maneira a regenerar-se.
O Mestre calou-se, durante alguns momentos, e concluiu:
— Aqui temos a imagem de todo ocioso filho de Deus.
O homem válido e inteligente que admite a existência do Eterno Pai, que lhe conhece o poder, a justiça e a bondade, através da própria expressão física da Natureza, e que não o visita em simples oração, de quando em quando, nem lhe honra as leis com o mínimo gesto de amparo aos semelhantes, sem o mais 47 leve traço de interesse nos propósitos do Grande Soberano, poderá retirar alguma vantagem de suas convicções inúteis e mortas? Com essa indagação que calou nos ouvidos dos presentes, o culto evangélico da noite foi expressivamente encerrado.
Do Livro Jesus no Lar  - Francisco C. Xavier

A RESPOSTA CELESTE

A  RESPOSTA  CELESTE
Neio Lúcio

Solicitando Bartolomeu esclarecimentos quanto às respostas do Alto às súplicas dos homens, respondeu Jesus para elucidação geral:
— Antigo instrutor dos Mandamentos Divinos ia em missão da Verdade Celeste, de uma aldeia para outra, profundamente distanciadas entre si, fazendo-se acompanhar de um cão amigo, quando anoiteceu, sem que lhe fosse possível prever o número de milhas que o separavam do destino.
Reparando que a solidão em plena Natureza era medonha, orou, implorando a proteção do Eterno Pai, e seguiu.
Noite fechada e sem luar, percebeu a existência de larga e confortadora cova, à margem da trilha em que avançava, e acariciando o animal que o seguia, vigilante, dispôs-se a deitar-se e dormir.
Começou a instalar-se, pacientemente, mas espessa nuvem de moscas vorazes o atacou, de chofre, obrigando-o a retomar o caminho.
O ancião continuou a jornada, quando se lhe deparou volumoso riacho, num trecho em que a estrada se bifurcava.
Ponte rústica oferecia passagem pela via principal, e, além dela, a terra parecia sedutora, porque, mesmo envolvida na sombra noturna, semelhava-se a extenso lençol branco.
O santo pregador pretendia ganhar a outra margem, arrastando o companheiro obediente, quando a ponte se desligou das bases, estalando e abatendo-se por inteiro.
Sem recursos, agora, para a travessia, o velhinho seguiu pelo outro rumo, e, encontrando robusta árvore, ramalhosa e acolhedora, pensou em abrigar-se, convenientemente, porque o firmamento anunciava a tempestade pelos trovões longínquos.
O vegetal respeitável oferecia asilo fascinante e seguro no próprio tronco aberto.
Dispunha-se ao refúgio, mas a ventania começou a soprar tão forte que o tronco vigoroso caiu, partido, sem remissão.
Exposto então à chuva, o peregrino movimentou-se para diante.
Depois de aproximadamente duas milhas, encontrou um casebre rural, mostrando doce luz por dentro, e suspirou aliviado.
Bateu à porta.
O homem ríspido que veio atender foi claro na negativa, alegando que o sítio não recebia visitas à noite e que não lhe era permitido acolher pessoas estranhas.
Por mais que chorasse e rogasse, o pregador foi constrangido a seguir além.
Acomodou-se, como pode, debaixo do temporal, nas cercanias da casinhola campestre; no entanto, a breve espaço, notou que o cão, aterrado pelos relâmpagos sucessivos, fugia a uivar, perdendo-se nas trevas.
O velho, agora sozinho, chorou angustiado, acreditando-se esquecido por Deus e passou a noite ao relento.
Alta madrugada, ouviu gritos e palavrões indistintos, sem poder precisar de onde partiam.
Intrigado, esperou o alvorecer e, quando o Sol ressurgiu resplandecente, ausentou-se do esconderijo, vindo a saber, por intermédio de camponeses aflitos, que uma quadrilha de ladrões pilhara a choupana onde lhe fora negado o asilo, assassinando os moradores.
Repentina luz espiritual aflorou-lhe na mente.
Compreendeu que a Bondade Divina o livrara dos malfeitores e que, afastando dele o cão que uivava, lhe garantira a tranqüilidade do pouso.
Informando-se de que seguia em trilho oposto à localidade do destino, empreendeu a marcha de regresso, para retificar a viagem, e, junto à ponte rompida, foi esclarecido por um lavrador de que a terra branca, do outro lado, não passava de pântano traiçoeiro, em que muitos viajores imprevidentes haviam sucumbido.
  O velho agradeceu o salvamento que o Pai lhe enviara e, quando alcançou a árvore tombada, um rapazinho observou-lhe que o tronco, dantes acolhedor, era conhecido covil de lobos.
Muito grato ao Senhor que tão milagrosamente o ajudara, procurou a cova onde tentara repouso e nela encontrou um ninho de perigosas serpentes.
Endereçando infinito reconhecimento ao Céu pelas expressões de variado socorro que não soubera entender, de pronto, prosseguiu adiante, são e salvo, para desempenho de sua tarefa.
Nesse ponto da curiosa narrativa, o Mestre fitou Bartolomeu demoradamente e terminou: — O Pai ouve sempre as nossas rogativas, mas é preciso discernimento para compreender as respostas d’Ele e aproveitá-las.
Do Livro Jesus no Lar  - Francisco C. Xavier

