Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!
Mostrando postagens com marcador Brasil Coração do Mundo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Brasil Coração do Mundo. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 13 de maio de 2021

AS VIBRAÇÕES MARIANAS DE MAIO E A ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO: "À Vossa Alteza Imperial manda-me o povo agradecido impetrar a graça de aceitar esta pena, como glorioso instrumento histórico e troféu inteiramente popular, a qual deve assinar a lei nº 3.353 de 13 de Maio de 1888, que elimina o nome escravo da nação brasileira! E com ela, Senhora, algumas palavras, que devem recordar sempre a mais brilhante data, que será inscrita entre os acontecimentos de maior vulto da vida política, social e moral de um povo na história da pátria!

As vibrações marianas de maio e a abolição da escravidão:


O livro Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho, do Espírito Humberto de Campos, destaca farto material sobre os rumos tomados pela reengenharia espiritual visando às conquistas da maturidade da civilização brasileira.

De imediato um ponto ressalta aos olhos:

[...] A própria princesa Isabel, cujas tradições de nobreza e bondade jamais serão esquecidas no coração do Brasil, viera ao mundo com a tarefa definida no trabalho abençoado da abolição. [...]¹

Então, renasce D. Isabel em 29 de julho de 1846, cujo Espírito era marcado por profunda religiosidade. Católica extremosa, mantinha-se fiel às suas crenças, independentemente das críticas que sofria, principalmente pelas liberdades de imprensa.

É assim que, em 8 de dezembro de 1868, em romaria, a princesa visita a Basílica de Nossa Senhora da Aparecida, onde em prece promete que daria à imagem da santa uma coroa de ouro, cravejada de diamantes e rubis, e um manto azul ricamente adornado, se ela concretizasse o seu ideal cristão de libertar os escravos do Brasil.

Veja, querido leitor, como a força do planejamento reencarnatório, 20 anos antes da abolição, falava mais alto no coração de Sua Alteza…

Um ano depois desta promessa religiosa, Bezerra de Menezes ( encarnado)  lança o seu opúsculo A escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para extingui-la sem danos para a nação.2 Repleto de espírito de liberdade, ele inicia o seu abençoado trabalho dirigindo-se Ao Público:

As questões sociais, do mesmo modo que as políticas, não podem ser convenientemente resolvidas senão pela discussão. É do choque das ideias que sai a luz da verdade… Esta consideração me deu ânimo e coragem para inscrever o meu obscuro nome no livro glorioso dos que pleiteiam a causa da emancipação. (Op. cit., p. 3.)

Discussão aberta, a falange de Ismael, dos dois lados da vida, se movimenta pela boa causa. Aproveitando- se da viagem do imperador Pedro II à Europa, D. Isabel, aos 24 anos, assume pela primeira vez a regência. Neste período, ela sanciona a Lei do Ventre Livre, a 28 de setembro de 1871. Sabia a princesa que seu ato não era ainda o ideal perfeito, mas, inspirada por Ismael, garantia ao país “a extinção gradual do cativeiro, mediante processos pacíficos”, como registra o Espírito Humberto de Campos (Op. cit., p. 160).

Novos passos são dados em direção à libertação… Em 3 de janeiro de 1872, o barão de Drummond3 adquiriu as terras da Imperial Quinta do Macaco com o propósito de urbanização e criação do Bairro de Vila Isabel – em uma bela homenagem à nossa Princesa. Para isso foi fundada a Companhia Arquitetônica, com a colaboração de Bezerra de Menezes, sócio neste empreendimento.

Ali, naquelas terras, seria criado o Boulevard 28 de Setembro – em clara homenagem à Lei do Ventre Livre –nos moldes da progressista Paris, que desembocaria na Praça 7 de Março – data da criação do Gabinete abolicionista do Visconde do Rio Branco, hoje conhecida por Praça Barão de Drummond. As ruas transversais teriam nomes de abolicionistas.

Como se vê, Bezerra de Menezes concentrava e materializava a vontade libertadora do Alto. Faltava pouco, muito pouco, para a realização dos ideais abolicionistas.

É, então, que Ismael se reúne com o Cristo – o Senhor de todas as esperanças! – para ouvir suas deliberações: “– Ismael, o sonho da liberdade de todos os cativos deverá concretizar-se agora, sem perda de tempo” – escreve Humberto de Campos (Op. cit., p. 162).

