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terça-feira, 7 de agosto de 2012

Fobia social

Fobia social
Pressionado pelas constrições de vária ordem, exceção feita aos
fenômenos patológicos, na área da personalidade, o indivíduo tímido,
desistindo de reagir, assume comportamentos fóbicos.
Neuroses e psicoses se lhe manifestam, atormentando-o e gerando-lhe um
clima de pesadelo onde quer que se encontre.
A liberdade, que lhe é de fundamental importância para a vida, perde o seu
significado externo, face às prisões sem paredes que são erguidas, nelas
encarcerando-se.
Da melancolia profunda ele passa à ansiedade, com alternâncias de
insatisfação e tentativas de autodestruição, e da desconfiança sistemática
tomba, por falta de resistências morais, diante dos insucessos banais da
existência. Nem mesmo o êxito nos negócios, na vida social e familiar,
consegue minimizar-lhe o desequilíbrio que, muitas vezes, aumenta, em razão
dejá não lhe sendo necessário fazer maiores esforços para conseguir,
considera-se sem finalidade que justifique prosseguir.
Os estados fóbicos desgastam-lhe os nervos e conduzem-no às depressões
profundas. São vários estes fenômenos no comportamento humano.
Surge, porém, no momento, um que se generaliza, a pouco e pouco, o
denominado como fobia social, graças ao qual, o indivíduo começa a detestar o
convívio com as demais pessoas, retraindo-se, isolando-se.
A princípio, apresenta-se como forma de mal-estar, depois, como
insegurança, quando o homem é conduzido a enfrentar um grupo social ou o
público que lhe aguarda apresença, a palavra.
O grau de ansiedade foge-lhe ao controle, estabelecendo conflitos
psicológicos perturbadores.
A ansiedade comedida é fenômeno perfeitamente natural, resultante da
expectativa ante o inusitado, face ao trabalho a ser desenvolvido, diante da
ação que deve ser aplicada como investimento de conquista, sem que isto
provoque desarmonia interior com reflexos físicos negativos.
Quando, então, se revela, desencadeada por problemas de somenos
importância, produzindo taquicardias, sudorese álgida, tremores contínuos,
estão ultrapassados os limites do equilíbrio, tornando-se patológica.
A fobia social impede uma leitura em voz alta, uma assinatura diante de
alguém que acompanhe o gesto, segurar um talher para uma refeição, pegar
um vaso com líquido sem o entornar... O paciente, nesses casos, tem a
impressão de que está sob severa observação e análise dos outros, passando
a detestar as presenças estranhas até os familiares e amigos mais íntimos.
Em algumas circunstâncias, quando o processo se encontra em instalação,
a concentração e o esforço para superar o impedimento auxiliam-no,
facultando-o somente relaxar-se e adquirir naturalidade após constatar que
ninguém o observa, perdendo, assim, o prazer do diálogo, face à tensão
gerada pelo problema.
A tendência natural do portador de fobia social é fugir, ocultar-se
malbaratando o dom da existência, vitimado pela ansiedade e pelo medo.
O homem é o único animal ético existente.
Para adquirir a condição de uma consciência ética é convidado a desafios
contínuos, graças aos quais discerne o bem do mal, o belo do feio, o lógico do
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absurdo, imprimindo-se um comportamento que corresponda ao seu grau de
compreensão existencial.
Aprofundando-se no exame dos valores, distingue-os. passando a viver
conforme os padrões que estabelece como indispensáveis às metas que
persegue, porqüanto pretende constituir-lhe a felicidade.
A fim de lograr o domínio desses legítimos valores, aplica outra das suas
características essenciais, que é o de ser um animal biossocial.
A vida de relação com os demais indivíduos é-lhe essencial ao progresso
ético.
Isolado, asselvaja-se ou entrega-se a uma submissão indiferente,
perniciosa.
As imposições do relacionamento social exterior, sem profundidade
emocional, respondem por esta explosão fóbica, face à ausência de segurança
afetiva entre os indivíduos e à competição que grassa, desenfreada, fazendo
que se veja sempre, no atual amigo, o potencial usurpador da sua função, o
possível inimigo de amanhã.
Tal desconfiança arma as pessoas de suspeição, levando-as a uma conduta
artificial, mediante a qual se devem apresentar como bem estruturadas
emocionalmente, superiores às vicissitudes, capazes de enfrentar riscos,
indiferentes às agressões do meio, porque seguras das suas reservas de forças
morais.
Gerando instabilidade entre o que demonstram e aquilo que são realmente,
surge o pavor de serem vencidas, deixadas à margem, desconsideradas. O
mecanismo de fuga da luta sem quartel apresenta-se-lhes como alternativa
saudável, por poupar-lhes esforços que lhes parecem inúteis, desde que não
se sentem inclinadas a usar dos mesmos métodos de que se crêem vítimas.
Simultaneamente, as atividades trepidantes e as festas ruidosas mais
afastam os amigos, que dizem não dispor de tempo para o intercâmbio
fraternal, a assistência cordial, receosos, por sua vez, de igualmente
tombarem, vitimados pelo mesmo mal que os ronda, implacável.
Nestas circunstâncias, mentes desencarnadas, deprimentes, se associam
aos pacientes, complicando-lhes o quadro e empurrando-os para as psicoses
profundas, irreversíveis.
A desumanização do homem, que se submete aos caprichos do momento
dourado das ilusões, conspira contra ele próprio e o seu próximo, tornando esta
a geração do medo, a sociedade sem destino.

O Homem Integral
Divaldo/Joana de Angelis

Medo

Medo
Decorrente dos referidos fatores sociológicos, das pressões psicológicas,
dos impositivos econômicos, o medo assalta o homem, empurrando-o para a
violência irracional ou amargurando-o em profundos abismos de depressão.
Num contexto social injusto, a insegurança engendra muitos mecanismos
de evasão da realidade, que dilaceram o comportamento humano, anulando,
por fim, as aspirações de beleza, de idealismo, de afetividade da criatura.
Encarcerando-se, cada vez mais, nos receios just ificáveis do
relacionamento instável com as demais pessoas, surgem as ilhas individuais e
grupais para onde fogem os indivíduos, na expectativa de equilibrarem-se,
sobrevivendo ao tumulto e à agressividade, assumindo, sem darem-se conta,
um comportamento alienado, que termina por apresentar-se igualmente
patológico.
As precauções para resguardar-se, poupar a família aos dissabores dos
delinquentes, mantendo os haveres em lugares quase inexpugnáveis, fazem o
homem emparedar-se no lar ou aglomerar-se em clubes com pessoal
selecionado, perdendo a identidade em relação a si mesmo, ao seu próximo e
consumindo-se em conflitos individualistas, a caminho dos desequilíbrios de
grave porte.
Os valores da nossa sociedade encontram-se em xeque, porque são
transitórios.
Há uma momentânea alteração de conteúdo, com a conseqüente perda de
significado.
A nova geração perdeu a confiança nas afirmações do passado e deseja
viver novas experiências ao preço da alucinação, como forma escapista de
superar as pressões que sofre, impondo diferentes experiências.
No âmago das suas violações e protestos, do vilipêndio aos conceitos
anteriores vige o medo que atormenta e submete às suas sombras espessas.
A quantidade expressiva de atemorizados trabalha a qualidade do receio de
cada um, que cresce assustadoramente, comprimindo a personalidade, até que
esta se libere em desregramento agressivo, como forma de escapar à
constrição.
Quem, porém, não consiga seguir a correnteza da nova ordem, fica afogado
no rio volumoso, perde o respeito por si mesmo, aliena-se e sucumbe.
Na luta furiosa, as festas ruidosas, as extravagâncias de conduta, os
desperdícios de moedas e o exibicionismo com que algumas pessoas pensam
vencer os medos íntimos, apenas se transformam em lâminas baças de vidro
pelas quais observam a vida sempre distorcida, face à óptica incorreta que se
permitem. São atitudes patológicas decorrentes da fragilidade emocional para
enfrentar os desafios externos e internos.
A consumação da sociedade moderna é a história da desídia do homem em
si mesmo, enlanguescido pelos excessos ou esfogueado pelos desejos
absurdos.
Adaptando-se às sombras dominadoras da insensatez, neglicencia o
sentido ético gerador da paz.
A anarquia então impera, numa volúpia destrutiva, tentando apagar as
memórias do ontem, enquanto implanta a tirania do desconcerto.
Os seus vultos expressivos são imaturos e alucinados, em cuja rebelião
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pairam o oportunismo e a avidez.
Procedentes dos guetos morais, querem reverter a ordem que os apavora,
revolucionando com atrevimento, face ao insólito, o comportamento vigente.
Os antigos ídolos, que condenaram a década de 20 e 30 como a da
“geração perdida”, produziram a atual “era da insegurança”, na qual
malograram as profecias exageradamente otimistas dos apaniguados do prazer
em exaustão, fabricando os super-homens da mídia que, em análise última,
são mais frágeis do que os seus adoradores, pois que não passam de heróis
da frustração.
Guindados às posições de liderança, descambaram, esses novos
condutores, em lamentáveis desditas, consumidos pelas drogas, vencidos
pelas enfermidades ainda não controladas, pelos suicídios discretos ou
espetaculares.
A alucinação generalizada certamente aumenta o medo nos temperamentos
frágeis, nas constituições emocionais de pouca resistência, de começo, no
indivíduo, depois, na sociedade.
Esta é uma sociedade amedrontada.
As gerações anteriores também cultivaram os seus medos de origem
atávica e de receios ocasionais.
O excesso de tecnicismo com a correspondente ausência de solidariedade
humana produziram a avalanche dos receios.
A superpopulação tomando os espaços e a tecnologia reduzindo as
distâncias arrebataram a fictícia segurança individual, que os grupos passaram
a controlar, e as conseqüências da insânia que cresce são imprevistas.
Urge uma revisão de conceitos, uma mudança de conduta, um reestudo da
coragem para a imediata aplicação no organismo social e individual necrosado.
Todavia, é no cerne do ser — o Espírito — que se encontram as causas
matrizes desse inimigo rude da vida, que é o medo.
Os fenômenos fóbicos procedem das experiências passadas —
reencarnações fracassadas —, nas quais a culpa não foi liberada, face ao
crime haver permanecido oculto, ou dissimulado, ou não justiçado,
transferindo-se a consciência faltosa para posterior regularização.
Ocorrências de grande impacto negativo, pavores, urdi-duras perversas,
homicídios programados com requintes de crueldade, traições infames sob
disfarces de sorrisos produziram a atual consciência de culpa, de que padecem
muitos atemorizados de hoje, no inter-relacionamento pessoal.
Outrossim, catalépticos sepultados vivos, que despertaram na tumba e
vieram a falecer depois, por falta de oxigênio, reencarnam-se vitimados pelas
profundas claustrofobias, vivendo em precárias condições de sanidade mental.
O medo é fator dissolvente na organização psíquica do homem,
predispondo-o, por somatização, a enfermidades diversas que aguardam
correta diagnose e específica terapêutica.
À medida que a consciência se expande e o indivíduo se abriga na fé
religiosa racional, na certeza da sua imortalidade, ele se liberta, se agiganta,
recupera a identidade e humaniza-se definitivamente, vencendo o medo e os
seus sequazes, sejam de ontem ou de agora.

