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domingo, 24 de março de 2013

01 - JESUS E DESAFIOS

01 - JESUS E DESAFIOS
JESUS E DESAFIOS
O processo de evolução constitui para o Espírito um grande desafio.

Acostumado às vibrações mais fortes no campo dos sentidos físicos, somente quando a dor o visita é que ele começa a aspirar por impressões mais elevadas, nas quais encontre lenitivo, anelando por conquistas mais importantes.

Vivendo em luta constante contra os fatores constringentes do estágio em que se demora, vez por outra experimenta paz, que passa a querer em forma duradoura.

No começo, são as dores com intervalos de bem-estar que o assinalam, até conseguir a tranquilidade com breves presenças do sofrimento, culminando com a plenitude sem aflição.

De degrau em degrau ascende, caindo para levantar-se, atraído pelo sublime tropismo do Amor.
Conseguir o estágio mais alto, significa-lhe triunfar.

Aturdido e inseguro, descobre uma conspiração quase geral contra o seu fatalismo. São as suas heranças passadas que agora ressurgem, procurando retê-lo na área estreita do imediatismo, em nível inferior de consciência, onde apenas se nutre, dorme e se reproduz, com indiferença pelas emoções do belo, do nobre, do sadio.

Anestesiado pelas necessidades vegetativas, busca apenas o gozo, que termina por causar-lhe saturação, passando a um estado de tédio que antecipa a necessidade premente de outros valores.

Lentamente desperta para realidades que antes não o sensibilizavam e, de repente, passam a significar-lhe meta a conseguir, sentindo-se estimulado a abandonar a inoperância.

O psiquismo divino, nele latente, responde ao apelo das forças superiores e desatrela-se do cárcere celular, qual antena que capta a emissão de mensagens alcançadas somente nas ondas em que sintoniza.

O primeiro desafio, o de penetrar emoções novas, o atrai, impelindo-o a tentames cada vez mais complexos, portanto, mais audaciosos.

Experimentando este prazer ético e estético, diferente da brutalidade do primarismo, acostuma-se com ele e esforça-se para novos cometimentos que, a partir de então, já não cessam, desde que, encerrado um ciclo, qual espiral infinita, outro prazer se abre atraente, parecendo-lhe cada vez mais fácil.

Tudo na vida são desafios às resistências.

A "lei de entropia" degrada a energia que tende à consumpção, para manter o equilíbrio térmico de todas as coisas.

O envelhecimento e a morte são fenômenos inevitáveis no cosmo biológico e no universo.

Os batimentos cardíacos são desafios à resistência do músculo que os experimenta; os peristálticos são teste constante para as fibras que os sofrem; a circulação do sangue é quesito essencial para a irrigação das células; a respiração constitui fator básico, sem o qual a vida perece. Tudo isso e muito mais, na área dos automatismos fisiológicos, a interferir nos de natureza psicológica.

É natural que o mesmo suceda no campo moral do ser, que nunca retrocede e não deve estacionar sob pretexto algum.
No progresso, a evolução é inevitável. A felicidade é o ponto final.
Não cabe ao homem retroceder na luta, senão para reabastecer-se de forças e prosseguir nos embates.

O crescimento de qualquer ideal é resultado dos estágios inferiores vencidos, das etapas superadas, dos desafios enfrentados.

A sequóia culmina a altura e o volume máximos, célula a célula.

O universo se renova e prossegue, molécula a molécula.

Facilidade é perda de estímulo com prejuízo para a ação.

Toda a vida do Mestre foi um suceder incessante de desafios.

Embates no Seu meio social e familial constituíram-Lhe os primeiros impedimentos, que foram ultrapassados, em razão da superior finalidade para a qual viera.

Ele não aceitou carregar o fardo do mundo em caráter de redenção dos outros, mas ensinou cada um a conduzir o seu próprio compromisso em paz de consciência; não assumiu as tarefas alheias, nem deixou de demonstrar como fazê-las; no entanto, altaneiro, sem presunção, tampouco sem submissão covarde.

Os desafios da sociedade injusta e arbitrária chegaram-Lhe provocadores, mediante situações, pessoas e circunstâncias; apesar disso, sem deter-se, Ele continuou íntegro, enfrentando-os sem ira ou medo.

Passou aquele tempo; todavia, permanecem os resíduos doentios.

Alterou-se a paisagem, não os valores, que prosseguem relativamente os mesmos, gerando obstáculos e insatisfações.

Enfrenta os desafios da tua vida, serenamente.

Não aguardes comodidades que não mereces.

Realiza a tua marcha, indômito, preservando os teus valores íntimos e aumentando-os na ação diária.

Quem teme a escuridão, perde-se na noite.

Sê tu aquele que acende a lâmpada e clareia as sombras.

Desafiado, Jesus venceu. Segue-0 e nunca te detenhas ante os desafios para o teu crescimento espiritual.
Joanna de Ângelis
Livro : Jesus e Atualidade

REABILITAÇÃO DE UM CULPADO."...Lembremos por fim, que Jesus veio chamar os pecadores e não os justos. Por isso jamais se defendeu das injúrias e ataques dirigidos à sua pessoa. Contra outra espécie de traidores, ele se insurgiu: os traficantes da fé, os impostores que exploravam o alheio sentimento. A este exprobrou em termos enérgicos. Seu gesto de revolta se verificou, quando expulsava do templo os vendilhões, dirigindo-lhes a seguinte apóstrofe: Fizestes da casa de meu Pai, que é casa de oração, covil de salteadores. Para os algozes que o cravaram na cruz, assim como para a plebe ignara que, aparvalhada, assistia ao seu sacrifício, teve esta frase lapidar: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem...."


