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segunda-feira, 26 de julho de 2021

LEIS MUTÁVEIS E LEIS IMUTÁVEIS:"Sempre houve nítida confusão entre as leis trazidas por Moisés e a revelação da Verdade consumada, através do advento de Jesus Cristo."Porque a lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo." - (João, 1:17)"

 


Sempre houve nítida confusão entre as leis trazidas por Moisés e a revelação da Verdade consumada, através do advento de Jesus Cristo.
"Porque a lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo." - (João, 1:17)


Muitas religiões, talvez no intuito de procurar servir melhor os seus interesses, fundiram tudo num só amálgama, de onde surgiram todos os problemas de intolerância, perseguição, torturas e mortes, ocorridas no decorrer dos tempos, principalmente na Idade Média.

Há necessidade, entretanto, de estabelecer uma linha divisória entre uma e outra, pois as leis legisladas por Moisés, abstração feita do Decálogo (os Dez Mandamentos), recebido, mediunicamente, no Monte Sinai, foram quase todas de caráter transitório, ao passo que as verdades reveladas por Jesus Cristo são imutáveis.

Há, portanto, um conflito entre o que é mutável, que deve variar com a evolução, e o que é eterno, que jamais pode sofrer alteração, porque já é perfeito.

O próprio Mestre defrontou-se com problemas terríveis, quando de sua peregrinação terrena, pelo fato de os seus contemporâneos, em sua maioria, terem dado foros de leis de origem divina e imutável a todas as leis estabelecidas por Moisés.

Enquanto Moisés ordenava que as mulheres apanhadas em flagrante adultério fossem mortas a pedrada, Jesus Cristo dava proteção a uma mulher adúltera, fazendo com que os seus acusadores se afastassem, enquanto proferia a célebre frase: jogue a primeira pedra quem se julgar sem pecados.

Se Moisés proibiu a invocação dos chamados mortos, devido às deturpações existentes na época, quando essa invocação, em parte, era feita para fins ilícitos, Jesus Cristo promoveu uma autêntica sessão espírita, confabulando com os Espíritos do próprio Moisés e de Elias, no Monte Tabor. Além disso, o Mestre jamais lançou qualquer empecilho ao intercâmbio entre os Espíritos encarnados e desencarnados.

No Antigo Testamento, Moisés prescreveu a incrível lei do olho por olho, dente por dente. Entretanto, no Novo Testamento, Jesus Cristo impôs princípios que derrogam essa lei, estabelecendo que devemos perdoar aos nossos inimigos, não apenas uma vez, mas setenta vezes sete vezes.

De forma idêntica, no Antigo Testamento há uma prescrição sobre o apedrejamento de filhos rebeldes, contumazes, prescrição essa que foi invalidada por Jesus, quando recomendou a necessidade da tolerância, da complacência.

A crença de que as leis transitórias, estabelecidas por Moisés, deveriam ter caráter eterno, representou tremendo óbice ao desempenho da missão transcendental de Jesus Cristo. Os ferrenhos inimigos do Mestre, dentre eles os escribas, os fariseus e os principais dos sacerdotes, proclamavam que Jesus estava subvertendo as leis de Moisés, tendo isso sido um dos argumentos mais usados nas acusações que lhe foram feitas, e motivaram a sua condenação.

Os inimigos do Mestre viviam de espreita, formulando indagações capciosas sobre vários aspectos daquelas leis, até sobre o trabalho aos sábados, a lavagem das mãos, o pagamento de tributo aos povos estrangeiros, perguntas essas que não foram respondidas de modo direto por Jesus, uma vez que Ele via os pensamentos mais íntimos daqueles que as formulavam, cujo escopo maior era poder acusá-lo perante as autoridades políticas (os romanos) e as autoridades religiosas (os membros do Sinédrio).

Paulo A. Godoy

terça-feira, 21 de maio de 2019

Discurso de Estevão


[...]Moisés foi a porta, o Cristo é a chave.[...]Então, compreenderemos que o Evangelho é a resposta de Deus aos nossos apelos, em face da Lei de Moisés[...]O Cristo é a substância da nossa liberdade.Dia virá em que o seu reino abrangerá os filhos do Oriente e do Ocidente, num amplexo de fraternidade e de luz.Então, compreenderemos que o Evangelho é a resposta de Deus aos nossos apelos, em face da Lei de Moisés. A Lei é humana; o Evangelho é divino.Moisés é o condutor; O Cristo,Salvador.Os profetas foram mordomos fiéis;  Jesus, porém, é o Senhor da Vinha.



Emmanuel  em “Paulo e Estevão”, psicografia de Chico Xavier:


[...] “Meus caros, eis que chegados são os tempos em que o Pastor vem reunir as ovelhas em torno do seu zelo sem limites. Éramos escravos das imposições pelos raciocínios, mas hoje somos livres pelo Evangelho do Cristo Jesus.

Nossa raça guardou, de épocas imemoriais, a luz do Tabernáculo e Deus nos enviou seu Filho sem mácula. Onde estão, em Israel, os que ainda não ouviram as mensagens da Boa Nova? Onde os que ainda não se felicitaram com as alegrias da nova fé ? Deus enviou sua resposta divina aos nossos anseios milenários, a revelação dos Céus aclara os nossos caminhos. Consoante as promessas da profecia de todos quantos choraram e sofreram por amor ao Eterno, o Emissário Divino veio até ao antro de nossas dores amargas e justas, para iluminar a noite de nossas almas impenitentes, para que se nos desdobrassem os horizontes da redenção.
O Messias atendeu aos problemas angustiosos da criatura humana, com a solução do amor que redime todos os seres e purifica todos os pecados.

Mestre do trabalho e da perfeita alegria da vida, suas bênçãos representam nossa herança.

Moisés foi a porta, o Cristo é a chave.

Com a coroa do martírio adquiriu, para nós outros, a láurea imortal da salvação. Éramos cativos do erro, mas seu sangue nos libertou. Na vida e na morte, nas alegrias de Canaã, como nas angústias do calvário, pelo que fez e por tudo que deixou de fazer em sua gloriosa passagem pela Terra, Ele é o filho de Deus iluminando o caminho.

Acima de todas as cogitações humanas, fora de todos os atritos das ambições terrestres, seu reino de paz e luz esplende na consciência das almas redimidas. Ó Israel! tu que esperaste por tantos séculos, tuas angústias e dolorosas experiências não foram vãs!...

Enquanto outros povos se debatiam nos interesses inferiores, cercando os falsos ídolos de falsa adoração e promovendo, simultaneamente, as guerras de extermínio com requintes de perversidade, tu, Israel, esperaste o Deus justo. Carregaste os grilhões da impiedade humana, na desolação e no deserto; converteste em cânticos de esperança as ignomínias do cativeiro; sofreste o opróbrio dos poderosos da Terra; viste os teus varões e as tuas mulheres, os teus jovens  e as tuas crianças exterminados sob o guante das perseguições, mas nunca descreste da justiça dos Céus! Como o Salmista, afirmaste com teu heroísmo que o amor e a misericórdia vibram em todos os teus dias! Choraste no caminho longo dos séculos, com as tuas amarguras e feridas.

Como  Job, viveste da tua fé, subjugada pelas algemas do mundo, mas já recebeste o sagrado depósito de  Jeová - O Deus único!...

Oh! esperanças eternas de Jerusalém, cantai de júbilo, regozijai-vos, embora não tivéssemos sido fiéis inteiramente à compreensão, por conduzir o Cordeiro Amado aos braços da cruz. Suas chagas, todavia, nos compraram para o céu, com o alto preço do sacrifício supremo!...

Isaías o contemplou, vergado ao peso de nossas iniquidades, florescendo na aridez dos nossos corações, qual flor do céu num solo adusto, mas, revelou também, que, desde a hora da sua extrema renúncia, na morte infamante, a sagrada causa divina prosperaria para sempre em suas mãos.

Amados, onde andarão aquelas ovelhas que não souberam ou não puderam esperar?

Procuremo-las para o Cristo, como dracmas perdidas do seu desvelado amor!

Anunciemos a todos os desesperados as glórias e os júbilos do seu reino de paz e de amor imortal!...

A lei nos retinha no espírito de nação, sem conseguir apagar de nossa alma o desejo humano de supremacia na Terra. Muitos de nossa raça hão esperado um príncipe dominador, que penetrasse em triunfo a cidade santa, com os troféus sangrentos de uma batalha de ruína e morte; que nos fizesse empunhar um cetro odioso de forças e tirania. Mas o Cristo nos libertou para sempre. Filho de Deus e emissário da sua glória, seu maior mandamento confirma Moisés, quando recomenda o amor a Deus acima de todas as coisas, de todo o coração e  entendimento, acrescentando, no mais formoso decreto divino, que nos amemos uns aos outros, como Ele próprio nos amou.

Seu reino é o da consciência reta e do coração purificado ao serviço de Deus. Suas portas constituem o maravilhoso caminho da redenção espiritual, abertas de par em par aos filhos de todas as nações.

Seus discípulos amados virão de todos os quadrantes.

Fora de suas luzes haverá sempre tempestade para o viajor vacilante da Terra que, sem o Cristo, cairá vencido nas batalhas infrutuosas e destruidoras das melhores energias do coração. Somente o seu Evangelho confere paz e liberdade. É o tesouro do mundo.

Em sua glória sublime os justos encontrarão a coroa de triunfo, os infortunados o consolo, os tristes a fortaleza do bom ânimo, os pecadores a senda redentora dos resgates misericordiosos.

É verdade que o não havíamos compreendido. No grande testemunho, os homens não entenderam sua divina humildade e os mais afeiçoados o abandonaram.

 Suas chagas clamaram pela nossa indiferença criminosa.

Ninguém poderá eximir-se dessa culpa, visto sermos todos herdeiros das suas dádivas celestiais. Onde todos gozam do benefício, ninguém pode fugir à responsabilidade.

Essa a razão por que respondemos pelo crime do Calvário. Mas, suas feridas foram a nossa luz, seus martírios o mais ardente apelo de amor, seu exemplo o roteiro aberto para o bem sublime e imortal.

Vinde, pois, comungar conosco à mesa do banquete divino!

Não mais as festas do pão putrescível, mas o eterno alimento da alegria e da vida...

 Não mais o vinho que fermenta, mas o néctar confortante da alma, diluído nos perfumes do amor imortal.

  O Cristo é a substância da nossa liberdade.

 Dia virá em que o seu reino abrangerá os filhos do Oriente e do Ocidente, num amplexo de fraternidade e de luz.

