O Espírita e o Mundo Atual
A Terra está passando por um período crítico de crescimento. Nosso pequenino mundo, fechado em concepções mesquinhas e acanhados limites, amadurece para o infinito. Suas fronteiras se abrem em todas as direções.
Estamos às vésperas de uma Nova Terra e um Novo Céu, segundo as expressões do Apocalipse. O Espiritismo veio para ajudar a Terra nessa transição.
Procuremos, pois, compreender a nossa responsabilidade de espíritas, em todos os setores da vida contemporânea. Não somos espíritas por acaso, nem porque precisamos do auxílio dos Espíritos para a solução dos nossos problemas terrenos. Somos espíritas porque assumimos na vida espiritual graves responsabilidades para esta hora do mundo. Ajudemo-nos a nós
mesmos, ampliando a nossa compreensão do sentido e da natureza do Espiritismo, de sua importante missão na Terra. E ajudemos o Espiritismo a cumpri-la.
O mundo atual está cheio de problemas e conflitos. O crescimento da população, o desenvolvimento econômico, o progresso cientifico, o aprimoramento técnico, e a profunda modificação das concepções da vida e do homem, colocam-nos diante de uma situação de assustadora instabilidade.
As velhas religiões sentem-se abaladas até o mais fundo dos seus alicerces. Ameaçam ruir, ao impacto do avanço cientifico e da propagação do ceticismo. Descrentes dos velhos dogmas, os homens se voltam para a febre dos instintos, numa inútil tentativa de regressar à irresponsabilidade animal.
O espírita não escapa a essa explosão do instinto. Mas o Espiritismo não é uma velha religião nem uma concepção superada. É uma doutrina nova, que apareceu precisamente para alicerçar o futuro. Suas bases não são dogmáticas, mas cientificas, experimentais. Sua estrutura não é teológica, mas filosófica, apoiada na lógica mais rigorosa. Sua finalidade religiosa não se define pelas promessas e as ameaças da Teologia, mas pela consciência da liberdade humana e da responsabilidade espiritual de cada indivíduo, sujeita ao controle natural da lei de causa e efeito. O espírita não tem o direito de tremer e apavorar-se, nem de fugir aos seus deveres e entregar-se aos instintos. Seu dever é um só: lutar pela implantação do Reino de Deus na Terra.
Mas como lutar? Este livrinho procurou indicar, aos espíritas, várias maneiras de proceder nas circunstâncias da vida e em face dos múltiplos problemas da hora presente. Não se trata de oferecer um manual, com regras uniformes e rígidas, mas de apresentar o esboço de um roteiro, com base na experiência pessoal dos autores e na inspiração dos Espíritos que os auxiliaram a escrever estas páginas. A luta do espírita é incessante. As suas frentes de batalha começam no seu próprio íntimo e vão até os extremos limites do mundo exterior. Mas o espírita não está só, pois conta com o auxílio constante dos Espíritos do Senhor, que presidem à propagação e ao desenvolvimento do Espiritismo na Terra.
A maioria dos espíritas chegaram ao Espiritismo tangidos pela dor, pelo sofrimento físico ou moral, pela angústia de problemas e situações insolúveis. Mas, uma vez integrados na Doutrina, não podem e não devem continuar com as preocupações pessoais que motivaram a sua transformação conceptual. O Espiritismo lhes abriu a mente para uma compreensão inteiramente nova da realidade. É necessário que todos os espíritas procurem alimentar cada vez mais essa nova compreensão da vida e do mundo, através do estudo e da meditação. É necessário também que aprendam a usar a poderosa arma da prece, tão desmoralizada pelo automatismo habitual a que as religiões formalistas a relegaram. A prece é a mais poderosa arma de que o espírita dispõe, como ensinou Kardec, como o proclamou Léon Denis e como o acentuou Miguel Vives. A prece verdadeira, brotada do íntimo, como a fonte límpida brota das entranhas da terra, é de um poder não calculado pelo homem. O espírita deve utilizar-se constantemente da prece. Ela lhe acalmará o coração inquieto e aclarará os caminhos do mundo. A própria ciência materialista está hoje provando o poder do pensamento e a sua capacidade de transmissão ao infinito. O pensamento empregado na prece leva ainda a carga emotiva dos mais puros e profundos sentimentos. O espírita já não pode duvidar do poder da prece, pregado pelo Espiritismo. Quando alguns "mestres" ocultistas ou espíritas desavisados chamarem a prece de muleta, o espírita convicto deve lembrar que o Cristo também a usava e também a ensinou.
Abençoada muleta é essa, que o próprio Mestre dos Mestres não jogou à margem do caminho, em sua luminosa passagem pela Terra!
O espírita sabe que a morte não existe, que a dor não é uma vingança dos deuses ou um castigo de Deus, mas uma força de equilíbrio e uma lei de educação, como explicou Léon Denis. Sabe que a vida terrena é apenas um período de provas e expiações, em que o espírito imortal se aprimora, com vistas à vida verdadeira, que é a espiritual. Os problemas angustiantes do mundo atual não podem perturbá-lo. Ele está amparado, não numa fortaleza perecível, mas na segurança dinâmica da compreensão, do apercebimento constante da realidade viva que o rodeia e de que ele mesmo é parte integrante. As mudanças incessantes das coisas, que nos revelam a instabilidade do mundo, já não podem assustar o espírita, que conhece a
lei de evolução. Como pode ele inquietar-se ou angustiar-se, diante do mundo atual?
O Espiritismo lhe ensina e demonstra que este mundo em que agora nos encontramos, longe de nos ameaçar com morte e destruição, acena-nos com ressurreição e vida nova. O espírita tem de enfrentar o mundo atual com a confiança que o Espiritismo lhe dá, essa confiança racional em Deus e nas suas leis admiráveis, que regem as constelações atômicas no seio da matéria e as constelações astrais no seio do infinito. O espírita não teme, porque conhece o processo da vida, em seus múltiplos aspectos, e sabe que o mal é um fenômeno relativo, que caracteriza os mundos inferiores. Sobre a sua cabeça rodam diariamente os mundos superiores, que o esperam na distância e que os próprios materialistas hoje procuram atingir com os seus foguetes e as suas sondas espaciais. Não são, portanto, mundos utópicos, ilusórios, mas realidades concretas do Universo visível.
Confiante em Deus, inteligência suprema do Universo e causa primária de todas as coisas, - poder supremo e indefinível, a que as religiões dogmáticas deram a aparência errônea da própria criatura humana, - o espírita não tem o que temer, desde que procure seguir os princípios sublimes da sua Doutrina. Deus é amor, escreveu o apóstolo João. Deus é a fonte do Bem e da Beleza, como afirmava Platão. Deus é aquela necessidade lógica a que se referia Descartes, que não podemos tirar do Universo sem que o Universo se desfaça. O espírita sabe que não tem apenas crenças, pois possui conhecimentos. E quem conhece não teme, pois só o desconhecido nos apavora.
O mundo atual é o campo de batalha do espírita. Mas é também a sua oficina, aquela oficina em que ele forja um mundo novo. Dia a dia ele deve bater a bigorna do futuro. A cada dia que passa, um pouco do trabalho estará feito. O espírita é o construtor do seu próprio futuro do mundo. Se o espírita recuar, se temer, se vacilar, pode comprometer a grande obra. Nada lhe deve perturbar o trabalho, na turbulenta mas promissora oficina do mundo atual. Em resumo:
O espírita é o consciente construtor de uma nova forma de vida humana na Terra e de vida espiritual no Espaço; sua responsabilidade é proporcional ao seu conhecimento da realidade, que a Nova Revelação lhe deu; seu dever
de enfrentar as dificuldades atuais, e transformá-las em novas oportunidades de progresso, não pode ser esquecido um momento sequer; espíritas, cumpramos o nosso dever!
Herculano Pires
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sábado, 1 de novembro de 2014
Passe Diferente
Passe Diferente
Indispensável estudar o Espiritismo. A Doutrina Espírita, tese'>síntese da Religião, é sagrado binômio de evolução psíquica, cuja dinâmica poderemos conceituar como: Jesus iluminando o coração e Kardec ilustrando o raciocínio.
Vez por outra, porém, repontam teorias de arribação.
No campo do passe, a exemplo, muitos corações já foram assaltados por inusitadas e alienígenas informações, estranhas à simplicidade profunda da Doutrina Espírita.
Produzem estas inquietudes:
- Na doação de energias aos que sofrem, na operação de substituir a molécula malsã por uma sã, estaríamos operando com o passe magnético ou espiritual? Que categoria de passes serviria a este ou àquele enfermo? Quem transmite passe ao adulto, poderá fazê-lo à criança?
O impasse poderá levar-nos a titubear.
Em verdade, contudo, no Espiritismo sempre foi muito claro que a transfusão ocorrida num passe é sempre de natureza fluídica. E o fluido e o elemento primitivo do corpo carnal e do perispírito, os quais são simples transformações dele" (1).
A ação magnética ou espiritual provém de uma só fonte.
Há, no mundo, reprisamos, um único elemento primitivo, o fluido universal, sendo todos os corpos, todas as formas vivas ou inanimadas, todas as manifestações de vida, mera variedade de condensação ou coesão da mesma energia.
A própria Ciência, hoje energética, consagra a unidade.
No considerar o tema, em "A Gênese", Kardec desce a detalhes, esclarecendo que a ação do passe pode produzir-se de muitas maneiras. Alinha as três fundamentais:
Pelo próprio fluido do passista;
Pela atuação direta de um Espírito, sem o concurso do passista (beneficiando todos os necessitados, independentemente de sua crença religiosa, de seu grau evolutivo, inclusive sem o conhecimento e o reconhecimento dos beneficiários);
Pelos fluidos que os Espíritos derramam sobre o passista, imprimindo ao fluido natural do passista qualidades de que ele carece.
Na falta do termo passista, tão comum na atualidade espírita brasileira, Kardec os denominava magnetizadores, a fim de diferenciá-los dos médiuns de cura. A mediunidade de cura é "o dom que possuem certas pessoas de curar pelo simples toque, pelo olhar, mesmo por um gesto, sem o concurso de qualquer medicação" (2).
Hoje, os magnetizadores são chamados passistas.
Observemos, ainda, que a participação de um Espírito, na doação do passe, não se reconhece pela sua manifestação ostensiva, isto é, pela precipitação do fenômeno de incorporação ou de psicofonia ou de efeito físico. A participação é esse "derramar de fluidos, imprimindo ao fluido natural do passista as qualidades de que ele carece".
Ainda em "O Livro dos Médiuns" (3), Kardec formula nove questões, cujas respostas aclaram definitivamente o tema. Dentre elas, destacamos apenas uma:
Entretanto, o médium é um intermediário entre os Espíritos e o homem; ora, o magnetizador, haurindo em si mesmo a força de que se utiliza, não parece que seja intermediário de nenhuma potência estranha.
R. É um erro; a força magnética reside, sem dúvida, no homem, mas é aumentada pela ação dos Espíritos que ele chama em seu auxílio. Se magnetizas com o propósito de curar, por exemplo, e invocas um bom Espírito que se interessa por ti e pelo teu doente, ele aumenta a tua força e a tua vontade, dirige o teu fluido e lhe dá as qualidades necessárias.
A clareza, aí, é gritante!
O passe é sempre o passe.
Gestos, postura física, ginásticas rítmicas, rituais na operação do passe, são meros hábitos alimentados pelos passistas ou pelos que os instruíram. Originam-se da superstição que "pode emprestar virtudes quaisquer a certas palavras (ou atos) e somente Espíritos ignorantes ou mentirosos podem alimentar semelhantes idéias, prescrevendo fórmulas" (4). O parêntese é nosso.
Uma classificação de passes, para atender este ou aquele enfermo, físico ou espiritual, só seria possível se conhecêssemos e pudéssemos manipular a "química dos fluidos". Quem, porém, entre nós, se aventuraria a afirmar conhecer a natureza intrínseca dos fluidos, a ponto de combiná-los, alterá-los, transubstanciá-los, se deles só sabemos que existem por seus efeitos?
Serão bons ou maus, de acordo com nossos pensamentos.
Nenhum de nós, todavia, vai além dessa noção rudimentar, embora preciosa. Não que estejamos proibidos de pesquisar. Ocorre que estamos impedidos, nesse campo, pelas atuais limitações de nossos sentidos e por falta de aparelhagem apropriada para suprir-nos as deficiências da espécie.
Salvo fantasias primárias, de extremo mau gosto, nunca deveremos repletar esse belo departamento do Espiritismo com afirmações apressadas, levianas até, querendo criar escolas à parte, tão-somente pelo prazer de passear nossa vaidade entre os homens.
Sendo a essência da constituição infantil exatamente a mesma da do homem adulto, todo argumento que se articule para justificar a existência de 'F passistas infantis" e um artificialismo próprio de quem ignora ou faz ignorar as leis espirituais que Kardec examinou e reexaminou, no contexto da Codificação.
A mãe, acariciando o filho, transmite-lhe fluidos, da mesma forma que ao acariciar o companheiro de sua caminhada terrena.
Poderemos ter preferência pelas crianças, num atendimento de tendências pessoais; nunca, porém, porque os fluidos que se destinam à infância sejam, fundamentalmente, diversos dos que se canalizam para o adulto.
O passista não possui poderes mágicos.
Se algumas vezes, por intuição do Espírito que nos orienta no passe, somos informados do órgão enfermo, não se faz necessário que saiamos da simples imposição da mão. No centro do cérebro localiza-se a glândula chamada epífise, o leme da alma, que reabastece e mantém o equilíbrio fluídico de todos os departamentos do organismo. Envolvê-la nas radiações fluídicas equivale a aplicar uma injeção, cujo líquido circulará por todo o corpo, através das correntes sangüínea, até atuar sobre a parte' desequilibrada.
O efeito salutar do passe - é desnecessário encarecer, por muito conhecido de todos fica sempre na dependência do quadro espiritual do assistido. Ele, o assistido, é quem determina, não raro contra a boa vontade do agente transmissor, a renovação ou a repulsão dos fluidos.
É uma questão de afinidade.
Jesus, definindo tal dependência e alertando-nos de que a regeneração física ou psíquica da criatura é obra dela mesma, embora com o amparo de outros', diante de cada cura operada enunciava com clareza e convicção:
- A tua fé te salvou.
Não era uma afirmação convencional de humildade.
Sabia o Mestre, esclarece-nos o Espiritismo, que sem um campo propício para restabelecer-se, criado pela mente do enfermo, nenhuma regeneração se opera.
Vale, sempre, reler Kardec.
Não deveremos tornar obscuros princípios claros.
A beleza da Doutrina reside no seu retorno à verdade do Evangelho, desvestindo-se das alfaias humanas e rompendo com os elos que nos escravizavam ao primarismo espiritual milenar.
Toleremos as teorias diferentes, mas não vivamos com elas.
Roque Jacintho
Bibliografia
"A Gênese", de Allan Kardec, cap. XIV, item 31.
"O Livro dos Médiuns", Allan Kardec, questão 175.
'Idem, ibidem questão 176.
Idem, Ibidem, questão 176, item 9.
(Passe e Passista – Ed. Luz no Lar)
Indispensável estudar o Espiritismo. A Doutrina Espírita, tese'>síntese da Religião, é sagrado binômio de evolução psíquica, cuja dinâmica poderemos conceituar como: Jesus iluminando o coração e Kardec ilustrando o raciocínio.
Vez por outra, porém, repontam teorias de arribação.
No campo do passe, a exemplo, muitos corações já foram assaltados por inusitadas e alienígenas informações, estranhas à simplicidade profunda da Doutrina Espírita.
Produzem estas inquietudes:
- Na doação de energias aos que sofrem, na operação de substituir a molécula malsã por uma sã, estaríamos operando com o passe magnético ou espiritual? Que categoria de passes serviria a este ou àquele enfermo? Quem transmite passe ao adulto, poderá fazê-lo à criança?
O impasse poderá levar-nos a titubear.
Em verdade, contudo, no Espiritismo sempre foi muito claro que a transfusão ocorrida num passe é sempre de natureza fluídica. E o fluido e o elemento primitivo do corpo carnal e do perispírito, os quais são simples transformações dele" (1).
A ação magnética ou espiritual provém de uma só fonte.
Há, no mundo, reprisamos, um único elemento primitivo, o fluido universal, sendo todos os corpos, todas as formas vivas ou inanimadas, todas as manifestações de vida, mera variedade de condensação ou coesão da mesma energia.
A própria Ciência, hoje energética, consagra a unidade.
No considerar o tema, em "A Gênese", Kardec desce a detalhes, esclarecendo que a ação do passe pode produzir-se de muitas maneiras. Alinha as três fundamentais:
Pelo próprio fluido do passista;
Pela atuação direta de um Espírito, sem o concurso do passista (beneficiando todos os necessitados, independentemente de sua crença religiosa, de seu grau evolutivo, inclusive sem o conhecimento e o reconhecimento dos beneficiários);
Pelos fluidos que os Espíritos derramam sobre o passista, imprimindo ao fluido natural do passista qualidades de que ele carece.
Na falta do termo passista, tão comum na atualidade espírita brasileira, Kardec os denominava magnetizadores, a fim de diferenciá-los dos médiuns de cura. A mediunidade de cura é "o dom que possuem certas pessoas de curar pelo simples toque, pelo olhar, mesmo por um gesto, sem o concurso de qualquer medicação" (2).
Hoje, os magnetizadores são chamados passistas.
Observemos, ainda, que a participação de um Espírito, na doação do passe, não se reconhece pela sua manifestação ostensiva, isto é, pela precipitação do fenômeno de incorporação ou de psicofonia ou de efeito físico. A participação é esse "derramar de fluidos, imprimindo ao fluido natural do passista as qualidades de que ele carece".
Ainda em "O Livro dos Médiuns" (3), Kardec formula nove questões, cujas respostas aclaram definitivamente o tema. Dentre elas, destacamos apenas uma:
Entretanto, o médium é um intermediário entre os Espíritos e o homem; ora, o magnetizador, haurindo em si mesmo a força de que se utiliza, não parece que seja intermediário de nenhuma potência estranha.
R. É um erro; a força magnética reside, sem dúvida, no homem, mas é aumentada pela ação dos Espíritos que ele chama em seu auxílio. Se magnetizas com o propósito de curar, por exemplo, e invocas um bom Espírito que se interessa por ti e pelo teu doente, ele aumenta a tua força e a tua vontade, dirige o teu fluido e lhe dá as qualidades necessárias.
A clareza, aí, é gritante!
O passe é sempre o passe.
Gestos, postura física, ginásticas rítmicas, rituais na operação do passe, são meros hábitos alimentados pelos passistas ou pelos que os instruíram. Originam-se da superstição que "pode emprestar virtudes quaisquer a certas palavras (ou atos) e somente Espíritos ignorantes ou mentirosos podem alimentar semelhantes idéias, prescrevendo fórmulas" (4). O parêntese é nosso.
