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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Deus e os Deuses




Herculano Pires/ Livro: Concepção Existencial de Deus

O Deus judeu, exclusivista e autoritário, definiu-se na Bíblia com esta afirmação: Eu sou aquele que é. Os homens já percebiam, então, que a multiplicidade dos deuses era contraditória em si mesma, militava contra a idéia de Deus. Se Iavé ou Jeová se apresentava como o Único, sua posição era lógica e respondia às exigências de coerência do novo pensamento que se desenvolvia em Israel e no mundo. Mas o exclusivismo de Iavé parecia demasiado arrogante. O poder esmagador de Júpiter, que através das legiões romanas ameaçava dominar o mundo inteiro, não deixava lugar para esse deusinho petulante de uma pequena província do Império. Caberia, talvez, a Zeus, senhor do Olimpo, que levara os gregos a um desenvolvimento cultural sem precedentes, impor-se como Deus único. Mas quando o Messias judeu, Jesus de Nazaré, adoçou a arrogância judia chamando Iavé de Pai, abriu-se a possibilidade de uma aceitação universal do monoteísmo hebraico. O desenvolvimento posterior do Cristianismo, facilmente infiltrado nas populações subjugadas do Império Romano, provou a eficácia da intervenção messiânica. Todos os deuses foram perdendo os seus adeptos para aquele Deus desconhecido com o qual o Apóstolo Paulo identificara Iavé em Atenas.
Kerchensteiner, em notável estudo, analisou em nossos dias a fisiologia do mito, mostrando as leis que regem o processo mitológico. Os deuses não foram inventados pelos homens, como querem as teorias simplórias de Taylor e Spencer, ainda hoje sustentadas até mesmo pelo chamado materialismo científico. Os mitos nascem do seio da Mãe-Terra, evocados pelo coração dos homens, e sobem aos céus escalando montanhas ou nos vapores d’água que se acumulam na atmosfera. Daí a facilidade com que se tomava a nuvem por Juno ou o relâmpago por Júpiter. Da Terra-Mãe surgem as pedras e os rios, as matas e os animais e, por fim, os homens. Mas os homens trazem a idéia de Deus no coração e possuem a capacidade mental de projetar-se nas coisas e nos seres. A dinâmica do animismo primitivo gera a floração dos deuses que protegem os povos. Mas os deuses particulares, das tribos e depois das nações, nada mais são do que a fragmentação ilusória da unidade primitiva e irredutível. Assim como, partindo das coisas isoladas – a terra, a água, os vegetais, os animais, etc. – os homens vão depois descobrindo a unidade da realidade indivisível, pois a realidade é uma só, formada de inumeráveis conjuntos, assim também a multiplicidade dos deuses tribais vai aos poucos se fundindo nas pequenas unidades do sistema solar e à unificação atual do Cosmo, maiores das mitologias nacionais. O homem finito não pode conceber o infinito como uno e absoluto senão através das experiências do real. A unificação da idéia de Deus precedeu à unificação copérnica da unidade do sistema solar e a unificação atual do Cosmo, como exigência primária do desenvolvimento da razão. Por isso os gregos anteciparam o monoteísmo no plano filosófico, pelo qual Sócrates teve de pagar o preço da taça de cicuta. Mas a unidade religiosa só foi possível na reforma do Judaísmo por Jesus de Nazaré, que os gregos apoiaram chamando-o de Cristo (um nome grego) e que teve de pagar um preço mais alto com a crucificação romana. Os homens partem das coisas mínimas para chegarem pouco a pouco às máximas. O mito é, ao mesmo tempo, a projeção da alma humana nas coisas e a absorção das coisas pelo poder anímico do homem. A mitologia não foi também a invenção gratuita dos deuses pela imaginação dos homens, nem a busca de proteção ante a insegurança da vida precária, mas a tentativa necessária de racionalização do mundo. Superando o sensível da teoria platônica, os homens converteram o mundo num organismo vivo e inteligível, através dos mitos. O Olimpo se assemelhava às cortes dos Soberanos terrenos, com a hierarquia humana de funções e poderes, não por imitação, mas porque somente assim os homens poderiam compreender o mistério do mundo. Não foi o medo, mas a curiosidade que gerou os deuses. A prova histórica disso está na teoria diltheiana do caldeirão medieval, onde, só naquela fase específica da teocracia medieval a Razão se fundia numa peça única, destinada à preparação do Renascimento como Idade da Razão.
