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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Dificuldades no Movimento Espírita "Não te deixes desalentar pela sensação de que o Espiritismo em nada te auxilia, considerando os golpes contundentes que te ferem cotidianamente, impondo-te lágrimas em que se mesclam dores, mágoas e revoltas...


Não te aturdas pelo que vês nas fileiras da Seara Espírita, que almejavas grandiosa e bela: a apatia no campo moral de tantos, dando a impressão de que isso é coisa natural; os desatinos que não são freados pelo bom-senso, comprometendo o nome da gloriosa Doutrina; a maledicência que alcança largas praias da vida dos nossos arraiais, como se devessem fazer parte das nossas ocupações cotidianas; os descompassos entre as lições teóricas conhecidas e as atividades práticas diárias cheias de hostilidades.
Não te deixes desalentar pela sensação de que o Espiritismo em nada te auxilia, considerando os golpes contundentes que te ferem cotidianamente, impondo-te lágrimas em que se mesclam dores, mágoas e revoltas.
Não te rebeles ao verificar que muitos que ocupam posições destacadas no Movimento do luarizado Espiritismo, agem como se nada tivessem a ver com a magnitude da mensagem, uma vez que somente anseiam pelas coisas do mundo material, com cinismo e desplante, preocupados tão só em fixar-se nas posições que lhes proporcionam maior visibilidade, bastando-lhes o ensejo exibicionista, em função dos quais afirmou Jesus que “já teriam obtido o seu galardão”, ou seja, o que desejavam.
Não te atormentes, pois, uma vez que o planeta terreno atravessa momentos de seriíssimas definições e redefinições, de cujo processo ninguém pode escapar, enquanto se persistir na busca do progresso.
A Terra, em razão disso, traz sobre seu dorso e nas esferas do seu campo psíquico, entidades nos mais diferenciados estágios de aprimoramento, de desenvolvimento geral, dentre os quais são muitos os que se aninham na má vontade, esforçando-se por retardar o dia luminoso da grande renovação planetária.
Nesse estado de coisas, não estaria o Movimento Espírita indene a semelhantes presenças ou livres dessas almas que, em si mesmas atordoadas, causam atordoamento onde quer que chegam, quer estejam no corpo físico, reencarnadas, quer ainda se achem aguardando novas oportunidades, na erraticidade.
Do mesmo modo que encontramos almas irresponsáveis que se valem do nome de Jesus, a fim de explorar a boa fé dos ingênuos e dos incautos, dos ignorantes e dos parvos, nas mais distintas confissões de fé ou fora delas, temos em nosso Movimento os que, da mesma maneira, evocam o nome do Senhor, admitindo sempre que não há nenhuma necessidade de que levem a sério o trabalho e os deveres que lhes cabem, já que os Guias do mundo são dotados de grande generosidade, são misericordiosos.
Almas infantilizadas, nas quais ainda é verdoso o senso moral, enxameiam, orgulhosas umas, vaidosas outras, prepotentes tantas, que, mesmo reconhecendo suas incapacidades, fazem questão de assumir posições e cargos de responsabilidade, que sabem que não responderão a contento, pelo fato de tais situações lhes conferir projeção ou destaque social.
Há os que não têm nenhuma noção do campo de atividades em que se acham, mas não recuam, não procuram orientar-se de modo a produzir o melhor para a Doutrina. Permanecem como estão, supondo que os Espíritos do Senhor lhes suprirão a má vontade e o relaxamento.
Desgraçadamente, tais irmãos do mundo estão distribuídos por todos os campos da vida social e se fazem temerários aventureiros nas esferas da política ou da administração das coisas públicas; achamo-los à frente de empresas que deveriam ser produtivas para o progresso da sociedade e que seguem a passos tartaruguescos; temo-los liderando movimentos artísticos e culturais, onde nada funciona a contento, onde coisa alguma de expressivamente bom acontece para suas áreas, do mesmo modo como os deparamos à frente de grupos familiares e de instituições religiosas.
Vemos que cada um anseia por extrair benefícios imediatos da situação em que se aloja, desacreditando, convictamente, da vida imortal para além da matéria densa do mundo. Não te desarmonizes, pois, perante esse quadro sinistro, conflitivo e cheio de contradições da sociedade.
Trata de cumprir o que a ti te cabe, sem que as atitudes alheias te induzam ao desgoverno de ti mesmo, ou ao relaxamento para com teus compromissos perante a existência.
Cumpre-te pautar a vida nos passos dos ensinos do grande Mestre Jesus Cristo; aprende com Ele que a cada um será conferido de conformidade com as próprias atuações nos trilhos da vida.
Aprende, ainda, a não depositar os ensinos rútilos do Espiritismo sob mãos francamente incapazes ou sob mentalidades insanas, pois que, sem contestação, mais cedo ou mais tarde, tudo elas conseguirão desvirtuar, tudo irão degenerar sob os mais tolos ou obscuros argumentos.
Trata, pois, de mergulhar a mente nos ensinamentos felizes do Cordeiro de Deus e ajusta os teus passos na trilha por Ele deixada, e não te importunarás com os companheiros desviados da estrada por livre deliberação, conseguindo, então, não oferecer suas pérolas aos porcos, tampouco desejarás depositar vinho novo em barril velho, procurando, aí, sim, apesar das pelejas ardentes e das lágrimas inevitáveis dos teus testemunhos, seguir fiel e renovado, cheio de possibilidades para entender, orientar e socorrer a quantos o necessitem, na busca do Reino dos Céus, por meio dos roteiros do Espiritismo.
Com o tempo, na medida em que se renovem os humanos, também renovar-se-á o nosso bendito Movimento Espírita que, somente então, conseguirá refletir o brilho intraduzível do estelar Espiritismo.
Assim, não te descompenses. Procura fazer o que te cabe para ser feliz, levando contigo os que estejam sintonizados com o ideal de vida abundante e de paz insuplantável que adotaste para alicerçar a tua existência.

