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terça-feira, 11 de setembro de 2012

MATEUS, 16º, 13 ao 20. — MARCOS, 8º, 27 ao 30. — LUCAS, 9º, 18 ao 21. Palavras de Jesus confirmativas da reencarnação. — Alusão de relações mediúnicas que podem existir entre os homens e as potências espirituais. — Missão de Pedro na igreja do Cristo. — Verdadeira confissão



MATEUS: capítulo 16º, versículo 13. Chegando às cercanias de Cesaréia
de Filipe Jesus perguntou a seus discípulos: Que é o que os homens dizem do
filho do homem? — 14. Eles responderam: Uns dizem que é João Batista;
outros que é Elias; outros, que é Jeremias ou um dos profetas. — 15. Jesus
lhes perguntou: E vós quem dizeis que eu sou? 16. Simão Pedro respondeu: és
o Cristo, filho do Deus vivo. — 17. Jesus respondeu: Bem-aventurado és,
Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne nem o sangue que Isso te
revelaram, mas meu pai que está nos céus. — 18. E eu te digo que és Pedro e
que sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; e contra ela não prevalecerão
as portas do inferno. 19. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; e tudo o que
ligares na Terra será também ligado no céu e o que desligares na Terra será
desligado nos céus. — 20. Ordenou em seguida aos discípulos que a ninguém
dissessem ser ele Jesus o Cristo.
MARCOS: capítulo 8º, versículo 27. Jesus partiu daí com seus discípulos
para as aldeias dos arredores de cesaréia de Filipe e pelo caminho lhes
perguntava: Quem dizem os homens que eu sou? — 28. Responderam eles:
Uns dizem que João Batista; outros que Elias; outros que um como os profetas.
29. Disse-lhes então: Mas, vós, quem dizeis que eu sou? Pedro, respondendo,
disse: és o Cristo. — 30. E ele lhes proibiu que o dissessem a pessoa alguma.
LUCAS: capítulo 9º, versículo 18: Sucedeu que um dia, estando de parte a
orar rodeado de seus discípulos, Jesus lhes perguntou: Quem diz o povo que
eu sou? — 19. Eles responderam: uns — João Batista: outros — Elias; outros
— algum antigo profeta que ressuscitou. — 20. Disse-lhes ele: E vós quem
dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu: O Cristo de Deus. — 21. Ele então
lhes proibiu muito expressamente que o dissessem a pessoa alguma. (105)
Estas passagens têm um duplo fim, que muito importantes as tornam:
lembrar aos homens o princípio da reencarnação e não deixar esquecessem as
relações medíúnicas que podem existir entre eles e as entidades espirituais.
Jesus firmava assim o que mais tarde viria a ser posto em evidência, explicado
e desenvolvido, em espírito e verdade, pela Nova Revelação.
Com efeito, as perguntas formuladas pelo Divino Mestre sobre o que
pensavam dele as gentes e as respostas que lhe foram dadas mostram não só
que a opinião geral lhe atribuia uma origem espiritual anterior àquela sua vida
terrena, vendo nesta uma existência nova num novo corpo, o que envolvia a
idéia da preexistência da alma e da reencarnação, como também que os
hebreus sabiam, embora confusamente, pelas tradições conservadas, que o
homem pode voltar muitas vezes à Terra, para concluir uma obra começada e
interrompida pela morte humana.
Ora, não contestando a opinião segundo a qual Ele podia ser a
reencarnação de um Espírito, como o de Elias, João, ou outro, Jesus confirmou
a hipótese do renascimento, perguntando: E vós quem dizeis que eu sou? —
hipótese que também confirmou no seu colóquio com Nicodemos.
“Se a crença de reviver na Terra, diz o autor da Divina Epopéia, sob o
nome de ressurreição, a que hoje, pela revelação nova, chamamos
reencarnação, fosse um erro, Jesus, o verbo de Deus, a luz verdadeira que
alumia a todo que vem a este mundo, não teria deixado de combatê-la, como
combateu tantas outras. Ao contrário, Ele a sancionou, proclamando-a como
uma condição necessária e indispensável para o progresso e adiantamento da
Humanidade”.
Não te admires de eu dizer: é necessário que torneis a nascer, observou o
divino Mestre a Nicodemos (Evangelho de João, capítulo 3º, versículo 7). Deste
modo ratificou Ele, conforme acima dissemos, a lei natural do renascimento, da
reencarnação, apresentando-a como uma realidade e realidade ante a qual se
dissipam todas as dúvidas oriundas dos absurdos que, sob a capa do milagre,
pretendem os ortodoxos que admitamos. A reencarnação, pois, o
renascimento, a obrigação que tem o Espírito de reviver, como meio de chegar
ao estado de pureza integral, idéia que já se continha na revelação hebraica,
que constituiu princípio fundamental na revelação messiânica, mas que não foi
apreendida por virtude das interpretações literais a que estiveram sujeitas
essas revelações, constitui hoje, pela revelação nova, que as vem explicar em
espírito, uma verdade axiomática, expressão fiel do pensamento do Mestre
Divino.
E vós quem dizeis que eu sou? — perguntou Jesus a Pedro, que lhe
respondeu: És o Cristo, Filho do Deus vivo, isto é, o Enviado do Senhor.
Retrucando, Jesus lhe fez ver que o conhecimento dessa verdade lhe fora
dado por uma revelação vinda do Pai que está nos céus.
De fato, como podia Pedro saber, para o afirmar com tanta segurança e
firmeza, que Jesus era o Enviado de Deus, se tal coisa lhe não houvera sido
revelada? E de que modo pudera ter tido essa revelação, a não ser por uma
inspiração mediúnica? Ë claro que, na ocasião, ele foi apenas o instrumento
que serviu para a revelação de uma verdade, ou de um médium falante.
Logo, podemos e devemos concluir não só que Pedro era médium, como
que já então se davam essas revelações a que a Doutrina Espírita chama
mediúnicas.
Efetivamente, dotado de uma organização física bastante maleável para se
prestar a todas as influências mediúnicas, Espírito intelectualmente mais
adiantado do que os dos outros apóstolos, Pedro era, dentre estes, o que
possuía em maior extensão e poder os dons da mediunidade. Era, pois, o que
mais se prestava a servir de pedra fundamental para a construção da Igreja do
Cristo: “E eu te digo que és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”.
Quer isto dizer que sobre a mediunidade é que assenta essa Igreja, que
assim repousa em alicerce inabalável, porqüanto a faculdade que aquele
apóstolo possuía havia de espalhar-se, como realmente aconteceu e está
acontecendo, mais do que nunca, nos tempos atuais, sem que o menor dano
lhe possam causar os ódios sectaristas, nem os interesses de qualquer
natureza: “contra ela não prevalecerão as portas do inferno”.
Assim sendo, é claro que todos os verdadeiros espíritas e, sobretudo, os
médiuns sinceros e humildes servirão para aquela construção, trazendo-lhe
cada um a sua pedra.
E, de tal modo, eles poderão, como Pedro, espalhando de mais em mais,
em torno de si, a luz que forem recebendo, ligar também e desligar na Terra,
certos de que o Senhor ligará e desligará no céu.
Não quer isso dizer, está visto, que o homem, quem quer que ele seja,
tenha o poder de absolver ou condenar, proferindo sentenças das quais não