O Homem Integral
Divaldo/Joana de Angelis

A ansiedade


Não se deixando vitimar pela rotina, o homem tende, às vezes, a assumir
um comportamento ansioso que o desgasta, dando origem a processos
enfermiços que o consomem.
A ansiedade é uma das características mais habituais da conduta
contemporânea.
Impulsionado ao competitivismo da sobrevivência e esmagado pelos fatores
constringentes de uma sociedade eticamente egoísta, predomina a
insegurança no mundo emocional das criaturas.
As constantes alterações da Bolsa de Valores, a compressão dos gastos, a
correria pela aquisição de recursos e a disputa de cargos e funções bem
remunerados geram, de um lado, a insegurança individual e coletiva. Por outro,
as ameaças de guerras constantes, a prepotência de governos inescrupulosos
e chefes de atividades arbitrários quão ditadores; os anúncios e estardalhaços
sobre enfermidades devastadoras; os comunicados sobre os danos
perpetrados contra a ecologia prenunciando tragédias iminentes; a catalogação
de crimes e violências aterradoras respondem pela inquietação e pelo medo
que grassam em todos os meios sociais, como constante ameaça contra o ser
e o seu grupo, levando-os a permanente ansiedade que deflui das incertezas
da vida.
Passando, de uma aparente segurança, que era concedida pelos padrões
individualistas do século 19, no apogeu da industrialização, para o período
eletrônico, a robotização ameaça milhões de empregados, que temem a perda
de suas atividades remuneradas, ao tempo em que o coletivismo, igualando os
homens nas aparências sociais, nos costumes e nos hábitos, alija os estímulos
de luta, neles instalando a incerteza, a necessidade de encontrar-se sempre na
expectativa de notícias funestas, desagradáveis, perturbadoras.
Esvaziados de idealismo e comprimidos no sistema em que todos fazem a
mesma coisa, assumem iguais composturas, passando de uma para outra
pauta de compromisso com ansiedade crescente.
A preocupação de parecer triunfador, de responder de forma semelhante
aos demais, de ser bem recebido e considerado é responsável pela
desumanização do indivíduo, que se torna um elemento complementar no
grupamento social, sem identidade, nem individualidade.
Tendo como modelo personalidades extravagantes, que ditam modas e
comportamento exóticos, ou liderado por ídolos da violência, como da astúcia
dourada, o descobrimento dos limites pessoais gera inquietação e conflitos que
mal disfarçam a contínua ansiedade humana.
A ansiedade tem manifestações e limites naturais, perfeitamente aceitáveis.
Quando se aguarda uma notícia, uma presença, uma resposta, uma
conclusão, é perfeitamente compreensível uma atitude de equilibrada
expectativa.
Ao extrapolar para os distúrbios respiratórios, o colapso periférico, a
sudorese, a perturbação gástrica, a insônia, o clima de ansiedade torna-se um
estado patológico a caminho da somatização física em graves danos para a
vida.
O grande desafio contemporâneo para o homem é o seu
autodescobrimento.
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Não apenas identificação das suas necessidades, mas, principalmente, da
sua realidade emocional, das suas aspirações legítimas e reações diante das
ocorrências do cotidiano.
Mediante o aprofundamento das descobertas íntimas, altera-se a escala de
valores e surgem novos significados para a sua luta, que contribuem para a
tranqüilidade e a autoconfiança.
Não há, em realidade, segurança enquanto se transita no corpo físico.
A organização mais saudável durante um período, debilita-se em outro,
assim como os melhores equipamentos orgânicos e psíquicos sofrem natural
desgaste e consumição, dando lugar às enfermidades e à morte, que também
é fenômeno da vida.
A ansiedade trabalha contra a estabilidade do corpo e da emoção.
A análise cuidadosa da existência planetária e das suas finalidades
proporciona a vivência salutar da oportunidade orgânica, sem o apego mórbido
ao corpo nem o medo de perdê-lo.
Os ideais espiritualistas, o conhecimento da sobrevivência à morte física
tranqüilizam o homem, fazendo que considere a transitoriedade do corpo e a
perenidade da vida, da qual ninguém se eximirá.
Apegado aos conflitos da competição humana ou deixando-se vencer pela
acomodação, o homem desvia-se da finalidade essencial da existência terrena,
que se resume na aplicação do tempo para a aquisição dos recursos eternos,
propiciadores da beleza, da paz, da perfeição.
O pandemônio gerado pelo excesso de tecnologia e de conforto material
nas chamadas classes superiores, com absoluta indiferença pela humanidade
dos guetos e favelas, em promiscuidade assustadora, revela a falência da
cultura e da ética estribada no imediatismo materialista com o seu arrogante
desprezo pelo espiritualismo.
Certamente, ao fanatismo e proibição espiritualista de caráter medieval, que
ocultavam as feridas morais dos homens, sob o disfarce da hipocrisia, o
surgimento avassalador da onda de cinismo materialista seria inevitável. No
entanto, o abuso da falsa cultura desnaturada, que pretendeu solucionar os
problemas humanos de profundidade como reparava os desajustes das
engrenagens das máquinas que construiu, resultou na correria alucinada para
lugar nenhum e pela conquista de coisas mortas, incapazes de minimizar a
saudade, de preencher a solidão, de acalmar a ansiedade, de evitar a dor, a
doença e a morte...
Magnatas, embora triunfantes, proíbem que se pronuncie o nome da morte
diante deles.
Capitães de monopólios recusam-se a sair à rua, para evitarem contágio de
enfermidades, e alguns impõem, para viver, ambientes assepsiados, tentando
driblar o processo de degeneração celular.
Ases da beleza cercam-se de jovens, receando a velhice, e utilizam-se de
estimulantes para preservarem o corpo, aplicando-se massagens, exercícios,
cirurgias plásticas, musculação e, não obstante, acompanham a degeneração
física e mental, ansiosos, desventurados.
Propalando-se que as conquistas morais fazem parte das instituições
vencidas — matrimônio, família, lar — os apaniguados da loucura crêem que
aplicam, na velha doença das proibições passadas, uma terapêutica ideal. E
olvidam-se que o exagero de medicamento utilizado em uma doença, gera
danos maiores do que aqueles que eram sofridos.
A sociedade atual sofre a terapia desordenada que usou na enfermidade
antiga do homem, que ora se revela mais debilitado do que antes.
São válidas, para este momento de ansiedade, de insatisfação, de
tormento, as lições do Cristo sobre o amor ao próximo, a solidariedade
fraternal, a compaixão, ao lado da oração, geradora de energias otimistas e da
fé, propiciadora de equilíbrio e paz, para uma vida realmente feliz, que baste ao
homem conforme se apresente, sem as disputas conflitantes do passado, nem
a acomodação coletivista do presente.

O Homem Integral
Divaldo/Joana de angelis

A rotina


A natural transformação social, decorrente dos efeitos da ciência aliada à
tecnologia a partir do século 19, impôs que o individualismo competitivo pós
renascentista cedesse lugar ao coletivismo industrial e comunitário da
atualidade.
A cisão decorrente do pensamento cartesiano, na dicotomia do corpo e da
alma, ensejou uma radical mudança nos hábitos da sociedade, dando
surgimento a uma série de conflitos que irrompem na personalidade humana e
conduzem a alienações perturbadoras.
Antes, os tabus e as superstições geravam comportamentos extravagantes,
e a falsa moral mascarava os erros que se tornavam fatores de desagregação
da personalidade, a serviço da hipocrisia refinada.
A mudança de hábitos, no entanto, se liberou o homem de algumas fobias e
mecanismos de evasão perniciosos, impôs outros padrões comportamentais de
massificação, nos quais surgem novos ídolos e mitos devoradores, que respondem
por equivalentes fenômenos de desequilíbrio.
Houve troca de conduta, mas não de renovação saudável na forma de
encarar-se a vida e de vivê-la.
De um lado, a ciência em constante progresso, não se fazendo acompanhar
por um correspondente desenvolvimento ético-espiritual, candidata-se a
conduzir o homem ao milismo, ao conceito de aniquilamento.
Noutro sentido, o contubérnio subjacente, apresenta um elenco exasperador
de áreas conflitantes nas guerras e ameaças de guerras que se sucedem, nas
variações da economia, nos volumosos bolsões de miséria de vária ordem,
empurrando o homem para a ansiedade, a insegurança, a suspeição
contumaz, a violência.
A fim de fugir à luta desigual — o homem contra a máquina — os
mecanismos responsáveis pela segurança emocional levam o indivíduo, que
não se encoraja ao competitivismo doentio, à acomodação, igualmente
enferma, como forma de sobrevivência no báratro em que se encontra,
receando ser vencido, esmagado ou consumido pela massa crescente ou pelo
desespero avassalador.
Estabelece algumas poucas metas, que conquista com relativa facilidade,
passando a uma existência rotineira e neurotizante, que culmina por matar-lhe
o entusiasmo de viver, os estímulos para enfrentar desafios novos.
Rotina é como ferrugem na engrenagem de preciosa maquinaria, que a
corrói e arrebenta.
Disfarçada como segurança, emperra o carro do progresso social e
automatiza a mente, que cede o campo do raciocínio ao mesmismo cansador,
deprimente.
O homem repete a ação de ontem com igual intensidade hoje; trabalha no
mesmo labor e recompõe idênticos passos; mantém as mesmas
desinteressantes conversações: retorna ao lar ou busca os repetidos
espairecimentos: bar, clube, televisão, jornal, sexo, com frenético receio da
solidão, até alcançar a aposentadoria.. - Nesse ínterim, realiza férias programadas,
visita lugares que o desagradam, porém reúne-se a outros grupos
igualmente tediosos e, quando chega ao denominado período do gozorepouso,
deixa-se arrastar pela inutilidade agradável, vitimado por problemas
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cardíacos, que resultam das pressões largamente sustentadas ou por neuroses
que a monotonia engendra.
O homem é um mamífero biossocial, construído para experiências e
iniciativas constantes, renovadoras.
A sua vida é resultado de bilhões de anos de transformações celulares, sob
o comando do Espírito, que elaborou equipamentos orgânicos e psíquicos para
as respostas evolutivas que a futura perfeição lhe exige.
O trabalho constitui-lhe estímulo aos valores que lhe dormem latentes,
aguardando despertamento, ampliação, desdobramento.
Deixando que esse potencial permaneça inativo por indolência ou rotina, a
frustração emocional entorpece os sentimentos do ser ou leva-o à violência, ao
crime, como processo de libertação da masmorra que ele mesmo construiu,
nela encarcerando-se.
Subitamente, qual correnteza contida que arrebenta a barragem, rompe os
limites do habitual e dá vazão aos conflitos, aos instintos agressivos, tombando
em processos alucinados de desequilíbrios e choque.
Nesse sentido, os suportes morais e espirituais contribuem para a mudança
da rotina, abrindo espaços mentais e emocionais para o idealismo do amor ao
próximo, da solidariedade, dos serviços de enobrecimento humano.
O homem se deve renovar incessantemente, alterando para melhor os
hábitos e atividades, motivando-se para o aprimoramento íntimo, com
conseqüente movimentação das forças que fomentam o progresso pessoal e
comunitário, a benefício da sociedade em geral.
Face a esse esforço e empenho, o homem interior sobrepõe-se ao exterior,
social, trabalhado pelos atavismos das repressões e castrações, propondo
conceitos mais dignos de convivência humana, em consonância com as
ambições espirituais que lhe passam a comandar as disposições íntimas.
O excesso de tecnologia, que aparentemente resolveria os problemas
humanos, engendrou novos dramas e conflitos comportamentais, na rotina
degradante, que necessitam ser reexaminados para posterior correção.
O individualismo, que deu ênfase ao enganoso conceito do homem de ferro
e da mulher boneca, objeto de luxo e de inutilidade, cedeu lugar ao coletivismo
consumista, sem identidade, em que os valores obedecem a novos padrões de
crítica e de aceitação para os triunfos imediatos sob os altos preços da
destruição do indivíduo como pessoa racional e livre.
A liberdade custa um alto preço e deve ser conquistada na grande luta que
se trava no cotidiano.
Liberdade de ser e atuar, de ter respeitados os seus valores e opções de
discernir e aplicar, considerando, naturalmente, os códigos éticos e sociais,
sem a submissão acomodada e indiferente aos padrões de conveniência dos
grupos dominantes.
A escala de interesses, apequenando o homem, brinda-o com prêmios que
foram estabelecidos pelo sistema desumano, sem participação do indivíduo
como célula viva e pensante do conjunto geral.
Como profilaxia e terapêutica eficaz, existem os desafios propostos por
Jesus, que são de grande utilidade, induzindo a criatura a dar passos mais
largos e audaciosos do que aqueles que levam na direção dos breves objetivos
da existência apenas material.
A desenvoltura das propostas evangélicas facilita a ruptura da rotina, dando
saudável dinâmica para uma vida integral em favor do homem-espírito eterno e
1não apenas da máquina humana pensante a caminho do túmulo, da
dissolução, do esquecimento.

Livro: O Homem Integral
Divaldo/Joana de Angelis

DOENÇAS DA ALMA

DOENÇAS DA ALMA
O ser psicológico é o perfeito reflexo da sua realidade plena. Sendo
Espírito imortal, conduz o seu patrimônio evolutivo — resultado das
experiências ancestrais — que se encarrega de modelar os conteúdos
delicados da sua personalidade, elaborando processos de harmonia ou
desequilíbrio que resultam dos condicionamentos armazenados no psiquismo
profundo.
Arquiteto da própria vida, em cada realização elabora, conscientemente ou
não, os moldes que se lhe constituirão mecanismos hábeis para a
movimentação nos novos investimentos.
Elaborado pela energia inteligente, que o torna especial no complexo
campo das vibrações que se agitam no Universo, o direcionamento que resulte
da arte e ciência de pensar responderá pela formação das estruturas
psicológicas e físicas, psíquicas e orgânicas com as quais se haverá nos
empreendimentos futuros.
Conforme pensa, constrói os delicados e sutis implementos que se
transformarão em força atuante no mundo das formas. Ao mesmo tempo,
exterioriza ondas específicas que se imprimem nos painéis mentais, aí
insculpindo os processos psíquicos que comandarão as futuras atividades.
Em razão disso, quando as elaborações mentais não possuem carga
superior de energia, elaborando imagens perniciosas e inferiores, plasmam-se
nos refolhos íntimos as estruturas que irão delinear a conduta, ensejando
harmonia ou abrindo espaço para a instalação de psicopatologias variadas, que
se imprimirão nas engrenagens do conglomerado genético, definidor, de certo
modo, graças ao perispírito, da futura estrutura do indivíduo.
As enfermidades da alma, portanto, procedem de condutas atuais como
de anteriores, a que se permitiu o Espírito, engendrando as emanações
morbíficas, que ora se convertem em distúrbio de natureza complexa, e que
passam a exigir terapia conveniente quão cuidadosa.
O ser jamais se evade de si mesmo, do Eu interior, que sobrevive à
decomposição cadavérica e é responsável por todas as ocorrências
existenciais, face à sua causalidade e à sua destinação, que tem caráter
eterno.
Assim sendo, é totalmente decepcionante uma análise do indivíduo
somente sob o ponto de vista orgânico, por mais respeitável seja a Escola de
pensamento que se atenha a esse estudo.
A hereditariedade e os implementos psicossociais, sócio-econômicos, os
fatores perinatais e outros são insuficientes para abarcar a realidade do ser
humano em toda a sua complexidade.
A alma transcende as emanações neuronais, possuindo uma realidade
que resiste à disjunção cerebral e por essa razão, podendo pensar sem os
seus equipamentos supersensíveis, embora esses não consigam elaborar o
pensamento sem a sua presença.
Felizmente, a antiga presunção organicista vem cedendo lugar a
concepções mais compatíveis com a realidade, deixando à margem a
imposição acadêmica ancestral, para se firmar no testemunho dos fatos inequívocos
da experimentação contemporânea.
Nessa investigação, séria e nobre, em torno do ser tridimensional: Espírito,
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perispírito e matéria, se pode encontrar a psicogênese das enfermidades da
alma, como também defrontar as patogêneses que assinalam a criatura
humana no seu transcurso evolutivo.
O ser profundo, autor de todos os acontecimentos em sua volta, é o
Espírito, seja qual for o nome que se lhe atribua.

