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terça-feira, 23 de outubro de 2012

O "Pai Nosso" (VI)


Artigo extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989.

“Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos de todo o mal. Assim seja”.
Esta última parte do “Pai Nosso” envolve uma questão muito séria: a das tentações.
Seriam elas prejudiciais à sorte de nossas almas, ou, ao contrário, seriam experiências indispensáveis ao nosso desenvolvimento espiritual?
Para os que entendam sejam elas sinônimo de “instigação para o mal”, por obra de Satanás, seriam, sem dúvida, um fator de perdição. Nesse caso, quanto menos fôssemos tentados, tanto melhor, pois correríamos menor risco de “pecar” e, conseqüentemente, de ser condenados.
O sentido exato, entretanto, em que o Mestre usou o termo, na rogativa em epígrafe, não é esse, mas sim o de “ser posto à prova”.
Destarte, o que aí pedimos ao Pai Celestial não é o afastamento das provas, mas que não nos deixe cair (quando estivermos) em tentação, isto é, que nos dê forças para sairmos vitoriosos dos inúmeros e variados testes pelos quais temos que passar, em cada existência.
Espíritos assaz insipientes que somos, cumpre-nos viver uma série quase infinita de situações difíceis e antagônicas, para aprendermos a discernir as coisas, ganharmos tirocínio, tornarmo-nos inteiramente conscientes de nossas ações e prosseguirmos, cada vez mais seguros, nossa jornada rumo à perfeição.
As tentações a que somos submetidos constituem, assim, uma espécie de exame ou sistema de aferição de nosso adiantamento.
Os que vencem, esses adquirem novas forças e elevam-se a níveis superiores; os que sucumbem estacionam e vão repetindo as lições da vida, até que as aprendam suficientemente.
Se as tentações em si mesmas fossem danosas para as nossas almas, Deus, que é todo bondade e justiça, certamente não as permitiria; se as permite, é porque sabe serem elas proveitosas a todos os seres em relativa inferioridade.
Os que procuram escusar suas quedas em face das tentações, sejam elas de que natureza forem, atribuindo-as às fraquezas da carne, ou sofismam ou não sabem o que dizem.
Com efeito, sendo a carne destituída de inteligência e de vontade própria, não poderia, jamais, prevalecer sobre o Espírito, que é o ser pensante e livre; portanto, a este e não àquela é que cabe a responsabilidade integral de todos os atos.
Desregramentos, excessos, mau gênio, etc., não são determinados por disfunções orgânicas ou outros fatores que tais, mas tão-só e unicamente pelas más tendências anímicas de cada um.
O Espiritismo, com a revelação do mundo espiritual que nos envolve e das leis que o regem, fez novas luzes em torno do problema, permitindo-nos compreender melhor o mecanismo de muitas das tentações que nos assaltam, e como vencê-las.
Ele nos ensina que todo pensamento é vibração de tal ou qual freqüência, através da qual nos pomos em sintonia com os planos da espiritualidade.
Conforme sejam nossos pensamentos, o que equivale a dizer: nossos sentimentos – puros, idealistas, construtivos, pomo-nos em comunicação com os seres de elevada hierarquia, de cujo consórcio resulta para nós uma vida bem orientada, tranqüila, feliz e repleta de nobres realizações. Da mesma sorte, se a nossa mente só destila pensamentos impuros, mesquinhos, deprimentes, destrutivos, colocamo-nos automaticamente na mesma faixa vibratória dos espíritos menos evoluídos, que, consoante nossos pendores, procurarão manter-nos nos caminhos declivosos do vício, das paixões, do crime, e muitas lágrimas nos farão derramar.
Isso nos faz compreender a extensão da advertência do Cristo, quando dizia: “Orai e vigiai, para não cairdes em tentação”.
É preciso, pois, que apliquemos incessantes esforços contra tudo aquilo que nos deprime e avilta; essa atitude fará que as entidades trevosas se afastem naturalmente, porque nada podem fazer, e renunciam a qualquer tentativa junto aos puros de coração.
Ó Senhor, muito temos errado, contínuos têm sido os nossos fracassos, e isto nos demonstra quanto ainda somos fracos e imperfeitos e quanto devemos esforçar-nos para atingirmos o divino modelo, que é Jesus.
Amparai-nos em nossa debilidade, infundi-nos o desejo sincero de corrigir-nos e inspirai-nos sempre, pela voz de nossos anjos guardiões, a fim de que sejamos capazes de resistir às sugestões do mal, mantendo, inquebrantável, o propósito de só pensar, só almejar e só realizar o bem.
Assim seja!

O "Pão Nosso" (V)


Artigo extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989.

“Perdoai, Senhor, as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores”.
Nessa petição, Jesus, o Mestre por excelência, dá-nos a conhecer uma lei eterna e imutável, a cujos efeitos todos, sem exceção, estamos sujeitos.
Trata-se da lei do “dar e receber”, segundo a qual cada um recebe da Justiça Divina exatamente de acordo com o que dá ao próximo.
Há no Evangelho inúmeras referências a respeito. Sirvam de exemplo as seguintes: “Se perdoardes aos homens as ofensas que tendes deles, também vosso Pai Celestial vos perdoará vossos pecados; mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai Celestial vos perdoará”. (Mateus, 6:14-15) – “Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoais e sereis perdoados. Dai e dar-se-vos-á; qual for a medida de que usardes para os outros, tal será a que se use para vós”. (Lucas, 6:37-38). – “Aquele que semeia pouco, também colhe pouco; mas aquele que semear em abundância, também colherá em abundância”. (II aos Coríntios, 9:6).
Leiamos, ainda, a parábola do credor incompassivo (Mateus, 18:23-35), onde a referida lei é exposta com a máxima clareza e, se quisermos garantir nossa bem-aventurança futura, tratemos de observá-la, atentamente, em nossas relações com os que nos cruzam pelo caminho. Porque, se não formos capazes de perdoar àqueles que nos ofendem ou prejudicam, também não seremos perdoados das ofensas ou prejuízos com que tenhamos agravado os nossos semelhantes e, nesse caso, nenhuma Igreja, nenhum mentor religioso, nenhum sacramento, nenhuma indulgência, poderá valer-nos, de sorte a assegurar-nos a entrada no reino celestial.
Como nos explica Huberto Rohden (Metafísica do Cristianismo), “em todas as línguas a palavra perdoar é um composto de dar ou doar. De maneira que per-doar quer dizer doar completamente, abrir mão de si mesmo, dar ou doar o próprio Eu a outrem; neste caso, o ofensor. Em vez de imolar o ofensor a seu ódio, o perdoador imola-se a si mesmo, o ofendido, na ara do seu amor, abrindo assim de par em par as portas de sua alma ao influxo das torrentes divinas”.
Outrossim, ensinando-nos a dizer: “Perdoai, Senhor, as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores”, Jesus nega e renega a doutrina das penas eternas, porquanto, se não devêssemos esperar o perdão de Deus, inútil seria estar a pedi-lo.
Notemos, entretanto, e isso é importantíssimo: - esse perdão que ele nos acoroçoa a pedir, não é a remissão pura e simples da pena em que tenhamos incorrido. Não! O Mestre o condiciona à lei do “dar e receber”: ser-nos-á perdoado “assim como” perdoarmos, o que vale dizer que enquanto formos rancorosos e vingativos haveremos de estar sujeitos às sanções correspondentes, e só quando perdoarmos plenamente aos que ajam mal conosco é que as bênçãos celestiais haverão de envolver nossos corações, impregnando-os de paz e felicidade.
Ora, se Deus faz o esquecimento das ofensas uma condição absoluta, iria exigir de nós, fracos e imperfeitos, o que Ele, onipotente e infinito em perfeição, não fizesse?
Fosse Deus inexorável para o culpado e insensível ao arrependimento dos que O ofendem, negando-lhes por todo o sempre os meios convenientes para que empreendam a própria reabilitação, não seria misericordioso, e, não o sendo, deixarias de ser infinitamente bom.
Resultaria daí que o homem que perdoa aos seus ofensores e retribui-lhes o mal com o bem, seria melhor do que Ele, o que é inconcebível.
Sabendo, pois, que Deus é Amor, mas é igualmente Justiça, e que, pela Sua lei, “é dando que recebemos”, esforcemo-nos no sentido de vencer quaisquer ressentimentos ou propósitos inamistosos; antes de buscarmos o revide, cuja satisfação deixa sempre amargos ressaibos, bendigamos os que nos ferem e humilham, porque são instrumentos providenciais na lapidação de nossas almas, fatores preciosos de nosso progresso espiritual.
Perdoemo-nos uns aos outros, não “até sete vezes, mas até setenta vezes sete”, isto é, ilimitadamente (Mateus, 18:21-22). Assim o fazendo, também o Senhor terá complacência para conosco, cobrindo com Seu amor a multidão de nossas culpas.

O "Pai Nosso" (IV)


Artigo extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989.