 Então, compreenderemos que o Evangelho é a resposta de Deus aos nossos apelos, em face da Lei de Moisés.

  A Lei é humana; o Evangelho é divino.

 Moisés é o condutor; O Cristo, o Salvador.
Os profetas foram mordomos fiéis;  Jesus, porém, é o Senhor da Vinha.

Com a Lei, éramos servos; com o Evangelho, somos filhos livres de um Pai amoroso e justo!...”




Trecho do Livro Paulo e Estevão , pág. 87 à 90

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Discurso de Estevão



[...]Moisés foi a porta, o Cristo é a chave.[...]Então, compreenderemos que o Evangelho é a resposta de Deus aos nossos apelos, em face da Lei de Moisés[...]O Cristo é a substância da nossa liberdade.Dia virá em que o seu reino abrangerá os filhos do Oriente e do Ocidente, num amplexo de fraternidade e de luz.Então, compreenderemos que o Evangelho é a resposta de Deus aos nossos apelos, em face da Lei de Moisés. A Lei é humana; o Evangelho é divino.Moisés é o condutor; O Cristo,Salvador.Os profetas foram mordomos fiéis;  Jesus, porém, é o Senhor da Vinha.



Emmanuel  em “Paulo e Estevão”, psicografia de Chico Xavier:


[...] “Meus caros, eis que chegados são os tempos em que o Pastor vem reunir as ovelhas em torno do seu zelo sem limites. Éramos escravos das imposições pelos raciocínios, mas hoje somos livres pelo Evangelho do Cristo Jesus.

Nossa raça guardou, de épocas imemoriais, a luz do Tabernáculo e Deus nos enviou seu Filho sem mácula. Onde estão, em Israel, os que ainda não ouviram as mensagens da Boa Nova? Onde os que ainda não se felicitaram com as alegrias da nova fé ? Deus enviou sua resposta divina aos nossos anseios milenários, a revelação dos Céus aclara os nossos caminhos. Consoante as promessas da profecia de todos quantos choraram e sofreram por amor ao Eterno, o Emissário Divino veio até ao antro de nossas dores amargas e justas, para iluminar a noite de nossas almas impenitentes, para que se nos desdobrassem os horizontes da redenção.
O Messias atendeu aos problemas angustiosos da criatura humana, com a solução do amor que redime todos os seres e purifica todos os pecados.

Mestre do trabalho e da perfeita alegria da vida, suas bênçãos representam nossa herança.

Moisés foi a porta, o Cristo é a chave.

Com a coroa do martírio adquiriu, para nós outros, a láurea imortal da salvação. Éramos cativos do erro, mas seu sangue nos libertou. Na vida e na morte, nas alegrias de Canaã, como nas angústias do calvário, pelo que fez e por tudo que deixou de fazer em sua gloriosa passagem pela Terra, Ele é o filho de Deus iluminando o caminho.

Acima de todas as cogitações humanas, fora de todos os atritos das ambições terrestres, seu reino de paz e luz esplende na consciência das almas redimidas. Ó Israel! tu que esperaste por tantos séculos, tuas angústias e dolorosas experiências não foram vãs!...

Enquanto outros povos se debatiam nos interesses inferiores, cercando os falsos ídolos de falsa adoração e promovendo, simultaneamente, as guerras de extermínio com requintes de perversidade, tu, Israel, esperaste o Deus justo. Carregaste os grilhões da impiedade humana, na desolação e no deserto; converteste em cânticos de esperança as ignomínias do cativeiro; sofreste o opróbrio dos poderosos da Terra; viste os teus varões e as tuas mulheres, os teus jovens  e as tuas crianças exterminados sob o guante das perseguições, mas nunca descreste da justiça dos Céus! Como o Salmista, afirmaste com teu heroísmo que o amor e a misericórdia vibram em todos os teus dias! Choraste no caminho longo dos séculos, com as tuas amarguras e feridas.

Como  Job, viveste da tua fé, subjugada pelas algemas do mundo, mas já recebeste o sagrado depósito de  Jeová - O Deus único!...

Oh! esperanças eternas de Jerusalém, cantai de júbilo, regozijai-vos, embora não tivéssemos sido fiéis inteiramente à compreensão, por conduzir o Cordeiro Amado aos braços da cruz. Suas chagas, todavia, nos compraram para o céu, com o alto preço do sacrifício supremo!...

Isaías o contemplou, vergado ao peso de nossas iniquidades, florescendo na aridez dos nossos corações, qual flor do céu num solo adusto, mas, revelou também, que, desde a hora da sua extrema renúncia, na morte infamante, a sagrada causa divina prosperaria para sempre em suas mãos.

Amados, onde andarão aquelas ovelhas que não souberam ou não puderam esperar?

Procuremo-las para o Cristo, como dracmas perdidas do seu desvelado amor!

Anunciemos a todos os desesperados as glórias e os júbilos do seu reino de paz e de amor imortal!...

A lei nos retinha no espírito de nação, sem conseguir apagar de nossa alma o desejo humano de supremacia na Terra. Muitos de nossa raça hão esperado um príncipe dominador, que penetrasse em triunfo a cidade santa, com os troféus sangrentos de uma batalha de ruína e morte; que nos fizesse empunhar um cetro odioso de forças e tirania. Mas o Cristo nos libertou para sempre. Filho de Deus e emissário da sua glória, seu maior mandamento confirma Moisés, quando recomenda o amor a Deus acima de todas as coisas, de todo o coração e  entendimento, acrescentando, no mais formoso decreto divino, que nos amemos uns aos outros, como Ele próprio nos amou.

Seu reino é o da consciência reta e do coração purificado ao serviço de Deus. Suas portas constituem o maravilhoso caminho da redenção espiritual, abertas de par em par aos filhos de todas as nações.

Seus discípulos amados virão de todos os quadrantes.

Fora de suas luzes haverá sempre tempestade para o viajor vacilante da Terra que, sem o Cristo, cairá vencido nas batalhas infrutuosas e destruidoras das melhores energias do coração. Somente o seu Evangelho confere paz e liberdade. É o tesouro do mundo.

Em sua glória sublime os justos encontrarão a coroa de triunfo, os infortunados o consolo, os tristes a fortaleza do bom ânimo, os pecadores a senda redentora dos resgates misericordiosos.

É verdade que o não havíamos compreendido. No grande testemunho, os homens não entenderam sua divina humildade e os mais afeiçoados o abandonaram.

 Suas chagas clamaram pela nossa indiferença criminosa.

Ninguém poderá eximir-se dessa culpa, visto sermos todos herdeiros das suas dádivas celestiais. Onde todos gozam do benefício, ninguém pode fugir à responsabilidade.

Essa a razão por que respondemos pelo crime do Calvário. Mas, suas feridas foram a nossa luz, seus martírios o mais ardente apelo de amor, seu exemplo o roteiro aberto para o bem sublime e imortal.

Vinde, pois, comungar conosco à mesa do banquete divino!

Não mais as festas do pão putrescível, mas o eterno alimento da alegria e da vida...

 Não mais o vinho que fermenta, mas o néctar confortante da alma, diluído nos perfumes do amor imortal.

  O Cristo é a substância da nossa liberdade.

 Dia virá em que o seu reino abrangerá os filhos do Oriente e do Ocidente, num amplexo de fraternidade e de luz.

 Então, compreenderemos que o Evangelho é a resposta de Deus aos nossos apelos, em face da Lei de Moisés.

  A Lei é humana; o Evangelho é divino.

 Moisés é o condutor; O Cristo, o Salvador.
Os profetas foram mordomos fiéis;  Jesus, porém, é o Senhor da Vinha.

Com a Lei, éramos servos; com o Evangelho, somos filhos livres de um Pai amoroso e justo!...”


Trecho do Livro Paulo e Estevão , pág. 87 à 90

sábado, 25 de janeiro de 2014

DESIGUALDADE

DESIGUALDADE

Emmanuel

Estudando o problema da desigualdade  no campo da vida humana, mentalizemos grande oficina destinada à produção de reconforto e progresso.
 
Todos os servidores são aí admitidos em bases iguais, no capítulo do direito.
 
Todavia, no recinto consagrado às obrigações que o regulamento lhes traça, entrega-se cada grupo a diverso procedimento.
 
Aqui vemos aqueles que, ao invés de utilizarem o instrumento que a administração lhes confia, dele retiram peças valiosas com que se desmandam na prática da desesperação e da delinqüência.
 
Além, encontramos trabalhadores desatinados que maldizem os tesouros do tempo, espalhando o pessimismo e a ociosidade, gerando indisciplina e perturbação.
 
Surpreendemos os que dilapidam os patrimônios da casa que lhes cabe prestigiar e defender, tanto quanto os que solapam os interesses morais do templo de trabalho que os recebeu para a extensão de valores e benefícios.
 
Decerto que a esses apenas adjudicar-se-á os vexames da dívida a que se empenham, de vez que a desigualdade infeliz com que assinalam a própria ficha não procede senão deles mesmos, nas lamentáveis diretrizes que adotam nas linhas da experiência.
 
q
 
Temos no estudo simples a imagem da própria Terra.
 
Cada espírito recolhe na Providência Divina o empréstimo do corpo e as possibilidades que lhe enriquecem o campo de luta para a edificação do progresso no santuário do bem, entretanto, se não atende as obrigações que a vida lhe preceitua, na esfera da ação correta perante as Divinas Leis, retardar-se-á no caminho, para corrigir impropriedades e desacertos ou reajustar atitudes e empreendimentos, através de reencarnações laboriosas e torturadas. Isso ocorre porque sendo o amor a essência da vida, a justiça é o instrumento que o veicula, consoante a Eterna Sabedoria que nos confere alegria ou dor, enfermidade ou saúde, queda ou ascensão, luz ou treva, segundo os resultados de nossas próprias obras.
 
Livro: “Vida em Vida” Psicografia: “Francisco Cândido Xavier” Espíritos Diversos

sábado, 15 de junho de 2013

Justiça Humana e Justiça Divina

Justiça Humana e Justiça Divina

Autor: Rodolfo Calligares

O capítulo II da Constituição Brasileira, que trata “dos direitos e das garantias individuais”, em seu art. 141, § 30 e 31, consagra dois princípios altamente humanitários, que vale a pena analisar e comparar com dois dogmas fundamentais das igrejas ditas cristãs.

Reza o citado § 30: “Nenhuma pena passará da pessoa do delinquente.”