CARIDADE - ATITUDE

Emmanuel

Caridade que se expresse tão-somente na cessão do supérfluo pode facilmente induzir-nos à vaidade.
                                                                                                 * * *
Não é difícil dar o que retemos, no entanto, a virtude genuína pede a doação de nós mesmos, através do que temos e do que somos.
Em razão disso, é preciso não esquecer que a caridade também e acima de qualquer circunstância, o sentimento que nos rege a atitude.
No templo doméstico, é compreensão e gentileza.
Em família, é cooperação desinteressada e fraterna.
Na profissão, é a honestidade.
No trabalho, é o dever bem cumprido.
Na dor, é fortaleza.
Na alegria, é temperança.
Na saúde, é a presença útil.
Na enfermidade, é a paciência.
Na abastança, é o serviço a todos.
Na pobreza, é diligência.
Na direção, é a responsabilidade.
Na obediência, é humildade digna.
Entre amigos, é a confiança.
Entre adversários, é perdão das ofensas.
Entre os fortes, é o socorro aos mais fracos.
Entre os bons, é o auxílio aos menos bons.
Na cultura, é o amparo à ignorância.
No poder, é a autoridade sem abuso.
Em sociedade, é o apoio fraterno que devemos uns aos outros.
Na vida privada, é a conduta reta ante o próprio julgamento.
Não vale espalhar um tesouro amoedado com as vítimas de penúria, alimentando o ódio e a incompreensão, a revolta e o pessimismo nas almas.
                                                                                                 * * *
Aceitemos a experiência que o Senhor nos reserva cada dia, fazendo o melhor ao nosso alcance.
                                                                                                 * * *
Seja a nossa tarefa um cântico de paz e esperança, eficiência e alegria, onde estivermos.
                                                                                                 * * *
E recebendo o divino dom de pensar e entender, irradiando os mais belos ideais que nos enriquecem a vida, em forma de serviço aos semelhantes, a caridade será, em nossos corações, a luz constante clareando, desde as sombras da terra os mais remotos horizontes de nosso luminoso porvir.
 