“O pão nosso de cada dia, dai-nos hoje”.
O homem, ser complexo que é, constituído de corpo e alma, precisa de substâncias nutritivas que lhe sustentem o organismo e lhe forneçam energias para o trabalho, mas não prescinde de outras coisas mais transcendentes, ou seja, daquilo que favoreça o desenvolvimento de suas faculdades intelectuais e morais.
Nos primórdios de sua evolução, quando apenas vegeta, só carece de manter-se vivo; desse modo, a conquista da subsistência material é a razão de ser de toda a sua luta, de todos os seus esforços.
Posteriormente, entretanto, começa a sentir outras emoções e a alimentar outros desejos, eis que a simples conservação da vida já não o satisfaz. Uma sede de conhecimento exalta-lhe a mente, levando-o a pesquisar o “como” e o “porquê” dos fenômenos que ocorrem consigo e em derredor, ao mesmo tempo em que um ideal superior – a busca da Beleza e da Justiça – irrompe sob o impulso da lei de progresso que lhe preside ao destino, e passa a manifestar-se, insopitavelmente, nos íntimos refolhos de sua alma.
Esse “pão” que, na prece do Pai Nosso, Jesus ensina-nos a pedir ao Criador, não é, pois, apenas o alimento destinado à mantença de nosso corpo físico, mas tudo quanto seja indispensável ao crescimento e perfectibilidade de nossa consciência espiritual, o que vale dizer, à realização do reino dos céus dentro de nós.
Devendo conhecer, individualmente, o que é o bem, para cultivá-lo, assim como as conseqüências do mal, para evitá-lo; tendo, igualmente, de passar por toda espécie de experiências, provando, alternativamente, a alegria e a tristeza, a opulência e a miséria, a saúde e a enfermidade, o poder e a subordinação, porquanto só assim nos será possível formar um caráter reto e justo, cumpre-nos aceitar, de bom grado, com largueza de ânimo, o que a vida, como expressão da Providência, nos reserve, visto que, em última análise, tudo, o sofrimento inclusive, concorre para que nos enriqueçamos em saber e moralidade, e nos aproximemos, cada vez mais, daquele “estado de varão perfeito, segundo o padrão do Cristo”, a que se refere o apóstolo S. Paulo (Efésios, 4:13).
Assim, quando suceder que, apesar de nossa diligência e operosidade, não consigamos escapar à pobreza, aceitemo-la sem revolta, como justa expiação de faltas cometidas em existências anteriores, ou como uma prova a mais no processo de burilamento de nossas almas, convictos de que, sendo Deus infinitamente justo e bom, não nos imporia uma vida de privações se isso não fosse útil ao nosso adiantamento espiritual.
Jamais invejemos aqueles que possuem em abundância, que navegam na prosperidade; tampouco os amaldiçoemos se, se esquecem da lei da solidariedade que deve unir todos os homens, como nos ensina o Evangelho.
Curta é a existência corporal e efêmeros os gozos que ela proporciona. Mais vale, portanto, sofrer resignadamente uma sorte madrasta na Terra, e depois experimentar grandes alegrias no mundo espiritual, do que levarmos, aqui, uma vida nababesca, mas vazia de amor ao próximo, e acordarmos, depois, no além, abrasados de remorsos.
Por outro lado, quando a fortuna nos sorria, não nos esqueçamos de repartir pelo menos o supérfluo com aqueles que, impossibilitados de prover à própria subsistência, pela velhice ou pela doença, vejam-se obrigados a estender a mão à caridade pública, tremendo de vergonha e de fome.
Guardemo-nos ainda de, no ganho do “pão nosso”, avançarmos também no pão de outrem. Que, ao adquiri-lo para nós, não obremos com injustiça, de modo a termos em demasia, enquanto a outros falte o mínimo suficiente.
Compenetremo-nos, finalmente, de que é legítimo e muito natural almejarmos, para nós e os nossos entes queridos, uma situação de conforto e bem-estar; bom é, todavia, não olvidarmos aquela sábia resposta do Mestre, dada ao tentador: “Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra de Deus”. (Mateus, 4:4).

O "Pai Nosso" (II)

rodolfo calligaris

Artigo extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989.

“Venha a nós o vosso reino”.
Que devemos entender por “reino de Deus” ou “reino dos céus?”.
Em mais de uma dezena de parábolas, todas elas muito engenhosas e edificantes, Jesus focaliza os diversos aspectos que o caracterizam. Eis algumas delas: a do semeador, do joio e o trigo, do grão de mostarda, do fermento, do tesouro escondido, da pérola, da rede, do credor incompassivo, dos trabalhadores e as diversas horas do trabalho, dos dois filhos, dos lavradores maus, das bodas, das dez virgens, etc.
Um exame atento dessas parábolas deixa patente que “o reino de Deus” não é propriamente um “lugar” de delícias, nem uma organização cujos membros se identifiquem por uma determinada fé, mas algo que se verifica no íntimo de nós mesmos: a evolução, o aperfeiçoamento de nossas almas.
Segundo o apóstolo S. Paulo, “o reino de Deus não é comida, nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (consciência). (Romanos, 14:17).
Que precisamos fazer para nos tornarmos súditos desse reino?
Isso também foi explanado pelo Mestre com a máxima clareza, constituindo mesmo a idéia central de seus ensinos. Sirvam-nos de exemplo, entre inúmeros outros, os seguintes passos evangélicos: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai”. (Mateus, 7:21). – “Vinde, benditos de meu Pai, possuí o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo; porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era hóspede, e me recolhestes; estava nu, e me cobristes; estava enfermo, e me visitastes; estava no cárcere, e viestes ver-me. Na verdade vos digo que, quantas vezes fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim é que o fizestes”. (Mateus, 25:34-36, 40). – “E eis que se levantou um doutor da lei e disse, para o tentar: Mestre, que hei de fazer para entrar na posse da vida eterna? Disse-lhe então Jesus: Que é o que está escrito na lei? Como a lês tu? Ele, respondendo, disse: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças, de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. E Jesus lhe disse: Respondestes bem; faze isso e viverás”. (Lucas, 10:25-28).
Diante de textos tão cristalinos, parece não subsistir a menor dúvida de que nossa entrada no reino de Deus depende, não da simples aceitação de uns tantos dogmas religiosos, nem da submissão a este ou àquele sacramento, mas tão-somente de possuirmos aquelas qualidades morais que exortam o homem justo e bom.
Quando se estabelecerá entre nós esse reino?
Tal pergunta, igualmente, fora feita certa vez pelos fariseus, e a ela o Mestre deu a seguinte resposta, breve, mas profunda: “O reino de Deus não virá com aparência exterior, nem dirão: ei-lo aqui, ou ei-lo acolá; o reino de Deus está dentro de vós”. (Lucas, 17:20-21).
Meditemos bem nestas palavras: “O reino de Deus está dentro de vós!”. Não se trata, portanto, de um evento futuro, remoto, como muitos o imaginam, mas de um fato atual, presente.
Com efeito, se nossa alma é “imagem e semelhança de Deus”, como diz o Gênesis; se fomos gerados, não da carne, nem da vontade do varão, “mas de Deus”, como nos afirma João, o evangelista; se “dele (Deus), por ele e nele existem todas as coisas”, como nos revela S. Paulo, esse reino, inquestionavelmente, está dentro de nós, se bem que em estado latente, à semelhança da planta contida em potencial na semente.
Enquanto o homem ignora a natureza divina de sua alma e vai vivendo egoisticamente, embora o reino de Deus esteja nele, ele não está no reino de Deus e daí a sua inquietação e seus sofrimentos. Quando, porém, faz essa preciosa descoberta e passa a esforçar-se por desenvolver o seu Cristo interno, pautando os atos de sua vida por aquele ideal sublime que consiste em “fazer a vontade do Pai”, o reino de Deus entra a desenvolver-se dentro dele, cresce, expande-se, atinge a plenitude, e sua alma ganha então uma paz, uma tranqüilidade e uma alegria indescritíveis, que nada, vindo de fora, são capazes de destruir.
Posto que o reino de Deus, qual o havemos entendido, não pode ser implantado na Terra sem que antes seja uma realidade em cada ser humano que o habite, ajuda-nos, Senhor, a vencer nossa ambição desmedida, nosso orgulho insensato, nossa prepotência descaridosa, nossa vaidade tola, enfim, todos os sentimentos malsãos que ainda nos mantêm desunidos, dispersos e inimizados!
Dá, ó Pai, que cada um de nós compreenda o dever de cooperar para a civilização universal, sem barreiras de espécie alguma, e que todos sintamos o desejo de viver como irmãos, vinculados pelo amor!

O "Pai Nosso" (I)

rodolfo calligaris

Artigo Extraído do livro "O Sermão da Montanha" - FEB - 7ª Edição - 6/1989.