Isto quer dizer que no Brasil, como de resto em todos os países civilizados do mundo, qualquer pena (punição que o Estado impõe ao delinquente ou contraventor, por motivo de cri­me ou contravenção que tenha cometido, com a finalidade de exemplá-lo e evitar a prática de novas infrações) só poderá recair sobre o culpado, não podendo, em hipótese alguma, alcançar outra(s) pessoa(s).

Exemplifiquemos: se um indivíduo cometer um crime, pelo qual seja sentenciado a uns tantos anos de prisão celular, mas venha a escapulir, sem que as autoridades policiais consigam apanhá-lo, ou faleça antes de haver cumprido toda a pena, não pode o Estado trancafiar um seu parente (filho, neto, etc.) para que cumpra ou resgate o final do castigo imposto a ele, criminoso.

Aliás, se o fizesse, passaria a si mesmo um atestado de despotismo e provocaria os mais veementes protestos, pois repugna às consciências esclarecidas admitir que “o inocente pague pelo pecador”.

Essa noção de intransferibilidade de méritos e deméritos, já a tinham os profetas do Velho Testamento. O cap. 18 de Ezequiel, v. g., versa exclusivamente esse ponto. Ali se diz que se um homem for bom e obrar conforme a equidade e a justiça, mas venha a ter algum filho ladrão, que derrame sangue ou cometa outras faltas abomináveis, este terá que arcar com as conse­quências de seus delitos, de nada lhe valendo as boas qualidades paternas.

Da mesma sorte, se um homem não guardar os preceitos divinos, se for um grande pecador, mas o filho “não fizer coisas semelhantes às que ele obrou”, não responderá pelos desacertos do pai. E conclui (v. 20):

“A alma que pecar, essa morrerá: o filho não carregará com a iniquidade do pai, e o pai não carregará com a iniquidade do filho; a justiça do justo será sobre ele, e a impiedade do ímpio será sobre ele.”

Claríssimo, pois não?

No entanto, tomando por base uma alegoria do Gênesis (cap. 3), cuja interpretação foge ao objetivo deste trabalho, — a Teologia engendrou e vem sustentando, através dos séculos, o dogma do “pecado original”, segundo o qual to­dos os homens, gerações pós gerações, inclusive aqueles que virão a nascer daqui a séculos ou milênios, são atingidos inexoravelmente por uma falta que não é sua!

Ora, mesmo que a referida alegoria bíblica (tentação de Eva e queda do homem) fosse um fato histórico, real, que culpa teríamos nós outros, da desobediência praticada por “nossos primeiros pais” num passado cuja ancianidade remonta à noite dos tempos?

Se a responsabilidade pessoal é princípio aceito universalmente; se nenhum Código Penal do mundo admite que se puna alguém por um crime praticado por seus ancestrais; como poderia Deus castigar-nos por algo de que não fomos participantes, ou melhor, que teria ocorri­do quando nem sequer existíamos?

Não é possível!

Se Deus nos criasse, mesmo, com esse estigma, expondo-nos, consequentemente, às mui­tas misérias da alma e do corpo, por causa do erro de outrem, então a Justiça Divina seria menos perfeita que a justiça humana, posto que esta, como vimos, não permite tal aberração.

Como é óbvio, o Criador hão pode deixar de ser soberanamente justo e bom, pois sem esses atributos não seria Deus. E como o dogma do “pecado original” não se coaduna com a Bondade e a Justiça Divinas, não há como fugir à conclusão, de que é falso e insustentável, sendo cada um responsável apenas pelos seus próprios atos, e não pelos deslizes de seus avoengos, ainda que eles se chamem Adão e Eva...

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A LEI DE MOISÉS E A LEI DO CRISTO."... O Sábado é um dia consagrado ao repouso, à prece. É o emblema da felicidade eterna, a que aspiram todos os Espíritos e ao qual não chegarão senão depois de se haverem aperfeiçoado pelo trabalho e se despojado, pelas encarnações, de todas as impurezas do coração humano..."

Ensinos e Dissertações Espíritas
A LEI DE MOISÉS E A LEI DO CRISTO

(Comunicação obtida pelo Sr. R..., de Mulhouse)
Um de nossos assinantes de Mulhouse nos envia a carta
e a comunicação seguintes:
“...Aproveito a ocasião que se apresenta de vos
escrever, para vos informar sobre uma comunicação que recebi,
como médium, de meu Espírito protetor, e que me parece
interessante e instrutiva por todos os títulos. Se assim entenderdes,
eu vos autorizo a fazer dela o uso que julgardes mais útil.
Eis qual foi o princípio. Inicialmente devo dizer-vos que professo o culto israelita e, naturalmente, sou levado às idéias religiosas nas quais fui educado. Eu tinha notado que, em todas as comunicações dadas pelos Espíritos, não se tratava senão da moral cristã, pregada pelo Cristo, e que nunca se falava da lei de Moisés. No entanto, eu dizia a mim mesmo que os mandamentos de Deus, revelados por
Moisés, me pareciam ser o fundamento da moral cristã; que o
Cristo poderia ter ampliado o quadro e desenvolvido suas
conseqüências, mas que o germe estava na lei ditada no Sinai.
Então me perguntei se a menção, tantas vezes repetida, da moral do
Cristo, embora a de Moisés não lhe fosse estranha, não provinha do
fato de que a maior parte das comunicações recebidas emanavam
de Espíritos que tinham pertencido à religião dominante, e se elas
não seriam uma lembrança das idéias terrenas. Dominado por tais
pensamentos, evoquei meu Espírito protetor, que foi um dos meus
parentes próximos e se chamava Mardoché R... Eis as
perguntas que lhe dirigi e as respostas dadas por ele, etc...(13)

1. Em todas as comunicações feitas à Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas, cita-se Jesus como sendo o que
ensinou a mais bela moral. Que devo pensar disto?

Resp. – Sim, o Cristo foi o iniciador da moral mais pura,
a mais sublime; a moral evangélica cristã, que deve renovar o
mundo, aproximar os homens e os tornar a todos irmãos; a moral
que deve fazer jorrar de todos os corações humanos a caridade, o
amor do próximo; que deve criar entre todos os homens uma
solidariedade comum; enfim, uma moral que deve transformar a
Terra e dela fazer uma morada para Espíritos superiores aos que
hoje a habitam. É a lei do progresso, à qual está submetida a
Natureza; e o Espiritismo é uma das forças vivas de que Deus se
serve para fazer a Humanidade avançar na via do progresso moral.
São chegados os tempos em que as idéias morais devem
desenvolver-se para realizar o progresso que está nos desígnios de
Deus; elas devem seguir a mesma rota percorrida pelas idéias de
liberdade, das quais eram precursoras. Mas não se deve crer que
esse desenvolvimento se fará sem lutas.
Não; para chegar àmaturidade, elas necessitam de abalos e discussões, a fim de quepossam atrair a atenção das massas; mas, uma vez fixada a atenção,a beleza e a santidade da moral impressionarão os Espíritos e estesse ligarão a uma ciência que lhes dá a chave da vida futura e lhes abre as portas da felicidade eterna.
Deus é único e Moisés é o Espírito que Ele enviou em missão para torná-lo conhecido não só dos hebreus, como também dos povos pagãos. O povo hebreu foi o instrumento de que se serviu Deus para o revelar por Moisés e pelos profetas, e as vicissitudes por que passou esse povo tão notável destinavam-se a chamar a atenção geral e fazer cair o véu que ocultava aos homens a divindade.

2. Em que, pois, a moral de Moisés é inferior à do Cristo?

Resp. – A moral que Moisés ensinou era apropriada
ao estado de adiantamento em que se encontravam os povos que
ele se propunha regenerar, e esses povos, semi-selvagens quanto ao
aperfeiçoamento da alma, não teriam compreendido que se
pudesse adorar a Deus de outro modo que não por meio de
holocaustos, nem que se devesse perdoar a um inimigo.
Notável do ponto de vista da matéria e mesmo do das artes e ciências, a inteligência deles muito atrasada se achava em moralidade e não se houvera convertido sob o império de uma religião inteiramente espiritual.
Era-lhes necessária uma representação semimaterial, qual a que apresentava então a religião hebraica.
Os holocaustos lhes falavam aos sentidos, ao passo que a idéia de Deus lhes falava ao espírito.
Os mandamentos de Deus, dados por intermédio de Moisés, contêm os germes da mais ampla moral cristã.
Os comentários da Bíblia, porém, restringiam-lhe o sentido, porque,
praticada em toda a sua pureza, não na teriam então compreendido.
Mas, nem por isso os dez mandamentos de Deus deixavam de ser
um como frontispício brilhante, qual farol destinado a clarear a
estrada que a Humanidade tinha de percorrer. Moisés abriu o
caminho; Jesus continuou a obra; o Espiritismo a concluirá.

3. O Sábado é um dia consagrado?

Resp. – Sim. O Sábado é um dia consagrado ao repouso,
à prece. É o emblema da felicidade eterna, a que aspiram todos os
Espíritos e ao qual não chegarão senão depois de se haverem
aperfeiçoado pelo trabalho e se despojado, pelas encarnações, de
todas as impurezas do coração humano.

4. Como se explica que cada seita tenha consagrado um
dia diferente?
Resp. – Cada seita, é verdade, consagrou um dia
diferente, mas isto não é motivo para nos pormos em desacordo.
Deus aceita as preces e as formas de cada religião, desde que os atos correspondam aos ensinamentos. Seja qual for a forma pela qual seja invocado, a prece lhe é agradável, se a intenção é pura.

5. Pode-se esperar o estabelecimento de uma religião universal?

Resp. – Não; não no nosso planeta, ou, pelo menos, não
antes que tenha feito progressos. Por enquanto, milhares e milhares
de gerações ainda não o verão.

Mardoché R...