A embriaguez racional, como acontece aos indivíduos na passagem da mitologia infantil para o alvorecer racional da puberdade e da adolescência, levou os homens à rebeldia dos primeiros tempos de liberdade, geradora do ateísmo e do materialismo. O desenvolvimento das Ciências segue os rumos da crise da adolescência, no esquema do famoso estudo de Maurice Debesse. Os homens do Renascimento, do Mundo Moderno e até mesmo do Mundo Contemporâneo portaram-se como adolescentes no chamado conflito de gerações. Já agora, porém, nas vésperas da Era Cósmica, os achados do Renascimento precisam ser revisados, para que a problemática humana seja respondida em termos de razão; mesmo porque é na razão que temos a imagem de Deus no homem, não em sua forma corpórea, que o assemelha aos símios. A concepção antropomórfica de Deus foi uma traquinagem da Humanidade adolescente. Essa traquinagem se justifica em seu tempo, como simples ensaio religioso para uma tentativa posterior de colocação da idéia de Deus em termos racionais. Kardec, em seu livro O Céu e o Inferno, comparando a mitologia greco-romana com a mitologia cristã, mostrou as incongruências tipicamente adolescentes da reformulação teológica da idéia de prêmio e castigo após a morte. O Céu cristão aparece ingênuo e fantasioso como um sonho de meninotes e o Inferno cristão impiedoso e injusto como uma descrição de terrores infantis. Tão mais impiedoso e desarrazoado é esse inferno do que o pagão, que chegamos a rir das graves proposições teológicas formuladas por teólogos e clérigos eminentes.
O poder temporal da Igreja, que submeteu ao seu arbítrio as cortes européias, estendendo-se depois a todas as áreas mundiais da conversão, impediu a análise dessas criações monstruosas e incentivou o desenvolvimento do ateísmo e do materialismo. O panteísmo de Espinosa foi a única reação madura aos absurdos teológicos, colocando a concepção monoteísta em termos realmente racionais. Mas a posição panteísta incide no erro de confundir a Criação com o Criador, o que diminuiu a eficácia da proposição espinosiana. O campo continuou livre para o materialismo.
Espinosa teve o mérito de desfazer o engano da concepção antropomórfica da Bíblia e substituir o símbolo da criação alegórica do homem numa proposição filosófica de integração cósmica da criatura humana. A orgulhosa pretensão de separatividade e privilégio, que ainda hoje é pregada nos seminários de várias igrejas cristãs, foi esmagada pela sua inteligência. O homem, simples modo ou afecção da substância terrena, nas muitas manifestações do poder divino, brota da natureza como todas as coisas e a ela volta com a morte. Mas nem por isso o seu panteísmo caiu no materialismo. A Natureza naturata representa a Criação, é natureza sensível. Mas por baixo do sensível existe o inteligível, que é a Natureza naturans, o próprio Deus, fonte geradora de toda a realidade. Deus é imanente no mundo e todas as coisas e todos os seres nascem dele, como as fontes e os vegetais. A exposição matemática de Espinosa em A Ética faz desse pequeno judeu excomungado o restaurador da grandeza moral e espiritual do judaísmo. Os rabinos esbravejaram nas sinagogas, mas ele arrancou da sua fé judaica independente uma contribuição heróica para a concepção existencial de Deus que apareceria mais tarde na obra de Kardec.
Na Antigüidade encontramos algumas posições que podem ser consideradas precursoras da posição espinosiana. Encontramos na China o conceito do Tao, que gerou o Taoísmo, em que o Céu é o próprio Deus e ao mesmo tempo o caminho da redenção; na Pérsia arcaica a proposição dinâmica de Zoroastro, que toma o fogo como a única imagem possível de Deus; em Pitágoras, na Grécia arcaica, a visão cósmica de um Universo integrado em que os reinos da Natureza permutam incessantemente as suas energias, inclusive o humano; e, ainda, entre os gregos a concepção isoloísta da Terra como um ser vivo e gerador de vida. A Música das Esferas, girando no Infinito, podia ser captada pelos ouvidos sensíveis e dava a essa concepção o valor estético de uma criação musical. Nenhuma dessas concepções elevadas, entretanto, conseguiu socializar-se e conquistar o povo. Foram clarões da inteligência humana que não comoveram o homem, o que Jesus de Nazaré conseguiu, transformando o mundo, não obstante as igrejas nascidas do seu pensamento o houvessem deturpado com incríveis enxertos do mais primário paganismo. O próprio Jesus foi transformado num mito em que há pinceladas fortes de Apolo e Osíris. Ritos simplórios das religiões pagãs, como as bênçãos de aspersão (de origem fálica) perderam a sua naturalidade ingênua e pura e se transformaram em ritos sofisticados e desprovidos de seu sentido genético. Igrejas pagãs foram transformadas pela força e embuste em templos cristãos, como a igreja rústica da deusa Lutécia, em Paris, sobre a qual foi erguida mais tarde a Catedral de Notre Dame, que guarda em seu porão os restos da igreja pagã.
