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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Reminiscência ( Grupo Ismael-1a Mensagem de Bezerra de Menezes)

REMINISCÊNCIA

Medeiros e Albuquerque
 
O Brasil republicano vagia entre as faixa do berço, quando conhecí Manuel Ramos, nome pelo qual designarei um amigo obscuro, que abracei pela primeira vez no curso de breve contenda com portugueses ilustres, a propósito de Floriano.
Comentávamos desfavoravelmente as atitudes cordiais do embaixador Camelo Lampreia, que primava pelo bom-senso, na conciliação dos elementos axaltados, ante os atos do Consolidador, quando um amigo brasileiro, justamente indignado, se prepara a revide de enormes proporções, de mundos cerrados e carantonha sombria. Assustado, procurava eu apartar os contendores, quando surge o Manuel, com a carcaça de um touro e com a alma de anjo, evitando o pugilato.
Conteve os antagonistas, qual se fora uma gladiador romano, habituado ao manejo de feras, e eu, tomado de simpatia, ofereci-lhe a mão, em sinal de reconhecimento, quando os ânimos irritados possibilitaram a conversa pacífica.
No amplexo amistoso, porém, observei que Manuel não era servidor comum, que se contentasse com a gorjeta ou com o elogio fácil.
Surpreendeu-me com o seu olhar indagador, a fixar-me insistentemente.
E quando preparei, intencional, as frases da despedida, o musculoso interventor da rixa inesperada me falou, sem preâmbulos:
Doutor Medeiros, poderá conceder-me uma palavrinha?
Quem não anuíra em ocasião como aquela?
O rapaz, contudo, foi breve. Biografou-se com simplicidade, atrvés de informes curtos e francos.
Era empregado na cozinha de portugueses acolhedores, que o faziam encarregado da bacalhoada acessível à numerosa freguesia, em atividade regular no porto. Fluminense de origem, buscava o Rio com o sonho maravilhoso de todos os moços pobres do interior, que imaginam na metrópole o Eldorado das miragens de Orellana. Não conseguira, entretanto, senão a colocação humilde, em casa de pasto, embora vivesse de livro às mãos.
Estudadva, estudava, mas... – salientava, desalentado – a sorte lhe fora incrivelmente adversa.
Onerado de compromissos, na órbita da família, vira o pai morrer, quase sem recursos, minado pela peste branca, e presenciara a loucura de sua mãe, desvairada de dor sobre o cadáver do companheiro e mais tarde internada, com ficha de indigente, em hospício da Capital.
Sobravam-lhe, ainda, quatro irmãs para cuidar.
Ganhava pouco e mal conseguia atender ao constante dreno doméstico. Agrupou em palavras rápidas e respeitosas diversas questões pequeninas que lhe apoquentavam a mente, detendo-se, porém, no caso materno, com minudências curiosas a lhe revelarem a grandeza do sentimento afetivo; e, por fim, imprimindo significativa reverência ao timbre de voz, pediu-me conselho, asseverando-se informado quanto aos meus estudos de magnetismo.
Não poderia, de minha parte, prestar-lhe socorro?
Reparando, talvez, a ponta de sarcasmo que me assomou ao sorriso de gozador impenitente, consertou o passo, acentuando que, se me não fosse possível a visita direta ao internato, a fim de aliviar-lhe a genitora doente, esperava que eu lhe desse, pelo menos, algumas noções alusivas ao assunto.
Ante a sinceridade cristalina e a beleza do devotamento filial que ele aparentava, por pouco lhe não pedi desculpas pela ironia silenciosa de momentos antes, e assenti.
Realmente, expliquei, não me confiava a experiências do teor daquela que me solicitava, mas dispunha de literatura valiosa e aproveitável.
Ceder-lhe-ia com prazer o material que desejasse.
Combinamos o encontro para o dia seguinte.
Apareceu Manuel, pontualmente, à entrevista, ouvindo-me, atencioso, como se ele estivesse à escuta de informações relativas a tesouros ocultos.
Acreditando falar muito mais comigo mesmo. Recordei, para começar, a fugura de Mesmer.
