Artigo publicado no século 18, no jornal "O Paiz", no Rio de Janeiro
Já como temos provado que do espaço nos vêm revelar espíritos, que foram nossos conhecidos em vida; que não há nisso fraudes satânicas, porque Satã é uma invenção humana, temos a questão das comunicações espíritas colocadas em condições idênticas para o materialista, para o católico, para todo ser racional, os quais não procuram fugir ao conhecimento da Verdade.Posto isto, a Verdade das manifestações dos mortos não é hoje um mistério; é patente a quem quiser ver, como temos dito e repetido à sociedade.
O mais refratário, se fizer a experiência, será convencido, porque dia-a-dia colherá diversas provas de ser o espírito desencarnado quem se manifesta.
Por este modo, teremos provado experimentalmente: 1º) que existe o espírito; 2º) que o espírito sobrevive à morte do corpo; 3º) que, separado do corpo, continua, ou pode continuar, em constante comunicação com os vivos.
Entretanto, cumpre fazer notar que o “eu” humano, desembaraçado da prisão corpórea, adquire maior lucidez para descortinar os horizontes da criação, cada um na esfera de seu progresso.
Assim ensinam as comunicações de além-túmulo; estas mostram criaturas, que foram estúpidas e ignorantes na vida, dando, do espaço, provas de muita compreensão e saber.
As lições dos espíritos têm, pois, um alcance que não pode ser comparado ao das lições dos nossos sábios terrenos: primus, (primeiro) porque eles falam o que vêm; sécundus, (segundo) porque os sábios da Terra falam o que conjecturam.
É desnecessário dizermos que nos referimos às coisas do mundo invisível ou dos espíritos.
A palavra dos espíritos tem, portanto, tanta ou maior autoridade sobre as coisas da outra vida, como tem a do sábio sobre as coisas da Ciência que professa.
Podem, ambos, enganar-se, mas ali está o corretivo que é o criterium (critério) absoluto da Verdade.
Além de que, tratando-se de um fato que afeta, pessoalmente, todos os espíritos, isto é, o de terem eles tido mais que uma existência, seu depoimento é de visu, (por ter visto) quando o parecer do sábio é baseado em conjecturas e provas indiretas.
Se, pois, não um, porém muitos, mas se todos os espíritos afirmarem que têm tido mais de uma experiência corpórea, a lei das reencarnações tem, ipso facto, (por isso mesmo) passado pela prova experimental.
A Doutrina Espírita é a codificação dos ensinos dados aos homens pelos espíritos desencarnados, que se dizem mensageiros das Verdades prometidas pelo Cristo a seus discípulos.
Nessa Doutrina, firmada no ensino dos espíritos reveladores, está o principio da pluralidade das existências, sem a qual, como foi demonstrado no principio desta exposição, nada se pode explicar da vida humana, sem se ferirem os divinos atributos.
Daí, vem-nos um valioso testemunho, uníssono e autorizado pela superioridade dos espíritos que o deram.
Como, porém, nosso fim, hoje, não é apelar para a autoridade de quem quer que seja, mas, sim, dar uma prova experimental ao alcance de quem quiser observar, falaremos do que temos visto e pode ser visto por quem duvidar.
O estudo das obsessões, se não aceitarmos o ensino que nos vêm dar os luminares do espaço, é o que mais, eficazmente, separa a questão.
Trata-se de uma moça de família muito conhecida na grande roda da Corte, e sofre perseguição da parte de um espírito perverso, o qual a levou ao estado de loucura.
Um dia, o espírito da pobre vítima desprende-se, momentaneamente, do corpo, que jaz em sono, e vai a um Centro manifestar suas dores e pedir proteção.
Ali conta a sua história, que é a seguinte:
“Há séculos era eu uma moça cristã, devotada à caridade, por índole, e porque seguia os exemplos de meu bom pai:
Um homem (dá o nome) abusou de minha inocência, e, coagido por meu pai, reparou o mal que me fez, porém me tratou de modo a reduzir-me ao desespero.
Por fim, levou sua danação a abusar da própria filha, de minha filha, que era a minha única felicidade!
Tinha resistido a tudo; mas aquele golpe prostrou-me; arrastou-me ao suicídio.
Sofri no espaço castigos indescritíveis, até que Deus foi servido compadecer-se de mim, dando-me outra existência, para nela eu reparar as faltas do passado.
Prometi fazê-lo, mas não tive a força de cumprir o que prometi.
Degradei-me a ponto de fazer-me à favorita do rei; mas não foi isso o pior. O pior foi ter abusado de meu poder para fazer mal aos meus inimigos, e, especialmente, ao que fora meu marido.
Morri nesse estado de reincidência e sofri torturas atrozes, até que, arrependida, obtive a graça da presente encarnação para resgatar por boas obras meu negro passado.
Minha missão foi sofrer tanto quanto fiz sofrer e hoje tremo em pensar que ainda posso desfalecer”
Aquele desgraçado espírito que, sem nenhum interesse, contou-nos a história de três das suas existências corpóreas, deixou-nos consternados.
Imediatamente, o obsessor, aquele que perseguia a pobre moça, para se vingar do mal que lhe fizera a favorita, apareceu pelo mesmo médium, jurando fazer o mal à sua vitima até a morte, e dizendo a razão de tanto ódio.
O que ele contou conferia, exatamente, com o que ela havia contado!
Qual o positivista que poderá resistir a uma prova destas, e a três e quatro provas iguais, se tanto julgar preciso?
Há, por aí, mais de um grupo que faz trabalhos de obsediados.
Não faltam, pois, a quem tiver boa vontade, meios de verificar por si a exatidão de nossos estudos experimentais.
Indicamos, de preferência, os trabalhos de obsessões, porque por eles a prova é certa, visto que a obsessão é sempre obra de vingança por ofensas de uma vida anterior.
Aí, o observador não tem muito que esperar.
Aritgo escrito por Bezerra de Menezes quando ainda encarnado.
Texto retirado do site Irmã Clara