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segunda-feira, 27 de março de 2017

Joana de Ângelis: Espiritizar, Qualificar, Humanizar “Ah! Irmão Divaldo, não aguento mais. Estou cansada de fazer caridade. Eu não aguento mais, é tanto pobre. Eu disse: “minha filha, então deixe”. Ela: “O Senhor está me mandando deixar de fazer a caridade?” Eu disse: “Não, eu estou mandando você descansar, porque a caridade está lhe fazendo mal. Já imaginou a caridade fazer mal a quem a faz? Algo não está funcionando! Ou você está exibindo-se sem o sentido de caridade, me perdoe a franqueza, pois quero lhe ajudar, ou você está saturada. Faça uma pausa”



Fonte: Novos Rumos para o Centro Espirita/Divaldo Pereira Franco/Joanna de Ângelis- LEAL Editora(1999)

“Joanna de Ângelis, fazendo uma análise da nossa Casa, o Centro Espírita Caminho da Redenção, faz três anos, propôs-nos novas diretrizes para o Centro Espírita onde mourejamos. Essas diretrizes ela apresentou em três verbos: Espiritizar, Qualificar, Humanizar.
Pode parecer um absurdo espiritizar o Centro Espírita e um tanto paradoxal. No entanto, há Centro Espírita que só tem o rótulo mas não tem espiritismo. Vamos por partes, porque é muito delicado.
Fui convidado a proferir uma conferência em um Centro Espírita no sul do país. Normalmente, quando recebo convite, não atendo, porque pode ser entusiasmo da pessoa.
No segundo convite eu digo: “para o ano, volte a escrever.” Isso é para ver se a pessoa está mesmo interessada. Para o ano a pessoa volta a escrever e eu digo: “para o ano, na programação, nós vamos agendar.”
E, naquela Casa, fui postergando por um período de seis a oito anos, por falta de tempo, até que o presidente insistiu tanto que fiquei constrangido e dei um jeito.
Disse-lhe, na carta: “mande-me as datas que lhe são ideais e eu escolherei aquela compatível com minha programação.” Estabelecemos a data e por seis meses correspondemos-nos e tudo foi muito bem.
No dia marcado cheguei à cidade e fui a uma bela instituição. Edifício monumental. Uma grande sala. Quando cheguei à porta, fui recebido por uma comissão muito gentil e estabeleceu-se o seguinte diálogo:
– Senhor Divaldo, o Presidente pede desculpas por não ter podido vir receber o Senhor.
Eu disse: “é muito natural, não há problema.”
– Aqui está o Vice-Presidente, o Secretário, o Tesoureiro, e nós desejamos recebê-lo, porque o nosso Presidente está, no prédio vizinho, fazendo cromoterapia.
– “Eu não sabia que ele era cromoterapeuta,” falei. “Ele é profissional, naturalmente?”
– “Não! Ele é espírita”, responderam-me.
– Deixe-me ver: ele é o Presidente do Centro e é o presidente da cromoterapia? Ele me convidou para vir aqui durante oito anos. Marcou a data e foi fazer a cromoterapia!
– É porque a cromoterapia é muito importante. Está salvando milhares de vida.
– Que graça! Eu sempre pensei que o Espiritismo está salvando milhões de vidas.
Será esta a imagem de um Centro Espírita? Em absoluto. O Centro Espírita não tem que se envolver com nenhuma terapia alternativa. É até um desrespeito, porque o cromoterapeuta é alguém que estudou. Ele tem sua clínica e o Centro Espírita não se pode transformar numa clínica alternativa.
É lugar de transformação moral do indivíduo, onde se viaja ao cerne do problema para arrancá-lo. Se transformarmos um Centro Espírita em uma clínica, para lá vão pessoas aturdidas. Qualquer coisa esdrúxula que anunciemos no jornal haverá uma massa incontável que adere por necessidade de pedir socorro.
Mas o Espiritismo não ilude, não mente e nem posterga a ação, porque ele é herança de Jesus. E Jesus, com todo o amor, dizia a verdade. Seja o nosso falar: sim, sim, não, não, conforme Ele o fazia. Não iremos dizer de forma grotesca ou agressiva, mas iremos dizer de uma forma verdadeira. É melhor, às vezes, perder o amigo agora porque não conivimos e o termos depois, do que o apoiarmos e o perdermos em definitivo, quando ele notar a nossa fraude.
Espiritizar
Então, Joanna de Ângelis manda Espiritizar.
Tenho ouvido oradores em casas Espíritas apresentarem temas maravilhosos, mas que não são nada espíritas. Temas que podem narrar no Rotary, na Maçonaria, no Lions, numa reunião social. Na Casa Espírita pode-se abordar qualquer tema, à luz do Espiritismo. Fazer as conotações espíritas.
Se aconteceu uma tragédia na cidade vamos examiná-la, à luz do Espiritismo. Está no momento da clonagem. Vamos falar sobre clonagem, à luz da Doutrina Espírita. Está nos noticiários a corrupção. Vamos falar sobre a corrupção e a terapia Espírita.
Infelizmente não está ocorrendo isso. Convida-se, às vezes, oradores admiráveis, fascinantes, porém, totalmente deslocados. Palestras que se pode ouvir em qualquer lugar.
Na Casa Espírita vão as pessoas atormentadas, buscando consolação, com a alma despedaçada pela morte de seres queridos e, se ouvem uma coisa que nada tem a ver com a proposta da Doutrina Espírita, saem desoladas. Agindo assim, estaremos fraudando a proposta do Espiritismo.
Temos visto congressos espíritas – não é crítica, é análise – em que se aborda Terapia pela dança. É uma maravilha. Mas não num congresso espírita. Vamos fazer isso num congresso de Yoga, que respeitamos muito, ou num congresso de psicoterapia e então coloquemos música, metais, cristais, mas não num congresso espírita.
Ah! É porque nossos irmãos estão doentes, justificam. Nesse caso, falemos das causas das doenças. Das causas anteriores das aflições. Das causas atuais das aflições.
A terapia da dança podemos encontrar em qualquer setor do mundo social, respeitável e nobre. Mas quando vamos à Casa Espírita, esperamos encontrar a proposta espírita.
O Centro Espírita tem que ser o lugar de Doutrina Espírita.
Daí o Centro Espírita tem que ser espiritizado. É a proposta de Joanna de Ângelis.
Qualificar
A segunda vertente de sua proposta é Qualificar.
Vivemos hoje a época da qualidade total. Qualificação é indispensável. Nós, às vezes vamos à Casa Espírita com nossos hábitos ancestrais, o que é natural. Mas o fato de entrarmos na Casa Espírita não muda nossa existência. Levamos a nossa qualificação muitas vezes empírica, singela, e vamos exercer certas funções para as quais não estamos qualificados.
Vemos, por exemplo, um literato, que não entende absolutamente de contabilidade, sendo o tesoureiro do Centro. Vamos ver o indivíduo aplicando a terapia dos passes, mas que, de maneira nenhuma se preparou para isso. Vamos ver no atendimento fraterno uma pessoa que tem muito bom coração mas não tem o menor tato psicológico.
Temos que qualificar-nos.
O que é qualificar? É adquirir características essenciais, típicas das finalidades que vamos exercer na vida prática.
Se eu, por exemplo, quero dedicar-me ao atendimento fraterno, devo fazer um curso. Por isso, os Centros Espíritas devem estar vinculados ao chamado movimento organizado, porque as nossas Casas Federativas dispõem de equipes para nos esclarecer, para nos informar, para ministrar cursos.
Quando vemos, por exemplo, a Federação Espírita do Paraná (FEP), oferecer-nos o jornal Mundo Espírita por um preço irrisório, que muitos ainda não pagam, chegar às nossas mãos todo o mês, com pontualidade, trazendo-nos mensagens libertadoras de consciência, comovo-me com esse trabalho.
Se ligarmos o rádio, aí está um programa de orientação espírita, o Momento Espírita, já transmitido por uma cadeia de rádios em várias cidades do País. Seria interessante se cada um dos senhores, nas suas cidades, entrassem em contato com a FEP e, ao invés de fazer programa de rádio sem nenhuma habilidade, sem qualificação, colocassem o programa que é transmitido em Curitiba, que é de excelente qualidade, narrado por pessoa qualificada, desde a voz, uma voz agradável, muito bem empostada. É uma mensagem muito bem trabalhada, apresentando várias conotações para o enriquecimento das pessoas espíritas e não espíritas.
Muitas pessoas confundem qualificação com elitismo. E as pessoas dizem: “está elitizando!”.
Minha mãe era analfabeta e eu dialogava com ela. Qualificamo-la. Ela tornou-se uma excelente bordadeira, uma excelente cozinheira. Conheço tanta gente instruída que não sabe enfiar a linha na agulha e que não sabe pregar um botão.
Daí, meus amigos, qualificar não é elitizar, não é intelectualizar. É equipar de recursos para fazer bem aquilo que gostaria de fazer. Evitar o aventureirismo.
Humanizar
Humanizar é fazer com que nós, de vez em quando, tornemos à nossa simplicidade, ao nosso bom humor, ao nosso lado humano. A vida nos impõe rotinas e, quando menos esperamos, estamos fazendo aquilo rotineiramente, sem emoção. Nós nos transformamos em máquinas.
Visitei uma instituição e uma senhora me disse assim:
“Ah! Irmão Divaldo, não aguento mais. Estou cansada de fazer caridade. Eu não aguento mais, é tanto pobre.
Eu disse: “minha filha, então deixe”.
Ela: “O Senhor está me mandando deixar de fazer a caridade?”
Eu disse: “Não, eu estou mandando você descansar, porque a caridade está lhe fazendo mal. Já imaginou a caridade fazer mal a quem a faz? Algo não está funcionando! Ou você está exibindo-se sem o sentido de caridade, me perdoe a franqueza, pois quero lhe ajudar, ou você está saturada. Faça uma pausa”.
Ela: “O que será dos pobres?”
Eu: “Minha filha, eles são filhos de Deus. Antes de você chegar Deus já tomava conta. Você está só dando uma mãozinha para você, não para eles, porque, afinal, isso aqui nem é caridade, é paternalismo. Você está mantendo muita gente na miséria, que já podia estar libertada, porque você me disse que já atendeu a avó, a filha e agora está atendendo a neta.
Como é que você conseguiu manter na miséria três gerações? Que a avó e a filha fossem pobres necessitadas, é aceitável, mas a neta já teríamos que libertar da miséria de qualquer jeito. Colocando-a na escola, equipando-a, arranjando-lhe trabalho. Isso não é caridade. Está lá no Evangelho: “Transformai as vossas esmolas em salário”.
Então, repouse um pouco. É uma rotina. Você quer abarcar um número de pessoas que você não pode abraçar. Diminua. Faça com qualidade e procure fazer em profundidade. Faça o bem.
Nós não podemos salvar o mundo e perder a nossa alma. A tese é de Jesus Cristo: “Que vos adianta salvar o mundo e perder-se a si mesmo!” Nós não estamos aqui para salvar o mundo. Estamos aqui para salvar-nos e ajudar o mundo para que cada um nele se salve.
Então, humanizar é neste sentido. É esta proposta de voltarmos a ser gente. Não ficarmos nos considerando muito importantes. O Presidente do Centro, o dono do Centro, o super-médium, a pessoa mais formidável do século. Voltarmos às nossas origens. A simplicidade de coração, a afabilidade, a doçura (textos do Evangelho Segundo o Espiritismo), a cordialidade, o bom trato.
Se o doente é insistente, se o pobre é impertinente, nós estamos ali porque queremos. Não foi o pobre que pediu para nós irmos lá. Nós é que nos oferecemos. Então temos a escusa de estarmos cansados, de estarmos irritados. “Eu também tenho problemas”.
Então vá resolver seus problemas. Não os traga para a Casa Espírita. E notem que esta tríade está perfeitamente de acordo com o pensamento kardequiano: trabalho, solidariedade e tolerância.
Qual é o trabalho? ESPIRITIZAR-SE. O trabalho de adquirir o conhecimento espírita, de perseverar no estudo. Minha mãe era analfabeta. Eu lia para ela, estudava, comentava. Ela acompanhava. Aprendeu a Doutrina Espírita dentro dos seus limites.
Solidariedade. QUALIFICAR-SE, para servir melhor, para ser mais solidário.
Tolerância: ser mais HUMANO. Quando somos mais humanos, somos tolerantes. E esta tríade não é propriamente de Allan Kardec. Ele a tirou de Pestalozzi, seu professor, que tinha como base educacional três palavras: trabalho, solidariedade e perseverança. Allan Kardec, que foi seu discípulo, tomou a tríade e adaptou-a, substituindo perseverança por tolerância.
Assim, o Centro Espírita é a nossa oficina. Quando nós entramos na Casa Espírita devemos sentir os eflúvios do amor, da fraternidade. Não é o lugar dos conflitos, das picuinhas, das nossa dificuldades, das nossas diferenças, que nós as temos, mas das nossas identidades, das nossas compreensões, do nosso esforço para sermos melhor.
Daí a nova proposta do Centro Espírita: voltar às bases do pensamento de Allan Kardec. Reviver o trabalho, a solidariedade e a tolerância. Sermos realmente irmãos.
Esta é a nossa família ampliada. Se entre aqueles com os quais compartimos idéias, que são perfeitamente consentâneas com as nossas, nós temos dificuldades de relacionamento, como é que iremos nos relacionar com o mundo agressivo, com a sociedade que não nos aceita, com aqueles que nos hostilizam, com aqueles que nos perseguem?
O Centro Espírita é o lugar onde nós treinamos as virtudes básicas: a fé, a esperança e a caridade.