Manuel, contudo, não se mostrou leigo no assunto, Frederico Mesmer era para ele velho conhecido. Reportou-se, de modo simples, às leituras em francês a que se consagrava cada noite, em companhia de anônimo poliglota do subúrbio, e referiu-se à clínica do grande magnetizador na Place Vendôme, qual se houvera morado em Paris ao tempo de Luís XVI. Sabia quantos reveses o valoroso professor havia sofrido para provar as novidades científicas de que se sentia portador. O rapaz chegava a conhecer o texto do voto vencido, com o qual De Jussieu, o fundador da botânica moderna, se revelava o único amigo da verdade, na comissão indicada pela Sociedade Real de Medicina, a fim de apurar a realidade dos fenômentos magnéticos.
Agradavelmente surpreendido, senti-me à vontade no comentário aberto.
Recordei De Puységur, anotando-lhe os experimentos preciosos, quando, modiscado de curiosidade, passeava no salão a gritar, inquieto, para os ouvidos de seus pacientes: - “Dorme! Dome!”
E, num desfile de impressões do brasileiro que vive de frente para a Europa, falei-lhe de Braid, de Liébeault, Bernheim e Charcot, especificando as características das escolas de Nancy e de Paris.
Alinhei minhas próprias observações, e Manuel, então silencioso, me assinalava as palavras como se fora deslumbrado e ditoso devoto à frente de um semideus.
Recolheu, contente, a copiosa literatura em português e francês que lhe pus nas mãos ávidas e partiu.
De quando em quando me procurava, gentil, em visitas apressadas, a que, por minha vez, não prestava maior atenção.
A vida abriu-me caminho, por outros rumos, no seio do matagal, ao invés de seguir no curso de águas pacíficas, e, à maneira do seixo que rola para  o mar, impulsionado pelos detritos que descem da serra, a golpes irresistíveis da enxurrada grossa, ao invés de seguir no curso de águas, pacíficas, avancei no tempo, através de peripécias mil, na política e na imprensa, incapaz de erguer-me à esfera transcendente das cogitações religiosas.
Quando, em 1916, voltei da Europa com largo programa de serviço pró-adesão do Brasil aos Aliados, na culminância da batalha jornalística, eis que me aparece o Manuel, em pleno escritório, num singular extravasamento de alegria.
Forçava portas e afrontara auxiliares neurastênicos para ver-me e apertar-me nos braços.
Doutor Medeiros! Doutor Medeiros! Enfim! ... – clamava, ofegante – há quanto tempo, meu Deus! Há quanto tempo!...
Respondi-lhe ao abraço, com um sorriso forçado, porque nesse mesmo instante deveria avistar-me com Lauro Müller, a respeito de solenes decisões na campanha popular desencadeada.
Desejei provocar a retirada do importuno, que deixava transparecer nas bochechas de quarentão maduro aquela mesma alegria robusta do tempo de Floriano.
A conversação dele fazia-se absolutamente imprópria, a meu ver, em semelhante ocasião; entretanto, Manuel não me ofereceu qualquer oportunidade de censura cordial ao seu procedimento.
Eufórico, palavroso, desaparafusou a língua e narrou êxitos sobre êxitos.
O magnetismo desvendara-lhe estradas novas. Conseguira milagres. Mantinha correspondência ativa com estudiosos ilustres da França. Apresentava, garboso, conclusões próprias acerca do desdobramento da personalidade. Enfileirava apontamentos especiais sobre o sistema nervoso. Engalanava-se com dezenas de casos raríssimos de cura, inclusive o da própria genitora que se reequilibrara e ainda vivia.
E acrescentava informes, referentes ao jardim doméstico, sem me oferecer um minuto para qualquer consideração.
Casara-se. Possuía três filhos que pretendia apresentar-me. A esposa e ele acompanhavam, carinhosamente, as minhas páginas em “A Noite”. Convidava-me a visitar-lhe a família, quando chega o recinto a ex-ministro, fitando-me com assombro, como se me surpreendesse na companhia de um louco.