“ Assim, pois, é que haveis de orar:
Pai nosso que estais nos céus; santificado seja o vosso nome. Venha a nós o vosso reino. Seja feita a vossa vontade, assim na terra como nos céus. O pão nosso de cada dia dai-nos hoje. Perdoai as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos de todo mal. Assim seja”. (Mateus, 6:9-13).
A oração dominical é, sem dúvida, o mais perfeito modelo de prece que poderia ser concebido.
Concisa, simples e clara, “ela resume – como diz Allan Kardec – todos os deveres do homem para com Deus, para consigo mesmo e para com o próximo. Encerra uma profissão de fé, um ato de adoração e de submissão, o pedido das coisas necessárias à vida e o princípio da caridade”.
Pena que muita gente, ao recitá-la em seus exercícios devocionais, não procure compreender a profunda significação de seu contexto, nem se aperceba das normas de bem viver que ela prescreve a todos.
Detenhamo-nos, pois, na análise de tão sublime oração, meditando um pouco sobre cada uma das partes que a compõem.
“Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome”.
A noção que tenhamos da Divindade reflete-se, inevitavelmente, em nosso modo de agir.
Nos primórdios da civilização, os homens faziam dos deuses um conceito mais ou menos uniforme, tomando-os por potências iradas, às quais era preciso agradar com a oferta de presentes, não só para desviar os dardos do seu furor, como também para granjear-lhes os favores e, com sua ajuda, conseguirem saúde, bem-estar e prosperidade.
Tais oferendas, a princípio, consistiam em frutos; depois começaram a ser oferecidos animais, que os próprios sacerdotes degolavam, sendo que entre muitos povos introduziu-se, por fim, o costume horrível de sacrificar criaturas humanas, especialmente crianças e mocinhas.
Abrimos o Velho Testamento e o Deus que ali deparamos – Jeová, o Senhor dos Exércitos, também se nos apresenta como um ser faccioso, violento, iníquo e vingativo, eis que “escolhe para si um povo no meio das nações”, cumulando-o de graças, enquanto aos demais só faz conhecer desgraças; que ordena as mais cruentas matanças, inclusive de crianças e de animais; que aconselha pilhagens dignas dos piores bandoleiros e ameaça com pragas repugnantes, todos quantos lhe não atendam às determinações.
Com tais idéias a respeito da Divindade, os homens de então não poderiam mesmo ser melhores, e daí o darem vazão aos seus instintos brutais, serem implacáveis em seus ressentimentos e mostrarem-se impiedosos para com os inimigos.
Um dia, porém, o Cristo desce à Terra e nos fala de um Deus diferente. Um Deus infinito em Suas perfeições, cuja onisciência e onipotência manifestam-se através das leis imutáveis e sábias que regem a Criação; um Deus sem favoritismos de espécie alguma; um Deus bastante amigo para compreender nossas fraquezas e bastante inteligente para saber corrigi-las e não apenas castigá-las; um Deus que não quer pereça uma só alma, mas que todas se salvem e participem de Sua glória; um Deus, enfim, a quem podemos dirigir-nos confiantemente, chamando-o pelo doce nome de Pai.
Notemos, entretanto, que, ao ensinar-nos a chamar-lhe Pai Nosso, Jesus deixa claro ser Ele pai de toda a grande família humana, e não apenas de uns poucos escolhidos.
Contrariamente, portanto, ao ensino de certas religiões, são filhos de Deus todos os homens espalhados por todas as longitudes e latitudes do globo; de todas as raças e civilizações; de todas as classes e de toda fé: católicos e protestantes, espíritas e budistas, muçulmanos e judeus, rosacrucianos e fetichistas, e até os ateus, apesar de pecadores, apesar de transviados, porque todos, absolutamente todos, são amados por Ele com igual e paternal solicitude e hão de ser procurados e salvos pelo divino pastor: Nosso Senhor Jesus Cristo.
Por isso, ó Deus, porque sois todo Amor e Bondade, Justiça e Misericórdia, seja o vosso santo nome bendito e louvado por toda a Terra, assim como por todo o universo, nos astros mais remotos, nos espaços incomensuráveis, onde quer que a vida que provem de vós se haja manifestado, pois não há quem não pressinta a vossa existência e o fim ditoso para que nos criastes!

Dialética da consciência

herulano pires

Artigo extraído do livro "Educação para a Morte" - 5ª Edição - Setembro de 1996 - Editora Espírita Correio Fraterno do ABC.

Deus não morreu, mas morreu o Papa. Os teólogos agoureiros da Morte de Deus também vão morrer, um a um, cada qual com a sua morte individual e intransferível. Paulo VI passou silencioso pelo tumulto do mundo. Fiel à sistemática da Igreja, não inventou reformas nem tentou cercar as reformas audaciosas de João XXIII. Ante a insubordinação do Cardeal Lefevre, que ordenou exércitos de novos padres para lutar contra ele, não se atemorizou nem prometeu represálias sagradas. Acusado brutalmente de pecados horríveis quando cardeal de Milão, limitou-se a lamentar o caluniador. Dava a impressão de um Júpiter envelhecido, que não dispunha mais de forças para desfechar os raios da ira mitológica sobre os atrevidos. Dedicou-se à semeadura da paz entre os homens, ofereceu-se como refém nos casos de seqüestro e ao invés de ameaçar os incrédulos com o espantalho do Diabo, chegou a prestar a mais espantosa homenagem ao Anjo Rebelado, afirmando: “Quem não acredita no Diabo não é Cristão”. Ultimamente passou a falar na sua morte próxima, como se preparasse o mundo para aceitá-la como ele a aceitava. Se não conseguiu pacificar os homens, pelo menos manteve a paz da Igreja, desapontando os arruaceiros que tudo faziam para merecer uma maldição. Fez jus ao título de Sua Santidade, que tantos dos seus antecessores ostentaram sem dar mostras de merecimento.
A impressão que se tem, agora que o seu cadáver está diante do mundo como um apelo silencioso à concórdia e ao amor, é a de que ele foi o último Papa. O Colégio Cardinalício que deve eleger o novo Papa está em dificuldades (1). Se o Espírito Santo não pousar docemente na cabeça veneranda de um dos candidatos à sua sucessão, não se sabe como os votantes farão a escolha. A Barca de Pedro está balançando indecisa sobre as águas, como a Arca do Dilúvio. Talvez tenha chegado o momento da Igreja, que há muito luta em vão para sair dos recifes teológicos em que encalhou depois da última conflagração mundial.
A consciência não é, como Sartre supôs, um vazio que se enche com dados do mundo. Pelo contrário, a consciência é a garra psíquica do homem, com a qual ele se apodera do mundo para transformá-lo, subjugando-o e adaptando-o às exigências humanas. Desde a selva esse diálogo se desenvolve através das civilizações. Os dados da consciência antecedem o mundo, provêm das regiões arquetípicas do inconsciente humano, onde se desenvolvem as estranhas florações dos anseios de perfeição, justiça e beleza, que deixaram suas marcas por toda parte, desde as inscrições e os desenhos rudes das cavernas até às obras-primas da escultura grega, das lendas e canções do Folclore mais remoto até à pintura italiana e as sinfonias de Bethoven. O vazio que deve ser enchido é o do mundo, pelos dados subjetivos da consciência. O mundo é criado por Deus no mistério infinitesimal da mônada, essa idéia platônica que encerra em si toda a realidade futura, como, na teologia hebraica, a alma de Arão já continha em si todas as almas futuras. O mundo vazio, sem a presença humana, é apenas a matéria-prima de que a consciência do homem irá servir-se mais tarde para se desenvolver. A criança que nasce desprovida até mesmo das garras, instrumentos defensivos dos animais, traz em si mesma as potencialidades humanas da Humanidade em perspectiva. A semente necessita da terra para germinar e desenvolver-se, a mônada necessita da carne e suas formas para atualizar a sua espantosa potencialidade humana e divina. As forças naturais preparam, por milênios incalculáveis, com os elementos dos reinos inferiores, o material flexível e vibrátil que a consciências modelará no tempo, imprimindo-lhe lentamente os moldes secretos dos seus anseios.
As Filosofias incipientes apegam-se aos efeitos sensíveis dos processos e esquecem as suas causas. A leviandade humana, essa herança no homem da irresponsabilidade animal, leva os pensadores e os cientistas à formulação de hipóteses e teses absurdas sobre uma realidade que não conhecem. Proliferam as sabedorias vazias, os doutores pontificam nas cátedras e nos púlpitos fazendo afirmações temerárias que só servem para aumentar a insegurança e a angústia do homem nas sociedades formalizadas. Não obstante essa gratuidade aparente, a consciência fermenta as inquietações e aguça a curiosidade, liberando os vetores do espírito no plano das realizações superiores. Até mesmo as pompas assombrosas da morte contribuem para desencadear no homem as suas aspirações de uma visão mais segura e precisa da realidade a que foi lançado como um náufrago na praia de um país estranho. Nas civilizações mais adiantadas a pressão dos formalismos sócio-culturais esmaga as criaturas. Rousseau rompeu as muralhas da Genebra formalista ao tentar a aventura da liberdade humana. Voltaire armou-se da ironia para derrubar as instituições mentirosas. A consciência se definiu como ameaça perigosa nos burgos e nos castelos, inflamando nos homens o amor sacrificial pela castelã desconhecida a que nos pósteros chamariam de Liberdade. Sem essa dama solitária e temida o mundo jamais escaparia da barbárie.
A Dialética da Consciência se constitui da tese da realidade imediata em confronto, estática e poderosa em sua estruturação social, com a antítese da utopia, que lança Dom Quixote contra os moinhos de vento nas charnecas da Mancha. Sancho é o contrapeso que abrandará os seus excessos na busca de Dulcinéia. O desafio da Terra leva os homens aos sonhos e aos delírios. E apesar de todas as Condenações da sociedade acomodada e estática, o Quixote avança impávido, transfigurado pelo amor, na conquista do seu ideal. Ainda hoje os homens se matam, galopando em seus roncinantes de aço, contra todos os poderes da sociedade real, armada de explosivos atômicos, para salvar a castelã oprimida no castelo. Os interesses bastardos parecem haver asfixiado todas as esperanças humanas. Mas os anseios da consciência, que brotam das profundezas da alma humana, não cessam de sacudir e minar as estruturas do presente com os sonhos do futuro. Nada detém nem pode deter as forças secretas da consciência, vetores imponderáveis que transfiguram a realidade material do mundo.
O apego humano à realidade concreta decorre naturalmente do condicionamento animal da espécie, que por sua vez provém da unidade do Cosmos, da totalidade do real, que só se fragmenta na percepção sensorial. As pesquisas astronáuticas confirmaram essa unidade já percebida pelos gregos e confirmada rigorosamente pelo desenvolvimento atual da Física, da Biologia e da Psicologia. Os especuladores filosóficos do pluralismo se perdem nas discussões bizantinas sobre uma realidade caótica jamais comprovada. A multiplicidade que visualizam a distância na infinitude cósmica ou na variedade microscópica se resolve naturalmente na compreensão da natureza orgânica da realidade una. Quando passamos do politeísmo ao monismo o fazemos pelo simples motivo de havermos superado a ilusão sensorial da multiplicidade. Kardec resolveu esse problema através do encadeamento natural das coisas e dos seres, com este princípio gestáltico: “Tudo se encadeia no Universo”. Esse encadeamento é o próprio fundamento da Ordem Universal, sem a qual não haveria lógica na realidade e o conhecimento e a Ciência se tornariam impossíveis. Cassirer lembra que a fé na ordem universal equivale, na Ciência, à fé religiosa no Deus Único. Ambas não podem ser provadas por nenhuma pesquisa, mas se impõem a nós por necessidade lógica. Atualmente, com o acelerado desenvolvimento das pesquisas parapsicológicas, não há como negar a superação do sensório psico-fisiológico pela percepção extra-sensorial da mente, que penetra em todas as dimensões do real comprovando e justificando as espantosas intuições dos gregos na Antiguidade.
A concepção monista do Universo corresponde à concepção monoteísta. Deus é Uno porque é Consciência Cósmica, não em figura humana, mas num dinamismo consciencial abrangente, que tudo envolve, de maneira que ao mesmo tempo supera a realidade universal e nela se entranha. Por isso, como queria Flammarion, Deus está na Natureza e é Natureza. Não obstante, o fato de ser natureza não obriga Deus à materialidade. A diferença entre Deus e a Natureza é qualitativa, sua qualidade consciencial o distingue da qualidade material da Natureza. Espinosa colocou bem esse problema em sua teoria da Natureza Naturata e da Natura Naturans, correspondentes aos princípios platônicos de sensível e inteligível. Mas isso não implica uma divisão da Natureza de Deus, que é una. Como em Platão, a Natureza Ideal de Deus reflete-se no Universo como projeção criadora. Isso nos leva à teoria do elã criador em Bérgson, esse impulso vital que penetra nas entranhas da matéria para produzir a vida. E nos leva também à teoria estética de Hegel, em que o Belo se infiltra e se desenvolve na criação artística, desde as formas primitivas e monstruosas da arte até o equilíbrio harmonioso da arte clássica.
É evidente à relação de todos esses pensamentos com o problema da morte, em que a vida anima os corpos materiais e os leva a toda a perfectibilidade possível, como queria Kant, para depois reverter os elementos vitais, com a morte, a novas experiências criadoras. Sobre as teorias de Platão e Aristóteles, Tomás de Aquino e Santo Agostinho forjaram as bases da Teoria Cristã, amesquinhando o pensamento grego e desfigurando os princípios do Cristo na retorta dos dogmas sincréticos tirados de modelos pagãos. Dessas tentativas atrevidas surgiram as religiões do Medo e da Morte, que levaram a Civilização Terrena à aberração do materialismo.
O estudo de um tema como o da educação para a morte exige incursões difíceis no pensamento antigo, moderno e contemporâneo, para o estabelecimento das conexões orientadoras. Não se pode entrar no labirinto sem o fio de Ariádne nas mãos, pois o Minotauro pode estar à nossa espera. Numa fase de transição cultural como a deste século o problema da morte exige de todos nós um esforço mental muitas vezes atordoante. Mas temos de fazer esse esforço, para que a vida não fracasse em nós. A vida nunca fracassa em si mesma, pois o elã vital nunca se enfraquece, mas pode fracassar em nós. Os que se apegam à sua vida, como ensinou o Cristo, a perderão, mas os que a perdem por amor de mim a reencontrarão em abundância. Quem impede o fluxo da vida suicida-se na barreira do seu egoísmo e volta ao círculo vicioso das reencarnações repetitivas. Esse é o castigo que o espírito preguiçoso se impõe a si mesmo.
(1) – No momento em que o Autor escrevia este capítulo, não havia sido eleito o substituto de Paulo VI.