haja apelação, nem mesmo para Deus. Quer unicamente significar que, conservando
a integridade da alma e a pureza do coração, obtendo, em
conseqüência e cada vez mais, as luzes que trazem os bons Espíritos, se
tornarão também cada vez mais aptos a julgar das coisas da Terra e das
coisas do céu, a dirigir pelo bom caminho os outros homens, a distinguir com
segurança os que se desviam e os que marcham fiéis e a poder fazer-lhes
sentir isso, sem perigo de erro.
E não se argumente tampouco com as palavras de Jesus declarando Pedro
a pedra fundamental da sua Igreja, para sustentar-se a infalibilidade do papa,
chamado o sucessor daquele apóstolo e o vigário exclusivo do Cristo na Terra.
Aquelas palavras foram especialmente dirigidas a Pedro que, Espírito
adiantado e devotado e, além disso, excelente instrumento mediúnico,
conforme já dissemos, dispunha, por ser da vontade de Jesus e graças aos
Espíritos superiores que o assistiam, de uma perspicácia, que não podemos
avaliar com exatidão. Sua visão penetrante descia ao fundo das consciências,
sondava os mais íntimos pensamentos e constante era a sua comunicação
com os emissários divinos. Ora, achando-se em tais condições, ao seu alcance
estava ligar e desligar na Terra (o que também se pode traduzir por admitir ou
não na Igreja do Cristo que, em sua origem, era simples reunião de fiéis, os
que se propunham a ingressar nela), visto que não fazia mais do que
pronunciar, em voz humana, os decretos que espiriticamente lhe eram
transmitidos.
Digam-nos, porém: quantos Pedros já se contaram entre os que se hão
instituído seus sucessores?
Se os dons, as virtudes e os demais predicados por que Pedro se distinguia
entre os discípulos não eram inerentes à sua individualidade, mas ao encargo
que o Mestre lhe conferiu de pastorear o pequeno rebanho que formava a
primitiva Igreja Cristã, nem só nenhuma razão haveria para que fosse ele o
escolhido e não outro, nem com os que se disseram seus sucessores se teriam
dado os fatos que a história dos Papas e dos Concílios registra, fatos que mais
ou menos continuam a reproduzir-se e que explicam o desprestígio da Igreja de
Roma, que tende a desaparecer. Não vêem os homens do Silabo, dos dogmas
impostos pelo terror das fogueiras e dos martírios que, numa época como a
atual, em que a razão se emancipa de todas as tutelas, já não é possível a
imposição da fé cega?
Não, as coisas vão mudar. Passado o tempo das fogueiras e dos
apavorantes anátemas, despojado o Chefe da Igreja do poder temporal, que
mal e indevidamente exercia, porque o Mestre disse: Regnum meum non est in
hoc mundo (106), o prestígio, o poder, o reinado daquele que queira ser ou
haja de ser sucessor de Pedro somente poderão demonstrar-se pela caridade,
pela humildade, pelo desinteresse, pela mansidão e abnegação, que foram as
armas com que o Manso Cordeiro de Deus apeou potentados e derrocou
tronos de déspotas, a todos se sobrepondo pela exemplificação daquelas
virtudes sublimes. Mesmo, porém, que um homem aparecesse revestido de
tais virtudes, ainda assim não poderia, só por isso, considerar-se sucessor de
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Pedro, que não mostrou apenas possuí-las, mas se distinguiu entre os demais
discípulos, muito embora estes também fossem exemplificadores dos
ensinamentos de Jesus.
Não, Pedro não teve, nem tem sucessor na Terra. Quem pudera ou pode
haver sucedido a esse altíssimo Espírito, que preside ao progredir da fé, ao
desenvolvimento da inteligência, ao cumprimento das promessas de Jesus?
Ele continuou e continua no desempenho da sua missão espiritual, depois de
haver desempenhado a sua missão humana. Desempenhando esta última, deu
princípio, com o concurso dos outros apóstolos e dos discípulos que se lhe
associaram, à edificação da Igreja do Cristo e, desempenhando a sua missão
espiritual, prossegue na execução desta obra e a concluirá.
E as portas do inferno não prevalecerão contra ela, porque, sendo a Igreja
do Cristo o conjunto dos filhos do Senhor, não será atingido pelo sofrimento e
pela expiação aquele que, tendo sabido manter a integridade do coração e da
alma, se esforçou por cumprir, segundo a lei divina, todas as suas obrigações,
todos os seus deveres, para com Deus e para com os homens.
Pedro foi um discípulo enérgico, devotado, fiel até à morte. Quem quer que
construa sobre tal base não terá que temer as portas do inferno.
Dar-te-ei as chaves do reino dos céus, isto é: o conhecimento exato dos
meios de chegar à perfeição moral.
Essas chaves a Igreja de Roma desprezou e deixou se perdessem. De
modo algum, portanto, pode o seu chefe considerar-se sucessor do grande
apóstolo. Detenha-se ela no caminho errado por onde funestamente
enveredou, volte ao verdadeiro caminho e continue a percorrê-lo do ponto até
onde chegaram Pedro e os apóstolos, os discípulos e seus primeiros
imitadores, que achará a Igreja do Cristo cuja edificação eles começaram e que
o Espírito da Verdade vem, progressivamente, ampliar e concluir.
Compreenda ela o sentido verdadeiro das palavras que Jesus dirigiu a
Pedro e aos Apóstolos, sentido que espiriticamente é hoje revelado pelos
enviados do Mestre Divino, e, então, como os verdadeiros espíritas, também
trabalhará, inspirada pelo Espírito da Verdade, na edificação da Igreja do
Cristo. Só então poderá, realmente, ligar e desligar — o que, bem entendido,
não quer dizer absolver ou condenar seus irmãos — mas tornar-se, pela
integridade do coração e da alma, pela obtenção das luzes dos bons Espíritos,
atraindo-os por aquela integridade, cada vez mais apta a julgar das coisas da
Terra e das coisas do céu, a dirigir os homens pelo bom caminho, que é o dos
mandamentos que Jesus declarou encerrarem toda a lei e os profetas, e a distinguir
com exatidão os que se desviam e os que marcham fiéis pela senda que
Ele traçou.
(105) JOÃO, 1º, 42; 6º, 69. — 1ª Epístola à João, 4º, 15. — Atos, 8º, 37. —
Hebreus, 1º, 2, 5. — Efésios, 2º, 8. — 1ª Epístola aos Coríntios, 2º, 10. —
Gálatas, 1º, 16. — Apocalipse, 21º, 14. — Isaías, 51º, 16.
(106) Ao nosso ver, a privação do poder temporal, se foi, individualmente,
um mal, ou uma perda sensível para o Sumo Pontífice, não o foi para a
Igreja de que é ele o chefe, visto que redundou no desaparecimento do
que melhor provava não ser essa Igreja a do Cristo. Não sendo deste
mundo o reino do Filho de Deus, sua não podia ser a Igreja cujo reinado
era todo deste mundo. O ter sido despojado daquele poder, valeu, pois.
para a Igreja Romana por uma como galvanização. Graças a isso é queainda
pôde ostentar a aparência de prestígio de que gozou nestes últimos
tempos. Obtendo, como recentemente obteve, em 1929, que lhe
restituíssem o poder temporal é que ela decretou a sua própria e
definitiva condenação, volvendo a oferecer ao mundo, quando no
Espiritismo ressurge o verdadeiro Cristianismo, a demonstração iniludível
de que nela não está o espírito da Doutrina Cristã, de que ela é a antítese
da Igreja Universal do Cristo.