O antigo quituteiro do restaurante português não se deu por achado ouvindo declinar o nome do respeitável político. Iluminaram-se-me os olhos, cobrou ânimo novo e, sem mais nem menos, recomendou-nos freqüência assidua às sessões espirituais a que se dedicava nas noites de terças e sextas-feiras, junto de amigos e estudantes do Evangelho, encarecendo a necessidade de homens espiritualizados na administração do País. Reportou-se a Bittencourt Sampaio com frases quentes de aplauso. Sacou do bolso, que denotava prolongada ausência da lavanderia, seboso maço de papéis e leu, em voz estentórica, a prmeira mensagem de Bezerra de Menezes, no “Grupo Ismael”, através do médium Frederico Júnior, e, longe de parar, abriu diante de nós maltratado volume do Novo Testamento, combinando a leitura de alguns textos com as páginas de Allan Kardec, ao mesmo tempo que indagava de minhas impressões acerca da Casa dos Espíritos, em Paris.
Mastiguei uma resposta qualquer, e Manuel, absolutamente incapaz de entender a minha inadaptação às verdades de que se fizera pregoeiro, continuou exaltando os imperativos de renúncia e de sacrifício para nós ambos, como se fora trovejante doutrinador em praça pública.
E quando se inclinava no comentário de reencarnações passadas, afirmando ter vivido ao tempo de Gengis Khãn, mal sopitando a vergonha que aquela intimidade me provocava, recomendei-lhe silêncio em tom autoritário e descortês.
O pobre amigo empalideceu e, enquanto o ex-ministro de Venceslau Brás erguia para mim o olhar perscrutador, informei, implacável, indicando Manuel estarrecido:
Lauro, tenho aqui um ex-empregado requerendo nossos préstimos. Não é má pessoa, mas enlouqueceu de repente. Guarda a mania do espiritismo e eu desejava seus bons ofícios para que o infeliz obtivesse tratamento acessível na Praia Vermelha. Creio que não precisará do internato em regra, mas não pode prescindir de algum contacto com o hospício.
O grande político levou o caso a sério e respondeu sem hesitar:
Esteja descansado. Farei por ele quanto possa.
Nunca me esquecerei do olhar humilde que Manuel me dirigiu sem a menor reação, com duas grossas lágrimas, ao despedir-se cabisbaixo, sem mais uma palavra.
Depois, a vida continuou rolando, arrastando-me em seu torvelinho trepidante, mas o meu antigo aprendiz de magnetismo não mais me apareceu no caminho.
Política, jornalismo, aventuras...
Eis o sono, era a morte? Que sabia eu?
Compreendia apenas que não era mais possível brincar com a inteligência.
Indefinível pavor do desconhecido me assaltava o coração, afogado em lágrimas que eu não conseguia derramar.
Densa noite envolvera-me de súbito, e eu gritei com toda a força dos pulmões cansados, clamando por enfermagem e socorro, que se me afiguravam distanciados para sempre.
Em que tenebroso lugar minha voz vibraria agora, sem eco? que ouvidos me captariam as lamentações? Por quanto tempo supliquei apoio naquela posição de insegurança?
É inútil formular indagações a que não podemos responder.
Um instante surgiu, contudo, em que percebi junto de mim prateada luz.
Alguém se aproximava, dando-me a idéia de piedoso visitador, remanescente talvez de São Bernardo, o salvador de viajantes perdidos nas trevas.
Diante do meu deslumbramento, a claridade cresceu, cresceu, e uma voz, que jamais olvidei, saudou alegremente:
Doutor Medeiros! Doutor Medeiros!...
E o Manuel surgiu fulgurante de rara beleza, ante meus olhos assombrados, estendendo-me os braços fraternos.
Quietou-se-me, então, o raciocínio humano, apagaram-se-me os pruridos da inteligência.
Manuel, aureolado de sublimada luz, era para mim agora um verdadeiro redentor. Confiei-me ao seu carinho, copiando a rendição da criança assustada, que se refugia no seio materno, e uma vida nova começou para mim, somente imaginável por aqueles que sabem sobrepairar ao turbilhão de mentiras humanas, para escutarem, de alguma sorte, a mnsagem renovadora dos companheiros que atravessaram a cinzenta e gelada fronteira do túmulo.