Amor Imbatível Amor
Divaldo/ Joana de Angelis.

QUEDA E ASCENSÃO PSICOLÓGICA

QUEDA E ASCENSÃO PSICOLÓGICA
Na base de inúmeras perturbações emocionais são encontradas a culpa e
a vergonha. A culpa procede de uma peculiar sensação de estar-se realizando
algo que está errado e de como esse comportamento afeta as demais pessoas.
Esse sentimento proporciona uma correlação entre a capacidade de agir
correta ou erradamente. O ato de haver-se equivocado, sem uma estrutura
equilibrada do ego em relação ao corpo, produz uma distonia que gera
sentimentos profundos de amargura e desajuste emocional.
Ao livre-arbítrio cabe o mister de examinar e discernir o que se deve e se
pode fazer, daquilo que se pode mas não se deve, ou se deve, porém não se
pode realizar. Ao errar, atormenta-se todo aquele que não possui resistências
psicológicas para considerar a própria fragilidade, dispondo-se a novo
cometimento reparador.
Quando o ego é saudável, enfrenta a situação do erro com naturalidade,
porque compreende que os conceitos certo e errado são abstratos, cabendolhe
discernir o que é de melhores resultados para si e para os outros, portanto,
permitindo-se o direito de errar e impondo-se o dever de corrigir.
Qualquer relacionamento humano é estabelecido dentro das diretrizes do
prazer e das compensações emocionais que proporciona. Quando a culpa se
apresenta, essa estrutura se fraciona, alterando a conduta do indivíduo. No
sentimento de culpa apresenta-se um elemento conflitivo que é o
ressentimento daquele que erra em relação ao outro a quem feriu, facultando,
não raro, uma situação recíproca.
Nos relacionamentos afetivos próximos, o sentimento de culpa é
devastador, porque gera ambivalência de conduta: um pai ou mãe que se
comporta sob sentimento de culpa em relação a um filho, mantém
ressentimento desse filho que, por sua vez, responde com o mesmo
sentimento em relação ao genitor, e culpa-se por essa atitude, que lhe parece
incorreta.
Esse tormento alastra-se no campo emocional, tornando a situação cada
vez mais embaraçosa, porque a culpa faz-se maior.
Invariavelmente, no ódio, no ressentimento, no ciúme, o paciente se sente
aprisionado no agente da sua reação, por sentimento de culpa, que procura
dissimular através de acusações contínuas em relação ao outro.
Quando se está sujeito a um julgamento moral, o conceito emocional que
envolve a culpa apresenta-se. Quando esse julgamento é oposto, portanto,
negativo, a culpa toma vulto. Por outro lado, se é positivo, tem-se a sensação
de encontrar-se sempre certo, o que é pe
rigoso, já que o erro faz parte do processo de aprendizagem e de crescimento
intelectual e moral. E graças ao conhecimento que esse sentimento se
desenvolve.
Desde a infância, o ser é orientado a descobrir o que é certo e o que é
errado, de forma que possa sempre agir acertadamente, assim amadurecendo
os conceitos morais, conforme o bem ou o mal que deles decorram em relação
a si mesmo como ao seu próximo.
Obrigada a participar do drama da vida, a criança é induzida a agir de
forma sempre correta, conforme o padrão do seu meio ambiente, os valores
éticos, as pressões existentes. Será esse comportamento que dará lugar ao
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senso de responsabilidade. Entretanto, a ação da responsabilidade pode darse
sem se fazer acompanhar do sentimento de culpa, somente porque se haja
equivocado, considerando-se as imensas possibilidades de recuperação.
Toda vez que alguém com sentimento de culpa julga a própria conduta, se
constata que os seus sentimentos se apresentam negativos, prejudiciais, sente
vergonha dos mesmos e procura suprimi-los, amargurando-se por estar a
vivenciá-los, mesmo que sem consciência, autocondenando-se.
Com o acúmulo de conflitos e o represamento dos sentimentos, perde a
capacidade de discernimento para saber como agir com correção.
Nesse estado a auto-aceitação desaparece, dando lugar à repulsa por si
mesmo, abrindo espaço para a tristeza, o medo e outros sentimentos
perceptuais, que são identificados pelo ego.
A vergonha, de algum modo, está mais vinculada às funções do corpo, quando
não decorre dos atos morais. A herança antropológica permanece com
destaque em muitas funções orgânicas, tais a alimentação e a eliminação, a
aparência física, os movimentos... Normalmente são associados à conduta
animal, quando grotescos ou vulgares.
Torna-se indispensável que a educação contribua com orientação
adequada, de modo a definir-se um comportamento saudável, que evite as
associações depreciativas.
Não obstante, a sociedade não se estruturaria, se não existissem esses
sentimentos de culpa e de vergonha que, de alguma forma, funcionam como
árbitro de muitas ações, contribuindo para o despertar do discernimento.

Amor Imbatível Amor
Divaldo/Joana de Angelis

COMPORTAMENTOS AUTODESTRUTIVOS

COMPORTAMENTOS AUTODESTRUTIVOS
A falta de iniciativa e o medo constituem fatores relevantes para a
instalação dos comportamentos autodestrutivos, decorrência natural da
insegurança pessoal e da hostilidade social presente na competitividade da
sobrevivência humana.
Conflitos autopunitivos da consciência de culpa não superados
apresentam-se de forma patológica, contribuindo para a ausência de autoestima
e compulsão auto-exterminadora. Nem sempre porém, assumem a
tendência para o suicídio direto, manifestando-se, entretanto, de maneira
mascarada, como desinteresse pela existência, ausência de objetivos para
lutar, atitudes pessimistas...
Noutras ocasiões, a freqüente ingestão das vibrações perniciosas do mau
humor, do ressentimento, da rebeldia sistemática, do ódio, do ciúme
desenvolvem transtornos psíquicos que terminam por desarmonizar as células,
comprometer os órgãos e conduzir à morte.
Diversas enfermidades têm causalidade psicossomática, que culminam em
verdadeiros desastres orgânicos.
Na raiz de toda doença há sempre componentes psíquicos ou espirituais,
que são heranças decorrentes da Lei de causa e efeito, procedentes de vidas
transatas, que imprimiram nos genes os fatores propiciadores para a instalação
dos distúrbios na área da saúde.
A vida moderna, geradora de estresses e angústias, por sua vez também
desencadeia mecanismos de ansiedade e de fobias várias, que desgastam os
núcleos do equilíbrio psicológico com lamentáveis disfunções dos
equipamentos físicos.
As pressões contínuas que decorrem do trabalho, dos compromissos
sociais, das necessidades econômicas, da tensão emocional e dos impositivos
psíquicos, desestabilizam o ser humano, que se torna vítima fácil de falsas
necessidades de fugas, como recurso de buscar a paz, engendrando
comportamentos autodestrutivos.
Desequipado psicologicamente para os enfrentamentos incessantes e
sentindo-se incapaz para acompanhar e absorver o desenvolvimento
tecnológico e toda a parafernália dos divertimentos que induzem ao
consumismo rigoroso e insensato, o indivíduo de temperamento tímido
perturba-se, desistindo de prosseguir, ou se engaja na loucura generalizada,
auto-destruindo-se igualmente através da excitação e da insatisfação, da
competitividade com os seus intervalos de fastio e amargura, buscando, nos
alcoólicos, no tabaco, no sexo e nas drogas os estímulos e as compensações
para substituírem o cansaço, o tédio e a saturação diante do que já haja
conseguido.
A velocidade que assinala os acontecimentos hodiernos supera as suas
resistências emocionais, e deixa-se conduzir, a princípio, sem dar-se conta do
excesso da carga psíquica, para depois automatizar-se, sem reservar-se
períodos para o auto-refazimento, para a renovação, para o encontro consigo
mesmo e uma análise tranqüila das metas em desenvolvimento, elaborando e
seguindo uma escala de valores legítimos, a fim de não consumir as horas e as
forças nas buscas impostas pelo contexto social, no qual se encontra, e que
não lhe correspondem às aspirações íntimas.
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A existência terrena é portadora de valiosa contribuição ética, estética,
intelectual, espiritual, e não somente dos impositivos materiais e das
satisfações ligeiras do ego sem a compensação do Self.
São muitos os mecanismos que levam à autodestruição, dentre os quais, a
fadiga pelo adquirir e poder acompanhar tudo; estar envolvido nas armadilhas
criadas pelo mercado devorador que desencadeia inquietação; a quantidade de
propostas perturbadoras pela mídia, que aturde; o excesso de ruídos em toda
parte, que desorienta, e a superpoluição nos centros urbanos, que desenvolve
os instintos violentos e agressivos, eliminando quase as possibilidades para a
aquisição da beleza, do entesouramento da paz, de ensanchas de autorealização.
O ser humano é a medida das suas aspirações e conquistas, sem o que a
mediocridade o vence.
Cada meta desenvolvida propicia a compensação da vitória e o estímulo
para novas realizações. Quando isso não ocorre, os insucessos mal
interpretados levam-no à desarmonia, da qual procedem os fatores inibidores
para novos tentames com a desistência do esforço e a perda da capacidade
para recomeçar.
É justo não se desfalecer jamais. Toda ascensão impõe sacrifício, toda
libertação resulta de esforço.
A ruptura das algemas psicológicas responsáveis pelo desprezo de si
mesmo, pelo acabrunhamento e autonegação torna-se de urgência, a fim de
favorecer a visão clara da realidade e os meios hábeis para bem vivê-la.
Cada momento propicia renascimento, quando se está vigilante para fazêlo.
Na impossibilidade de mudar-se a vida moderna, melhor explicando, os
fatores negativos que conduzem aos conflitos — desde que existem valiosos
contributos para a sua valorização, aquisição do seu significado, crescimento
interior e progresso individual como geral
— cumpre se criem condições próprias para enfrentá-la, se elaborem
programas pessoais para a auto-realização e bem-estar, não se deixando
atormentar com as imposições secundárias, desde que percam o significado de
que desfrutam...
Exercícios físicos e rítmicos — natação, caminhada, ciclismo, de acordo
com a eleição de cada qual —, ao lado de exercícios mentais — boa leitura,
música inspiradora, conversações instrutivas, relacionamentos estimulantes,
orações, meditação, ajuda ao próximo — são excelentes terapias para a
redescoberta do significado existencial e da vida, aceitando sem estresse as
imposições contemporâneas, decorrentes do processo da evolução científicotecnológica.
A existência enriquecida de ideais deve ser utilizada mediante os diversos
recursos hodiernos para transformar o tumulto em harmonia, a doença em
saúde e a tendência à autodestruição em prolongamento da vida sob a égide
do amor que a tudo deve comandar, inspirar e vencer.
Face à sua presença e vitalidade, o mundo se modifica e o ser se liberta,
plenificando-se.