Os herdeiros do Cristianismo primitivo sufocaram as práticas mediúnicas de que o Apóstolo Paulo dá notícias em sua I Epístola aos Coríntios, asfixiaram as manifestações do espírito (o pneuma grego), introduziram altares e imagens no culto cristão e negaram o princípio da reencarnação constante de vários trechos dos Evangelhos. Ao invés de desenvolverem a concepção cristã de Deus, restabeleceram a concepção mitológica de Iavé como Deus dos Exércitos e voltaram à violência bíblica que Jesus havia substituído pelo amor e a caridade, implantando as guerras de conquista em nome do Deus judaico antigo, chegando mesmo a adotar a imagem de um Deus iracundo e cruel, vingativo e ordenador de matanças e devastações do tipo bíblico da conquista de Canaã.
O Deus mitológico dos judeus absorveu em sua concepção, como Deus do Cristianismo deformado, os deuses da Antigüidade mais violentos, num processo de sincretismo religioso até então sem precedentes. Todas essas deturpações vingaram entre as populações incultas da Europa, a partir do século IV da Era Cristã, asfixiando a essência dos ensinos renovadores do Cristo e criando condições propícias para a revolta do ateísmo e do materialismo que explodiria na Era da Razão, após a Idade Média. A unicidade de Deus, que devia ampliar e elevar o conceito de Deus no mundo, transformou-se na multiplicidade dos deuses, no politeísmo dos altares carregados de imagens destinadas à adoração dos crentes interessados em milagres e no comércio de indulgências. A Reforma do século XVI, iniciada por Lutero, com objetivo de retorno ao Cristianismo puro, foi também desfigurada pela influência de inovadores violentos, como Calvino, apegado à violência bíblica.
Apesar de todas essas deformações, o Cristianismo, particularmente após a Reforma de Lutero e a publicação dos Evangelhos em línguas populares de várias nações, contribuiu poderosamente para modificar a selvageria dos homens; porque os princípios cristãos, vividos por clérigos humildes e humanos como Francisco de Assis e outros, conseguiram tocar os corações sensíveis em todo o mundo.Victor Hugo, em seu Prefácio de Cromwell, considerado como manifesto do romantismo, traçou em pinceladas ardentes a modificação profunda que o Cristianismo conseguiu, apesar de todos os percalços, promover no pensamento europeu, com reflexos mundiais. O conceito de Deus como o Pai era tão poderoso, correspondia de tal maneira aos anseios de populações cansadas de guerras e violências, que conseguiu superar os malefícios, embora em parte, das adulterações ocorridas em dois mil anos e ainda hoje em desenvolvimento. Essa constitui uma prova altamente significativa, na dura experiência religiosa da Terra, da importância do conceito de Deus para a evolução planetária. Por isso, apesar de tudo, podemos ainda esperar que o restabelecimento progressivo, lento e difícil, da pureza dos ensinos de Jesus, juntamente com o avanço cultural e científico do nosso tempo, que leva a Ciência à necessária conversão, prepare nos próximos séculos condições mais favoráveis à espiritualização racional da Terra. A razão conturbada por tantos absurdos deverá restabelecer-se em seus fundamentos espirituais, pois quem diz razão não se refere à matéria, mas ao espírito. Apesar das confusões materialistas a respeito de cérebro e mente, já se começa a compreender essa coisa tão simples e clara: que a razão é função do espírito e, como assinalou Rhine, que o pensamento é uma energia extrafísica. Enquadrando-se nessa nova perspectiva e conceito existencial de Deus, é possível que a guerra nuclear desapareça com o advento das novas gerações, libertas dos prejuízos do passado e do presente. É sempre melhor pensar no melhor.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