Hugo Reis
Mensagem psicografada por Raul Teixeira, em 11.02.2008, na Sociedade Espírita Francisco de Assis de Amparo aos Necessitados – SEFAN, em Ponta Grossa – PR.

Fonte:http://www.sef.org.br/sef/dificuldades-no-movimento-espirita-mensagem-psicografada-medium-raul-teixeira/

sábado, 11 de janeiro de 2014

Falta de Formação Doutrinária

Falta de Formação Doutrinária

Autor: J. Herculano Pires

Sem a formação doutrinária, não teremos um movimento espírita coeso e coerente. E, sem coesão e coerência, não teremos Espiritismo. Essa a razão por que os Espíritos Superiores confiaram às mãos de Kardec o pesado trabalho da Codificação. Kardec teve de arcar, sozinho, com a execução dessa obra gigantesca. Porque só ele estava em condições de realizá-la. Depois de Kardec, o que vimos? Léon Denis foi o único dos seus discípulos que conseguiu manter-se à altura do mestre, contribuindo vigorosamente para a consolidação da Doutrina. Era, aparentemente, o menos indicado. Não tinha a formação cultural de Kardec, residia na província, não convivera com ele, mas soubera compreender a posição metodológica do Espiritismo e não a confundia com os desvarios espiritualistas da época.


Depois de Denis, foi o dilúvio. A Revista Espírita virou um saco de gatos. A sociedade Parisiense naufragou em águas turvas. A Ciência e a Filosofia Espíritas ficaram esquecidas. O aspecto religioso da Doutrina transviou-se na ignorância e no fanatismo. Os sucessores de Kardec fracassaram inteiramente na manutenção da chama espírita, na França. E, quando a Arvore do Evangelho foi transplantada para o Brasil, segundo a expressão de Humberto de Campos, veio carregada de parasitas mortais que, ao invés de extirpar, tratamos de cultivar e aumentar com as pragas da terra.