Depois de termos falado sobre a Justiça, pratiquemos um ato que a objetive. Tenhamos a precisa coragem moral de, arrostando preconceitos, propugnar pela reabilitação de um culpado, cujo delito, de há muito, foi devidamente reparado, mediante a consumação da justiça imanente, que reponta dos mesmos erros e delitos, como processo expurgador, conducente à regeneração.

Queremos nos referir 'coram populo' a Judas Iscariotes, um dos doze apóstolos do Senhor. Bem sabemos que esse nome tem sido execrado, atravessando os séculos coberto de opróbrio e de ignomínia. Mas é precisamente por isso que, em nome da justiça e, particularmente, em nome do Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, ousamos empreender esta tarefa, para o desempenho da qual imploramos o auxílio da luz que vem de cima.

Encaremos o crime de Judas com a devida calma, desapaixonadamente. Raciocinemos e argumentemos com o critério que a gravidade do caso requer. Comecemos levantando esta preliminar: Como foi Judas ter ao apostolado? Por solicitação própria? Não. Foi chamado, conforme peremptória declaração de Jesus, dirigida aos doze: Eu vos escolhi a vós; no entanto, um de vós é demônio. Daqui ressalta outro ponto importante. Jesus sabia que Judas ia cometer o ato delituoso ao qual se referiu por
ocasião da última páscoa, dizendo: Em verdade vos digo que um de vós me há de trair.
E eles, entristecendo-se muito, começaram cada um a perguntar-lhe: Serei eu, Senhor? E Jesus retrucando, acrescentou: o que mete a mão no prato comigo, esse me trairá. Judas, então, disse: Porventura sou eu, Rabi? O Senhor retorquiu: — Tu o disseste. Em verdade, o Filho do homem vai, como acerca dele está escrito, mas ai daquele por quem o Filho do homem é traído! Bom seria a esse indivíduo, se não houvera nascido. De posse destes dados, extraídos dos Evangelhos, portanto dignos de fé, passemos à ordem dos argumentos.

Jesus veio à terra no desempenho de missão redentora. Para consumá-la se fazia mister tornar-se conhecido dos homens, através de exemplos vivos que testemunhassem o seu acrisolado amor pelos míseros pecadores, mostrando-lhes a estrada da salvação e conduzindo por ela, como guia, toda a humanidade. Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim.

As velhas profecias vaticinaram os acontecimentos que haviam de se desenrolar no decurso da passagem do Filho de Deus por este orbe. Tudo estava previsto. Jesus se achava perfeitamente enfronhado do que o esperava. Marchou, todavia, resoluto e varonil ao encontro do sacrifício. Pai, afasta de mim este cálice; todavia faça-se a tua vontade, e não a minha.

Iniciando a ingente tarefa, Jesus começa reunindo os que deviam colaborar com Ele na obra da libertação humana. Chega-se a uns pescadores e, sem mais preâmbulos, vai dizendo assim: Acompanhem-me, pois, doravante, sereis pescadores de almas. E tais indivíduos, como que premidos por mola invisível, deixam seus barcos, redes e demais petrechos do ofício e seguem o Senhor. Da mesma forma, com relação a Mateus, portageiro da alfândega, que, abandonando o emprego, se põe ao lado dos demais escolhidos. Deste fato concluímos que aquelas pessoas tinham vindo a este mundo já comissionadas, já designadas a desempenhar certas incumbências junto ao Redentor da Humanidade. Do contrário é inexplicával a facilidade com que todos anuíram ao chamado que lhes foi dirigido por um homem desconhecido, com quem jamais haviam tido qualquer entendimento, e que viram pela primeira vez.
O compromisso, portanto, fora tomado antes, noutro plano da vida. Ora, Judas foi, a seu turno, solicitado a acompanhar Jesus. Anuiu, como os demais, ao chamamento. Veio, pois, a este mundo para fazer parte do ministério apostólico. Nesse caso, acode-nos à mente a seguinte consideração: se Judas ia fracassar desastrosamente, como fracassou, na qualidade de apóstolo; se as profecias previram o acontecimento; se, finalmente, Jesus estava ciente do desastre que esperava aquele discípulo, achando até que melhor fora ele não ter nascido, isto é, não ter vindo ao mundo, então por que o incluiu no apostolado? Não seria preferível afastá-lo, na hipótese de haver partido dele o desejo de participar da obra messiânica? Como, pois, se compreende ter sido ele chamado?
Não será lícito estranharmos semelhante procedimento por parte daquele que veio dar a vida pela redenção dos pecadores? Como, então, contribuir para a perdição precisamente de um dos seus escolhidos? Eis a questão que parece inextricável. Mas o Evangelho diz que não há nada encoberto que não seja descoberto, e nada oculto que não venha a ser revelado. Portanto, meditemos.