Uma classificação de passes, para atender este ou aquele enfermo, físico ou espiritual, só seria possível se conhecêssemos e pudéssemos manipular a "química dos fluidos". Quem, porém, entre nós, se aventuraria a afirmar conhecer a natureza intrínseca dos fluidos, a ponto de combiná-los, alterá-los, transubstanciá-los, se deles só sabemos que existem por seus efeitos?
Serão bons ou maus, de acordo com nossos pensamentos.
Nenhum de nós, todavia, vai além dessa noção rudimentar, embora preciosa. Não que estejamos proibidos de pesquisar. Ocorre que estamos impedidos, nesse campo, pelas atuais limitações de nossos sentidos e por falta de aparelhagem apropriada para suprir-nos as deficiências da espécie.
Salvo fantasias primárias, de extremo mau gosto, nunca deveremos repletar esse belo departamento do Espiritismo com afirmações apressadas, levianas até, querendo criar escolas à parte, tão-somente pelo prazer de passear nossa vaidade entre os homens.
Sendo a essência da constituição infantil exatamente a mesma da do homem adulto, todo argumento que se articule para justificar a existência de 'F passistas infantis" e um artificialismo próprio de quem ignora ou faz ignorar as leis espirituais que Kardec examinou e reexaminou, no contexto da Codificação.
A mãe, acariciando o filho, transmite-lhe fluidos, da mesma forma que ao acariciar o companheiro de sua caminhada terrena.
Poderemos ter preferência pelas crianças, num atendimento de tendências pessoais; nunca, porém, porque os fluidos que se destinam à infância sejam, fundamentalmente, diversos dos que se canalizam para o adulto.
O passista não possui poderes mágicos.
Se algumas vezes, por intuição do Espírito que nos orienta no passe, somos informados do órgão enfermo, não se faz necessário que saiamos da simples imposição da mão. No centro do cérebro localiza-se a glândula chamada epífise, o leme da alma, que reabastece e mantém o equilíbrio fluídico de todos os departamentos do organismo. Envolvê-la nas radiações fluídicas equivale a aplicar uma injeção, cujo líquido circulará por todo o corpo, através das correntes sangüínea, até atuar sobre a parte' desequilibrada.
O efeito salutar do passe - é desnecessário encarecer, por muito conhecido de todos fica sempre na dependência do quadro espiritual do assistido. Ele, o assistido, é quem determina, não raro contra a boa vontade do agente transmissor, a renovação ou a repulsão dos fluidos.
É uma questão de afinidade.
Jesus, definindo tal dependência e alertando-nos de que a regeneração física ou psíquica da criatura é obra dela mesma, embora com o amparo de outros', diante de cada cura operada enunciava com clareza e convicção:
- A tua fé te salvou.
Não era uma afirmação convencional de humildade.
Sabia o Mestre, esclarece-nos o Espiritismo, que sem um campo propício para restabelecer-se, criado pela mente do enfermo, nenhuma regeneração se opera.
Vale, sempre, reler Kardec.
Não deveremos tornar obscuros princípios claros.
A beleza da Doutrina reside no seu retorno à verdade do Evangelho, desvestindo-se das alfaias humanas e rompendo com os elos que nos escravizavam ao primarismo espiritual milenar.
Toleremos as teorias diferentes, mas não vivamos com elas.
Roque Jacintho
Bibliografia
"A Gênese", de Allan Kardec, cap. XIV, item 31.
"O Livro dos Médiuns", Allan Kardec, questão 175.
'Idem, ibidem questão 176.
Idem, Ibidem, questão 176, item 9.
(Passe e Passista – Ed. Luz no Lar)
Subjugação
Subjugação
Etapa grave no curso das obsessões, caracterizada pela perda do discernimento e da emoção, o estágio da subjugação representa o clímax do processo ultriz que o adversário desencarnado impõe à sua vítima, em torpe tentativa de aniquilar-lhe a existência física.
A perfeita afinidade moral entre aqueles que experimentam a pugna infeliz, traduz o primarismo evolutivo em que desenvolvem os sentimentos, razão pela qual acoplam-se, perispírito a perispírito, impondo o algoz a vontade dominadora sobre quem lhe padece a ferocidade, por cujo doloroso meio lapida as arestas remanescentes dos crimes perpetrados anteriormente.
A subjugação é o predomínio da vontade do desencarnado sobre aquele que se lhe torna vítima, exaurindo-lhe as energias e destrambelhando-lhe os equipamentos da aparelhagem mental.
Noutras vezes, a radiação'>irradiação mental perniciosa que lhe é descarregada com pertinácia, alcança-lhe a sede dos movimentos ou o núcleo perispiritual das células, provocando desconsertos que se transformam em paralisias, paresias e distúrbios degenerativos outros de variada etiopatogenia.
O perseguidor enceguecido pelo ódio ou vitimado pelas paixões inferiores longamente acalentadas, irradia forças morbíficas que o psiquismo daquele que lhe infligiu a amargura assimila por identidade vibratória e se torna decodificada no organismo, produzindo os objetivos anelados pelo obsessor.
Em ordem inversa, a onda de amor e de prece, de envolvimento caridoso e fraternal, termina por encontrar receptividade tão logo o paciente se deixe sensibilizar, transformando-a em harmonia e saúde, bem estar e paz.
Todos os fenômenos ocorrem no campo das equivalentes sintonias, sem as quais são irrealizáveis.
Desse modo, a violência registrada nas agressões para a subjugação, somente encontra ressonância por causa da afinidade entre aqueles que se encontram incursos no embate.
Normalmente o processo é lento e persuasivo, provocando danos que se prolongam no tempo, enquanto são minadas as forças defensivas para o tombo irrefragável nas malhas da pertinaz enfermidade espiritual.
O processo cruel da obsessão de qualquer matiz tem suas raízes sempre na conduta moral infeliz das criaturas pelo cultivar da sua inferioridade em contraposição aos apelos elevados da vida, que ruma para a Suprema Vida.
Enquanto permaneçam os Espíritos afeiçoados às heranças do estágio primitivo, mantendo o egotismo exacerbado, graças ao qual humilha e persegue, trai e escraviza, explora e infunde pavor ao seu irmão, permanecerá aberto o campo psíquico para as vinculações obsessivas.
Somente uma radical transformação de conceito ético entre os homens terrestres é que os mesmos disporão de recursos seguros para se prevenirem obsessões.
No entanto, porque vicejem os propósitos inferiores em predomínio em a natureza humana, sucedem-se as complexas parasitoses obsessivas.
Agravada pela alucinação do perseguidor, a subjugação encarcera na mesma jaula aquele que a fomenta.
Emaranhando-se nos fulcros perispirituais do encarnado, termina por fixar-se-lhe emocionalmente, permanecendo presa da armadilha que urdiu.
A subjugação é perversa maquinação do ódio, da necessidade de desforço a que se escravizam os Espíritos dementados pela falta de paz.
Cultivando os sentimentos primários e encerrando a mente nos objetivos da vingança cerram-se na sombra da ignorância, perdendo o contato com a razão e a Divindade, enquanto não se permitem a felicidade que acusam de havê-los abandonado.
Ambos desditosos – o subjugado e o subjugador – engalfinhando-se na peleja sem quartel, não se dão conta que somente o amor consegue interrompê-la.
De tratamento muito delicado e complexo, o resultado ditoso depende da renovação espiritual do paciente, na razão em que desperte para a seriedade da conjuntura aflitiva em que se encontra. Simultaneamente, a solidariedade fraternal, envolvendo ambos enfermos em orações e compaixão, esclarecimentos e estímulos para o futuro saudável, conseguem romper o círculo vigoroso de energias destrutivas, abrindo espaço para a ação benéfica, o intercâmbio de esperança e de libertação.
A subjugação desaparecerá da Terra quando o verdadeiro sentimento da palavra amor for vivido e espraiado em todas as direções, conforme Jesus apresentou e vivenciou até o momento da morte, e prosseguindo desde a ressurreição gloriosa até aos nossos dias.
Jornal Mundo Espírita de Fevereiro de 2000
Etapa grave no curso das obsessões, caracterizada pela perda do discernimento e da emoção, o estágio da subjugação representa o clímax do processo ultriz que o adversário desencarnado impõe à sua vítima, em torpe tentativa de aniquilar-lhe a existência física.
A perfeita afinidade moral entre aqueles que experimentam a pugna infeliz, traduz o primarismo evolutivo em que desenvolvem os sentimentos, razão pela qual acoplam-se, perispírito a perispírito, impondo o algoz a vontade dominadora sobre quem lhe padece a ferocidade, por cujo doloroso meio lapida as arestas remanescentes dos crimes perpetrados anteriormente.
A subjugação é o predomínio da vontade do desencarnado sobre aquele que se lhe torna vítima, exaurindo-lhe as energias e destrambelhando-lhe os equipamentos da aparelhagem mental.
Noutras vezes, a radiação'>irradiação mental perniciosa que lhe é descarregada com pertinácia, alcança-lhe a sede dos movimentos ou o núcleo perispiritual das células, provocando desconsertos que se transformam em paralisias, paresias e distúrbios degenerativos outros de variada etiopatogenia.
O perseguidor enceguecido pelo ódio ou vitimado pelas paixões inferiores longamente acalentadas, irradia forças morbíficas que o psiquismo daquele que lhe infligiu a amargura assimila por identidade vibratória e se torna decodificada no organismo, produzindo os objetivos anelados pelo obsessor.
Em ordem inversa, a onda de amor e de prece, de envolvimento caridoso e fraternal, termina por encontrar receptividade tão logo o paciente se deixe sensibilizar, transformando-a em harmonia e saúde, bem estar e paz.
Todos os fenômenos ocorrem no campo das equivalentes sintonias, sem as quais são irrealizáveis.
Desse modo, a violência registrada nas agressões para a subjugação, somente encontra ressonância por causa da afinidade entre aqueles que se encontram incursos no embate.
Normalmente o processo é lento e persuasivo, provocando danos que se prolongam no tempo, enquanto são minadas as forças defensivas para o tombo irrefragável nas malhas da pertinaz enfermidade espiritual.
O processo cruel da obsessão de qualquer matiz tem suas raízes sempre na conduta moral infeliz das criaturas pelo cultivar da sua inferioridade em contraposição aos apelos elevados da vida, que ruma para a Suprema Vida.
Enquanto permaneçam os Espíritos afeiçoados às heranças do estágio primitivo, mantendo o egotismo exacerbado, graças ao qual humilha e persegue, trai e escraviza, explora e infunde pavor ao seu irmão, permanecerá aberto o campo psíquico para as vinculações obsessivas.
Somente uma radical transformação de conceito ético entre os homens terrestres é que os mesmos disporão de recursos seguros para se prevenirem obsessões.
No entanto, porque vicejem os propósitos inferiores em predomínio em a natureza humana, sucedem-se as complexas parasitoses obsessivas.
Agravada pela alucinação do perseguidor, a subjugação encarcera na mesma jaula aquele que a fomenta.
Emaranhando-se nos fulcros perispirituais do encarnado, termina por fixar-se-lhe emocionalmente, permanecendo presa da armadilha que urdiu.
A subjugação é perversa maquinação do ódio, da necessidade de desforço a que se escravizam os Espíritos dementados pela falta de paz.
Cultivando os sentimentos primários e encerrando a mente nos objetivos da vingança cerram-se na sombra da ignorância, perdendo o contato com a razão e a Divindade, enquanto não se permitem a felicidade que acusam de havê-los abandonado.
Ambos desditosos – o subjugado e o subjugador – engalfinhando-se na peleja sem quartel, não se dão conta que somente o amor consegue interrompê-la.
De tratamento muito delicado e complexo, o resultado ditoso depende da renovação espiritual do paciente, na razão em que desperte para a seriedade da conjuntura aflitiva em que se encontra. Simultaneamente, a solidariedade fraternal, envolvendo ambos enfermos em orações e compaixão, esclarecimentos e estímulos para o futuro saudável, conseguem romper o círculo vigoroso de energias destrutivas, abrindo espaço para a ação benéfica, o intercâmbio de esperança e de libertação.
A subjugação desaparecerá da Terra quando o verdadeiro sentimento da palavra amor for vivido e espraiado em todas as direções, conforme Jesus apresentou e vivenciou até o momento da morte, e prosseguindo desde a ressurreição gloriosa até aos nossos dias.
Jornal Mundo Espírita de Fevereiro de 2000
A Autoridade Paterna
A Autoridade Paterna
O amor materno e autoridade paterna são dois elementos essenciais ao bom equilíbrio das relações familiais.
Releva frisar que mãe e pai não estão dissociados em suas funções. Pelo contrário, à mãe cabe também certa autoridade sobre os filhos, assim como nada impede que o pai manifeste ternura para com eles.
A separação que aqui se faz visa apenas enfatizar isto: o que o filho mais espera e precisa da mãe é o amor; do pai, a autoridade.
Autoridade é a palavra derivada de autor, deixando claro que essa prerrogativa é inerente ao autor. E o caso do pai, autor da vida do filho.
Pode ele delegar parte de sua autoridade a outras pessoas, durante algum tempo e no que tange a certos aspectos da educação do filho. Permanece, porém, a instância de apelo supremo.
Isto é verdadeiro, não apenas do ponto de vista jurídico, mas igualmente do ponto de vista psicológico. Deixe a criança de sentir acima dela a proteção da autoridade paterna e seu equilíbrio emocional será afetado, com prejuízo, inclusive, para a sua maturidade.
A criança detesta, quase sempre, aqueles que a tiranizam, pois gosta de ser tratada com moderação e justiça; mas, por outro lado, despreza e agride o pai frouxo e piegas cuja incapacidade a priva de um apoio que deseja e lhe é indispensável.
Sim, a par da liberdade, sem a qual não poderia auto-afirmar-se, a criança necessita, também, da autoridade para que seja orientada nos seus julgamentos e saiba disciplinar a própria vontade.
Se contar com a preciosa ajuda da autoridade, ela evoluirá na fase inicial, instintiva, em que busca simplesmente o prazer através da satisfação de suas necessidades, para a outra fase, adulta, em que lhe caberá enfrentar as vicissitudes da vida, nem sempre isenta de dificuldades e sofrimentos.
Sem isso, manter-se-á em dependência infantil, sem conseguir ajustar-se aos grupos sociais em que será obrigada a viver, ou melhor, a conviver, criando a tudo instante condições de atrito com os semelhantes.
Pais existem que, ultrapassando os limites da autoridade, exercem um domínio absoluto e cruel sobre os filhos, não lhes permitindo a menor discussão a respeito de suas ordens, que exigem sejam cumpridas rigorosamente, valendo-se dos métodos repressivos da ameaça, da surra, da crítica mordaz e humilhante, das proibições sistemáticas, etc.
O máximo que conseguem com essa maneira de agir é uma submissão cega, sem consentimento interior, o que fará dos filhos indivíduos tímidos e gaguejantes, com fortes sentimentos de inferioridade, ou então revoltados, futuros tiranos da própria prole.
Outros, em contraposição, seja por comodismo, seja por fraqueza, não exercem a menor autoridade sobre os filhos: deixam-nos à solta, permitindo-lhes tudo, satisfazendo a todos os seus desejos, numa atitude de superindulgência que, longe de traduzir bondade, o que evidencia é falta de amor, ou, pelo menos, indiferença pela sua sorte.
Este tipo de educação, está provado, só pode tornar as pessoas incontestáveis, exigentes, egoístas, incapazes de oferecer a menor cooperação a quem quer que seja. Pior ainda: favorece os desregramentos e conduz à libertinagem, principais fatores da delinqüência em todos os tempos.
Autoridade legítima é o processo pelo qual o pai ajuda o filho a crescer e a amadurecer, para que chegue à autonomia sabendo que a liberdade tem um preço: a responsabilidade. É a maneira pela qual o pai conduz o filho à auto-realização, desenvolvendo-lhe as potencialidades, sem entretanto, exigir mais do que ele possa dar, respeitando-lhe as limitações.
É, sobretudo, força moral que o pai deve ter sobre o filho, baseada na admiração que lhe desperta, por se constituir um modelo digno de ser imitado.
Em suma, a verdadeira autoridade jamais se impõe pela violência. É uma decorrência natural das qualidades paternas, entre as quais se destacam as seguintes:
1) ser autêntico, isto é, conhecer o papel que lhe cabe no lar e exercê-lo com segurança e continuidade.
2) Ser justo, tratando todos os filhos com igual solicitude, sem nunca demonstrar preferência ou aversão por nenhum.
3) Ser um educador, castigando quando preciso, mas sabendo também desculpar, valorizar e incentivar.
4) Ser coerente, mantendo seu ponto de vista acerca do que lhe pareça certo ou errado, evitando proibir um dia e deixar fazer no outro.
5) Ser cordial, promovendo o afeto, a estima e a camaradagem entre os familiares.
6) Ser compreensivo, superando os conflitos e mantendo seu amor ante os erros dos filhos.
7) Ser clarividente, sabendo discernir entre o que é essencial e o que é secundário.
8) Ser conciliador, acatando as opiniões do grupo familiar, ao invés de impor apenas as suas.
9) Ter presença no lar, acompanhando de perto a vida dos filhos, por saber que o abandono moral é caminho para a delinqüência.
10) Ter serenidade, evitando dar mostras de impaciência, irritação ou cólera.
11) Ter firmeza, dando “sim” quando julgue que possa dá-lo, tendo a coragem de dizer e manter o “não”, sempre que isso se faça necessário.
12) Ter espírito aberto, procurando estar sempre bem informado, para saber interpretar construtivamente os acontecimentos do mundo.
13) Ter estabilidade emocional, evitando, quanto possível, as variações de humor e os inconvenientes que daí decorrem.
14) Ter maturidade, aceitando as responsabilidades decorrentes de sua condição de chefe de família, especialmente as de pai.
15) Ter prestígio, por seus exemplos de amor ao trabalho, hábitos sadios, civismo, gosto de ser útil ao próximo, etc.
Quantos pais são infelizes em seus filhos, porque não lhes combateram desde o princípio as más tendências! Por fraqueza, ou indiferença, deixaram que neles se desenvolvessem os germens do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que produzem a secura do coração: depois, mais tarde, quando colhem o que semearam, admiram-se e se afligem da falta de deferência com que são tratados e da ingratidão deles.” (Allan Kardec, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. V, nº 4)
Rodolfo Calligaris
Fonte: Site Caminhos de Luz
O amor materno e autoridade paterna são dois elementos essenciais ao bom equilíbrio das relações familiais.
Releva frisar que mãe e pai não estão dissociados em suas funções. Pelo contrário, à mãe cabe também certa autoridade sobre os filhos, assim como nada impede que o pai manifeste ternura para com eles.
A separação que aqui se faz visa apenas enfatizar isto: o que o filho mais espera e precisa da mãe é o amor; do pai, a autoridade.