Livro: Falando à Terra -  Chico Xavier

sábado, 29 de setembro de 2012

5 - REMINISCÊNCIAS E TENDÊNCIAS



"As tendências instintivas do homem sendo uma reminiscência do seu passado, conclui-se que, pelo estudo dessas tendências, ele poderá conhecer as faltas que cometeu? — Sem dúvida, até certo ponto, mas é necessário ter em conta a melhora que se possa ter operado no Espírito e as resoluções que ele tomou no seu estado errante. A existência atual pode ser muito melhor que a precedente. "
(Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Capítulo VII. Retorno à Vida Corporal. Pergunta 398.)

"Sendo as vicissitudes da vida corpórea, ao mesmo tempo, uma expiação das faltas passadas e provas para o futuro, segue-se que, da natureza dessas vicissitudes, possa induzir-se o gênero da existência anterior? — Muito frequentemente, pois cada um é punido naquilo em que pecou. Entretanto, não se deve tirar disso uma regra absoluta; as tendências instintivas são um índice mais seguro, porque as provas que um Espírito sofre tanto se referem ao futuro quanto ao passado. "(Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Capítulo VII. Retorno à Vida Corporal. Pergunta 399.)


De que modo poderemos compreender melhor alguns traços ou disposições que parecem ser natos em nosso comportamento? -Certamente reconhecemos, por vezes, em nossa maneira de reagir, algumas manifestações que são típicas e que não temos nítida consciência do "porquê" de elas acontecerem incontroladamente. Essas manifestações podem estar contidas num enorme quadro de configurações de nossas reações interiores, assim chamadas predisposições, tendências, inclinações, pendores, impulsos compulsivos, e estão estreitamente relacionadas com os nossos hábitos e vícios, erros e defeitos.

O princípio da reencarnação, um dos fundamentos do Espiritismo, abre amplamente o entendimento dessas tendências instintivas, que constituem grande parte da atividade mental do homem, de forma inconsciente, incontrolada, impulsiva, irresistível. É muito grande o acervo de experiências marcantes que se gravaram em nosso espírito através das múltiplas reencarnações passadas, e que constitui o material adquirido e arquivado nas suas camadas magnéticas sutis.
Considerando-se a mente como nossa central geradora de forças, sediada no espírito, nela registram-se as impressões criadas nas experiências vividas em todas as épocas, de forma semelhante às trilhas magnéticas deixadas numa película plástica, ou como num computador eletrônico, que reúne incontáveis informações que permanecem guardadas por um processo de memorização (Memória de um aparelho computador, é a sua capacidade de processar, responder e guardar certo número de informações ou dados. O computador de fato processa informações ou dados, mas através do recebimento de informações. E também responde, emitindo os resultados. Porém, a "memória" do computador — para guardar dados - é externa ao aparelho, e se faz através de fitas, discos ou cartões).

Do mesmo modo, esses dados registrados na memória de certos aparelhos, quando indicam valores de carga acima ou abaixo de padrões estabelecidos, emitem sinais que vão provocar ações corretivas no complexo sistema de automatismos controladores, que podem regular o funcionamento de uma central abastecedora de energia elétrica, entre outros exemplos de aplicação. Ora, a nossa mente tem também o seu potencial de registro, de processamento e de resposta àquelas experiências vividas, que devem igualmente se acumular em microcamadas magnéticas sutis, inter-relacionadas, possivelmente em outras dimensões, capazes de reter sons, imagens, emoções, idéias.
Do mesmo modo, quando essas emoções e idéias ferem e comprometem certos padrões estabelecidos pelas leis morais, que constituem as leis divinas, ainda é a própria mente que, atingida no supraconsciente por aquelas perturbações do seu equilíbrio, vai emitir respostas corretivas em direção àqueles sulcos ou focos que permanecem em agitação enquanto não forem corrigidos: são os distúrbios, as desarmonias, distonias, inquietações, que a própria consciência guarda e acumula, superpondo no tempo os indeléveis registros carentes de renovação.