Jesus não podia consentir na perdição de Judas, ao incorporá-lo no colégio apostólico, prevendo a sua ruína. Atribuir-se ao Senhor semelhante cometimento seria rematada heresia. Há, portanto, uma razão que o levou a agir como agiu. Para descobri-la temos que, preliminarmente, estudar o caráter de Judas. Qualifiquemo-lo, tal como se faz aos réus. Judas, além de ambicioso, amigo do dinheiro, sumamente egoísta, era cínico. Este mal, quando empolga os Espíritos, os torna por assim dizer impermeáveis à luz, à verdade e a todas as sugestões e inspirações boas e salutares. Ficam impassíveis às emoções e às influências de ordem moral. Sua sensibilidade se embota, sua consciência se cauteriza, sua razão se obnubila.
Mergulhados na voragem da materialidade, só aspiram à satisfação dos apetites, debaixo dos seus múltiplos aspectos. Acovardados fogem das lutas, acocoram-se no comodismo, evitando tudo quanto possa perturbar-lhes o antegozo dos seus desejos e dos seus pendores inconfessáveis. Ficam, por assim dizer, cristalizados na esfera bastarda do sensualismo. E aí permaneceriam eternamente se o 'surge et ambula' não constituísse a lei soberana que rege o destino das criaturas de Deus. Sim, tal categoria de indivíduos ficaria estacionária se pudesse furtar-se à influência incoercível da evolução.
De repente, surge um imprevisto que os atira para a correnteza das provas. Então, como que arrastados pelas torrentes caudalosas de profundo rio, vão, sacudidos pelas ondas, batendo-se contra os rochedos ásperos e arestosos até que, precipitados no pélago das águas, ao rumor das quais despertam para a realidade, abrem os olhos para a luz, acordam-se-lhe a razão e a consciência, raiando a aurora de uma vida de reparação, era das reabilitações.

Eis aí o que sucedeu a Judas. Era necessário que essa alma fosse profundamente abalada, fosse sacudida até os seus fundamentos, suportasse um tremendo choque, passasse por um verdadeiro cataclismo, para que despertasse. Jesus não viu somente a queda de Iscariotes; viu também a sua redenção, após a prática do ato ignominoso. Por isso consentiu em incluí-lo no número dos apóstolos. Foi dura, foi tremenda a sua expiação, porém era esse o meio de chamá-lo à razão. Seu estado reclamava um drástico enérgico. Esse medicamento lhe foi propinado.

Cumpriu-se a Justiça, de cuja consumação emerge a misericórdia como seu complemento. Pela dor e pelo amor! Uma vez a lei satisfeita, soa a hora da graça. Lei e graça, justiça e misericórdia se entrelaçam na sábia urdidura da obra redentora do Espírito. Prossigamos, no entanto, no esclarecimento e justificação da nossa campanha em prol da reabilitação do grande delinquente. Judas foi tentado. Jesus o afirma, dizendo que Satanás o havia possuído. Se é certo que a influência da tentação não dirime o delito, contudo é inegável que constitui atenuante em favor do criminoso.
As circunstâncias atenuantes estão previstas até nos códigos terrenos, apesar das inúmeras lacunas de que eles se ressentem. A culpabilidade de Iscariotes deve ser julgada através dessa circunstância. O Tentador o dominou, agindo através dos dois principais defeitos do malsinado apóstolo: cinismo e grande apego ao dinheiro. Essas duas falhas acentuadas do seu caráter têm as suas raízes mergulhadas no egoísmo. Com dinheiro se compram prazeres e deleites que gratificam os sentidos. Com cinismo o indivíduo faz ouvidos de mercador aos protestos da consciência.
Que Judas se fascinava pelo dinheiro, di-lo claramente João Evangelista, reportando-se às suas ladroíces como tesoureiro da comunidade. Que era um cínico e simulador atesta-o eloquente o seu gesto, na última ceia, interrogando o Mestre sobre aquele que ia traí-lo metendo a mão no prato com Jesus, após este haver declarado que tal importaria o sinal denunciador daquele que o havia de trair. Os maus pendores facilitaram a tarefa do traidor ou talvez, dos Espíritos das trevas.

Consideremos, agora, outras particularidades dignas de meditação. A missão de Jesus não foi compreendida pelos homens do seu tempo, inclusive pelos próprios discípulos e apóstolos. Estes, só depois do dia de Pentecostes, é que a perceberam e assimilaram. Todos viam no Enviado celeste o libertador do povo de Deus das garras de César. Supunham que Jesus empregaria processos e meios miraculosos para vencer o despotismo romano, expulsando os invasores da Palestina. Aguardavam ansiosamente esse momento. A mente humana, acanhada e regionalista, não abarcava a grandiosidade da obra messiânica. Ninguém pensava na libertação do Espírito da servidão dos vícios e das paixões com sede na carne. Esta questão era demasiadamente transcendental para os homens daquele século.