Autoridade é a palavra derivada de autor, deixando claro que essa prerrogativa é inerente ao autor. E o caso do pai, autor da vida do filho.
Pode ele delegar parte de sua autoridade a outras pessoas, durante algum tempo e no que tange a certos aspectos da educação do filho. Permanece, porém, a instância de apelo supremo.
Isto é verdadeiro, não apenas do ponto de vista jurídico, mas igualmente do ponto de vista psicológico. Deixe a criança de sentir acima dela a proteção da autoridade paterna e seu equilíbrio emocional será afetado, com prejuízo, inclusive, para a sua maturidade.
A criança detesta, quase sempre, aqueles que a tiranizam, pois gosta de ser tratada com moderação e justiça; mas, por outro lado, despreza e agride o pai frouxo e piegas cuja incapacidade a priva de um apoio que deseja e lhe é indispensável.
Sim, a par da liberdade, sem a qual não poderia auto-afirmar-se, a criança necessita, também, da autoridade para que seja orientada nos seus julgamentos e saiba disciplinar a própria vontade.
Se contar com a preciosa ajuda da autoridade, ela evoluirá na fase inicial, instintiva, em que busca simplesmente o prazer através da satisfação de suas necessidades, para a outra fase, adulta, em que lhe caberá enfrentar as vicissitudes da vida, nem sempre isenta de dificuldades e sofrimentos.
Sem isso, manter-se-á em dependência infantil, sem conseguir ajustar-se aos grupos sociais em que será obrigada a viver, ou melhor, a conviver, criando a tudo instante condições de atrito com os semelhantes.
Pais existem que, ultrapassando os limites da autoridade, exercem um domínio absoluto e cruel sobre os filhos, não lhes permitindo a menor discussão a respeito de suas ordens, que exigem sejam cumpridas rigorosamente, valendo-se dos métodos repressivos da ameaça, da surra, da crítica mordaz e humilhante, das proibições sistemáticas, etc.
O máximo que conseguem com essa maneira de agir é uma submissão cega, sem consentimento interior, o que fará dos filhos indivíduos tímidos e gaguejantes, com fortes sentimentos de inferioridade, ou então revoltados, futuros tiranos da própria prole.
Outros, em contraposição, seja por comodismo, seja por fraqueza, não exercem a menor autoridade sobre os filhos: deixam-nos à solta, permitindo-lhes tudo, satisfazendo a todos os seus desejos, numa atitude de superindulgência que, longe de traduzir bondade, o que evidencia é falta de amor, ou, pelo menos, indiferença pela sua sorte.
Este tipo de educação, está provado, só pode tornar as pessoas incontestáveis, exigentes, egoístas, incapazes de oferecer a menor cooperação a quem quer que seja. Pior ainda: favorece os desregramentos e conduz à libertinagem, principais fatores da delinqüência em todos os tempos.
Autoridade legítima é o processo pelo qual o pai ajuda o filho a crescer e a amadurecer, para que chegue à autonomia sabendo que a liberdade tem um preço: a responsabilidade. É a maneira pela qual o pai conduz o filho à auto-realização, desenvolvendo-lhe as potencialidades, sem entretanto, exigir mais do que ele possa dar, respeitando-lhe as limitações.
É, sobretudo, força moral que o pai deve ter sobre o filho, baseada na admiração que lhe desperta, por se constituir um modelo digno de ser imitado.
Em suma, a verdadeira autoridade jamais se impõe pela violência. É uma decorrência natural das qualidades paternas, entre as quais se destacam as seguintes:
1) ser autêntico, isto é, conhecer o papel que lhe cabe no lar e exercê-lo com segurança e continuidade.
2) Ser justo, tratando todos os filhos com igual solicitude, sem nunca demonstrar preferência ou aversão por nenhum.
3) Ser um educador, castigando quando preciso, mas sabendo também desculpar, valorizar e incentivar.
4) Ser coerente, mantendo seu ponto de vista acerca do que lhe pareça certo ou errado, evitando proibir um dia e deixar fazer no outro.
5) Ser cordial, promovendo o afeto, a estima e a camaradagem entre os familiares.
6) Ser compreensivo, superando os conflitos e mantendo seu amor ante os erros dos filhos.
7) Ser clarividente, sabendo discernir entre o que é essencial e o que é secundário.
8) Ser conciliador, acatando as opiniões do grupo familiar, ao invés de impor apenas as suas.
9) Ter presença no lar, acompanhando de perto a vida dos filhos, por saber que o abandono moral é caminho para a delinqüência.
10) Ter serenidade, evitando dar mostras de impaciência, irritação ou cólera.
11) Ter firmeza, dando “sim” quando julgue que possa dá-lo, tendo a coragem de dizer e manter o “não”, sempre que isso se faça necessário.
12) Ter espírito aberto, procurando estar sempre bem informado, para saber interpretar construtivamente os acontecimentos do mundo.
13) Ter estabilidade emocional, evitando, quanto possível, as variações de humor e os inconvenientes que daí decorrem.
14) Ter maturidade, aceitando as responsabilidades decorrentes de sua condição de chefe de família, especialmente as de pai.
15) Ter prestígio, por seus exemplos de amor ao trabalho, hábitos sadios, civismo, gosto de ser útil ao próximo, etc.
Quantos pais são infelizes em seus filhos, porque não lhes combateram desde o princípio as más tendências! Por fraqueza, ou indiferença, deixaram que neles se desenvolvessem os germens do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que produzem a secura do coração: depois, mais tarde, quando colhem o que semearam, admiram-se e se afligem da falta de deferência com que são tratados e da ingratidão deles.” (Allan Kardec, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. V, nº 4)
Rodolfo Calligaris
Fonte: Site Caminhos de Luz
Alvíssaras de Alegrias
Alvíssaras de Alegrias
Os costumes promíscuos, frutos das guerras e dos ódios incessantes, geraram o desvario das massas.
Sem qualquer apoio ou perspectiva de melhorias, o povo consumido pelo desespero estava mergulhado na treva e não mais vivia, apenas sobrevivendo cada dia, cada hora, sem projeto algum para o futuro.
De um lado, a falsa religiosidade, preocupada mais com a aparência do que com o profundo conteúdo espiritual, caracterizava-se pelo formalismo pusilânime, enquanto as necessidades asfixiantes do povo armavam-no de ódio e de ferocidade.
Os infelizes cansados das injustiças, que já haviam criado no passado o partido dos zelotes, daqueles que buscavam preservar os códigos ancestrais, violentados pelos romanos, agora abriam uma ala para os que desejavam desforço, cometendo hediondos crimes, mesmo à luz do dia, contra os seus contemporâneos infiéis...
Israel encontrava-se desestruturado, contorcendo-se entre as garras férreas da águia romana, da sordidez dos seus governantes ignóbeis e da indiferença dos poderosos que adquiriam direito à comodidade a peso de ouro.
As pessoas, antes sonhadoras e gentis, que aguardavam o Messias, transformaram-se na multidão aturdida e desenfreada nas suas paixões, que se atiravam sobre o espólio das gerações vencidas.
Apesar de tudo, pairava uma psicosfera de ternura como ligeira brisa que carreasse aromas suaves e leve expectativa de alegria no ar.
Sem saberem compreender o que sucedia, muitos infelizes ainda confiavam em Deus e humildes trabalhadores honravam os seus deveres.
Ocorre que a Terra estava sob tênues claridades do Céu que anunciavam a eliminação das sombras.
Sempre surgiam sonhadores que afirmavam a chegada do justiceiro e se armavam, sendo logo vencidos, dizimados, sem qualquer compaixão, pelos dominadores.
Naqueles dias, subitamente as aragens da esperança começaram a cantar nos corações expectantes.
Ninguém sabia exatamente o que estava acontecendo. No entanto, desde o momento quando o Batista anunciou que aquela era a hora do arrependimento e da renovação, algo realmente começou a suceder.
Desde as terras de Betfagé, às margens frescas do Jordão, e dali à aridez do deserto e ao mar Morto, visitando as pradarias e ultrapassando as montanhas, alguma ocorrência especial alterava a paisagem humana...
Roma estava acostumada àquele povo tumultuado e rebelde, teimoso e bulhento, silenciando as suas contínuas revoltas com banhos de sangue...
Na Galileia singela, as labutas do mar sofreram modificação desde quando Ele abriu a Sua boca e clareou a noite das almas com o verbo de luz.
Ele era simples e puro como o lírio do campo e despido de atavios como uma espada nua.
Quem O tivesse visto e ouvido não conseguiria ser mais o mesmo, nem olvidar aquele momento, aguardando os longes tempos para O entender e O seguir, caso não dispusesse de resistências morais para fazê-lo a partir daquele instante.
A Sua palavra penetrava o cerne do ser como o perfume do nardo que impregna a superfície que acaricia.
Era natural que, onde aparecesse, a patética do sofrimento também se apresentasse.
Sucediam-se como ondas eriçadas pelo vento, as multidões que desejavam o seu contato, o seu benefício, a dúlcida carícia do seu terno olhar, que diminuía o fogo das aflições.
Preocupados com o corpo, nem sempre O ouviam realmente, anelando apenas por escutar a interrogação: - Que queres que eu te faça?
Ele não viera exatamente para ser remendão de corpos despedaçados, mas fazia-se necessário que O vissem agir em nome de Deus, que recuperasse aquelas formas orgânicas que iriam perecer depois, a fim de que tivessem despertada a fé na imortalidade.
Bem poucos desejavam realmente receber o pão da vida e a água que dessedenta para sempre, embriagando-se na perene luz do conhecimento que é o suporte vigoroso para a fé inabalável.
Mas a Sua fama crescia na razão direta dos Seus feitos, da Sua incomparável bondade, da Sua compaixão.
Ninguém jamais amara daquela maneira, falara com aquele tom de voz, convivera com os deserdados do mundo com a mesma naturalidade...
Os fariseus souberam que Ele silenciara os saduceus e, tomados de cólera, que é o recurso dos pigmeus morais diante dos gigantes espirituais, buscaram-nO, e um sacerdote pusilânime, para O tentar, perguntou-lhe:
- Qual o mandamento maior, aquele que devemos seguir?
A luz penetrante dos Seus olhos desnudou o hipócrita, enquanto docemente respondeu:
- Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma, acima de todas as coisas.
O atormentado fariseu de sentimentos corroídos pela inveja redarguiu:
-Isto sabemos nós. Como porém, amar ao que não se vê, não se compreende, não se sente?
Num relampaguear de emoção, Ele aduziu:
- Amando ao próximo como a si mesmo, assim sintetizando toda a Lei e todos os profetas.
O soez inquiridor, porém, não queria a verdade, mas a discussão inútil com o sarcasmo no qual era mestre.
Voltou, então, a interrogar:
- Que é amar ao próximo? Como fazê-lo, sendo ele um estranho?
Houve um silêncio profundo, prenunciador da sinfonia da gentileza:
- O próximo – esclareceu com ternura – são todos os seres humanos, filhos do Único Pai, sem distinção de classe ou de cor, de credo ou de raça.
- Ante a impossibilidade de amar-se ao Pai, que transcende a qualquer entendimento, respeitar-lhe os filhos que lhe conduzem a herança e caminham ao nosso lado.
Amá-lo, implica em considerá-lo irmão, compreendendo-lhe as necessidades e buscando supri-las, dispensando-lhe carinho e tolerância e fazendo-lhe tudo quanto gostaria de receber de outrem.
Quando o amor se exterioriza do coração, o Pai alberga ambos, aquele que ama e aqueloutro que lhe frui o afeto, na sua incomparável alegria.
O amor ergue, quando o outro tomba, compadece-se, quando defronta o erro, acompanha o solitário, ajudando-o, e enriquece de ternura todos aqueles que abraça, por maior que seja ao carência que os devasta.
No amor ao próximo, que é o eu no outro, a vida estua e a paz repousa no coração.
Não é necessário ver para amar, bastando compreender que ninguém jamais se realiza a sós, nem se completa se não der um sentido de solidariedade à existência...
Doces melodias e vozes inarticuladas cantavam na pauta grandiosa da Natureza.
Logo após, completou:
-Então, não existirão inimigos, porque todos aqueles que se prazer'>comprazerem nessa infeliz condição serão também amados.
As alvíssaras de luz e alegrias do Reino dos Céus rompiam a noite dos tempos de então para todos os tempos do futuro.
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia, em 5 de agosto de 2013. Do site: http://www.divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=379
Os costumes promíscuos, frutos das guerras e dos ódios incessantes, geraram o desvario das massas.
Sem qualquer apoio ou perspectiva de melhorias, o povo consumido pelo desespero estava mergulhado na treva e não mais vivia, apenas sobrevivendo cada dia, cada hora, sem projeto algum para o futuro.
De um lado, a falsa religiosidade, preocupada mais com a aparência do que com o profundo conteúdo espiritual, caracterizava-se pelo formalismo pusilânime, enquanto as necessidades asfixiantes do povo armavam-no de ódio e de ferocidade.
Os infelizes cansados das injustiças, que já haviam criado no passado o partido dos zelotes, daqueles que buscavam preservar os códigos ancestrais, violentados pelos romanos, agora abriam uma ala para os que desejavam desforço, cometendo hediondos crimes, mesmo à luz do dia, contra os seus contemporâneos infiéis...
Israel encontrava-se desestruturado, contorcendo-se entre as garras férreas da águia romana, da sordidez dos seus governantes ignóbeis e da indiferença dos poderosos que adquiriam direito à comodidade a peso de ouro.
As pessoas, antes sonhadoras e gentis, que aguardavam o Messias, transformaram-se na multidão aturdida e desenfreada nas suas paixões, que se atiravam sobre o espólio das gerações vencidas.
Apesar de tudo, pairava uma psicosfera de ternura como ligeira brisa que carreasse aromas suaves e leve expectativa de alegria no ar.
Sem saberem compreender o que sucedia, muitos infelizes ainda confiavam em Deus e humildes trabalhadores honravam os seus deveres.
Ocorre que a Terra estava sob tênues claridades do Céu que anunciavam a eliminação das sombras.
Sempre surgiam sonhadores que afirmavam a chegada do justiceiro e se armavam, sendo logo vencidos, dizimados, sem qualquer compaixão, pelos dominadores.
Naqueles dias, subitamente as aragens da esperança começaram a cantar nos corações expectantes.
Ninguém sabia exatamente o que estava acontecendo. No entanto, desde o momento quando o Batista anunciou que aquela era a hora do arrependimento e da renovação, algo realmente começou a suceder.
Desde as terras de Betfagé, às margens frescas do Jordão, e dali à aridez do deserto e ao mar Morto, visitando as pradarias e ultrapassando as montanhas, alguma ocorrência especial alterava a paisagem humana...
Roma estava acostumada àquele povo tumultuado e rebelde, teimoso e bulhento, silenciando as suas contínuas revoltas com banhos de sangue...
Na Galileia singela, as labutas do mar sofreram modificação desde quando Ele abriu a Sua boca e clareou a noite das almas com o verbo de luz.
Ele era simples e puro como o lírio do campo e despido de atavios como uma espada nua.
Quem O tivesse visto e ouvido não conseguiria ser mais o mesmo, nem olvidar aquele momento, aguardando os longes tempos para O entender e O seguir, caso não dispusesse de resistências morais para fazê-lo a partir daquele instante.
A Sua palavra penetrava o cerne do ser como o perfume do nardo que impregna a superfície que acaricia.
Era natural que, onde aparecesse, a patética do sofrimento também se apresentasse.
Sucediam-se como ondas eriçadas pelo vento, as multidões que desejavam o seu contato, o seu benefício, a dúlcida carícia do seu terno olhar, que diminuía o fogo das aflições.
Preocupados com o corpo, nem sempre O ouviam realmente, anelando apenas por escutar a interrogação: - Que queres que eu te faça?
Ele não viera exatamente para ser remendão de corpos despedaçados, mas fazia-se necessário que O vissem agir em nome de Deus, que recuperasse aquelas formas orgânicas que iriam perecer depois, a fim de que tivessem despertada a fé na imortalidade.
Bem poucos desejavam realmente receber o pão da vida e a água que dessedenta para sempre, embriagando-se na perene luz do conhecimento que é o suporte vigoroso para a fé inabalável.
Mas a Sua fama crescia na razão direta dos Seus feitos, da Sua incomparável bondade, da Sua compaixão.
Ninguém jamais amara daquela maneira, falara com aquele tom de voz, convivera com os deserdados do mundo com a mesma naturalidade...
Os fariseus souberam que Ele silenciara os saduceus e, tomados de cólera, que é o recurso dos pigmeus morais diante dos gigantes espirituais, buscaram-nO, e um sacerdote pusilânime, para O tentar, perguntou-lhe:
- Qual o mandamento maior, aquele que devemos seguir?
A luz penetrante dos Seus olhos desnudou o hipócrita, enquanto docemente respondeu:
- Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma, acima de todas as coisas.
O atormentado fariseu de sentimentos corroídos pela inveja redarguiu:
-Isto sabemos nós. Como porém, amar ao que não se vê, não se compreende, não se sente?
Num relampaguear de emoção, Ele aduziu:
- Amando ao próximo como a si mesmo, assim sintetizando toda a Lei e todos os profetas.
O soez inquiridor, porém, não queria a verdade, mas a discussão inútil com o sarcasmo no qual era mestre.
Voltou, então, a interrogar:
- Que é amar ao próximo? Como fazê-lo, sendo ele um estranho?
Houve um silêncio profundo, prenunciador da sinfonia da gentileza:
- O próximo – esclareceu com ternura – são todos os seres humanos, filhos do Único Pai, sem distinção de classe ou de cor, de credo ou de raça.
- Ante a impossibilidade de amar-se ao Pai, que transcende a qualquer entendimento, respeitar-lhe os filhos que lhe conduzem a herança e caminham ao nosso lado.
Amá-lo, implica em considerá-lo irmão, compreendendo-lhe as necessidades e buscando supri-las, dispensando-lhe carinho e tolerância e fazendo-lhe tudo quanto gostaria de receber de outrem.
Quando o amor se exterioriza do coração, o Pai alberga ambos, aquele que ama e aqueloutro que lhe frui o afeto, na sua incomparável alegria.
O amor ergue, quando o outro tomba, compadece-se, quando defronta o erro, acompanha o solitário, ajudando-o, e enriquece de ternura todos aqueles que abraça, por maior que seja ao carência que os devasta.
No amor ao próximo, que é o eu no outro, a vida estua e a paz repousa no coração.
Não é necessário ver para amar, bastando compreender que ninguém jamais se realiza a sós, nem se completa se não der um sentido de solidariedade à existência...
Doces melodias e vozes inarticuladas cantavam na pauta grandiosa da Natureza.
Logo após, completou:
-Então, não existirão inimigos, porque todos aqueles que se prazer'>comprazerem nessa infeliz condição serão também amados.