NOSTALGIA E DEPRESSÃO

NOSTALGIA E DEPRESSÃO
As síndromes de infelicidade cultivada tornam-se estados patológicos mais
profundos de nostalgia, que induzem à depressão.
O ser humano tem necessidade de auto-expressão, e isso somente é
possível quando se sente livre.
Vitimado pela insegurança e pelo arrependimento, torna-se joguete da
nostalgia e da depressão, perdendo a liberdade de movimentos, de ação e de
aspiração, face ao estado sombrio em que se homizia.
A nostalgia reflete evocações inconscientes, que parecem haver sido ricas
de momentos felizes, que não mais se experimentam. Pode proceder de existências
transatas do Espírito, que ora as recapitula nos recônditos profundos do
ser, lamentando, sem dar-se conta, não mais as fruir; ou de ocorrências da
atual.
Toda perda de bens e de dádivas de prazer, de júbilos, que já não
retornam, produzem estados nostálgicos. Não obstante, essa apresentação
inicial é saudável, porque expressa equilíbrio, oscilar das emoções dentro de
parâmetros perfeitamente naturais. Quando porém, se incorpora ao dia-a-dia,
gerando tristeza e pessimismo, torna-se distúrbio que se agrava na razão direta
em que reincide no comportamento emocional.
A depressão é sempre uma forma patológica do estado nostálgico.
Esse deperecimento emocional, faz-se também corporal, já que se
entrelaçam os fenômenos físicos e psicológicos.
A depressão é acompanhada, quase sempre, da perda da fé em si
mesmo, nas demais pessoas e em Deus... Os postulados religiosos não
conseguem permanecer gerando equilíbrio, porque se esfacelam ante as
reações aflitivas do organismo físico. Não se acreditar capaz de reagir ao
estado crepuscular, caracteriza a gravidade do transtorno emocional.
Tenha-se em mente um instrumento qualquer. Quando harmonizado, com
as peças ajustadas, produz, sendo utilizado com precisão na função que lhe diz
respeito. Quando apresenta qualquer irregularidade mecânica, perde a
qualidade operacional. Se a deficiência é grave, apresentando-se em alguma
peça relevante, para nada mais serve.
Do mesmo modo, a depressão tem a sua repercussão orgânica ou viceversa.
Um equipamento desorganizado não pode produzir como seria de desejar.
Assim, o corpo em desajuste leva a estados emocionais irregulares, tanto
quanto esses produzem sensações e enarmonias perturbadoras na conduta
psicológica.
No seu início, a depressão se apresenta como desinteresse pelas coisas e
pessoas que antes tinham sentido existencial, atividades que estimulavam
àluta, realizações que eram motivadoras para o sentido da vida.
À medida que se agrava, a alienação faz que o paciente se encontre em
um lugar onde não está a sua realidade. Poderá deter-se em qualquer situação
sem que participe da ocorrência, olhar distante e a mente sem ação, fixada na
própria compaixão, na descrença da recuperação da saúde. Normalmente,
porém, a grande maioria de depressivos pode conservar a rotina da vida,
embora sob expressivo esforço, acreditando-se incapaz de resistir à situação
vexatória, desagradável, por muito tempo.
Num estado saudável, o indivíduo sente-se bem, experimentando também
dor, tristeza, nostalgia, ansiedade, já que esse oscilar da normalidade é característica
dela mesma. Todavia, quando tais ocorrências produzem infelicidade,
apresentando-se como
verdadeiras desgraças, eis que a depressão se está fixando, tomando corpo
lentamente, em forma de reação ao mundo e a todos os seus elementos.
A doença emocional, desse modo, apresenta-se em ambos os níveis da
personalidade humana: corpo e mente.
O som provém do instrumento. O que ao segundo afeta, reflete-se no
primeiro, na sua qualidade de exteriorização.
Idéias demoradamente recalcadas, que se negam a externar-se —
tristezas, incertezas, medos, ciúmes, ansiedades contribuem para estados
nostálgicos e depressões, que somente podem ser resolvidos, à medida que
sejam liberados, deixando a área psicológica em que se refugiam e libertandoa
da carga emocional perturbadora.
Toda castração, toda repressão produz efeitos devastadores no
comportamento emocional, dando campo à instalação de desordens da
personalidade, dentre as quais se destaca a depressão.
É imprescindível, portanto, que o paciente entre em contato com o seu
conflito, que o libere, desse modo superando o estado depressivo.
Noutras vezes, a perda dos sentimentos, a fuga para uma aparência
indiferente diante das desgraças próprias ou alheias, um falso estoicismo
contribuem para que o fechar-se em si mesmo, se transforme em um
permanente estado de depressão, por negar-se a amar, embora reclamando da
falta de amor dos outros.
Diante de alguém que realmente se interesse pelo seu problema, o
paciente pode experimentar uma explosão de lágrimas, todavia, se não estiver
inte
ressado profundamente em desembaraçar-se da couraça retentiva, fechandose
outra vez para prosseguir na atitude estóica em que se apraz, negando o
mundo e as ocorrências desagradáveis, permanecerá ilhado no transtorno
depressivo.
Nem sempre a depressão se expressará de forma autodestrutiva, mas
com estado de coração pesado ou preso, disfarçando o esforço que se faz para
a rotina cotidiana, ante as correntes que prostram no leito e ali retêm.
Para que se logre prosseguir, é comum ao paciente a adoção de uma
atitude de rigidez, de determinação e desinteresse pela sua vida interna, afivelando
uma máscara ao rosto, que se apresenta patibular, e podem ser
percebidas no corpo essas decisões em forma de rigidez, falta de movimentos
harmônicos...
Ainda podemos relacionar como psicogênese de alguns estados
depressivos com impulsos suicidas, a conclusão a que o indivíduo chega,
considerando-se um fracasso na sua condição, masculina ou feminina,
determinando-se por não continuar a existência. A situação se torna mais
grave, quando se acerca de uma idade especial, 35 ou 40 anos, um pouco
mais, um pouco menos, e lhe parece que não conseguiu o que anelava, não se
havendo realizado em tal ou qual área, embora noutras se encontre muito bem.
Essa reflexão autopunitiva dá gênese a estado depressivo com indução ao
suicídio.
Esse sentimento de fracasso, de impossibilidade de êxito pode, também,
originar-se em alguma agressão ou rejeição na infância, por parte do pai ou da
mãe, criando uma negação pelo corpo ou por si mesmo, e, quando de causa
sexual, perturbando completamente o amadurecimento e a expressão da libido.
Nesse capítulo, anotamos a forte incidência de fenômenos obsessivos, que
podem desencadear o processo depressivo, abrindo espaço para o suicídio, ou
se fixando, a partir do transtorno psicótiço, direcionando o paciente para a
etapa trágica da autodestruição.
Seja, porém, qual for a gênese desses distúrbios, é de relevante
importância para o enfermo considerar que não é doente, mas que se encontra
em fase de doença, trabalhando-se sem autocomiseração, nem autopunição
para reencontrar os objetivos da existência. Sem o esforço pessoal, mui
dificilmente será encontrada uma fórmula ideal para o reequilíbrio, mesmo que
sob a terapia de neurolépticos.
O encontro com a consciência, através de avaliação das possibilidades
que se desenham para o ser, no seu processo evolutivo, tem valor primacial,
porque liberta-o da fixação da idéia depressiva, da autocompaixão, facultando
campo para a renovação mental e a ação construtora.
Sem dúvida, uma bem orientada disciplina de movimentos corporais,
revitalizando os anéis e proporcionando estímulos físicos, contribui de forma
valiosa para a libertação dos miasmas que intoxicam os centros de força.
Naturalmente, quando o processo se instala —nostalgia que conduz à
depressão — a terapia bioenergética (Reich, como também a espírita), a
logoterapia (Viktor Frankl), ou conforme se apresentem as síndromes, o
concurso do psicoterapeuta especializado, bem como de um grupo de ajuda,
se fazem indispensáveis.
A eleição do recurso terapêutico deve ser feita pelo paciente, se dispuser
da necessária lucidez para tanto, ou a dos familiares, com melhor juízo, a fim
de evitar danos compreensíveis, os quais, ocorrendo, geram mais
complexidades e dificuldades de recuperação.
Seja, no entanto, qual for a problemática nessa área, a criação de uma
psicosfera saudável em torno do paciente, a mudança de fatores psicossociais
no lar e mesmo no ambiente de trabalho constituem valiosos recursos para a
reconquista da saúde mental e emocional.
O homem é a medida dos seus esforços e lutas interiores para o
autocrescimento, para a aquisição das paisagens emocionais.

Amor Imbatível Amor
Divaldo/Joana

INSEGURANÇA E ARREPENDIMENTO

INSEGURANÇA E ARREPENDIMENTO
A criança mal amada, que padece violências físicas e psicológicas, vê o
mundo e as pessoas através de uma óptica distorcida. As suas imagens estão
focadas de maneira incorreta e, como conseqüência, causam-lhe pavor.
Ademais, os comportamentos agressivos daqueles que lhe partilharam a
convivência, atemorizando-a mediante ameaças de punições com seres
perversos, animais e castigos de qualquer natureza, fazem-na fugir para
lugares e situações vexatórios, nos quais o recolhimento não oferece qualquer
mecanismo de defesa, deixando-a abandonada. Essa sensação a
acompanhará por largo período, senão por toda a existência, perturbandolhe a
conduta insegura e assinalada por culpas sem sentido, que a levarão a
permanente desconsideração por si mesma, pela ausência de auto-estima, por
incessantes arrependimentos.
Nessa instabilidade emocional, sem alguém em quem confiar e a quem
entregar-se, a criança constrói o seu mundo de conflitos e nele se encerra,
dominada por contínuo receio de ser ferida, desconsiderada, evitando-se
participar da vida normal, para poupar-se a sofrimentos e do desprezo de que
se sente objeto.
Para sobreviver, nessa situação, transfere os seus medos e sua
insegurança para a responsabilidade do conjunto social que sempre lhe parece
hostil, numa natural projeção do que sofreu e não pôde eliminar.
A violência de qualquer matiz é sempre responsável pelas tragédias do
cotidiano. Não apenas a que agride pela brutalidade, por intermédio de gritos e
golpes covardes, mas também, a que se deriva do orgulho, da indiferença, da
perseguição sistemática e silenciosa, das expressões verbais pejorativas,
desestimulando e condenando, enfim, de todo e qualquer recurso que desdenha
as demais criaturas, levando-as a patologias inumeráveis.
A violência urbana, por exemplo, é filha legítima dos que se encontram em
gabinetes luxuosos e desviam os valores que pertencem ao povo, que
desrespeitam; que elaboram Leis injustas, que apenas os favorecem; que
esmagam os menos afortunados, utilizando-se de medidas especiais, de
exceção, que os anulam; que exigem submissão das massas, para que
consigam o que lhes pertence de direito... produzindo o lixo moral e os
desconsertos psicológicos, psíquicos, espirituais.
Numa sociedade justa, que se organiza com indivíduos seguros dos próprios
deveres, na qual os compromissos morais têm prevalência, dignificando a criatura
em si mesma e proporcionando-lhe recursos para uma existência
saudável, os valores educativos têm primazia, por constituírem alicerces sobre
os quais se edificam os grupos que a constituem.
Lúcidos, a respeito das necessidades que devem ser consideradas, os
seus governantes se empenham com decisão, para proporcionar os recursos
hábeis que podem facultar a felicidade das massas.
Não obstante, há fatores que contribuem para os desajustes sociais, que
precedem o berço e que constituem implementos relevantes na carga genética,
programando seres inseguros, arrependidos, frágeis emocionalmente. Trata-se
de Espíritos que não souberam conduzir-se, entregando-se a excessos e
dissipações que os prejudicaram, mas também perturbaram outras vidas,
produzindo lesões nas almas, que agora ressumam em conflitos inquietadores.
Esses mesmos fatores induziram-nos a reencarnar-se em grupos familiares
onde as dificuldades ambientais e os relacionamentos afetivos gerariam
insegurança, levando à dubiedade de comportamento — após qualquer ação,
boa ou má — à irrupção do arrependimento, mais aflição que sentimento de
auto-recuperação.
Somente através de uma constante construção de idéias positivas e
estimuladoras será possível uma terapia eficiente, à qual o paciente se deve
entregar em clima de confiança, trabalhando as lembranças traumatizantes
recordadas e preenchendo o consciente atual com perspectivas que se farão
arquivar nos refolhos dalma, com propostas novas de felicidades, que voltarão
à tona oportunamente, enriquecendo-o de alegria.
A reprogramação da mente torna-se essencial para a conquista da
segurança e da paz. Acostumada ao pessimismo conflitivo, os seus arquivos
no inconsciente mantêm registros perturbadores que deverão ser substituídos
pelos saudáveis. Esse material angustiante irá elaborar comportamentos
sexuais insatisfatórios, medo de amar, pequena auto-estima, estabelecendo
receios na área afetiva, por acreditar-se incapaz de ser amado, assim
refugiando-se na autocomiseração, negando-se encontrar o sol do amor que
tudo modifica.
Exercícios físicos contribuem para romper essa couraça psicológica, que
se torna também física, produzindo dores nos tecidos orgânicos, abrindo
espaços para a instalação de diversas enfermidades.
O ser psicológico é o vigilante do domicilio celular. Conforme conduzir-se,
estabelecerá as satisfatórias ou negativas manifestações da saúde física e
mental.
Aprofundar reflexões nas causas da insegurança e do arrependimento de
maneira edificante, procurando retirar o melhor proveito, sem culpa nem
castração, é o desafio do momento para cada ser, que então se disporá à
superação dos agentes constritores e de desagregação da personalidade.