(13 N. do T.: Parte considerável das respostas obtidas neste questionário
foi transcrita por Allan Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo,
capítulo I, item 9 – Instruções dos Espíritos: A nova era.)
Revista Espírita 1861 -Março

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita-Livro I- Cristianismo e Espiritismo Roteiro 4 : Judaísmo

EADE - LIVRO I
ROTEIRO
4
Objetivos • Destacar as principais características do Judaísmo.
IDÉIAS PRINCIPAIS
CRISTIANISMO E ESPIRITISMO
MÓDULO I - ANTECEDENTES DO CRISTIANISMO
• Segundo as tradições, o Patriarca Abraão, considerado o pai do povo judeu,
partiu de Ur, sua cidade natal, porque recebera de Deus as seguintes instruções:
Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa
de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e
abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção. E abençoarei
os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão
benditas todas as famílias da terra. Gênesis, 12:1-3
• A religião judaica tem como princípio a idéia de Deus único. Trata-se de sua
pedra fundamental. A lei moisaica foi a precursora direta do Evangelho de Jesus.
O protegido de Termutis (mãe adotiva de Moisés) [...], foi inspirado a reunir
todos os elementos úteis à sua grandiosa missão, vulgarizando o monoteísmo
e estabelecendo o Decálogo, sob a inspiração divina, cujas determinações são
até hoje a edificação basilar da Religião da Justiça e do Direito. Emmanuel:
Emmanuel, cap. 2.
• Na lei moisaica, há duas partes distintas: a lei de Deus, promulgada no monte
Sinai, e a lei civil ou disciplinar, decretada por Moisés. Uma é invariável; a outra,
apropriada aos costumes e ao caráter do povo, se modifica com o tempo. Allan
Kardec: O evangelho segundo o espiritismo, cap. 1, item 2.
O JUDAÍSMO
45
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
1. Informações históricas
É surpreendente a influência exercida pelos judeus na cultura ocidental,
quando se considera a simplicidade de suas origens e o tamanho minúsculo
do território onde se fixaram: cerca de 250 quilômetros de extensão e 80 quilômetros
de largura na parte mais ampla.
A palavra judeu deriva de Judéia, nome de uma parte do antigo reino de
Israel. A religião é também chamada de moisaica, já que considera Moisés
um dos seus fundadores. O Estado de Israel define o judeu como alguém cuja
mãe é judia, e que não pratica nenhuma outra fé. Aos poucos, porém, esta
definição foi ampliada para incluir o cônjuge. O judaísmo não é apenas uma
comunidade religiosa, mas também étnica. 10
O povo de Israel acredita-se descendente dos patriarcas Abraão, Isaac e
Jacob, e das matriarcas Sarah (Sarai ou Sara), Rebeca, Raquel e Lia, os quais
teriam moldado os caracteres da raça pela aliança que fizeram com Deus.
Segundo as tradições, Abraão, um habitante da alta Mesopotâmia, deixou
a cidade de Ur, em Harã – atualmente situada no sul do Iraque –, partindo
com sua esposa Sarah e Ló, um sobrinho e demais pessoas do seu clã, em busca
da terra habitada pelos cananeus, onde criaria os seus filhos. Abraão teria
recebido de Deus a inspiração de estabelecer-se nesse país, fundando ali uma
descendência, cumulada de favores por Deus e objeto de Sua especial predileção.
(Gênesis, capítulo 12) O local onde Abraão foi viver recebeu o nome de
Canaã ou Terra Prometida. O poder patriarcal de Abraão foi, com a sua morte,
SUBSÍDIOS
MÓDULO I
Roteiro 4
46
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 4 - O Judaísmo
transferido ao seu filho Isaac (ou Isaque) e deste para Jacob (ou Jacó), que, por
sua vez, o passou para seus doze filhos. 7 (Gênesis, capítulo 35)
Sabe-se, porém, que o primeiro filho de Abraão não foi Isaque, este era filho
que teve com Sara, sua esposa (Gênesis, 21:1-8), gerado após o nascimento do
primogênito Ismael com a escrava egípcia Hagar ou Agar (Gênesis, 16:1-16).
Após a morte de Sara, Abraão casa com Quetura que lhe geraram seis filhos:
Zinrã, Jocsã, Meda, Mídia, Isbaque e Suá (Gênesis, 25: 1-7) Abrão, entretanto,
considerou o seu herdeiro legítimo apenas Isaque. (Gênesis, 25: 5)
Os doze filhos de Jacó, considerados os legítimos descendentes de Abraão
formam as doze tribos judaicas. Um dos filhos de Jacó com Raquel (Gênesis,
30:22-26), chamado José, foi vendido como escravo ao faraó egípcio, mas, em
razão da fama e autoridade por ele conquistadas, tornou-se vice-rei do Egito.
Por volta de 1700 a.C., o povo judeu migra para o Egito em razão da fome,
onde é escravizado por aproxidamamente 400 anos. (Êxodo, 1:1-14) A libertação
do povo judeu ocorre por volta de 1300 a.C., seguida da fuga do Egito,
comandada por Moisés – um judeu, criado por Termutis, irmã do faraó, após
tê-lo recolhido das águas do rio Nilo. (Êxodo, 2:1-20) Saindo do Egito, os excativos
atravessam o Mar Vermelho, vivendo 40 anos no deserto e submetendose
a todo tipo de dificuldades, próprias da vida nômade. O grande êxodo dos
israelitas foi, segundo a Bíblia, de 603.550 homens. 19 (Números, 1:46)
Durante a peregrinação pelo deserto, Moisés recebe as Tábuas da Lei,
também chamadas Decálogo ou Dez Mandamentos, no monte Sinai, cadeia
montanhosa de Horeb, fundando, efetivamente, a religião judaica. (Êxodo,
20:1-17; 34:1-4. Deuteronômio, 5:1-21)
As Tábuas da Lei foram guardadas em uma arca – Arca da Aliança –,
especialmente construída para abrigá-las. (Êxodo, 25: 10-16; 37: 1-5); haveria
ainda um tabernáculo para a arca (Êxodo, 25:1-9); um propiciatório de ouro que
deveria ser colocado acima da Arca (Êxodo, 25: 17-22) e uma mesa de madeira
de lei, coberta de ouro, contendo castiçais, também de ouro, e outros objetos
necessários ao cerimonial religioso. (Êxodo, 25: 23-40) A arca e os Dez Mandamentos
acompanharam os judeus durante o tempo em que permaneceram no
deserto com Moisés. Antes de morrer, logo após ter localizado Canaã, Moisés
nomeou Josué, filho de Num, seu sucessor, cumprindo, assim, a profecia de que
encontraria a Terra Prometida antes de sua morte. (Deuteronômio, 34:1-5)
Josué foi inspirado a atravessar o rio Jordão, levando consigo os filhos de
47
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
Israel à terra que lhe foi prometida por Deus, segundo relatos de suas escrituras.
(I Samuel, 1:20-28; 2:18-26) Do deserto, rio Jordão até o Líbano, daí até
o rio Eufrates, abrangendo o território dos heteus, estendendo-se até o mar,
em direção ao poente. (Josué, 1: 4) Acontece que essa terra já era habitada
por diferentes povos (cananeus, heteus, heveus, ferezeus, girgaseus, amorreus
e os jebuseus), que foram dominados pelos judeus. (Josué, 3:10; 5:1) Tudo
isso aconteceu no século XIII a.C., aproximadamente. As terras conquistadas
são divididas em doze partes e entregues a cada uma das tribos judaicas. Os
cananeus e outros povos continuaram em luta com os judeus conquistadores
por algum tempo, até serem contidos pelo representante da tribo de Judá.
(Juízes, 1:1-36)
Após a morte de Josué, cada tribo é governada por juízes, como Samuel
(I Samuel, 20-28; 2:18-26). Os juizes passaram a governar as tribos porque os
judeus, abandonando o culto a Deus, passaram a adorar outros deuses, como
Baal e Astarote. (Juízes, 2:11-16) Posteriormente, os juizes foram substituídos
por reis (I Samuel, 8: 1-6; 9-12) como Saul, da tribo de Benjamin (I Samuel, 10:
1-27), Davi (I Samuel, 16: 1; 10-13. II Samuel, 5: 1-4. I Reis, 2: 11) e Salomão
(I Reis, 1:46-48), filho de Davi (II Samuel, 5:13-14; II Crônicas, 9: 30-31), que
constrói o primeiro templo de Jerusalém, entre 970 e 931 a.C. Com a morte
de Salomão, Roboão, seu filho, torna-se rei, mas no seu reinado acontece a
revolta das tribos de Israel (II Crônicas, 10), separando-se a tribo de Davi (ou
de Israel) das demais (II Crônicas, 10:18-19), definitivamente.
As tribos se organizam em dois reinos: o de Judá e o de Israel.
O reino de [...] Judá manteve a antiga capital do rei David (Jerusalém) e com ela o templo
histórico do rei Salomão, o que lhe acarretou ascendência religiosa, embora a cidade de
Jerusalém viesse a ser conquistada pelo babilônio Nabucodonosor [em 586 a.C.] e mais
tarde pelo romano Pompeu. 16
Nabucodonosor, então rei da Babilônia, destrói o templo de Salomão e
deporta a maioria do povo de Judá. A partir desse exílio na Babilônia é que
se pode falar de Judaísmo ou religião judaica, propriamente dita. O reino de
Israel, na Samaria, é destruído em 721 a.C. No ano 586 a.C., mantendo-se a
divisão das tribos judaicas em dois reinos, nascem a esperança e a fé no advento
de um messias, o enviado de Deus, capaz de restaurar a unidade do povo,
garantindo-lhe soberania divina sobre a humanidade. 9
Os judeus voltam à Palestina em 538 a.C. Reconstroem aí o templo de
EADE - Roteiro 4 - O Judaísmo
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Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
Salomão, vivendo breves períodos de independência, interrompidos pelas
constantes invasões das potências estrangeiras. Entre os séculos II e IV a.C.,
migrações voluntárias difundem a religião e a cultura judaicas por todo o
Oriente Médio. Em 63 a.C., Jerusalém é conquistada pelos romanos, sob o
comando de Pompeu.
Jerusalém [...] figurou como capital do reino da Judéia, sob a dinastia de Herodes. Em
conseqüência de sublevação dos judeus, foi [Jerusalém] novamente cercada e incendiada
por tropas romanas, sob o comando do general e futuro imperador Tito. Reduzida a
colônia no tempo do imperador Adriano (sob o nome de Élia Capitolina), restaurou-lhe
a denominação tradicional (Jerusalém) o imperador Constantino. 15
No ano 6 d.C., a Judéia torna-se uma província de Roma. Em 70 d.C. os
romanos destroem o templo e, em 135, Jerusalém é arrasada. Com a destruição
do templo de Jerusalém pela segunda vez, e da própria cidade, inicia-se o período
da grande dispersão do povo judeu, conhecida como Diáspora.
Espalhados por todos os continentes, os judeus mantêm sua unidade
cultural e religiosa. A Diáspora termina em 1948, com a criação do Estado de
Israel. 9 Existem atualmente cerca de 13 milhões de judeus em todo o mundo;
4,5 milhões vivem no Estado de Israel.
2. A religião judaica
O Judaísmo é a primeira religião monoteísta da Humanidade. Fundamenta-
se na revelação dos Dez Mandamentos transmitidos por Deus (Yaweh)
a Moisés. O Decálogo é considerado o evento fundador da religião de Israel.
Religião que tem como princípio a idéia da existência de Deus único, Criador
Supremo.
Dos Espíritos degredados na Terra, foram os hebreus que constituíram a raça mais
forte e mais homogênea, mantendo inalterados os seus caracteres através de todas as
mutações. Examinando esse povo notável no seu passado longínquo, reconhecemos
que, se grande era a sua certeza na existência de Deus, muito grande também era o seu
orgulho, dentro de suas concepções da verdade e da vida. Conscientes da superioridade
de seus valores, nunca perdeu a oportunidade de demonstrar a sua vaidosa aristocracia
espiritual, mantendo-se pouco acessível à comunhão perfeita com as demais raças do
orbe. Entretanto, [...] antecipando-se às conquistas dos outros povos, ensinou de todos
os tempos a fraternidade, a par de uma fé soberana e imorredoura. 20
Um dos maiores teólogos do Judaísmo, Moses Maimônides (1135-1204),
EADE - Roteiro 4 - O Judaísmo
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Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
desenvolveu treze artigos de fé, intrinsecamente fundamentados na crença em
Deus único, e que são aceitos como o referencial da religião pelo Judaísmo
tradicional.
O Judaísmo possui uma unidade doutrinária simbolizada: a) na Torá
(ou Torah), ou Lei judaica – revelação representada pelo Pentateuco de Moisés
(não possuindo, durante séculos, um país considerado como próprio, os
judeus mantiveram a coesão religiosa pelo estudo dos livros Gênesis, Êxodo,
Levítico, Números e Deuteronômio); b) na conquista da liberdade, obtida pela
retirada do Egito, travessia do Mar Vermelho e conquista de Canaã; c) libertação
do cativeiro egípcio, conhecida como Páscoa judaica; d) no conceito de
nação, constituído durante a peregrinação de quarenta anos no deserto, e na
chegada à Terra Prometida (Canaã); e) na crença de serem os judeus o povo
eleito por Deus (entendem que, ao serem escolhidos por Deus, eles assumiram
o fardo de ser povo antes de experimentar os prazeres e a segurança da
nacionalidade). 14
A noção de povo escolhido pela Divindade é uma tradição religiosa que
passa, de geração a geração, como artigo de fé.
Era [...] crença comum aos judeus de então (época do Cristo) que a nação deles tinha de
alcançar supremacia sobre todas as outras. Deus, com efeito, não prometera a Abraão
que a sua posteridade cobriria toda a Terra? Mas, como sempre, atendo-se à forma, sem
atentarem ao fundo, eles acreditavam tratar-se de uma dominação efetiva e material.
[...] Entretanto [...], os judeus desprezaram a lei moral, para se aferrarem ao mais fácil:
a prática do culto exterior. O mal chegara ao cúmulo; a nação, além de escravizada, era
esfacelada pelas facções e dividida pelas seitas [...]. 3
Um ponto doutrinário fundamental da religião judaica é que não é a fé
nem a contemplação que solidificam a relação entre o homem e Deus, mas a
ação: isto é, Deus determina, o homem cumpre a Sua vontade. Sendo assim, o
judeu deve conhecer Deus não por meio da especulação mística ou filosófica,
mas pelo estudo de Sua palavra escrita – a Torá –, pela prece, pela prática da
caridade, e pelas ações que promovem a harmonia. 8
A lei moisaica foi a precursora direta do Evangelho de Jesus. O protegido de Termutis
[...] foi inspirado a reunir todos os elementos úteis à sua grandiosa missão, vulgarizando
o monoteísmo e estabelecendo o Decálogo, sob a inspiração divina, cujas determinações
são até hoje a edificação basilar da Religião da Justiça e do Direito. Moisés [...] foi o primeiro
a tornar acessíveis às massas populares os ensinamentos somente conseguidos à
custa de longa e penosa iniciação, com a síntese luminosa de grandes verdades. 24
EADE - Roteiro 4 - O Judaísmo
50