Judas via em Jesus um místico, com poderes supranormais extraordinários, aguardando o momento oportuno para utilizá-los em favor do seu povo oprimido. Naturalmente, ao negociar com os sacerdotes judaicos a entrega de seu Mestre, Judas supunha que Ele jamais pereceria às mãos dos seus inimigos. Estaria, talvez, convencido de que, na ocasião azada, Jesus os destroçaria, manejando faculdades que tanto o distiguiam, e que Judas tanto invejava. Vários episódios teriam contribuído para alicerçar na mente do grande culpado aquela hipótese.
Ele presenciou o Senhor, quando os judeus tentaram aprisioná-lo. Estava habituado a vê-lo aparecer inesperadamente entre os discípulos e ausentar-se, sem que se soubesse para onde teria ido. No Jardim das Oliveiras, Jesus, apresentando-se aos beleguins romanos guiados pelo mesmo Judas, se transfigura diante deles, deixando irradiar a luz refulgente do seu Espírito. Diante deste fenômeno insólito, a soldadesca, aturdida e confusa, cai por terra. Estas ocorrências todas corroboraram o conceito de Iscariotes, animando-o a executar o plano que arquitetara.
Quando, porém, acompanhando com interesse a sucessão dos acontecimentos, viu que Jesus caminha para o suplício, sem opor embargos aos seus verdugos, e que, finalmente, sucumbiu no madeiro infamante. Judas estremeceu! Experimentou dentro de si o rugir duma tormenta, o desabar de um medonho e inconcebível furacão. O que se teria passado com ele, em tão trágico lance, a linguagem humana não possui expressões bastante para relatar. São desses transes que se imaginam, porém não se descrevem. Perpassou-lhe pela mente o quadro da sua vida ao lado do Mestre. Lembrou-se das palavras que ouvira dele; da sua bondade e doçura; da sua dedicação pelos sofredores; dos benefícios que espalhou por toda parte onde esteve; do caso da viúva de Naim cujo filho redivivo, restituído a mãe, transformou o seu pranto em alegria; e daquele filha voltar à vida, quando todos a consideravam morta; e, mais outro ainda, o de Lázaro, cujas irmãs e amigos pranteavam a morte, ressuscitado pelo Senhor e entregue ao afeto dos que o amavam. Essas maravilhas todas, de alta benemerência, e tudo o mais que observara 'de visu', acompanhando o Mestre em sua peregrinação terrena, se desenharam ao vivo no delírio febril da sua imaginação.

Sabe-se pela experiência dos que se encontram em perigo iminente de morte que nesses indivíduo se escoa em sua mente, que nestes instante, todo o passado do indivíduo se escoa em sua mente de um modo vertiginoso, porém perfeitamente compreensível. Todo o bem e todo o mal praticado, as conjunturas alegres ou tristes, os atos dignos ou inconfessáveis, tudo, enfim, num esforço rápido e vivo, é percebido e sentido naqueles fugazes momentos. Foi o que se teria verificado com o grande pecador. Sua alma então desperta; as cordas do seu sentimento habituadas à inação vibram agora desusada e descompassadamente. Lavram em seu interior as labaredas rubras do remorso. Sua razão, ora acordada, lhe mostra a vileza e a monstruosidade do seu crime. Judas se contorce no paroxismo da dor, no estertor horrendo da exprobração da consciência revivida, no tormento dantesco do criminoso vergado ao peso da condenação!

Judas enlouquece, Judas suicida-se! Detenhamo-nos aqui. Não tentemos avançar mais para dentro da sua dor, porque há dores cujo abismo causa vertigem aos que delas se aproximam. Descubramo-nos diante da sua grande, imensa e incomensurável tortura; deixemos que esta opere a sua obra de purificação. Executou-se a lei. A lei que pontifica no interior de cada homem, onde ele é juiz de si mesmo. Quanto tempo ficaria o espírito do grande delinquente no estado de desespero em que partiu deste mundo? Não sabemos. O importante é que ele se arrependeu. Deu, portanto, o primeiro passo no caminho da reparação. Após a Justiça consumada, soa, como já o dissemos, a hora da misericórdia.
À lei sucede a graça, Judas é um regenerado. Para afirmá-lo, nos baseamos na doutrina que nos foi revelada pela sua vítima. Jesus estendeu, de há muito, a sua destra benfazeja, amparando e acolhendo o apóstolo transviado. Perdoou-lhe, como perdoou a Pedro e a Paulo, que também pecaram. Todos, depois de suportarem a consequência dos erros praticados, se reabilitaram. Por que Judas não se teria reabilitado também? — Reabilitou-se, sim, no-lo diz o mesmo Jesus, através destes preceitos seus: Amai aos vosso inimigos. Fazei bem aos que vos fizerem mal. Orai pelos que vos perseguem e caluniam. Perdoai e sereis perdoados. Não julgueis, não condeneis. Com a medida com que medirdes, com essa sereis medidos. Quem predicou assim não podia abandonar um pecador que deu visíveis provas de contrição. Jesus é aquele cuja escola é Ele mesmo, cujas teorias são os seus exemplos, cujas doutrinas são a sua vida.
Portanto, é Ele quem nos dá autoridade para propugnarmos no sentido de apagar o estigma aviltante que envolve a memória de Judas. A gravidade da culpa depende da previsibilidade do evento criminoso. Ora, Judas não teve a previsão das consequências do delito que praticou. Só depois de consumado é que ele mediu o seus efeitos. Não cabe na mente do egoísta que alguém, dispondo de força excepcionais e singulares, deixe de utilizá-las em defesa própria. Renúncia e sacrifício são expressões que carecem de sentido para as mentalidades imbuídas do egoísmo.