Livro: Amor Imbatível Amor-
Divaldo/Joana de Angelis

FERIDAS E CICATRIZES DA INFÂNCIA

FERIDAS E CICATRIZES DA INFÂNCIA
Tem sido estabelecido através da cultura dos tempos, que a infância é
o período mais feliz da existência humana, exatamente pela falta de discernimento
da criança, e em razão das suas aspirações que não passam de
desejos do desconhecido, de necessidades imediatas, de ignorância da
realidade.
Os seus divertimentos são legítimos, porque a eles se entrega em
totalidade, sem qualquer esforço, graças à imaginação criadora que a
transporta para esse mundo subjacente do crer naquilo que lhe parece. Não
estando a personalidade ainda formada, não há dissociação entre o que tem
existência real e aquilo que somente se fundamenta na experiência mental.
A criança atravessa esse período psicologicamente feliz, sem o saber, com
as exceções compreensíveis de casos especiais, porque tampouco sabe o que
é a felicidade. Só mais tarde, na idade adulta é que, recordando os anos
infantis, constata o seu valor e pode ter dimensão dos acontecimentos e
prazeres.
Como a criança não sabe o que é felicidade, facilmente identifica-a no
divertimento, aquilo que a agrada e a distrai, os jogos que lhe povoam a imaginação.
É na infância que se fixam em profundidade os acontecimentos, aliás,
desde antes, na vida intra-uterina, quando o ser faz-se participante do futuro
grupo familiar no qual renascerá. As impressões de aceitação como de rejeição
se lhe insculpirão em profundidade, abençoando-o com o amor e a segurança
ou dilacerando-lhe o sistema emocional, que passará a sofrer os efeitos
inconscientes da animosidade de que foi objeto.
Da mesma forma, os acontecimentos à sua volta, direcionados ou não à
sua pessoa, exercerão preponderante influência na formação da sua
personalidade, tornando-a jovial, extrovertida ou conflitada, depressiva,
insegura, em razão do ambiente que lhe plasmou o comportamento.
Essas marcas acompanhá-la-ão até a idade adulta, definindo-lhe a
maneira de viver. Tornam-se feridas, quando de natureza perturbadora, que
mesmo ao serem cicatrizadas, deixam sinais que somente uma terapia muito
cuidadosa consegue anular.
Por sua vez, o Espírito, em processo de reencarnação, acompanha mui
facilmente os lances que precedem à futura experiência, e porque podendo
movimentar-se com relativa liberdade antes do mergulho total no arquipélago
celular, compreende as dificuldades que terá de enfrentar mais tarde, ao sentirse
desde então indesejado, maltratado, combatido.
Certamente, essa ocorrência tem lugar com aqueles que se vêm impelidos
ao renascimento para reparar pesados compromissos infelizes, retornando ao
seio das suas anteriores vítimas que agora os rechaçam, o que é injustificável.
A bênção de um filho constitui significativa conquista do ser humano, que
se deve utilizar do ensejo para crescer e desenvolver os sentimentos
superiores da abnegação e do amor.
As reações vibratórias que podem produzir os Espíritos antipáticos na fase
perinatal, produzem, não raro, mal-estar. Não obstante, a ternura e a
cordialidade fraternal substituem as ondas perturbadoras por outras de
natureza saudável, preparando os futuros pais para o processo de
aprimoramento e de educação do descendente.
Na raiz de muitos conflitos e desequilíbrios juvenis, adultos, e até mesmo
ressumando na velhice, as distonias tiveram origem — efeito de causa transata
—no período da gestação, posteriormente na infância, quando a figura da mãe
dominadora e castradora, assim como do pai negligente, indiferente ou
violento, frustrou os anseios de liberdade e de felicidade do ser.
Todos nascem para ser livres e felizes. No entanto, pessoas
emocionalmente enfermas, ante o próprio fracasso, transferem para os filhos
aquilo que gostariam de conseguir, suas culpas e incapacidades, quando não
descarregam todo o insucesso ou insegurança naqueles que vivem sob sua
dependência.
Esse infeliz recurso fere o cerne da criança, que se faz pusilânime, a fim
de sobreviver ou leva-a a refugiar-se no ensimesmamento, na melancolia,
sentindo-se vazia de afeto e objetivo de vida. Com o tempo, essas feridas
purulam, impelindo a atitudes exóticas, a comportamentos instáveis, às fugas
para o fumo, a droga, o álcool ou as diversões violentas, mediante as quais extravasam
o ressentimento acumulado, ou mergulham no anestésico perigoso
da depressão com altos reflexos na conduta sexual, incompleta, insatisfeita,
alienadora...
A sociedade terá que atender à infância através de mecanismos próprios,
preenchendo os espaços deixados pela ausência do amor na família, na
educação escolar, na convivência do grupo, nas oportunidades de
desenvolvimento e de auto-afirmação de cada qual. Para tal mister, torna-se
necessário o equilíbrio do adulto, do educador formal, que pode funcionar como
psicoterapeuta, orientando melhor o aprendiz e reencaminhando-o para a
compreensão dos valores existenciais e das finalidades da vida.
Inveja, mágoa, ciúme, instabilidade, ódio, pusilanimidade e outros
hediondos sentimentos que afligem as crianças maltratadas, carentes,
abandonadas mesmo nas casas onde moram, desde que não são lares verdadeiros,
constituem os mecanismos de reação de todos quantos se sentem
infelizes, mesmo que inconscientemente.
A compreensão dos direitos alheios e dos próprios deveres, o contributo
da fraternidade, a segurança afetiva, a harmonia interior, a compaixão, a
lealdade se instalarão no ser, cicatrizando as feridas, à medida que o meio
ambiente se transforme para melhor e o afeto dos outros, sincero quão
desinteressado, substitua a indiferença habitual.
Qualquer ferida emocional cicatrizada pode reabrir-se de um para outro
momento, porqüanto não erradicada a causa desencadeadora, os tecidos
psicológicos estarão muito frágeis, rompendo-se com facilidade, pela falta de
resistência aos impactos enfrentados.
A questão da felicidade, por isso mesmo, é muito relativa. Se a felicidade
são os divertimentos, ou é o prazer, ei-la de fácil aquisição. No entanto, se está
radicada na plenitude, muito complexa é a engrenagem que a aciona.
De certo modo, ela somente se expressa em totalidade, quando o artista
conclui a obra a que se entrega, o santo ao ministério de amor a que se devota,
o cientista realiza a pesquisa exitosa, o pensador atinge com a sua mensagem
o mundo que o aguarda, o cidadão comum se sente em paz consigo mesmo...
O dar-se, a que se refere o Evangelho, certamente é a melhor metodologia
para alcançar-se essa ventura que harmoniza e plenifica.
Toda vez, portanto, que alguém sinta incompletude, insegurança, seja
visitado pelos sentimentos inquietadores da insegurança, do medo, da raiva e
da inveja injustificáveis, exceção feita aos estados patológicos profundos, as
feridas da infância estão ainda abertas ou reabrindo-se, e necessitando com
urgência de cicatrização.
Livro: Amor Imbatível Amor-
Divaldo/Joana de Angelis

O PERDÃO NO PROCESSO DE EVOLUÇÃO DO ADOLESCENTE

O PERDÃO NO PROCESSO DE EVOLUÇÃO DO
ADOLESCENTE
Na transição da adolescência, o jovem saudável é muito susceptível de
mudança de comportamentos e de atitudes mentais. Raramente as mágoas se
lhe fazem profundas, produzindo sulcos perturbadores que se transformam em
conflitos para o futuro, porque tudo parece acontecer com rapidez, cedendo,
um fato, lugar a outro mais recente, dessa forma, não se fixando muito as
impressões negativas, exceto aquelas que se repetem ou que lhe causam
choque, estupor ou castração psicológica.
Desse modo, as ocorrências desagradáveis podem ser superadas com
relativa facilidade, desde que haja substitutos para as mesmas, diminuindo as
impressões de descontentamento e mal-estar.
Formando a personalidade e definindo-se na eleição do que lhe apraz
aceitar ou rejeitar, o perdão assume um papel de importância no seu dia-a-dia,
abrindo-lhe possibilidades para os relacionamentos felizes. Há, naturalmente,
exceções, quando se trata de personalidades psicopatas, temperamentos
instáveis e vingativos, que acumulam o resíduo do ressentimento ao invés de
coletar as experiências positivas e substituir aqueloutros que são de natureza
desagradável.
O perdão aos erros alheios representa começo de maturidade no jovem,
que se revela tolerante, compreensivo, dando aos outros o direito de equivocarse
e abrindo espaço para o auto-perdão. Mediante essa conduta se renova,
não permanecendo em atitudes depressivas após a constatação do erro, antes
se dispondo a seguir em frente, superando a situação infeliz e recuperando-se
ao primeiro ensejo. Com essa atitude, a vida adquire um sabor agradável e as
ocorrências passam a merecer a consideração produtiva, aquela que soma
recursos que podem ser aplicados em favor do bem comum.
É uma forma de superar os melindres e complexos de inferioridade,
porque o adolescente dá-se conta do quanto éimportante a sua presença no
mundo, pelo seu significado existencial, pelo que pode realizar e pelo próprio
sentido de sua vida.
Quando perdoa, despoja-se de ondas perturbadoras que lhe ameaçam a
casa mental, ampliando a capacidade de amor sem exigência, porque percebe
que todas as pessoas se equivocam e são credoras de entendimento, quanto
ele próprio o é. Isso lhe proporciona uma empatia favorável à existência
terrestre, que perde as marcas agressivas que lhe pareciam ameaçar,
constatando a fragilidade humana, que lhe cumpre entender e auxiliar a
fortificar-se..
É certamente uma lição preciosa para o seu desenvolvimento afetivo,
emocional e social. Desde que todas as pessoas são dependentes umas das
outras e cometem os mesmos erros com variação de escala e de gravidade,
compreende o desafio que é viver com equilíbrio, intercambiando fraternidade,
que constitui suporte de vitalidade. Ninguém que viaje pelo rumo da existência
terrestre sem o apoio das amizades, sem o intercâmbio fraternal, que não
tombe em terrível alienação.
Dessa forma, o perdão, como fenômeno natural entre os indivíduos,
fascina o jovem que desperta para a existência adulta, descobrindo que a vida
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é enriquecedora e que errar é experiência perfeitamente natural, porém
levantar-se do erro é compromisso que não pode ser adiado sob pretexto
algum. No entanto, para que a pessoa reconsidere a atitude e se erga do
deslize, é indispensável que lhe seja oferecida oportunidade, que se lhe
distenda a mão amiga sem recriminação ou qualquer outra exigência. Somente
assim a vida se torna digna de ser vivida com elevação.
A aprendizagem do perdão pode ser comparada com a metodologia do
ensino, aplicada no cotidiano. A pessoa que se dispõe a aprender qualquer
coisa é levada a errar, no começo, repetir a tentativa até que as experiências
se fixem no inconsciente e passem espontaneamente à consciência, de onde
se irradiam para os hábitos. Assim, também, as conquistas morais, que são
resultados de tentames ora com êxitos, ora com insucessos, O erro de um
momento ensina como não mais se deve proceder, dessa maneira adquirindose
o automatismo para agir com correção.
Essa tarefa educadora é reflexo do perdão que se dá e do que se recebe.
Ninguém, no mundo, que não necessite de oferecê-lo, tanto quanto de recebêlo.
Concedê-lo, porém, é sempre melhor, porque expressa enriquecimento
interior e disposição de auxiliar-crescendo, enquanto consegui-lo traduz
equívoco que poderia ser evitado. A aprendizagem, todavia, em qualquer
circunstância, oferece valioso contributo para uma existência tranqüila.
Todas as criaturas necessitam pensar profundamente no perdão. Quando
alguém é ofendido, o seu agressor tomba em nível vibratório e a vítima
prossegue no padrão em que se encontra. Se reage, devolvendo o insulto, a
agressão, igualmente, desce à condição de inferioridade; se permanece em
tranqüilidade, demora-se no mesmo patamar. Entretanto, quando perdoa,
ascende e localiza-se emocional e psiquicamente em situação melhor do que o
seu opositor. Não foi por outra razão que Jesus, como Psicoterapeuta Invulgar,
proclamou a necessidade do perdão como condição de plenitude para o ser.
O adolescente, descomprometido com ressentimentos anteriores, aberto
às novas lições da vida, sempre encontrará, no ato de perdoar, uma forma de
realizar-se, preenchendo os vazios do sentimento e superando as constrições
de uma família-problema, um lar difícil, circunstâncias perturbadoras que
passam a dar significado diferente à sua existência, liberando-o das
reminiscências amargas e dos traumas que, por acaso, teimem por
permanecer-lhe no ser.
Essa atitude de perdoar é resultado também de exercícios. Ao analisar a
situação do agressor, compreendendo que ele se encontra infeliz e exterioriza
essa situação mediante a agressividade, torna mais fácil a atitude da desculpa,
que se encoraja em olvidar a ofensa, perdoar sinceramente. Inicia-se nas
pequenas conjunturas desagradáveis que vão sendo ultrapassadas sem
vínculos de mágoas, na necessidade pessoal também de ser compreendido, e,
portanto, perdoado, criando um clima de legítima fraternidade que permite ao
outro ser aceito conforme se apresenta, entendendo-lhe as dificuldades de
amadurecimento e de atitude, dessa forma ajudando-o sem impor-lhe
percalços pelo caminho.
O verdadeiro e compensador período da adolescência é aquele que
guarda melhores recordações, responsáveis pela estruturação do caráter e da
personalidade, devendo ser a fase na qual ocorrem as expressões de
amadurecimento psicológico, superando a criança caprichosa que não sabe
desculpar e abrindo campo para o desenvolvimento do indivíduo compassivo e
fraterno, que está disposto a contribuir com valiosos tesouros para a
dignificação humana.
Quando se ama, portanto, o perdão é um fenômeno natural, que se
exterioriza como conseqüência da atitude aberta de aceitar o próximo na
condição em que se apresenta, porém, exigir-se ser melhor cada dia, e mais
nobre em cada oportunidade que surge.