Enfim chega o abençoado mês de maio com suas luzes, perfumes e orações, rarefazendo a psicosfera terrestre, como constata o Espírito Humberto de Campos:4

[...] as preces da Terra misturam–se com as vibrações do Céu, em homenagem à Mãe do Salvador, no trono de sua virtude e de sua glória. Se o planeta da lágrima se povoa de orações e de flores, há roseiras estranhas, florindo nas estradas prodigiosas do paraíso, nos altares iluminados de outra natureza, e Maria, sob o dossel de suas graças divinas, sorri piedosamente para os deserdados do mundo e para os infelizes dos espaços, derramando sobre os seus corações as flores preciosas de sua consolação. [...]

[...] Dos altares terrestres e dos corações que se desfazem nas ânsias cristãs, no planeta das sombras, eleva-se uma onda de amor, em volutas divinas e a Rosa de Nazaré estende aos sofredores o seu manto divino, constelado de todas as virtudes… [...]4

Em 3 de maio de 1888, na “Fala do Trono”, a Princesa Regente, no Senado, se posiciona com firmeza sobre a abolição: “Confio em que não hesitarei de apagar do direito pátrio a única exceção que nele figura”. Então, o novo presidente do Conselho de Ministros João Alfredo Correia de Oliveira assegurou a aprovação da Lei 3.353, de 13 maio de 1888. 

A Princesa Isabel, em estado de êxtase, ratifica a Lei Áurea. Estava feita a vontade do Alto. O Brasil assumia a sua maioridade espiritual. Comenta o Espírito Humberto de Campos, em Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho:

[...] Junto do espírito magnânimo da princesa, permanece Ismael com a bênção da sua generosa e tocante alegria. Foi por isso que [José do] Patrocínio, intuitivamente, no arrebatamento do seu júbilo, se arrastou de joelhos até aos pés da princesa piedosa e cristã. [...] (Op. cit., p. 163.)

Dias antes, quando se preparava a Lei Áurea e ares benfazejos sopravam pela pátria anunciando que a liberdade não tardaria, surgiu uma subscrição popular, patrocinada pelo professor do Colégio Pedro II, Luis Pedro Drago, 5 para a confecção da pena, de ouro 18 quilates e cravejada de 27 diamantes, que assinaria o magno documento. É assim que políticos, empresários, populares e até escravos fugitivos e alforriados do Quilombo do Leblon colaboraram financeiramente para a materialização da pena que representa o início de um sonho de cidadania e de igualdade. Ela fala de um Brasil que passou a incorporar as massas excluídas. Todos queriam contribuir. No total, nas muitas listas, são mais de três mil assinaturas.

É maravilhoso ver na lista nº 84 a assinatura do fundador de Reformador (1883) e da Federação Espírita Brasileira (1884), o fotógrafo português A. Elias da Silva.6 (Ver fotocópia 1.)5 

Aliás, era abreviando o nome Augusto (A.) que ele assinava e se apresentava em seu cartão profissional. 6 (Ver fotocópia 2.)7

Hoje essa pena se encontra no Museu Imperial de Petrópolis, no Rio de Janeiro.

O surpreendente, é que foi dado a um espírita, amigo de Bezerra de Menezes, o professor e político Luis Pedro Drago, para fazer a oferta da pena à Princesa Isabel, acompanhado de um discurso que retratasse todo o sentimento da pátria brasileira. Esse documento, dada a sua beleza e grandeza, foi gravado em uma placa de prata brasonada e se encontra no Museu do Outeiro da Glória.

Ressalto ainda que o professor Luis Pedro Drago foi o padrinho de casamento da segunda filha de Bezerra de Menezes, de nome Ernestina (Zizinha), com o Sr. João Mendes, na Igrejinha de São Cristóvão, a 11 de janeiro de 1890, juntamente com o primo do Dr. Bezerra, o engenheiro João Batista de Maia Lacerda, futuro vice-presidente da Federação Espírita Brasileira. 

Acompanhemos algumas palavras do seu discurso inspiradíssimo:
À Vossa Alteza Imperial manda-me o povo agradecido impetrar a graça de aceitar esta pena, como glorioso instrumento histórico e troféu inteiramente popular, a qual deve assinar a lei nº 3.353 de 13 de Maio de 1888, que elimina o nome escravo da nação brasileira! E com ela, Senhora, algumas palavras, que devem recordar sempre a mais brilhante data, que será inscrita entre os acontecimentos de maior vulto da vida política, social e moral de um povo na história da pátria! 