As alvíssaras de luz e alegrias do Reino dos Céus rompiam a noite dos tempos de então para todos os tempos do futuro.
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia, em 5 de agosto de 2013. Do site: http://www.divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=379
Comportamento e Vida
Comportamento e Vida
Autor: Manoel Philomeno de Miranda (espírito)
O fatalismo biológico, estabelecido mediante as
conquistas pessoais de cada indivíduo, não é
definitivo em relação à data da sua morte.
A longevidade como a brevidade da existência
corporal, embora façam parte do programa
adrede estabelecido para cada homem, alteram-
se para menos ou para mais, de acordo com o
seu comportamento e do contributo que oferece
à aparelhagem orgânica para a sua preservação
ou desgaste.
Necessitando de um período de tempo em cada
existência física para realizar a aprendizagem
evolutiva em cujo curso está inscrito, o Espírito
tem meios para abreviar-lhe ou ampliar-lhe o
ciclo, mediante os recursos de que dispõe e são
facultados a todos.
É óbvio que o estróina desperdiça maior quota de
energias, impondo sobrecargas desnecessárias
aos equipamentos fisiológicos, do que o
indivíduo prudente.
As ocorrências que lhes sucedam têm as suas
causas no comportamento que se permitem.
Igualmente, a forma de desencarnar, sem fugir
ao impositivo do destino que é de construção
pessoal, resulta das experiências que são vividas.
O homem imprevidente e precipitado,
desrespeitador dos códigos de lei estabelecidos,
toma-se fácil presa de infaustos acontecimentos,
que ele mesmo se propicia como efeito da
conduta arbitrária a que se entrega.
Acidentes, homicídios, intoxicações, desastres de
vários tipos que arrebatam vidas, resultam da
imprevidência, da irresponsabilidade, do orgulho
dos que lhes são vitimas, na maioria das vezes e
no maior número de acontecimentos.
Devendo aplicar a inteligência e a bondade como
norma de conduta habitual, grande parte das
criaturas prefere a arrogância, a discussão acesa,
o desrespeito ao dever, a negligência, tornando-
se, afinal, vitimas de si mesmas, suicidas
indiretas.
Nos autocídios de ação prolongada ou imediata,
a responsabilidade é total daqueles que tomam a
decisão infeliz e a levam a cabo, inspirados ou
não por Entidades perversas com as quais
sintonizam.
Derrapando em comportamentos pessimistas a
que se aferram, a atitudes agressivas nas quais
se comprazem, na fixação de idéias tormentosas
em que se demoram, em ambições desenfreadas
e rebeldia sistemática, a etapa final, infelizmente,
não pode ser outra. Com o gesto que supõem de
libertação, tombam, por largos anos de dor, em
mais cruel processo de recuperação e desespero,
para que aprendam disciplina e submissão contra
as quais antes se rebelaram.
Depreende-se, portanto, que o comportamento
do homem a todo instante contribui de maneira
rigorosa para a programação da sua vida.
São de duas classes as causas que influem na sua
existência, dentro do determinismo da evolução
humana: as próximas, desta reencarnação, na
qual se movimenta, e as remotas, que procedem
das ações pretéritas. Estas últimas estabeleceram
já os impositivos de reparação a que o indivíduo
não pode fugir, amenizando-os ou vencendo-os
através de atuais ações do rumor, que promovem
quem as vitaliza e aquele a quem são dedicadas.
As primeiras, no entanto, as da presente
existência, vão gerando novos compromissos
que, se negativos, podem ser atenuados de
imediato por meio de atitudes opostas, e, se
positivos, ampliados na sua aplicação.
O tabagismo, o alcoolismo, a toxicomania, a
sexolatria, a glutonaria, entre outros fatores
dissolventes e destrutivos, são de livre opção
anual, não incursos no processo educativo de
ninguém. Quem, a qualquer deles se vincula,
padecer-lhe-á, inexoravelmente, o efeito
prejudicial, não se podendo queixar ou aguardar
solução de emergência.
O tabagismo responde por cárceres de várias
procedências, na língua, na boca, na laringe, por
inúmeras afecções e enfermidades respiratórias,
destacando-se o terrível enfisema pulmonar.
Todo aquele que se lhe submete à dependência
viciosa, está incurso, espontaneamente, nessa
fatalidade destruidora, que não estava no seu
programa e foi colocada por imprevidência ou
presunção.
O alcoolismo é gerador de distúrbios orgânicos e
psíquicos de inomináveis conseqüências,
gerando desgraças que, de forma nenhuma
deveriam suceder. É ele o desencadeador da
loucura, da depressão ou da agressividade, na
área psíquica, sendo o responsável por distúrbios
gástricos, renais e, principalmente, pela
irreversível cirrose hepática. Seja através da
aguardente popular ou do whisky elegante, a
alcoolofilia dízima multidões que se lhe
entregam espontaneamente.
A toxicomania desarticula as sutis engrenagens
da mente e desagrega as moléculas do
metabolismo orgânico, lesando vários órgãos e
alucinando todos quantos se comprazem nas
ilusões mórbidas que dizem viver, não obstante
de breve duração. Iniciada a dependência que se
fez espontânea, desdobrara-se à frente longos
anos, numa e noutra reencarnação, para que
sejam reparados todos os danos que poderiam
ter sido evitados quase sem esforço.
A sexolatria gera distonias emocionais, por
conduzir o indivíduo ao reduto das sensações
primitivas, mantendo-os nas áreas do gozo
insaciável, que o leva à exaustão, a terríveis
frustrações na terceira idade, se a alcança, e a
depressões sem conta pelo descalabro que
desorganiza o corpo e perturba a mente. Além
desses, são criados campos de dificuldade
afetiva, de responsabilidade emocional com os
parceiros utilizados, estabelecendo-se
compromissos desditosos para o Ii1turo.
A glutoneria, além de deformar a organização
física, é agente de males que sobrecarregam o
corpo produzindo contínuas distinções
gastrointestinais, dispepsias, acidez, ulcerações,
alienando o homem que vive para comer, quando
deveria, com equilíbrio, comer para viver.
São muitos os agentes dos infortúnios para o
homem, que ele aceita no seu comportamento,
afetando-lhe a vida.
Entretanto, através de outras atitudes e conduta
poderia preserva-la, prolongá-la, dar-lhe beleza,
propiciando-lhe harmonia e felicidade.
Além de atingir aquele que elege esta ou aquela
maneira de agir, os resultados alcançam os
descendentes que, através das heranças
transmissíveis, conforme as suas necessidades
evolutivas, as experimentarão.
O comportamento do Espírito, no corpo ou fora
dele, é responsável pela vida, contribuindo de
maneira eficaz na sua programática, igualmente
interferindo na conduta do grupo em que se
movimenta e onde atua, como dos descendentes
que de alguma forma se lhe vinculam.
As ações corretas prolongam a existência do
corpo e promovem o equilíbrio da mente,
enquanto as atribuladas e agressivas produzem o
inverno.
Nunca será demasiado repetir-se que, assim
como o homem pensa e age, edificará a sua
existência, vivendo-a de conformidade com o comportamento elegido.
Psicografia de Divaldo Franco. Livro: Temas da Vida e da Morte
Fonte: O Espiritismo
<http://www.oespiritismo.com.br/textos/ver.php?id1=381> Acessado: 01/11/2014
Autor: Manoel Philomeno de Miranda (espírito)
O fatalismo biológico, estabelecido mediante as
conquistas pessoais de cada indivíduo, não é
definitivo em relação à data da sua morte.
A longevidade como a brevidade da existência
corporal, embora façam parte do programa
adrede estabelecido para cada homem, alteram-
se para menos ou para mais, de acordo com o
seu comportamento e do contributo que oferece
à aparelhagem orgânica para a sua preservação
ou desgaste.
Necessitando de um período de tempo em cada
existência física para realizar a aprendizagem
evolutiva em cujo curso está inscrito, o Espírito
tem meios para abreviar-lhe ou ampliar-lhe o
ciclo, mediante os recursos de que dispõe e são
facultados a todos.
É óbvio que o estróina desperdiça maior quota de
energias, impondo sobrecargas desnecessárias
aos equipamentos fisiológicos, do que o
indivíduo prudente.
As ocorrências que lhes sucedam têm as suas
causas no comportamento que se permitem.
Igualmente, a forma de desencarnar, sem fugir
ao impositivo do destino que é de construção
pessoal, resulta das experiências que são vividas.
O homem imprevidente e precipitado,
desrespeitador dos códigos de lei estabelecidos,
toma-se fácil presa de infaustos acontecimentos,
que ele mesmo se propicia como efeito da
conduta arbitrária a que se entrega.
Acidentes, homicídios, intoxicações, desastres de
vários tipos que arrebatam vidas, resultam da
imprevidência, da irresponsabilidade, do orgulho
dos que lhes são vitimas, na maioria das vezes e
no maior número de acontecimentos.
Devendo aplicar a inteligência e a bondade como
norma de conduta habitual, grande parte das
criaturas prefere a arrogância, a discussão acesa,
o desrespeito ao dever, a negligência, tornando-
se, afinal, vitimas de si mesmas, suicidas
indiretas.
Nos autocídios de ação prolongada ou imediata,
a responsabilidade é total daqueles que tomam a
decisão infeliz e a levam a cabo, inspirados ou
não por Entidades perversas com as quais
sintonizam.
Derrapando em comportamentos pessimistas a
que se aferram, a atitudes agressivas nas quais
se comprazem, na fixação de idéias tormentosas
em que se demoram, em ambições desenfreadas
e rebeldia sistemática, a etapa final, infelizmente,
não pode ser outra. Com o gesto que supõem de
libertação, tombam, por largos anos de dor, em
mais cruel processo de recuperação e desespero,
para que aprendam disciplina e submissão contra
as quais antes se rebelaram.
Depreende-se, portanto, que o comportamento
do homem a todo instante contribui de maneira
rigorosa para a programação da sua vida.
São de duas classes as causas que influem na sua
existência, dentro do determinismo da evolução
humana: as próximas, desta reencarnação, na
qual se movimenta, e as remotas, que procedem
das ações pretéritas. Estas últimas estabeleceram
já os impositivos de reparação a que o indivíduo
não pode fugir, amenizando-os ou vencendo-os
através de atuais ações do rumor, que promovem
quem as vitaliza e aquele a quem são dedicadas.
As primeiras, no entanto, as da presente
existência, vão gerando novos compromissos
que, se negativos, podem ser atenuados de
imediato por meio de atitudes opostas, e, se
positivos, ampliados na sua aplicação.
O tabagismo, o alcoolismo, a toxicomania, a
sexolatria, a glutonaria, entre outros fatores
dissolventes e destrutivos, são de livre opção
anual, não incursos no processo educativo de
ninguém. Quem, a qualquer deles se vincula,
padecer-lhe-á, inexoravelmente, o efeito
prejudicial, não se podendo queixar ou aguardar
solução de emergência.
O tabagismo responde por cárceres de várias
procedências, na língua, na boca, na laringe, por
inúmeras afecções e enfermidades respiratórias,
destacando-se o terrível enfisema pulmonar.
Todo aquele que se lhe submete à dependência
viciosa, está incurso, espontaneamente, nessa
fatalidade destruidora, que não estava no seu
programa e foi colocada por imprevidência ou
presunção.
O alcoolismo é gerador de distúrbios orgânicos e
psíquicos de inomináveis conseqüências,
gerando desgraças que, de forma nenhuma
deveriam suceder. É ele o desencadeador da
loucura, da depressão ou da agressividade, na
área psíquica, sendo o responsável por distúrbios
gástricos, renais e, principalmente, pela
irreversível cirrose hepática. Seja através da
aguardente popular ou do whisky elegante, a
alcoolofilia dízima multidões que se lhe
entregam espontaneamente.
A toxicomania desarticula as sutis engrenagens
da mente e desagrega as moléculas do
metabolismo orgânico, lesando vários órgãos e
alucinando todos quantos se comprazem nas
ilusões mórbidas que dizem viver, não obstante
de breve duração. Iniciada a dependência que se
fez espontânea, desdobrara-se à frente longos
anos, numa e noutra reencarnação, para que
sejam reparados todos os danos que poderiam
ter sido evitados quase sem esforço.
A sexolatria gera distonias emocionais, por
conduzir o indivíduo ao reduto das sensações
primitivas, mantendo-os nas áreas do gozo
insaciável, que o leva à exaustão, a terríveis
frustrações na terceira idade, se a alcança, e a
depressões sem conta pelo descalabro que
desorganiza o corpo e perturba a mente. Além
desses, são criados campos de dificuldade
afetiva, de responsabilidade emocional com os
parceiros utilizados, estabelecendo-se
compromissos desditosos para o Ii1turo.
A glutoneria, além de deformar a organização
física, é agente de males que sobrecarregam o
corpo produzindo contínuas distinções
gastrointestinais, dispepsias, acidez, ulcerações,
alienando o homem que vive para comer, quando
deveria, com equilíbrio, comer para viver.
São muitos os agentes dos infortúnios para o
homem, que ele aceita no seu comportamento,
afetando-lhe a vida.
Entretanto, através de outras atitudes e conduta
poderia preserva-la, prolongá-la, dar-lhe beleza,
propiciando-lhe harmonia e felicidade.
Além de atingir aquele que elege esta ou aquela
maneira de agir, os resultados alcançam os
descendentes que, através das heranças
transmissíveis, conforme as suas necessidades
evolutivas, as experimentarão.
O comportamento do Espírito, no corpo ou fora
dele, é responsável pela vida, contribuindo de
maneira eficaz na sua programática, igualmente
interferindo na conduta do grupo em que se
movimenta e onde atua, como dos descendentes
que de alguma forma se lhe vinculam.
As ações corretas prolongam a existência do
corpo e promovem o equilíbrio da mente,
enquanto as atribuladas e agressivas produzem o
inverno.
Nunca será demasiado repetir-se que, assim
como o homem pensa e age, edificará a sua
existência, vivendo-a de conformidade com o comportamento elegido.
Psicografia de Divaldo Franco. Livro: Temas da Vida e da Morte
Fonte: O Espiritismo
<http://www.oespiritismo.com.br/textos/ver.php?id1=381> Acessado: 01/11/2014
Livre-Arbítrio e Providência Divina
Livre-Arbítrio e Providência Divina
Autor: Léon Denis
Um dos problemas que mais preocuparam os filósofos e os teólogos é o do livre arbítrio: conciliar a vontade e a liberdade do homem com o fatalismo das leis naturais e com a vontade divina, parecia tanto mais difícil quanto um cego acaso parecia pesar, aos olhos de muitos, sobre o destino humano. O ensinamento dos espíritos esclareceu o problema: a fatalidade aparente que semeia de males o caminho da vida, não é mais que a conseqüência lógica do nosso passado, um efeito que se refere a uma causa, é o cumprimento do destino por nós mesmos aceito antes de renascer, e que nossos guias espirituais nos sugerem para nosso bem e nossa elevação.
Nas camadas inferiores da criação, o ser não tem ainda consciência; apenas a fatalidade do instinto o impele, e não é senão nos tipos superiores da animalidade que surgem, timidamente, os primeiros sintomas das faculdades humanas. A alma, jungida ao ciclo humano, desperta para a liberdade moral, o juízo e a consciência desenvolvem-se cada vez mais no curso de sua imensa parábola: colocada entre o bem e o mal, ela faz o confronto e escolhe livremente, tornada sábia pelas quedas e pela dor; e na prova, sua experiência forma-se e sua força mental se afirma.
A alma humana, livre e consciente, não pode mais recair na vida inferior: suas encarnações sucedem-se na dos mundos, até que, ao fim de seu longo trabalho, tenha conquistado a sabedoria, a ciência e o amor, cuja posse a emancipará para sempre das encarnações e da morte, abrindo-lhe a porta da vida celeste.
A alma alcança seus destinos, prepara suas alegrias ou dores, exercendo sua liberdade, porém, no curso de sua jornada, na prova amarga e na ardente luta das paixões, a ajuda superior não lhe será negada e, se ela mesma não a afasta, por parecer indigna dela, quando a vontade se afirma para retomar o caminho do bem, o bom caminho, a providência intervém e propicia-lhe ajuda e apoio, Providência é o espírito superior, o anjo que vigia na desventura, o Consolador invisível cujas inspirações aquecem o coração enregelado pelo desespero, cujos fluidos vivificadores fortalecem o peregrino cansado; providência é o farol aceso na noite para salvação daqueles que erram no oceano proceloso da existência; providência é, ainda e sobretudo, o amor divino que se derrama sobre suas criaturas. E quanta solicitude, quanta previdência neste amor. Não suspendeu os mundos no espaço, acendeu os sois, formou os continentes, os mares, para servir de teatro à alma, de campo aos seus progressos? Esta grande obra de criação cumpre-se somente para a alma, para ela combinam-se as forças naturais, os mundos deixam as nebulosas.
A alma é nascida para o bem, mas para que ela possa apreciá-lo na justa medida, para que possa conhecer-lhe todo o valor, deve conquistá-lo desenvolvendo livremente as próprias potencialidades: a liberdade de ação e a responsabilidade aumentam com sua elevação, pois quanto mais ela se ilumina mais pode e deve conformar a sua obra pessoal às leis que regem o universo.
A liberdade do ser é exercida, pois, em um círculo limitado, parte pelas exigências da lei natural que não sobre violações ou desordens neste mundo, parte pelo passado do próprio ser, cujas conseqüências se refletem sobre ele através dos tempos, até a completa reparação.
Assim o exercício da liberdade humana não pode obstar, em caso algum, a execução do plano divino, sem o que a ordem das coisas seria continuamente perturbada: acima de nossas vistas limitadas e variáveis, permanece e continua a ordem imutável do universo. Somos quase sempre maus juizes daquilo que é nosso verdadeiro bem; se a ordem natural das coisas devesse dobrar-se aos nossos desejos, que espantosas perturbações não resultariam disto?
A primeira coisa que o homem faria, se possuísse liberdade absoluta, seria afastar de si todas as causas de sofrimento, e assegurar para si uma vida plena de felicidade: ora, se existem males que a inteligência humana tem o dever e os meios de conjurar e destruir, como os que provêm do ambiente terrestre, outros existem que são inerentes à nossa natureza, como os vícios, que somente a dor e a repressão podem domar.
Neste caso a dor torna-se uma escola, ou antes, um remédio indispensável, pelo qual as provas são apenas uma repartição equânime da infalível justiça: é por ignorar os fins desejados por Deus, que nos tornamos rebeldes à ordem do mundo e às suas leis, e se elas são suscetíveis de nossas críticas, é apenas porque ignoramos o seu oculto poder.