Adolescencia e Vida.
Divaldo/Joana de Angelis

O SER E O TER NA ADOLESCENCIA

O SER E O TER NA ADOLESCENCIA
A princípio, no conflito que surge com a adolescência, o jovem não se
preocupa, normalmente, com a posse nem com a realização interior, face aos
apelos externos que o convocam à tomada de conhecimento de tudo quanto o
cerca.
Vivendo antes em um mundo especial, cujas fronteiras não iam além dos
limites do lar e da família, no máximo da escola, rompem-se, agora, as
barreiras que o detinham, e surge um campo imenso, ora fascinante, ora
assustador, que ele deve conhecer e conquistar, a fim de situar-se no contexto
de uma sociedade que se lhe apresenta estranha, caprichosa, assinalada por
costumes e atitudes que o surpreendem. Os seus pensamentos primeiros são
de submeter tudo a uma nova ordem, na qual ele se sinta realizado e
dominador, alçado à categoria de líder reformista, que altere a paisagem
vigente e dê-lhe novos contornos. Lentamente, à medida que se vai adaptando
aos fatores predominantes, percebe que não é tão fácil operar as mudanças
que pretendia impor aos outros, e ajusta-se ao “modus operandi” existente ou
contribui para as necessárias e oportunas alterações por que passam os
diferentes períodos da cultura e do comportamento humano.
Observando que a sociedade contemporânea se baseia muito no poder e
no ter, predominando os valores amoedados e as posições de destaque, em
uma competitividade cruel e desumana, é tomado pela ânsia de amealhar
recursos para triunfar e programar o futuro de ordem material. Não lhe ocorrem
as necessidades espirituais, as de natureza ético-moral, porque tudo lhe
parece um confronto de oportunidades e de poderes que entram em choque,
até que haja predominância do mais forte. Por outro lado, dá-se conta da
rapidez com que passa o carro do triunfo e procura fruir ao máximo, imediatamente,
toda a cota possível de prazer e de destaque, receando o futuro, face
ao exemplo daqueles que ontem estavam no ápice e agora, após o tombo
produzido pela realidade, encontram-se esquecidos, perseguidos ou
desprezados.
Somente alguns adolescentes, mais amadurecidos psicologicamente, que
procedem de lares equilibrados e saudáveis, despertam para a aquisição dos
valores íntimos, da conquista do conhecimento, dos títulos universitários com
os quais esperam abrir as portas da vitória mais tarde. Assim, empenham-se
na busca dos tesouros do saber, das experiências evolutivas, das realizações
de crescimento íntimo, lutando com denodo em favor do auto-aprimoramento e
da auto-afirmação, no mundo de contrastes e desaires. Nesses jovens, o ser
tem um grande significado, porque faz desabrochar os requisitos íntimos que
estão dormindo e aguardam ser convocados para aplicação e vivencia.
Nesse sentido, não se faz necessário ser superdotado. É mesmo comum
encontrar jovens com menos elevado QI, que conseguem, pela perseverança,
pelo exercício, a vitória sobre os impedimentos ao seu progresso, enquanto
outros mais bem aquinhoados deixam-se vencer pelos desajustes, sem o
empenho de superar as dificuldades. Porque reconhecem as facilidades de
aprendizagem, menosprezam o esforço que deve acompanhar todo trabalho de
aquisição de cultura ou qualquer outro recurso evolutivo, perdendo as
excelentes oportunidades que deparam, não vencendo a barreira do desafio
para o crescimento.
Permanecem com o patrimônio intelectual sem o conveniente
desenvolvimento ou, quando o realizam, derrapam para a delinqüência,
aplicando os tesouros da mente na ação equivocada dos triunfos de mentira.
O esforço para ter surge com as motivações de crescimento intelectual e
compreensão das necessidades humanas em favor da sobrevivência, da
construção da família, da distinção social, das esperanças de fruir gozos
naturais em forma de férias e recreações, de jogos e prazeres, projetando as
expectativas para a velhice, que esperam conseguir tranqüila e confortável. O
ter, passa a significar o esforço pelo conseguir, pelo amealhar, reunindo
moedas e títulos que facilitem a movimentação pelas diferentes áreas do
relacionamento humano. Essa ambição, perfeitamente justa e compreensível,
de natureza previdenciária e lógica, pode tornar-se, no entanto, o objetivo único
da existência, levando ao desespero e à insatisfação, porque a posse apenas
libera de preocupações específicas, mas não harmoniza o ser interiormente.
Não poucas vezes, o possuir faz-se acompanhar do medo de perder, gerando
receios injustificáveis e neurotizantes. O verdadeiro amadurecimento
psicológico do ser propicia-lhe visão otimista da vida, auxiliando-o a ter sem ser
possuído, em desfrutar sem escravizar-se, em dispor hoje e buscar amanhã,
não lhe constituindo motivo de aflição o receio da perda, da pobreza, porque
reconhece que tudo transita, indo e voltando, raramente permanecendo por
tempo indeterminado, já que a vida física é igualmente transitória, instável.
A verdadeira sabedoria ensina que se pode ter, sem deixar de lado o
esforço por ser auto-suficiente, equilibrado, possuidor não possuído,
identificado com os objetivos essenciais da experiência carnal, que são a
imortalidade, o progresso, o desenvolvimento de si mesmo com vistas à sua
libertação da carne, o que ocorrerá, sem qualquer dúvida, e, no momento
próprio, ao encontrar-se equipado de recursos para a harmonia. Os padrões do
capitalismo sempre impõem ter mais, enquanto que os do comunismo expõem
suprir as necessidades básicas sob a regência do Estado, que é sempre
impiedoso e sem sentimento, porque tem um caráter empresarial e nunca um
sentido de humanidade. O jovem, ainda indeciso nas atitudes a tomar, não se
dá conta do significado de ser lúcido e feliz, tendo ou deixando de ter, livre para
aspirar o que melhor lhe apraz e realizar-se interiormente, desfrutando dos
bens da vida sem escravidão, sem alucinação.
Quando o indivíduo é mais ele mesmo, identificado com a sua realidade
espiritual, consome menos, vive melhor, cresce e amadurece mais, superando
os desafios com otimismo e produzindo sempre com os olhos postos no futuro.
Para esse cometimento, é necessário que, desde cedo, na adolescência, seja
elaborada uma escala de valores, a fim de definir quais os de importância e os
secundários, de tal modo que a sua seja uma proposta de vida realizadora e
eficiente.
Quando deseja ter mais e se afadiga por conseguir sempre os lucros de
todos os empreendimentos, a sua é uma existência frustrada, ansiosa, sem
justificativa, porque a sede de possuir atormenta-o e deixa-o sempre
insatisfeito, porque vê aqueloutros que lhe estão à frente e lhe fazem sombra
na realização como criatura triunfadora no mundo. Essa ambição igualmente
tem início na juventude por falta de direcionamento espiritual e emocional,
tornando o adolescente um ser fisiológico, imediatista, e não uma criatura em
desenvolvimento para as altas construções da humanidade.
O jovem, que deseja ser, desenvolve a sua inteligência emocional,
aprendendo a identificar os sentimentos das demais pessoas, a dominar os
impulsos perturbadores e insensatos, a manter controle sobre as emoções
desordenadas, a ter serenidade para enfrentar relacionamentos tumultuados e
difíceis, preservando a própria identidade.
Essa inteligência emocional depende da constituição do seu cérebro, que
se modelou e se equipou de recursos compatíveis com as necessidades de
evolução em razão dos seus atos em reencarnações passadas, mas que pode
alterar para melhor sempre que o deseje e insista na cultura dos valores éticomorais.
É necessário ter recursos para uma existência digna, porém é
indispensável ser sóbrio e equilibrado, nobre e empreendedor, conhecendo-se
interiormente e trabalhando-se sempre, a fim de se tornar um adulto sadio e um
idoso sábio.

Adolescencia e Vida.
Divaldo/ Joana de Angelis

A disciplina do pensamento e a reforma do caráter


A disciplina do pensamento e a reforma do caráter

O pensamento, dizíamos, é criador. Não atua somente em torno de nós, influenciando nossos semelhantes para o bem ou para o mal; atua principalmente em nós; gera nossas palavras, nossas ações e, com ele, construímos, dia a dia, o edifício grandioso ou miserável de nossa vida presente e futura. Modelamos nossa alma e seu invólucro com os nossos pensamentos; estes produzem formas, imagens que se imprimem na matéria sutil, de que o corpo fluídico é composto. Assim, pouco a pouco, nosso ser povoa-se de formas frívolas ou austeras, graciosas ou terríveis, grosseiras ou sublimes; a alma se enobrece, embeleza ou cria uma atmosfera de fealdade. Segundo o ideal a que visa, a chama interior aviva-se ou obscurece-se.
Não há assunto mais importante que o estudo do pensamento, seus poderes e sua ação. É a causa inicial de nossa elevação ou de nosso rebaixamento; prepara todas as descobertas da Ciência, todas as maravilhas da Arte, mas também todas as misérias e todas as vergonhas da humanidade. Segundo o impulso dado, funda ou destrói as instituições como os impérios, os caracteres como as consciências. O homem só é grande, só tem valor pelo seu pensamento; por ele suas obras irradiam e se perpetuam através dos séculos.
O Espiritualismo experimental, muito melhor que as doutrinas anteriores, permite-nos perceber, compreender toda a força de projeção do pensamento, que é o princípio da comunhão universal. Vemo-lo agir no fenômeno espírita, que facilita ou dificulta; seu papel nas sessões de experimentação é sempre considerável. A telepatia demonstrou-nos que as almas podem impressionar-se, influenciar-se a todas as distâncias; é o meio de que se servem as humanidades do espaço para comunicarem entre si através das imensidades siderais. Em qualquer campo das atividades sociais, em todos os domínios do mundo visível ou invisível, a ação do pensamento é soberana; não é menor sua ação, repetimos, em nós mesmos, modificando constantemente nossa natureza íntima.
As vibrações de nossos pensamentos, de nossas palavras, renovando-se em sentido uniforme, expulsam de nosso invólucro os elementos que não podem vibrar em harmonia com elas; atraem elementos similares que acentua as tendências do ser. Uma obra, muitas vezes inconsciente, elabora-se; mil obreiros misteriosos trabalham na sombra; nas profundezas da alma esboça-se um destino inteiro; em sua ganga o diamante purifica-se ou perde o brilho.
Se meditarmos em assuntos elevados, na sabedoria, no dever, no sacrifício, nosso ser impregna-se, pouco a pouco, das qualidades de nosso pensamento. É por isso que a prece improvisada, ardente, o impulso da alma para as potências infinitas, tem tanta virtude. Nesse diálogo solene do ser com sua causa, o influxo do Alto invade-nos e desperta sentidos novos. A compreensão, a consciência da vida aumenta e sentimos, melhor do que se pode exprimir, a gravidade e a grandeza da mais humilde das existências. A oração, a comunhão pelo pensamento com o universo espiritual e divino é o esforço da alma para a beleza e para a verdade eternas; é a entrada, por um instante, nas esferas da vida real e superior, aquela que não tem termo.
Se, ao contrário, nosso pensamento é inspirado por maus desejos, pela paixão, pelo ciúme, pelo ódio, as imagens que cria sucedem-se, acumulam-se em nosso corpo fluídico e o entenebrecem. Assim, podemos à vontade fazer em nós a luz ou a sombra, o que afirmam tantas comunicações de além-túmulo. Somos o que pensamos, com a condição de pensarmos com força, vontade e persistência. Mas, quase sempre, nossos pensamentos passam constantemente de um a outro assunto. Pensamos raras vezes por nós mesmos, refletimos os mil pensamentos incoerentes do meio em que vivemos. Poucos homens sabem viver do próprio pensamento, beber nas fontes profundas, nesse grande reservatório de inspiração que cada um traz consigo, mas que a maior parte ignora. Por isso criam um invólucro povoado das mais disparatadas formas. Seu Espírito é como uma habitação franca a todos os que passam. Os raios do bem e as sombras do mal lá se confundem, num caos perpétuo. É o combate incessante da paixão e do dever, em que, quase sempre, a paixão sai vitoriosa. Antes de tudo, é preciso aprender a fiscalizar os pensamentos, a discipliná-los, a imprimir-lhes uma direção determinada, um fim nobre e digno.