Fonte: http://mensageiro.comunhaoespirita.org.br/?p=2044

terça-feira, 11 de novembro de 2014

diretrizes individuais nos grupos

André Luiz
 
Se você foi chamado a cooperar num grupo de atividade cristã, agradeça as oportunidades de servir e esqueça seus direitos imaginários para que a luz do dever resplandeça em seu caminho.
 
Pagar mensalidade do estilo e colaborar com o dinheiro não é difícil; dê o concurso direto de suas forças na obra a realizar.
 
Guarde para seus companheiros a gentileza de que se sente credor diante deles; a cordialidade é alicerce da paz.
 
Antes de exigir novas manifestações dos amigos espirituais, não deixe de manifestar, por sua vez, através de atos, palavras e pensamentos, os sublimes valores que já recebeu; se o intercâmbio com o plano invisível é agradável, o trabalho da experiência humana é eminentemente importante.
 
Aplique os ensinamentos evangélicos no serviço diário a que consagra o coração; se você não está interessado em espiritualizar-se, é inútil que as entidades superiores se sacrifiquem por sua causa.
 
Não use a crítica, nem a reprovação; faça o bem que estiver ao seu alcance, porque o problema não é o de repetir - “se fosse comigo faria assim” - mas de imprimirmos nossas obrigações pessoais à frente do Cristo.
 
Não perca tempo reclamando contra a ingratidão, procurando o espinho ou medindo as pedras da estrada; lembre-se de que o seu grupo é também uma orquestra convocada a executar o serviço de Jesus para a Harmonia Divina da vida e, se você não usar o instrumento que lhe compete com a eficiência devida, a música viverá sempre desafinada.
 
De “Relicário de Luz”, de Francisco Cândido Xavier

INSTRUÇÃO ESPÍRITA.(...)"A história esclarece o passado, todavia, não guarda o objetivo de consertar a história presente de quantos lhe acolhem apontamentos e informações.Um título acadêmico atribui honrosa competência cerebral, contudo, apesar de todos os roteiros da deontologia, não determina, de modo positivo, em renovações do sentimento...."

Emmanuel
 
Escola benemérita, o templo espírita é um lar de luz, aberto à instrução geral para o entendimento das leis que regem os fenômenos da evolução e do destino.
Cada irmão de ideal, entre as paredes que lhe demarcam o recinto, quando se pronuncia no grau do conhecimento que já conquistou, é comparável ao professor que fala da cátedra que lhe pertence para a edificação dos alunos.
E não se diga que um instituto terrestre de ensino usual, onde sejam pagas as explicações professadas em aula, seja mais importante.
A matemática é instrumento inseparável da ciência para que se meça a propriedade das grandezas, mas, sem a educação do caráter, é possível de transformar-se em delírio de cálculos para a destruição.
A lingüística descerra a estrutura dos idiomas, no entanto, sem espírito de fraternidade, o poliglota mais hábil pode não passar de um dicionário pensante.
A psicologia investiga as ocorrências da vida mental, a desdobrar-se nos meandros da análise psíquica, entretanto, sem o estudo da reencarnação, reduz-se a frio holofote que desvenda males e chagas sem oferecer-lhes consolo.
A história esclarece o passado, todavia, não guarda o objetivo de consertar a história presente de quantos lhe acolhem apontamentos e informações.
Um título acadêmico atribui honrosa competência cerebral, contudo, apesar de todos os roteiros da deontologia, não determina, de modo positivo, em renovações do sentimento.
Amemos no templo espírita a escola das diretrizes que nos orientem escolha e conduta.
Dentro dele, abramos a alma com sinceridade aos que nos escutam e ouçamos com respeito os que nos dirigem a palavra, permutando experiências que nos corrijam as preferências e as atitudes.
O Evangelho, que consubstancia as mais altas normas para a sublimação do espírito, acima de todas as técnicas que aformoseiam a inteligência, não nasceu nem de ritos, nem de imposições, nem de etiquetas e nem de culto externo.
A maior mensagem descida dos Céus à Terra, para dignificar a vida e iluminar o coração, surgiu das palavras inesquecíveis de Jesus que procurava o povo e do povo que procurava Jesus.
 
De “Relicário de Luz”, de Francisco Cândido Xavier

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

NOS CONCLAVES DOUTRINÁRIOS


André Luiz

"Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas."
— Paulo. (FILIPENSES, 2:14.)

Somente empreender conclaves doutrinários como iniciativas de aproximação e planejamento de trabalho, a serem naturalmente entrosadas com as organizações centrais e regionais, responsáveis pela marcha evolutiva do Espiritismo.
Não há ordem sem disciplina.
Escolher como representantes de entidades e instituições, nos certames, os companheiros de boa-vontade que seja, de fato, competentes quanto aos objetivos doutrinários visados.
A aptidão de servir é metade do êxito.
Participar com seriedade dos conclaves espíritas, sem procurar diletantismo ou passatempo, sentido-os como deveres, em vez de tê-los simplesmente à conta de divertimento e excursão turística.
O tempo não volta.
Dignificar a hospitalidade de companheiros que oferecem ao conclavista a intimidade do próprio lar, mantendo-se com firmeza no trabalho a que foi chamado.
A fidelidade ao dever expressa nobreza de consciência.
Abster-se de subvenções governamentais de qualquer procedência para serem aplicadas em movimentos exclusivamente doutrinários que não apresentem características de assistência social.
Quem sabe suportar as próprias responsabilidades, dá testemunho de fé.
Respeitar os atos religiosos dos adeptos de outras crenças, evitando querelas e desentendimentos na execução dos programas traçados para os conclaves doutrinários.
Com Jesus, só encontramos motivos para ajudar.
Fixar não somente as lembranças afetivas ou alegres, mas, sobretudo, as resoluções, experiências e avisos do certame de que participe.
Quem guarda o ensinamento, aprende a lição.
Difundir, entre os núcleos interessados, as resoluções práticas das concentrações doutrinárias, de modo a não deixá-las em reduzido círculo de companheiros ou na poeira do esquecimento.
A continuidade do bem garante o melhor.

Do livro: Agenda Cristã
Psicografia: Francisco Cândido Xavier

sexta-feira, 11 de julho de 2014

OBSESSÃO NO CENTRO ESPÍRITA.