 
Livro: Linha Duzentos – Francisco Cândido Xavier – Pelo Espírito Emmanue

QUEIXAS NÃO

QUEIXAS  NÃO

Emmanuel

A vida é uma escola.
Por mais difícil o processo educativo a que nos vejamos submetidos, saibamos valorizar o tempo, agradecendo e trabalhando ao invés de reclamar ou ferir.
Todos somos chamados a estudar e aprender, prestigiando as oportunidades e as horas.
-o-
Imagina quanta atividade ser-nos-á possível desenvolver em trinta minutos.
Despendendo semelhante cota de tempo, conseguimos facilmente reconfortar corações aflitos, estender apoio aos que sofrem mais que nós mesmos, reerguer esperanças caídas e efetuar prestações de serviço, à feição de viveiros de paz e luz.
-o-
Por mais constrangedoras as circunstâncias que nos cerquem, nunca nos lamentemos.
Ao contrário disso, apliquemo-nos, quanto se nos faça possível, à concretização do bem de todos.
Nessa diretriz, entretanto, é indispensável se nos amplie a visão.
Compreender mais, para servir melhor.
Os motivos para inquietação surgem freqüentemente no cotidiano, mas, se lhes penetramos o objetivo, saberemos acolhê-los, de imediato, por ensinos da vida em nosso favor.
A desarmonia sugere a necessidade de entendimento.
O obstáculo leciona confiança.
A solidão fornece aulas de auto-análise.
O fracasso administra experiência.
Imperioso discernir, a fim de que nos reconheçamos na condição de alunos, em todos os lances e dificuldades do caminho que nos foi apontado ao trânsito comum.
-o-
Cada dia é uma fração de recursos que podemos empregar em aprendizado e melhoria por fora, para enriquecimento e sublimação por dentro de nós.
Ante aqueles que já despertaram nas responsabilidades próprias, não existe ocasião para queixas.
Todas as horas são instrumentos que favorecem a execução das tarefas que fomos induzidos ou claramente requisitados a realizar no campo do bem.
Empenhemo-nos em lutar pela própria elevação.
Ninguém está excluído.
Quantos se afastam de semelhante imposição da existência caem facilmente na reclamação ou na rebeldia, encontrando em si mesmos o infortúnio dos que param de agir e servir.
Inexperientes ainda, acomodam-se com a ociosidade e com a sombra, esquecendo-se, porém, de que unicamente aqueles que dormem sobre colchões de rosas são os que sabem dramatizar a agressão dos espinhos.

(De “Instrumentos do Tempo”, de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel)
 

CHAMADOS E ESCOLHIDOS


Emmanuel
 
Estejamos convencidos de que ainda nos achamos a longa distância do convívio com os eleitos da glória celeste;
entretanto,
pelo chamamento da fé viva que hoje nos trás ao conhecimento superior, guardemos a certeza de que já somos os escolhidos:
para a regeneração de nós mesmos;
para o esquecimento de todas as faltas do próximo, de modo a recapitular com rigor as nossas próprias imperfeições redimindo-as.
para o perdão incondicional, em todas as circunstâncias da vida;
para a atividade infatigável na confraternização verdadeira;
para auxiliar os que erram
para ensinar aos mais ignorantes que nós mesmos;
para suportar o sacrifício, no amparo aos que sofrem, ainda sem a força da fé renovadora que já nos robustece o espírito;
para servir, além de nossas próprias obrigações, sem direito à recompensa;
para compreender os nossos irmãos de jornada evolutiva, sem exigir que nos entendam;
para apagar as fogueiras do ódio e da incompreensão, ao preço de nossa própria renúncia;
para estender a caridade sem ruído, como quem sabe que ajudar aos outros é enriquecer a própria existência;
para persistir nas boas obras sem reclamações e sem desfalecimentos, em todos os ângulos do caminho;
para negar a nossa antiga vaidade e tomar, sobre os próprios ombros,cada dia, a cruz abençoada e redentora de nossos deveres, marchando, com humildade e alegria, ao encontro da vida sublime...
A indicação honrosa nos felicita.
Nossa presença nos estudos do Evangelho expressa o apelo que flui do Céu no rumo de nossas consciências.
Chamados para a luz e escolhidos para o trabalho.
Eis a nossa posição real nas benções do “hoje”.
E se quisermos aceitar a escolha com que fomos distinguidos, estejamos certos igualmente de que em breve “amanhã” comungaremos felizes com o nosso Mestre e Senhor.

Do livro Instrumentos do Tempo. Psicografia de Francisco Candido Xavier.  
 