Aqueles pontos em desequilíbrio passam a comprometer o fluir normal das energias do espírito, criando tensões nas microcamadas magnéticas multidimensionais da mente, manifestando-se nas formas de afloramentos, de lampejos, de impulsos, que emergem das profundidades do inconsciente para o presente, de forma viva e atuante.

Para o espírito encarnado, condicionado ao novo equipamento orgânico e à atual programação reencarnatória, a lembrança daquelas experiências desagradáveis ficou momentaneamente submersa, e ele não se recorda, portanto, das ocorrências propriamente, mas elas agem, pois são de sua propriedade e foi a sua própria consciência que as registrou para voluntária ou compulsoriamente corrigi-las. Formam elas os processos e os conteúdos do nosso inconsciente e as suas manifestações acontecem de forma velada para o nosso consciente. Representam, assim, as reminiscências, que se caracterizam pelas tendências instintivas que trazemos.

Como poderemos, então, pelo conhecimento, no estudo e na análise dessas tendências, trabalhar voluntariamente para retificá-las, corrigindo os acontecimentos transgressores? O Prof. Carlos Toledo Rizzini, em seu livro Evolução para o Terceiro Milênio (Capítulo 5. Desequilíbrios. Enfermidades. Item 18. Impulsos; impulsos convulsivos), trata com detalhes dos mecanismos de atuação dessas tendências instintivas que o mestre Kardec indagou aos Espíritos, como indicativas das nossas faltas cometidas no passado (O Livro dos Espiritos. Pergunta 398).
Diz-nos Carlos Rizzini (Parágrafo 2): impulso é um "estado de excitação do sistema nervoso central, que surge em resposta a um estímulo interno ou externo, o qual poderá ser uma pessoa, uma cena, uma conversa, uma palavra, insultos, bebida, etc." e, assim, "originado por forças inconscientes, aparece, posto isso, na área do consciente"... "Inúmeras vezes não sabemos a que coisa o inconsciente reagiu tão fortemente, a ponto de criar um impulso, que será sentido em forma de súbita emoção ou comando imperioso".
O parágrafo 6 do já citado item 18, pela sua importância no objetivo de dilatar o entendimento pessoal para as manifestações intempestivas do nosso ser, é transcrito abaixo:

"Um impulso pode renascer muitas vezes, fazendo com que o sujeito sinta o choque emocional sem ter conhecimento consciente da situação desagradável que está representada em sua mente inconsciente. Ocorre, portanto, uma dissociação entre a emoção sentida e as imagens correspondentes. Estas permanecem ignoradas, enquanto aquela se liberta diante do novo fato que serve de estímulo, e vem afetar o consciente. Nesse caso, a pessoa, diante de outra ou de algum acontecimento, sente-se invadida por imperioso impulso de agredir, ofender, fugir, tremer, gritar, calar-se, etc., sem compreender a razão do que está se passando com ela, razão que jaz no inconsciente sob a forma de recordação completa de um evento semelhante (ou equivalente), desta ou mais comumente de outra vida. O que sobe ao consciente, por obra do estímulo, é parte da energia ligada às lembranças, a qual vai desencadear o estado emotivo incompreendido".