MATEUS, 5º, 27 ao 30. Adultério no coração. Extirpação de todos os maus pensamentos


MATEUS: capítulo 5º, versículo 27. Aprendeste que aos antigos fora dito:
Não cometerás adultério. — 28. E eu te digo que quem quer que olhe para uma
mulher, cobiçando-a, já cometeu adultério no seu coração. 29. Se o teu olho
direito te for motivo de escândalo — arranca-o e atira-o longe de ti, porqüanto
melhor te é que pereça um dos membros do teu corpo do que ser todo este
lançado na geena. — 30. Se a tua mão direita te for motivo de escândalo —
corta-a e atira-a longe de ti, porqüanto melhor te é que pereça um dos
membros do teu corpo do que ir todo este para a geena.

São simbólicas as palavras de Jesus, constantes nestes versículos.
Devemos, pois, procurar-lhes o verdadeiro sentido. Elas têm, primeiramente,
uma acepção de ordem geral, porqüanto visam fazer compreensível que os homens
devem abster-se de toda má palavra, de toda ação má e de todos os
maus pensamentos.
Quanto ao dizer que devem ser arrancado o olho e cortada a mão que se
tornem causa de escândalo, bem se vê que também nesse ponto usou Ele de
uma linguagem figurada, composta de imagens materiais, como convinha aos
Espíritos daquela época. Falando a criaturas materiais, só por meio de tais
imagens podia impressioná-las fortemente.
O ensino moral, que delas decorre, é que não basta nos abstenhamos do
mal; que precisamos praticar o bem e que, para isso, mister se faz destruamos
em nós tudo o que possa ser causa de obrarmos mal, seja por atos, seja por
palavras, seja por pensamentos, sem atendermos ao sacrifício que porventura
nos custe a purificação dos nossos sentimentos.
Não se estranhe o dizermos que podemos obrar mal pelo pensamento.
Embora ela não exista perante os homens, porque estes não percebem o que
se passa no íntimo do Espírito, incorre em falta, aos do Senhor, tanto quanto se
praticasse uma ação má, aquele que formula um mau pensamento, porque. o
Senhor, que lê o íntimo dos seres, vê a mácula que na alma produz um pensamento
mau e toda mácula significa que a criatura se afastou do seu Criador.
Daí vem o ser a concupiscência, no dizer de Jesus, equiparada ao
adultério. Para Deus, o Espírito, em quem ela se manifestou, cometeu falta
Idêntica à em que teria caído, se houvera consumado o adultério, mesmo
porque, as mais das vezes, só uma dificuldade material qualquer impede que o
pensamento concupiscente se transforme em ato.

LUCAS, 13º, 10 ao 13. Mulher doente, curvada


LUCAS: capítulo 13º, versículo 10. Certo sábado em que Jesus ensinava
numa das sinagogas deles, — 11, veio aí ter uma mulher possessa de um espírito
de enfermidade que a tornara doente, havia dezoito anos. Tão curvada era
que absolutamente não podia olhar para cima. — 12. Vendo-a, Jesus a
chamou e lhe disse: “Mulher, estás livre da tua doença.” — 13. E, Impondo-lhe
as mãos, ela se endireitou no mesmo Instante e rendeu graças a Deus.
Os judeus atribuíam a satanás, isto é, aos Espíritos, tudo o que não
podiam compreender, nem explicar. Daí o empregarem muitas vezes o termo
— “possessão” — referindo-se a casos que eram apenas de — doente.
O de que falam os versículos acima era um destes, de simples doença.
Verifica-se isso, notando-se o seguinte: ao passo que o Evangelista, de acordo
com o modo de ver de então e usando da linguagem então corrente, diz que a
mulher estava possessa de um “espírito de enfermidade” — spiritum infirmitatis
— Jesus, quando se lhe dirige, apenas diz: Mulher, estás livre da tua enfermidade
— “ab infiírmitate tua”. Entretanto, quando o caso era de possessão,
isto é, de obsessão, de subjugação, Ele intimava o Espírito obsessor a que se
afastasse.
Aquela mulher sofria de um amolecimento da medula espinhal e, como
conseqüência, de enfraquecimento da coluna vertebral, pelo que não podia
levantar o busto.
A cura se operou por efeito da aplicação, que Jesus lhe fez, mediante uma
ação espírito-magnética, ou de magnetismo espiritual, de fluídos apropriados a
restituir ao órgão enfraquecido a força de que carecia.
A natureza desses fluídos, bem como suas propriedades atuantes nos são
desconhecidas e ainda não estamos em condições de os poder conhecer.
Pelos efeitos, porém, que conhecemos e que, de boa-fé, são incontestáveis, do
“magnetismo humano”, podemos até certo ponto imaginar quais os que
produzirá o “magnetismo espiritual”, quando aplicado por um Espírito de
sublimada pureza e, portanto, de inexcedível poder, como o de Jesus.
Aliás, dos efeitos da aplicação desse magnetismo (espiritual), em toda a
sua amplitude, já podemos fazer idéia mais ou menos aproximada, sem
recorrermos à comparação com os que resultam da do magnetismo humano,
somente observando o que se passa nas sessões espíritas bem orientadas,
onde os nossos guias, embora se nos conservem invisíveis, secundam por
essa forma a nossa ação, desde que objetivamos dar alívio a um irmão nosso e
que para eles apelamos pela prece feita com fervor e fé.
Vê-se assim que nos corre o dever de estudar e praticar com ardor,
desinteresse e perseverança essa ciência celeste, que o Senhor nos confiou,
precioso tesouro que nos facultará fazer obras análogas às que Ele fez, o que
lograremos com o tempo, a continuidade do esforço, o desprendimento da
matéria e a assistência dos nossos guias e, em geral, dos espíritos de eleição.
Acrescentemos que o fato evangélico que apreciamos encerra um outro
ensinamento da maior importância, sobre o qual muito devemos meditar, para
o aproveitarmos bem, de modo a corrigirmos uma tendência que se vai
prejudicialmente generalizando. Essa tendência é a de atribuir-se toda e
qualquer doença a uma atuação de Espíritos e o ensino consiste em que
devemos examinar cuidadosamente cada caso que se nos apresente, a fim de
não confundirmos os que sejam de simples enfermidade com os em que os
sofrimentos decorrem, principalmente, da ação de espíritos malfazejos, por
índole, ou por inconsciência.

Kardec e a Bíblia

Kardec e a Bíblia

A Bíblia é um dos livros mais conhecidos de todos os povos. É sem dúvida um dos maiores sucessos editoriais de todos os tempos, pois trata-se de um dos livros mais vendidos em toda historia da humanidade e um dos mais traduzidos para vários idiomas.[1]
Em todos os tempos estudiosos se debruçaram sobre seus os textos para analisá-los. Textos estes que foram sempre motivos de muitas contradições e já geraram, e ainda hoje são, responsáveis por guerras de grandes conseqüências.
Sempre existiram aqueles que a interpretaram em seu sentido literal, outros ao contrário, viram em suas narrativas alegorias, e buscaram extrair destas alegorias um ensinamento moral mais profundo e de grande alcance. Há ainda os que sempre a tiveram por uma revelação divina escrita pelo próprio Criador de todas as coisas que assumira em vários momentos nomes distintos.
Hoje, historiadores e cientistas conseguem fazer um apanhado mais próximo da realidade e com o avanço da crítica textual definem autores, datas, e a origem de textos, com maior precisão e com menores chances de erro, porém, as polêmicas continuam porque o sentido velado destes mesmos textos, afirmam alguns, só podem ser percebidos com os olhos da alma, com a profunda integração dos estudiosos com as forças transcendentais da vida e com um estudo minucioso de cada palavra ali contida com um objetivo, mesmo que este, por origem divina, tenha passado despercebido até mesmo de seus autores físicos.
Este livro influenciou muitos povos, fez história, ergueu e destruiu impérios, marcou constituições e determinou atitudes políticas em todos os tempos.
Em nosso movimento espírita não têm sido menos polêmicos os estudos de seu conteúdo, e até com certa descrença alguns espíritas têm perguntado: “deve o espírita estudar a Bíblia?” Outros têm ido mais além respondendo que não, e há ainda aqueles, apesar de minoria, que não concordam nem mesmo com o estudo do Novo Testamento, dizendo que bastam as anotações do Codificador do espiritismo em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.
A estes dirigimos estas linhas dizendo que estão eles em grande contradição com os próprios textos básicos de nossa literatura espírita, pois estes informam-nos claramente ser o espiritismo uma filosofia cristã, e que Jesus é o Guia e Modelo para todos nós que trilhamos o caminho evolutivo traçado por Deus desde a criação de todas as coisas.
O Evangelho Segundo o Espiritismo é uma obra ímpar, de grande importância, e de qualidade incontestável, porém não foi escrito com o objetivo de elucidar todo o conteúdo do Novo Testamento, seu propósito maior foi ampliar, explicando, o conteúdo moral do Evangelho de Jesus e fazer uma conexão deste com a revelação dos Espíritos Superiores.
Além de O Evangelho Segundo o Espiritismo, que é o livro mais conhecido da literatura espírita, Kardec responde a esta nossa questão de que se deve a Bíblia ser estudada pelos espíritas em vários outros textos contidos na codificação.
É preciso antes de tudo lembrar que Kardec foi um cientista, um educador e um sábio de seu tempo, e deste modo, e por fazer tudo isso com uma competência tal que o projetou para muito além de seus dias, não se viu impedido de aceitar desafios; desta feita estudou minuciosamente não só a Bíblia como textos sagrados de várias outras filosofias religiosas ponderando com saber e lógica sobre as contradições de cada um e de seu sentido espiritual mais profundo.
Já na questão 59 de O Livro dos Espíritos disserta sobre colocações bíblicas a respeito da Criação com considerações que devem ser ponderadas por todos nós.
Como introdução a estas questões, na pergunta de nº 50, questiona sobre o início da humanidade no orbe induzindo os Espíritos a falarem sobre o figura mítica de Adão, figura esta bem colocada para todos nós nos primeiros movimentos do livro Gênesis atribuído até então, a Moisés.
Os Espíritos informam a Kardec que Adão não foi o primeiro nem o único homem a povoar a Terra àquele tempo, e dizem mais:

“O homem, cuja tradição se conservou sob o nome de Adão, foi dos que sobreviveram, em certa região, a alguns dos grandes cataclismos que revolveram em diversas épocas a superfície do globo, e se constituiu tronco de uma das raças que atualmente o povoam. As leis da Natureza se opõem a que os progressos da Humanidade, comprovados muito tempo antes do Cristo, se tenham realizado em alguns séculos, como houvera sucedido se o homem não existisse na Terra senão a partir da época indicada para a existência de Adão."[2]

Como dissemos, na questão 59 Kardec amplia, fruto de seus estudos, os comentários sobre colocações bíblicas concernentes à Criação, dizendo que a Bíblia, se interpretada literalmente, erra não só quanto a Adão não ser o primeiro e único homem que originou a humanidade, como também comenta sobre a impossibilidade de ter sido criado o mundo em seis dias de vinte quatro horas apenas; e também sobre a questão do movimento da Terra, que, em determinada época, pareceu se opor aos textos bíblicos que a viam imóvel, além de outras questões importantes sobre quando se deu o início da criação, que o Gênesis situa há quatro mil anos antes de Cristo, e que a ciência mostra ser inverossímil esta data, pela anterioridade de fósseis encontrados que datavam de tempo muito anterior a este.
Depois de pormenorizados comentários a respeito deste tema e de outros, Kardec conclui perguntando:
Dever-se-á daí concluir que a Bíblia é um erro?
Ao que ele mesmo com a sabedoria e o bom senso que lhe eram peculiares responde:

"Não; a conclusão a tirar-se é que os homens se equivocaram ao interpretá-la."[3]

Mostrando para todos nós que deveríamos estudar a Bíblia, como ele fez, e que caberia aos espíritas reinterpretá-la às luzes da ciência espírita.
Mais adiante, no livro A Gênese, Kardec volta ao tema dizendo:

"De todas as Gêneses antigas, a que mais se aproxima dos modernos dados científicos, sem embargo dos erros que contém, postos hoje em evidência, é incontestavelmente a de Moisés. Alguns desses erros são mesmo mais aparentes do que reais e provêm, ou de falsa interpretação atribuída a certos termos, cuja primitiva significação se perdeu, ao passarem de língua em língua pela tradução, ou cuja acepção mudou com os costumes dos povos, ou, também, decorrem da forma alegórica peculiar ao estilo oriental e que foi tomada ao pé da letra, em vez de se lhe procurar o espírito."[4]

"Sobre alguns pontos, há, sem dúvida, notável concordância entre a Gênese moisaica e a doutrina científica; mas, fora erro acreditar que basta se substituam os seis dias de 24 horas da criação por seis períodos indeterminados, para se tornar completa a analogia. Não menor erro seria o acreditarse que, afora o sentido alegórico de algumas palavras, a Gênese e a Ciência caminham lado a lado, sendo uma, como se vê, simples paráfrase da outra."[5]

Na continuidade deste capítulo XII do mesmo livro A Gênese, Kardec faz uma detalhada comparação entre o que diz a ciência sobre os períodos geológicos de formação planetária e os seis dias da criação conforme as anotações mosaicas, vindo a dizer:

"Desse quadro comparativo, o primeiro fato que ressalta é que a obra de cada um dos seis dias não corresponde de maneira rigorosa, como o supõem muitos, a cada um dos seis períodos geológicos. A concordância mais notável se verifica na sucessão dos seres orgânicos, que é quase a mesma, com pequena diferença, e no aparecimento do homem, por último. É esse um fato importante.
Há também coincidência, não quanto à ordem numérica dos períodos, mas quanto ao fato em si, na passagem em que se lê que, ao terceiro dia, «as águas que estão debaixo do céu se reuniram num só lugar e apareceu o elemento árido». É a expressão do que ocorreu no período terciário, quando as elevações da crosta sólida puseram a descoberto os continentes e repeliram as águas, que foram formar os mares. Foi somente então que apareceram os animais terrestres, segundo a Geologia e segundo Moisés."
[6]

Não é nosso objetivo neste texto singelo fazer comentários mais profundos sobre as considerações de Kardec, nem muito menos acrescentar algo como interpretação dos textos mosaicos, apenas mostrar que o Codificador estudava a Bíblia e nos ensinava como fazer. Deste modo, ele recorre aos termos originais do hebraico várias vezes para melhor compreender a essência do que queriam dizer os autores bíblicos, comenta outros textos como os do dilúvio, da perda do paraíso, nos mostrando ser possível fazer uma exegese fundamentada nos ensinamentos espíritas e assim muito aprender com esta literatura, que diga-se de passagem é de ótima qualidade.
E ainda neste mesmo capítulo de A Gênese reitera o que havia dito em O Livro dos Espíritos:

"Não rejeitemos, pois, a Gênese bíblica; ao contrário, estudemo-la, como se estuda a história da infância dos povos.
Trata-se de uma época rica de alegorias, cujo sentido oculto se deve pesquisar; que se devem comentar e explicar com o auxílio das luzes da razão e da Ciência. Fazendo, porém, ressaltar as suas belezas poéticas e os seus ensinamentos velados pela forma imaginosa, cumpre se lhe apontem expressamente os erros, no próprio interesse da religião. Esta será muito mais respeitada, quando esses erros deixarem de ser impostos à fé, como verdade, e Deus parecerá maior e mais poderoso, quando não lhe envolverem o nome em fatos de pura invenção."
[7]