O destino é conseqüência de nossos atos e de nossas livres resoluções: no suceder-se das existências, na vida espiritual, mais esclarecidos sobre nossas imperfeições e preocupações com os meios de eliminá-las, aceitamos a vida material sob a forma e nas condições que nos parecem adequadas a atingir esta finalidade. Os fenômenos do hipnotismo e da sugestão mental explicam-nos o que acontece em tais casos, sob a influência de nossos protetores espirituais; no estado de sonambulismo, a alma empenha-se a realizar uma certa ação em certo momento, por sugestão do magnetizador, e, despertada, sem recordar aparentemente a promessa, executa com exatidão o ato imposto. Assim o homem não conserva lembrança das resoluções que tomou antes de renascer, mas, chegada a hora, afronta os acontecimentos previstos, e participa deles na medida necessária ao seu progresso, ou ao cumprimento da lei inexorável.
Autor: Léon Denis
Um dos problemas que mais preocuparam os filósofos e os teólogos é o do livre arbítrio: conciliar a vontade e a liberdade do homem com o fatalismo das leis naturais e com a vontade divina, parecia tanto mais difícil quanto um cego acaso parecia pesar, aos olhos de muitos, sobre o destino humano. O ensinamento dos espíritos esclareceu o problema: a fatalidade aparente que semeia de males o caminho da vida, não é mais que a conseqüência lógica do nosso passado, um efeito que se refere a uma causa, é o cumprimento do destino por nós mesmos aceito antes de renascer, e que nossos guias espirituais nos sugerem para nosso bem e nossa elevação.
Nas camadas inferiores da criação, o ser não tem ainda consciência; apenas a fatalidade do instinto o impele, e não é senão nos tipos superiores da animalidade que surgem, timidamente, os primeiros sintomas das faculdades humanas. A alma, jungida ao ciclo humano, desperta para a liberdade moral, o juízo e a consciência desenvolvem-se cada vez mais no curso de sua imensa parábola: colocada entre o bem e o mal, ela faz o confronto e escolhe livremente, tornada sábia pelas quedas e pela dor; e na prova, sua experiência forma-se e sua força mental se afirma.
A alma humana, livre e consciente, não pode mais recair na vida inferior: suas encarnações sucedem-se na dos mundos, até que, ao fim de seu longo trabalho, tenha conquistado a sabedoria, a ciência e o amor, cuja posse a emancipará para sempre das encarnações e da morte, abrindo-lhe a porta da vida celeste.
A alma alcança seus destinos, prepara suas alegrias ou dores, exercendo sua liberdade, porém, no curso de sua jornada, na prova amarga e na ardente luta das paixões, a ajuda superior não lhe será negada e, se ela mesma não a afasta, por parecer indigna dela, quando a vontade se afirma para retomar o caminho do bem, o bom caminho, a providência intervém e propicia-lhe ajuda e apoio, Providência é o espírito superior, o anjo que vigia na desventura, o Consolador invisível cujas inspirações aquecem o coração enregelado pelo desespero, cujos fluidos vivificadores fortalecem o peregrino cansado; providência é o farol aceso na noite para salvação daqueles que erram no oceano proceloso da existência; providência é, ainda e sobretudo, o amor divino que se derrama sobre suas criaturas. E quanta solicitude, quanta previdência neste amor. Não suspendeu os mundos no espaço, acendeu os sois, formou os continentes, os mares, para servir de teatro à alma, de campo aos seus progressos? Esta grande obra de criação cumpre-se somente para a alma, para ela combinam-se as forças naturais, os mundos deixam as nebulosas.
A alma é nascida para o bem, mas para que ela possa apreciá-lo na justa medida, para que possa conhecer-lhe todo o valor, deve conquistá-lo desenvolvendo livremente as próprias potencialidades: a liberdade de ação e a responsabilidade aumentam com sua elevação, pois quanto mais ela se ilumina mais pode e deve conformar a sua obra pessoal às leis que regem o universo.
A liberdade do ser é exercida, pois, em um círculo limitado, parte pelas exigências da lei natural que não sobre violações ou desordens neste mundo, parte pelo passado do próprio ser, cujas conseqüências se refletem sobre ele através dos tempos, até a completa reparação.
Assim o exercício da liberdade humana não pode obstar, em caso algum, a execução do plano divino, sem o que a ordem das coisas seria continuamente perturbada: acima de nossas vistas limitadas e variáveis, permanece e continua a ordem imutável do universo. Somos quase sempre maus juizes daquilo que é nosso verdadeiro bem; se a ordem natural das coisas devesse dobrar-se aos nossos desejos, que espantosas perturbações não resultariam disto?
A primeira coisa que o homem faria, se possuísse liberdade absoluta, seria afastar de si todas as causas de sofrimento, e assegurar para si uma vida plena de felicidade: ora, se existem males que a inteligência humana tem o dever e os meios de conjurar e destruir, como os que provêm do ambiente terrestre, outros existem que são inerentes à nossa natureza, como os vícios, que somente a dor e a repressão podem domar.
Neste caso a dor torna-se uma escola, ou antes, um remédio indispensável, pelo qual as provas são apenas uma repartição equânime da infalível justiça: é por ignorar os fins desejados por Deus, que nos tornamos rebeldes à ordem do mundo e às suas leis, e se elas são suscetíveis de nossas críticas, é apenas porque ignoramos o seu oculto poder.
O destino é conseqüência de nossos atos e de nossas livres resoluções: no suceder-se das existências, na vida espiritual, mais esclarecidos sobre nossas imperfeições e preocupações com os meios de eliminá-las, aceitamos a vida material sob a forma e nas condições que nos parecem adequadas a atingir esta finalidade. Os fenômenos do hipnotismo e da sugestão mental explicam-nos o que acontece em tais casos, sob a influência de nossos protetores espirituais; no estado de sonambulismo, a alma empenha-se a realizar uma certa ação em certo momento, por sugestão do magnetizador, e, despertada, sem recordar aparentemente a promessa, executa com exatidão o ato imposto. Assim o homem não conserva lembrança das resoluções que tomou antes de renascer, mas, chegada a hora, afronta os acontecimentos previstos, e participa deles na medida necessária ao seu progresso, ou ao cumprimento da lei inexorável.
A Grande Educadora
Autor: Léon Denis
Chama-se Dor.
Revela-se na desventura do amante, na desolação da orfandade, na angústia da miséria, no alquebramento da saúde, no esquife do ser querido que se foi deixando atrás de si a lágrima e o luto, no opróbrio da desonra, na humilhação do cárcere, no aviltamento dos prostíbulos, na tragédia dos cadafalsos, na insatisfação dos ideais, na tortura das impossibilidades – no acervo das desilusões contra que se confunde e se decepciona o coração da Humanidade.
Não obstante, a Dor é a grande amiga a zelar pela espécie humana, junto dela exercendo missão elevada e santa.
Estendendo sobre as criaturas suas asas, úmidas sempre do orvalho regenerador das lágrimas, a Dor corrige, educa, aperfeiçoa, exalta, redime e glorifica o sentimento humano a cada vibração que lhe extrai através do sofrimento.
O diamante escravizado em sua ganga sofre inimagináveis dilacerações sob o buril do lapidário até poder ostentar toda a real pureza do grande valor que encerra. Assim também será a nossa alma, que precisará provar o amargor das desventuras para se recobrir dos esplendores das virtudes imortais cujos germens o Sempiterno lhe decalcou no ser desde os longínquos dias do seu princípio!
A alma humana é o diamante raro que a Natureza – Deus – criou para, por si mesmo, aperfeiçoar-se no desdobrar dos milênios, até atingir a plenitude do inimaginável valor que representa, como imagem e semelhança dAquele mesmo Foco que a concebeu. Mas o diamante – Homem – acha-se envolvido das brutezas das paixões inferiores. É um diamante bruto! Chega o dia, porém, em que os germes da imortalidade, nele decalcados, se revolucionam nos refolhos da sua consciência, nele palpitando, então, as ânsias por aquela perfeição que o aguarda, num destino glorificador: - Foi criado para as belezas do Espírito e vê-se bruto o inferior! Destinado a fulgir nos mostruários de esferas redimidas, reconhece-se imperfeito e tardo nas sombras da matéria! Sonha com a sublimização das alegrias em pátrias divinais, onde suas ânsias pelo ideal serão plenamente saciadas, mas se confessa verme, porquanto não aprendeu ainda sequer a dominar os instintos primitivos!
Então o diamante – Homem – inicia, por sua vontade própria, a trajetória indispensável do aperfeiçoamento dos valores que consigo traz em estado ignorado, e entra a sacudir de si a crosta das paixões que o entravam e entenebrecem.
E essa marcha para o Melhor, essa trajetória para o Alto denomina-se Evolução!
A luta, então, apresenta-se rude! É dolorosa, e lenta, e fatigante, e terrível! Dele requer todas as reservas de energias morais, físicas e mentais. Dilacera-lhe o coração, tortura-lhe a alma, e o martirológico, quase sempre, segue com ele, rondando-lhe os passos!
Mas seu destino é imortal, e ele prossegue!
E prosseguindo, vence!...
Então, já não é o bruto de antanho...
O diamante tornou-se jóia preciosa e refulge agora, pleno de méritos e satisfações eternas, nos grandes mostruários da Espiritualidade – esferas de luz que bordam o infinito do Eterno Artista, que é Deus!
A Dor, pois, é para o Espírito humano o que o Sol é para as trevas da noite tempestuosa: - Ressurreição! Porque, se este aclara os horizontes da Terra, levantando com seu brilho majestoso o esplendor da Natureza, aquela desenvolve em nosso ego os magnificentes dons que nele jaziam ignorados: - fecunda a inteligência, depurando o sentimento sob as lições da experiência, educando o caráter, dignificando, elevando, num progredir constante, todo o ser daquele em quem se faz vibrar, tal como o Sol, que vivifica e benfaz as regiões em que se mostra.
A Dor é o Sol da Alma...
A criatura que ainda não sofreu convenientemente carrega em si como que a aridez que desola os pólos glaciais e, como estes, é inacessível às elevadas manifestações do Bem, isto é, às qualidades redentoras que a Dor produz. Nada possuirá para oferecer aos que se lhe aproximam pelos caminhos da existência senão a indiferença que em seu ser se alastra, pois que é na desventura que se aprende a comungar com o Bem, e não pode saber senti-lo quem não teve ainda as fibras da alma tangidas pela inspiração da Dor!
O orgulho e o egoísmo, cancerosas chagas que corrompem as belas tendências do Espírito para os surtos evolutivos que o levarão a redimir-se; as vaidades perturbadoras do senso, as ambições desmedidas, funestas, que não raro arrastam o homem a irremediáveis, precipitosas situações; as torpes paixões que tudo arrebatam e tudo ferem e tudo esmagam na sua voragem avassaladora que infestam a alma humana, inferiorizando-a ao nível da brutalidade, e os quais a Dor, ferindo, cerceia, para implantar depois os fachos imortais de virtudes tais como a humildade, a fé, o desinteresse, a tolerância, a paciência, a prudência, a discrição, o senso do dever e da justiça, os dons do amor e da fraternidade e até os impulsos da abnegação e do sacrifício pelo bem alheio – remanescentes daquelas mesmas sublimes virtudes que de Jesus Nazareno fizeram o mensageiro do Eterno!
Ela, a Dor, é o maior agente do Sempiterno na obra gigantesca da regeneração humana! É a retorta de onde o Sentimento sairá purificado dos vírus maléficos que o infelicitam! Quanto maior o seu jugo, mais benefícios concederá ao nosso ego – tal como o diamante, que mais cintila, alindado, quanto maior for o número dos golpes que lhe talharem as facetas! É a incorruptível amiga e protetora da espécie humana:- zelando pela sua elevação espiritual, inspirando nobres e fraternas virtudes! Ela é quem, no Além-Túmulo, nos leva a meditar, através da experiência, produzindo em nosso ser a ciência de nós mesmos, o critério indispensável para as conquistas do futuro, de que hauriremos reabilitação para a consciência conturbada. É quem, a par do Amor, impele as criaturas à comiseração pelos demais sofredores, e a comiseração é o sentimento que arrasta à Beneficiência. E é ainda ela mesma que nos enternece o coração, fazendo-nos avaliar pelo nosso o infortúnio alheio, predispondo-nos aos rasgos de proteção e bondade; e proteger os infelizes é amar o próximo, enquanto que amar o próximo é amar a Deus, pautando-se pela suprema lei recomendada no Decálogo e exemplificada pelo Divino Mestre!
Por isso mesmo, o coração que sofre não é desgraçado, mas sim venturoso, porque renasce para as auroras da Perfeição, marcha para o destino glorioso, para a comunhão com o Criador Onipotente! Prisioneiro do atraso, o homem somente se desespera sob os embates da Dor porque não a pode compreender ainda. Ela, porém, é magnânima e não maléfica. Não é desventura, é necessidade. Não é desgraça, é progresso. Não é castigo, é lição. Não é aniquilamento, é experiência. Nem é martírio, mas prelúdio de redenção! Notai que – depois do sacrifício na Cruz do Calvário foi que Jesus se aureolou da glória que converterá os séculos:
- “Quando eu for suspenso, atrairei todos a mim”. – Ele próprio o confirmou, falando a seus discípulos.
Sob o seu ferrete é que nos voltamos para aquele misericordioso Pai que é o nosso último e seguro refúgio, a nossa consolação suprema!
As ilusões passageiras da Terra, os prazeres e as alegrias levianas que infestam o mundo, aviltando o sentimento de cada um, nunca fizeram de seus idólatras almas aclaradas pelas chamas do amor a Deus. É que – para levantar na aridez das nossas almas a pira redentora da Fé só há um elemento capaz, e esse elemento é a Dor! Ela, e só ela, é bastante poderosa para reconciliar os homens – filhos pródigos – com o seu Criador e Pai!
Seu concurso é, portanto, indispensável para nos aperfeiçoar o caráter, e inestimável é o seu valor educativo. Serena, vigilante, nobre heróica – ela é o infalível corretivo às ignomínias do coração humano!
Nada há mais belo e respeitável do que uma alma que se conservou serena e comedida em face do infortúnio. Palpita nessa alma a epopéia de todas as vitórias! Responde por um atestado de redenção! Seu triunfo, conquanto ignorado pelo mundo, repercutiu nas regiões felizes do Invisível, onde o comemoraram os santos, os mártires de todos os tempos, os gênios da sabedoria e do bem, almas redimidas e amigas que ali habitam, as quais, como todos os homens que viveram e vivem sobre a Terra, também conheceram as correções da Dor, ela é a lei que aciona a Humanidade nos caminhos para o Melhor até a Perfeição!
Ó almas que sofreis! Enxugai o vosso pranto, calai o vosso desespero! Amai antes a vossa Dor e dela fazei o trono da vossa Imortalidade, pois que, ao findar dessa trajatória de lágrimas a que as existências vos obrigam – é a glorificação eterna que recebereie por prêmio!
Salve, ó Dor bendita, nobre e fiel educadora do coração humano!
E glória ao Espiritismo, que nos veio demonstrar a redenção das almas através da Dor!
(Mensagem recebida pela médium Yvonne Pereira)
Revista Reformador – Fevereiro 1978
Vontade e Evolução
Vontade e Evolução
Autor: Léon Denis. Livro: O Problema do Ser, do Destino e da Dor
Querer é poder! O poder da vontade é ilimitado. O homem, consciente de si mesmo, de seus recursos latentes, sente crescerem suas forças na razão dos esforços. Sabe que tudo o que de bem e bom desejar há de, mais cedo ou mais tarde, realizar-se inevitavelmente, ou na atualidade ou na série das suas existências, quando seu pensamento se puser de acordo com a Lei divina. E é nisso que se verifica a palavra celeste: "A fé transporta montanhas
Não é consolador e belo poder dizer: "Sou uma inteligência e uma vontade livres; a mim mesmo me fiz, inconscientemente, através das idades; edifiquei lentamente minha individualidade e liberdade e agora conheço a grandeza e a força que há em mim. Amparar-me-ei nelas; não deixarei que uma simples dúvida as empane por um instante sequer e, fazendo uso delas com o auxílio de Deus e de meus irmãos do espaço, elevar-me-ei acima de todas as dificuldades; vencerei o mal em mim; desapegar-me- ei de tudo o que me acorrenta às coisas grosseiras para levantar o vôo para os mundos felizes!"
Vejo claramente o caminho que se desenrola e que tenho de percorrer. Esse caminho atravessa a extensão ilimitada e não tem fim; mas, para guiar-me na estrada infinita, tenho um guia seguro, a compreensão da lei de vida, progresso e amor que rege todas as coisas; aprendi a conhecer-me, a crer em mim e em Deus. Possuo, pois, a chave de toda elevação e, na vida imensa que tenho diante de mim, conservar-me-ei firme, inabalável na vontade de enobrecer-me e elevar-me, cada vez mais; atrairei, com o auxílio de minha inteligência, que é filha de Deus, todas as riquezas morais e participarei de todas as maravilhas do Cosmo.
Minha vontade chama-me: "Para frente, sempre para frente, cada vez mais conhecimento, mais vida, vida divina!" E com ela conquistarei a plenitude da existência, construirei para mim uma personalidade melhor, mais radiosa e amante. Saí para sempre do estado inferior do ser ignorante, inconsciente de seu valor e poder; afirmo-me na independência e dignidade de minha consciência e estendo a mão a todos os meus irmãos, dizendo- lhes:
Despertai de vosso pesado sono; rasgai o véu material que vos envolve, aprendei a conhecer-vos, a conhecer as potências de vossa alma e a utilizá-las. Todas as vozes da Natureza, todas as vozes do espaço vos bradam: "Levantai-vos e marchai! Apressai-vos para a conquista de vossos destinos!"
A todos vós que vergais ao peso da vida, que, julgando-vos sós e fracos, vos entregais à tristeza, ao desespero, ou que aspirais ao nada, venho dizer: "O nada não existe; a morte é um novo nascimento, um encaminhar para novas tarefas, novos trabalhos, novas colheitas; a vida é uma comunhão universal e eterna que liga Deus a todos os seus filhos."
A vós todos, que vos credes gastos pelos sofrimentos e decepções, pobres seres aflitos, corações que o vento áspero das provações secou; Espíritos esmagados, dilacerados pela roda de ferro da adversidade, venho dizer-vos:
Não há alma que não possa renascer, fazendo brotar novas florescências. Basta-vos querer para sentirdes o despertar em vós de forças desconhecidas. Crede em vós, em vosso rejuvenescimento em novas vidas; crede em vossos destinos imortais. Crede em Deus, Sol dos sóis, foco imenso, do qual brilha em vós uma centelha, que se pode converter em chama ardente e generosa!
Sabei que todo homem pode ser bom e feliz; para vir a sê-lo basta que o queira com energia e constância. A concepção mental do ser, elaborada na obscuridade das existências dolorosas, preparada pela vagarosa evolução das idades, expandir-se-á à luz das vidas superiores e todos conquistarão a magnífica individualidade que lhes está reservada.