 

AJUDA-TE


Emmanuel
 
Rogando amparo ao Senhor, não olvides a prestação de amparo a ti mesmo.
Deus confere ao lavrador a luz do sol, a bênção da chuva e o fator do vento, mas não lhe dispensa o próprio suor, no trato da sementeira, para que a colheita lhe surja às mãos por recurso divino.
Concede ao artista o mármore bruto, o buril e a inspiração generosa; entretanto, não o exonera do próprio labor na consecução da obra prima.
Pedirás o concurso do Céu em teu benefício; entretanto, de que valeria a bênção do Alto, se te consagras, deliberadamente, ao menosprezo da própria vida?
O médico mais competente nada conseguirá na assistência ao enfermo que não deseja curar-se e o professor mais exímio nada alcançara do aluno que foge sistematicamente à lição.
Não basta rogar alguém auxílio para que se veja auxiliado com segurança.
É imprescindível o senso de responsabilidade de viver para que as vantagens da existência nos engrandeçam o espírito.
A oração será sempre o desejo expresso, exigindo esforço próprio, a fim de concretizar-se.
Lembremo-nos de que um edifício não se ergue do solo tão-somente pela beleza e pelo merecimento da planta.
A prece que nos exterioriza o anseio de progresso e de luz é o projeto louvável de nossa melhor esperança, mas se em verdade pretendemos chegar ao progresso e à luz, que anelamos ardentemente, é preciso nos disponhamos a lutar e sofrer, trabalhar e servir na construção de nosso ideal.
Ajudemo-nos cada dia para que o Céu nos ajude com o devido proveito, de vez que o Céu ajuda sempre mas nem sempre sabemos aquilo que procuramos para fixar em nosso caminho a incessante ajuda celestial.

Do livro Instrumentos do Tempo. Psicografia de Francisco Candido Xavier.  
 

ANTE OS ADVERSÁRIOS

 
Emmanuel
 
        Interpretemos nossos adversários por irmãos, quando não nos seja possível recebê-los por instrutores.
         Quando o Senhor nos aconselhou a paz com os inimigos do nosso modo de ser, recomendou-nos certamente o olvido de todo o mal.
         Às vezes, fustigando aqueles que nos ofendem, a pretexto de servirmos à verdade, quase sempre faltamos ao nosso dever de amor.
         Nem todos podem enxergar a vida por nossos olhos ou aceitar o mapa da jornada terrestre, através da cartilha dos nossos pontos de vista.
         E, não raro, em zurzindo os outros com o látego de nossa crítica ou intoxicando-os com o vinagre de nosso azedume, procederemos à maneira do lavrador que enlouquecesse, de improviso, espalhando cáusticos destruidores sobre a plantação nascente, necessitada de auxílio pela fragilidade natural.
         Claro que o amor fraterno encontra mil modos diversos para fazer-se sentir, no reajuste das situações difíceis no caminho da vida e é justamente para a verdadeira solidariedade que devemos apelar em qualquer circunstância obscura do roteiro comum.
         Se não apagamos o incêndio, atirando-lhe combustível, e se não podemos sanar feridas, alargando-lhes as bordas, a golpes de força, também não entraremos em harmonia com os nossos adversários por intermédio da violência.
         Usemos o amor que o Mestre nos legou, se desejamos a paz na Vida Maior.
         Compreendamos aos que nos ofendem.
         Oremos pelos que nos perseguem ou caluniam.
         Amparemos os que nos perturbam.
         Sejamos o apoio dos companheiros mais fracos.
         E o Divino Senhor da Vinha do Mundo, que nos aconselhou o livre crescimento do joio e do trigo, no campo da Terra, em momento oportuno, se fará revelar, amparando-nos e selecionando os nossos sentimentos, através do seu justo julgamento.
 