É sobre o Novo Testamento que Kardec mais se ocupa com interpretações de grande inteligência.
Na introdução de o Evangelho Segundo o Espiritismo mostra que esta obra priorizaria o conteúdo moral dos ensinamentos de Jesus, deixando para outros momentos temas mais polêmicos que podiam dividir as opiniões. Mesmo assim mostra-nos a importância de fazermos uma análise histórica, cultural e sociológica daquele período em que Jesus viveu, e vai mais além, tanto analisando algumas expressões idiomáticas do hebraico, como fazendo uma conexão entre as filosofias de Sócrates e Platão, com os ensinamentos de Jesus e com a Doutrina Espírita que surgia.
Nos livros A Gênese e em Obras Póstumas, obra publicada após o seu desenlace, volta ao tema desta vez analisando à luz do Espiritismo temas, como dissemos anteriormente, mais polêmicos.
No primeiro Kardec analisa os ditos “milagres” feitos por Jesus, como curas, ressurreições, profecias, entre outros. Mostrando-nos que o que foi chamado de milagre nada mais era do que um desconhecimento do homem sobre algumas leis da natureza. Jesus, por ser um Espírito de grande evolução, de alta hierarquia espiritual, tinha conhecimento destas leis e agia consoante a vontade do Pai atuando nas causas dos problemas, atingindo assim resultados incompreendidos pelo ser humano comum
Kardec teve a coragem de dizer sem perder entendimento em matéria de religiosidade, que a Lei Divina não pode ser derrogada nem por Jesus e nem mesmo por Deus, portanto não havia milagres, mas tudo se dava como fruto de ação consciente num nível mais profundo de espiritualidade.
Já no livro Obras Póstumas o Codificador faz um estudo minucioso sobre a natureza de Jesus, mostrando-nos, com maestria, baseado nas próprias palavras do Mestre e na opinião de suas testemunhas vivas, os apóstolos, que Jesus não era Deus, e esta crença que surgiu nos séculos posteriores do cristianismo não tinha fundamentação bíblica e era pura deturpação dos textos originais das escrituras.
Estes textos devem ser meditados e estudados por todos os espíritas como resposta àquela questão que comentamos no início, de que se deve ou não o espírita estudar a Bíblia. Servindo para outros irmãos ligados a outras crenças religiosas para mostrá-los que o Espiritismo além de ser uma filosofia cristã também se preocupa em estudar a Bíblia tendo por exemplo, o seu Codificador.
E mesmo outros estudiosos dos textos sagrados que realizam importantes comentários sobre as escrituras citando historiadores e profitentes de várias crenças, deviam conhecer um pouco mais de Kardec e a sua opinião sobre esta, que como dissemos no início, é uma das obras mais importantes da literatura mundial.
[1] Alguns autores dão como mais seis bilhões de exemplares vendidos e mais de dois mil idiomas em que foram traduzidos os originais.
[2] O Livro dos Espíritos, questão 51
[3] Ibidem, questão 59
[4] A Gênese, cap. IV item 5
[5] Gênese, cap. XII item 3
[6] Ibidem, item 6
[7] Ibidem, item 12

Estudo escrito por Cláudio Fajardo

No Princípio era o Verbo...” (João, 1: 1)

No Princípio

“No Princípio era o Verbo...” (João, 1: 1)

Assim inicia o evangelista o quarto Evangelho. Enquanto outros iniciam apresentando-nos Jesus, a origem de sua família, seu nascimento e as ocorrências deste, o autor de João nos fala da origem profunda do Cristo. Em uma tradução mais fiel, “no princípio: o Logos”.A expressão no princípio, em grego en arkê, em hebraico, beréshit, nos fala de uma origem; alguns analistas têm visto este princípio desvinculado de qualquer idéia de tempo, seria assim atemporal; Deus é eterno e incriado, deste modo a criação seria eterna, algo que jamais começou. Todavia podemos também entender este princípio como um momento escolhido no tempo para iniciar um relato. Dizemos assim, pois desta forma fica mais fácil a compreensão de algo que transcende o nosso entendimento: a origem de tudo.
Assim, temos o princípio de acordo com o estado evolutivo individual de cada um. Para uns a vida começa com o nascimento físico, outros aceitam com facilidade a pré-existência da alma. Entre estes últimos há os que crêem que a vida inteligente só acontece a partir do reino animal ou hominal, entretanto há aqueles que já vêem o princípio inteligente no mineral, ou até mesmo antes deste.
O evangelista escreveu em grego, todavia, pensava em hebraico, daí a importância de analisarmos este beréshit. De que princípio fala o texto, da origem do universo material? Das dimensões tempo e espaço? Ou simplesmente da fundação de nosso Orbe? Como dissemos, cabe a cada um analisar de acordo com a sua possibilidade evolutiva.
Os rabinos observam que a primeira letra do alfabeto hebraico é o “aleph”. Esta simbolizaria Deus em sua unidade; “beth”, a segunda, a inicial de beréshit representaria assim, a dualidade. Portanto, beréshit (princípio), seria a entrada do universo na dualidade, a criação do mundo corpóreo.
No princípio: o Logos. Logos é uma palavra grega que foi traduzida como verbo, ou palavra. Todavia, seu correspondente hebraico davar, significa também inteligência, informação criadora. Deste modo logos não é verbo ou palavra em seu sentido habitual, mas a palavra criadora, o poder criador. Seria o espírito de Deus manifesto na criação, o Deus imanente.
Assim podemos entender melhor o primeiro versículo deste inspirado Evangelho:
“No princípio era o Logos e o Logos estava em Deus e o Logos era Deus.”Façamos agora uma analogia deste versículo com versículo inicial do Gênesis:
“No princípio, criou Deus os céus e a terra.” (Gn, 1: 1) No texto original temos o nome Elohîms para designar o Deus que hoje conhecemos. Deus é único, singular, absoluto; porém Elohîms é plural. Segundo Chouraqui (1995, pág.31)[1], nas línguas semíticas, Elohîms é o termo genérico para designar o conjunto de divindades. Seriam assim, dentro da terminologia espírita, os Espíritos Puros, aqueles que segundo André Luiz realizam uma Co-Criação em plano maior. Relata-nos o autor espiritual:
“Nessa substância original, ao influxo do próprio Senhor Supremo, operam as Inteligências Divinas a Ele agregadas, em processo de comunhão indescritível…”
“(…)Essas Inteligências Gloriosas tomam o plasma divino e convertem-no em habitações cósmicas, de múltiplas expressões, radiantes ou obscuras, gaseificadas ou sólidas, obedecendo a leis predeterminadas…” (Evolução em Dois Mundos, cap. 1, 1ª parte)
Emmanuel também nos esclarece a respeito:
“Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os fenômenos, do nosso sistema, existe uma Comunidade de Espíritos Puros e Eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias.” (À Caminho da Luz cap. 1)Estas anotações estão em pleno acordo com o que nos ensinam os Espíritos na Codificação, em O Livro dos Espíritos encontramos:
“Deus não exerce ação direta sobre a matéria. Ele encontra agentes dedicados em todos os graus da escala dos mundos.” (Questão 536 letra b).Portanto, quem constrói e formam os mundos físicos e materiais são os Espíritos destacados pelo Senhor Supremo para esta função, e Elohîms, Cristos, Logos, na verdade são nomes que expressam esses “agentes dedicados” que servem a Deus desde o princípio dos tempos.
A partir das ideais expostas neste texto colocamos a seguinte questão:
Informa-nos O Livro dos Espíritos na questão 17 que não é dado ao homem conhecer o princípio das coisas, que isto tudo ainda é para ele um mistério. E esta palavra repete-se por várias vezes nesta obra mostrando nossa incapacidade de compreensão. Porém, já podemos questionar algumas coisas que nos parecem claras.
Deus é Uno, sua Lei é imutável e sua criação tem um modelo único, não sendo possível que sua Lei determine que uma ocorrência aconteça ora de um jeito ora de outro.
Se assim é não podemos conceber que em sua origem o espírito tenha sido criado simples e ignorante. É preciso refletir sobre isso, e os espíritas têm de discutir esta questão. Pensamos que quando os espíritos assim disseram na questão 115 de “O Livro dos Espíritos” não estavam se referindo à origem e sim ao início de um ciclo evolutivo. A prova de que esta pode ser a realidade é que eles mesmos repetem várias vezes que o princípio das coisas ainda é para o homem um mistério.
Uma outra prova desta impossibilidade é que se os espíritos fossem criados simples e ignorantes e tivessem necessidade de passar pelo mundo material para chegarem à condição de Espíritos Puros, quem seriam os “agentes dedicados”, os Cristos, ou Construtores dos primeiros mundos físicos? E estes quando criados seriam habitados por quem? Teria Deus operado diretamente sobre a matéria no início da Criação e só depois parado de assim o fazer? Particularmente cremos que não.
Este não é um artigo de contestação, sinceramente não temos esse objetivo. Não gostamos de polêmica. A nossa proposta é simplesmente levar os Espíritas atuais a pensar sobre o assunto e ajudar-nos no eterno questionamento:
Quem somos, de onde viemos, para onde vamos?

[1] No Princípio (Gênesis).

Estudo escrito por Cláudio Fajardo

Estudo Minucioso do Evangelho- 10o programa


Estudo Minucioso do Evangelho- 9o Programa-Senhor o que quer que eu faça?