A fiscalização dos pensamentos implica a fiscalização dos atos, porque, se uns são bons, os outros sê-lo-ão igualmente, e todo o nosso procedimento achar-se-á regulado por uma concatenação harmônica. Todavia, se nossos atos são bons e nossos pensamentos maus, apenas haverá uma falsa aparência do bem e continuaremos a trazer em nós um foco malfazejo, cujas influências, mais cedo ou mais tarde, derramar-se-ão fatalmente sobre nossa vida.
Às vezes observamos uma contradição surpreendente entre os pensamentos, os escritos e as ações de certos homens, e somos levados, por essa mesma contradição, a duvidar de sua boa-fé, de sua sinceridade. Muitas vezes não há mais do que uma interpretação errônea de nossa parte. Os atos desses homens resultam do impulso surdo dos pensamentos e das forças que eles acumularam em si no passado. Suas aspirações atuais, mais elevadas, seus pensamentos mais generosos traduzir-se-ão em atos no futuro. Assim, tudo se combina e explica quando se consideram as coisas do largo ponto de vista da evolução; ao passo que tudo fica obscuro, incompreensível, contraditório, com a teoria de uma vida única para cada um de nós.
*
É bom viver em contato pelo pensamento com os escritores de gênio, com os autores verdadeiramente grandes de todos os tempos e países, lendo, meditando suas obras, impregnando todo o nosso ser da substância de sua alma. As radiações de seus pensamentos despertarão em nós efeitos semelhantes e produzirão, com o tempo, modificações de nosso caráter pela própria natureza das impressões sentidas.
E necessário escolhermos com cuidado nossas leituras, depois amadurecê-las e assimilar-lhes a quintessência. Em geral lê-se demais, lê-se depressa e não se medita. Seria preferível ler menos e refletir mais no que se leu. É um meio seguro de fortalecer nossa inteligência, de colher os frutos de sabedoria e beleza que podem conter nossas leituras. Nisso, como em todas as coisas, o belo atrai e gera o belo, do mesmo modo que a bondade atrai a felicidade, como o mal atrai o sofrimento.
O estudo silencioso e recolhido é sempre fecundo para o desenvolvimento do pensamento. É no silêncio que se elaboram as grandes obras. A palavra é brilhante, mas degenera demasiadas vezes em conversas estéreis, às vezes maléficas; com isso, o pensamento se enfraquece e a alma esvazia-se. Ao passo que na meditação o Espírito se concentra, volta-se para o lado grave e solene das coisas; a luz do mundo espiritual banha-o com suas ondas. Há em volta do pensador grandes seres invisíveis que só querem inspirá-lo; é à meia-luz das horas tranqüilas ou então à claridade discreta da lâmpada de trabalho que melhor podem entrar em comunhão com ele. Em toda parte e sempre uma vida oculta mistura-se com a nossa.
Evitemos as discussões ruidosas, as palavras vãs, as leituras frívolas. Sejamos sóbrios em relação aos jornais, pois a sua leitura, fazendo-nos passar continuamente de um assunto para outro, torna o Espírito ainda mais instável. Vivemos numa época de anemia intelectual, que é causada pela raridade dos estudos sérios, pela procura abusiva da palavra pela palavra, da forma enfeitada e oca, e, principalmente, pela insuficiência dos educadores da mocidade. Apliquemo-nos a obras mais substanciais, a tudo o que pode esclarecer-nos a respeito das leis profundas da vida e facilitar nossa evolução. Pouco a pouco, edificar-se-ão em nós uma inteligência e uma consciência mais fortes e nosso corpo fluídico iluminar-se-á com os reflexos de um pensamento elevado e puro.
Dissemos que a alma oculta profundezas onde o pensamento raras vezes desce, porque mil objetos externos ocupam-no incessantemente. Sua superfície, como a do mar, é muitas vezes agitada; mas por baixo se estendem regiões inacessíveis às tempestades. Aí dormem as potências ocultas, que esperam nosso chamamento para emergirem e aparecerem. O chamamento raras vezes se faz ouvir e o homem agita-se em sua indigência, ignorante dos tesouros inapreciáveis que nele repousam.
É necessário o choque das provações, as horas tristes e desoladas para fazer-lhe compreender a fragilidade das coisas externas e encaminhá-lo para o estudo de si mesmo, para a descoberta de suas verdadeiras riquezas espirituais.
É por isso que as grandes almas se tornam tanto mais nobres e belas quanto mais vivas são suas dores. A cada nova desgraça que as fere têm a sensação de se haverem aproximado um pouco mais da verdade e da perfeição, e com esse pensamento experimentam uma espécie de volúpia amarga. Levantou-se no céu de seu destino uma nova estrela, cujos raios trêmulos penetram no santuário de sua consciência e lhe iluminam os recônditos. Nas inteligências de cultura elevada faz sementeira a desgraça: cada dor é um sulco onde se levanta uma seara de virtude e beleza.
Em certas horas de nossa vida, quando morre nossa mãe, quando se desmorona uma esperança ardentemente acariciada, quando se perde a mulher, o filho amado, cada vez que se despedaça um dos laços que nos ligavam a este mundo, uma voz misteriosa eleva-se nas profundezas de nossa alma, voz solene que nos fala de mil leis augustas, mais veneráveis que as da Terra, e entreabre-se todo um mundo ideal. Mas os ruídos do exterior abafam-na bem depressa e o ser humano recai quase sempre em suas dúvidas, em suas hesitações, na vulgaridade de sua existência.
*
Não há progresso possível sem observação atenta de nós mesmos. É necessário vigiar todos os nossos atos impulsivos para chegarmos a saber em que sentido devemos dirigir nossos esforços para nos aperfeiçoarmos. Primeiramente, regular a vida física, reduzir as exigências materiais ao necessário, a fim de garantir a saúde do corpo, instrumento indispensável para o desempenho de nosso papel terrestre; em seguida, disciplinar as impressões, as emoções, exercitando-nos em dominá-las, em utilizá-las como agentes de nosso aperfeiçoamento moral; aprender principalmente a esquecer, a fazer o sacrifício do “eu”, a desprender-nos de todo o sentimento de egoísmo. A verdadeira felicidade neste mundo está na proporção do esquecimento próprio.
Não basta crer e saber, é necessário viver nossa crença, isto é, fazer penetrar na prática diária da vida os princípios superiores que adotamos; é necessário habituarmo-nos a comungar pelo pensamento e pelo coração com os Espíritos eminentes que foram os reveladores, com todas as almas de escol que serviram de guias à humanidade, viver com eles numa intimidade cotidiana, inspirarmo-nos em suas vistas e sentir sua influência pela percepção íntima que nossas relações com o mundo invisível desenvolvem.
Entre essas grandes almas é bom escolher uma como exemplo, a mais digna de nossa admiração e, em todas as circunstâncias difíceis, em todos os casos em que nossa consciência oscila entre dois partidos a tomar, inquirirmos o que ela teria resolvido e procedermos no mesmo sentido.
Assim, pouco a pouco iremos construindo, de acordo com esse modelo, um ideal moral que se refletirá em todos os nossos atos. Todo homem, na humilde realidade de cada dia, pode ir modelando uma consciência sublime. A obra é vagarosa e difícil, mas para isso são-nos dados os séculos.
Concentremos, pois, muitas vezes nossos pensamentos, para dirigi-los, pela vontade, em direção ao ideal sonhado. Meditemos nele todos os dias, à hora certa, de preferência pela manhã, quando tudo está sossegado e repousa ainda à nossa volta, nesse momento a que o poeta chama “a hora divina”, quando a Natureza, fresca e descansada, acorda para as claridades do dia.
Nas horas matinais, a alma, pela oração e pela meditação, eleva-se com mais fácil impulso até às alturas donde se vê e compreende que tudo – a vida, os atos, os pensamentos – está ligado a alguma coisa grande e eterna e que habitamos um mundo em que potências invisíveis vivem e trabalham conosco. Na vida mais simples, na tarefa mais modesta, na existência mais apagada, mostram-se, então, faces profundas, uma reserva de ideal, fontes possíveis de beleza. Cada alma pode criar com seus pensamentos uma atmosfera espiritual tão bela, tão resplandecente, como nas paisagens mais encantadoras; e na morada mais mesquinha, no mais miserável tugúrio, há frestas para Deus e para o infinito!
*
Em todas as nossas relações sociais, em nossas relações com os nossos semelhantes, é preciso lembrarmo-nos constantemente de que os homens são viajantes em marcha, ocupando pontos diversos na escala da evolução pela qual todos subimos. Por conseguinte, nada devemos exigir, nada devemos esperar deles que não esteja em relação com seu grau de adiantamento.
A todos devemos tolerância, benevolência e até perdão; porque se nos causam prejuízo, se escarnecem de nós e nos ofendem, é quase sempre pela falta de compreensão e de saber, resultantes de desenvolvimento insuficiente. Deus não pede aos homens senão o que eles têm podido adquirir à custa de lentos e penosos trabalhos. Não temos o direito de exigir mais. Não fomos semelhantes aos mais atrasados deles? Se cada um de nós pudesse ler em seu passado o que foi, o que fez, quanto não seria maior nossa indulgência para com as faltas alheias! Às vezes, também nós carecemos da mesma indulgência que lhes devemos. Sejamos severos conosco e tolerantes com os outros. Instruamo-los, esclareçamo-los, guiemo-los com doçura, é o que a lei de solidariedade nos preceitua.
*
Enfim, é preciso saber suportar todas as coisas com paciência e serenidade. Seja qual for o procedimento de nossos semelhantes para conosco, não devemos conceber nenhuma animosidade ou ressentimento; mas, ao contrário, saibamos fazer reverter em benefício de nossa própria educação moral todas as causas de aborrecimento e aflição. Nenhum revés poderia atingir-nos, se, por nossas vidas anteriores e culpadas, não tivéssemos dado margem à adversidade. É isso o que muitas vezes se deve repetir. Chegaremos, assim, a aceitar todas as provações sem amargura, considerando-as como reparação do passado ou como meio de aperfeiçoamento.
De grau em grau chegaremos, assim, ao sossego de espírito, à posse de nós mesmos, à confiança absoluta no futuro, que dão a força, a quietação, a satisfação íntima, permitindo-nos permanecer firmes no meio das mais duras vicissitudes.
Quando chega a idade, as ilusões e as esperanças vãs caem como folhas mortas; mas as altas verdades aparecem com mais brilho, como as estrelas no céu de inverno através dos ramos nus de nossos jardins.
Pouco importa, então, que o destino não nos tenha oferecido nenhuma glória, nenhum raio de alegria, se tiver enriquecido nossa alma com mais uma virtude, com alguma beleza moral. As vidas obscuras e atormentadas são, às vezes, as mais fecundas, ao passo que as vidas suntuosas nos prendem, bastas vezes e por muito tempo, na corrente formidável de nossas responsabilidades.
A felicidade não está nas coisas externas nem nos acasos do exterior, mas somente em nós mesmos, na vida interna que soubermos criar. Que importa que o céu esteja escuro por cima de nossas cabeças e os homens sejam ruins em volta de nós, se tivermos a luz na fronte, alegria do bem e a liberdade moral no coração? Se, porém, eu tiver vergonha de mim mesmo, se o mal tiver invadido meu pensamento, se o crime e a traição habitarem em mim, todos os favores e todas as felicidades da Terra não me restituirão a paz silenciosa e a alegria da consciência. O sábio cria, desde este mundo, para si mesmo, um refúgio seguro, um lugar sagrado, um retiro profundo aonde não chegam as discórdias e as contrariedades do exterior. Do mesmo modo, na vida do espaço a sanção do dever e a realização da justiça são de ordem inteiramente íntima; cada alma traz em si sua claridade ou sua sombra, seu paraíso ou seu inferno. Mas, lembremo-nos de que nada há irreparável; a situação atual do Espírito inferior não é mais que um ponto quase imperceptível na imensidade de seus destinos.