Demais, cumpre acentuar ainda uma particularidade muito curiosa no ato pecaminoso de Iscariotes. O seu crime não foi propriamente de traição. Falta circunstância para que se capitule naquela rubrica: a circunstância da surpresa da vítima. Não pode haver traição, sem que se verifique o sobressalto, o inopinado, o imprevisto. Ora, Jesus, a vítima, estava a par de tudo, vinha acompanhando os passos de seu discípulo, ciente de toda a trama que ele urdira. Onde, pois, a traição?

É verdade que este pormenor não altera, do ponto de vista moral, a natureza do delito ora em apreço. Seja, porém, como for, o fato é que Judas resgatou a sua grande culpa no cadinho de uma imensa dor. As 30 moedas, preço de sua perfídia, ali fundidas, caíram, gota a gota, em seu atribulado coração.

Lembremos por fim, que Jesus veio chamar os pecadores e não os justos. Por isso jamais se defendeu das injúrias e ataques dirigidos à sua pessoa. Contra outra espécie de traidores, ele se insurgiu: os traficantes da fé, os impostores que exploravam o alheio sentimento. A este exprobrou em termos enérgicos. Seu gesto de revolta se verificou, quando expulsava do templo os vendilhões, dirigindo-lhes a seguinte apóstrofe: Fizestes da casa de meu Pai, que é casa de oração, covil de salteadores. Para os algozes que o cravaram na cruz, assim como para a plebe ignara que, aparvalhada, assistia ao seu sacrifício, teve esta frase lapidar: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.
Os pecadores confessos e contritos encontraram nele refúgio, consolo e salvação. Duas almas tiveram a primazia na obra de redenção consumada no Calvário: a primeira foi Dimas, o bom ladrão crucificado à direita do Cristo de Deus; a segunda foi Judas, o suicida, na demência do remorso.
Vinícius

O CÁLICE DA AMARGURA (...)"Deste modo, podemos afirmar que nem todos os nossos apelos dirigidos ao Alto podem ser atendidos, uma vez que qualquer desvio em nossa vida poderá representar séculos de retardamento. A satisfação dos nossos desejos representaria postergação de fatores que são imprescindíveis à nossa reforma espiritual....


"Prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu pai; se é possível,
passe de mim este cálice" todavia, não seja feito como eu quero, mas como tu
quiseres." (Mateus, 26:39)
Afirma o evangelista Mateus que Jesus Cristo formulou veemente rogativa a Deus no sentido de passar dele a necessidade de tragar o cálice de amargura, simbolizado no sacrifício que se cumpriria no alto do Calvário. Após repetir a sua prece por trê vezes consecutivas, não houve um deferimento favorável, e o drama da crucificação se cumpriu em todos os detalhes.
O Mestre, que havia preceituado: "Pedi e dar-se-vos-á, buscai e achareis e batei e abrir-se-vos-á" ali estava advogando o cancelamento do martírio na cruz, entretanto não deixou de condicionar a sua vontade à soberana vontade de Deus. Nos desígnios do Pai o sacrifício do Calvário era um imperativo, sem o qual a doutrina que o Mestre viera trazer, não triunfaria na face da Terra, ao ponto de, em três séculos apenas, causar a derrocada do Paganismo, solapando as precárias bases em que se fundamentava a religião dos povos mais poderosos da Terra.
Devemos nos lembrar que todos nós, em maior ou menor escala, temos um Calvário em nossa vida, por isso tanto em relação a nós o Criador não modifica a cada instante os desideratos superiores. Muitas das rogativas que erguemos não são aceitas porque assumimos compromissos espirituais importantes antes da nossa encarnação terrena, e se modificando o curso da nossa vida ao sabor da nossa vontade, é óbvio que ocorreria uma estagnação e dificilmente colimaríamos o nosso aprimoramento espiritual.
O advento de Jesus Cristo na Terra indubitavelmente exigiu intensa preparação espiritual, principalmente nos séculos que antecederam a sua integração no ambiente terreno. Se João Batista foi o seu precursor imediato, lembremo-nos de que muitos profetas de Israel também cooperaram para a sua vinda, fornecendo detalhes minuciosos sobre a sua inconfundível personalidade e esboçando, em linhas gerais, a razão primária da sua missão no seio da Humanidade.
A tarefa desenvolvida entre nós por Jesus Cristo não foi mera caminhada pelas estradas da Galiléia. Não foi também uma peregrinação com o objetivo de curar alguns paralíticos, restaurar a vista a alguns cegos, limpar alguns leprosos ou expelir alguns maus Espíritos. O advento de Jesus foi algo sublime demais, pois ele trouxe para a Humanidade uma mensagem de vida eterna, uma doutrina suscetível de impulsionar o gênero humano para os seus verdadeiros objetivos, um código de moral que serviria de fundamento para a reforma moral dos indivíduos. O Messias veio para curar os doentes da alma e levantar aqueles que estão alquebrados pelas tribulações da vida terrena. Veio também para convocar aqueles que malbaratam os "alores que Deus, por excesso de misericórdia, lhes concedeu, despertando-os de uma inércia incompatível com a necessidade de reforma interior.
Se a missão desempenhada por Jesus Cristo demanda séculos de preparação, devemos também convir que a tarefa de muitos Espíritos que encarnam na Terra, também exige preparação, planejamento e sobretudo obedecem a desígnios superiores, previamente estabelecidos.
Deste modo, podemos afirmar que nem todos os nossos apelos dirigidos ao Alto podem ser atendidos, uma vez que qualquer desvio em nossa vida poderá representar séculos de retardamento. A satisfação dos nossos desejos representaria postergação de fatores que são imprescindíveis à nossa reforma espiritual.
Sendo a Terra uma imensa escola, na qual os nossos Espíritos se aprimoram, despojando-se de suas imperfeições, é lógico que deveremos assimilar todas as lições que nos são propiciadas pois, se protelarmos o nosso aprendizado, além de adiarmos nossa evolução, estaremos também contribuindo para o atravancamento do progresso espiritual da Humanidade, causando o retardamento no advento de uma nova era, quando o mundo será mai, espiritualizado, mais moralizado e sobretudo mais evangelizado.
Paulo A. Godoy