Estudo Minucioso do Evangelho-8o Programa- A Pesca Maravilhosa


Estudo Minucioso do Evangelho- 7o Programa- Entrevista com Magda Abreu



Estudo Minucioso do Evangelho- 6o Programa -Bem Aventurado os Aflitos


Estudo Minucioso do Evangelho- 5o Programa


Estudo Minucioso do Evangelho- 4o Programa



Estudo Minucioso do Evangelho-3o Programa


Estudo Minucioso do Evangelho- 2o Programa


Estudo Minucioso do Evangelho - parte 1


Perguntas respondidas por Divaldo e Raul acerca do Evangelho.

Matéria retirada do Livro: Os Evangelhos e o Espiritismo da editora Leal .

Pergunta No 3.
" A luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz , porque as obras deles eram más".(Jó.3:13-21). Hoje, no mundo, existem diversas seitas religiosas disputando a primazia da luz. Onde, afinal, encontrar a verdadeira luz?

Raul:Não é difícil encontrar a verdadeira luz nos dias atuais do mundo, mesmo que nos achemos em meio às disputas pela primazia. A luz verdadeira ilumina sem alarde, penetra os escaninhos das almas, a vida dos seres humanos e interfere positivamente no seu modo de ser. A mensagem que consegue alavancar o coração humano das limitações das sombras para as vultuosas claridades do intelecto e do sentimento , essa corresponde à grande e vera luz.

Divaldo: A verdadeira luz desceu à Terra nas jamais ultrapassadas canções apresentadas por Jesus no Sermão da Montanha.
Em razão da predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual do homem,permanece vigorosa a aceitação tácita das questões defluentes do ego e dos seus sicários, que são as paixões dissolventes. Ainda prevalece o interesse mesquinho e perturbador pela mentira, pela manipulação,pela prepotência , em que muitos indivíduos preferem estagiar.
Inúmeras seitas religiosas surgem com periodicidade, adaptando os ensinamentos austeros da busca do Reino dos Céus, mediante os valores enganosos da Terra, atraindo multidões ansiosas e sedentas de poder e gozo, porém distantes da verdade.
A proposta de Jesus , por ser a verdadeira - renúncia, amor, abnegação, caridade, autoiluminação - é preterida por alguns segmentos sociais e indivíduos egotistas, permanecendo, não obstante, como única alternativa para a felicidade.
Lenta, no entanto, seguramente, a luz da verdade imorredoura espalha-se pela Terra, proporcionando a renovação social e espiritual dos seus habitantes.

7- Quem é o " Espírito Santo" na concepção espiritual?

Raul: Essa expressão nos sugere que a governança do mundo existam plêiades de entidades luminosas que, sob o comando Celeste Benfeitor - Jesus, o Messias - cuidam de investir os recursos do seu poder espiritual em favor do progresso geral e da renovação das humanas criaturas. O que as teologias convencionaram chamar de Espírito Santo pode ser compreendido como esses conjuntos de Espíritos sublimados que cuidam da evolução planetária.

Divaldo: O Espírito Santo pode ser entendido como o Espírito de Verdade, o Consolador constituído pelas coortes espirituais formadas pelos nobres Guias da Humanidade.
Podemos identificá-lo também como as estrelas que cairão sobre a Terra, as forças espirituais , o Cristo de Deus...


49- O que devemos entender por "Humildes de Espírito" ou " Pobres de Espírito" ,  os quais Jesus elege para o Reino dos Céus? (Mt. 5: 3)

Raul: Essa bem aventurança de Jesus exprime, de fato, a ventura experimentada pelos que conseguem desenvolver a humildade, a simplicidade em si próprios. Humildade que não significa tolice nem pieguice, simplicidade que não é papalvice.
É assim que achamos em o Livro dos Médiuns, de Allan kardec, que no Cap. XXXI, item XVI , o Espírito Santo Agostinho a afirmar que Deus ama os simples de espírito , o que não quer dizer tolos, mas que renunciam a si mesmos e que , sem orgulho, para Ele se encaminham.
Divaldo: Os pobres de espírito podem ser considerados todos aqueles que se despojaram dos andrajos morais da ira, do ódio, do orgulho, da insensatez, da sensualidade, verdadeiras fortunas que muitos preservam e disputam. Nestes mundo rico de espíritos pobres de valores éticos, Jesus glorifica aqueles que são os liberados das mazelas da alma, dos vícios e dependências infelizes das paixões primárias. Esses alcançarão o Reino dos Céus que , de alguma forma, já se lhes encontra ínsito no coração puro de inferioridade.

Para amar o próximo

RICHARD SIMONETTI
Na célebre passagem evangélica, pergunta o doutor da Lei (Mateus, 22:36-40):
– Mestre, qual é o grande mandamento na Lei?
Responde Jesus:
– Amarás o senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento.
Este é o primeiro e grande mandamento.
E há o segundo, semelhante ao primeiro: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Nesses dois mandamentos estão a lei e os profetas.
Quando Jesus fala que o segundo é semelhante ao primeiro, demonstra, evidentemente, que não
podemos amar a Deus sem amar o próximo, porquanto não há melhor maneira de demonstrar afeto
por alguém do que querendo bem ao seu filho.
Impensável alguém dirigir-se a um pai, nestes termos:
– Gosto muito de você, mas detesto seu filho!
E Jesus estabelece a medida com a qual devemos amar o próximo
para que estejamos amando a Deus: que o façamos como a nós mesmos.
É fácil perceber a razão pela qual não amamos o próximo – é que não amamos a nós mesmos.
A característica básica da personalidade humana é o egoísmo, e onde ele impera pode haver paixão,
mas dificilmente haverá lugar para o amor.
A paixão situa-se nos domínios dos instintos, procura apenas a autoafirmação, o prazer a qualquer
preço, sem perspectivas além da hora presente, e sem aspirações mais nobres.
O amor situa-se nos domínios do sentimento e só se satisfaz com os valores da dedicação, do
sacrifício, da renúncia, das realizações mais nobres em favor do ser amado.
É a paixão por si mesmo que leva o indivíduo a buscar a satisfação dos sentidos no vício e no
desregramento...
É a paixão por si mesmo que lhe inspira a ânsia de poder e riqueza...
É a paixão por si mesmo que o faz comportar-se como uma criança, habituada a bater os pezinhos
e a reclamar em altas vozes porque não lhe deram o brinquedo desejado, porque a Vida não
atendeu às suas aspirações...
Em lugar dessa paixão desvairada que tanto nos compromete é preciso edificar o amor.
O caminho é a caridade, a ser exercitada em duas frentes: o corpo e o Espírito.
O corpo humano é, talvez, a maior maravilha da Criação, no plano da matéria.
Jamais os cientistas deixarão de surpreender-se com essa incrível máquina de peças vivas que permite
a manifestação da inteligência na Terra.
É uma máquina perfeita em suas finalidades, facultando ao Espírito uma bolsa de estudos na escola
da Reencarnação, em abençoado recomeço, sem a lembrança do passado a fim de que supere
desvios e fixações que precipitaram seus fracassos no pretérito.
Todavia, em relação ao corpo assemelhamo-nos a um motorista descuidado, que usa e abusa de
seu automóvel, sem a mínima noção de seu funcionamento, de suas necessidades, das regras de
trânsito, dos cuidados indispensáveis à sua conservação.
Quantas pessoas saberiam explicar o mecanismo da circulação sanguínea?
Quantas têm noção de como os nossos olhos fotografam o mundo exterior para que o cérebro veja?
Quantas compreendem o funcionamento do metabolismo orgânico, de assimilação e eliminação
de substâncias?
No entanto, o conhecimento elementar de Fisiologia é indispensável para que possamos compreender
as necessidades essenciais da máquina física, dentre as quais destacaríamos:
Regime alimentar.
Trabalho disciplinado.
Repouso adequado.
Exercícios físicos e respiratórios.
Cuidados de higiene.
Tudo isso é indispensável à preservação da economia orgânica, a fim de que nos movimentemos
bem na Terra, desfrutando dos dons da saúde, indispensáveis ao bom aproveitamento da jornada humana.
No entanto, raros se comportam assim.
Inspirados na eterna paixão por nós mesmos, cogitamos apenas dos prazeres da hora presente.
O fumo tranquiliza.
O alimento pesado satisfaz o paladar.
O álcool desinibe.
As drogas fazem o céu artificial.
Não importa que a saúde seja arruinada, que dificultemos a jornada, que abreviemos a existência.
E para que exercícios físicos e respiratórios, trabalho disciplinado, regime alimentar, repouso
adequado, cuidados de higiene?...
Deixa pra lá! Tudo isso é tão cansativo e maçante!
O resultado é que há muita gente com distúrbios digestivos, hipertensão arterial, úlcera gástrica,
excesso de peso, colesterol elevado, coração ameaçado, pulmões comprometidos…
– É o nosso carma! São as doenças escolhidas para o resgate do passado...
Ledo engano, leitor amigo.
É simplesmente falta de caridade para com o nosso corpo, essa máquina maravilhosa que Deus
nos oferece para as experiências na Terra, do qual teremos que prestar contas um dia.
E quanto ao Espírito imortal?
Fomos criados por Deus para sermos partícipes na obra da Criação, desfrutando a felicidade
suprema de uma plena integração nos ritmos do Universo, em comunhão com o Senhor.
Mas Deus não quer autômatos, cérebros programados. Somos seus filhos, dotados de suas
potencialidades criadoras, e Ele nos fez livres para desenvolvê- -las com nossos próprios esforços,
a fim de valorizarmos nossas aquisições.
Todavia, ante tão grandioso futuro, perdemo-nos nas vacilações do presente, empolgados pela paixão
de nós mesmos.
Procuramos a felicidade plena em valores falsos, no imediatismo terrestre, esquecidos de que a felicidade
é uma construção grandiosa demais para ser alicerçada sobre
ilusões.
A caridade para com o nosso Espírito é a ação em termos de vida eterna.
É considerar que somos imortais, que já vivíamos antes do berço e continuaremos a viver, depois do
túmulo. Consequentemente, nossos interesses maiores, nossas ações mais constantes devem girar em
torno de quem viverá para sempre, não do ser efêmero que voltará ao pó, conforme a expressão bíblica.
É buscar aqueles valores que, segundo Jesus, as traças e a ferrugem não consomem nem os ladrões
roubam, formados pela cultura, o conhecimento, a virtude, a sabedoria, o exercício do Bem...
Exercitando a caridade com o corpo, habilitamo-nos a aproveitar
integralmente o tempo que o Senhor nos concede para as experiências humanas...
Exercitando a caridade com o Espírito, cumprindo as metas que determinaram a jornada terrestre,
habilitamo-nos a estágios mais altos de espiritualidade.
Atendendo às necessidades do binômio corpo-espírito exercitaremos plenamente o amor a Deus
sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.
Oportunas, caro leitor, para finalizar, as observações de Kardec
(Viagem Espírita em 1862, “Discursos Pronunciados nas Reuniões Gerais dos Espíritas de Lyon e Bordeaux”, Ed. FEB, p. 87):
[...] Ensinai, pois, a caridade e, sobretudo, pregai pelo exemplo; é a âncora de salvação da sociedade. Só
ela pode realizar o reino do bem na Terra, que é o reino de Deus; sem ela, o que quer que façais, só criareis
utopias, das quais só vos resultarão decepções.
Se o Espiritismo é uma verdade, se deve regenerar o mundo, é porque tem por base a caridade.
[...]
 Reformador • Junho 2010