Dirigi incessantemente vosso pensamento para esta verdade: podeis vir a ser o que quiserdes. E sabei querer ser cada vez maiores e melhores. Tal é a noção do progresso eterno e o meio de realizá-lo; tal é o segredo da força mental, da qual emanam todas as forças magnéticas e físicas. Quando tiverdes conquistado esse domínio sobre vós mesmos, não mais tereis que temer os retardamentos nem as quedas, nem as doenças, nem a morte; tereis feito de vosso eu inferior e frágil uma alta e poderosa individualidade!
Autor: Léon Denis. Livro: O Problema do Ser, do Destino e da Dor
Querer é poder! O poder da vontade é ilimitado. O homem, consciente de si mesmo, de seus recursos latentes, sente crescerem suas forças na razão dos esforços. Sabe que tudo o que de bem e bom desejar há de, mais cedo ou mais tarde, realizar-se inevitavelmente, ou na atualidade ou na série das suas existências, quando seu pensamento se puser de acordo com a Lei divina. E é nisso que se verifica a palavra celeste: "A fé transporta montanhas
Não é consolador e belo poder dizer: "Sou uma inteligência e uma vontade livres; a mim mesmo me fiz, inconscientemente, através das idades; edifiquei lentamente minha individualidade e liberdade e agora conheço a grandeza e a força que há em mim. Amparar-me-ei nelas; não deixarei que uma simples dúvida as empane por um instante sequer e, fazendo uso delas com o auxílio de Deus e de meus irmãos do espaço, elevar-me-ei acima de todas as dificuldades; vencerei o mal em mim; desapegar-me- ei de tudo o que me acorrenta às coisas grosseiras para levantar o vôo para os mundos felizes!"
Vejo claramente o caminho que se desenrola e que tenho de percorrer. Esse caminho atravessa a extensão ilimitada e não tem fim; mas, para guiar-me na estrada infinita, tenho um guia seguro, a compreensão da lei de vida, progresso e amor que rege todas as coisas; aprendi a conhecer-me, a crer em mim e em Deus. Possuo, pois, a chave de toda elevação e, na vida imensa que tenho diante de mim, conservar-me-ei firme, inabalável na vontade de enobrecer-me e elevar-me, cada vez mais; atrairei, com o auxílio de minha inteligência, que é filha de Deus, todas as riquezas morais e participarei de todas as maravilhas do Cosmo.
Minha vontade chama-me: "Para frente, sempre para frente, cada vez mais conhecimento, mais vida, vida divina!" E com ela conquistarei a plenitude da existência, construirei para mim uma personalidade melhor, mais radiosa e amante. Saí para sempre do estado inferior do ser ignorante, inconsciente de seu valor e poder; afirmo-me na independência e dignidade de minha consciência e estendo a mão a todos os meus irmãos, dizendo- lhes:
Despertai de vosso pesado sono; rasgai o véu material que vos envolve, aprendei a conhecer-vos, a conhecer as potências de vossa alma e a utilizá-las. Todas as vozes da Natureza, todas as vozes do espaço vos bradam: "Levantai-vos e marchai! Apressai-vos para a conquista de vossos destinos!"
A todos vós que vergais ao peso da vida, que, julgando-vos sós e fracos, vos entregais à tristeza, ao desespero, ou que aspirais ao nada, venho dizer: "O nada não existe; a morte é um novo nascimento, um encaminhar para novas tarefas, novos trabalhos, novas colheitas; a vida é uma comunhão universal e eterna que liga Deus a todos os seus filhos."
A vós todos, que vos credes gastos pelos sofrimentos e decepções, pobres seres aflitos, corações que o vento áspero das provações secou; Espíritos esmagados, dilacerados pela roda de ferro da adversidade, venho dizer-vos:
Não há alma que não possa renascer, fazendo brotar novas florescências. Basta-vos querer para sentirdes o despertar em vós de forças desconhecidas. Crede em vós, em vosso rejuvenescimento em novas vidas; crede em vossos destinos imortais. Crede em Deus, Sol dos sóis, foco imenso, do qual brilha em vós uma centelha, que se pode converter em chama ardente e generosa!
Sabei que todo homem pode ser bom e feliz; para vir a sê-lo basta que o queira com energia e constância. A concepção mental do ser, elaborada na obscuridade das existências dolorosas, preparada pela vagarosa evolução das idades, expandir-se-á à luz das vidas superiores e todos conquistarão a magnífica individualidade que lhes está reservada.
Dirigi incessantemente vosso pensamento para esta verdade: podeis vir a ser o que quiserdes. E sabei querer ser cada vez maiores e melhores. Tal é a noção do progresso eterno e o meio de realizá-lo; tal é o segredo da força mental, da qual emanam todas as forças magnéticas e físicas. Quando tiverdes conquistado esse domínio sobre vós mesmos, não mais tereis que temer os retardamentos nem as quedas, nem as doenças, nem a morte; tereis feito de vosso eu inferior e frágil uma alta e poderosa individualidade!
Um egoísta
ESTUDO ESPÍRITA MORAL
Em data de 10 de janeiro de 1865, um dos nossos correspondentes de Lyon nos transmite o seguinte relato.
Numa
localidade vizinha, conhecíamos um indivíduo cujo nome não declaramos
para não sermos maledicente e porque o nome nada tem a ver com o fato.
Ele era espírita, e sob o domínio dessa crença se havia melhorado, no
entanto não havia dela tirado todo o proveito que poderia, levando-se em
consideração a sua inteligência. Vivia com uma velha tia, que o amava
como a um filho, e que não poupava trabalhos nem sacrifícios por seu
caro sobrinho. Por economia, ela tomava conta da casa. Até aí tudo muito
natural. O que era menos natural é que o sobrinho, jovem e saudável, a
deixava fazer trabalhos acima de suas forças, sem que jamais tivesse a
ideia de poupar-lhe esforços penosos para a sua idade, tais como o
transporte de fardos e coisas semelhantes. Ele não arredava um móvel em
casa, como se tivesse criados às suas ordens. Se previsse algum penoso
serviço excepcional, arranjava um pretexto para ausentar-se, temeroso
que lhe pedissem uma ajuda que não poderia recusar. Entretanto, a esse
respeito ele tinha recebido muitas lições, poderia dizer-se afrontas,
capazes de fazer refletir um homem de coração, mas ele era insensível a
elas. Um dia em que a tia se extenuava rachando lenha, lá estava ele
sentado, fumando tranquilamente o seu cachimbo. Entrou um vizinho e,
vendo isto, lançou um olhar de desprezo ao jovem e disse: “Isto é
trabalho para homem, e não para mulher.” Depois, tomando o machado,
começou a rachar a lenha, enquanto o outro olhava. Ele era considerado
um homem direito e de boa conduta, mas seu caráter não tinha amenidade
nem perseverança, por isso não era estimado, e a maioria dos amigos se
haviam afastado. Nós, espíritas, nos afligíamos por essa falta de
sentimento e dizíamos que um dia ele pagaria muito caro.
A
previsão realizou-se recentemente. Devemos dizer que, devido aos
esforços que fazia, a velha senhora foi acometida por uma hérnia muito
grave, que a fazia sofrer muito, mas ela tinha a coragem de não se
lamentar. Durante estes últimos períodos de frio, querendo esquivar-se
de um trabalho pesado, o sobrinho saiu cedo, mas não voltou. Ao
atravessar uma ponte, foi atingido por uma viatura que deslizou por uma
encosta escorregadia, e morreu duas horas depois.
Quando fomos informados do fato, quisemos evocá-lo e eis o que foi respondido por um dos nossos bons guias:
“Aquele
a quem quereis chamar não poderá comunicar-se antes de algum tempo.
Venho responder por ele e vos dizer o que quereis saber. Mais tarde ele
vo-lo confirmará. Neste momento ele está muito perturbado pelos
pensamentos que o agitam. Ele vê sua tia e a doença que ela contraiu em
consequência das fadigas corporais e da qual morrerá. Eis o que o
atormenta, pois se considera o seu assassino. E ele é, de fato, pois
poderia ter-lhe poupado o trabalho que será a causa de sua morte. É para
ele um remorso pungente que o perseguirá por muito tempo, até que tenha
reparado a sua falta. Ele queria fazê-lo neste momento; não deixa a sua
tia, mas seus esforços são improfícuos, e então ele se desespera. Para
seu castigo, deve vê-la morrer em consequência de sua indiferença
egoísta, pois sua conduta é uma espécie de egoísmo. Orai por ele, a fim
de sustentar seu arrependimento, que mais tarde o salvará.”
Pergunta.
─ Nosso caro guia poderia dizer-nos se não lhe serão levados em conta
outros defeitos de que se corrigiu por força do Espiritismo e se sua
situação não se abrandou?
Resposta.
─ Sem nenhuma dúvida, essa melhora lhe é levada em conta, pois nada
escapa ao olhar perscrutador da divina providência. Mas eis de que
maneira cada boa ou má ação tem suas consequências naturais,
inevitáveis, segundo estas palavras do Cristo: A cada um segundo as suas
obras. Aquele que se corrigiu de algumas falhas se poupa da punição que
as mesmas teriam acarretado, e recebe, ao contrário, o prêmio das
qualidades que as substituíram, mas não pode escapar às consequências
dos defeitos que persistem. Assim, ele não é punido senão na proporção e
segundo a gravidade destes últimos. Quanto menos defeitos tiver, melhor
sua posição. Uma qualidade não resgata um defeito; ela diminui o número
destes e, por conseguinte, a soma das punições.
Aqueles
que são corrigidos logo de início são os mais fáceis de extirpar e o
mais difícil de desfazer-se é o egoísmo. As pessoas julgam ter feito
muito porque moderaram a violência do caráter, se resignaram à sua sorte
ou se desfizeram de alguns maus hábitos. Sem dúvida é algo que lhes
beneficia, mas não impede de pagarem o tributo de depuração pelo resto.
Meus
amigos, o egoísmo é o que melhor se vê nos outros, porque a gente sente
o seu contragolpe e porque o egoísta nos fere, mas o egoísta encontra
em si mesmo sua satisfação, razão por que dele não se apercebe. O
egoísmo é sempre uma prova de secura do coração; ele estiola a
sensibilidade para os sofrimentos alheios. O homem de coração, ao
contrário, ressente esse sofrimento e se emociona; é por isto que ele se
dedica a não impô-lo ou minimizá-lo em relação aos outros, porque
quereria que os outros fizessem o mesmo por ele. Assim, é feliz quando
poupa um esforço ou um sofrimento a alguém. Tendo-se identificado com o mal de seu semelhante, ele experimenta um alívio real quando não mais existe o mal. Contai com o seu reconhecimento se lhe prestardes serviço.
Entretanto,
do egoísta não espereis senão a ingratidão. O reconhecimento em
palavras nada lhe custa, mas a ação o fatigaria e perturbaria o seu
repouso. Ele só age por outro quando forçado, nunca espontaneamente. Seu
devotamento está na razão do bem que espera das pessoas, e isto algumas
vezes malgrado seu.
O
moço de quem falamos certamente gostava da tia e ter-se-ia revoltado se
lhe tivessem dito o contrário, contudo, sua afeição não chegava ao
ponto de fatigar-se por ela. De sua parte, não era um desígnio
premeditado, mas uma repulsa instintiva, consequente de seu egoísmo
inato. A luz que ele não soube encontrar em vida, hoje lhe aparece, e
ele lamenta não ter aproveitado melhor os ensinamentos que recebeu. Orai
por ele.
O egoísmo
é o verme roedor da Sociedade, é mais ou menos o de cada um de vós. Em
breve eu farei uma dissertação na qual ele será encarado sob suas
múltiplas nuanças; será um espelho: olhai-o com cuidado, para ver se não
percebeis num canto qualquer um reflexo de vossa personalidade.
VOSSO GUIA ESPIRITUAL
Revista Espírita de 1865
Revista Espírita 1866 » Novembro » Maomé e o Islamismo
(2º artigo ─ Vide o nº. de agosto de 1866)
Foi
em Medina que Maomé mandou construir a primeira mesquita, na qual
trabalhou com as próprias mãos e organizou um culto regular. Aí pregou
pela primeira vez em 623. Todas as medidas tomadas por ele testemunhavam
a sua solicitude e a sua previdência: “Um traço característico, ao
mesmo tempo, do homem e do seu tempo”, diz o Sr. Barthélemy
Saint-Hilaire, “é a escolha feita por Maomé de três poetas de Medina,
oficialmente encarregados de defendê-lo contra as sátiras dos poetas de
Meca. Provavelmente não era porque nele o amor-próprio fosse mais
excitável do que convinha, mas, numa nação espirituosa e viva, esses
ataques tinham uma repercussão análoga à que, em nossos dias, podem ter
os jornais, e eles eram muito perigosos”.
Dissemos
que Maomé foi constrangido a fazer-se guerreiro. Com efeito, ele
absolutamente não tinha o humor belicoso como o havia provado nos
primeiros cinquenta anos de sua existência. Ora, decorridos apenas dois
anos de sua residência em Medina, e os coraicitas de Meca, coligados com
as outras tribos hostis, vieram sitiar a cidade. Maomé teve que se
defender, e a partir de então começou para ele um período guerreiro que
durou dez anos, durante o qual se mostrou, sobretudo, um tático hábil.
Num povo em que a guerra era o estado normal; que só conhecia o direito
da força, ao chefe da nova religião era necessário o prestígio da
vitória para firmar a sua autoridade, mesmo sobre os seus partidários. A
persuasão tinha pouco domínio sobre essas populações ignorantes e
turbulentas; uma mansuetude exagerada teria sido tomada como fraqueza.
Em seu pensamento, o Deus forte não podia manifestar-se senão por um
homem forte, e o Cristo, com a sua inalterável doçura, teria fracassado
nessas regiões.
Portanto,
Maomé foi guerreiro pela força das circunstâncias, muito mais do que
por seu caráter, e terá sempre o mérito de não ter sido o provocador.
Uma vez iniciada a luta, ele tinha que vencer ou morrer; só com essa
condição poderia ser aceito como o enviado de Deus; era preciso que os
seus inimigos fossem destroçados para se convencerem da superioridade de
seu Deus sobre os ídolos que eles adoravam. Com exceção de um dos
primeiros combates, no qual ele foi ferido e os muçulmanos derrotados,
em 625, suas armas foram constantemente vitoriosas
e no espaço de alguns anos ele submeteu a Arábia inteira à sua lei.
Quando ele viu sua autoridade consolidada e a idolatria destruída,
entrou triunfalmente em Meca, após dez anos de exílio, seguido por
aproximadamente cem mil peregrinos, e aí realizou a célebre peregrinação
dita do adeus, cujos ritos os muçulmanos conservaram
escrupulosamente. Ele morreu no mesmo ano, dois meses depois de seu
regresso a Medina, a 8 de junho de 632, com sessenta e dois anos de
idade.
Temos
que julgar Maomé pela história autêntica e imparcial, e não segundo as
lendas ridículas que a ignorância e o fanatismo espalharam por sua
conta, ou segundo as descrições feitas pelos que tinham interesse em
desacreditá-lo, apresentando-o como um ambicioso sanguinário e cruel.
Também não se deve considerá-lo responsável pelos excessos de seus
sucessores que quiseram conquistar o mundo para a fé muçulmana de espada
em punho. Sem dúvida houve grandes manchas no último período de sua
vida; ele pode ser censurado por ter abusado, em algumas circunstâncias,
do direito de vencedor e de nem sempre ter agido com toda a moderação
desejável. Entretanto, ao lado de alguns atos que a nossa civilização
reprova, é preciso dizer, em seu favor, que muitíssimas vezes ele se
mostrou muito mais humano e clemente para com os inimigos do que
vingativo, e que muitas vezes deu provas de verdadeira grandeza de alma.
É forçoso reconhecer, também, que mesmo em meio aos seus sucessos e
quando havia chegado ao topo de sua glória, até o seu último dia
limitou-se a seu papel de profeta, sem jamais usurpar uma autoridade
temporal despótica. Ele não se fez rei nem potentado, e jamais, na sua
vida privada, se maculou com qualquer ato de fria barbárie, nem de baixa
cupidez. Sempre viveu com simplicidade, sem fausto e sem luxo,
mostrando-se bom e benevolente para com todos. Isto é da história.
Se
nos reportarmos ao tempo e ao meio em que ele vivia; se considerarmos
sobretudo as perseguições de que ele e os seus foram vítimas, o
encarniçamento dos seus inimigos e os atos de barbárie que estes
cometeram contra os seus partidários, é lícito nos admiremos que na
ebriez de sua vitória por vezes ele tenha feito uso de represálias?
Podemos
censurá-lo por ter implantado sua religião a ferro e fogo no meio de um
povo bárbaro que o combatia, quando a Bíblia registra, como fatos
gloriosos para a fé, carnificinas de tamanha atrocidade que somos
tentados a tomar como lendas? Quando, mil anos depois dele, nas regiões
civilizadas do ocidente, cristãos que tinham por guia a sublime lei do
Cristo, atirando-se sobre vítimas pacificas, extinguiam as heresias
pelas fogueiras, pelas torturas, pelos massacres e em ondas de sangue?
Se
o papel guerreiro de Maomé lhe foi uma necessidade, e se esse papel
pode escusá-lo de certos atos políticos, o mesmo não se dá em relação a
outros aspectos. Até a idade de cinquenta anos e enquanto viveu sua
primeira esposa Khadidja, quinze anos mais velha do que ele, seus
costumes foram irreprocháveis, mas a partir de então suas paixões não
conheceram freio, e foi incontestavelmente para justificar o abuso que
delas fez que ele consagrou a poligamia na sua religião. Foi o seu mais
grave erro, porque foi uma barreira que ele interpôs entre o Islamismo e
o mundo civilizado. Assim, sua religião, após doze séculos, não pôde
transpor os limites de certas raças. É, também, o lado pelo qual o seu
fundador mais se rebaixa aos nossos olhos. Os homens de gênio perdem
sempre o seu prestígio quando se deixam dominar pela matéria; ao
contrário, crescem tanto mais quanto mais se elevam acima das fraquezas
da Humanidade.
Contudo,
o desregramento dos costumes era tal na época de Maomé, que uma reforma
radical era muito difícil em homens habituados a se entregar às suas
paixões com uma brutalidade bestial. Portanto, podemos dizer que
regulamentando a poligamia ele pôs limites à desordem e conteve abusos
mais graves. Mas nem por isso a poligamia deixará de ser o verme roedor
do Islamismo, porque é contrária às leis da Natureza. Pela igualdade
numérica dos sexos, a própria Natureza traçou os limites das uniões.
Permitindo quatro mulheres legítimas, Maomé não pensou que, para que sua
lei abrangesse a universalidade dos homens, era preciso que o sexo
feminino fosse ao menos quatro vezes mais numeroso que o masculino.