O mistério do ser

Herculano Pires

Artigo extraído do livro "Pedagogia Espírita" - 1ª edição - Maio de 1985 - Editora Cultural Espírita Ltda - EDICEL.

A educação depende do conhecimento menor ou maior que o educador possua de si mesmo. Porque conhecer-se a si mesmo é o primeiro passo do conhecimento do ser humano. A Humanidade é uma só. O ser humano, em todas as épocas e em toda parte, foi sempre o mesmo. Sua constituição física, sua estrutura psicológica, sua consciência são iguais em todos os seres humanos. Essa igualdade fundamental e essencial é o que caracteriza o homem. As diferenças temperamentais, culturais, de tipologia psicológica, de raça ou nacionalidade, de cor ou tamanho são apenas acidentais. Por isso mesmo a Educação é universal e seus objetivos são os mesmos em todas as épocas e em todas as latitudes da Terra.
Essa padronização, que devia simplificar a educação, na verdade a complica, porque por baixo do aspecto padronizador surgem as diferenciações individuais e grupais. Cada indivíduo é único, diferente de todos os demais, mesmo nos grupos afins. O tipo psicológico de cada ser humano é único e irredutível à massa. O mistério do ser, que aturde os educadores, chama-se personalidade. Cada ser humano é uma pessoa. E o é desde o nascimento, pois já nasce formada com sua complicada estrutura que vai apenas desenvolver-se no crescimento e na relação social. É difícil para o educador dominar todas essas variações e orientá-las.
Educar, como se vê, é decifrar o enigma do ser em geral e de cada ser em particular, de cada educando. René Hubert, pedagogo francês contemporâneo, define a Educação como um ato de amor, pelo qual uma consciência formada procura elevar ao seu nível uma consciência em formação. A Educação se apresenta, assim, como Ciência, Filosofia, Arte e Religião. É Ciência quando investiga as leis da complexa estrutura humana. É Filosofia quando, de posse dessas leis, procura interpretar o homem. É Arte quando o educador se debruça sobre o educando para tentar orientá-lo no desenvolvimento de seus poderes internos vitais e espirituais. É Religião porque busca a salvação do ser humano no torvelinho de todas as ameaças, tentações e perigos do mundo. O verdadeiro educador é o que pratica a Religião verdadeira do amor ao próximo, naquilo que podemos chamar o Culto do Ser no templo do seu próprio ser.
Não se trata de uma imagem mística da Educação, mas de uma tentativa de vê-la, compreendê-la e aplicá-la em todas as suas dimensões. O ato de educar é essencialmente religioso. Não é apenas um ato de amor individual, do mestre para o discípulo, mas também um ato de integração e salvação. A Educação não procura integrar o ser em desenvolvimento numa dada situação social ou cultural, mas na condição humana, salvando-o dos condicionamentos animais da espécie, elevando-o ao plano superior do espírito.
É fácil compreendermos como está longe de tudo isso o profissionalismo educacional do nosso tempo. Tinham razão os filósofos gregos quando condenaram o profissionalismo dos sofistas. Não se tratava apenas de uma diferenciação de classes sociais, mas da luta contra o abastardamento da Educação pelos que negavam a existência da verdade a troco de interesses imediatistas.
Como ajustar os fins superiores da Educação às exigências de uma civilização baseada no lucro? A falta de uma solução para esse ajustamento é a origem da crise universal da Educação em nosso tempo. Não obstante, a solução poderia ser encontrada na aplicação de processos vocacionais. Nenhum tipo de educação coletiva pode ser eficiente se não estiver em condições de observar e orientar as tendências vocacionais.
O desenvolvimento da Era Cósmica, apenas iniciada com as conquistas atuais da Astronáutica, traz novos e graves problemas ao campo educacional. Toda a Terra está sendo afetada pela nova concepção do homem e da sua posição no Cosmos. O aceleramento do processo tecnológico está levando o homem a conhecer melhor a sua própria condição humana. O ceticismo dos últimos tempos vai cedendo lugar a um despertar de novas e grandiosas esperanças. A Educação da Era Cósmica começa a nascer e os educadores começam a perceber que precisa renovar os processos educacionais.