Perdoa
Recebe a provação de alma serena.
Desculpa todo golpe que te doa.
Guarda contigo a paz singela e boa,
Inda mesmo ante a voz que te condena.
Tudo no mundo é caridade plena.
A fonte beija a pedra que a magoa.
A estrela mostra o brilho na lagoa.
A rosa enfeita o acúleo que envenena.
A árvore esquece o vento que a desnuda.
A Terra inteira serve, humilde e muda.
A chuva desce ao bojo da cisterna...
Perdoa e quebrarás grilhões e algemas,
Buscando, enfim, as vastidões supremas
Para a glória do amor na vida eterna.

Fonte: XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. Antologia dos imortais. Poetas diversos.
4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. p. 96-97.

Reflexões sobre a Moral Divina


CHRISTIANO TORCHI
Não é raro conhecermos pessoas que, apesar de viverem em condições adversas,
em ambientes viciosos, conseguem furtar-se às influências negativas do meio e se destacam
na sociedade como homens e mulheres dignos. Há outras que, mesmo depois de terem experimentado
uma vida de transgressões, crimes, prostituição e drogas, conseguem se recuperar, tornando-
se referência para muitos outros indivíduos. Esses exemplos de superação mostram do que o ser humano é capaz, quando tem fé.
No conhecido livro do escritor francês Victor Hugo (1802-1885),
Os Miseráveis, também retratado em filme, encontramos a história de um ex-presidiário (Jean Valjean)
que, ante um dilema moral, originado de um furto por ele praticado após ganhar a liberdade,
foi inocentado pela própria vítima, o caridoso bispo Charles Myriel, atitude que causou um
profundo impacto no ex-condenado, motivando-o, daí por diante, a se tornar um homem de
bem. Esta obra, embora seja um romance de ficção social, é inspirada na realidade e nos faz
refletir sobre a questão filosófica da moral, tratada em O Livro
dos Espíritos.(1)
A crença inata em um ser superior, comum a todos nós, sugere a existência de uma constituição
divina insculpida na alma. Toda vez que infringimos as leis naturais, um juízo secreto nos diz que
estamos no caminho errado. Dominados pelas paixões, nem sempre seguimos os ditames desse tribunal
interior, ficando sujeitos, depois, ao arrependimento, à expiação e à reparação dos erros cometidos.
Do ponto de vista espírita, “a moral é a regra de bem proceder, isto é, a distinção entre o bem e o
mal.Funda-se na observância da Lei de Deus. O homem procede bem quando faz tudo pelo bem de
todos, porque então cumpre a Lei de Deus”.(2) A infração das leis morais resulta numa sanção imposta
pela própria consciência, que se traduz no remorso, sem prejuízo da eventual condenação imposta
pela sociedade e suas instituições.
O bem e o mal estão relacionados ao comportamento humano ditado pelo livre-arbítrio, pois “a noção
de moralidade é inseparável da de liberdade”.(3) Procedendo
corretamente, o homem dá mostras de que sabe distinguir o bem do mal. O bem é tudo o que
é compatível com a lei de Deus e o mal é tudo aquilo que não se harmoniza
com ela. Em resumo: quando fazemos o bem, procedemos conforme a lei de Deus, e quando fazemos o mal estamos infringindo essa lei.
Nem todos, porém, se comprazem em fazer o bem, dependendo da evolução do indivíduo e dos
valores que cultua.
Quando o homem procura agir acertadamente, utilizando a razão e a reflexão, encontra meios de distinguir, por si mesmo, o que é bem do que é mal. Ainda que esteja sujeito a enganar- se, em vista de sua falibilidade, possui uma bússola que o guiará no caminho certo, que é o de colocar-se na posição do outro,
analisando o resultado de sua decisão: aprovaria eu o que estou fazendo ao próximo, se estivesse
no lugar dele?
Esse método de pôr-se no lugar do outro para medir a qualidade de nossos atos é bem eficiente,
quando nos habituamos a utilizá-lo, porque o metro de cada um está na lei natural, que estabelece
o limite de nossas próprias necessidades, razão por que experimentamos o sofrimento toda
vez que ultrapassamos essa fronteira. Por isso, se ouvíssemos mais a voz da consciência, estaríamos
a salvo de muitos males que atribuímos a fatores externos ou à Natureza.
Deus poderia, se quisesse, ter feito o Espírito pronto e acabado, mas o criou simples e ignorante,
dando-lhe, assim, a oportunidade de progredir pelo próprio esforço, para que tenha a ventura de chegar
ao cume da jornada e exclamar, satisfeito: eu venci!
Com o advento tanto do progresso e a consequente proliferação dos grupos sociais, caracterizados
por sua diversidade cultural, como também das novas necessidades criadas pela modernidade
e pelo avanço da tecnologia, somos tentados a pensar que a lei natural não é uma regra uniforme para a coletividade.
Todavia, este modo de raciocinar é equivocado, uma vez que a lei natural possui tantas gradações
quantas necessárias para cada tipo de situação, sem perder a unidade e a coerência, cabendo a
cada um distinguir as necessidades reais das artificiais ou convencionais.
A lei de Deus é a mesma para todos, independentemente da posição evolutiva do homem, que
tem a liberdade de praticar o bem ou o mal. A diferença que existe está no grau de responsabilidade,
como no caso do selvagem que, outrora, sob domínio dos instintos primitivos, considerava
normal alimentar-se de carne humana, a saber: o homem é tanto mais culpado quanto
melhor sabe o que faz. À medida que o Espírito adquire experiência, em sucessivas encarnações,
alcança estágios superiores que lhe permitem discernir melhor as coisas. Portanto, a responsabilidade
do ser humano é proporcional aos meios de que dispõe para diferenciar o bem do mal. Apesar disso, não se pode dizer que são menos repreensíveis as faltas que comete, embora decorrentes da posição que
ocupa na sociedade.
O mal desaparece à medida que a alma se depura. É então que, senhor de si, o homem se torna
mais culpado quando comete o mal, porque tem melhor compreensão
da existência deste. A culpa pelo mal praticado recai sobre quem deu causa a ele, porém,
aquele que foi compelido, levado ou induzido a praticar o mal por outrem, é menos culpado do que
aquele que lhe deu causa.