Enganam-se quantos imaginam que os espíritos obsessores não tenham acesso à casa espírita, influenciando os medianeiros que nela trabalham.
Os espíritos têm acesso a qualquer lugar para o qual se sintam atraídos, seja pelas atitudes de invigilância ou pelos pensamentos infelizes de quem lhes ofereça sintonia.
Um centro espírita pode, perfeitamente, estar sob a direção espiritual de entidades não evangelizadas, de espíritos que não tenham comprometimento com o Evangelho. Díriramos mesmo que, determinados núcleos espíritas, ou que se rotulem com tais, são verdadeiros quartéis-generais de espíritos inimigos da Doutrina, entidades pseudo-sábias e sofistas cuja única preocupação é a de estabelecer a cizânia.
Na casa espírita onde predominem os bons sentimentos de seus freqüentadores, o desejo do bem e o estudo da Doutrina, os espíritos obsessores não têm acesso podem até, como na maioria das vezes acontece, mover-lhe uma perseguição externa, na tentativa de atingi-la indiretamente, mas não conseguem varar o bloqueio natural que a preserva do assédio direto das trevas.
Existem pontos no centro espírita sobre os quais os seus dirigentes carecem de exercer uma maior vigilância.
Já tivemos oportunidade de nos referir aos perigos de uma reunião de desobsessão desorganizada, levada a efeito sem os devidos cuidados doutrinários. Uma outra atividade, todavia, que pode dar margem a muita perturbação para o grupo é justamente a relacionada ao passe. Como percebemos sempre uma tarefa ligada ao exercício da mediunidade.
Dentro da cabina de passe, os médiuns carecem estar sempre atentos, cooperando na vigilância uns dos outros. Costuma ser ali que os espíritos obsessores, valendo-se da proximidade física das pessoas, encontram facilidade para se insinuarem com os seus pensamentos maledicentes. Nada, por exemplo, de um médium atender sozinho no passe uma pessoa do sexo oposto ou de sentir necessidade de tocar o corpo de quem está se beneficiando dos recursos terapêuticos dispensados no momento do passe. Nada, ainda, de dar passividade pela incorporação às entidades espirituais que possivelmente estejam acompanhando o assistido… A mediunidade legítima é sempre exercida com discrição.
Costumam ser no instante no passe, devido ao grande afluxo de encarnados na instituição, que os médiuns se fragilizam a obsessão, não raro, pode começar a se instalar por um simples olhar invigilante!
O médium ainda algo personalista, querendo se prevalecer sobre os demais, não se contenta com a transmissão do passe transmite, a todo momento, supostos recados do Mais Além a quem sai, fornece diagnósticos a respeito de enfermidades inexistente, fazem previsões absurdas, descrevem quadros de sua imaginação… Este comportamento necessita ser combatido, para que, por exemplo, um médium de faculdades promissoras não extrapole.
É na cabina de passes que muitos medianeiros começam a acalentar a idéia de um trabalho de cura só para si!
Quando o médium perde a simplicidade sentimento de auto defesa que lhe garante imunidade contra a obsessão -, ele se transfigura em intérprete da perturbação, passando a ser na casa espírita um problema de difícil solução.
Odilon Fernandes
CENTROS MAL ORIENTADOS
Infelizmente, algumas casas espíritas prestam um desserviço à Doutrina dão-nos a impressão de que foram construídas apenas para atender a vaidade dos médiuns que as edificaram.
Não somos contrários aos diretores reconhecidamente bem intencionados e idealistas que permanecem por longo tempo nos cargos que ocupam. A causa espírita necessita dos que não abram mão de seus deveres para com ela. Excesso de liberalidade doutrinária é tão prejudicial à casa espírita quanto aos regimes ditatoriais impostos por alguns diretores, que anseiam por se perpetuar nos postos de direção.
Por vezes, a renovação da diretoria é de vital importância para que a casa espírita se renove em suas atividades, com a descentralização do poder. No entanto precisamos reconhecer que, por outro lado, muitos novos diretores costumam ser um desastre, pois, consentindo que o cargo lhes suba à cabeça, tomam atitudes arbitrárias e passam a ser elementos desagregadores.
Não se admite em um núcleo espírita, a luta pelo poder. Jesus nos advertiu quanto aos perigos de uma casa dividida, afirmando que ela não seria capaz de se manter de pé.
Nos centros espíritas de boa formação doutrinária, prevalece o espírito de equipe; ninguém trabalha com o desejo de aparecer, de reter as chaves da instituição no bolso, de modo que certas portas não sejam abertas sem a sua presença… Não se tecem comentários desairosos sobre os companheiros, como se, o que se pretendesse, fosse desestabilizá-los nas tarefas que permanecem sob a sua responsabilidade.
Os dirigentes de uma instituição espírita necessitam ter pulso firme, transparência nas decisões, fraternidade no trato para com todos, submetendo-se sempre à orientação da Doutrina. Pontos de vista estritamente pessoais não devem ter espaços no Movimento.
Centros espíritas mal orientados passam para a comunidade uma imagem deturpada do Espiritismo. A divulgação da Doutrina começa pela fachada de uma casa espírita. Até o seu ambiente físico carece ser acolhedor, iluminado. Construções suntuosas muitas vezes espiritualmente estão vazias. Os centros espíritas devem ter a preocupação de ser a continuidade da Casa dos Apóstolos, em Jerusalém amparo aos desvalidos e luz para os que vagueiam nas sombras, sempre, em nome do Senhor, de portas descerradas à necessidade de quem quer que seja.
Num templo espírita é indispensável à divisão de tarefas; muitos núcleos permanecem de portas fechadas na maioria dos dias da semana, porque os seus dirigentes não sabem promover os companheiros… O ciúme e o apego injustificável de muitos dirigentes acabam por deixar ocioso o espaço de uma casa espírita, quase a semana inteira. Não vale a justificativa de que os seareiros sejam poucos… Cuide-se das atividades doutrinárias de base a evangelização e a mocidade e não se terá o problema de escassez de braços para o trabalho doutrinário.
Nos centros mal orientados, nos quais o campo de serviço é restrito, os Espíritos Superiores não têm muito que fazer. Quanto mais numerosas, diversificadas e sérias as atividades de uma casa espírita, maior a tutela da Espiritualidade e maior a equipe dos desencarnados que com ela se dispõem a colaborar.
Os dirigentes, médiuns responderão pela sua omissão e arbitrariedade à frente de um núcleo espírita.
REUNIÃO DE DESOBSESSÃO I
Há de ser cautela na organização de uma tarefa ligada à desobsessão. Para tanto, o grupo necessita estar bem estruturado, com um tempo mais ou menos longo de convivência entre os seus componentes. O estudo sério e metódico deve anteceder toda prática mediúnica.
A reunião de desobsessão tanto pode ser útil ao equilíbrio do grupo quanto nociva à sua harmonização.
Existem casas espíritas que começam a se desarticular a partir da reunião mediúnica mal orientada, onde predomina o personalismo dos médiuns e de seus dirigentes.
Convém lembrarmos que os desencarnados apenas agem quando encontram campo de atuação. Os obsessores não podem ser responsabilizados diretamente pela desorganização que impera num trabalho de natureza mediúnica.
Os integrantes de uma casa espírita não devem ser afoitos na instalação de uma reunião de enfermagem espiritual aos desencarnados. Semelhante atividade, para ser levada a efeito de maneira proveitosa, carece de recolhimento e seriedade.
Quanto mais o médium se apague, mais a luz da mediunidade nele resplandecerá!
Infelizmente, companheiros existem que, mal informados, direcionam as tarefas mediúnicas que promovem no sentido de atender os seus caprichos – digamos,promovem uma sessão de desobsessão particular, com o intuito de abordarem o Mundo Espiritual com os seus questionamentos pessoais.
Na reunião de desobsessão é onde o espírita tem a oportunidade de praticar a mais legítima caridade nada de indagações ao espírito comunicante, exigindo provas de autencidade, nada de perguntar a ele sobre a vida de outros confrades, valendo-se da oportunidade para saber de terceiros mais do que deve…
A tarefa mediúnica necessita de ordem, disciplina, sinceridade de propósitos. Se a intenção dos médiuns não for boa, breve estarão a mercê de espíritos que os fascinem, mostrando-se completamente refratários às orientações que recebam em advertência.
Atividades mediúnicas sérias solicitam especialização, ou seja: em alguns tem os espíritas, a reunião de assistência espiritual aos desencarnados mistura-se às chamadas reuniões de cura ou, ainda, dedica-se, registrando a palavras dos espíritos, a solucionar problemas de ordem interna. A reunião de desobsessão é organizada com o propósito de auxiliar no esclarecimento dos espíritos infelizes, ainda apegados a questões materiais, e não para submeter as entidades comunicantes a injustificável interrogatório.
Quando a reunião não tem bases sólidas, dá margem a inúmeras mistificações, ensejando que medianeiros desavisados tomem este ou aquele partido.
A faculdade mediúnica não pode ser direcionada para o interesse particular de quem quer que seja incluindo o do medianeiro. Quando tal acontece, ela perde o que lhe confere maior credibilidade a espontaneidade.
Somos, pois, de opinião que a casa espírita não deve priorizar atividades mediúnicas, em detrimento das tarefas doutrinárias de esclarecimento público, mesmo porque as reuniões consagradas ao estudo da Doutrina se constituem em genuínas sessões de desobsessão, pois obram com base na evangelização de encarnados e desencarnados.
A obsessão é um envolvimento psíquico – o que o obsidiado escuta, o obsessor registra. Ninguém sai de um processo obsessivo, sem que se decida pela reforma interior. Não adianta afastar o verdugo da vítima, sem que a vítima tome a decisão de romper com o verdugo!
ODILON FERNANDES- CONVERSANDO COM OS MÉDIUNS

Fontes:  http://www.batuiranet.com.br/espiritismo/1510/estudando-a-desobsessao-ii-odilon-fernandes-espirito/

sábado, 11 de janeiro de 2014

Reflexões sobre o Centro Espírita

Reflexões sobre o Centro Espírita

Autor: J. Herculano Pires

Se os espíritas soubessem o que é o Centro Espírita, quais são realmente a sua função e a sua significação, o Espiritismo seria hoje o mais importante movimento cultural e espiritual da Terra.

Temos no Brasil – e isso é um consenso universal – o maior, mais ativo e produtivo movimento espírita do planeta. A expansão do Espiritismo em nossa terra é incessante e prossegue em ritmo acelerado. Mas o que fazemos, em todo este vasto continente espírita, é um imenso esforço de igrejificar o Espiritismo, de emparelhá-lo com as religiões decadentes e ultrapassadas, formando por toda parte núcleos místicos e, portanto fanáticos, desligados da realidade imediata. Dizia o Dr. Souza Ribeiro, de Campinas, nos últimos tempos de sua vida de lutas espíritas: "Não compareço a reuniões de espíritas rezadores! "E tinha razão, porque nessas reuniões ele só encontrava turba dos pedintes, suplicando ao Céu ajuda.