Tudo isso por quê? Por falta pura e simples de formação doutrinária. A prova está aí, bem visível, no fluidismo e no obscurantismo que dominam o nosso movimento no Brasil e no Mundo. Os poucos estudiosos, que se aprofudaram no estudo de Kardec, vivem como náufragos num mar tempestuoso, lutando, sem cessar, com os mesmos destroços de sempre. Não há estudo sistemático e sério da Doutrina. E o que é mais grave, há evidente sintoma de fascinação das trevas, em vastos setores representativos que, por incrível que pareça, combatem por todos os meios o desenvolvimento da cultura espírita.


Enquanto não compreendermos que Espiritismo é cultura, as tentativas de unificação do nosso movimento não darão resultados reais. Darão aproximações arrepiadas de conflitos, aumento quantitativo de adeptos ineptos, estimulação perigosa de messianismos individuais e de grupos. Flamarion, que nunca entendeu realmente a posição de Kardec, e chegou a dizer que ele fez obra um tanto pessoal, como se vê no seu famoso discurso ao pé do túmulo, teve, entretanto, uma intuição feliz quando o chamou de bom senso encarnado.


Esse bom senso é que nos falta. Parece haver se desencarnado com Kardec, e volatizado com Denis. Hoje, estamos na era do contra-senso. Os mesmos órgãos de divulgação doutrinária que pregam o obscurantismo, exibem pavoneios de erudição personalista, em nome de uma cultura inexistente. Porque cultura não é erudição, livros empilhados nas estantes, fichário em ordem para consultas ocasionais. Cultura è assimilação de conhecimentos e bom senso em ação.


O que fazer diante dessa situação? Cuidar da formação espírita das novas gerações, sem esquecer a alfabetização de adultos. Mobral: esse o recurso. Temos de organizar o Mobral do Espírito. E começar tudo de novo, pelas primeiras letras. Mas, isso em conjunto, agrupando elementos capazes, de mente arejada e coração aberto. Foi por isso que propus a criação das Escolas de Espiritismo, em nível universitário, dotadas de amplos currículos de formação cultural espírita.


Podem dizer que há contradições entre Mobral e nível universitário. Mas, nota-se, que falamos de Mobral do Espírito. A Cultura Espírita é o desenvolvimento da cultura acadêmica, é o seguimento natural da cultura atual, em que se misturam elementos cristãos, pagãos e ateus. Para iniciar-se na cultura espírita, o estudante deve possuir as bases da cultura anterior. "Tudo se encadeia no Universo", como ensina, repetidamente, O Livro dos Espíritos. Quem não compreende esse encadeamento, tem de iniciar pelo Mobral. Não há outra forma de adaptá-lo às novas exigências da nova cultura.


A verdade nua e crua é que ninguém conhece Espiritismo. Ninguém, mesmo, no Brasil e no Mundo. Estamos todos aprendendo, ainda, de maneira canhestra.


E se me permito escrever isto, é porque aprendi, a duras penas, a conhecer a minha própria indigência. No Espiritismo, como já se dava no Cristianismo e na própria filosofia grega, o que vale é o método socrático.


Temos, antes de tudo, de compreender que nada sabemos. Então, estaremos, pelo menos, conscientes de nossa ignorância e capazes de aprender.


Mas, aprender com quem? Sozinhos, como autodidatas, tirando nossas próprias lições dos textos, confiantes nas luzes da nossa ignorância? Recebendo lições de outros que tateiam como nós, mas que estufam o peito de auto-suficiência e pretensão? Claro que não. Ao menos isso devemos saber. Temos de trabalhar em conjunto, reunindo companheiros sensatos, bem intencionados, não fascinados por mistificações grosseiras e evidentes, capazes de humildade real, provada por atos e atitudes. Assim conjugados, poderemos aprender de Kardec, estudando suas obras, mergulhando em seus textos, lembrando-nos de que foi ele e só ele o incumbido de nos transmitir o legado do Espírito da Verdade.


Kardec é a nossa pedra de toque. Não por ser Kardec, mas por ser o intérprete humilde que foi, o homem sincero e puro a serviço dos Espíritos Instrutores.