UM MÉDIUM CHAMADO ÁGABO


"E chegou da Judéía um profeta por nome Ágabo. E vindo ter conosco, tomou a cinta de Paulo,
e, ligando-se os seus próprios pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito: Assim ligarão os judeus em
Jerusalém o varão de quem é esta cinta, e o entregarão nas mãos dos gentios. " (Atos, 21:10-11)
Esta narrativa dos Atos dos Apóstolos confirma, uma vez mais, que os primitivos cristãos se escudavam na orientação dos Espíritos, quando tinham necessidade de tomar determinadas atitudes.
Paulo, com alguns dos seus companheiros, hospedou-se na casa de Filipe, o evangelista, pai de quatro moças que possuíam faculdades mediúnicas e que, obviamente, serviam de instrumento para que seu pai e os cristãos que costumeiramente se abrigavam em sua casa, entrassem em comunicação com o plano espiritual.
Chegou também ali um médium chamado Ágabo, o mesmo que, segundo os Atos dos Apóstolos (11:28), havia vaticinado que haveria grande fome na face da Terra: "E levantando-se um deles de nome Ágabo, dava a entender, pelo Espírito, que haveria uma grande fome em todo o mundo, e isso aconteceu no tempo de Cláudio César". Ágabo, sem conhecer Paulo, fez uso da sua mediunidade de psicometria; "tomou o cinto do apóstolo e profetizou tudo aquilo que lhe iria acontecer, inclusive a sua prisão por meio de correias e subseqüente entrega a um governador gentio".
Em seguida a essa profecia, os amigos de Paulo intercederam para que ele não subisse a Jerusalém, porém o Converso de Damasco repeliu a idéia, dizendo peremptório: "Que fazeis "Vós, chorando e magoando-me o coração? Porque eu estou pronto, não só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém, pelo nome do Senhor Jesus" .
Os Atos dos Apóstolos narram que Paulo subiu a Jerusalém e ali, pregando no templo, foi reconhecido por alguns judeus da Ásia, os quais deram início a surda rebelião contra os seus ensinamentos, agitando assim todo o povo. O tribuno Cláudio Lysias, vendo que a população estava em pânico, mandou que Paulo fosse atado com correntes e levado à Fortaleza. Na escadaria da prisão o apóstolo tentou um discurso em sua defesa, porém foi veementemente repelido pela turba fanática. O tribuno ordenou, posteriormente, que ele fosse conduzido ao Sinédrio, onde foi inquerido.
Nessa altura dos acontecimentos, Paulo foi avisado, por um seu sobrinho, que cerca de quarenta judeus planejavam uma conspiração e juraram que não comeriam nem beberiam, enquanto não o matassem, tudo isso sob os olhares complacentes do Sinédrio pois os conjurados pediram aos membros do Conselho que solicitassem ao tribuno que lhes enviasse novamente o apóstolo para maiores inquirições. O plano consistia em abatê-lo no trajeto entre a fortaleza e o templo.
O tribuno, sendo informado dessa conspiração, mandou, preparar uma tropa composta de duzentos soldados, duzentos arqueiros e sessenta cavalarianos e deu ordens para que Paulo fosse levado a Cesaréia antes da madrugada, onde o apóstolo foi entregue ao governador Felix. Após interrogatório levado a efeito pelo governador, Paulo foi atado com correias, cumprindo-se assim a profecia de Ágabo.
Paulo esteve detido pelo governador gentio por mais de dois anos, até que, no governo de Pórcio Festo, apelou ser julgado por um tribunal romano: "Apelaste para César, para César irás, asseverou o governador.
No seio das primitivas comunidades cristãs, o intercâmbio com o plano espiritual servia de bússola para todas as decisões, por isso vemos que, logo após a primeira profecia de Ágabo em torno da fome que assolaria a Terra, os apóstolos se reuniram e resolveram mandar provisões e socorro para os irmãos que habitavam a Judéia; na segunda profecia, intercederam junto a Paulo para que não subisse a Jerusalém, no que não foram atendidos, pois o Apóstolo dos Gentios desejava, ardentemente, dar testemunho de Jesus em todo o mundo, a todos povos.
A comunicação com o mundo espiritual era prática comum entre os seguidores de Jesus Cristo, prática essa que se prolongou por muitos séculos, até que, com a oficialização da religião pelo imperador Constantino, teve início o milenar processo de degenerescência da Doutrina Cristã, as comunicações passaram a ser coibidas, pois elas vinham prejudicar os planos adredemente preparados pelas trevas, de consolidar o conluio entre os poderes temporais e espirituais, pois só assim poderiam fazer com que a singela e meiga Doutrina, legada pelo Rabi da Galiléia, sofresse o impacto dos interesses mundanos, deixando de consolar os pequeninos e sofredores, para servir de esteio para os interesses mundanos dos grandes e potentados.
Ágabo era um autêntico médium, por isso Paulo aceitou plenamente o seu vaticínio e não trepidou em considerá-lo como verdadeiro, pois em Atos (20:23) vemo-lo proclamar: "E agora, eis que ligado eu pelo Espírito vou para Jerusalém, não sabendo o que lá me há de acontecer, senão o que o Espírito, de cidade em cidade, me revela, dizendo: que me esperam prisões e tribulações".
Paulo A. Godoy