Léon Denis. Livro : O problema do ser do destino e da dor.

A Vontade


A vontade

O estudo do ser, a que consagramos a primeira parte desta obra, deixou-nos entrever a poderosa rede de forças, de energias ocultas em nós. Mostrou-nos que todo o nosso futuro, em seu desenvolvimento ilimitado, lá está contido no gérmen. As causas da felicidade não se acham em lugares determinados no espaço; estão em nós, nas profundezas misteriosas da alma, o que é confirmado por todas as grandes doutrinas.
“O reino dos céus está dentro de vós”, disse o Cristo.
O mesmo pensamento está por outra forma expresso nos Vedas: “Tu trazes em ti um amigo sublime que não conheces.”
A sabedoria persa não é menos afirmativa: “Vós viveis no meio de armazéns cheios de riquezas e morreis de fome à porta.” (Suffis Ferdousis).
Todos os grandes ensinamentos concordam neste ponto: É na vida íntima, no desabrochar de nossas potências, de nossas faculdades, de nossas virtudes, que está o manancial das felicidades futuras.
Olhemos atentamente para o fundo de nós mesmos, fechemos nosso entendimento às coisas externas e, depois de havermos habituado nossos sentidos psíquicos à escuridade e ao silêncio, veremos surgir luzes inesperadas, ouviremos vozes fortificantes e consoladoras. Mas, há poucos homens que saibam ler em si, que saibam explorar as jazidas que encerram tesouros inestimáveis. Gastamos a vida em coisas banais, improfícuas; percorremos o caminho da existência sem nada saber de nós mesmos, das riquezas psíquicas, cuja valorização nos proporcionaria gozos inumeráveis.
Há em toda alma humana dois centros ou, melhor, duas esferas de ação e expressão. Uma delas, a exterior, manifesta a personalidade, o “eu”, com suas paixões, suas fraquezas, sua mobilidade, sua insuficiência. Enquanto ela for a reguladora de nosso proceder, teremos a vida inferior, semeada de provações e males. A outra, interna, profunda, imutável, é, ao mesmo tempo, a sede da consciência, a fonte da vida espiritual, o templo de Deus em nós. É somente quando esse centro de ação domina o outro, quando suas impulsões nos dirigem, que se revelam nossas potências ocultas e que o Espírito se afirma em seu brilho e beleza. É por ele que estamos em comunhão com “o Pai que habita em nós”, segundo as palavras do Cristo, com o Pai que é o foco de todo o amor, o princípio de todas as ações.
Por um desses centros perpetuamo-nos em mundos materiais, onde tudo é inferioridade, incerteza e dor; pelo outro temos entrada nos mundos celestes, onde tudo é paz, serenidade, grandeza. Somente pela manifestação crescente do Espírito divino em nós chegaremos a vencer o “eu” egoísta, a associar-nos plenamente à obra universal e eterna, a criar uma vida feliz e perfeita.
Por que meio poremos em movimento as potências internas e as orientaremos para um ideal elevado? Pela vontade! Os usos persistentes, tenazes, dessa faculdade soberana permitir-nos-á modificar a nossa natureza, vencer todos os obstáculos, dominar a matéria, a doença e a morte.
É pela vontade que dirigimos nossos pensamentos para um alvo determinado. Na maior parte dos homens os pensamentos flutuam sem cessar. Sua mobilidade constante e sua variedade infinita oferecem limitado acesso às influências superiores. É preciso saber se concentrar, colocar o pensamento acorde com o pensamento divino. Então, a alma humana é fecundada pelo Espírito divino, que a envolve e penetra, tornando-a apta a realizar nobres tarefas, preparando-a para a vida do espaço, cujos esplendores ela começa fracamente a entrever desde este mundo. Os Espíritos elevados vêem e ouvem os pensamentos uns dos outros, com os quais são harmonias penetrantes, ao passo que os nossos são, as mais das vezes, somente discordâncias e confusão. Aprendamos, pois, a servir-nos de nossa vontade e, por ela, a unir nossos pensamentos a tudo o que é grande, à harmonia universal, cujas vibrações enchem o espaço e embalam os mundos.
*
A vontade é a maior de todas as potências; é, em sua ação, comparável ao ímã. A vontade de viver, de desenvolver em nós a vida, atrai-nos novos recursos vitais; tal é o segredo da lei de evolução. A vontade pode atuar com intensidade sobre o corpo fluídico, ativar-lhe as vibrações e, dessa forma, apropriá-lo a um modo cada vez mais elevado de sensações, prepará-lo para mais alto grau de existência.
O princípio de evolução não está na matéria, está na vontade, cuja ação tanto se estende à ordem invisível das coisas como à ordem visível e material. Esta é simplesmente a conseqüência daquela. O princípio superior, o motor da existência, é a vontade. A vontade divina é o supremo motor da vida universal.
O que importa, acima de tudo, é compreender que podemos realizar tudo no domínio psíquico; nenhuma força permanece estéril quando se exerce de maneira constante, visando alcançar um desígnio conforme ao direito e à justiça.
É o que se dá com a vontade; ela pode agir tanto no sono como na vigília, porque a alma valorosa, que para si mesma estabeleceu um objetivo, procura-o com tenacidade em ambas as fases de sua vida e determina assim uma corrente poderosa, que mina devagar e silenciosamente todos os obstáculos.
Com a preservação dá-se o mesmo que com a ação. A vontade, a confiança e o otimismo são outras tantas forças preservadoras, outros tantos baluartes opostos em nós a toda causa de desassossego, de perturbação, interna e externa. Bastam, às vezes, por si sós, para desviar o mal; ao passo que o desânimo, o medo e o mau-humor nos desarmam e nos entregam a ele sem defesa. O simples fato de olharmos de frente para o que chamamos o mal, o perigo, a dor, a resolução de os afrontarmos, de os vencermos, diminuem-lhes a importância e o efeito.
Os americanos têm, com o nome de mind cure (cura mental) ou ciência cristã, aplicado esse método à terapêutica e não se pode negar que os resultados obtidos são consideráveis. Esse método resume-se na fórmula seguinte: “O pessimismo enfraquece; o otimismo fortalece.” Consiste na eliminação gradual do egoísmo, na união completa com a Vontade Suprema, causa das forças infinitas. Os casos de cura são numerosos e apóiam-se em testemunhos irrecusáveis.[i]
De resto, foi esse – em todos os tempos e com formas diversas – o princípio da saúde física e moral.
Na ordem física, por exemplo, não se destroem os infusórios, os infinitamente pequenos, que vivem e se multiplicam em nós; mas se ganham forças para melhor lhes resistir. Da mesma forma, nem sempre é possível, na ordem moral, afastar as vicissitudes da sorte, mas se pode adquirir força bastante para suportá-las com alegria, sobrepujá-las com esforço mental, dominá-las por tal forma que percam todo o aspecto ameaçador, para se transformarem em auxiliares de nosso progresso e de nosso bem.
Em outra parte demonstramos, apoiando-nos em fatos recentes, o poder da alma sobre o corpo na sugestão e auto-sugestão.[ii] Limitar-nos-emos a lembrar outros exemplos ainda mais concludentes.
Louise Lateau, a estigmatizada de Bois-d'Haine, cujo caso foi estudado por uma comissão da Academia de Medicina da Bélgica, fazia, meditando sobre a Paixão do Cristo, correr à vontade o sangue dos seus pés, mãos e lado esquerdo. A hemorragia durava muitas horas.[iii]
Pierre Janet observou casos análogos na Salpêtrière, em Paris. Uma extática apresentava estigmas nos pés quando lhos metiam num aparelho.[iv]
Louis Vivé, em suas crises, a si mesmo dava ordem de sangrar-se em horas determinadas e o fenômeno produzia-se com exatidão.
Encontra-se a mesma ordem de fatos em certos sonhos, bem como nos fenômenos chamados “noevi” ou sinais de nascença.[v] Em todos os domínios da observação, achamos a prova de que a vontade impressiona a matéria e pode submetê-la a seus desígnios. Essa lei manifestas-se com mais intensidade ainda no campo da vida invisível. É em virtude das mesmas regras que os Espíritos criam as formas e os atributos que nos permitem reconhecê-los nas sessões de materialização.
Pela vontade criadora dos grandes Espíritos e, acima de tudo, do Espírito divino, uma vida repleta de maravilhas desenvolve-se e se estende, de degrau em degrau, até ao infinito, nas profundezas do céu, vida incomparavelmente superior a todas as maravilhas criadas pela arte humana e tanto mais perfeita quanto mais se aproxima de Deus.
Se o homem conhecesse a extensão dos recursos que nele germinam, talvez ficasse deslumbrado e, em vez de se julgar fraco e temer o futuro, compreenderia a sua força, sentiria que ele próprio pode criar esse futuro.
Cada alma é um foco de vibrações que a vontade põe em movimento. Uma sociedade é um agrupamento de vontades que, quando estão unidas, concentradas num mesmo fito, constituem centro de forças irresistíveis. As humanidades são focos ainda mais poderosos, que vibram através da imensidade.
Pela educação e exercício da vontade, certos povos chegam a resultados que parecem prodígios.
A energia mental, o vigor de espírito dos japoneses, seu desprezo pela dor, sua impassibilidade diante da morte, causaram pasmo aos ocidentais e foram para eles uma espécie de revelação. O japonês habitua-se desde a infância a dominar suas impressões, a nada deixar trair dos desgostos, das decepções, dos sentimentos por que passa, a ficar impenetrável, a não se queixar nunca, a nunca se encolerizar, a receber sempre com boa cara os reveses.
Tal educação retempera os ânimos e assegura a vitória em todos os terrenos. Na grande tragédia da existência e da História, o heroísmo representa o papel principal e é a vontade que faz os heróis.
Esse estado de espírito não é privilégio dos japoneses. Os hindus chegam também, com o emprego do que eles chamam a hatha-yoga, ou exercício da vontade, a suprimir em si o sentimento da dor física.
Numa conferência feita no Instituto Psicológico de Paris e que Les Annales des Sciences Psychiques, de novembro de 1906, reproduziram, Annie Besant cita vários casos notáveis devidos a essas práticas persistentes.
Um hindu possuirá bastante poder de vontade para conservar um braço erguido até se atrofiar. Outro deitar-se-á numa cama eriçada de pontas de ferro sem sentir nenhuma dor. Encontra-se mesmo esse poder em pessoas que não praticaram a hatha-yoga. A conferencista cita o caso de um de seus amigos que, tendo ido à caça do tigre e tendo recebido, por causa da imperícia de um caçador, uma bala na coxa, recusou submeter-se à ação do clorofórmio para a extração do projétil, afirmando ao cirurgião que teria suficiente domínio sobre si mesmo para ficar imóvel e impassível durante a operação. Esta efetuou-se; o ferido tinha plena consciência de si mesmo e não fez um só movimento. “O que para outro teria sido uma tortura atroz, nada era para ele; havia fixado sua consciência na cabeça e nenhuma dor sentira. Sem ser yogui, possuía o poder de concentrar a vontade, poder que, nas Índias, se encontra freqüentemente.”
Pelo que se acaba de ler, pode-se julgar quão diferente dos nossos são a educação mental e o objetivo dos asiáticos. Tudo, neles, tende a desenvolver o homem interior, sua vontade, sua consciência, à vista dos vastos ciclos de evolução que se lhes abrem, enquanto o europeu adota, de preferência, como objetivo, os bens imediatos, limitados pelo círculo da vida presente. Os alvos em que se põe à mira nos dois casos são diferentes; e essa divergência resulta da concepção essencialmente diferente do papel do ser no universo. Os asiáticos consideraram por muito tempo, com um espanto misturado de piedade, nossa agitação febril, nossa preocupação pelas coisas contingentes e sem futuro, nossa ignorância das coisas estáveis, profundas, indestrutíveis, que constituem a verdadeira força do homem. Daí o contraste surpreendente que oferecem as civilizações do Oriente e do Ocidente. A superioridade pertence evidentemente à que abarca mais vasto horizonte e se inspira nas verdadeiras leis da alma e de seu futuro. Pode ter parecido atrasada aos observadores superficiais, enquanto as duas civilizações fizeram paralelamente sua evolução, sem que entre uma e outra houvesse choques excessivos. Mas, desde que as necessidades da existência e a pressão crescente dos povos do Ocidente forçaram os asiáticos a entrar na corrente dos progressos modernos – tal é o caso dos japoneses –, pode-se ver que as qualidades eminentes dessa raça, manifestando-se no domínio material, podiam assegurar-lhes igualmente a supremacia. Se esse estado de coisas se acentuar, como é de recear, se o Japão conseguir arrastar consigo todo o Extremo Oriente, é possível que mude o eixo da dominação do mundo e passe de uma raça para outra, principalmente se a Europa persistir em não se interessar pelo que constitui o mais alto objetivo da vida humana e em contentar-se com um ideal inferior e quase bárbaro.
Mesmo restringindo o campo de nossas observações à raça branca, aí vamos verificar também que as nações de vontade mais firme, mais tenaz, vão pouco a pouco tomando predomínio sobre as outras. É o que se dá com os povos anglo-saxônios e germânicos. Estamos vendo o que a Inglaterra tem podido realizar, através dos tempos, para execução de seu plano de ação. A Alemanha, com seu espírito de método e continuidade, soube criar e manter uma poderosa coesão em detrimento de seus vizinhos, não menos bem dotados do que ela, mas menos resolutos e perseverantes. A América do Norte prepara também para si um grande lugar no concerto dos povos.
A França é, pelo contrário, uma nação de vontade fraca e volúvel. Os franceses passam de uma idéia a outra com extrema mobilidade e a esse defeito não são estranhas as vicissitudes de sua História. Seus primeiros impulsos são admiráveis, vibrantes de entusiasmo. Mas, se com facilidade empreendem uma obra, com a mesma facilidade a abandonam, quando o pensamento já a vai edificando e os materiais se vão reunindo silenciosamente ao seu derredor. Por isso o mundo apresenta, por toda parte, vestígios meio apagados de sua ação passageira, de seus esforços depressa interrompidos.
Além disso, o pessimismo e o materialismo, que cada vez mais se alastram entre eles, tendem também a amesquinhar as qualidades generosas de sua raça. O positivismo e o agnosticismo trabalham sistematicamente para apagar o que restava de viril na alma francesa; e os recursos profundos do espírito francês atrofiam-se por falta de uma educação sólida e de um ideal elevado.
Aprendamos, pois, a criar uma “vontade de potência”, de natureza mais elevada do que a sonhada por Nietzsche. Fortaleçamos em torno de nós os espíritos e os corações, se não quisermos ver nossas sociedades votadas à decadência irremediável.
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Querer é poder! O poder da vontade é ilimitado. O homem, consciente de si mesmo, de seus recursos latentes, sente crescerem suas forças na razão dos esforços. Sabe que tudo o que de bem e bom desejar há de, mais cedo ou mais tarde, realizar-se inevitavelmente, ou na atualidade ou na série das suas existências, quando seu pensamento se puser de acordo com a Lei divina. E é nisso que se verifica a palavra celeste: “A fé transporta montanhas.”
Não é consolador e belo poder dizer: “Sou uma inteligência e uma vontade livres; a mim mesmo me fiz, inconscientemente, através das idades; edifiquei lentamente minha individualidade e liberdade e agora conheço a grandeza e a força que há em mim. Amparar-me-ei nelas; não deixarei que uma simples dúvida as empane por um instante sequer e, fazendo uso delas com o auxílio de Deus e de meus irmãos do espaço, elevar-me-ei acima de todas as dificuldades; vencerei o mal em mim; desapegar-me-ei de tudo o que me acorrenta às coisas grosseiras para levantar o vôo para os mundos felizes!”
Vejo claramente o caminho que se desenrola e que tenho de percorrer. Esse caminho atravessa a extensão ilimitada e não tem fim; mas, para guiar-me na estrada infinita, tenho um guia seguro – a compreensão da lei de vida, progresso e amor que rege todas as coisas; aprendi a conhecer-me, a crer em mim e em Deus. Possuo, pois, a chave de toda elevação e, na vida imensa que tenho diante de mim, conservar-me-ei firme, inabalável na vontade de enobrecer-me e elevar-me, cada vez mais; atrairei, com o auxílio de minha inteligência, que é filha de Deus, todas as riquezas morais e participarei de todas as maravilhas do Cosmo.
Minha vontade chama-me: “Para frente, sempre para frente, cada vez mais conhecimento, mais vida, vida divina!” E com ela conquistarei a plenitude da existência, construirei para mim uma personalidade melhor, mais radiosa e amante. Saí para sempre do estado inferior do ser ignorante, inconsciente de seu valor e poder; afirmo-me na independência e dignidade de minha consciência e estendo a mão a todos os meus irmãos, dizendo-lhes:
Despertai de vosso pesado sono; rasgai o véu material que vos envolve, aprendei a conhecer-vos, a conhecer as potências de vossa alma e a utilizá-las. Todas as vozes da Natureza, todas as vozes do espaço vos bradam: “Levantai-vos e marchai! Apressai-vos para a conquista de vossos destinos!”
A todos vós que vergais ao peso da vida, que, julgando-vos sós e fracos, vos entregais à tristeza, ao desespero, ou que aspirais ao nada, venho dizer: “O nada não existe; a morte é um novo nascimento, um encaminhar para novas tarefas, novos trabalhos, novas colheitas; a vida é uma comunhão universal e eterna que liga Deus a todos os seus filhos.”
A vós todos, que vos credes gastos pelos sofrimentos e decepções, pobres seres aflitos, corações que o vento áspero das provações secou; Espíritos esmagados, dilacerados pela roda de ferro da adversidade, venho dizer-vos:
“Não há alma que não possa renascer, fazendo brotar novas florescências. Basta-vos querer para sentirdes o despertar em vós de forças desconhecidas. Crede em vós, em vosso rejuvenescimento em novas vidas; crede em vossos destinos imortais. Crede em Deus, Sol dos sóis, foco imenso, do qual brilha em vós uma centelha, que se pode converter em chama ardente e generosa!
“Sabei que todo homem pode ser bom e feliz; para vir a sê-lo basta que o queira com energia e constância. A concepção mental do ser, elaborada na obscuridade das existências dolorosas, preparada pela vagarosa evolução das idades, expandir-se-á à luz das vidas superiores e todos conquistarão a magnífica individualidade que lhes está reservada.
“Dirigi incessantemente vosso pensamento para esta verdade: podeis vir a ser o que quiserdes. E sabei querer ser cada vez maiores e melhores. Tal é a noção do progresso eterno e o meio de realizá-lo; tal é o segredo da força mental, da qual emanam todas as forças magnéticas e físicas. Quando tiverdes conquistado esse domínio sobre vós mesmos, não mais tereis que temer os retardamentos nem as quedas, nem as doenças, nem a morte; tereis feito de vosso “eu” inferior e frágil uma alta e poderosa individualidade!”
XXI

Léon Denis.

[i]    Ver W. James, Reitor da Universidade Harvard, L'Expérience Religieuse, págs. 86, 87. Tradução francesa de Abauzit. Félix Alcan, editor, Paris, 1906.
[ii]    Ver Depois da Morte, Cap. XXXII, “A vontade e os fluidos” e No Invisível, cap. XV.
[iii]   Dr. Warlomont - Louise Lateau, la stigmatisée de Bois-d'Haine, Bruxelas, 1873.
[iv]   P. Janet, “Une extatique”, Bulletin de 1'Institut Psychologique, julho, agosto, setembro de 1901.
[v]    Ver, entre outros, o Bulletin de la Société Psychique de Marseille, outubro de 1903.