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 4 - O Judaísmo
Para a fé judaica, Deus é uma presença ativa no mundo, de forma abrangente,
e na vida de cada pessoa, isoladamente. Deus não criou simplesmente a
Humanidade e dela se afastou, deixando-a entregue a si mesma. Ao contrário,
a Humanidade é totalmente dependente de Deus para evoluir e para ser feliz.
Como Deus é também pessoal, está envolvido diretamente em todos os aspectos
da vida de cada pessoa, podendo responder, em particular, às aspirações
individuais durante a prece. Por este motivo, os judeus oram três vezes ao dia
(manhã, tarde e noite), nas práticas do Shabat (sétimo dia da semana, reservado
ao descanso) e nas festas religiosas.
Os judeus não aceitam o dogma do pecado original, defendido pelos católicos
e protestantes. Analisam que esses religiosos fizeram interpretação literal
do livro Gênesis. Os rabinos escreveram no Talmud, item 31: «O sentimento
profundo de nossa liberdade moral se recusa a essa assimilação fatal, que tiraria
a nossa iniciativa, que nos acorrentaria [...] num pecado distante, misterioso,
do qual não temos consciência [...]. Se Adão e Eva pecaram, só a eles cabe a
responsabilidade de seu erro.» 6
A reencarnação fazia parte dos dogmas dos judeus, sob o nome de ressurreição. Só os
saduceus, cuja crença era a de que tudo acaba com a morte, não acreditavam nisso. As
idéias dos judeus sobre esse ponto, como sobre muitos outros não eram claramente
definidas, porque apenas tinham vagas e incompletas noções acerca da alma e da sua
ligação com o corpo. Criam eles que um homem que vivera podia reviver, sem saberem
precisamente de que maneira o fato poderia dar-se. Designavam pelo termo ressurreição
o que o Espiritismo, mais judiciosamente, chama reencarnação. 2
É importante assinalar que, a despeito de os judeus representarem uma raça
de profetas e médiuns notáveis, em Deuteronômio, 18:9-12, existe a proibição
moisaica de evocar os mortos.
«A proibição feita por Moisés tinha então a sua razão de ser, porque o legislador
hebreu queria que o seu povo rompesse com todos os hábitos trazidos
do Egito, e de entre os quais o de que tratamos era objeto de abusos.» 4
Haja vista que se «Moisés proibiu evocar os Espíritos dos mortos, é uma
prova de que eles podem vir; do contrário, essa interdição seria inútil.» 5
É importante não confundir a lei civil, estabelecida por Moisés para administrar
o povo judeu, nos distantes tempos da sua organização, com a Lei
Divina, inserida nos Dez Mandamentos, recebidos mediunicamente por ele.
«Na lei moisaica, há duas partes distintas: a lei de Deus, promulgada no monte
51
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 4 - O Judaísmo
Sinai, e a lei civil ou disciplinar, decretada por Moisés. Uma é invariável; a outra,
apropriada aos costumes e ao caráter do povo, se modifica com o tempo.» 1
Há, na atualidade, uma corrente do Judaísmo – denominada Judaísmo
Messiânico – que procura unir o Judaísmo com o Cristianismo, conscientes
de que Jesus é o Messias do povo judeu.
3. Os livros sagrados do Judaísmo
Os ensinamentos religiosos do Judaísmo estão consolidados nas obras
que se seguem, consideradas sagradas.
Torah - A palavra Torah significa a correta direção e, por extensão, “ensinamento”,
“doutrina” ou “lei”. A base da Torah é o pentateuco moisaico,
existente no Velho Testamento, e que representa a Lei Escrita de Deus, cujo
núcleo central é o Decálogo. O primeiro livro é Gênesis (Bereshit), que trata
da origem do mundo e do homem; o segundo é Êxodo (Shemot), que narra
a fuga dos judeus do cativeiro do Egito; o terceiro é Levítico (Vayikra), que
trata das práticas sacerdotais; o quarto é Números (Bamidbar), que traz o recenseamento
do povo judeu; o quinto livro é Deuteronômio (Devarim), com
discursos de Moisés e o código de leis familiares, civis e militares. Existe também
a Torah Oral (Lei Oral ou Mishnah), que explica o Pentateuco moisaico.
A Torah é um rolo de pele de animal Kosher (diz-se de animais ruminantes
que possuem pata fendida, tais como: boi, cervo e ovelha/carneiro), contendo
os cinco primeiros livros bíblicos. As cópias da Torah, existentes em todas as
sinagogas do mundo, têm exatamente o mesmo texto. 9
Os Profetas (Neviim)
Trata-se da mais antiga história escrita de que há registro no mundo. Esses livros surgiram
muito antes de haver algo como a história comparada ou a análise de fontes. No
entanto, o objetivo dos livros históricos do Antigo Testamento não era propriamente
registrar a história, e sim dar a ela uma interpretação religiosa. Dois dos livros históricos
receberam nomes de mulher. Os livros de Rute e de Ester são histórias curtas e belas, com
mulheres no papel principal. Os livros proféticos são Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Doze
Profetas Menores, assim chamados por causa da brevidade de suas obras: Oséas, Joel,
Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
Segundo seu próprio testemunho, os profetas foram chamados para proclamar a vontade
de Deus. Muitas vezes eles usam a fórmula: “Diz o Senhor”. 11
52
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 4 - O Judaísmo
Escritos Poéticos - Entre estes, há os cento e cinqüenta Salmos, que representam
os escritos de maior significado histórico e religioso do Velho Testamento.
Surgiram, possivelmente, em 587 a.C., antes da destruição de Jerusalém.
Foram elaborados para os serviços do templo e para a comemoração das festas
judaicas. Cerca de metade dos salmos é de Davi, significando isto que muitos
foram escritos por este ou para este rei. Outro escrito poético, reconhecidamente
de notável beleza, é o Livro de Job, que aborda o significado do sofrimento e a
justiça de Deus. 12
Talmud/Talmute ou “estudo”, é a principal obra do Judaísmo rabínico,
porque, segundo a tradição, Moisés não recebeu apenas a Lei Escrita de Deus
(Torah), mas também a Lei Falada, que deveria ser transmitida oralmente para
complementar o entendimento do que está escrito. Essa é a forma que os rabinos
orientam os seus fiéis e estudam os ensinamentos do Judaísmo. Do Talmute
originam-se todas as normas haláquicas (fundamentos das leis judaicas) e as
orientações não - haláquicas (aggaadah): ensinos éticos e interpretação de
textos bíblicos. O Talmute expressa a essência da cultura e da religião judaicas,
assim como o caminho espiritual que o povo judeu deve seguir. Há dois tipos
de Talmute: o da Babilônia e o de Jerusalém. O Talmud Babilônico consiste na
compilação das leis, inclusive a Torah, tradições, preceitos morais, comentários,
interpretações e debates registrados nas academias rabínicas da Babilônia e de
Israel, por volta do século quinto, abrangendo um período de mil anos (do século
V a.C. ao V d.C.), aproximadamente. O Talmud de Jerusalém foi publicado um
século antes do Babilônico. 13, 7
4. A cabala judaica. O calendário religioso
A Cabala é uma das correntes místicas do Judaísmo. O termo significa
literalmente recepção e, por extensão, tradição. Também pode ser traduzido
como recebimento, e transmissão de ensinamentos, porque os judeus místicos
afirmam que a Lei escrita só poderia ser explicada pela Lei oral, ensinada de
acordo com as pessoas e circunstâncias, secretamente. Essa tradição oral é
transmitida de geração a geração durante milênios. Trata-se de um tema tão
misterioso que, durante séculos, só homens casados e com mais de quarenta
anos eram autorizados a estudá-lo. Esta regra já não é totalmente aceita e, hoje,
homens e mulheres estudam os princípios básicos da Cabala. 17
Exige-se um certo grau de sabedoria e de maturidade espirituais para um
53
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 4 - O Judaísmo
judeu aprender «interpretá-lo fielmente, nas épocas remotas. [...] Os livros
dos profetas israelitas estão satu rados de palavras enigmáticas e simbólicas,
constituindo um monumento parcialmente decifrado da ciência secreta dos
hebreus.» 21
Poucos judeus conhecem ou conheceram profundamente a Cabala.
Moisés foi um deles. Para os místicos judeus, somente através da Cabala conseguiremos
eliminar definitivamente a guerra, as destruições e as maldades
existentes no mundo. O primeiro cabalista teria sido o patriarca Abraão. Ele
teria visto as maravilhas da existência humana e dos mundos mais elevados.
O conhecimento adquirido por Abraão teria sido transmitido oralmente aos
seus descendentes. O primeiro trabalho sobre a Cabala, o Sefer Yetzirah, ou
Livro da Criação, é atribuído a Abraão. Esse texto básico da Cabala ensina que
existem trinta e dois caminhos da sabedoria organizados, por sua vez, em dez
itens denominados Sefirot ou Luzes Divinas. Estas luzes divinas, representadas
nas 22 letras do alfabeto hebraico, são canais que o Criador utilizou na obra da
Criação. As letras são consideradas os alicerces ou vasos da criação, e incluem
todas as combinações e permutações através das quais Deus criou o mundo
com palavras. A Cabala procura, essencialmente, descobrir a origem de tudo
o que existe: o Universo e a Terra; o ser humano, sua vida e morte; o mal; a
senda do bem; o poder da prece, etc. 18
O Antigo Testamento é um repositório de conhecimentos secretos, dos
iniciados do povo judeu, e somente os grandes mestres da raça poderiam. A
grande contradição do Judaísmo é, sem dúvida, a não-aceitação do Cristo
como o seu Messias.
A verdade, porém, é que Jesus, chegando ao mundo, não foi absolutamente entendido
pelo povo judeu. Os sacerdotes não esperavam que o Redentor procurasse a hora mais
escura da noite para surgir na paisagem terrestre. Segundo a sua concepção, o Senhor
deveria chegar no carro magnificente de suas glórias divinas, trazido do Céu à Terra pela
legião dos seus Tronos e Anjos; deveria humilhar todos os reis do mundo, conferindo
a Israel o cetro supremo da direção de todos os povos do planeta; deveria operar todos
os prodígios, ofuscando a glórias dos Césares. 22
Para os judeus, a vinda do Messias à Terra, surgindo sobre nuvens, com
grande majestade, cercado de seus anjos e ao som de trombetas, tinha um significado
muito maior do que a simples vinda de uma entidade investida apenas
de poder moral. Por isso mesmo, os judeus, que esperavam no Messias um rei
terreno, mais poderoso do que todos os outros reis, destinado a colocar-lhes a
54
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
EADE - Roteiro 4 - O Judaísmo
nação à frente de todas as demais e a reerguer o trono de David e o de Salomão,
não quiseram reconhecê-lo no humilde filho de um carpinteiro, sem autoridade
material. No entanto, estejamos certos:
Jesus acompanha-lhe a marcha dolorosa através dos séculos de lutas expiatórias regeneradoras.
Novos conheci mentos dimanam do Céu para o coração dos seus patriarcas e
não tardará muito tempo para que vejamos os judeus compreendendo integralmente a
missão sublime do verdadeiro Cristianismo e aliando-se a todos os povos da Terra para
a Caminhada Salvadora, em busca da edificação de um mundo melhor. 23
O Judaísmo possui um calendário litúrgico ou religioso, conhecido como
Círculo Sagrado, cujas festas principais são: 9
• Rosh Hashaná: Ano Novo (mais ou menos em setembro). É o dia da
comemoração do aniversário da criação do mundo e o dia em que o Eterno
abre o livro da vida e da morte, escrevendo nele os atos que todos os viventes
realizaram durante o ano.
• Yom Kippur: Dia da Expiação (também em setembro). Esse é o dia
mais sagrado do ano. Os judeus adultos passam-no na Sinagoga, em orações e
súplicas, observando um rigoroso jejum de 25 horas, buscando o perdão divino
para os seus pecados. Reza a tradição que neste dia Deus fecha o livro da vida
e da morte, selando o destino de cada indivíduo para o ano seguinte.
• Pessach: Páscoa. É celebrada aproximadamente em catorze de abril,
no início da primavera. Comemorando-se a libertação do povo de Israel da
escravidão no Egito. São 8 dias de comemoração.
• Shavuot: Festa das Semanas (mais ou menos em maio). É a festa máxima
do Judaísmo, pois comemora a entrega da Torá (feita por Deus) a Moisés,
no Monte Sinai. Ela também é conhecida como Hag ha Bicurim (Festa das
Primícias).
55
Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
1. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Tradução de Guillon
Ribeiro. 125. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 1, item 2, p. 55.
2. ______. Cap. 4, item 4, p. 90-91.
3. ______. Cap. 18, item 2, p. 325-326..
4. ______. O que é o espiritismo. 53. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 1, p.
139 (Terceiro diálogo - o padre).
5. ______. p. 140.
6. ______. Revista espírita: jornal de estudos psicológicos. Ano décimo primeiro,
1868/publicada sob a direção de Allan Kardec. Tradução de Evandro Noleto
Bezerra (poesias traduzidas por Inaldo Lacerda Lima). Rio de Janeiro: FEB,
2005. Novembro de 1868. Nº 11, p. 456-459 (Do pecado original segundo
o Judaísmo).
7.ALGAZ, Isaac. Síntese da história judaica. http://www.tryte.com.br/judaismo/
co-leção/br/livro2/sintese.htm.
8. BRIAN, Lancaster. Elementos do judaísmo. Tradução de Marli Berg. 1. ed.
Rio de Janeiro: Ediouro, 1995, p. 15-16.
9. http://www.conhecimentosgerais.com.br. Acessar os itens: Religiões reveladas
e Judaísmo.
10. HELLERN, V. Notaker, H. GAARDNER, J. O livro das religiões. Tradução
de Isa Maria Lando. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.Cap.
(Religiões surgidas no oriente médio:monoteísmo), item: Judaísmo, p. 98
11. ______. p. 105-106.
12. ______. p. 106-107.
13. ______. p. 108.
14. LAMM, Maurice. Judaísmo. Tradução de Dagoberto Mensch. 1. ed. São
Paulo: Sefer, 1999, p. 256.
15. MACEDO, Roberto. Vocabulário histórico-geográfico dos romances de
Emmanuel. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994. Vervete: Jerusalém, p. 122.
16. ______. p. 123 (Judá).
17. PROPHET, Elisabeth Clare. Cabala: o caminho da sabedoria. Tradução
de Urbana Rutherford. 1. ed. Rio de Janeiro, Record-Nova Era, 2002. Contracapa.
18. ______. Capítulos 1, 3, 6, 7 e 8.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O PROGRAMA DO SENHOR