No Limiar do Amanhã / A cura pela prece



A cura pela prece

“A cura espírita por meio de passes não é só uma sugestão? Por que o médium precisa esfregar a mão numa pessoa doente para curá-la? Os santos não curam, por meio de preces?”
Sim, todos nós podemos curar, por meio de preces. A prece é uma vibração. Essa vibração se dirige ao mundo espiritual e estabelece uma comunicação entre nós e os Espíritos, que nos podem atender. A prece, portanto, é uma maneira de falarmos com o mundo espiritual e ficou claramente explicada agora, com as investigações da Parapsicologia que, estudando o problema da transmissão do pensamento à distância, entre pessoas vivas, confirmou aquilo que o Espiritismo vem dizendo há mais de um século: que quando nós oramos, emitimos pensamentos que podem atravessar as maiores distâncias e podem comunicar-se com Espíritos que estejam nos planos mais elevados da Criação.
Muita gente diz: “Eu não acredito na prece, porque como Deus vai me ouvir? Deus é um Poder Superior, muito mais elevado do que qualquer um de nós. Está numa posição que não podemos nem imaginar; não sabemos a que distância ele se encontra de cada um de nós. Então, não adianta orar, porque a nossa prece não vai atingir a Deus”.
Em primeiro lugar, precisamos saber que Deus não é uma pessoa como nós, é uma Inteligência Suprema, criadora, e essa Inteligência é absoluta e não relativa, como a nossa. Nós nem mesmo podemos defini-la, descrevê-la. É praticamente impossível explicarmos o que seja Deus, a não ser por essa afirmação, que é a única que o Espiritismo admite: “Deus é a Inteligência Suprema do Universo, causa primária de todas as coisas”. Dessa Inteligência Suprema decorrem todas as criações do Universo.
Pode ser absurdo o que fazemos com Deus. Mas Deus não está apenas na distância; ele está também presente em nós. Ele está em nosso coração. Ele está em nossa mente, porque é onipresente, está em toda parte. Mas está em toda parte por que? Porque, sendo absoluto, tudo quanto existe está dentro Dele. Tudo quanto existe está ligado a Deus, está em Deus. É por isso que o apóstolo Paulo dizia, quando escreveu em suas epístolas: “Nós vivemos e nós morremos em Deus”.
Quando falamos a Deus, portanto, falamos dentro de nós mesmos, no nosso coração, na nossa inteligência, na nossa consciência. E Deus nos ouve. Deus nos pode responder. Quando estudamos o problema da prece, à luz do Espiritismo, nós vemos que ela representa uma das forças mais poderosas de que o homem pode dispor, na Terra.
É claro que a prece vale muito pela maneira como é feita; não a forma, mas a maneira. A maneira tem que ser espontânea, tem que ser real; nós temos de sentir aquilo que estamos pedindo. Temos que ter fé, acreditar, realmente, que estamos nos dirigindo a um Ser superior, que possa atender-nos. Essa crença, essa confiança, são importantes, porque estabelecem a ligação necessária entre nós e aquelas entidades espirituais a que nos dirigimos. Assim, a prece pode realmente produzir curas. Quantas pessoas já se curaram através da vibrações de uma prece?
Quanto ao médium dar passes, os mesmos são simplesmente a transmissão de fluidos e de vibrações, portanto de correntes energéticas, a um indivíduo doente. Existem o passe magnético, o passe hipnótico e o passe espírita. Esse último difere do passe hipnótico propriamente dito, porque é um passe em que o médium serve de instrumento para os Espíritos.