A CABEÇA DO PROFETA. (...)"Ninguém tem o direito de tirar a vida do seu semelhante. O profeta Elias poderia ter demonstrado a excelência do seu Deus, sem contudo ordenar a matança dos sacerdotes politeístas de Baal. O fato de ter João Batista sido o precursor de Jesus Cristo, desempenhando, portanto, importante papel no seu Messiado, seria o suficiente para ter anulado aquele delito; no entanto, vemos que o seu Espírito teve necessidade de se ajustar com a Lei Divina, por isso sua cabeça rolou, a pedido de Herodias"...


"E trouxeram-lhe, numa bandeja, a cabeça de João Batista." (Mateus, 14:11)
Herodias, pretendendo vingar-se de João Batista, pelo fato de ele ter, de público, verberado o seu procedimento imoral, instigava sua filha Salomé a solicitar a sua cabeça numa bandeja. O rei Herodes, não querendo voltar atrás em sua promessa, ordenou que assim fosse feito.
Esta passagem evangélica nos propicia uma eloqüente prova de reencarnação, de ajuste com a justiça divina, e tudo leva a crer que nessa ocorrência também houve a consumação de um juramento de vingança.
A reencarnação do Espírito de Elias, na pessoa de João Batista foi sobejamente confirmada pelo próprio Jesus Cristo (Mateus, 11:13- 14 e 17:11-13): "E se quereis dar crédito, este é o Elias que havia de vir. E então os discípulos entenderam que falava de João Batista.
A narração contida no I livro dos Reis (I Reis, capítulos 18 e 19), afirma que Elias, após fazer uma demonstração patética, convincente de que o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó era o Deus verdadeiro, ordenou a decapitação de 450 sacerdotes de Baal. O rei Acab, de Israel, comunicou o fato à rainha Jezabel, sua esposa, filha do rei dos sidônios, a qual não era israelita e adorava também o deus Baal.
Jezabel, face àquele fato consumado, jurou solenemente "Assim me matem também os deuses, e façam comigo coisas piores se até amanhã, a estas horas, não liquidar a vida de Elias, do mesmo modo como ele fez com os profetas".
Elias fugiu para Berseba, onde não foi encontrado pelos emissários da rainha. Com o desenrolar dos tempos, ambos desencarnaram, sem que o juramento de vingança fosse cumprido.
Quando nascido na pessoa de João Batista, embora Jesus tivesse afirmado que "ele era mais do que profeta" e que "era o maior dentre os nascidos de mulher", ele não pôde subtrair-se às conseqüências da lei de causa e efeito, tendo que quitar-se com a Justiça Divina.
Inspirada por Herodias, Salomé pediu sua cabeça numa bandeja. Isso ocorreu nove séculos após Elias ter ordenado a decapitação dos sacerdotes de Baal. É bem provável que Herodias também tenha sido a reencarnação de Jezabel, pois são pródigos os ensinamentos dos Espíritos em torno de sentimentos de vingança que perduram séculos e acompanham os Espíritos no decurso de muitas reencarnações. É provável que, não tendo ela se vingado de Elias, 24 horas após, conforme pretendia, o tenha feito 900 anos após, na pessoa de João Batista, que era o Elias reencarnado.
Muitos poderão achar que este período de tempo é demasiado longo. No entanto, os benfeitores espirituais nos revelam, principalmente através dos livros recebidos pela psicografia de Chico Xavier, que muitos Espíritos, animados de sentimentos inferiores, permanecem séculos e séculos na erraticidade ou em planos menos evoluídos. Nove séculos não são exagerados no ciclo evolutivo de um Espírito, e isso não significa que o Espírito de Jezabel não tenha tido outras reencarnações intermediárias, nas quais não conseguiu apagar do seu coração os sentimentos de desforra.
Ninguém tem o direito de tirar a vida do seu semelhante. O profeta Elias poderia ter demonstrado a excelência do seu Deus, sem contudo ordenar a matança dos sacerdotes politeístas de Baal.
O fato de ter João Batista sido o precursor de Jesus Cristo, desempenhando, portanto, importante papel no seu Messiado, seria o suficiente para ter anulado aquele delito; no entanto, vemos que o seu Espírito teve necessidade de se ajustar com a Lei Divina, por isso sua cabeça rolou, a pedido de Herodias. É a aplicação pura e simples da lei de Causa e Efeito. "É o quem com ferro fere, com ferro será ferido", do ensinamento evangélico.
Paulo A. Godoy