Ninguém estava ali para aprender a Doutrina, para romper a malha de teia de aranha do igrejismo piedoso e choramingas. A domesticação católica e protestante criara em nossa gente uma mentalidade de rebanho. O Centro Espírita tornou-se uma espécie de sacristia leiga em que padres e madres ignorantes indicavam aos pedintes o caminho do Céu. A caridade esmoler, fácil e barata, substituiu as gordas e faustosas doações à Igreja. Deus barateara a entrada a entrada do Céu, e até mesmo os intelectuais que se aproximam do Espiritismo e que tem o senso crítico, se transformam em penitentes. Associações espíritas, promissoramente organizadas, logo se transformam em grupos de rezadores pedinchões. O carimbo da igreja marcou fundo a nossa mentalidade em penúria. Mais do que subnutrição do povo, com seu cortejo trágico de endemias devastadoras, o igrejismo salvacionista depauperou a inteligência popular, com seu cortejo de carreirismo político – religioso, idolatria mediúnica, misticismo larvar, o que é pior, aparecimento de uma classe dirigente de supostos missionários e mestres farisaicos, estufados de vaidade e arrogância. São os guardiães dos apriscos do templo, instruídos para rejeitar os animais sacrificiais impuros, exigindo dos beatos a compra de oferendas puras nos apriscos sacerdotais. Essa tendência mística popular, carregada de superstições seculares, favorece a proliferação de pregadores santificados, padres vieiras sem estalo, tribunos de voz empostada e gesticulação ensaiada. Toda essa carga morta esmaga o nosso movimento doutrinário e abre as suas portas para a infestação do sincretismo religioso afro-brasileiro, em que os deuses ingênuos da selva africana e das nossas selvas superam e absorvem o antigo e cansado deus cristão.

Não há clima para o desenvolvimento da Cultura Espírita. As grandes instituições Espíritas Brasileiras e as Federações Estaduais investem-se por vontade própria de autoridade que não possuem nem podem possuir, marcadas que estão por desvios doutrinários graves, como no caso do roustainguismo da FEB e das pretensões retrógradas de grupelhos ignorantes de adulterados. Teve razões de sobra André Dumas, do Espiritismo Francês, em denunciar recentemente, em entrevista à revista Manchete, a situação católica e na verdade de anti-espírita do Movimento Espírita brasileiro. A domesticação clerical dos espíritas ameaça desfibrar todo o nosso povo, que por sua formação igrejeira tende a um tipo de alienação esquizofrênica que o Espiritismo sempre combateu, desde a proclamação de fé racional contra a fé cega e incoerente, submissa e farisaica das pregações igrejeiras.

Jesus ensinou a orar e vigiar, recomendou o amor e a bondade, pregou a humanidade, mas jamais aconselhou a viver de orações e lamúrias, santidade fingida, disfarçada em vãs aparências de humildade, que são sempre desmentidas pelas ambições e a arrogância incontroláveis do homem terreno.

Para restabelecermos a verdade espírita entre nós e reconduzirmos o nosso movimento a uma posição doutrinária digna e coerente, é preciso compreender que a Doutrina Espírita é um chamado viril à dignidade humana, à consciência do homem para deveres e compromissos no plano social e no plano espiritual, ambos conjugados em face das exigências da lei superior da Evolução Humana. Só nos aproximaremos da angelitude, o plano superior da Espiritualidade, depois de nos havermos tornado Homens.

Os espíritas atuais, na sua maioria, tanto no Brasil como no mundo, não compreenderam ainda que estão num ponto intermediário da filogênese da divindade. Superando os reinos inferiores da Natureza, segundo o esquema poético de Léon Denis, na seqüência divinamente fatal de Kardec: mineral, vegetal, animal e homem, temos o ponto neutro de gravidade entre duas esferas celestes, e esse ponto é o que chamamos ESPÍRITA. As visões fragmentárias da Realidade se fundem dialeticamente na concepção monista preparada pelo monoteísmo. Liberto, no ponto neutro, da poderosa reação da Terra, o espírita está em condições de se elevar ao plano angélico. Mas estar em condições é uma coisa, e dar esse passo para a divindade é outra coisa. Isso depende do grau de sua compreensão doutrinária e da sua vontade real e profunda, que afeta toda a sua estrutura individual. Por isso mesmo, surge então o perigo da estagnação no misticismo, plano ilusório da falsa divindade, que produz as almas viajoras de Plotino, que nada mais são do que os espíritos errantes de Kardec. Essas almas se projetam no plano da Angelitude, mas não conseguem permanecer nele, cedendo de novo a atração terrena da encarnação.

Muitas vezes repetem a tentativa, permanecendo errantes entre as hipóstases do Céu e da Terra. Plotino viu essa realidade na intuição filosófica e na vidência platônica. Mas Kardec a verificou em suas pesquisas espíritas, escudadas na observação racional dos fatos. Apoiado na Razão, essa bússola do Real, ele nos livrava dos psicotrópicos do misticismo, oferendo-nos a verdade exata da Doutrina Espírita. Nela temos a orientação precisa e segura dos planos ou hipóstases superiores, sem o perigo dos ciclos muitas vezes repetidos do chamado Círculo Vicioso das Reencarnações, que os ignorantes pretendem opor à realidade incontestável da reencarnação. Pois se existe esse círculo vicioso, é isso bastante para provar o processo reencarnatório. O vício não está no processo, mas na precipitação dos homens e dos espíritos não devidamente amadurecidos, que tentam forçar a Porta do Céu.

Se no Brasil sofremos os prejuízos do religiosismo ingênuo de nossa formação cultural, na França e nos demais países europeus -segundo as próprias declarações de André Dumas – o prejuízo provém de um cientificismo pretensioso, que despreza a tradição francesa da pesquisa científica espírita, procurando substituí-la pelas pesquisas e interpretações parapsicológicas. Esse menosprezo pedante pelo trabalho modelar de Kardec levou o próprio Dumas a desrespeitar a tradição secular da Revue Spirite, transformando-a num simulacro da revista científica do Ano 2.000. As pesquisas da parapsicologia seguiram o esquema de Kardec e foram cobrindo no tempo, sucessivamente, todas as conquistas do sábio francês. Pegada por pegada, Rhine e seus companheiros cobriram o rastro científico de Kardec. O mesmo já acontecera com Richet na metapsíquica, com Crookes e Zollner e todos os demais. Toda a pesquisa psíquica honesta é válida, nesse campo, até mesmo a dos materialistas russos atuais ficaram presas ao esquema de Kardec, o que prova a validade irrevogável desta. Começando pela observação dos fenômenos físicos, todas as Ciências Psíquicas, nascidas do Espiritismo fizeram a trajetória fatal traçada pelo gênio de Kardec e chegaram as suas mesmas conclusões.

As discordâncias interpretativas foram sempre marcadas indelevelmente pelos preconceitos e as precipitações da advertência de Descartes no Discurso do Método e pela sujeição aos interesses das Igrejas, como Kardec já assinalara em seu tempo. A questão da terminologia é puramente supérflua, e como dissera Kardec, serve apenas para provar a leviandade do espírito humano, mesmo dos sábios, sempre mais apegado à forma que ao fundo do problema. No Espiritismo o quadro fenomênico foi dividido por Kardec em duas seções: Fenômenos Físicos e Fenômenos Inteligentes. Na Metapsíquica, Richet apresentou o esquema de Metapsíquica objetiva e Metapsíquica subjetiva. Na Parapsicologia os fenômenos espíritas passaram a chamar-se Fenômeno Psi, com divisão de Psicapa ( objetivos ) e Psigama ( subjetivos ). Quanto aos métodos de pesquisa, Crookes e Richet ativeram-se à metodologia científica da época, e Rhine limitou-se a passar dos métodos qualitativos para os quantitativos, inventando aparelhagens apropriadas aos processos tecnológicos atuais, apelando à estatística como forma de controle e comprovação dos resultados, o que simplesmente corresponde às exigências atuais nas Ciências.

Kardec teve a vantagem de haver acentuado enfaticamente a necessidade de adequação do método ao objeto específico da pesquisa. O próprio método hipnótico de regressão da memória, para as pesquisas da reencarnação aplicado por Albert De Rochas do século passado, foi aproveitado pelo Prof. Vladimir Raikov. Na Romênia, o preconceito quanto ao Espiritismo gerou uma nova denominação para Parapsicologia: Psicotrônica. Com esse nome rebarbativo, os materialistas romenos pretendem exorcizar os perigos de renascimento espírita em seu país.

Todos esses fatos nos mostram que a Doutrina Espírita não chegou ainda a ser conhecida pelos seus próprios adeptos em todo o mundo. Integrado no processo doutrinário de trabalho e desenvolvimento, o Centro Espírita carecia até agora de um estudo sobre as suas origens, o seu sentido e a sua significação no panorama cultural do nosso tempo. É o que procuramos fazer neste volume, com as nossas deficiências, mas na esperança de que outros estudiosos procurem completar o nosso esforço. Lembrando o Apóstolo Paulo, podemos dizer que os espíritas estão no momento exato em que precisam desmamar das cabras celestes para se alimentarem de alimentos sólidos. Os que desejam atualizar a Doutrina, devem antes cuidar de se atualizarem nela.

Livro: O Centro Espírita

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Do projeto de caixa geral de socorro e outras instituições para os espíritas

Do projeto de caixa geral de socorro e outras instituições para os espíritas

(Revista Espírita julho de 1866)

Num dos grupos espíritas de Paris, um médium recebeu ultimamente a comunicação que segue, do Espírito de sua avó:

“Meu caro filho, vou falar-te um instante das questões de caridade que te preocupavam esta manhã, a caminho do trabalho.
“As crianças que são entregues a amas mercenárias e as mulheres pobres que são forçadas, com desprezo do pudor que lhes é caro, a servir, nos hospitais, de material experimental para os médicos e para os estudantes de medicina, são duas grandes chagas que todos os bons corações devem aplicar-se em curar, e isto não é impossível. Que os espíritas façam como os católicos. Que eles economizem um pouquinho por semana e, capitalizando esses recursos, chegarão a fundações sérias, grandes e realmente eficazes. A caridade que alivia um mal presente é uma caridade santa, que eu encorajo com todas as minhas forças, mas a caridade que se perpetua em fundações imortais como as misérias que são destinadas a aliviar, é uma caridade inteligente e que me tornaria feliz ao vê-la posta em prática.
“Gostaria que um trabalho fosse elaborado com o fito de criar de início um primeiro estabelecimento de proporções restritas. Quando se tivesse visto o bom resultado dessa primeira criação, passar-se-ia a outra, que seria aumentada pouco a pouco, como Deus quer que seja aumentada, porque o progresso se realiza por uma marcha lenta, sábia, calculada. Repito que o que proponho não é difícil; não haverá um único espírita verdadeiro que ousaria faltar ao apelo para o alívio de seus semelhantes, e os espíritas são bastante numerosos para formar, pela acumulação de um tanto por semana, um capital suficiente para um primeiro estabelecimento a serviço das mulheres doentes, que seriam cuidadas por mulheres, e que deixariam então de ocultar seus sofrimentos para salvaguardar o seu pudor.
“Entrego estas reflexões à meditação das pessoas benevolentes que assistem à sessão, e estou bem convicta que elas darão bons frutos. Os grupos do interior ligar-se-iam prontamente a uma ideia tão bela e ao mesmo tempo tão útil e paternal. Além do mais, seria um monumento do valor moral do Espiritismo tão caluniado, e que continuará a ser encarniçadamente caluniado ainda por muito tempo.
“Eu disse que a caridade local é boa e que é útil a um indivíduo, mas ela não eleva o espírito das massas como uma obra duradoura. Não seria belo que se pudesse repelir a calúnia dizendo aos caluniadores: “Eis o que nós fizemos. A árvore se reconhece pelo fruto; uma árvore má não dá bons frutos, e a boa árvore não os dá maus.”
“Pensai também nas pobres crianças que saem dos hospitais e que vão morrer em mãos mercenárias, dois crimes simultâneos: o de entregar a criança desarmada e fraca e o daquele que a sacrificou sem compaixão. Que todos os corações elevem seus pensamentos para as tristes vítimas da sociedade imprevidente, e que procurem encontrar uma boa solução para salvá-las de suas misérias. Deus quer que tentemos, e dá os meios de alcançar o objetivo; é preciso agir. Triunfamos quando temos fé, e a fé transporta montanhas. Que o Sr. Kardec trate da questão em seu jornal, e vereis como será aclamada com dedicação e entusiasmo.
“Eu disse que era necessário um monumento material que atestasse a fé dos espíritas, como as pirâmides do Egito atestam a vaidade dos Faraós, mas, em vez de fazer loucuras, fazei obras que levam a marca do próprio Deus. Todo mundo deve compreender-me; não insisto.
“Retiro-me, meu caro filho. Tua boa avó, como vês, ama sempre os seus netos, como te amava quando eras criancinha. Quero que tu os ames como eu, e que penses em encontrar uma boa organização. Tu podes, se quiseres e, se necessário, nós te ajudaremos. Eu te abençoo 
“MARIE G...”