"Mediante a exposição acima, compreende-se que, conforme as experiências gravadas no espírito, uma pessoa mantenha-se calma diante de situações desagradáveis que envolvam certos indivíduos, e profundamente irritada em face de outras sem importância, mas relacionadas com determinadas pessoas. E. G., o pai que não ouve o insulto de um filho e zanga-se com outro porque se atrasou cinco minutos para o jantar. Uns fatos atingem porções sensibilizadas do inconsciente (ou agitam certos conteúdos dele), e outros não encontram ressonância ali."

Diante dos vários estímulos que — no convívio com familiares, colegas de trabalho e pessoas em sociedade — podem desencadear os impulsos decorrentes de ódios, vinganças, orgulho ferido, inveja, ciúmes, personalismo, intolerâncias, impaciências, urdidos do passado, temos duas opções: 1° o perdão que corrige o desequilíbrio provocado na própria consciência e harmoniza o espírito com as leis divinas; e 2° a repetição do erro, que intensifica e agrava a transgressão, mantendo-nos infelizes e presos a resgates compulsórios em novas experiências, nessa ou em outra existência.

Essas tendências que trazemos de nascença, refletem a nossa realidade espiritual, estão ligadas à nossa história evolutiva, encerram a verdade que cada um traz dentro de si mesmo, no hoje, no agora, e que pode manifestar-se a qualquer instante, basta apenas haver um incentivo, uma provocação. Desse modo, a observação, o estudo, a análise desse nosso mundo de tantas cenas passadas, que se esconde no inconsciente, e que apenas se deixa conhecer pelos lampejos de nossos impulsos, são os meios que temos para desvendar nossos pontos fracos, que possivelmente vêm se repetindo de existência em existência, e com os quais temos lutado, procurando melhorar nesse plano e, quando na Espiritualidade, pelas resoluções tomadas de renovação.

André Luiz diz-nos ainda que os citados impulsos são facilmente superexcitados por estímulos constantes produzidos por espíritos desencarnados, cujas emissões mentais são idênticas às do encarnado que perseguem. Apresentamos, quase sempre, resquícios de nossas fraquezas ainda não superadas, oferecendo pasto fácil aos atentos inspetores invisíveis do mal que, inteligentemente, recorrem às nossas antigas debilidades para torpedear nossa resistência, induzindo-nos de forma envolvente, hipnótica, a repetir as mesmas reações que estamos assim a elas predispostos.

E nem sequer nos damos conta disso. Quando percebemos, já cometemos as mesmas intemperanças e novos esforços empenhamos para não repeti-las. Trazemos também, para a presente vida, certas inclinações de repetir hábitos e necessidades alimentados numa vida anterior mal conduzida, tais como os costumes de beber, fumar, comer demasiado, jogar, cometer gastos supérfluos e exageros no vestir, irresistível atração pelo sexo oposto, comodismo ocioso, preguiça, conquista de prestígio social, desejo de domínio, aquisição de riqueza, aumento de propriedades, etc.

De alguma forma somos testados, até sem saber, nas resoluções que tomamos quando na Erraticidade e na melhora que possamos ter operado no nosso Espírito, ao defrontarmo-nos com semelhantes experiências na presente vida. A correção, retificação do erro, ou o reequilíbrio de nossa consciência, não se realiza apenas com bons propósitos. É necessário dar provas, isto é, ao passar pelas mesmas ocorrências do ontem distante, refrear os nossos impulsos retrógrados com a luz do entendimento e transformá-los em impulsos evolutivos que nos libertam a alma.

É muito suave, reconfortante e tranquilizador o que sentimos ao superar uma má inclinação, um impulso de rancor, de irritação, um hábito desagradável, uma deficiência de conduta, um defeito moral, um vício ou costume. É como se fôssemos fortalecidos e agraciados dentro de nós mesmos por uma batalha vencida, uma conquista realizada.

Esse conteúdo emocional robustece o nosso espírito e amplia nossa consciência, equilibra nossas energias e restaura, nas camadas profundas do inconsciente, a saúde mental. Recuperamos nosso bem-estar e ampliamos nossa capacidade de amar.