Malgrado
as suas imperfeições, o Islamismo não deixou de ser um grande benefício
para a época em que apareceu e para o país onde surgiu, porque fundou o
culto da unidade de Deus sobre as ruínas da idolatria. Era a única
religião possível para esses povos bárbaros, aos quais não era razoável
pedir grandes sacrifícios de suas ideias e costumes. Era-lhes necessário
algo de simples como a Natureza, em cujo meio viviam. A religião cristã
tinha muitas sutilezas metafísicas; assim, todas as tentativas feitas
durante cinco séculos para implantá-la nessas regiões tinham falhado
fragorosamente; o próprio Judaísmo, muito questionador, tinha feito
poucos prosélitos entre os árabes, embora os judeus propriamente ditos
aí fossem bastante numerosos. Superior aos de sua raça, Maomé tinha
compreendido os homens de seu tempo; para arrancá-los da baixeza em que
os mantinham grosseiras crenças rebaixadas a um estúpido fetichismo, ele
lhes deu uma religião apropriada às suas necessidades e ao seu caráter.
Essa religião era a mais simples de todas: “Crença num Deus único,
onipotente, eterno, infinito, onipresente, clemente e misericordioso,
criador dos céus, dos anjos e da Terra, pai do homem, sobre o qual vela e
cumula de bens; remunerador e vingador numa outra vida, onde nos espera
para nos recompensar ou castigar, conforme os nossos méritos; que vê
nossas ações mais secretas e preside o destino de suas criaturas que ele
não abandona um só instante, nem neste mundo nem no outro; submissão a
mais humilde e confiança absoluta em sua vontade santa”, eis os dogmas.
Quanto ao culto, consiste na prece repetida cinco vezes por dia, nos jejuns e nas mortificações do mês de ramadã e
em certas práticas, das quais diversas tinham um fim higiênico, mas de
que Maomé fez uma obrigação religiosa, tais como as abluções diárias, a
abstenção do vinho, das bebidas inebriantes, da carne de certos animais,
que os fiéis consideram um caso de consciência observar nos mais
minuciosos detalhes. A sexta-feira foi adotada como o dia santo da
semana e Meca indicada como o ponto para o qual todo muçulmano deve
voltar-se ao orar. O serviço público nas mesquitas consiste na prece em
comum, sermões, leitura e explicação do Alcorão. A circuncisão
não foi instituída por Maomé, mas por ele conservada; era praticada
entre os árabes desde tempos imemoriais. A proibição de reproduzir pela
pintura ou escultura qualquer ser vivo, homens e animais, foi feita
visando destruir a idolatria e impedir que ela se revigorasse. Enfim, a
peregrinação a Meca, que todo fiel deve realizar pelo menos uma vez na
vida, é um ato religioso; entretanto, ele tinha um outro objetivo nessa
época, um objetivo político, o de aproximar, por um laço fraternal, as
diversas tribos inimigas, reunindo-as num comum sentimento de piedade
num mesmo lugar consagrado.
Do
ponto de vista histórico, a religião muçulmana admite o Antigo
Testamento por inteiro, até Jesus Cristo, inclusive, que ela reconhece
como profeta. Segundo Maomé, Moisés e Jesus eram enviados de Deus para
ensinar a verdade aos homens; como a lei do Sinai, o Evangelho é a
palavra de Deus, mas os cristãos alteraram o seu sentido. Ele declara,
em termos explícitos, que não traz nem crenças novas nem culto novo, mas
que vem restabelecer o culto do Deus único professado por Abraão. Não
fala senão respeitosamente dos patriarcas e dos profetas que o
precederam: Moisés, David, Isaías, Ezequiel e Jesus Cristo; do
Pentateuco, dos Salmos e do Evangelho. São os livros que precederam e
prepararam o Alcorão. Longe de ocultar esses empréstimos,
gaba-se disso, e a grandeza deles é o fundamento da sua. Pode-se julgar
de seus sentimentos e do caráter de suas instruções pelo fragmento
seguinte do último discurso que pronunciou em Meca quando da
peregrinação do adeus, pouco tempo antes de sua morte, e conservado na
obra de Ibn-Ishâc e de Ibn-lshâm:
“Ó
povos! Escutai minhas palavras, pois não sei se no próximo ano poderei
encontrar-me convosco neste lugar. Sede humanos e justos entre vós. Que a
vida e a propriedade de cada um sejam invioláveis e sagradas para os
outros; que aquele que recebeu um depósito o devolva fielmente àquele
que o confiou. Aparecereis diante do vosso Senhor e ele vos pedirá
contas de vossas ações. Tratai bem as mulheres; elas são vossas
auxiliares e nada podem por si sós. Vós as tomastes como um bem que Deus
vos confiou e delas tomastes posse por palavras divinas.
“Ó
povos! Escutai minhas palavras e fixai-as em vosso Espírito. Eu vos
revelei tudo; deixo-vos uma lei que vos preservará para sempre do erro,
se a ela ficardes ligados fielmente, uma lei clara e positiva, o livro
de Deus e o exemplo de seu profeta.
“Ó
povos! Escutai minhas palavras e fixai-as em vosso Espírito. Sabei que
todo muçulmano é o irmão do outro; que todos os muçulmanos são irmãos
entre si, que sois todos iguais entre vós e que sois apenas uma família
de irmãos. Guardai-vos da injustiça; ninguém deve cometê-la em
detrimento de seu irmão: ela arrastará à vossa perdição eterna.
“Ó Deus! Desempenhei minha mensagem e terminei minha missão?
“A multidão que o rodeava respondeu: Sim, tu a cumpriste.
“E Maomé exclamou: Ó Deus, digna-te receber este testemunho!”
Eis
agora o julgamento de Maomé e da influência de sua doutrina, feito por
um de seus historiógrafos, o Sr. G. Weil, em sua obra alemã intitulada Mohammet der Prophet, às páginas 400 e seguintes:
“A
doutrina de Deus e dos santos destinos do homem pregada por Maomé num
país que estava entregue à mais brutal idolatria e que tinha uma pálida
ideia da imortalidade da alma, tanto mais nos deve reconciliar com ele, a
despeito de suas fraquezas e de seus erros, quanto sua vida particular
não podia exercer sobre os seus aderentes nenhuma influência perniciosa.
Longe de se dar jamais por modelo, ele queria sempre que o olhassem
como um ser privilegiado, a quem Deus permitia pôr-se acima da lei
comum, e de fato ele foi cada vez mais considerado sob esse aspecto
especial.
“Seríamos
injustos e cegos se não reconhecêssemos que seu povo lhe deve ainda
outra coisa de verdadeiro e de bom. Ele reuniu numa só grande nação que
fraternalmente crê em Deus, as inumeráveis tribos árabes, até então
inimigas entre si. Em lugar do mais violento arbítrio, do direito da
força e da luta individual, ele estabeleceu um direito inquebrantável
que, malgrado suas imperfeições, constitui a base de todas as leis do
Islamismo. Ele limitou a vingança de sangue que antes dele se estendia
até aos parentes mais afastados e a limitou àquele que os juízes
reconhecessem como assassino. Prestou relevantes serviços sobretudo ao
belo sexo, não só protegendo as filhas contra o atroz costume que muitas
vezes permitiam que fossem imoladas por seus pais, mas, além disso,
protegendo as mulheres contra os parentes de seus maridos que as
herdavam como coisas materiais, e protegendo-as contra os maus tratos
dos homens. Restringiu a poligamia, não permitindo aos crentes senão
quatro esposas legítimas, em vez de dez, como era usual, sobretudo em
Medina. Sem ter emancipado inteiramente os escravos, foi bom e útil para
eles de várias maneiras. Para os pobres, não só recomendou sempre a
beneficência para com eles, mas estabeleceu formalmente um imposto em
seu favor e lhes concedeu uma parte especial no espólio e no tributo.
Proibindo o jogo, o vinho e todas as bebidas inebriantes, preveniu
muitos vícios, muitos excessos, muitas querelas e muita desordem.
“Embora
não consideremos Maomé como um verdadeiro profeta, porque empregou para
propagar sua religião meios violentos e impuros e porque ele próprio
foi muito fraco para se submeter à lei comum e porque se dizia o selo
dos profetas, declarando que Deus sempre podia substituir o que ele
havia dado por algo de melhor, não obstante ele tem o mérito de ter
feito penetrar as mais belas doutrinas do Velho e do Novo Testamento num
povo que não era esclarecido por nenhum raio da fé e sob este ponto de
vista deve parecer, mesmo aos olhos não maometanos, como um enviado de
Deus.”
Como complemento deste estudo, citaremos algumas passagens textuais do Alcorão, tiradas da tradução de Savary:
Em
nome do Deus clemente e misericordioso. ─ Louvor a Deus, soberano dos
mundos. ─ A misericórdia é a sua partilha. ─ Ele é o rei no dia do
juízo. ─ Nós te adoramos, Senhor, e imploramos a tua assistência. ─
Dirige-nos no caminho da salvação, ─ no caminho dos que cumulaste com os
teus benefícios; ─ dos que não mereceram a tua cólera e se preservaram
do erro. (Introdução, Surata 1).
Ó
mortais, adorai o Senhor que vos criou, vós e os vossos pais, a fim de
que o temais; que vos deu a terra por leito e o céu por teto; que fez
descer a chuva dos céus para produzir todos os frutos de que vos
alimentais. Não deis sócio ao Altíssimo; vós o sabeis. (Surata II, v. 19
e 20).
Por
que não credes em Deus? Estáveis mortos, ele vos deu a vida; ele
extinguirá vossos dias e lhes reacenderá o facho. Voltareis a ele. ─ Ele
criou para vosso refúgio tudo o que há sobre a Terra. Voltando depois
seu olhar para o firmamento, formou os sete céus. Sua ciência abarca o
Universo. (Surata II, v. 26 e 27).
O
Oriente e o Ocidente pertencem a Deus; para qualquer lugar que se
voltem vossos olhos, reconhecereis a sua face. Ele enche o Universo com a
sua imensidade e com a sua ciência. ─ Ele formou a Terra e os céus.
Quer ele produzir qualquer obra? Ele diz: “Seja feita”, e a obra é
feita. ─ Os ignorantes dizem: “Se Deus não nos fala e se tu não nos
fazes ver um milagre, nós não cremos.” Assim falavam seus pais; seus
corações são semelhantes. Fizemos brilhar muitos prodígios para os que
têm fé. (Surata II, v. 109 a 112).
Deus
não exigirá de cada um de nós senão conforme as suas forças. Cada um
terá em seu favor as boas obras e contra si o mal que houver feito.
Senhor, não nos castigues por faltas cometidas por esquecimento. Perdoa
os nossos pecados; não nos imponhas o fardo que nossos pais carregaram.
Não nos carregues além de nossas forças. Faze brilhar para os teus
servos o perdão e a indulgência. Tem compaixão de nós; és o nosso
socorro. Ajuda-nos contra as nações infiéis. (Surata, II, v. 286).
Ó Deus,
rei supremo, dás e tiras à vontade as coroas e o poder. Elevas e
rebaixas os humanos à tua vontade; o bem está em tuas mãos: tu és o
onipotente. ─ Mudas o dia em noite e a noite em dia. Fazes sair a vida
do seio da morte e a morte do seio da vida. Derramas teus tesouros
infinitos sobre quem te apraz. (Surata III, v. 25 e 26).
Ignorais
quantos povos fizemos desaparecer da face da Terra? Nós lhes havíamos
dado um império mais estável que o vosso. Mandávamos as nuvens
derramarem a chuva sobre os seus campos; aí fazíamos correrem os rios.
Só os seus crimes causaram a sua ruína. Nós os substituímos por outras
nações. (Surata VI, v. 6).
É
a Deus que deveis o sono da noite e o despertar da manhã. Ele sabe o
que fazeis durante o dia. Ele vos deixa realizar o curso da vida. Reaparecereis diante
dele e ele vos mostrará vossas obras. ─ Ele domina os seus servos. Ele
vos dá como guardas, anjos encarregados de terminar vossos dias no
momento prescrito. Eles executam cuidadosamente a ordem do Céu. ─ Voltareis em
seguida diante do Deus da verdade. Não é a ele que cabe julgar? Ele é o
mais exato dos juízes. ─ Quem vos livra das tribulações da terra e dos
mares, quando, invocando-o em público ou no íntimo do coração exclamais:
“Senhor, se de nós afastas estes males, nós te seremos reconhecidos?” ─
É Deus que deles vos livra. É sua bondade que vos alivia da pena que
vos oprime; e depois voltais à idolatria. (Surata VI, v. 60 a 64)
Todos
os segredos são desvelados aos seus olhos; é grande o Altíssimo. ─
Aquele que fala em segredo; aquele que fala em público; aquele que se
envolve nas sombras da noite e aquele que aparece à luz do dia lhe são
igualmente conhecidos. ─ É ele que faz brilhar o raio aos vossos olhos
para vos inspirar o medo e a esperança. É ele que eleva as nuvens
carregadas de chuva. ─ O trovão celebra seus louvores. Os anjos tremem
em sua presença. Ele lança o raio e este fere as vítimas marcadas. Os
homens discutem sobre Deus, mas ele é o forte e o poderoso. ─ Ele é a
verdadeira invocação. Os que imploram a outros deuses não serão
exalçados; eles se assemelham ao viajante que, premido pela sede,
estende a mão para a água que não pode alcançar. A invocação dos infiéis
se perde na noite do erro. (Surata XIII, v. 10 a 15).
Jamais
digas: “Farei isto amanhã”, sem acrescentar: “se for a vontade de
Deus”. Eleva a ele o teu pensamento quando tiveres esquecido alguma
coisa e diz: “Talvez ele me esclareça e me faça conhecer a verdade.”
(Surata XVIII, v. 23).
Se
as ondas do mar se transformassem em tinta para descrever os louvores
do Senhor, esgotar-se-iam antes de haver celebrado todas as suas
maravilhas. Um outro oceano semelhante ainda não bastaria. (Surata
XVIII, v. 109).
Aquele
que busca a verdadeira grandeza a encontra em Deus, fonte de todas as
perfeições. Os discursos virtuosos sobem ao seu trono. Ele exalta as
boas obras; ele pune rigorosamente o celerado que trama perfídias.
Não,
o céu jamais anula o decreto que ele pronunciou. ─ Eles não percorreram
a Terra? Eles não viram que ela foi o fim deplorável dos povos que
antes deles marcharam no caminho da iniquidade? Esses povos eram mais
fortes e mais poderosos do que eles. Mas nada nos céus e na Terra pode
opor-se as vontades do Altíssimo. A ciência e a força são seus
atributos. ─ Se Deus punisse os homens desde o instante em que se tomam
culpados, não restaria nenhum ser animado na Terra. Ele difere os
castigos até o termo marcado. ─ Quando chega o tempo, ele distingue as
ações de seus servidores. (Surata XXXV, v. 11 e 41 a 45).
Estas
citações bastam para mostrar o profundo sentimento de piedade que
animava Maomé e a ideia grande e sublime que ele fazia de Deus. O
Cristianismo poderia reivindicar esse quadro.
Maomé
não ensinou o dogma da fatalidade absoluta, como pensam geralmente.
Essa crença, de que estão imbuídos os muçulmanos, e que paralisa sua
iniciativa em muitas circunstâncias, não passa de uma falsa
interpretação e de uma falsa aplicação do princípio da submissão à
vontade de Deus levada além dos limites racionais; eles não compreendem
que tal submissão não exclui o exercício das faculdades do homem, e lhes
falta como corretivo a máxima: “Ajuda-te, e o céu te ajudará.”
As passagens seguintes tratam de pontos particulares da doutrina.
Deus
tem um filho, dizem os cristãos. Longe dele esta blasfêmia! Tudo o que
está no céu e na Terra lhe pertence. Todos os seres obedecem à sua voz.
(Surata II, v. 110).
Ó
vós que recebestes as escrituras, não ultrapasseis os limites da fé;
não digais de Deus senão a verdade. Jesus é filho de Maria, enviado do
Altíssimo e o seu Verbo. Ele o fez descer ao seio de Maria; ele é o seu
sopro. Crede em Deus e em seus apóstolos, mas não digais que há uma
trindade em Deus. Ele é uno; esta crença vos será mais segura. Longe de
ter um filho, ele governa sozinho o Céu e a Terra; ele se basta a si
mesmo. ─ O Messias não corará por ser o servo de Deus, assim como os
anjos que rodeiam o seu trono e lhe obedecem. (Surata IV, v. 169, 170).
Aqueles
que sustentam a trindade de Deus são blasfemos; não há senão um Deus.
Se eles não mudarem de crença, um doloroso suplício será o preço de sua
impiedade. (Surata V, v. 77).
Os
judeus dizem que Ozaï é o filho de Deus. Os cristãos dizem o mesmo do
Messias. Eles falam como os infiéis que os precederam. O céu punirá suas
blasfêmias. ─ Eles chamam senhores aos seus pontífices, seus monges, e o
Messias filho de Maria. Mas lhes é recomendado servir a um só Deus: não
há outro. Anátema sobre os que eles associam ao seu culto. (Surata IX,
30, 31).
Deus
não tem filhos; ele não partilha o império com outro Deus. Se assim
fosse, cada um deles quereria apropriar-se de sua criação e elevar-se
acima de seu rival. Louvor ao Altíssimo! Longe dele essas blasfêmias!
(Surata XXII, v. 93).
Declara, ó Maomé, o que o céu te revelou. ─ A assembleia dos gênios, tendo escutado a leitura do Alcorão, exclamou:
“Eis uma doutrina maravilhosa. ─ Ela conduz à verdadeira fé. Nós cremos
nela e não damos um igual a Deus. ─ Glória à sua Majestade suprema!
Deus não tem esposa; ele não gerou.” (Surata LXXII, v. l a 4).
Dizei:
“Cremos em Deus, no livro que nos foi enviado, no que foi revelado a
Abraão, Ismael, Isaac, Jacob e às doze tribos. Cremos na doutrina de
Moisés, de Jesus e dos profetas; não fazemos nenhuma diferença entre
eles e somos muçulmanos.” (Surata II, v. 130).
Não
há Deus senão o Deus vivo e eterno. ─ Ele te enviou o livro que encerra
a verdade, para confirmar a verdade das Escrituras que o precederam.
Antes dele, fez descer o Pentateuco e o Evangelho, para servirem de
guias aos homens; ele enviou o Alcorão dos céus. ─ Os que
negarem a doutrina divina só devem esperar suplícios; Deus é poderoso e a
vingança está em suas mãos. (Surata III, v. 1, 2, 3).
Há
os que dizem: “Juramos a Deus não crer em nenhum profeta, a menos que a
oferenda que ele apresenta não seja confirmada pelo fogo do Céu.” ─
Responde-lhes: “Tínheis profetas antes de mim; eles operaram milagres e
aquele mesmo de que falais. Por que então manchastes as vossas mãos com
seu sangue, se dizeis a verdade?” ─ Se eles negam a tua missão, trataram
do mesmo modo os apóstolos que te precederam, embora fossem dotados do
dom dos milagres e tivessem trazido o livro que esclarece (o Evangelho) e
o livro dos salmos. (Surata III, v. 179 a 181).