MEDIUNIDADE ESTÁTICA


A mediunidade é uma só, é um todo, mas pode ser encarada em seus vários aspectos funcionais, que são caracterizados como formas variadas de sua manifestação. Kardec a dividiu, para efeito metodológico, em duas grandes áreas bem diferenciadas: a mediunidade de efeitos inteligentes e a de efeitos físicos. Essa divisão prevaleceu nas ciências derivadas do Espiritismo. Charles Richet, fundador da Metapsíquica, estabeleceu nessa ciência a divisão das duas áreas com os nomes metapsíquica subjetiva e metapsiquica objetiva, correspondendo exatamente à divisão espírita. Na Parapsicologia atual, fundada por Rhine e McDougal, as duas área figuram com as denominações de: Psigama (de fenômenos subjetivos ou mentais) e Psicapa (de fenômenos objetivos ou de efeitos físicos). A chamada Ciência Psíquica Inglesa, como a antiga Parapsicologia Alemã, a Psicobiofísica de Schrenk-Notzing e outras várias escolas científicas mantiveram essa divisão, o que prova o acerto metodológico de Kardec.
A expressão médium também prevaleceu, chegando até mesmo à Parapsicologia Soviética, materialista, que a conserva em suas publicações oficiais. Só alguns ramos científicos sofisticados, como a Metergia e a Psicorragia inventaram substitutivos para a cômoda e clara palavra médium, mas que não vulgarizam. Na Metergia o médium se chama metérgio e na Psicorragia se chama psicorrágico. Palavrões científicos só usados por alguns médiuns pedantes que não querem dizer-se médiuns. As denominações dadas pela Parapsicologia atual não são pedantescas.
São simples nomes de letras do alfabeto grego, tradicionalmente empregadas nas Ciências para designação de fenômenos. Também não é verdade que a parapsicologia atual tenha dado outros nomes aos fenômenos para se diferenciar do Espiritismo. O problema é outro: na pesquisa científica não se podem usar designações que impliquem em interpretação antecipada do fenômeno. Escolhendo letras gregas para designar os fenômenos a ser investigados, os parapsicólogos usavam palavras neutras, como exige a metodologia científica. Uma questão de método. Apesar deste critério, a palavra sensitivo, por exemplo, escolhida para substituir médium, já foi abandonada por vários psicólogos, que voltaram a expressão médium, como vimos no caso soviético.
A terminologia espírita adotada por Kardec é simples e precisa. Mas no tocante às duas áreas fundamentais dos fenômenos de efeitos inteligentes e efeitos físicos, era necessário um acréscimo. Além dessa divisão fenomênica, havia o problema da divisão funcional. Kardec notou a generalização da mediunidade e os espíritos o socorreram, como se vê no Livro dos Médiuns, com uma especificação curiosa. Temos assim duas áreas de função mediúnica, designadas como mediunidade generalizada e mediunato. A primeira corresponde à mediunidade natural, que todos os seres humanos possuem, e a segunda corresponde a mediunidade de compromisso, ou seja, de médiuns investidos espiritualmente de poderes mediúnicos para finalidades específicas na encarnação.
Como Kardec mencionou a existência de médiuns elétricos e várias vezes comparou a mediunidade com a eletricidade, surgiu mais tarde entre alguns estudiosos, entre os quais, Crawford, a idéia de uma divisão mais explícita, com a designacão de mediunidade estática e mediunidade dinâmica. A primeira corresponde à mediunidade natural, que todos possuem e permanece geralmente em êxtase, com manifestações moderadas e quase imperceptíveis. A segunda corresponde a mediunidade ativa, que exige desenvolvimento e aplicação durante toda a vida do médium.
A falta de conhecimento desta divisão acarreta dificuldades e inconvenientes na prática mediúnica, particularmente nos trabalhos de Centros e Grupos. A mediunidade estática não é propriamente uma forma de energia que permanece no organismo corporal em estado letárgico. É simplesmente a disposição natural do espírito para expandir-se, projetar-se e entrar em relação com outros espíritos. A Parapsicologia atual confirmou a tese espírita das relações telepáticas permanentes na vida social. Nossa mente funciona, segundo acentua John Ehrenwald em seu estudo sobre relações interpessoais, como ativo centro emissor e receptor de pensamentos. Estamos sempre conversando sem o perceber. Muitos dos nosso monólogos são diálogos com outras pessoas ou com espíritos. Mensagens de Emmanuel e André Luiz, através de Chico Xavier, referem-se a inquirições mentais que certos espíritos nos fazem, seja para aliviar nosso estado mental e ajudar-nos a corrigi-lo, seja para fins obsessivos.
Um obsessor aproxima de nós e sugere mentalmente o nome ou a figura de uma pessoa. Começamos a pensar nessa pessoa e a desfilar na mente os dados que possuímos sobre ela. O obsessor insiste e nós, sem percebermos, vamos lhe dando a ficha da pessoa ou as nossas opiniões sobre ela. Ajudamos o obsessor sem saber. De outras vezes ele pretende saber qual a nossa posição em determinado caso de desentendimento a respeito de um seu amigo. Nós a revelamos e ele passa a envolver-nos num processo obsessivo. Por isso Jesus aconselhou: ''Vigiai e orai" . Devemos vigiar os nossos pensamentos e orar por aqueles que consideramos em erro. Se fizermos assim certamente nos livraremos de muitas perturbações e muitos aborrecimentos desnecessários. Os solilóquios do homem são sempre observados pelas testemunhas invisíveis, boas e más, que nos cercam. A mediunidade estática funciona como imanente no nosso psiquismo. Faz parte da nossa natureza, não é uma graça nem uma prova, é um elemento essencial da nossa constituição humana.
Recorrem às casas espíritas muitas pessoas perturbadas e até mesmo obsedadas, que em geral são consideradas como médiuns em fase de desenvolvimento. Muitas delas são apenas vítimas de perseguição de espíritos inferiores, resultantes de inquirições mentais. Por esse ou outros motivos, essas criaturas estão realmente envolvidas num processo de obsessão, mas não são médiuns em desenvolvimento. Precisam de passes, de participação nas sessões, mas não de sentar-se a mesa mediúnica para desenvolver mediunidade. Essas pessoas, tratadas devidamente, livram-se da obsessão mas não revelam mais os sintomas mediúnicos decorrentes da obsessão. Estas pessoas não estão investidas de mediunato, não precisam e nem podem desenvolver a sua mediunidade estática. Esta lhe serve para guiar-se na vida através de intuições e percepções extra-sensoriais. A obsessão ocasional, por sua vez, serviu para aproximá-la do Espiritismo, despertar-lhe ou reanimar-lhe o sentimento religioso, encaminhá-la num sentido mais elevado em sua maneira de viver, na busca de sintonias mentais benéficas e não prejudiciais.
As pessoas não dotadas de mediunato não estão desprovidas dos recursos mediúnicos. Pelo contrário, podem ser muito sensíveis e intuitivas, dispondo de percepções eficazes em todas as circunstâncias. Os dirigentes de sessões não podem esquecer esse problema, que lhes evitará muitos enganos no trato das manifestações mediúnicas. As obsessões não são produzidas apenas por espíritos. Há muitos casos de obsessões telepáticas, provocadas por pessoas vivas. Kardec tratou desses casos referindo-se à telepatia como telegrafia humana. Sentimentos de aversão, de ódio, de vingança, acompanhados de pensamentos agressivos, podem dar a impressão de verdadeiros processo de obsessão por espíritos inferiores. Estes geralmente se envolvem em tais casos e manifestam-se nas sessões com suas costumeiras bravatas, passando como os responsáveis por perturbações em que apenas se intrometem.
Eliminando o processo telepático, esses espíritos se afastam, sentem-se impotentes para prosseguir na temerária empreitada. O Dr. Ehrenwald relata um caso da sua clínica psicanalítica, em que o rapaz era rejeitado pelos companheiros de pensão. A rejeição era oculta, pois todos fingiam apreciá-lo. Só a pesquisa do médico provou o que se passava. Afastando o paciente para outro meio, os sintomas obsessivos desapareceram gradualmente, na proporção que os algozes o esqueciam. Esse famoso médico psicanalista, diante de casos desta ordem, propôs a ampliação dos métodos de pesquisa Parapsicológica com acréscimo dos métodos significativos da Psicologia e dos métodos qualitativos da pesquisa espírita.
Havia realmente chegado a hora em que a Parapsicologia atual devia superar o primarismo dos métodos de investigação puramente quantitativos, sob controle estatístico, para enfrentar o problema das conseqüências da ação telepática no meio social. Posteriormente a Profa. Louise Rhine, esposa e colaboradora do Prof Rhine, publicava o seu livro 'Os Canais Ocultos da Mente', relatando pesquisas de campo sobre os fenômenos paranormais. Alegava que as pesquisas de laboratório eram demasiamente frias e despojavam os fenômenos de sua riqueza emocional e seu significado. O livro da senhora Rhine apresenta uma seqüência impressionante de casos essencialmente espíritas.
Todos os rios levam suas águas para o mar. Todas as ciências psíquicas desembocam fatalmente no delta do Espiritismo. Não podemos desprezar as suas pesquisas e as suas conclusões. Os parapsicólogos verdadeiros, que são cientistas universitários, não devem ser confundidos com sacerdotes inconscientes que apresentam ao público uma deformação sectária e intencional da Parapsicologia. Esses padres, frades e pastores que tripudiam sobre a ignorância e a ingenuidade do povo, são acionados por interesses materiais evidentes e por entidades espirituais inferiores, que servem da mediunidade estática deles mesmos para levá-las a campanhas inglórias e a explorações deploráveis da boa fé dos fiéis. Mas a verdade é que estão nas malhas da mediunidade que negam e combatem.
A mediunidade estática dorme nas suas próprias entranhas, à espera de que se tornem capazes de percebê-la e compreendê-la. Na linha natural dos processos de percepção, a mediunidade estática aflora, às vezes, dadas as circunstâncias favoráveis, numa eclosão semelhante ao desenvolvimento mediúnico. Há casos de premonição que surgem de perigo eventual, casos de vidência passageira, que parecem sintomas de mediunato em eclosão. É difícil saber-se de imediato, o que se passa, principalmente em virtude do estado emocional dos pacientes. Mas basta uma observação paciente, com a freqüência a sessões mediúnicas, para logo se verificar que se trata apenas de ocorrências isoladas e ocasionais. A mediunidade estática tende sempre a voltar à sua acomodação no psiquismo normal. O que às vezes complica essas ocorrências passageiras é a insistência no desenvolvimento mediúnico ou as aplicações terapêuticas de choques e dosagens excessivas de drogas nos receituários médicos.
J. Herculano Pires
Livro : Mediunidade