A TERAPIA DAS VIDAS PASSADAS

Interessante trabalho vem sendo realizado há catorze anos por um psicólogo americano, Dr. Morris Netherton, que descreve, em seu recente livro "Past Lives Therapy" (Terapia das Vidas Passadas), como tem tratado, em seu consultório de psicoterapia, casos de traumas, fobias, distúrbios de comportamento, problemas sexuais, alcoolismo, enxaquecas, úlceras, epilepsias, gerados em acontecimentos e experiências muito marcantes de vidas anteriores. Segundo o Dr. Netherton, aqueles fatos ficaram indelevelmente registrados, como cicatrizes, no "inconsciente", passando a exercer pressões emocionais no indivíduo, até que conscientemente ele possa compreender o desenrolar histórico e o encadeamento dos fatos que lhe causam os problemas do presente.
O autor comenta que cada um traz registrada em si mesmo toda a sua história, encerrando as próprias verdades que, uma vez aceitas e deliberadamente assumidas como de nossa responsabilidade pessoal, começam então a funcionar, auxiliando-nos nas mudanças de comportamento. A partir disso, o processo de reequilíbrio tem sequência, os indivíduos compreendem as causas e os mecanismos dos seus males e realizam a própria cura na mudança das atitudes.

Desaparecem os sintomas e as criaturas voltam à normalidade, passando de apáticas a joviais, de agressivas a sociáveis, de introspectivas a comunicativas, de esquisitas a simpáticas, de enfermas a sãs. Há uma melhora geral nas pessoas, fruto da própria renovação mental. Comentamos esses resultados por encontrar importante subsídio comprobatório das reminiscências que todos apresentamos e que só depende de nós mesmos atenuá-las pelo trabalho consciente nas próprias mudanças de atitudes.

Inicia-se, então, todo o seu esforço de renovação, pelas mudanças íntimas no seu comportamento, que ele mesmo realiza naturalmente. O que lhe era obscuro e nebuloso no seu mundo interior passa a ser compreendido e explicado dentro de uma realidade que lhe é própria, vivida, sentida, percebida. Ele mesmo entende o que deve e precisa corrigir, e o faz deliberadamente, exatamente nos aspectos que ele, melhor do que ninguém, conhece. É, portanto, um "impacto esclarecedor" vivido com todas as cores, emoções, imagens e percepções.

PARA APLICAÇÃO: IDENTIFIQUE AQUI AS CONSEQUÊNCIAS INDIVIDUAIS DO SEU PASSADO

O espírito de Emmanuel, no livro Leis de Amor, nos enseja todo um conjunto de respostas que esclarecem, de modo prático e objetivo, as consequências de nossas faltas do passado, e os seus processos de retificação, regeneração, reabilitação ou emendas. Vejamos, então, como identificá-los em nós e tiremos o necessário proveito do que a seguir condensamos.
(Nota: Leia a cada Causa, nas Doenças, e procure nas páginas adiante, o seu Efeito correspondente, no item de igual número, de l à 7. Leia o Ontem, Na Família, Na Profissão e no Mundo, e procure adiante, na numeração correspondente, o resultado em cada Hoje, de 8 à 20.)


NAS DOENÇAS

CAUSA

1. Ação errada em diferentes setores da vida:

a) ódios, vinganças, agressões;
b) irritação, intolerância, intemperança;
c) extravagâncias no comer;
d) alcoolismo, entorpecentes;
e) maledicência, calúnia;
f) desequilíbrios do sexo;
g) crimes;
h) fumo.

2. Intelectuais que aplicaram mal ou deterioraram o conhecimento e os recursos do sentimento com prejuízos à coletividade.

3. Artistas que corromperam a inteligência alheia nos abusos da imaginação viciosa provocados pelas suas obras ao próximo.

4. Oradores, tribunos e pessoas que influenciaram mal pela palavra, caluniando, ferindo, comprometendo criaturas na maledicência.