O Evangelho no Lar

“Tenho um casal de filhos, com situação ótima financeira. Eles têm tudo o que querem, em matéria de conforto e outras necessidades, que muitas pessoas gostariam de alcançar. Mas minha filha é revoltada. Eu não tenho possibilidades de dialogar com ela. Qual o motivo dessa revolta? Faço o possível para compreender meus filhos. Será que o fato se dá por eu ter dado a eles carinho em demasia? Será falta de uma ocupação, como, por exemplo, o trabalho? O que o senhor me aconselha?”
Esse problema de relacionamento em família está muito em voga, no momento. Você não está em dificuldades em relação a outros familiares. Nós sabemos que estamos numa fase de transição na vida terrena. Estamos passando para um mundo melhor. Mas essa passagem não se faz facilmente. Temos que saldar os nossos débitos com muitas outras criaturas. E elas podem aparecer dentro da nossa própria família, pelas suas relações de afinidade conosco. Não são nossos inimigos, mas criaturas a quem devemos.
Elas, por sua vez, têm também as suas dívidas para conosco. É preciso fazermos aquilo que Jesus nos ensinou, no Evangelho: acertarmos o passo com o nosso companheiro, enquanto estamos a caminho com ele. E é preciso procurarmos compreender aquelas criaturas que se mostram difíceis, procurando sempre o apoio do Alto, o refúgio na oração e na prece, que nos trará o auxílio dos bons Espíritos, para o que o nosso familiar se harmonize conosco, em casa.
Eu pergunto à querida ouvinte se ela realiza, em sua casa, o Evangelho no Lar. É ímã para o trabalho, muito bom, salutar, que corta muitas arestas, na rotina da vida em família. Uma vez por semana, reunimos a família em torno da mesa, lemos um trecho de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, e fazemos uma prece. É o suficiente, muitas vezes, para trazermos um novo clima, formarmos um novo ambiente e encontrarmos uma nova solução para os nossos problemas.

No Limiar do Amanhã/A busca da Verdade



A busca da Verdade
Herculano Pires

“Professor, considero o Espiritismo uma tentativa ingênua de racionalizar a Religião. As transmissões não são racionais. São realizações emocionais, para ajudarem o homem a suportar a vida. Como o senhor me responderia a isto?”
Respondo que continua em vigor o seu preconceito. O senhor está tratando com preconceito o problema religioso. Quem lhe disse que se chegou à conclusão, do ponto de vista científico e religioso, de que a religião seja isto, apenas um problema emocional? Não. O senhor conhece, por exemplo, a posição pragmática de William James, nos Estados Unidos, no tocante às religiões? O senhor sabe que ele encarou as religiões sob o ponto de vista racional e didático e chegou à conclusão de que a Religião tem uma finalidade prática, muito importante, na vida humana?
O senhor sabe que Augusto Comte, o grande filósofo do Positivismo, que fez a sua filosofia baseada inteiramente no estado subjetivo da ciência, acabou criando aquilo que ele chamou a religião da humanidade? Sabe que no Rio de Janeiro existem centros positivistas, onde o senhor pode assistir às cerimônias religiosas? Que Augusto Comte confirmou a existência da Metafísica baseando-se nas experiências concretas e positivas? Que para ele as religiões não tratavam de um Deus imaterial, abstrato, mas daquilo que ele chamava a Deusa, que é a própria humanidade, o culto da humanidade?
A religião não tem apenas um sentido emocional, mas também um sentido de busca da verdade. A religião faz parte do campo do conhecimento. No tocante ao Espiritismo, nós consideramos o seu conhecimento, no sentido geral, em três campos, três grandes províncias, por assim dizer, que são: a Ciência, a Filosofia e a Religião. As ligações entre esses campos do conhecimento são ligações praticamente genéticas. Por que? Porque sempre a Ciência nasce da experiência do homem, no contato com a natureza, da sua procura em conhecer a realidade das coisas, em descobrir as leis que as governam e servir-se delas, para poder utilizar-se delas.
A Ciência dá os dados sobre a realidade. Esses dados vão levar o homem a formular um conceito da natureza, a criar uma concepção do mundo, da vida. Essa concepção do mundo é a Filosofia. Então, a Ciência nasce da experiência humana na Terra. A Filosofia nasce das conquistas da Ciência. Essas conquistas se projetam na concepção do mundo formal, que é a Filosofia, e permitem que o homem tenha um comportamento adequado àquilo que ele considera ser o mundo, na feição moral. Mas a moral mostra que o homem não é um ser efêmero, como nos parece, pela sua aparência material. Assim, o ser, que sobrevive após a morte, nos leva, naturalmente, à Religião. A Religião é, então, a busca da verdade, da mesma forma que a Ciência, da mesma forma que a Filosofia. Cada uma testa e estrutura o seu conhecimento; cada uma no seu campo. Todas elas exercem, em conjunto, uma função, que é a busca da verdade.
O senhor se engana, portanto, ao considerar a Religião como apenas um campo da emoção. O senhor fala isso por causa da fé. Mas é preciso lembrar que Allan Kardec fez a crítica da fé e chegou à conclusão de que a fé verdadeira é a fé que se ilumina, à luz da razão.