… E vós, Senhora, a quem a pátria deve o maior cometimento, porque foi ele firmado não só por um princípio altamente religioso, mas ainda eminentemente humanitário, consentireis que o vosso povo vos aclame: D. Isabel, a Redentora. E assim, Senhora, vivereis na história com essa coroa radiante das flores da redenção transpondo desde agora o vestíbulo da glória que vos conduzirá ao templo da Imortalidade. O Orador, Luis Pedro Drago.

E, como diz o ditado: “promessa é dívida!”, a Princesa Isabel não deixou de cumprir a sua promessa à Mãe de Jesus, por ter plenamente realizado o seu elevado compromisso reencarnatório. E, assim, em oração, visita o santuário de Nossa Senhora Aparecida, em São Paulo, a 6 de novembro de 1888, agradecendo à Virgem as bênçãos da vivência fraterna de todas as raças na Pátria do Evangelho de seu Filho.

Referências:
1 XAVIER, Francisco C. Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho. Pelo Espírito Humberto de Campos. 34. ed. 6. imp. Brasília: FEB, 2015. cap. 26, O movimento abolicionista.
2 MENEZES, Dr. Adolfo Bezerra. A escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para extingui-la sem danos para a nação. Typ. Progresso, Rua de Gonçalves Dias, nº 60, Rio de Janeiro, 1869.
3 Médium psicógrafo, sonambúlico e de outras espécies. Ele frequentava reuniões espíritas na casa de Bezerra. Ver MENEZES, Bezerra. Loucura sobre novo prisma. 14. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. cap. 2, p. 116.
4 XAVIER, Francisco C. Novas mensagens. Pelo Espírito Humberto de Campos. 14. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2014. cap. 12, p. 87 e 88. .
5 MILLAN, Cleusa de Souza.; MILLAN, José Henrique. A pena de ouro da Lei Áurea e o elemento servil no Brasil. Prefácio: Martins, Jorge Damas. Rio de Janeiro: Ed. Oficina do Livro, 2013. p. 325, 292, respectivamente.
6 Augusto Elias da Silva casou com a Sra. Mathilde Maria das Dores Pinheiro. A Proclama foi lida na capela Imperial, em 21 de maio de 1876 (O Apóstolo, nº 58, 24 de maio de 1876, p. 4, e O Globo, nº 144, 25 de maio de 1876, p. 2).
7 KOSSOY, Boris. Dicionário histórico- fotográfico brasileiro. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. p. 293.

quarta-feira, 21 de abril de 2021

TIRADENTES NOS BRAÇOS DE ISMAEL.


"resgatas hoje os delitos cruéis que cometeste quando te ocupavas do nefando mister do inquisidor, nos tempos passados. Redimiste o pretérito obscuro e criminoso com as lágrimas do teu sacrifício em favor da Pátria do Evangelho de Jesus. Passarás a ser um símbolo para a posteridade, com o teu heroísmo resignado nos sofrimentos purificadores. Qual novo gênio surges, para espargir bênçãos sobre a terra do Cruzeiro, em todos os séculos do seu futuro. "




Tiradentes nos braços de Ismael


[...]
"Os historiadores falam do grande pavor daqueles onze homens que se ajuntavam, andrajosos e desesperados, na sala do Oratório, para ouvirem a sentença da sua condenação, após três longos anos de separação, em que haviam ficado incomunicáveis nos diversos presídios da época. A leitura da peça condenatória, pelo Desembargador Francisco Alves da Rocha, levou quase duas horas. Depois de conhecerem os seus termos, os infelizes conjurados passaram às mais dolorosas e recíprocas recriminações. Os mais tristes quadros de fraqueza moral se patenteavam naqueles corações desiludidos e desamparados; mas, no dia seguinte, a dura sentença era modificada. D. Maria I havia comutado anteriormente as penas de morte em perpétuo degredo nas desoladas regiões africanas, com exceção do Tiradentes, que teria de morrer na forca, conservando-se o cadáver insepulto e esquartejado, para escarmento de quantos urdissem novas traições à coroa portuguesa.

O mártir da inconfidência, depois de haver apreciado, angustiadamente, a defecção dos companheiros, reveste-se de supremo heroísmo. Seu coração sente uma alegria sincera pela expiação cruel que somente a ele fora reservada, já que seus irmãos de ideal continuariam na posse do sagrado tesouro da vida. As falanges de Ismael lhe cercam a alma leal e forte, inundando-a de santas consolações.

