autógrafos bienal do livro
Chico Xavier
Francisco Cândido Xavier esteve no encerramento da
II Bienal Internacional do Livro autografando livros por ele psicografados.
Entre essas obras figura um volume de poemas intitulado “Flores de 0utono”, de
autoria de Jesus Gonçalves, poeta hanseniano que desencarnou no Sanatório de
Pirapitingui, neste Estado. O livro se divide em três partes: 1ª) poemas da
fase em que o poeta era materialista; 2ª) poemas ela fase espírita do poeta;
3ª) poemas do após morte, psicografados por Chico Xavier.
A essa ultima parte pode agora ser acrescentado o
soneto “Mensagem de Companheiro” que Chico nos conta como recebeu:
“Essa página foi produzida numa de nossas reuniões
públicas recentes. Tínhamos conosco vários visitantes ligados a entes queridos,
atualmente na condição de hansenianos. A nossa conversação, antecedendo as
tarefas espirituais da noite, versava sobre companheiros transitoriamente
separados do lar e da família. Iniciada a reunião, O Evangelho Segundo o
Espiritismo nos ofereceu para estudo o item 27 do capítulo V, intitulado
“Dever-se-á pôr termo às provas do próximo?”, que nos deu oportunidade a muitas
reflexões.
Ao fim das tarefas nosso amigo Jesus Gonçalves
escreveu a poesia que passo às suas mãos amigas, na idéia de que ela tenha
utilidade para os seus sempre valiosos comentários.”
Realizada de 17 a 25 de junho de 1972 no Pavilhão
Armando Arruda Pereira, Ibirapuera, São Paulo – Capital.
MENSAGEM DE
COMPANHEIRO
Jesus
Gonçalves
A ti, meu irmão, que assumiste comigo pesados
encargos da existência num sanatório de hansenianos, sem possibilidades de cura
física; a ti, para quem a ciência da Terra não conseguiu trazer, tanto quanto a
mim, o medicamento salvador; a ti, que não tiveste, qual me ocorreu, a
consolação dos egressos; a ti, que sofres entre a fé viva e a dúvida
inquietante, entre a tentação à revolta e a aceitação da prova, acreditando-te
freqüentemente esquecido pelas forças do Céu, ofereço a lembrança fraternal
destes versos.
Não te admitas réu de afrontosa sentença,
Largado de hora em hora à sombra em que te esmagas,
Varando tanta vez humilhações e pragas
À feição de calhaus da humana indiferença.
Crueldade, paixão, injúria, crime, ofensa
Criaram-nos, um dia, a estampinha de chagas!...
No pretérito abriste o espinheiro em que vagas
E, embora a provação, trabalha, serve e pensa.
Ânsia, tribulação, abandono, amargura,
São recursos da lei com que a lei nos depura
O coração trancado em nódoas escondidas...
Bendize, amado irmão, as feridas que levas,
A dor extingue o mal e o pranto lava as trevas
Que trazemos em nós dos erros de outras vidas.
A ESTAMENHA
DE CHAGAS
Irmão Saulo
Jesus Gonçalves utiliza em seus versos expressões
como essas: túnica de chagas e estamenha de chagas para figurar a condição em
que viveu no final da sua última existência terrena. A túnica de estamenha,
grosseiro tecido de lã, era vestimenta comum na Judéia do tempo de Jesus.
Evidente o simbolismo poético dessas expressões. Os judeus pobres vestiam-se de
estamenha, enquanto os ricos usavam túnicas refulgentes dos mais finos tecidos.
Mas na vida espiritual essa situação se invertia, como vemos na parábola
evangélica de Lázaro e o rico.
No soneto de Jesus Gonçalves vemos o mesmo
processo. A estamenha de chagas é tecida no passado da própria criatura pela
sua crueldade e a sua arrogância. No tear do destino os fios da loucura humana
são tecidos pelas nossas ações. E aquilo que tecemos é precisamente o que
iremos vestir em próxima existência. Ninguém, portanto, está sujeito na Terra a
uma “afrontosa sentença”, mas apenas submetido às conseqüências de seu próprio
comportamento em vida anterior. A cada um segundo as suas obras, porque somente
assim aprenderemos a vencer o mal, a superar nossas tendências inferiores,
nosso egoísmo criminoso.
Os “recursos da lei” não representam condenação
implacável, mas corrigenda necessária. Por isso escrevia Léon Denis: “A dor é
uma lei de equilíbrio e educação”. Mas nem por isso devemos pensar que os
sofredores não devem ser socorridos. A lei maior da caridade nos obriga a
ajudar os que sofrem. É o que ensina o item 27 do capítulo V de O Evangelho
Segundo o Espiritismo. É verdade que “a dor extingue o mal e o pranto lava as
trevas”, mas a indiferença ante a dor e o pranto do próximo é também um mal que
pode e deve ser extinto pela caridade. Socorrendo os que sofrem estaremos
tecendo, no tear do nosso destino, os fios da sensatez e da bondade que nos
preparam uma túnica de luz para o futuro.
Do livro “Na
Era do Espírito”. Psicografia de Francisco C. Xavier e Herculano Pires.
Espíritos Diversos
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