Do livro Instrumentos do Tempo. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

PERANTE OS CAÍDOS


Emmanuel
 
Tão fácil relegar ao infortúnio os nossos irmãos caídos!... Muitos passam por aqueles que foram acidentados em terríveis enganos e nada encontram a fim de oferecer-lhes, senão frases como estas: "eu bem disse", "avisei muito"...
No entanto, por trás da queda de nosso amigo menos feliz estão as lutas da resistência, que só a Justiça divina pode medir.
Este foi impelido à delinqüência e faz-se conhecido agora por uma ficha no cadastro policial; mas, até que se lhe consumasse a ruína, quanto abandono e quanta penúria terá arrastado na existência, talvez desde os mais recuados dias da infância!... Aquele se arrojou aos precipícios da revolta e do desânimo, abraçando o delírio da embriaguez; contudo, até que tombasse no descrédito de si mesmo, quantos dias e quantas noites de aflição terá atravessado, a estorcegar-se sob o guante da tentação para não cair!.. Aquela entrou pelas vias da insensatez e acomodou-se
no poço da infelicidade que cavou para si própria; todavia, em quantos espinheiros de necessidade e perturbação ter-se-á ferido, até que a loucura se lhe instalasse no cérebro atormentado!... Aquele outro desertou de tarefas e compromissos em cuja execução empenhara a vitória da própria alma e resvalou para experiências menos dignas, comprometendo os fundamentos da própria vida; no entanto, quantas tribulações terá agüentado e quantas lágrimas vertido, até que a razão se lhe entenebrecesse, abrindo caminho à irresponsabilidade e à demência!...
Diante dos companheiros apontados à censura, jamais condenes! Pensa nas trilhas de provação e tristeza que perlustram até que os pés se lhes esmorecessem, vacilantes, na jornada difícil! Reflete nas correntes de fogo invisível que lhes terão requeimado a mente, até que cedessem às compulsões terríveis das trevas!...
Então, e só então, sentirás a necessidade de pensar no bem, falar no bem, procurar o bem e realizar unicamente o bem, compreendendo, por fim, a amorosa afirmação de Jesus: "Eu não vim à Terra para curar os sãos".

Do livro Instrumentos do Tempo. Psicografia de Francisco Candido Xavier.  
 
 

CARIDADE DO ESQUECIMENTO

CARIDADE  DO  ESQUECIMENTO

Emmanuel
 
Não olvides a caridade do esquecimento de todo mal.
Nela reside a força progressiva do bem.
Dissabores revividos são espinhos bem cultivados.
Diariamente, é possível exercê-la, porque o cipoal dos desgostos de toda sorte nasce também de sementes minúsculas.
A benefício da paz, não te fixes nas pequenas desarmonias que te rodeiam.
Esquece o erro do vizinho.
O mau temperamento do próximo.
A irritação do companheiro.
A ingratidão da parentela.
 A intriga sutil.
A palavra maldosa.
A frase contundente.
A resposta impensada dos outros.
A saudação não respondida.
A ilusão dos que te seguem.
A irreflexão de alguns ou de muitos.
A ignorância do associado de luta.
A atitude do irmão, em desacordo com a tua.
A opinião diferente da que adotas.
A cicatriz ou a ferida dos semelhantes.
A infelicidade do companheiro inseguro.
A observação injuriosa que procura ferir-te a dignidade pessoal.
A incompreensão do meio a que serves.
A dificuldade e o obstáculo que se apresentam por abençoadas provas à tua fortaleza moral ou à tua boa vontade.
Lembra-te do auxílio simples do esquecimento da sombra que se interpõe entre o nosso espírito e a realidade.
Abre o coração à Luz e adianta-te, olvidando as trevas da jornada.
Quem recebe a dádiva da luta na condição de um tesouro por engrandecer e aperfeiçoar, realmente encontrou para a própria felicidade, o verdadeiro caminho do Céu.

Do livro Instrumentos do Tempo. Psicografia de Francisco Candido Xavier.  
 