Tiradentes entrega o espírito a Deus, nos suplícios da forca, a 21 de abril de 1792. Um arrepio de aflitiva ansiedade percorre a multidão, no instante em que seu corpo balança, pendente das trevas do cadafalso, no Campo da Lampadosa.
Mas, nesse momento, Ismael recebia em seus braços carinhosos a alma edificada do mártir.

– Irmão querido – exclama ele – resgatas hoje os delitos cruéis que cometeste quando te ocupavas do nefando mister do inquisidor, nos tempos passados. Redimiste o pretérito obscuro e criminoso com as lágrimas do teu sacrifício em favor da Pátria do Evangelho de Jesus. Passarás a ser um símbolo para a posteridade, com o teu heroísmo resignado nos sofrimentos purificadores. Qual novo gênio surges, para espargir bênçãos sobre a terra do Cruzeiro, em todos os séculos do seu futuro. Regozija-te no Senhor pelo desfecho dos teus sonhos de liberdade, porque cada um será justiçado de acordo com as suas obras. Se o Brasil se aproxima da sua maioridade como nação, ao influxo do amor divino, será o próprio Portugal quem virá trazer, até ele, todos os elementos da sua emancipação política, sem o êxito incerto das revoluções feitas à custa do sangue fraterno, para multiplicar os órfãos e as viúvas na face sombria da Terra...

Um sulco luminoso desenhou-se nos espaços, à passagem das gloriosas entidades que vieram acompanhar o espírito iluminado do mártir, que não chegou a contemplar o hediondo espetáculo do esquartejamento.

Daí a alguns dias, a piedosa rainha portuguesa enlouquecia, ferida de morte na sua consciência pelos remorsos pungentes que a dilaceravam e, consoante as profecias de Ismael, daí a alguns anos era o próprio Portugal que vinha trazer, com D. João VI, a independência do Brasil, sem o êxito incerto das revoluções fratricidas, cujos resultados invariáveis são sempre a multiplicação dos sofrimentos das criaturas, dilaceradas pelas provações e pelas dores, entre as pesadas sombras da vida terrestre."

Trecho retirado do capítulo"Inconfidência Mineira" no Livro “Brasil – Coração do Mundo – Pátria do Evangelho”
Psicografia Francisco C. Xavier – Espírito Humberto de Campos


sábado, 22 de abril de 2017

A Pátria do Evangelho "As noites de Cabral são povoadas de sonhos sobrenaturais e, insensivelmente as caravelas inquietas cedem ao impulso de uma orientação imperceptível[...]Jesus:"“Helil, afasta essas preocupações e receios inúteis. A região do Cruzeiro, onde se realizará a epopeia do meu Evangelho, estará, antes de tudo, ligada eternamente ao meu coração. As injunções políticas terão nela atividades secundárias, porque, acima de todas as coisas, em seu solo santificado e exuberante estará o sinal da fraternidade universal, unindo todos os espíritos. Sobre a sua volumosa extensão pairará constantemente o signo da minha assistência compassiva e a mão prestigiosa e potentíssima de Deus pousará sobre a terra de minha cruz, com infinita misericórdia. As potências imperialistas da Terra esbarrarão sempre nas suas claridades divinais e nas suas ciclópicas realizações. Antes de o estar ao dos homens, é ao meu coração que ela se encontra ligada para sempre.”[...]Jesus a Ismael:"Reúne as incansáveis falanges do Infinito, que cooperam nos ideais sacrossantos de minha doutrina, e inicia, desde já, a construção da pátria do meu ensinamento. Para aí transplantei a árvore da minha misericórdia e espero que a cultives com a tua abnegação e com o teu sublimado heroísmo. Ela será a doce paisagem dilatada do Tiberíades, que os homens aniquilaram na sua voracidade de carnificina. Guarda este símbolo da paz e inscreve na sua imaculada pureza o lema da tua coragem e do teu propósito de bem servir à causa de Deus e, sobretudo, lembra-te sempre de que estarei contigo no cumprimento dos teus deveres, com os quais abrirás para a humanidade dos séculos futuros um caminho novo, mediante a sagrada revivescência do Cristianismo.[...]Primeiramente, surgiram os índios, que eram os simples de coração; em segundo lugar, chegavam os sedentos da justiça divina e, mais tarde, viriam os escravos, como a expressão dos humildes e dos aflitos, para a formação da alma coletiva de um povo bem-aventurado por sua mansidão e fraternidade. Naqueles dias longínquos de 1500, já se ouviam no Brasil os ecos acariciadores do Sermão da Montanha.