01 - O PROGRAMA DO SENHOR
A frente da turba faminta, Jesus multiplicou os pães e os peixes, atendendo à necessidade
dos circunstantes.
O fenômeno maravilhara.
O povo jazia entre o êxtase e o júbilo intraduzíveis.
Fora quinhoado por um sinal do Céu, maior que os de Moisés e Josué.
Frêmito de admiração e assombro dominava a massa compacta.
Relacionavam-se, ali, pessoas procedentes das regiões mais diversas.
Além dos peregrinos, em grande número, que se adensavam habitualmente em torno do
Senhor, buscando consolação e cura, mercadores da Iduméia, negociantes da Síria,
soldados romanos e cameleiros do deserto ali se congregavam em multidão, na qual se
destacavam as exclamações das mulheres e o choro das criancinhas.
O povo, convenientemente sentado na relva, recebia, com interjeições gratulatórias, o
saboroso pão que resultara do milagre sublime.
Água pura em grandes bilhas era servida, após o substancioso repasto, pelas mãos robustas
e felizes dos apóstolos.
E Jesus, após renovar as promessas do Reino de Deus, de semblante melancólico e sereno
contemplava os seguidores, da eminência do monte.
Semelhava-se, realmente, a um príncipe, materializado, de súbito, na Terra, pela suavidade
que lhe transparecia da fronte excelsa, tocada pelo vento que soprava, de leve...
Expressões de júbilo eram ouvidas, aqui e ali.
Não fornecera Ele provas de inexcedível poder? não era o maior de todos os profetas? não
seria o libertador da raça escolhida?
Recolhiam os discípulos a sobra abundante do inesperado banquete, quando Malebel,
espadaúdo assessor da Justiça em Jerusalém, acercou-se do Mestre e clamou para a
multidão haver encontrado o restaurador de Israel. Esclareceu que conviria receber-lhe as
determinações, desde aquela hora inesquecível, e os ouvintes reergueram-se, à pressa,
engrossando fileiras, ao redor do Messias Nazareno.
Jesus, em silêncio, esperou que alguém lhe endereçasse a palavra e, efetivamente, Malebel
não se fez rogado.
– Senhor – indagou, exultante –, és, em verdade, o arauto do novo Reino?
– Sim – respondeu o Cristo, sem, titubear.
– Em que alicerces será estabelecida a nova ordem? – prosseguiu o oficial do Sinédrio,
dilatando o diálogo.