5. Utilização desregrada do sexo, no terreno das paixões irresponsáveis, prejudicando corações e provocando tragédias.

6. Casos profundos de cometimentos graves, nos crimes, suicídios, sacrifícios físicos a pessoas, atos de delinquência, abusos da força.

7. Imprudência, desmazelo, revolta, preguiça, embriaguez, cólera, ociosidade, desânimo.

Na Família

Ontem

8. Filhos do passado, onde inoculamos o egoísmo e a intolerância.

9. Irmãos que arrojamos à intemperança e à delinquência.

10. Jovem que induzimos ao desequilíbrio e à crueldade.

11. Esposo que precipitamos na deserção, com os próprios desenganos e traições.

12. Mulher que menosprezamos, obrigando-a a resvalar no poço da loucura.

13. Amigos com os quais construímos sólida amizade e entendimento no reconforto da segurança recíproca.

Na Profissão Ontem

14. Pensadores que corrompiam a mente popular com as depravações.

15. Conquistadores militares, tiranos que forjaram a miséria física e moral dos semelhantes.

16. Dominadores políticos que dilapidaram a confiança do povo.

17. Guerreiros e soldados que usavam as armas para praticar seus instintos destruidores.

18. Carrascos rurais, agiotas desnaturados, defraudadores da economia pública e mordomos do solo, convertidos em agentes do furto.

19. Mulheres ocupadas na maledicência e na intriga, prejudicando a liberdade e o progresso.

No Mundo

Ontem

20. Protagonistas de tragédias passionais, criminosos de guerra, aproveitadores de lutas civis, exploradores do sofrimento humano, caluniadores, empreiteiros do aborto e da devassidão, malfeitores.

NAS DOENÇAS

EFEITO

1. Vinca o perispírito com desequilíbrios que o predispõem a determinadas enfermidades, conforme o órgão atingido:

a) cardiopatias;
b) doenças hepáticas;
c) ulcerações, gastralgias;
d) loucura, idiotia;
e) surdez, mudez;
f) cansaço precoce, distrofia muscular, epilepsia, câncer;
g) mutilações dolorosas;
h) asmas, bronquites, doenças pulmonares.

2. Impedimentos cerebrais como alavancas coercitivas contra as tendências do mau uso da intelectualidade.

3. Moléstias ou mutilações que os incapacitem de cair nos mesmos erros.

4. Deficiências vocais e auditivas para não repetirem as mesmas inclinações.

5. Doenças inibidoras das funções genéticas, como meios de contenção dos impulsos inferiores das paixões.

6. Idiotia, loucura, cegueira, paralisias congênitas irreversíveis, deformações irremediáveis, como celas regenerativas para correção compulsória dos delitos cometidos.

7. Desequilíbrios e moléstias nessa mesma existência, consequentes dos prejuízos das funções dos órgãos físicos.

Na Família
Hoje

8. Pais despóticos.

9. Filhos rebeldes e viciados.

10. Filha desatinada nos desregramentos do coração.

11. Marido desleal ou ingrato.

12. Esposa desorientada e incompreensiva.

13. Parentes abnegados que nos auxiliam.

Na Profissão
Hoje

14. Professores laboriosos aprendendo a ministrar disciplinas.

15. Administradores capacitados à distribuição de valores e tarefas edificantes.

16. Comerciantes e agricultores auxiliando as mesmas comunidades que deprimiram.

17. Mecânicos, operários metalúrgicos e carpinteiros, dignificando o metal e a madeira que perverteram.

18. Servidores humildes do solo, no preparo, no plantio e colheita, nas zonas rurais com o suor as dividas que antes contraíram.

19. Servidoras domésticas, presas a obrigações caseiras, junto de caçarolas e tanques de lavar.
No Mundo

Hoje

20. Voltam em tribulações compatíveis com os débitos assumidos, às vezes junto às próprias no mesmo familiar, ou sofrem desastres dolorosos, acidentes, flagelos, incêndios, nas ocorrências individuais ou coletivas.
Ney P. Peres