[...]Todavia, os planos da Escola de Sagres  estavam consolidados. Com a ascensão de D. Manuel I  ao poder, nada mais se fez que atingir o fim de longa e laboriosa preparação. Em 1498, Vasco da Gama  descobre o caminho marítimo das Índias e, um pouco mais tarde Gaspar de Corte Real descobre o Canadá. Todos os navegadores saem de Lisboa com instruções secretas quanto à terra desconhecida, que se localizava fronteira à África e que já havia sido objeto de protesto de D. João II contra a bula de Alexandre VI,  que pretendia impor-lhe restrições ao longo do Atlântico, por sugestão dos reis católicos da Espanha.
 No dia 7 de Março de 1500, preparada a grande expedição de Cabral  ao novo roteiro das Índias, todos os elementos da expedição, encabeçados pelo capitão-mor, visitaram o Paço de Alcáçova,  e na véspera do dia 9, dia este em que se fizeram ao mar, imploraram os navegadores a bênção de Deus, na ermida do Restelo,  pouso de meditação que a fé sincera de D. Henrique havia edificado. O Tejo estava coberto de embarcações engalanadas e, entre manifestações de alegria e de esperança, exaltava-se o pendão glorioso das quinas.
 No oceano largo, o capitão-mor considera a possibilidade de levar a sua bandeira à terra desconhecida do hemisfério sul. O seu desejo cria a necessária ambientação ao grande plano do mundo invisível. Henrique de Sagres aproveita esta maravilhosa possibilidade. Suas falanges de navegadores do Infinito se desdobram nas caravelas embandeiradas e alegres. Aproveitam-se todos os ascendentes mediúnicos.  As noites de Cabral são povoadas de sonhos sobrenaturais e, insensivelmente as caravelas inquietas cedem ao impulso de uma orientação imperceptível. Os caminhos das Índias são abandonados. Em todos os corações há uma angustiosa expectativa. O pavor do desconhecido empolga a alma daqueles homens rudes, que se viam perdidos entre o céu e o mar, nas imensidades do Infinito.  Mas a assistência espiritual do mensageiro invisível, que, de fato, era ali o divino expedicionário, derrama um claror de esperança em todos os ânimos. As primeiras mensagens da terra próxima recebem-nas com alegria indizível. As ondas se mostram agora, amiúde, qual colcha caprichosa de folhas, de flores e de perfumes. Avistam-se os píncaros elegantes da plaga do cruzeiro e, em breves horas, Cabral e sua gente se reconfortam na praia extensa e acolhedora. Os naturais os recebem como irmãos muito amados. A palavra religiosa de Henrique Soares de Coimbra eles a ouvem com veneração e humildade. Colocam suas habitações rústicas e primitivas à disposição do estrangeiro e reza a crônica de Caminha que Diogo Dias dançou com eles nas areias de Porto Seguro celebrando na praia o primeiro banquete de fraternidade na Terra de Vera Cruz.
A bandeira das quinas  desfralda-se então gloriosamente nas plagas da terra abençoada, para onde transplantara Jesus a árvore do seu amor e da sua piedade, e, no céu, celebra-se o acontecimento com grande júbilo. Assembleias espirituais, sob as vistas amorosas do Senhor, abençoam as praias extensas e claras e as florestas cerradas e bravias. Há um contentamento intraduzível em todos os corações, como se um pombo simbólico trouxesse as novidades de um mundo mais firme, após novo dilúvio.
 Henrique de Sagres, o antigo mensageiro do Divino Mestre, rejubila-se com as bênçãos recebidas do Céu. Mas, de alma alarmada pelas emoções mais carinhosas e mais doces, confia ao Senhor as suas vacilações e os seus receios:
— “Mestre — diz ele — graças ao vosso coração misericordioso, a terra do Evangelho florescerá agora para o mundo inteiro. Dai-nos a vossa bênção para que possamos velar pela sua tranquilidade, no seio da pirataria de todos os séculos. Temo, Senhor, que as nações ambiciosas matem as nossas esperanças, invalidando as suas possibilidades e destruindo os seus tesouros…”
 Jesus, porém, confiante, por sua vez, na proteção de seu Pai, não hesita em dizer com a certeza e a alegria que traz em si:
— “Helil, afasta essas preocupações e receios inúteis. A região do Cruzeiro, onde se realizará a epopeia do meu Evangelho, estará, antes de tudo, ligada eternamente ao meu coração. As injunções políticas terão nela atividades secundárias, porque, acima de todas as coisas, em seu solo santificado e exuberante estará o sinal da fraternidade universal, unindo todos os espíritos. Sobre a sua volumosa extensão pairará constantemente o signo da minha assistência compassiva e a mão prestigiosa e potentíssima de Deus pousará sobre a terra de minha cruz, com infinita misericórdia. As potências imperialistas da Terra esbarrarão sempre nas suas claridades divinais e nas suas ciclópicas realizações. Antes de o estar ao dos homens, é ao meu coração que ela se encontra ligada para sempre.”
 Nos céus imensos, havia clarões estranhos de uma bênção divina. No seu sólio de estrelas e de flores, o supremo Senhor sancionara, por certo, as bondosas promessas de seu Filho.
E foi assim que o minúsculo Portugal, através de três longos séculos, embora preocupado com as fabulosas riquezas das Índias, pôde conservar, contra flamengos e ingleses, franceses e espanhóis, a unidade territorial de uma pátria com oito milhões e meio de quilômetros quadrados e com oito mil quilômetros de costa marítima. Nunca houve exemplo como esse em toda a história do mundo. As possessões espanholas se fragmentaram, formando cerca de vinte repúblicas diversas. Os Estados americanos do norte devem sua posição territorial às anexações e às lutas de conquista. A Luisiana, o Novo México, o Alasca, a Califórnia, o Texas, o Oregon, surgiram depois da emancipação das colônias inglesas. Só o Brasil conseguiu manter-se uno e indivisível na América, entre os embates políticos de todos os tempos. É que a mão do Senhor se alça sobre a sua longa extensão e sobre as suas prodigiosas riquezas. O coração geográfico do orbe não se podia fracionar[...]