A ideia de uma caixa central e geral de socorro formada entre os espíritas já foi concebida e emitida por homens animados de excelentes intenções, mas não basta que uma ideia seja grande, bela e generosa, é preciso, antes de tudo, que ela seja exequível. Certamente demos mostras suficientes de nosso devotamento à causa do Espiritismo para não ser suspeito de indiferença a respeito disso. Ora, é precisamente por força de nossa própria solicitude que buscamos alertar contra o entusiasmo que cega. Antes de empreender uma coisa, é preciso friamente calcular-lhe os prós e os contras, a fim de evitar revezes sempre desagradáveis, que não deixariam de ser explorados por nossos adversários. O Espiritismo só deve marchar com passo firme, e quando põe os pés num lugar, deve estar seguro de pisar em terreno firme. Nem sempre a vitória é do mais apressado, mas muito mais seguramente daquele que sabe aguardar o momento propício. Há resultados que não podem ser senão obra do tempo e da infiltração da ideia no espírito das massas. Saibamos, pois, esperar que a árvore esteja formada, antes de lhe pedir uma colheita abundante.
Há muito tempo nós vos propúnhamos tratar a fundo da questão em tela, para situá-la no seu verdadeiro terreno e premunir contra as ilusões de projetos mais generosos do que refletidos, cujo abortamento teria consequências lamentáveis. A comunicação relatada acima, sobre a qual tiveram a bondade de pedir nossa opinião, nos oferece a ocasião muito natural. Examinaremos, pois, tanto o projeto de centralização dos recursos quanto o de algumas outras instituições e estabelecimentos especiais para o Espiritismo.
Antes de tudo convém sondar o estado real das coisas. Sem dúvida os espíritas são muito numerosos e seu número cresce incessantemente. Sob este ponto de vista, ele oferece um espetáculo único, o de uma propagação inusitada na história das doutrinas filosóficas, porque não há uma só, sem excetuar o Cristianismo, que tenha ligado tantos partidários em tão poucos anos. Isto é um fato notório que confunde os próprios antagonistas. E o que não é menos característico, é que essa propagação, em vez de fazer-se num centro único, opera-se simultaneamente em toda a superfície do globo e em milhares de centros. Disso resulta que os adeptos, embora sejam muito numerosos, ainda não formam, em parte alguma, uma aglomeração compacta.
Essa dispersão, que à primeira vista parece uma causa de fraqueza, é, ao contrário, um elemento de força. Cem mil espíritas disseminados num país fazem mais pela propagação da ideia do que se estivessem amontoados numa cidade. Cada individualidade é um foco de ação, um germe que produz brotos; por sua vez, cada broto produz mais ou menos, e os ramos, que se reúnem pouco a pouco, cobrirão a região mais prontamente do que se a ação partisse de um ponto único. É absolutamente como se um punhado de grãos tivesse sido atirado ao vento, em vez de serem postos todos no mesmo buraco. Graças a essa quantidade de pequenos centros, a doutrina é menos vulnerável do que se tivesse um só, contra o qual seus inimigos poderiam dirigir toda a sua força. Um exército primitivamente compacto que é dispersado pela força ou por qualquer outra causa, é um exército perdido. Aqui o caso é diferente. A disseminação dos espíritas não é um caso de dispersão, é o estado primitivo tendendo à concentração, para formar uma vasta unidade. A primeira está no fim; a segunda está no seu nascedouro.
Àqueles, pois, que se lamentam de seu isolamento numa localidade, respondemos: Agradecei ao céu, ao contrário, por vos haver escolhido como pioneiros da obra em vossa região. Cabe a vós lançar aí as primeiras sementes. Talvez elas não germinem imediatamente; talvez não chegueis a recolher os frutos; talvez mesmo tenhais que sofrer em vosso trabalho, mas pensai que não se prepara uma terra sem trabalho, e tende certeza de que, mais cedo ou mais tarde, o que tiverdes semeado frutificará. Quanto mais ingrata for a tarefa, mais méritos tereis, ainda que apenas rasgásseis o caminho aos que virão depois de vós.
Sem dúvida, se os espíritas devessem ficar sempre no estado de isolamento, seria uma causa permanente de fraqueza; mas a experiência prova quanto a doutrina é vivaz, e sabemos que para cada ramo abatido, há dez que renascem. Sua generalização é, pois, uma questão de tempo. Ora, por mais rápida que seja a sua marcha, ainda é preciso o tempo suficiente e, enquanto se trabalha na obra, é preciso saber esperar que o fruto esteja maduro antes de colhê-lo.
Essa disseminação momentânea dos espíritas, essencialmente favorável à propagação da doutrina, é um obstáculo à execução de obras coletivas de certa importância, pela dificuldade, senão pela impossibilidade, de reunir num mesmo ponto elementos bastante numerosos.
Dirão que é precisamente para obviar esse inconveniente, para apertar os laços de confraternidade entre os membros isolados da grande família espírita, que se propõe a criação de uma caixa central de socorro. Certamente este é um pensamento grande e generoso que seduz à primeira vista, mas já se refletiu nas dificuldades de execução?
Uma primeira questão se apresenta. Até onde estender-se-ia a ação dessa caixa? Limitar-se-ia à França, ou compreenderia os outros países? Há espíritas em todo o globo. Os de todos os países, de todas as castas e de todos os cultos não são nossos irmãos? Se, pois, a caixa recebesse contribuições de espíritas estrangeiros, o que aconteceria infalivelmente, teria ela o direito de limitar sua assistência a uma única nacionalidade? Poderia conscienciosamente e caridosamente perguntar ao que sofre se é russo, polonês, alemão, espanhol, italiano ou francês? A menos que faltasse ao seu objetivo, ao seu dever, ela deveria estender a sua ação do Peru à China. Basta pensar na complicação das engrenagens de tal empresa para ver quanto ela é quimérica.
Suponhamo-la circunscrita à França, e não seria menos uma administração colossal, um verdadeiro ministério. Quem quereria assumir a responsabilidade de um tal manejo de fundos? Para uma gestão dessa natureza não bastariam integridade e devotamento: seria necessária uma alta capacidade administrativa. Admitindo-se, entretanto, vencidas as primeiras dificuldades, como exercer um controle eficaz sobre a extensão e a realidade das necessidades, sobre a sinceridade da qualidade de espírita? Semelhante instituição em breve veria surgirem adeptos, ou que tais se dizem, aos milhões, mas não seriam estes que iriam alimentar a caixa. A partir do momento que ela existisse, julgá-la-iam inesgotável, e em breve ela se veria impossibilitada de satisfazer a todas as exigências de seu mandato. Fundada sobre tão vasta escala, consideramo-la impraticável, e de nossa parte, não lhe daríamos a mão.
Por outro lado, não teria ela que temer oposição à sua própria constituição? O Espiritismo apenas nasce e ainda não está, por toda parte, em odor de santidade, para que se julgue ao abrigo de suposições malévolas. Não poderiam enganar-se quanto às suas intenções numa operação de tal gênero? Não poderiam supor que, sob uma capa, oculte ele outro objetivo? Numa palavra, fazer assimilações, de que seus adversários alegariam exceção de justiça para excitar a desconfiança contra ele? Por sua natureza, o Espiritismo não é nem pode ser uma filiação, nem uma congregação. Ele deve, pois, no seu próprio interesse, evitar tudo quanto lhe desse aquela aparência.
Então é preciso que, por medo, o Espiritismo fique estacionário? Não é agindo, perguntarão, que ele mostrará o que é, que dissipará a desconfiança e vencerá a calúnia? Sem sombra de dúvida, mas não se deve pedir à criança o que exige as forças da idade viril. Longe de servir ao Espiritismo, seria comprometê-lo e expô-lo aos golpes e à chacota de seus adversários e ligar seu nome a coisas quiméricas. Certamente ele deve agir, mas no limite do possível. Deixemos-lhe, pois, tempo de adquirir as forças necessárias, e então ele dará mais do que se pensa. Ele não está nem sequer completamente constituído em teoria. Como querem que ele dê o que só pode ser o resultado da completude da doutrina?
Aliás, há outras considerações que importa levar em conta.
O Espiritismo é uma crença filosófica, e basta simpatizar com os princípios fundamentais da doutrina para ser espírita. Falamos dos espíritas convictos e não dos que afivelam a máscara, por motivos de interesses ou outros também pouco confessáveis. Esses não se contam, porquanto neles não há nenhuma convicção. Dizem-se espíritas hoje, na esperança de daí tirar vantagens; serão adversários amanhã, se não encontrarem o que buscam, ou então se farão de vítimas de sua dedicação fictícia, e acusarão os espíritas de ingratidão por não sustentá-los. Não seriam os últimos a explorar a caixa geral, para se compensar de especulações abortadas ou reparar desastres causados por sua incúria ou por sua imprevidência, e a lhe atirar pedras, se ela não os satisfizer. Isso tudo não deve parecer estranho, porquanto todas as crenças contam com semelhantes auxiliares e testemunham a representação de semelhantes comédias.
Há também a massa considerável dos espíritas por intuição; os que são espíritas pela tendência e pela predisposição de ideias, sem estudo prévio; os indecisos, que ainda flutuam, à espera dos elementos de convicção que lhes são necessários. Sem exagero, podemos estimá-los em um quarto da população. É o grande canteiro onde se recrutam os adeptos, mas eles ainda não podem ser levados em conta.
Entre os espíritas reais, aqueles que constituem o verdadeiro corpo dos adeptos, há certas distinções a fazer. Na primeira linha há que colocar os adeptos de coração, animados de fé sincera, que compreendem o objetivo e o alcance da doutrina e aceitam todas as consequências para si mesmos; seu devotamento é a toda prova e sem segundas intenções; os interesses da causa, que são os da Humanidade, são sagrados para eles, e eles jamais os sacrificarão a uma questão de amor-próprio ou de interesse pessoal. Para eles, o lado moral não é uma simples teoria; eles esforçam-se por pregar pelo exemplo; não só têm a coragem de sua opinião, mas consideram-na uma glória, e, conforme a necessidade, sabem pagar com sua pessoa.
Vêm a seguir os que aceitam a ideia como filosofia, porque ela lhes satisfaz a visão, mas cuja fibra moral não é suficientemente tocada para compreenderem as obrigações que a doutrina impõe aos que a adotam. O homem velho está sempre ali, e a reforma de si mesmo lhes parece tarefa muito pesada. Mas como não estão menos firmemente convencidos, entre eles encontram-se propagadores e zelosos defensores.
Depois, há pessoas levianas, para quem o Espiritismo está todo inteiro nas manifestações. Para eles é um fato, e nada mais. O lado filosófico passa desapercebido. O atrativo de curiosidade é para eles o móvel principal. Extasiam-se ante o fenômeno e ficam frios ante uma consequência moral.
Enfim, há o número ainda muito grande dos espíritas mais ou menos sérios que não puderam colocar-se acima dos preconceitos e do que os outros dirão, retidos pelo medo do ridículo, bem como aqueles cujas considerações pessoais ou de família e interesses por vezes respeitáveis a administrar, são forçados, de certo modo, a se manterem afastados. Todos esses, numa palavra, que por uma ou por outra causa, boa ou má, não se põem em evidência. A maioria não desejaria mais do que confessar-se espírita, mas não ousam ou não podem. Isso virá mais tarde, à medida que virem outros fazê-lo e perceberem que não há perigo. Esses serão os espíritas de amanhã, como outros são os da véspera. Contudo, não se pode esperar muito deles, porque é necessária uma força de caráter que não é dada a todos, para enfrentar a opinião em certos casos. É preciso, pois, levar em consideração a fraqueza humana. O Espiritismo não tem o privilégio de transformar subitamente a Humanidade, e se a gente pode admirar-se de uma coisa, é do número de reformas que ele já operou em tão pouco tempo. Ao passo que nuns, onde encontra o terreno preparado, ele entra, por assim dizer, de uma vez, noutros só penetra gota a gota, conforme a resistência que encontra no caráter e nos hábitos.
Todos esses adeptos se incluem no cômputo, e por mais imperfeitos que sejam, são sempre úteis, embora num limite restrito. Até nova ordem, se servissem apenas para diminuir as fileiras da oposição, isto já seria alguma ciosa. É por isso que não se deve desdenhar nenhuma adesão sincera, mesmo parcial.
Mas quando se trata de uma obra coletiva importante, para a qual cada um deve trazer seu contingente de ação, como seria a de uma caixa geral, por exemplo, convém levar em conta essas considerações, porque a eficácia do concurso que se pode esperar está na razão da categoria a que pertencem os adeptos. É bem evidente que não se pode contar muito com os que não levam a sério o lado moral da doutrina e, ainda menos, com os que não ousam mostrar-se.
Restam, pois, os adeptos da primeira categoria. Desses, certamente, tudo se pode esperar. São os soldados de vanguarda, e que o mais das vezes não esperam o chamado quando se trata de dar provas de abnegação e devotamento, mas numa cooperativa financeira, cada um contribui conforme os seus recursos, e o pobre não pode dar senão o seu óbolo. Aos olhos de Deus, esse óbolo tem um grande valor, mas para as necessidades materiais ele tem apenas o seu valor intrínseco. Tirando todos aqueles cujos meios de subsistência são limitados, aqueles mesmo que tiram a subsistência do seu trabalho, o número dos que poderiam contribuir um pouco largamente e de maneira eficaz é relativamente restrito.
Uma observação ao mesmo tempo interessante e instrutiva é a da proporção dos adeptos segundo as categorias. Essa proporção variou sensivelmente e se modifica em razão do progresso da doutrina; mas neste momento ela pode ser avaliada aproximadamente da maneira seguinte:
1.ª categoria, espíritas completos, de coração e devotamento, 10%;
 categoria, espíritas incompletos, buscando mais o lado científico que o lado moral, 25%;
 categoria, espíritas levianos, só interessados nos fatos materiais, 5%, (esta proporção era inversa há dez anos);
4ª categoria, espíritas não confessos ou que se ocultam, 60%.
Relativamente à posição social, evidenciam-se duas classes gerais: de um lado, aqueles cuja fortuna é independente; do outro, os que vivem do trabalho. Em 100 espíritas da 1.ª categoria, há em média 5 ricos para 95 trabalhadores; na 2ª, 70 ricos para 30 trabalhadores; na 3ª, 80 ricos para 20 trabalhadores; e na 4.ª, 99 ricos para l trabalhador.
Seria ilusão pensar que em tais condições uma caixa geral pudesse satisfazer a todas as necessidades, quando a do mais rico banqueiro não bastaria. Não seriam milhares de francos necessários anualmente, mas alguns milhões.
De onde vem essa diferença na proporção entre os que são ricos e os que não o são? A razão é muito simples: os aflitos acham no Espiritismo uma imensa consolação que os ajuda a suportar o fardo das misérias da vida; dá-lhes a razão dessas misérias e a certeza de uma compensação. Assim, não nos surpreende que, tirando mais proveito do benefício, eles o apreciem mais e o tomem mais a sério do que os felizes do mundo.
As pessoas se admiraram que, quando semelhantes projetos vieram a público, nós não nos apressamos em apoiá-los e patrociná-los. É que, antes de tudo, apegamo-nos a ideias positivas e práticas; o Espiritismo é para nós uma coisa muito séria para empenhá-lo prematuramente em vias onde pudesse encontrar decepções. De nossa parte, não há nisso nem despreocupação nem pusilanimidade, mas prudência, e sempre que ele estiver maduro para avançar, não ficaremos na retaguarda. Não é que nos atribuamos mais perspicácia do que aos outros; é que a nossa posição, permitindo-nos a visão de conjunto, permite-nos julgar os pontos fortes e os fracos, talvez melhor do que aqueles que se acham num círculo mais restrito. Aliás, damos a nossa opinião e não pretendemos impô-la a ninguém.
O que acaba de ser dito a respeito da criação de uma caixa geral e central de socorro, aplica-se naturalmente aos projetos de fundação de estabelecimentos hospitalares e outros. Ora, aqui a utopia é ainda mais evidente. Se é fácil pôr um projeto no papel, não é o mesmo quando se chega às vias e meios de execução. Construir um edifício ad hoc já é uma enormidade, e quando estivesse pronto, seria preciso provê-lo de pessoal suficiente e capaz, depois assegurar a sua manutenção, porque tais estabelecimentos custam muito e nada rendem. Não são apenas grandes capitais que se requerem, mas grandes rendimentos. Admitamos, entretanto, que à força de perseverança e de sacrifícios chegue-se a criar, como dizem, um pequeno modelo; quão mínimas não seriam as necessidades que ele poderia satisfazer em relação à massa e à disseminação dos necessitados em um vasto território! Seria uma gota d’água no oceano, e se há tantas dificuldades para um só, mesmo em pequena escala, muito pior seria se se tratasse de multiplicá-los. O dinheiro assim empregado, portanto, não resultaria em proveito senão de alguns indivíduos, ao passo que, judiciosamente repartido, ajudaria a viver um grande número de infelizes.
Seria um modelo, um exemplo, que seja, mas por que aplicar-se em criar quimeras, quando as coisas existem prontas, montadas, organizadas, com meios poderosos de que jamais disporão os particulares? Esses estabelecimentos deixam a desejar; há abusos; eles não suprem todas as necessidades, isto é evidente, contudo, se os compararmos ao que eram há menos de um século, constataremos uma imensa diferença e um progresso constante. A cada dia vê-se a introdução de um melhoramento. Não podemos, pois, duvidar que com o tempo novos progressos sejam realizados, pela força das coisas. As ideias espíritas devem, infalivelmente, apressar a reforma de todos os abusos, porque, melhor que outras, elas penetram os homens com o sentimento do dever; por toda parte onde elas penetrarem, os abusos cairão e o progresso se efetivará. Portanto, em difundi-las é que se faz necessário empenhar-se: aí está a coisa possível e prática; aí está a verdadeira alavanca, alavanca irresistível quando ela tiver adquirido uma força suficiente pelo desenvolvimento completo dos princípios e pelo número dos adeptos sérios. A julgar o futuro pelo presente, podemos afirmar que o Espiritismo terá levado à reforma de muitas coisas muito antes que os espíritas tenham podido acabar o primeiro estabelecimento do gênero desse de que falamos, se algum dia o empreendessem, mesmo que todos tivessem que dar um cêntimo por semana. Por que, então, gastar suas energias em esforços supérfluos, em vez de concentrá-las no ponto acessível e que seguramente deve conduzir ao objetivo? Mil adeptos ganhos para a causa e espalhados em mil lugares diversos apressarão mais a marcha do progresso do que um edifício.
Diz o Espírito que ditou a comunicação acima que o Espiritismo deve se afirmar e mostrar o que é por um monumento durável à caridade. Mas de que serviria um monumento à caridade, se a caridade não estiver no coração? Ele ergue uma obra mais durável que um monumento de pedra: é a doutrina e suas consequências, para o bem da Humanidade. É para isso que cada um deve trabalhar com todas as suas forças porque ele durará mais que as pirâmides do Egito.
Pelo fato de que esse Espírito se engana, segundo nós, sobre esse ponto, isto nada lhe tira de suas qualidades. Incontestavelmente, ele está animado de excelentes sentimentos, mas um Espírito pode ser muito bom, sem ser um apreciador infalível de todas as coisas; nem todo bom soldado é necessariamente um bom general.
Um projeto de realização menos quimérica é o da formação de sociedades de socorros mútuos entre os espíritas de uma mesma localidade. Mas, ainda aqui, não é possível isentar-se de algumas das dificuldades que assinalamos: a falta de aglomeração e a cifra ainda pequena daqueles com os quais se pode contar para um concurso efetivo. Outra dificuldade vem da falsa assimilação que se faz dos espíritas a certas classes de indivíduos. Cada profissão apresenta uma delimitação claramente marcada. Pode facilmente estabelecer-se uma sociedade de socorro mútuo entre pessoas de uma mesma profissão, entre pessoas de um mesmo culto, porque elas se distinguem por alguma coisa de característica, e por uma posição de certo modo oficial e reconhecida. Assim não se dá com os espíritas, que não são registrados como tais em parte alguma, e cuja crença não é atestada por nenhum título. Há espíritas de todas as classes sociais, em todas as profissões, em todos os cultos, e em parte alguma eles constituem uma classe distinta. Sendo o Espiritismo uma crença fundada numa convicção íntima, da qual não se deve satisfação a ninguém, conhecemos apenas aqueles que se põem em evidência ou que frequentam os grupos, e não o número considerável daqueles que, sem se ocultar, não fazem parte de nenhuma reunião regular. Eis por que, a despeito da certeza em que se está de que os adeptos são numerosos, é difícil chegar a uma cifra suficiente, quando se trata de uma operação coletiva.
Acerca das sociedades de socorros mútuos, apresenta-se outra consideração. O Espiritismo não forma, nem deve formar classe distinta, pois se dirige a todos; por seu princípio, ele deve estender sua caridade indistintamente, sem inquirir sobre a crença, porque todos os homens são irmãos. Se ele fundar instituições de caridade exclusivas para os seus adeptos, é forçado a perguntar ao que reclama assistência: “Sois dos nossos? Que prova nos dais? Se não, nada podemos fazer por vós.” Assim, ele mereceria a censura de intolerância que dirige aos outros. Não, para fazer o bem, o espírita não deve sondar a consciência e a opinião, e mesmo que tenha diante de si um inimigo de sua fé, mas infeliz, ele deve ir em seu auxílio, no limite de suas faculdades. É agindo assim que o Espiritismo mostrará o que ele é, e provará que vale mais do que o que se lhe opõem.
As sociedades de socorros mútuos se multiplicam por todos os lados e em todas as classes de trabalhadores. É uma excelente instituição, prelúdio do reino da fraternidade e da solidariedade, de que se sente necessidade. Elas beneficiam os espíritas que delas participam, como a todo mundo. Por que fundá-las só para eles, com exclusão dos outros? Que ajudem a propagá-las, porque são úteis; que, para torná-las melhores, nelas façam penetrar o elemento espírita, nelas entrando eles próprios, o que seria mais proveitoso para eles e para a doutrina. Em nome da caridade evangélica inscrita em sua bandeira; em nome dos interesses do Espiritismo, nós os concitamos a evitar tudo quanto possa estabelecer uma barreira entre eles e a Sociedade. Agora que o progresso moral tende a reduzir as que dividem os povos, o Espiritismo não deve erigi-las; sua essência é de penetrar em toda parte; sua missão, melhorar tudo o que existe; ele nisso falharia se se isolasse.
Devendo, pois, ser individual a beneficência, e neste caso, sua ação não será mais limitada do que se for coletiva? A beneficência coletiva tem vantagens incontestáveis, e longe de censurá-la nós a encorajamos. Nada mais fácil do que praticá-la nos grupos, recolhendo por meio de cotizações regulares ou de donativos facultativos os elementos de um fundo de socorro. Mas então, agindo num círculo restrito, o controle das verdadeiras necessidades é fácil; o conhecimento que delas se pode ter permite uma distribuição mais justa e mais proveitosa. Com uma módica quantia, bem distribuída e dada com discernimento, podem ser prestados mais serviços reais do que com uma grande soma dada sem conhecimento de causa e por assim dizer ao acaso. É, pois, necessário dar-se conta de certos detalhes, se não se quiser gastar seus recursos sem proveito. Ora, compreende-se que tais cuidados seriam impossíveis se se operasse em vasta escala. Aqui nada de dédalo administrativo, nada de pessoal burocrático. Algumas pessoas de boa vontade, e eis tudo.
Não podemos senão encorajar com todas as forças a beneficência coletiva nos grupos espíritas. Nós conhecemos alguns em Paris, no interior e no Estrangeiro, que são fundados, senão exclusivamente, pelo menos principalmente com esse objetivo, e cuja organização nada deixa a desejar. Lá, membros dedicados vão a domicílio inquirir dos sofrimentos e levar o que às vezes vale mais do que os socorros materiais: as consolações e o encorajamento. Honra a eles, porque bem merecem do Espiritismo! Que cada grupo assim haja em sua esfera de atividade, e todos juntos realizarão maior soma de bens do que uma caixa central quatro vezes mais rica.