A PERSEVERANÇA


"Porfiai em entrar pela porta estreita." (Lucas, 13:24)
Um exemplo empolgante de perseverança e luta persistente em favor de um ideal nos é oferecido por Paulo de Tarso, o valoroso paladino das verdades cristãs, que levou as palavras do Evangelho ao seio de muitos povos da sua época.
Em sua segunda epístola aos Coríntios, o grande apóstolo narra as suas vicissitudes da seguinte forma:
"Recebi dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um. "Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo.
"Em viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos.
"Em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez."
Somente os que são norteados por um idealismo sadio e por uma fé viva podem suportar, com estoicismo, os sofrimentos dessa natureza, sem que ocorra qualquer esmorecimento.
A visão da Estrada de Damasco deu a Paulo de Tarso o dinamismo necessário para levar avante a sua missão, uma vez que poucos são os homens que se revestem da couraça da fé para realizar uma tarefa redentora. Muitos ficam à margem do caminho ou preferem se demorar na estagnação ou obstado pelo apego ao comodismo ou à observância de vãs tradições.
À certa altura da mesma epístola, o Apóstolo dos Gentios proclamou: "E, para que me não exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de me não exaltar. Acerca de qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim".
Isso significa que a ação do apóstolo importunou os inimigos da luz e estes investiram violentamente contra ele, fazendo com que, além de sofrer as investidas de muitos homens empedernidos de sua época, sofresse também os obstáculos impostos pela ação de Espíritos trevosos, interessados na manutenção de um status fundamentado sobre o império das trevas.
Para se vencer na luta é imperioso que sejamos norteados por uma disposição inquebrantável, sem a preocupação com as quedas e as adversidades que possam surgir.
A perseverança deverá presidir a nossa ação, quer estejamos propugnando pela implantação de um ideal nobre, cuja vitória implicará o advento de relevantes benefícios para a Humanidade, em cujo caso enquadramos a missão desenvolvida por Paulo de Tarso, quer estejamos empenhados numa luta pelo nosso próprio aprimoramento e cujos únicos bneficiários seremos nós mesmos.
Quando Jesus Cristo proclamou que "aqueles que perseverassem até o fim seriam salvos", quis dizer que, qualquer que seja a tarefa que estejamos desenvolvendo, não devemos jamais permanecer estacionários à margem do caminho, mas devemos emprestar dinamismo e persistência na luta que travamos até que surja a vitória final.
Os Evangelhos registram vários ensinamentos importância da perseverança.
Quando Jesus Cristo foi procurado pela Mulher Cananéia, a princípio não atendeu a sua rogativa, afirmando que havia sido enviado tão-somente às ovelhas desgarradas da Casa de Israel, entretanto a mulher persistiu, seguiu-o, clamou, suplicou, acabando por merecer do Mestre a tão almejada cura para a sua filha.
Maria Madalena, após defrontar-se com o Mestre, optou por uma persistente batalha em favor da sua reforma interior, perseverando na luta íntima e conseguindo colimar apoteótica vitória sobre os vícios que a atormentavam, merecendo por isso o prêmio de ser a primeira pessoa a ser visitada pelo Espírito de Jesus, logo após o episódio da crucificação. O Mestre havia sentido que Maria fora a mulher que havia travado e vencido uma das mais gigantescas lutas contra o império do mal.
O publicano Zaqueu alimentava o propósito de dialogar com Jesus e perseverou até o fim, chegando mesmo a subir numa figueira, onde recebeu o convite generoso do Mestre para o tão almejado diálogo, no qual, após se predispor a distribuir metade da sua fortuna com os pobres, mereceu as célebres palavras proferidas pelo Senhor:
"Zaqueu, hoje entrou a salvação em tua casa".
João Batista, o precursor de Jesus, perseverou na ingente tarefa a que se havia proposto, combatendo o erro e ensinando como evitá-lo, chegando por isso mesmo a enfrentar o ódio de Herodes. Ele só pôs um paradeiro em sua luta quando, após enviar dois dos seus emissários a Jesus, certificou-se de que ali estava realmente o Messias prometido, o que significava que a sua missão estava cumprida.
Existe, no entanto, a perseverança na prática do mal, a qual tem conseqüências danosas e imprevisíveis.
Judas Escariotes dispôs-se a trair o Mestre, recebendo em troca trinta moedas de prata. Na última ceia teve uma autêntica advertência e uma oportunidade ímpar de voltar atrás. Mas a persistência no erro fez com que realizasse o seu intento, o que redundou em seu próprio suicídio e obviamente em longos séculos de sofrimentos espirituais.
Os escribas e fariseus tiveram a demonstração mais viva de que Jesus Cristo era o tão aguardado Messias, no entanto, preferiram perseverar na cegueira e na incompreensão, não encerrando a perseguição enquanto não viram o Mestre suspenso no madeiro infamante.
Devemos, pois, perseverar até o fim, mas sempre no caminho do bem, na senda da reforma interior, na luta em favor do aprimoramento espiritual da Humanidade.
Paulo A. Godoy