Dirigindo-se a um dos seus elevados mensageiros na face do orbe terrestre, em meio do divino silêncio da multidão espiritual, sua voz ressoou com doçura:
— “Ismael, manda o meu coração que doravante sejas o zelador dos patrimônios imortais que constituem a Terra do Cruzeiro. Recebe-a nos teus braços de trabalhador devotado da minha seara, como a recebi no coração, obedecendo a sagradas inspirações do Nosso Pai.  Reúne as incansáveis falanges do Infinito, que cooperam nos ideais sacrossantos de minha doutrina, e inicia, desde já, a construção da pátria do meu ensinamento.  Para aí transplantei a árvore da minha misericórdia e espero que a cultives com a tua abnegação e com o teu sublimado heroísmo.  Ela será a doce paisagem dilatada do Tiberíades, que os homens aniquilaram na sua voracidade de carnificina.  Guarda este símbolo da paz e inscreve na sua imaculada pureza o lema da tua coragem e do teu propósito de bem servir à causa de Deus e, sobretudo, lembra-te sempre de que estarei contigo no cumprimento dos teus deveres, com os quais abrirás para a humanidade dos séculos futuros um caminho novo, mediante a sagrada revivescência do Cristianismo.”[...]
Na sua branca substância uma tinta celeste inscrevera o lema imortal: “Deus, Cristo e caridade”.[...]O emissário de Jesus desce então à Terra, onde estabelecerá a sua oficina. Os exércitos dos seres redimidos e luminosos lhe seguem a esplêndida trajetória e, como se o chão do Brasil fosse a superfície de um novo Hélicon da imortalidade, a natureza, macia e cariciosa, toda se enfeita de luzes e sombras, de sinfonias e de ramagens odoríferas, preparando-se para um banquete de deuses.[...]

 Primeiramente, surgiram os índios, que eram os simples de coração; em segundo lugar, chegavam os sedentos da justiça divina e, mais tarde, viriam os escravos, como a expressão dos humildes e dos aflitos, para a formação da alma coletiva de um povo bem-aventurado por sua mansidão e fraternidade. Naqueles dias longínquos de 1500, já se ouviam no Brasil os ecos acariciadores do Sermão da Montanha.
.Humberto de Campos
(.Irmão X)

Fonte: Do Livro Brasil, Coração do Mundo , Pátria do Evangelho trechos retirados na íntegra dos capítulos 2 e 3
 Psicografado por Francisco Cândido Xavier