No Limiar do amanhã /A evolução do Espírito




“Se existem mundos melhores do que este, por que vivemos aqui: Deus tem os seus privilegiados, que vivem em mundos melhores?”
O senhor está encarando o problema dentro de uma concepção estreitamente humana, que respeita, inclusive, o condicionamento social em que nós vivemos. Não. Deus não é um chefe político. Deus não é um administrador de empresas, que possa ter os seus privilegiados. Deus é a suprema inteligência do Universo, causa primária de todas as coisas. Ele é o Criador. Ele impulsiona na sua criação o desenvolvimento de todas as criaturas num mesmo e único sentido.
Nós todos temos de evoluir, de progredir. Mas se aqui estamos na Terra e outras criaturas habitam mundos superiores, é porque ainda não atingimos, na nossa evolução, a condição necessária para habitar esses mundos mais elevados. A vida é uma ascensão contínua. Bastaria isso para nos mostrar a sua grandeza e a grandeza do poder de Deus. Nós subimos, desde os planos inferiores da criação, através da evolução, e quando chegamos ao homem nós partimos para o mundo superior, o que no Espiritismo chamamos de angelitude, quer dizer, o plano dos anjos.
Os anjos não são mais do que homens evoluídos. São Espíritos humanos depurados, aperfeiçoados, que se desprenderam dos planos inferiores da criação e conseguiram desenvolver as suas potencialidades internas, a sua inteligência, a sua afetividade, a sua vontade, num plano extremamente superior, extremamente elevado.
As religiões os chamam de anjos, mas para nós, espíritas, esses anjos são os Espíritos puros, que já desenvolveram os seus mais elevados sentimentos. Na proporção em que os Espíritos se elevam, eles passam a habitar mundos superiores. Mas ninguém está privado de habitar esses mundos. Todos caminhamos para lá.
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“Por que temos que renascer neste mundo? Não progrediremos melhor nos planos espirituais onde, segundo o Espiritismo, tudo é melhor?”
A evolução é um progresso contínuo. Nós temos que conceber o problema não apenas através da nossa concepção humana das coisas. Precisamos ir um pouco além. Precisamos compreender que estamos lidando com um processo universal, cósmico, e que todo o Cosmo está implicado nesse processo. Assim, quando estamos aqui na Terra, passando por uma evolução necessária, é porque o nosso Espírito, dotado de potências que ainda não foram desenvolvidas, precisa, na vida terrena, dos choques da vida material, do contato, ainda, com as condições dos reinos inferiores, de que ele partiu.
O senhor pode ler na Bíblia aquele trecho alegórico, bastante importante, que diz assim: “Deus fez o homem do barro e da terra”. Ora, esta expressão nos coloca diante de uma verdade que o Espiritismo comprova pela experiência. Deus tira o Espírito humano do princípio inteligente do Universo, que é um motivo de organização e de estruturação de todas as formas da matéria, desde o reino mineral até o reino hominal. Assim sendo, esse princípio inteligente tem potências que vão sendo desenvolvidas, através desses reinos. Portanto, se ainda estamos aqui na Terra é porque não estamos em condições, não poderíamos viver num mundo superior, onde nossa inteligência e nossa sensibilidade não estariam em condições de se relacionarem com as coisas circundantes. Não teríamos sensibilidade para captarmos as sutilezas desse mundo, para percebermos as coisas que nele existem e para convivermos com os seus habitantes. É por isso que continuamos a nos preparar na Terra até que atinjamos a condição necessária para subirmos a mundos elevados.

sábado, 15 de setembro de 2012

Comentários de Emmanuel, Chico, Herculano Pires baseado no item 27 do Evangelho do Capítulo 5 Bem Aventurados os Aflitos..