Nós
te inspiramos, assim como inspiramos Noé, os profetas, Abraão, Ismael,
Isaac, Jacob, as tribos, Jesus, Job, Jonas, Aarão e Salomão. Nós demos
os salmos de Davi. (Surata IV, v. 161).
Em
muitas outras passagens Maomé fala no mesmo sentido e com o mesmo
respeito dos profetas, de Jesus e do Evangelho, mas é evidente que se
equivocou quanto ao sentido ligado à Trindade e a qualidade de filho de
Deus, que ele toma ao pé da letra. Se esse mistério é incompreensível
para tantos cristãos, e se entre estes provocou tantos comentários e
controvérsias, não é de admirar que Maomé não o tenha compreendido. Nas
três pessoas da Trindade ele viu três deuses e não um só Deus e três
pessoas distintas; no filho de Deus ele viu uma procriação. Ora, a ideia
que ele fazia do Ser Supremo era tão grande que a menor paridade entre
Deus e um ser qualquer e a ideia de que pudesse partilhar o seu poder
lhe parecia uma blasfêmia. Não se tendo Jesus jamais apresentado como
Deus e não tendo falado da Trindade, esses dogmas lhe pareceram uma
derrogação das próprias palavras do Cristo. Ele viu em Jesus e no
Evangelho a confirmação do princípio da unidade de Deus, objetivo que
ele próprio buscava. Eis por que os tinha em grande estima, ao passo que
acusava os cristãos por se haverem afastado desse ensinamento,
fracionando Deus e deificando o seu messias. Assim, ele se diz enviado
após Jesus para reconduzir os homens à unidade pura da divindade. Toda a
parte dogmática do Alcorão repousa nesse princípio que ele repete a
cada passo.
Tendo
o Islamismo as suas raízes no Antigo e no Novo Testamento, é uma
derivação deles. Podemos considerá-lo como uma das numerosas seitas
nascidas das dissidências que surgiram desde a origem do Cristianismo
devidas à natureza do Cristo, com a diferença que o Islamismo, formado
fora do Cristianismo, sobreviveu à maioria dessas seitas e conta hoje
com cem milhões de sectários.
Maomé
vinha combater a qualquer custo, na sua própria nação, a crença em
vários deuses, para aí estabelecer o culto abandonado do Deus único de
Abraão e de Moisés. O anátema que ele lançou sobre os infiéis e os
ímpios tinha por objetivo principalmente a grosseira idolatria
professada pelos da sua raça, mas de contragolpe feria os cristãos. É
essa a causa do desprezo dos muçulmanos por tudo quanto leva o nome de
cristão, malgrado seu respeito por Jesus e pelo Evangelho. Esse desprezo
transformou-se em ódio sob a influência do fanatismo alimentado e
estimulado por seus sacerdotes. Digamos, também, que por seu lado, os
cristãos não estão isentos de censuras e que eles próprios alimentaram
esse antagonismo por suas próprias agressões.
Embora censurando os cristãos, Maomé não tinha por eles sentimentos hostis e no próprio Alcorão ele recomenda
habilidade para com eles, mas o fanatismo os englobou na proscrição
geral dos idólatras e dos infiéis cuja presença não deve manchar os
santuários do Islamismo, razão pela qual a entrada nas mesquitas, em
Meca e nos lugares santos, lhes é interdita. Deu-se o mesmo em relação
aos judeus, e se Maomé os castigou rudemente em Medina, foi por se
haverem coligado contra ele. Aliás, em parte alguma no Alcorão se
encontra o extermínio dos judeus e dos cristãos erigida em dever, como
geralmente se pensa. Seria, pois, injusto imputar-lhe os males causados
pelo zelo ininteligente e os excessos de seus sucessores.
Nós
te inspiramos para que abraçasses a religião de Abraão, que reconhece a
unidade de Deus e que só adora a sua majestade suprema. ─ Emprega a voz
da sabedoria e a força de persuasão para chamar os homens a Deus.
Combates com as armas da eloquência. Deus conhece perfeitamente os que
estão transviados e os que marcham sob o estandarte da fé. (Surata XVI,
v. 124 e 126).
Se
eles te acusarem de impostura, responde-lhes: “Tenho por mim as minhas
obras; que as vossas falem em vosso favor. Não sereis responsáveis pelo
que faço, e sou inocente do que fazeis. (Surata X, v. 42).
Quando
se cumprirão tuas ameaças? perguntam os infiéis; marca-nos um termo, se
és verdadeiro. Responde-lhes: “Os tesouros e as vinganças celestes não
estão em minhas mãos; só Deus é o seu dispensador. Cada nação tem o seu
termo fixado; ela não poderia apressá-lo nem retardá-lo um instante.”
(Surata X, v. 49, 50).
Se
negam a tua doutrina, sabe que os profetas vindos antes de ti sofreram a
mesma sorte, embora os milagres, a tradição e o livro que esclarece (o
Evangelho) atestem a verdade de sua missão. (Surata XXXV, v. 23).
A
cegueira dos infiéis te surpreende e eles riem de tua admiração. ─ Em
vão queres instruí-los; seu coração rejeita a instrução. ─ Se eles
vissem milagres, zombariam; ─ atribuí-los-iam à magia. (Surata XXXVII,
v. 12 a 15).
Estas
não são ordens de um Deus sanguinário que ordena o extermínio. Maomé
não se faz o executor de sua justiça; seu papel é o de instruir; só a
Deus cabe castigar ou recompensar neste e no outro mundo. O último
parágrafo parece escrito para os espíritas de nossos dias, pois os
homens são os mesmos, sempre e por toda a parte.
Fazei preces, dai esmolas; o bem que fizerdes encontrareis junto a Deus, pois ele vê as vossas ações. (Surata II, v. 104).
Para
ser justificado não basta virar o rosto para o oriente e para o
ocidente; ainda é preciso crer em Deus, no juízo final, nos anjos, no Alcorão, nos
profetas. É preciso, por amor a Deus, socorrer o próximo, os órfãos, os
pobres, os viajantes, os cativos e aqueles que pedem. É preciso fazer
as preces, guardar as promessas, suportar pacientemente a adversidade e
os males da guerra. Tais são os deveres dos verdadeiros crentes. (Surata
II, v. 172).
Uma palavra honesta e o perdão das ofensas são preferíveis à esmola que fosse consequência da injustiça. Deus é rico e clemente. (Surata II, v. 265).
Se
vosso devedor tem dificuldade em vos pagar, concedei-lhe tempo; ou se
quiserdes fazer melhor, perdoai-lhe a dívida. Se soubésseis! (Surata II,
v. 280).
A
vingança deve ser proporcional à injúria, mas o homem generoso que
perdoa tem sua recompensa assegurada junto a Deus, que odeia a
violência. (Surata XLII, v. 38).
Combatei
vossos inimigos na guerra empreendida pela religião, mas não ataqueis
primeiro. Deus odeia os agressores. (Surata II, v. 186).
Certamente os muçulmanos, os judeus, os cristãos e os sabeístas, que creem em Deus e no juízo final, e que fizerem o bem, receberão a recompensa de suas mãos; eles estarão isentos do medo e dos suplícios. (Surata V, v. 73).
Não façais violência aos homens por causa de sua fé. O caminho da
salvação é bem distinto do caminho do erro. Aquele que abjurar o culto
dos ídolos pela religião santa terá conquistado uma coluna inabalável. O
Senhor sabe e ouve tudo. (Surata II, v. 257).
Não discutais com os judeus e os cristãos senão em termos honestos e moderados. Entre
eles confundi os ímpios. Dizei: “Nós cremos no livro que nos foi
revelado e em vossas escrituras. Nosso Deus e o vosso são apenas um. Nós
somos muçulmanos.” (Surata XXIX, v. 45).
Os Cristãos serão julgados segundo o Evangelho. Aqueles que os julgarem de outro modo serão prevaricadores. (Surata V, v. 51).
Nós demos o Pentateuco a Moisés. É à sua luz que deve marchar o povo hebreu. Não duvides de encontrar no céu o guia dos israelitas. (Surata XXXII, v. 23).
Se
os judeus tivessem fé e temor ao Senhor, nós apagaríamos os seus
pecados; introduzi-los-íamos no jardim das delícias. A observação do
Pentateuco, do Evangelho e dos preceitos divinos proporcionar-lhes-ia o
gozo de todos os bens. Há entre eles os que seguem o bom caminho, mas em
maioria são ímpios. (Surata V, v. 70).
Dize
aos judeus e aos cristãos: “Terminemos nossas diferenças; não admitamos
senão um Deus e não lhe demos um igual; que nenhum de nós tenha outro
Senhor senão ele.” Se recusarem obedecer, dize-lhes: “Pelo menos dareis
testemunho que, quanto a nós, nós somos crentes. (Surata III, v. 57).
Eis certas máximas de caridade e de tolerância que gostaríamos de ver em todos os corações cristãos!
Nós
te enviamos a um povo que outros povos precederam, para que lhe ensines
as nossas revelações. Eles não creem nos misericordiosos. Dizei-lhes:
“Ele é o meu Senhor; não há Deus senão ele. Pus minha confiança em sua
bondade. Eu aparecerei diante de seu tribunal.” (Surata XIII, v. 29).
Trouxemos
aos homens um livro no qual brilha a ciência que deve esclarecer os
fiéis e lhes proporcionar a misericórdia divina. ─ Esperam eles a
realização do Alcorão? No dia em que ele for cumprido, os que
tiverem vivido no esquecimento de suas máximas, dirão: “Os ministros do
Senhor nos pregavam a verdade. Onde encontraremos agora intercessores?
Que esperança temos de voltar à Terra para nos corrigirmos? Eles perderam sua alma e suas ilusões se desvaneceram. (Surata VII, v. 50, 51).
O vocábulo voltar implica a ideia de já ter vindo, isto é, de ter vivido antes da existência atual. Maomé a expressa muito bem quando diz: “Reapareceis diante dele e ele vos mostrará as vossas obras. Voltareis ante
o Deus de Verdade.” É o fundo da doutrina da preexistência da alma, ao
passo que, segundo a Igreja, a alma é criada no nascimento de cada
corpo. A pluralidade das existências terrenas não está indicada no Alcorão de
maneira tão explícita quanto no Evangelho, entretanto, a ideia de
reviver na Terra entrou no pensamento de Maomé, pois tal seria, segundo
ele, o desejo dos culpados de se corrigir. Assim ele compreendeu que
seria útil poder recomeçar uma nova existência.
Quando
lhes perguntamos: Credes no que Deus enviou do céu? Eles respondem:
“Cremos nas Escrituras que recebemos.” E rejeitam o livro verdadeiro que
veio depois para pôr o selo em seus livros sagrados. Dizei-lhes: “Por que matastes os profetas se tínheis fé?” (Surata II, v. 85).
Maomé não é o pai de nenhum de vós. Ele é o enviado de Deus e o selo dos profetas. A ciência de Deus é infinita. (Surata XXXIII, v. 40).
Considerando-se como o selo dos
profetas, Maomé anuncia que é o último, a conclusão, porque disse toda a
verdade; depois dele não virão outros. Eis um artigo de fé entre os
muçulmanos. Do ponto de vista exclusivamente religioso, ele caiu no erro
de todas as religiões, que se julgam inamovíveis, mesmo contra o
progresso das ciências, mas para ele era quase uma necessidade, a fim de
afirmar a autoridade de sua palavra num povo que ele teve tanto
trabalho para converter à sua fé. Do ponto de vista social era um erro,
porque sendo o Alcorão uma legislação civil e religiosa,
ele pôs um ponto de estagnação no progresso. Tal a causa que tornou, e
tornará ainda por muito tempo os povos muçulmanos estacionários e
refratários às inovações e às reformas que não se acham no Alcorão. É
um exemplo do inconveniente que há em confundir o que deve ser
distinto. Maomé não levou em conta o progresso humano. É um erro comum a
quase todos os reformadores religiosos. Por outro lado, havia não só
que reformar a fé, mas o caráter, os usos, os hábitos sociais de seus
povos; era-lhe necessário apoiar suas reformas na autoridade da
religião, como o fizeram todos os legisladores dos povos primitivos. A
dificuldade era grande, sem dúvida; contudo ele deixa uma porta aberta à
interpretação e às modificações, dizendo que “Deus sempre pode
substituir o que deu por algo de melhor”.
Interdito
vos é desposar vossas mães, vossas filhas, vossas irmãs, vossas tias
paternas e maternas, vossas sobrinhas, vossas amas, vossas irmãs de
leite, as mães de vossas esposas, as filhas confiadas à vossa tutela e
filhas de mulheres com as quais tenhais coabitado. Também não desposeis
as filhas dos vossos filhos que tiverdes gerado, nem duas irmãs. É-vos
proibido desposar mulheres casadas, exceto as que tiverem caído em
vossas mãos como escravas. (Surata IV, v. 27 e seguintes).
Estas
prescrições podem dar uma ideia da imoralidade desses povos. Para ser
obrigado a proibir tais abusos, era preciso que eles existissem.
Esposas
do Profeta, ficai no interior de vossas casas. Não vos adorneis
faustosamente, como nos dias da idolatria. Fazei preces e dai esmolas.
Obedecei a Deus e ao seu apóstolo. Ele quer afastar o vício dos vossos
corações. Sois da família do profeta e deveis ser puras. ─ Zeid repudiou
a sua esposa. Nós te unimos com ela, para que os fiéis tenham a
liberdade de desposar as mulheres de seus filhos adotivos, após o
repúdio. O preceito divino deve ter sua execução. ─ Ó profeta, a ti é
permitido desposar as mulheres que tiveres adotado, as escravas que Deus
fez caírem em tuas mãos, as filhas de teus tios e de tuas tias que
fugiram contigo, e toda mulher fiel que te der seu coração. É um
privilégio que te concedemos. ─ Não aumentarás o atual número de tuas
esposas; não poderás trocá-las por outras cuja beleza te haja tocado.
Mas a frequentação de tuas mulheres escravas te é sempre permitida. Deus
tudo observa. (Surata XXXIII, v. 37, 49, 52).
É
aqui que Maomé realmente desce do pedestal no qual ele havia subido.
Lamentamos vê-lo cair tão baixo depois de se haver elevado tanto, e
fazer Deus intervir para justificar os privilégios que ele a si próprio
concedia para a satisfação de suas paixões. Ele permitia aos crentes
quatro esposas legítimas, enquanto ele próprio tinha treze. O legislador
deve ser o primeiro a cumprir as leis que faz. É uma mancha indelével
que ele lançou sobre si e sobre o Islamismo.
Esforçai-vos
por merecer a indulgência do Senhor e a posse do paraíso, cuja extensão
iguala os céus e a Terra, morada preparada para os justos, ─ para
aqueles que dão esmola na prosperidade e na adversidade, e que, senhores
dos movimentos de sua cólera, sabem perdoar os seus semelhantes. Deus
ama a beneficência. (Surata III, v. 127, 128).
Deus
prometeu aos fiéis que houverem praticado a virtude a entrada nos
jardins onde os rios correm. Eles aí morarão eternamente. As promessas
do Senhor são verdadeiras. Que de mais infalível que sua palavra?
(Surata IV, v. 121).
Eles
habitarão eternamente a morada que Deus lhes preparou, os jardins de
delícias regados pelos rios, lugares onde reinará a suprema beatitude.
(Surata IX v. 90).
Os
jardins e as fontes serão a partilha dos que temem o Senhor. Eles
entrarão com a paz e a segurança. ─ Tiraremos a inveja de seus corações.
Eles repousarão em leitos e terão uns para com os outros uma
benevolência fraterna. ─ A fadiga não se aproximará da morada das
delícias. Sua posse não lhes será tirada. (Surata XV, v. 45 a 48).
Os
jardins do Éden serão a habitação dos justos. Braceletes de ouro
ornados de pérolas e roupas de seda formarão sua indumentária. ─ Louvor a
Deus, exclamarão eles; ele afastou de nós o sofrimento; é
misericordioso e compassivo. ─ Ele introduziu-nos no palácio eterno,
morada de sua magnificência. Nem a fadiga nem a dor se aproximam deste
asilo. (Surata XXXV, v. 30, 31, 32).
Os
habitantes do paraíso beberão a largos sorvos na taça da felicidade. ─
Deitados em leitos de seda, repousarão junto às suas esposas, em sombras
deliciosas. ─ Eles encontrarão todos os frutos. Todos os seus desejos
serão satisfeitos. (Surata XXXVI, v. 55, 56, 57).
Os
verdadeiros servos de Deus terão um alimento escolhido, ─ frutos
deliciosos, e serão servidos com honra. ─ Os jardins das delícias serão
seu asilo. ─ Cheios de mútua benevolência, eles repousarão em poltronas.
─ Ser-lhes-ão oferecidas taças de uma água pura, límpida e de um gosto
delicioso ─ que não lhes obscurecerá a razão e não os embriagará. ─
Perto deles estarão virgens de olhar modesto, grandes olhos negros e
cuja tez terá a cor dos ovos de avestruz. (Surata XXXVII, v. 30 a 47).
Dir-se-á
aos crentes que tiverem professado o Islamismo: Entrai no jardim das
delícias, vós e vossas esposas; abri vossos corações à alegria. ─
Dar-lhes-ão a beber em taças de ouro. O coração encontrará nessa morada
tudo quanto pode desejar, o olho tudo quanto pode encantá-lo e esses
prazeres serão eternos. ─ Eis o paraíso que vossas obras vos
proporcionaram. ─ Alimentai-vos dos frutos que ali crescem em
abundância. (Surata XLIII, v. 69 a 72).
Eis
aí o famoso paraíso de Maomé, do qual tanto zombaram, e que certamente
não procuraremos justificar. Apenas diremos que estava em harmonia com
os costumes desses povos e que devia agradá-los muito mais que a
perspectiva de um estado puramente espiritual, por mais esplêndido que
fosse, porque eles eram muito apegados à matéria para compreendê-lo e
apreciarem seu valor. Era-lhes preciso algo de mais substancial e
pode-se dizer que eles foram servidos a contento. Sem dúvida notar-se-á
que os rios, as fontes, os frutos abundantes e as sombras aí representam
um grande papel, porque representam o que falta aos habitantes do
deserto. Leitos macios e roupas de seda, para pessoas habituadas a
dormir no chão vestidas ou cobertas com pele de camelo, também deviam
ter grande atrativo. Por mais ridículo que isto nos pareça, pensemos no
meio em que vivia Maomé e não o censuremos muito, pois com o auxílio
deste atrativo, ele soube tirar um povo da barbárie e dele fazer uma
grande nação.
Em próximo artigo examinaremos como o Islamismo poderá ligar-se à grande família da Humanidade civilizada.
Fonte:< http://www.ipeak.com.br/site/estudo.php?idioma=1> Acessado : 01/11/2014
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