terça-feira, 9 de julho de 2013

A Escolha de Dirigentes Espíritas

A Escolha de Dirigentes Espíritas

Após socorrer-se da imagem do corpo humano como modelo integrado e funcional de uma instituição, Paulo propõe aos discípulos de Corinto a seguinte distribuição de tarefas:

* apóstolos,
* médiuns psicofônicos (profetas),
* expositores (mestres),
* médiuns de cura para doenças orgânicas (milagres),
* médiuns de cura para distúrbios mentais e emocionais (dom de cura),
* trabalhos de assistência social, *
* trabalhos administrativos,
* médiuns xenoglóssicos (dom de línguas).
* Destaca-se que a função, digamos, gerencial da instituição ficou posta em sétimo lugar, numa hierarquia de oito atividades específicas, nas quais avulta o exercício de bem definidas faculdades mediúnicas.

É claro o recado: Paulo deseja as tarefas administrativas reduzidas a um mínimo indispensável e que não se sobreponham às demais, que considera prioritárias, embora ele insista na importância de cada uma para o conjunto, cabendo aos apóstolos, como trabalhadores diretos da palavra do Cristo, a indiscutível liderança do grupo, sempre que presentes.
Lamentavelmente, contudo, os administradores das comunidades – núcleo central da futura classe sacerdotal – não se conformavam com esse posicionamento que, praticamente, nenhum poder lhes conferia, e trataram de manobrar para subverter a escala de valores do Apóstolo dos Gentios. Para encurtar uma longa história: decorrido não mais que um século, eles estavam no topo da estrutura, uma vez que os ocupantes iniciais dessa posição – os apóstolos – já haviam partido, e os médiuns haviam sido, pouco a pouco, silenciados.
Por outro lado, a partir de certo momento, a Igreja Primitiva optou pelo critério quantitativo, que produzia massas maiores de manobrar. Acontece que os núcleos de poder atraem precisamente aqueles que buscam o exercício do poder e não os que desejam contribuir com a sua modesta parcela de trabalho, mas não se sentem fascinados pelo mando. O resultado foi o que se viu e ainda se vê: uma instituição rigidamente hierarquizada, volumosa pirâmide de poder civil, econômico, social e político, na qual pouco espaço resta – se é que resta – para implementação do ideário do Cristo, que teria de ser, necessariamente, a prioridade absoluta do sistema.
Essas reflexões ocorrem a propósito de situações semelhantes ou muito parecidas, que estamos testemunhando no movimento espírita contemporâneo, com disputas entre os que desejam entrar e os que não querem sair, mesmo após 20 ou 30 anos de comando. Em alguns desses casos, segundo sabemos, a regra é uma espécie de vitalidade que vai aos extremos da intenção dinástica.
Esboçam-se, em tais casos, verdadeiras campanhas, segundo modelos político-partidários, nos quais figura, com destaque, intensa atividade promocional desta ou daquela chapa. Confesso, contudo, certo desconforto, quando percebo um açodamento maior e uma paixão mais intensa nas campanhas que se travam, às claras e nos bastidores, em torno de certos postos de comando administrativo. E, principalmente, de um travo meio estranho de azedume e hostilidade entre as diversas facções.
Se eu tivesse de votar, gostaria de conhecer, com antecedência, a verdadeira motivação dessas pessoas, o que de fato pretendem fazer uma vez assumidas as funções para as quais forem eventualmente escolhidas, e que tipo de contribuição se comprometem a dar, não apenas no trato da Doutrina. Isto se pode aferir com a possível aproximação, ainda que não com a precisão desejável, pelo que as pessoas empenhadas na disputa tenham dito, escrito ou realizado, no passado, e as posturas que hajam assumido como espíritas, dentro e fora do movimento. É claro que, uma vez que os eleitores as escolhem e elas assumem os cargos, é o consenso resultante de cada um que vai determinar os rumos da ação administrativa, mas não apenas isso, e, principalmente, de que maneira será tratada a Doutrina dos Espíritos, da qual o movimento é apenas o corpo físico?
Se me concedem, pois, o modesto direito de sugerir ou opinar sobre algo, deixem-me pedir aos companheiros que escolhem dirigentes no movimento espírita um momento de silêncio interior, de serena meditação, de lúcida avaliação, uma cuidadosa preparação, a fim de que possam exercer com plena consciência de suas responsabilidades o direito de decidir a quem serão entregues as tarefas administrativas e representativas do movimento espírita.
O voto de cada um pode acarretar inesperadas conseqüências, a curto, médio ou a longíssimo tempo, tanto na sustentação do Espiritismo enquanto Doutrina, que traz em si as matrizes ideológicas do futuro, como tentativa frustrada (mais uma!) de implementar um modelo racional e inteligente a promover as reformas éticas de que tanto necessita a civilização moderna.