MEDIUNIDADE


"E nos últimos dias acontecerá, diz o Senhor, que do meu espírito derramarei sobre toda carne; os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, vossos mancebos terão visões e os vossos velhos sonharão sonhos". (Atos, 2:17)
No dia de Pentecostes, Jerusalém estava repleta de forasteiros. Filhos da Mesopotâmia, da Frigia, da Líbia, do Egito, cretenses, árabes, partos e romanos se aglomeravam na praça extensa, quando os discípulos humildes do Nazareno anunciaram a Boa Nova, atendendo a cada grupo da multidão em seu idioma particular.
Uma onda de surpresa e de alegria invadiu o espírito geral. Não faltaram os cépticos, no divino concerto, atribuindo à loucura e à embriaguez a revelação observada, Simão Pedro destaca-se e esclarece que se trata da luz prometida pelos céus à escuridão da carne.
Desde esse dia, as claridades do Pentecostes jorraram sobre o mundo, incessantemente. Até aí, os discípulos eram frágeis e indecisos, mas, dessa hora em diante, quebram as influências do meio, curam os doentes, levantam o espírito dos infortunados, falam aos reis da Terra em nome do Senhor.
O poder de Jesus se lhes comunicara às energias reduzidas. Estabelecera-se a era da mediunidade, alicerce de todas as realizações do Cristianismo, através dos séculos. Contra o seu influxo, trabalham, até hoje, os prejuízos morais que avassalam os caminhos do homem, mas é sobre a mediunidade, gloriosa luz dos céus oferecida às criaturas, no Pentecostes, que se edificam as construções espirituais de todas as comunicações sinceras da Doutrina do Cristo e é ainda ela que, dilatada dos apóstolos ao círculo de todos os homens, ressurge no Espíritismo cristão, como a alma imortal do Cristianismo redivivo.
Emmanuel
DESENVOLVIMENTO: (O CONSOLADOR):
Perg. 382 - Qual a verdadeira definição da mediunidade?
- A mediunidade é aquela luz que seria derramada sobre toda carne e prometida pelo Divino Mestre aos tempos do Consolador, atualmente em curso na Terra. A missão mediúnica, se tem os seus percalços e as suas lutas dolorosas, é uma das mais belas oportunidades de progresso e de redenção concedidas por Deus aos seus filhos misérrimos. Sendo luz que brilha na carne, a mediunidade é atributo do Espírito, patrimônio da alma imortal, elemento renovador da posição moral da criatura terrena, enriquecendo todos os seus valores no capítulo da virtude e da inteligência, sempre que se encontre ligada por princípios evangélicos na sua trajetória pela face do mundo.
Perg. 383 - É justo considerarmos todos os homens como médiuns?
- Todos os homens têm o seu grau de mediunidade, nas mais variadas posições evolutivas, e esse atributo do espírito representa, ainda, a alvorada de novas percepções para o homem do futuro, quando, pelo avanço da mentalidade do mundo, as criaturas humanas verão alargar-se a janela acanhada dos seus cinco sentidos.
Na atualidade, porém, temos de reconhecer que no campo imenso das potencialidades psíquicas do homem existem os médiuns com tarefa definida, precursora das novas aquisições humanas. É certo que essas tarefas reclamam sacrifícios e se constituem, muitas vezes, de provações ásperas; todavia, se o operário busca a substância evangélica para a execução de seus deveres, é ele o trabalhador que faz jus ao acréscimo de miserlcórdia prometido pelo Mestre a todos os discípulos de boa-vontade.
Perg. 384 - Dever-se-á provocar o desenvolvimento da mediunidade?
- Ninguém deverá forçar o desenvolvimento dessa ou daquela faculdade, porque, nesse terreno, toda a espontaneidade é necessária; observando-se, contudo, a floração mediúnica espontânea, nas expressões mais simples, deve-se aceitar o evento com as melhores disposições de trabalho e boa-vontade, seja essa possibilidade psíquica a mais humilde de todas.
A mediunidade não deve ser fruto de precipitação nesse ou naquele setor da atividade doutrinária, porquanto, em tal assunto, toda a espontaneidade é indispensável, considerando-se que as tarefas mediúnicas são dirigidas pelos mentores do plano espiritual.
Perg. 385 - A mulher ou o homem, em particular, possuem disposições especiais para o desenvolvimento mediúnico?
- No capítulo do mediunismo não existem propriamente privilégios para os que se encontram em determinada situação; porém, vence nos seus labores quem detiver a maior porcentagem de sentimento. E a mulher, pela evolução de sua sensibilidade em todos os climas e situações, através dos tempos, está, na atualidade, em esfera superior à do homem, para interpretar, com mais precisão e sentido de beleza, as mensagens dos planos invisíveis.
Perg. 386 - Qual a mediunidade mais preciosa para o bom serviço à Doutrina?
- Não existe mediunidade mais preciosa uma que a outra.
Qualquer uma é campo aberto às mais belas realizações espirituais, sendo justo que o médium, com a tarefa definida, se encha de espírito missionário, com dedicação sincera e fraternidade pura, para que o seu mandato não seja traído na improdutividade.
Perg. 387 - Qual a maior necessidade do médium?
- A primeira necessidade do médium é evangelizar-se a si mesmo antes de se entregar às grandes tarefas doutrinárias, pois, de outro modo poderá esbarrar sempre com o fantasma do personalismo, em detrimento de sua missão.
Perg. 388 - Nos trabalhos mediúnicos temos de considerar, igualmente, os imperativos da especialização?
- O homem do mundo, no círculo de obrigações que lhe competem na vida, deverá sair da generalidade para produzir o útil e o agradável, na esfera de suas possibilidades individuais.
Em mediunidade, devemos submeter-nos aos mesmos princípios. O homem enciclopédico, em faculdade, ainda não apareceu, senão em gérmen, nas organizações geniais que raramente surgem na Terra, e temos de considerar que a mediunidade somente agora começa a aparecer no conjunto de atributos do homem transcendente.
A especialização na tarefa mediúnica é mais que necessária e somente de sua compreensão poderá nascer a harmonia na grande obra de vulgarização da verdade a realizar.
Perg. 389 - A mediunidade pode ser retirada em deterrminadas circunstâncias da vida?
- Os atributos medianímicos são como os talentos do Evangelho. Se o patrimônio divino é desviado de seus fins, o mau servo torna-se indigno da confiança do Senhor da seara da verdade e do amor. Multiplicados no bem, os talentos mediúnicos crescerão para Jesus, sob as bênçãos divinas; todavia, se sofrem o insulto do egoísmo, do orgulho, da vaidade ou da exploração inferior, podem deixar o intermediário do invisível entre as sombras pesadas do estacionamento, nas mais dolorosas perspectivas de expiação, em vista do acréscimo de seus débitos irrefletidos.
Perg. 390 - É justo que um médium confie em si mesmo para a provocação de fenômenos, organizando trabalhos especiais com o fim de converter os descrentes?
- Onde o médium em tão elevada condição de pureza e merecimento, para contar com as suas próprias forças na produção desse ou daquele fenômeno? Ninguém vale, na Terra, senão pela expressão da misericórrdia divina que o acompanha, e a sabedoria do plano superior conhece minuciosamente as necessidades e méritos de cada um. A tentativa de tais trabalhos é um erro grave. Um fenômeno não edifica a fé sincera, somente conseguida pelo esforço e boa-vontade pessoal na meditação e no trabalho interior. Os descrentes chegarão à Verdade, algum dia, e a Verdade é Jesus. Anteciparmo-nos à ação do Mestre não seria testemunho de confusão? Organizar sessões medianímicas com o objetivo de arrebanhar prosélitos é agir com demasiada leviandade. O que é santo e divino ficaria exposto aos julgamentos precipitados dos mais ignorantes e ao assalto destruidor dos mais perversos, como se a Verdade de Jesus fosse objeto de espetáculos, nos picadeiros de um circo.
Perg. 391 - Os irracionais possuem mediunidade?
- Os irracionais não possuem faculdades mediúniicas propriamente ditas. Contudo, têm percepções psíquicas embrionárias, condizentes ao seu estado evolutivo, através das quais podem indiciar as entidades deliberadamente perturbadoras, com fins inferiores, para estabelecer a perplexidade naqueles que os acompanham, em determinadas circunstâncias.
PREPARAÇÃO
Perg. 392 - Pode contar um médium, de maneira absoluta, com os seus guias espirituais dispensando os estudos?
- Os mentores de um médium, por mais dedicados e evolvidos, não lhe poderão tolher a vontade e nem lhe afastar o coração das lutas indispensáveis da vida, em cujos benefícios todos os homens resgatam o passado delituoso e obscuro, conquistando méritos novos.
O médium tem obrigação de estudar muito, observar intensamente e trabalhar em todos os instantes pela sua própria iluminação. Somente desse modo poderá habilitar-se para o desempenho da tarefa que lhe foi confiada, cooperando eficazmente com os Espíritos sinceros e devotados ao bem e à verdade.
Se um médium espera muito dos seus guias, é lícito que os seus mentores espirituais muito esperem do seu esforço. E como todo progresso humano, para ser continuado, não pode prescindir de suas bases já edificadas no espaço e no tempo, o médium deve entregar-se ao estudo, sempre que possível, criando o hábito de conviver com o espírito luminoso e benéfico dos instrutores da Humanidade, sob a égide de Jesus, sempre vivos no mundo, através dos seus livros e da sua exemplificação.
O costume de tudo aguardar de um guia pode transformar-se em vício detestável, infirmando as possibilidades mais preciosas da alma. Chegando-se a esse desvirtuamento, atinge-se o declive das mistificações e das extravagâncias doutrinárias, tornando-se o médium preguiçoso e leviano responsável pelo desvio de sua tarefa sagrada.
Perg. 393 - Como entender a obsessão? É prova inevitável, ou acidente que se possa afastar facilmente, anulando-lhe os efeitos?
- A obsessão é sempre uma prova, nunca um acontecimento eventual. No seu exame, contudo, precisamos considerar os méritos da vítima e a dispensa da misericórdia divina a todos os que sofrem.
Para atenuar ou afastar os seus efeitos, é imprescindível o sentimento do amor universal no coração daquele que fala em nome de Jesus. Não bastarão as fórmulas doutrinárias. É indispensável a dedicação, pela fraternidade mais pura. Os que se entregam à tarefa da cura das obsessões precisam ponderar, antes de tudo, a necessidade de iluminação interior do médium perturbado, porquanto na sua educação espiritual reside a própria cura. Se a execução desse esforço não se efetua, tende cuidado, porque, então, os efeitos serão extensivos a todos os centros de força orgânica e psíquica. O obsidiado que entrega o corpo, sem resistência moral, às entidades ignorantes e perturbadas, é como o artista que entregasse seu violino precioso a um malfeitor, o qual, um dia, poderá renunciar à posse do instrumento que lhe não pertence, deixando-o esfacelado, sem que o legítimo, mas imprevidente dono, possa utilizá-lo nas finalidades sagradas da vida.