– Em obrigações de trabalho para todos.
O interlocutor esfregou o sobrecenho com a mão direita, evidentemente inquieto, e
continuou:
– Instituir-se-á, porém, uma organização hierárquica?
– Como não? – acentuou o Mestre, sorrindo.
– Qual a função dos melhores?
– Melhorar os piores.
– E a ocupação dos mais inteligentes?
– Instruir os ignorantes.
– Senhor, e os bons? Que farão os homens bons, dentro do novo sistema?
Ajudarão aos maus, á fim de que estes se façam igualmente bons.
– E o encargo dos ricos?
– Amparar os mais pobres para que também se enriqueçam de recursos e conhecimentos.
– Mestre – tornou Malebel, desapontado –, quem ditará semelhantes normas?
– O amor pelo sacrifício, que florescerá em obras de paz no caminho de todos.
– E quem fiscalizará o funcionamento do novo regime?
– A compreensão da responsabilidade em cada um de nós.
– Senhor, como tudo isto é estranho! – considerou o noviço, alarmado – desejarás dizer que
o Reino diferente prescindirá de palácios, exércitos, prisões, impostos e castigos?

– Sim – aclarou Jesus, abertamente –, dispensará tudo isso e reclamará o espírito de
renúncia, de serviço, de humildade, de paciência, de fraternidade, de sinceridade e,
sobretudo, do amor de que somos credores, uns para com os outros, e a nossa vitória
permanecerá muito mais na ação incessante do bem com o desprendimento da posse, na
esfera de cada um, que nos próprios fundamentos da Justiça, até agora conhecidos no
mundo.

Nesse instante, justamente quando os doentes e os aleijados, os pobres e os aflitos desciam
da colina tomados de intenso júbilo, Malebel, o destacado funcionário de Jerusalém, exibindo
terrível máscara de sarcasmo na fisionomia dantes respeitosa, voltou as costas ao Senhor, e,
acompanhado por algumas centenas de pessoas bem situadas na vida, deu-se pressa em
retirar-se, proferindo frases de insulto e zombaria...
O milagre dos pães fora rapidamente esquecido, dando a entender que a memória funciona
dificilmente nos estômagos cheios
, e, se Jesus não quis perder o contacto com a multidão,
naquela hora célebre, foi obrigado a descer também
.

Livro: Pontos e Contos /Irmão X por Francisco Candido Xavier

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

(...)Então, compreenderemos que o Evangelho é a resposta de Deus aos nossos apelos, em face da Lei de Moisés. A Lei é humana; o Evangelho é divino. Moisés é o condutor; O Cristo, o Salvador....

Trecho do Livro Paulo e Estevão  ditado por Emmanuel e psicografado por Chico Xavier.