autógrafos  bienal  do  livro


Chico Xavier

Francisco Cândido Xavier esteve no encerramento da II Bienal Internacional do Livro autografando livros por ele psicografados. Entre essas obras figura um volume de poemas intitulado “Flores de 0utono”, de autoria de Jesus Gonçalves, poeta hanseniano que desencarnou no Sanatório de Pirapitingui, neste Estado. O livro se divide em três partes: 1ª) poemas da fase em que o poeta era materialista; 2ª) poemas ela fase espírita do poeta; 3ª) poemas do após morte, psicografados por Chico Xavier.
A essa ultima parte pode agora ser acrescentado o soneto “Mensagem de Companheiro” que Chico nos conta como recebeu:
“Essa página foi produzida numa de nossas reuniões públicas recentes. Tínhamos conosco vários visitantes ligados a entes queridos, atualmente na condição de hansenianos. A nossa conversação, antecedendo as tarefas espirituais da noite, versava sobre companheiros transitoriamente separados do lar e da família. Iniciada a reunião, O Evangelho Segundo o Espiritismo nos ofereceu para estudo o item 27 do capítulo V, intitulado “Dever-se-á pôr termo às provas do próximo?”, que nos deu oportunidade a muitas reflexões.
Ao fim das tarefas nosso amigo Jesus Gonçalves escreveu a poesia que passo às suas mãos amigas, na idéia de que ela tenha utilidade para os seus sempre valiosos comentários.”
Realizada de 17 a 25 de junho de 1972 no Pavilhão Armando Arruda Pereira, Ibirapuera, São Paulo – Capital.

MENSAGEM DE COMPANHEIRO

Jesus Gonçalves

A ti, meu irmão, que assumiste comigo pesados encargos da existência num sanatório de hansenianos, sem possibilidades de cura física; a ti, para quem a ciência da Terra não conseguiu trazer, tanto quanto a mim, o medicamento salvador; a ti, que não tiveste, qual me ocorreu, a consolação dos egressos; a ti, que sofres entre a fé viva e a dúvida inquietante, entre a tentação à revolta e a aceitação da prova, acreditando-te freqüentemente esquecido pelas forças do Céu, ofereço a lembrança fraternal destes versos.

Não te admitas réu de afrontosa sentença,
Largado de hora em hora à sombra em que te esmagas,
Varando tanta vez humilhações e pragas
À feição de calhaus da humana indiferença.

Crueldade, paixão, injúria, crime, ofensa
Criaram-nos, um dia, a estampinha de chagas!...
No pretérito abriste o espinheiro em que vagas
E, embora a provação, trabalha, serve e pensa.

Ânsia, tribulação, abandono, amargura,
São recursos da lei com que a lei nos depura
O coração trancado em nódoas escondidas...

Bendize, amado irmão, as feridas que levas,
A dor extingue o mal e o pranto lava as trevas
Que trazemos em nós dos erros de outras vidas.

A ESTAMENHA DE CHAGAS

Irmão Saulo

Jesus Gonçalves utiliza em seus versos expressões como essas: túnica de chagas e estamenha de chagas para figurar a condição em que viveu no final da sua última existência terrena. A túnica de estamenha, grosseiro tecido de lã, era vestimenta comum na Judéia do tempo de Jesus. Evidente o simbolismo poético dessas expressões. Os judeus pobres vestiam-se de estamenha, enquanto os ricos usavam túnicas refulgentes dos mais finos tecidos. Mas na vida espiritual essa situação se invertia, como vemos na parábola evangélica de Lázaro e o rico.
No soneto de Jesus Gonçalves vemos o mesmo processo. A estamenha de chagas é tecida no passado da própria criatura pela sua crueldade e a sua arrogância. No tear do destino os fios da loucura humana são tecidos pelas nossas ações. E aquilo que tecemos é precisamente o que iremos vestir em próxima existência. Ninguém, portanto, está sujeito na Terra a uma “afrontosa sentença”, mas apenas submetido às conseqüências de seu próprio comportamento em vida anterior. A cada um segundo as suas obras, porque somente assim aprenderemos a vencer o mal, a superar nossas tendências inferiores, nosso egoísmo criminoso.
Os “recursos da lei” não representam condenação implacável, mas corrigenda necessária. Por isso escrevia Léon Denis: “A dor é uma lei de equilíbrio e educação”. Mas nem por isso devemos pensar que os sofredores não devem ser socorridos. A lei maior da caridade nos obriga a ajudar os que sofrem. É o que ensina o item 27 do capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo. É verdade que “a dor extingue o mal e o pranto lava as trevas”, mas a indiferença ante a dor e o pranto do próximo é também um mal que pode e deve ser extinto pela caridade. Socorrendo os que sofrem estaremos tecendo, no tear do nosso destino, os fios da sensatez e da bondade que nos preparam uma túnica de luz para o futuro.
 
Do livro “Na Era do Espírito”. Psicografia de Francisco C. Xavier e Herculano Pires. Espíritos Diversos