CULTO INDIVIDUAL DO EVANGELHO


 
Emmanuel
 
 
         Nem sempre encontrarás a colaboração precisa ao Culto do Evangelho no templo familiar.
         Por vezes, será necessário esperar o amadurecimento dos companheiros que se mostram semelhantes à folhagem viçosa nas robustas frondes da vida, incapazes de perceber a glória da frutificação no futuro.
         Ainda assim, procura a intimidade do Mestre e, sozinho embora, sintoniza-te com Ele, através da leitura divina.
         Realmente, por agora, és parte integrante do grupo consangüíneo, mas, no fundo, és o irmão da Humanidade inteira, com obrigações de seguir para a frente.
         Todos somos peregrinos da eternidade, em trânsito para a vida superior.
         Cada situação no círculo das formas, em que experimentamos e somos experimentados, é simples posição provisória.
         Lembra-te de que o dia será a inevitável arena do testemunho e, ao longo das horas, encontrarás mil alvitres diferentes.
         É a cólera pretendendo insinuar-se através do teu campo emotivo.
         É a dor que tentará subtrair-te o ânimo.
         É a ventania das provas, buscando apagar-te a fé vacilante e humilde.
         É o verbo desvairado que te visitará nas bocas alheias, concitando-te a esquecer as melhores conquistas espirituais.
         É a revolta que projetará fel sobre a tua esperança.
È a insubmissão do próprio “eu” que te criará dificuldades inúmeras.
         É a vaidade que te repetirá velhas fantasias acerca de tua superioridade inexistente.
         É o orgulho que te apartará da fraternidade legítima.
         É a preguiça que te fará acreditar no poder da enfermidade sobre a saúde e do desalento improdutivo sobre a alegria edificante
         É a maldade que te inclinará a palavra ao julgamento leviano ou apressado, no intuito de arrojar-te às trevas.
          Recorda semelhantes inimigos que nos desafiam constantemente, na luta sem quartel da evolução e do aperfeiçoamento, e, no culto individual da Boa-Nova, grava em ti mesmo as observações do Mestre Divino, anotando-lhe os conselhos e avisos e tomando as armas da compreensão e do bem para lutar dignamente, cada dia, na abençoada conquista do futuro glorificado e sem fim.
 

Do livro Instrumentos do Tempo. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

ANTE O REINO DOS CÉUS


Emmanuel
 
Indubitavelmente, a palavra do Mestre, no comentário sobre a dificuldade dos ricos ante o Reino dos Céus, exprime incontestável realidade, porquanto a posse exagerada de bens terrestres é quase sempre a crucificação da alma em pesados madeiros de ouro.
 
Enquanto a pobreza de recursos materiais vive independente para a amizade e para a fé, para a confiança e para a compreensão, os detentores da fortuna amoedada vivem quase sempre prisioneiros da suspeita e da desilusão, nos tormentos da defensiva...
Mas, existem outros ricos do mundo com infinitos obstáculos no acesso ao paraíso da alegria e da paz.
Vejamos, por exemplo:
os ricos de exigências;
os ricos da cólera a se desvairarem nos conflitos das trevas;
os ricos de melindres pessoais que nunca conseguem elementos de tolerância, necessários à superação das próprias fraquezas;
os ricos da mentira que tecem a rede de sombras em que enleiam a própria alma;
os ricos de tristeza e desânimo, recolhidos à inutilidade em que se acolhem;
os ricos de reclamações e de queixas que atravessam o mundo, entre a insatisfação e a ociosidade;
os ricos de ignorância que se agarram à penúria de espírito;
os ricos de letras e artes que se encarceram em torres de marfim, para o culto ao próprio egoísmo;
os ricos de saúde e de possibilidades que imobilizam o coração na caixa do peito, aguardando que o dinheiro fácil lhes venha ao encontro, para o exercício da caridade;
os ricos de ódio;
os ricos de usura;
os ricos de medo da verdade e do bem;
e os ricos numerosos da vaidade que se trancafiam nas masmorras do próprio “eu”, exigindo que o Céu se converta em propriedade exclusiva dos seus caprichos individuais.
 
Enriqueçamo-nos de amor e sirvamos sempre.
O dinheiro pode ajudar muitíssimo, mas, só o coração aberto ao esplendor solar do bem pode amparar, libertar, erguer, salvar e aperfeiçoar para sempre.
 
 
Do livro Instrumentos do Tempo. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.