...O moço, magro e pálido, em cuja assistência os mais infelizes julgavam
encontrar um desdobramento do amor do Cristo, orou em voz alta suplicando
para si e para a assembléia a inspiração do Todo-Poderoso. Em seguida, abriu
um livro em forma de rolo e leu uma passagem das anotações de Mateus:
— Mas, ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel; e, indo, pregai
dizendo: é chegado o reino dos Céus. (1)
Estevão ergueu alto os olhos serenos e fulgurantes, e, sem se perturbar
com a presença de Saulo e dos seus numerosos amigos, começou a falar mais
ou menos nestes termos, com voz clara e vibrante:
— “Meus caros, eis que chegados são os tempos em que o Pastor vem
reunir as ovelhas em torno do seu zelo sem limites. éramos escravos das
imposições pelos raciocínios, mas hoje somos livres pelo Evangelho do Cristo
Jesus. Nossa raça guardou, de épocas imemoriais, a luz do Tabernáculo e
Deus nos enviou seu Filho sem mácula. Onde estão, em Israel, os que ainda
não ouviram as mensagens da Boa Nova? Onde os que ainda não se
felicitaram com as alegrias da nova fé? Deus enviou sua resposta divina aos
nossos anseios milenários, a revelação dos Céus aclara os nossos caminhos.
Consoante as promessas da profecia de todos quantos choraram e sofreram
por amor ao Eterno, o Emissário Divino veio até ao antro de nossas dores
amargas e justas, para iluminar a noite de nossas almas impenitentes, para
que se nos desdobrassem os horizontes da redenção. O Messias atendeu aos
problemas angustiosos da criatura humana, com a solução do amor que redime
todos os seres e purifica todos os pecados. Mestre do trabalho e da perfeita
alegria da vida, suas bênçãos representam nossa herança. Moisés foi a porta,
o Cristo é a chave. Com a coroa do martírio adquiriu, para nós outros, a láurea
imortal da salvação. éramos cativos do erro, mas seu sangue nos libertou. Na
vida e na morte, nas
(1) Mateus, capítulo 10º, versículos 6 e 7. — (Nota de Emmanuel.)
alegrias de Caná, como nas angústias do Calvário, pelo que fez e por tudo que
deixou de fazer em sua gloriosa passagem pela Terra, Ele é o Filho de Deus
iluminando o caminho.
“Acima de todas as cogitações humanas, fora de todos os atritos das
ambições terrestres, seu reino de paz e luz esplende na consciência das almas
redimidas.
“Ó Israel! tu que esperaste por tantos séculos, tuas angústias e dolorosas
experiências não foram vãs!... Enquanto outros povos se debatiam nos
interesses inferiores, cercando os falsos ídolos de falsa adoração e
promovendo, simultaneamente, as guerras de extermínio com requintes de
perversidade, tu, Israel, esperaste o Deus justo. Carregaste os grilhões da
impiedade humana, na desolação e no deserto; converteste em cânticos de
esperança as ignomínias do cativeiro; sofreste o opróbrio dos poderosos da
Terra; viste os teus varões e as tuas mulheres, os teus jovens e as tuas
crianças exterminados sob o guante das perseguições, mas nunca descreste
da justiça dos Céus! Como o Salmista, afirmaste com teu heroismo que o amor
e a misericórdia vibram em todos os teus dias! Choraste no caminho longo dos
séculos, com as tuas amarguras e feridas. Como Job, viveste da tua fé,
subjugada pelas algemas do mundo, mas já recebeste o sagrado depósito de
Jeová — O Deus Único!... Oh! esperanças eternas de Jerusalém, cantai de
júbilo, regozijai-vos, embora não tivéssemos sido fiéis inteiramente à
compreensão, por conduzir o Cordeiro Amado aos braços da cruz. Suas
chagas, todavia, nos compraram para o céu, com o alto preço do sacrifício
supremo!...
“Isaías o contemplou, vergado ao peso de nossas iniqüidades, florescendo
na aridez dos nossos corações, qual flor do céu num solo adusto, mas, revelou
também, que, desde a hora da sua extrema renúncia, na morte infamante, a
sagrada causa divina prosperaria para sempre em suas mãos.
“Amados, onde andarão aquelas ovelhas que não souberam ou não
puderam esperar?
Procuremo-las para o Cristo, como dracmas perdidas do seu desvelado
amor!
Anunciemos a todos os desesperançados as glórias e os júbilos do seu
reino de paz e de amor imortal!...
“A Lei nos retinha no espírito de nação, sem conseguir apagar de nossa
alma o desejo humano de supremacia na Terra. Muitos de nossa raça hão
esperado um príncipe dominador, que penetrasse em triunfo a cidade santa,
com os troféus sangrentos de uma batalha de ruína e morte; que nos fizesse
empunhar um cetro odioso de força e tirania. Mas o Cristo nos libertou para
sempre. Filho de Deus e emissário da sua glória, seu maior mandamento
confirma Moisés, quando recomenda o amor a Deus acima de todas as coisas,
de todo o coração e entendimento, acrescentando, no mais formoso decreto
divino, que nos amemos uns aos outros, como Ele próprio nos amou.
“Seu reino é o da consciência reta e do coração purificado ao serviço de
Deus. Suas portas constituem o maravilhoso caminho da redenção espiritual,
abertas de par em par aos filhos de todas as nações.
“Seus discípulos amados virão de todos os quadrantes. Fora de suas luzes
haverá sempre tempestade para o viajor vacilante da Terra que, sem o Cristo,
cairá vencido nas batalhas infrutuosas e destruidoras das melhores energias do
coração. Somente o seu Evangelho confere paz e liberdade. Ë o tesouro do
mundo. Em sua glória sublime os justos encontrarão a coroa de triunfo, os
infortunados o consolo, os tristes a fortaleza do bom ânimo, os pecadores a
senda redentora dos resgates misericordiosos.
“É verdade que o não havíamos compreendido. No grande testemunho, os
homens não entenderam sua divina humildade, e os mais afeiçoados o
abandonaram. Suas chagas clamaram pela nossa indiferença criminosa.
Ninguém poderá eximir-se dessa culpa, visto sermos todos herdeiros das suas
dádivas celestiais. Onde todos gozam do benefício, ninguém pode fugir à
responsabilidade. Essa a razão por que respondemos pelo crime do Calvário.
Mas, suas feridas foram a nossa luz, seus martírios o mais ardente apelo
de amor, seu exemplo o roteiro aberto para o bem sublime e imortal.
“Vinde, pois, comungar conosco à mesa do banquete divino! Não mais as
festas do pão putrescível, mas o eterno alimento da alegria e da vida... Não
mais o vinho que fermenta, mas o néctar confortante da alma, diluído nos
perfumes do amor imortal.
“O Cristo é a substância da nossa liberdade. Dia virá em que o seu reino
abrangerá os filhos do Oriente e do Ocidente, num amplexo de fraternidade e
de luz. Então, compreenderemos que o Evangelho é a resposta de Deus aos
nossos apelos, em face da Lei de Moisés. A Lei é humana; o Evangelho é
divino. Moisés é o condutor; O Cristo, o Salvador. Os profetas foram mordomos
fiéis; Jesus, porém, é o Senhor da Vinha. Com a Lei, éramos servos; com o
Evangelho, somos filhos livres de um Pai amoroso e justo!...”
Nesse ínterim, Estevão sustou a palavra que lhe fluía harmoniosa e
vibrante dos lábios, inspirada nos mais puros sentimentos. Os ouvintes de
todos os matizes não conseguiram ocultar o assombro, ante os seus conceitos
de vigorosas revelações. A multidão embevecera-se com os princípios
expostos. Os mendigos, ali aglomerados, endereçavam ao pregador um sorriso
de aprovação, bem significativo de jubilosas esperanças. João fixava nele os
olhos enternecidos, identificando, mais uma vez, no seu verbo ardente, a
mensagem evangélica interpretada por um discípulo dileto do Mestre
inesquecível, nunca ausente dos que se reúnem em seu nome.
Saulo de Tarso, emotivo por temperamento, fundia-se na onda de
admiração geral; mas, altamente surpreendido, verificou a diferença entre a Lei
e o Evangelho anunciado por aqueles homens estranhos, que a sua
mentalidade não podia compreender. Analisou, de relance, o perigo que os
novos ensinos acarretavam para o judaísmo dominante. Revoltara-se com a
prédica ouvida, nada obstante a sua ressonância de misteriosa beleza. Ao seu
raciocínio, impunha-se eliminar a confusão que se esboçava, a propósito de
Moisés. A Lei era uma e única. Aquele Cristo que culminou na derrota, entre
dois ladrões, surgia a seus olhos como um mistificador indigno de qualquer
consideração. A vitória de Estevão na consciência popular, qual a verificava
naquele instante, causava-lhe indignação. Aqueles galileus poderiam ser
piedosos, mas não deixavam de ser criminosos pela subversão dos princípios
invioláveis da raça.
O orador preparava-se para retomar a palavra, momentaneamente
interrompida e aguardada com expectação de júbilo geral, quando o jovem
doutor se levantou ousadamente e exclamou, quase colérico, frisando os
conceitos com evidente ironia.
— “Piedosos galileus, onde o senso de vossas doutrinas estranhas e
absurdas? Como ousais proclamar a falsa supremacia de um nazareno
obscuro sobre Moisés, na própria Jerusalém onde se decidem os destinos das
tribos de Israel invencível? Quem era esse Cristo? Não foi um simples
carpinteiro ?“
Ao orgulhoso entono da inesperada apóstrofe, houve no ambiente um tal ou
qual retraimento de temor, mas, dos desvalidos da sorte, para quem a
mensagem do Cristo era o alimento supremo, partiu para Estevão um olhar de
defesa e jubiloso entusiasmo. Os Apóstolos da Galiléia não conseguiam
dissimular seu receio. Tiago estava lívido. Os amigos de Saulo notaram-lhe a
máscara escarninha. O pregador também empalidecera, mas revelava no olhar
resoluto o mesmo traço de imperturbável serenidade. Fitando o doutor da Lei, o
primeiro homem da cidade que se atrevera a perturbar o esforço generoso do
evangelismo, sem trair a seiva de amor que lhe desbordava do coração, fez ver
a Saulo a sinceridade das suas palavras e a nobreza dos seus pensamentos. E
antes que os companheiros voltassem a si da surpresa que os assomara, com
admirável presença de espírito, indiferente à impressão do temor coletivo,
obtemperou:
— “Ainda bem que o Messias fora carpinteiro: porque, nesse caso, a
Humanidade já não ficaria sem abrigo. Ele era, de fato, o Abrigo da paz e da
esperança! Nunca mais andaremos ao léu das tempestades nem na esteira
dos raciocínios quiméricos de quantos vivem pelo cálculo, sem a claridade do
sentimento.”
A resposta concisa, desassombrada, desconcertou o futuro rabino,
habituado a triunfar nas esferas mais cultas, em todas as justas da palavra.
Enérgico, ruborizado, evidenciando cólera profunda, mordeu os lábios num
gesto que lhe era peculiar e acrescentou com voz dominadora:
— Aonde iremos com semelhantes excessos de interpretação, em torno
de um mistificador vulgar, que o Sinédrio puniu com a flagelação e a morte?
Que dizer de um Salvador que não conseguiu salvar-se a si mesmo? Emissário
revestido de celestes poderes, como não evitou a humilhação da sentença
infamante? O Deus dos exércitos, que seqüestrou a nação privilegiada ao
cativeiro, que a guiou através do deserto abrindo-lhe a passagem do mar; que
lhe saciou a fome com o maná divino e, por amor, transformou a rocha
impassível em fonte de água viva, não teria meios, outros, de assinalar o seu
enviado senão com uma cruz de martírio, entre malfeitores comuns? Tendes,
nesta casa, a glória do Senhor Supremo, assim barateada? Todos os doutores
do Templo conhecem a história do impostor que celebrizais com a simplicidade
da vossa ignorância! Não vacilais em rebaixar nossos próprios valores,
apresentando um Messias dilacerado e sangrento, sob os apupos do povo .....
Lançais vergonha sobre Israel e desejais fundar um novo reino? Seria justo
dardes a conhecer, inteiramente, a nós outros, o móvel das vossas fábulas
piedosas.”
Estabelecida uma pausa na sua objurgatória, o orador voltou a falar com
dignidade:
— Amigo, bem se dizia que o Mestre chegaria ao mundo para confusão de
muitos em Israel. Toda a história edificante do nosso povo é um documento da
revelação de Deus. No entanto, não vedes nos efeitos maravilhosos com que a
Providência guiou as tribos hebréias, no passado, a manifestação do carinho
extremo de um Pai desejoso de construir o futuro espiritual de crianças
queridas do seu coração? Com o correr do tempo, observamos que a
mentalidade infantil enseja mais vastos princípios educativos, O que ontem era
carinho, é hoje energia oriunda das grandes expressões amorosas da alma. O
que ontem era bonança e verdor, para nutrição da sublime esperança, hoje
pode ser tempestade, para dar segurança e resistência. Antigamente, éramos
meninos até no trato com a revelação; agora, porém, os varões e as mulheres
de Israel atingiram a condição de adultos no conhecimento, O Filho de Deus
trouxe a luz da verdade aos homens, ensinando-lhes a misteriosa beleza da
vida, com o seu engrandecimento pela renúncia. Sua glória resumiu-se em
amar-nos, como Deus nos ama.
Por essa mesma razão, Ele ainda não foi compreendido. Acaso
poderíamos aguardar um salvador de acordo com os nossos propósitos
inferiores? Os profetas afirmam que as estradas de Deus podem não ser os
caminhos que desejamos, e que os seus pensamentos nem sempre se
poderão harmonizar com os nossos. Que dizermos de um Messias que
empunhasse o cetro no mundo, disputando com os príncipes da iniqüidade um
galardão de triunfos sangrentos?
Porventura a Terra já não estará farta de batalhas e cadáveres?
Perguntemos a um general romano quanto lhe custou o domínio da aldeia mais
57
obscura; consultemos a lista negra dos triunfadores, segundo as nossas idéias
errôneas da vida. Israel jamais poderia esperar um Messias a exibir-se num
carro de glórias magnificentes do plano material, suscetível de tombar no
primeiro resvaladouro do caminho. Essas expressões transitórias pertencem ao
cenário efêmero, no qual a púrpura mais fulgurante volta ao pó. Ao contrário de
todos os que pretenderam ensinar a virtude, repousando na satisfação dos
próprios sentidos, Jesus executou sua tarefa entre os mais simples ou mais
desventuradoS, onde, muitas vezes, se encontram as manifestações do Pai,
que educa, através da esperança insatisfeita e das dores que trabalham, do
berço ao túmulo, a existência humana. O Cristo edificou, entre nós, seu reino
de amor e paz, sobre alicerces divinos. Sua exemplificação está projetada na
alma humana, com luz eterna! Quem dê nós, então, compreendendo tudo isso,
poderá identificar no Emissário de Deus um príncipe belicoso? Não! O
Evangelho é amor em sua expressão mais sublime. O Mestre deixou-se imolar
transmitindo-nos o exemplo da redenção pelo amor mais puro. Pastor do
imenso rebanho, Ele não quer se perca uma só de suas ovelhas bem-amadas,
nem determina a morte do pecador, O Cristo é vida, e a salvação que nos
trouxe está na sagrada oportunidade da nossa elevação, como filhos de Deus,
exercendo os seus gloriosos ensinamentos.”
Depois de uma pausa, o doutor da Lei já se erguia para revidar, quando
Estevão continuou:
— “E agora, irmãos, peço vênia para concluir minhas palavras. Se não vos
falei como desejáveis, falei como o Evangelho nos aconselha, argüindo a mim
próprio na íntima condenação de meus grandes defeitos. Que a bênção do
Cristo seja com todos vós.
Antes que pudesse abandonar a tribuna para confundir-se com a multidão,
o futuro rabino levantou-se de chofre e observou enraivecido:
— Exijo a continuação da arenga! Que o pregador espere, pois não
terminei o que preciso dizer.
Estevão replicou serenamente:
— Não poderei discutir.
— Por quê? — perguntou Saulo irritadíssimo. — Estais intimado a
prosseguir.
— Amigo — elucidou o interpelado calmamente —‘o Cristo aconselhou que
devemos dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Se tendes
alguma acusação legal contra mim, exponde-a sem receio e vos obedecerei;
mas, no que pertence a Deus, só a Ele compete argüir-me.
Tão alto espírito de resolução e serenidade, quase desconcertou o doutor
do Sinédrio; compreendendo, porém, que a impulsividade somente poderia
prejudicar-lhe a clareza do pensamento, acrescentou mais calmo, apesar do
tom imperioso que deixava transparecer toda a sua energia:
— Mas eu preciso elucidar os erros desta casa. Necessito perguntar e
haveis de responder-me.
— No tocante ao Evangelho — replicou Estevão —. já vos ofereci os
elementos de que podia dispor, esclarecendo o que tenho ao meu alcance.
Quanto ao mais, este templo humilde é construção de fé e não de justas
casuísticas. Jesus teve a preocupação de recomendar a seus discípulos que
fugissem do fermento das discussões e das discórdias. Eis por que não será
lícito perdermos tempo em contendas inúteis, quando o trabalho do Cristo
reclama o nosso esforço.
— Sempre o Cristo! sempre o impostor! — trovejou Saulo, carrancudo. —
Minha autoridade é insultada pelo vosso fanatismo, neste recinto de miséria e
de ignorância.
Mistificadores, rejeitais as possibilidades de esclarecimento que vos
ofereço; galileus incultos, não quereis considerar o meu nobre cartel de
desafio. Saberei vingar a Lei de Moisés, da qual se tripudia. Recusais a
intimativa, mas não podereis fugir ao meu desforço.
Aprendereis a amar a verdade e a honrar Jerusalém, renunciando ao
nazareno insolente, que pagou na cruz os criminosos desvarios. Recorrerei ao
Sinédrio para vos julgar e punir. O Sinédrio tem autoridade para desfazer
vossas condenáveis alucinações.
Assim concluindo, parecia possesso de fúria. Mas nem assim logrou
perturbar o pregador, que lhe respondeu de ânimo sereno:
— Amigo, o Sinédrio tem mil meios de me fazer chorar, mas não lhe
reconheço poderes para obrigar-me a renunciar ao amor de Jesus-Cristo ....

Texto retirado do Capítulo 5 " Pregação"