Hermínio C. de Miranda

sábado, 15 de junho de 2013

Reflexões sobre o Centro Espírita

Reflexões sobre o Centro Espírita

Autor: J. Herculano Pires

Se os espíritas soubessem o que é o Centro Espírita, quais são realmente a sua função e a sua significação, o Espiritismo seria hoje o mais importante movimento cultural e espiritual da Terra.

Temos no Brasil – e isso é um consenso universal – o maior, mais ativo e produtivo movimento espírita do planeta. A expansão do Espiritismo em nossa terra é incessante e prossegue em ritmo acelerado. Mas o que fazemos, em todo este vasto continente espírita, é um imenso esforço de igrejificar o Espiritismo, de emparelhá-lo com as religiões decadentes e ultrapassadas, formando por toda parte núcleos místicos e, portanto fanáticos, desligados da realidade imediata. Dizia o Dr. Souza Ribeiro, de Campinas, nos últimos tempos de sua vida de lutas espíritas: "Não compareço a reuniões de espíritas rezadores! "E tinha razão, porque nessas reuniões ele só encontrava turba dos pedintes, suplicando ao Céu ajuda.

Ninguém estava ali para aprender a Doutrina, para romper a malha de teia de aranha do igrejismo piedoso e choramingas. A domesticação católica e protestante criara em nossa gente uma mentalidade de rebanho. O Centro Espírita tornou-se uma espécie de sacristia leiga em que padres e madres ignorantes indicavam aos pedintes o caminho do Céu. A caridade esmoler, fácil e barata, substituiu as gordas e faustosas doações à Igreja. Deus barateara a entrada a entrada do Céu, e até mesmo os intelectuais que se aproximam do Espiritismo e que tem o senso crítico, se transformam em penitentes. Associações espíritas, promissoramente organizadas, logo se transformam em grupos de rezadores pedinchões. O carimbo da igreja marcou fundo a nossa mentalidade em penúria. Mais do que subnutrição do povo, com seu cortejo trágico de endemias devastadoras, o igrejismo salvacionista depauperou a inteligência popular, com seu cortejo de carreirismo político – religioso, idolatria mediúnica, misticismo larvar, o que é pior, aparecimento de uma classe dirigente de supostos missionários e mestres farisaicos, estufados de vaidade e arrogância. São os guardiães dos apriscos do templo, instruídos para rejeitar os animais sacrificiais impuros, exigindo dos beatos a compra de oferendas puras nos apriscos sacerdotais. Essa tendência mística popular, carregada de superstições seculares, favorece a proliferação de pregadores santificados, padres vieiras sem estalo, tribunos de voz empostada e gesticulação ensaiada. Toda essa carga morta esmaga o nosso movimento doutrinário e abre as suas portas para a infestação do sincretismo religioso afro-brasileiro, em que os deuses ingênuos da selva africana e das nossas selvas superam e absorvem o antigo e cansado deus cristão.

Não há clima para o desenvolvimento da Cultura Espírita. As grandes instituições Espíritas Brasileiras e as Federações Estaduais investem-se por vontade própria de autoridade que não possuem nem podem possuir, marcadas que estão por desvios doutrinários graves, como no caso do roustainguismo da FEB e das pretensões retrógradas de grupelhos ignorantes de adulterados. Teve razões de sobra André Dumas, do Espiritismo Francês, em denunciar recentemente, em entrevista à revista Manchete, a situação católica e na verdade de anti-espírita do Movimento Espírita brasileiro. A domesticação clerical dos espíritas ameaça desfibrar todo o nosso povo, que por sua formação igrejeira tende a um tipo de alienação esquizofrênica que o Espiritismo sempre combateu, desde a proclamação de fé racional contra a fé cega e incoerente, submissa e farisaica das pregações igrejeiras.

Jesus ensinou a orar e vigiar, recomendou o amor e a bondade, pregou a humanidade, mas jamais aconselhou a viver de orações e lamúrias, santidade fingida, disfarçada em vãs aparências de humildade, que são sempre desmentidas pelas ambições e a arrogância incontroláveis do homem terreno.

Para restabelecermos a verdade espírita entre nós e reconduzirmos o nosso movimento a uma posição doutrinária digna e coerente, é preciso compreender que a Doutrina Espírita é um chamado viril à dignidade humana, à consciência do homem para deveres e compromissos no plano social e no plano espiritual, ambos conjugados em face das exigências da lei superior da Evolução Humana. Só nos aproximaremos da angelitude, o plano superior da Espiritualidade, depois de nos havermos tornado Homens.

Os espíritas atuais, na sua maioria, tanto no Brasil como no mundo, não compreenderam ainda que estão num ponto intermediário da filogênese da divindade. Superando os reinos inferiores da Natureza, segundo o esquema poético de Léon Denis, na seqüência divinamente fatal de Kardec: mineral, vegetal, animal e homem, temos o ponto neutro de gravidade entre duas esferas celestes, e esse ponto é o que chamamos ESPÍRITA. As visões fragmentárias da Realidade se fundem dialeticamente na concepção monista preparada pelo monoteísmo. Liberto, no ponto neutro, da poderosa reação da Terra, o espírita está em condições de se elevar ao plano angélico. Mas estar em condições é uma coisa, e dar esse passo para a divindade é outra coisa. Isso depende do grau de sua compreensão doutrinária e da sua vontade real e profunda, que afeta toda a sua estrutura individual. Por isso mesmo, surge então o perigo da estagnação no misticismo, plano ilusório da falsa divindade, que produz as almas viajoras de Plotino, que nada mais são do que os espíritos errantes de Kardec. Essas almas se projetam no plano da Angelitude, mas não conseguem permanecer nele, cedendo de novo a atração terrena da encarnação.

Muitas vezes repetem a tentativa, permanecendo errantes entre as hipóstases do Céu e da Terra. Plotino viu essa realidade na intuição filosófica e na vidência platônica. Mas Kardec a verificou em suas pesquisas espíritas, escudadas na observação racional dos fatos. Apoiado na Razão, essa bússola do Real, ele nos livrava dos psicotrópicos do misticismo, oferendo-nos a verdade exata da Doutrina Espírita. Nela temos a orientação precisa e segura dos planos ou hipóstases superiores, sem o perigo dos ciclos muitas vezes repetidos do chamado Círculo Vicioso das Reencarnações, que os ignorantes pretendem opor à realidade incontestável da reencarnação. Pois se existe esse círculo vicioso, é isso bastante para provar o processo reencarnatório. O vício não está no processo, mas na precipitação dos homens e dos espíritos não devidamente amadurecidos, que tentam forçar a Porta do Céu.

Se no Brasil sofremos os prejuízos do religiosismo ingênuo de nossa formação cultural, na França e nos demais países europeus -segundo as próprias declarações de André Dumas – o prejuízo provém de um cientificismo pretensioso, que despreza a tradição francesa da pesquisa científica espírita, procurando substituí-la pelas pesquisas e interpretações parapsicológicas. Esse menosprezo pedante pelo trabalho modelar de Kardec levou o próprio Dumas a desrespeitar a tradição secular da Revue Spirite, transformando-a num simulacro da revista científica do Ano 2.000. As pesquisas da parapsicologia seguiram o esquema de Kardec e foram cobrindo no tempo, sucessivamente, todas as conquistas do sábio francês. Pegada por pegada, Rhine e seus companheiros cobriram o rastro científico de Kardec. O mesmo já acontecera com Richet na metapsíquica, com Crookes e Zollner e todos os demais. Toda a pesquisa psíquica honesta é válida, nesse campo, até mesmo a dos materialistas russos atuais ficaram presas ao esquema de Kardec, o que prova a validade irrevogável desta. Começando pela observação dos fenômenos físicos, todas as Ciências Psíquicas, nascidas do Espiritismo fizeram a trajetória fatal traçada pelo gênio de Kardec e chegaram as suas mesmas conclusões.

As discordâncias interpretativas foram sempre marcadas indelevelmente pelos preconceitos e as precipitações da advertência de Descartes no Discurso do Método e pela sujeição aos interesses das Igrejas, como Kardec já assinalara em seu tempo. A questão da terminologia é puramente supérflua, e como dissera Kardec, serve apenas para provar a leviandade do espírito humano, mesmo dos sábios, sempre mais apegado à forma que ao fundo do problema. No Espiritismo o quadro fenomênico foi dividido por Kardec em duas seções: Fenômenos Físicos e Fenômenos Inteligentes. Na Metapsíquica, Richet apresentou o esquema de Metapsíquica objetiva e Metapsíquica subjetiva. Na Parapsicologia os fenômenos espíritas passaram a chamar-se Fenômeno Psi, com divisão de Psicapa ( objetivos ) e Psigama ( subjetivos ). Quanto aos métodos de pesquisa, Crookes e Richet ativeram-se à metodologia científica da época, e Rhine limitou-se a passar dos métodos qualitativos para os quantitativos, inventando aparelhagens apropriadas aos processos tecnológicos atuais, apelando à estatística como forma de controle e comprovação dos resultados, o que simplesmente corresponde às exigências atuais nas Ciências.

Kardec teve a vantagem de haver acentuado enfaticamente a necessidade de adequação do método ao objeto específico da pesquisa. O próprio método hipnótico de regressão da memória, para as pesquisas da reencarnação aplicado por Albert De Rochas do século passado, foi aproveitado pelo Prof. Vladimir Raikov. Na Romênia, o preconceito quanto ao Espiritismo gerou uma nova denominação para Parapsicologia: Psicotrônica. Com esse nome rebarbativo, os materialistas romenos pretendem exorcizar os perigos de renascimento espírita em seu país.

Todos esses fatos nos mostram que a Doutrina Espírita não chegou ainda a ser conhecida pelos seus próprios adeptos em todo o mundo. Integrado no processo doutrinário de trabalho e desenvolvimento, o Centro Espírita carecia até agora de um estudo sobre as suas origens, o seu sentido e a sua significação no panorama cultural do nosso tempo. É o que procuramos fazer neste volume, com as nossas deficiências, mas na esperança de que outros estudiosos procurem completar o nosso esforço. Lembrando o Apóstolo Paulo, podemos dizer que os espíritas estão no momento exato em que precisam desmamar das cabras celestes para se alimentarem de alimentos sólidos. Os que desejam atualizar a Doutrina, devem antes cuidar de se atualizarem nela.

Livro: O Centro Espírita