Perg. 394 - Será sempre útil, para a cura de um obsidiado, a doutrinação do Espírito perturbado, por parte de um espiritista convicto?
- A cooperação do companheiro vale muito e faz sempre grande bem, principalmente ao desencarnado; mas a cura completa do médium não depende tão-só desse recurso, porque, se é fácil, às vezes, o esclarecimento da entidade infeliz e sofredora, a doutrinação do encarnado é a mais difícil de todas, visto requisitar os valores do seu sentimento e da sua boa-vontade, sem o que a cura psíquica se torna inexeqüível.
Perg. 395 - Pode a obsessão transformar-se em loucura? - Qualquer obsessão pode transformar-se em loucura, não só quando a lei das provações assim o exige, como também na hipótese de o obsidiado entregar-se voluntariamente ao assédio das forças nocivas que o cercam, preferindo esse gênero de experiências.
Perg. 396 - Tratando-se da necessidade de preparação para a tarefa mediúnica, é justo acreditar-se na movimentação de fluidos maléficos em prejuízo do próximo?
- É o caso de vos perguntarmos se não haveis movimentado as energias maléficas, no decurso da vida, contra a vossa própria felicidade.
Num orbe como a Terra, onde a porcentagem de forças inferiores supera quase que esmagadoramente os valores legítimos do bem, a movimentação de fluidos maléficos é mais que natural; no entanto, urge ensinar aos que operam, nesse campo de maldade, que os seus esforços efetuam a sementeira infeliz, cujos espinhos, mais tarde, se voltarão contra eles próprios, em amargurados choques de retorno, fazendo-se mister, igualmente, educar as vítimas de hoje na verdadeira fé em Jesus, de modo a compreenderem o problema dos méritos na tarefa do mundo.
A aflição do presente pode ser um bem a expressar-se em conquistas preciosas no futuro, e, se Deus permite a influência dessas energias inferiores, em determinadas fases da existência terrestre, é que a medida tem sua finalidade profunda, ao, serviço divino da regeneração individual.
Perg. 397 - Por que razão alguns médiuns parecem sofrer com os fenômenos da incorporação, enquanto outros manifestam o mesmo fenômeno, naturalmente?
- Nas expressões de mediunismo existem características inerentes a cada intermediário entre os homens e os desencarnados; entretanto, a falta de naturalidade do aparelho mediúnico, no instante de exercer suas faculdades, é quase sempre resultante da falta de educação psíquica.
Perg. 398 - É natural que, em plenas reuniões de estudo, os médiuns se deixem influenciar por entidades perturbadoras que costumam quebrar o ritmo de proveitosos e sinceros trabalhos de educação?
- Tal interferência não é natural e deve ser muito estranhável para todos os estudiosos de boa-vontade.
Se o médium que se entregou à atuação nociva é insciente dos seus deveres à luz dos ensinamentos doutrinários, trata-se de um obsidiado que requer o máximo de contribuição fraterna; mas, se o acontecimento se verifica através de companheiro portador do conhecimento exato de suas obrigações, no círculo de atividades da Doutrina, é justo responsabilizá-lo pela perturbação, porque o fato, então, será oriundo da sua invigilância e imprevidência, em relação aos deveres sagrados que competem a cada um de nós, no esforço do bem e da verdade.
Perg. 399 - Quando a opinião irônica ou insultuosa ataca uma expressão da verdade, no campo mediúnico, é justo buscarmos o apoio dos Espíritos amigos para revidar?
Vossa inquietação no mundo costuma conduzir-vos a muitos despautérios.
Semelhante solicitação aos desencarnados seria um deles. Os valores de um campo mediúnico triunfam por si mesmos, pela essência de amor e de verdade, de consolação e de luz que contenham, e seria injustificável convocar os Espíritos para discutir com os homens, quando já se demasiam as polêmicas dos estudiosos humanos entre si.
Além do mais, os que não aceitam a palavra sincera e fraternal dos mensageiros do plano superior terão, igualmente, de buscar o túmulo algum dia, e é inútil perder tempo com palavras, quando temos tanto o que fazer no ambiente de nossas próprias edificações.
Perg. 400 - Poderá admitir-se que um médium se socorra de outro médium para obter o amparo dos seus amigos espirituais?
- É justo que um amigo se valha da estima fraternal de um companheiro de crença, para assuntos de confiança íntima e recíproca, mas, na função mediúnica, o portador dessa ou daquela faculdade deve buscar em seu próprio valor o elemento de ligação com os seus mentores do plano invisível, sendo contraproducente procurar o amparo, nesse particular, fora das suas próprias possibilidades, porque, de outro modo, seria repousar numa fé alheia, quando a fé precisa partir do íntimo de cada um, no mecanismo da vida.
Além do mais, cada médium possui a sua esfera de ação no ambiente que lhe foi assinalado. Abandonar a própria confiança para valer-se de outrem, seria sobrecarregar os ombros de um companheiro de luta, esquecendo a cruz redentora que cada Espírito encarnado deverá carregar em busca da claridade divina.
Perg. 401 - A mistificação sofrida por um médium significa ausência de amparo dos mentores do plano espiritual?
- A mistificação experimentada por um médium traz, sempre, uma finalidade útil, que é a de afastá-la do amor-próprio, da preguiça no estudo de suas necessidades próprias, da vaidade pessoal ou dos excessos de confiança em si mesmo.
Os fatos de mistificacão não ocorrem à revelia dos seus mentores mais elevados, que, somente assim, o conduzem à vigilância precisa e às realizações da humildade e da prudência no seu mundo subjetivo.
APOSTOLADO
Perg. 402 - Seria justo aceitar remuneração financeira no exercício da mediunidade?
- Quando um médium se resolva a transformar suas faculdades em fonte de renda material, será melhor esquecer suas possibilidades psíquicas e não se aventurar pelo terreno delicado dos estudos espirituais.
A remuneração financeira, no trato das questões profundas da alma, estabelece um comércio criminoso, do qual o médium deverá esperar no futuro os resgates mais dolorosos.
A mediunidade não é ofício do mundo, e os Espíritos esclarecidos, na verdade e no bem, conhecem, mais que os seus irmãos da carne, as necessidades dos seus intermediários.
Perg. 403 - É razoável que os médiuns cogitem da solução de assuntos materiais junto dos seus mentores do plano invisível?
- Não se deve esquecer que o campo de atividades materiais é a escola sagrada dos Espíritos incorporados no orbe terrestre. Se não é possível aos amigos espirituais quebrarem a lei de liberdade própria de seus irmãos, não é lícito que o médium cogite da solução de problemas materiais junto dos Espíritos amigos. O mundo é o caminho no qual a alma deve provar a experiência, testemunhar a fé, desenvolver as tendências superiores, conhecer o bem, aprender o melhor, enriquecer os dotes individuais.
O médium que se arrisca a desviar suas faculdades psíquicas, para o terreno da materialidade do mundo, está em marcha para as manifestações grosseiras dos planos inferiores, onde poderá contrair os débitos mais penosos.
Perg. 404 - Deve o médium sacrificar o cumprimento de suas obrigações no trabalho cotidiano e no ambiente sagrado da família, em favor da propaganda doutrinária?
- O médium somente deve dar aos serviços da Doutrina a cota de tempo de que possa dispor, entre os labores sagrados do pão de cada dia e o cumprimento dos seus elevados deveres familiares.
A execução dessas obrigações é sagrada e urge não cair no declive das situações parasitárias, ou do fanatismo religioso.
No trabalho da verdade, Jesus caminha antes de qualquer esforço humano e ninguém deve guardar a pretensão de converter alguém, quando nas tarefas do mundo há sempre oportunidade para o preciso conhecimento de si mesmo.
Que médium algum se engane em tais perspectivas.
Antes sofrer a incompreensão dos companheiros, que transigir com os princípios, caindo na irresponsabilidade ou nas penosas dívidas de consciência.
Perg. 405 - Poder-se-á admitir que os espiritistas se valham de um apostolado mediúnico, para solução de todas as dificuldades da vida?
- O médium não deve ser sobrecarregado com exigências de seus companheiros, relativamente às dificuldades da sorte. É justo que seus irmãos se socorram das suas faculdades, em circunstâncias excepcionais da existência, como nos casos de enfermidade e outros que se lhe assemelhem. Todavia, cercar um médium de soliciitações de toda natureza é desvirtuar a tarefa de um amigo, eliminando as suas possibilidades mais preciosas e, além do mais, não se deverá repetir no Espiritismo sincero a atitude mental dos católico-romanos, que se abandonam junto à "imagem" de um "santo", olvidando todos os valores do esforço próprio.
Os núcleos espiritistas precisam considerar que em seus trabalhos há quem os acompanhe do plano superior e que receberão sempre o concurso espiritual de seus irmãos libertos da carne, dependendo a satisfação desse ou daquele problema particular dos méritos de cada um. Proceder em contrário, é eliminar o aparelho mediúnico, fornecendo doloroso testemunho de incompreensão.
Perg. 406 - Quando um investigador busque valer-se dos serviços de um médium, é justo que submeta o aparelho medianímico a toda sorte de experiência, a fim de certificar-se dos seus pontos de vista?
- Depende do caráter dessas mesmas experiências e, quaisquer que elas sejam, o médium necessita de muito cuidado, porquanto, no caminho das aquisições espirituais, cada investigador encontra o material que procura. E quem se aproxima de uma fonte espiritual, tisnando-a com a má-fé e a insinceridade, não pode, por certo, saciar a sede com uma água pura.
Perg. 407 - Para que alguém se certifique da verdade do Espiritismo, bastará recorrer a um bom médium?
- Os estudiosos do Espiritismo, ainda sem convicção valorosa e séria no terreno da fé, precisam reconhecer que em trabalhos dessa ordem não basta o recurso de um bom médium. O medianeiro não fará milagres dentro da natureza. Faz-se mister que o investigador, a par de uma curiosidade sadia, possua valores morais imprescindíveis, como a sinceridade e o amor do bem, servindo a uma existência reta e fértil de ações puras.