Outrossim, o fato de se achar num ambiente desfavorável ou nocivo à moral, devido às influências
dos vícios e dos crimes, não quer dizer que a criatura esteja isenta de culpa, se, deixando-se
levar por essas influências, também praticar o mal. Em primeiro lugar, porque dispõe de um instrumento
poderoso para superar as circunstâncias infelizes: a vontade.
Em segundo, porque, antes de encarnar, pode ter escolhido essa prova, submetendo-se à tentação
para ter o mérito da resistência.
De outras vezes, o Espírito renasce em um meio hostil com a missão de exercer influência positiva
sobre seus semelhantes, retardatários.
Por outro lado, aquele que,mesmo não praticando diretamente o mal, se aproveita da maldade feita
por outrem, age como se fosse o autor, isso porque talvez não tivesse coragem de cometê-lo,
mas, encontrando o mal feito, tira partido da situação, o que significa que o aprova e o teria praticado,
se pudesse ou tivesse ousadia para tanto. Enquanto Espíritos, quase todos nos equiparamos,
na Terra, a condenados em regime de liberdade condicional, sujeitos, graças à misericórdia divina, a diversas restrições que,
muitas vezes, nos são impostas para nos proteger das próprias fraquezas. Assim, podemos dizer
que muitos de nós só não praticamos o mal por falta de oportunidade, considerando que nem
sempre temos vontade forte o bastante para resistir a determinadas conjunturas, em virtude da
ausência de autocontrole.
O desejo de praticar o mal pode ser tão repreensível quanto o próprio mal, contudo, aquele
que resiste às tentações, com a finalidade de superar-se, tem grande mérito, sobretudo quando
depende apenas de sua vontade para tomar essa ou aquela decisão. Não basta, porém, que
deixe de praticar o mal. É preciso que faça o bem no limite de suas forças, pois cada um responderá
por todo mal que resulte de sua omissão em praticar o bem. Os Espíritos superiores são
taxativos em dizer que ninguém está impossibilitado de fazer o bem, independentemente de sua
posição, pois que todos os dias da existência nos oferecem oportunidades
de ajudar o próximo, ainda que seja por meio de uma singela oração.
O grande mérito de se fazer o bem reside na dificuldade que se tem de praticá-lo. Quanto maiores
forem os obstáculos para a realização do bem, maior é o merecimento daquele que o executa.
Contrário senso, não existe tanta valia em se fazer o bem sem esforço ou quando nada custa, como
no caso do afortunado que dá um pouco aos pobres do que lhe sobra em abundância. A parábola
do óbolo da viúva, contida em o Novo Testamento,4 retrata bem tal circunstância.
Finalizando, a essência da moral divina pode ser encontrada na
máxima do amor ao próximo, ensinada por Jesus, porque abarca todos os deveres que os homens
têm uns para com os outros, razão pela qual temos necessidade de vivenciar essa lei constantemente,
porquanto o bem é a lei suprema do Universo que nos conduz a Deus “e o mal será sempre representado por aquela triste vocação do bem unicamente para nós mesmos [...]”.(5)
Junho 2010 • Reformador


1-KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 2010. Q. 629-646.
2-Idem, ibidem. Q. 629.
3-DENIS, Léon. O problema do ser, do destino
e da dor. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB,
2009. P. 3, As potências da alma, item 22,
4-LUCAS, 21:1-4.
5-XAVIER, Francisco C. Ação e reação. 28.
ed. 2. reimp. Pelo Espírito André Luiz. Rio
de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 7, p. 110.

Mundo em transição


Conforme se observa na questão 55 de O Livro dos Espíritos, cuja primeira
edição ocorreu em 18 de abril de 1857, Allan Kardec pergunta: São habitados
todos os globos que se movem no espaço? E os Espíritos superiores respondem:
“Sim e o homem terreno está longe de ser, como supõe, o primeiro em inteligência,
em bondade e em perfeição”.
Aprofundando a análise deste assunto, Kardec observa:
Nos mundos intermédios, misturam-se o bem e o mal, predominando um ou outro,
segundo o grau de adiantamento da maioria dos que os habitam. Embora se não possa
fazer, dos diversos mundos, uma classificação absoluta, pode-se contudo, em virtude
do estado em que se acham e da destinação que trazem, tomando por base os matizes
mais salientes, dividi-los, de modo geral, como segue: mundos primitivos, destinados
às primeiras encarnações da alma humana;mundos de expiação e provas, onde domina
o mal;mundos de regeneração, nos quais as almas que ainda têm o que expiar haurem
novas forças, repousando das fadigas da luta; mundos ditosos, onde o bem sobrepuja
o mal; mundos celestes ou divinos, habitações de Espíritos depurados, onde
exclusivamente reina o bem. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. III, item 4.)
Em mensagem transmitida através de Divaldo Pereira Franco no encerramento
do 3o Congresso Espírita Brasileiro, em 18 de abril de 2010, publicada nesta edição
de Reformador (p. 8), Bezerra de Menezes assevera:
...Estamos agora em um novo período.
Estes dias assinalam uma data muito especial, a data da mudança do mundo de provas
e expiações para o mundo de regeneração.
A grande noite que se abatia sobre a Terra lentamente deu lugar ao amanhecer de
bênçãos.
E continua sinalizando para a necessidade de todos nós aumentarmos a nossa
capacidade de nos amarmos uns aos outros a fim de podermos ser realmente úteis
na construção desse novo mundo e assegurar o direito de nele permanecer.
Devemos lembrar, ainda, a mensagem de Santo Agostinho, de 1862, que, falando
sobre os mundos de regeneração, destaca:
[...] Em todas as frontes, vê-se escrita a palavra amor; perfeita equidade preside às relações
sociais, todos reconhecem Deus e tentam caminhar para Ele, cumprindo-lhe as leis.
Mas [...] nesses mundos, ainda falível é o homem e o Espírito do mal não há perdido
completamente o seu império. Não avançar é recuar, e, se o homem não se houver firmado
bastante na senda do bem, pode recair nos mundos de expiação, onde, então,
novas e mais terríveis provas o aguardam. (Op. cit., itens 17 e 18.)
Com todos estes esclarecimentos, só nos resta, em nosso próprio benefício,
empenharmo-nos no nosso aprimoramento moral.

Revista O Reformador 2010-Junho