Perg. 408 - Seria proveitosa a criação de associações de auxílio material aos médiuns?
- No Espiritismo é sempre de bom aviso evitar-se a consecução de iniciativas tendentes a estabelecer uma nova classe sacerdotal no mundo.
Os médiuns, nesse ou naquele setor da sociedade humana, devem o mesmo tributo ao trabalho, à luta e ao sofrimento, indispensáveis à conquista do agasalho e do pão material. Ao demais, temos de considerar, acima de toda proteção precária do mundo, o amparo de Jesus aos seus trabalhadores de boa-vontade. Toda expressão de sacrifício sincero está eivada de luz divina, todo trabalho sincero é elevação e toda dor é luz, quando suportada com serenidade e confiança no Mestre dos mestres.
Perg. 409 - Como deverá proceder o médium sincero para a valorização do seu apostolado?
- O médium sincero necessita compreender que, antes de cogitar da doutrinação dos Espíritos, ou de seus companheiros de luta na Terra, faz-se mister a iluminação de si próprio pelo conhecimento, pelo cumprimennto dos deveres mais elevados e pelo esforço de si mesmo na assimilação perfeita dos princípios doutrinários.
No desdobramento dessa tarefa, jamais deve descuidar-se da vigilância, buscando aproveitar as possibilidades que Jesus lhe concedeu na edificação do trabalho estável e útil. Não deve cultivar o sofrimento pelas queixas descabidas e demasiadas e nem recorrer, a todo instante, à assistência dos seus guias, como se perseverasse em manter uma atitude de criança inexperiente.
O estudo da Doutrina e, sobretudo, o cultivo da auto-evangelização devem ser ininterruptos. O médium sincero sabe vigiar, fugindo da exploração material ou sentimental, compreendendo, em todas as ocasiões, que o mais necessitado de misericórdia é ele próprio, a fim de dar pleno testemunho do seu apostolado.
Perg. 410 - Onde o maior escolho do apostolado mediúnico?
- O primeiro inimigo do médium reside dentro dele mesmo. Freqüentemente é o personalismo, é a ambição, a ignorância ou a rebeldia no voluntário desconhecimento dos seus deveres à luz do Evangelho, fatores de inferioridade moral que, não raro, o conduzem à invigilância, à leviandade e à confusão dos campos improdutivos.
Contra esse inimigo é preciso movimentar as energias íntimas pelo estudo, pelo cultivo da humildade, pela boa-vontade, com o melhor esforço de auto-educação, à claridade do Evangelho.
O segundo inimigo mais poderoso do apostolado mediúnico não reside no campo das atividades contrárias à expansão da Doutrina, mas no próprio seio das organizações espiritistas, constituindo-se daquele que se convenceu quanto aos fenômenos, sem se converter ao Evangelho pelo coração, trazendo para as fileiras do Consolador os seus caprichos pessoais, as suas paixões inferiores, tendências nocivas, opiniões cristalizadas no endurecimento do coração, sem reconhecer a realidade de suas deficiências e a exigüidade dos seus cabedais íntimos. Habituados ao estacionamento, esses irmãos infelizes desdenham o esforço próprio - única estrada de edificação definitiva e sincera - para recorrerem aos Espíritos amigos nas menores dificuldades da vida, como se o apostolado mediúnico fosse uma cadeira de cartomante. Incapazes do trabalho interior pela edificação própria na fé e na confiança em Deus, dizem-se necessitados de conforto. Se desatendidos em seus caprichos inferiores e nas suas questões pessoais, estão sempre prontos para acusar e escarnecer. Falam da caridade, humilhando todos os princípios fraternos; não conhecem outro interesse além do que lhes lastreia o seu próprio egoísmo. São irônicos, acusadores e procedem quase sempre como crianças levianas e inquietas. Esses são também aqueles elementos da confusão, que não penetram o templo de Jesus e nem permitem a entrada de seus irmãos.
Esse gênero de inimigos do apostolado mediúnico é muito comum e insistente nos seus processos de insinuação, sendo indispensável que o missionário do bem e da luz se resguarde na prece e na vigilância. E como a verdade deve sempre surgir no instante oportuno, para que o campo do apostolado não se esterilize, faz-se imprescindível fugir deles.
Perg. 411 - Onde a luz definitiva para a vitória do apostolado mediúnico?
- Essa claridade divina está no Evangelho de Jesus, com o qual o missionário deve estar plenamente identificado para a realização sagrada da sua tarefa. O médium sem Evangelho pode fornecer as mais elevadas informações ao quadro das filosofias e ciências fragmentárias da Terra; pode ser um profissional de nomeada, um agente de experiências do invisível, mas não poderá ser um apóstolo pelo coração. Só a aplicação com o Divino Mestre prepara no íntimo do trabalhador a fibra da iluminação para o amor, e da resistência contra as energias destruidoras, porque o médium evangelizado sabe cultivar a humildade no amor ao trabalho de cada dia, na tolerância esclarecida, no esforço educativo de si mesmo, na significação da vida, sabendo, igualmente, levantar-se para a defesa da sua tarefa de amor, defendendo a verdade sem transigir com os princípios no momento oportuno.
O apostolado mediúnico, portanto, não se constitui tão-somente da movimentação das energias psíquicas em suas expressões fenomênicas e mecânicas, porque exige o trabalho e o sacrifício do coração, onde a luz da comprovação e da referência é a que nasce do entendimento e da aplicação com Jesus-Cristo.

Emmanuel
Livro : O Consolador