É o que devemos ter nas Escolas de Espiritismo.


Não Faculdades, nem Academias, mas, simplesmente, Escolas. O sistema universitário implica pesquisas, colaboração entre professores e alunos, trabalho conjugado e sem presunção de superioridade de parte de ninguém. O simpósio e o seminário, o livre-debate, enfim, é que resolvem, e não o magister do passado. O espírito universitário, por isso mesmo, é o que melhor corresponde à escola espírita. Num ambiente assim, os Espíritos Instrutores disporão de meios para auxiliar os estudantes sinceros e despretensiosos.


A formação espírita exige ensino metódico mas, ao mesmo tempo, livre. Foi o que os Espíritos deram a Kardec: um ensino de que ele mesmo participava, interrogando os mestres e discutindo com eles. Por isso, não houve infiltração de mistificadores na obra inteiriça, nesse bloco de lógica e bom senso, que abrange os cinco livros fundamentais de Codificação, os volumes introdutórios e os volumes da Revista Espírita, redigidos por ele durante quase doze anos de trabalho incessante.


Essa obra gigantesca é a plataforma do futuro, o alicerce e o plano de um novo mundo, de uma nova civilização. Seria absurdo pensar que podemos dominar esse vasto acervo de conhecimentos novos, de conceitos revolucionários, através de simples leituras individuais, sem método e sem pesquisa. Nosso papel, no Espiritismo, tem sido o de macacos em loja de louças. E incrível a leviandade com que oradores e articulistas espíritas tratam de certos temas, com uma falsa suficiência de arrepiar, lançando confusões ridículas no meio doutrinário. Temos de compreender que isso não pode continuar. Chega de arengas melífluas nos Centros, de oratória descabelada, de auditórios basbaques, batendo palmas e palavreado pomposo. Nada disso é Espiritismo. Os conferencistas espíritas precisam ensinar Espiritismo - que ninguém conhece - mas para isso precisam, primeiro aprendê-lo.


Precisamos de expositores didáticos, servidos por bom conhecimento doutrinário, arduamente adquirido em estudos e pesquisas. Expor os temas fundamentais da Doutrina, não é falar bonito, com tropos pretensamente literários, que só servem para estufar vaidade, à maneira da oratória bacharelesca do século passado.


Esse palavrório vazio e presunçoso não constrói nada e só serve para ridicularizar o Espiritismo ante a mentalidade positiva e analítica do nosso tempo.


Estamos numa fase avançada da evolução terrena.


Nossa cultura cresceu espantosamente nos últimos anos e já está chegando à confluência dos princípios espíritas em todos os campos. A nossa falta de formação cultural espírita não nos permite enfrentar a barreira dos preconceitos para demonstrar ao mundo que Espiritismo, como escreveu Humberto Mariotti, é uma estrela de amor que espera no horizonte do mundo o avanço das ciências. E curiosa e ridícula a nossa situação.


Temos o futuro nas mãos e ficamos encravados no passado mitológico e nas querelas medievais.


Mas, para superar essa situação, temos de aprender com Kardec. Os que pretendem superar Kardec, não o conhecem. Se o conhecessem, não assumiriam a posição ridícula de críticos e inovadores do que, na verdade, ignoram. Chegamos a uma hora de definições.



Precisamos definir a posição cultural espírita perante a nova cultura dos tempos novos. E só faremos isso através de organismos culturais bem estruturados, funcionais, dotados de recursos escolares capazes de fornecer, aos mais aptos e mais sinceros, a formação cultural de que todos necessitamos, com urgência.




Texto retirado do livro O Mistério do Bem e do Mal.

quarta-feira, 27 de março de 2013

União e Unificação

União e Unificação

Filhas e filhos da alma, que Jesus nos abençoe!

A união dos espíritas é ação que não pode ser postergada e a unificação é o laço de segurança dessa união.
A união vitaliza os ideais dos trabalhadores, mas a unificação conduz com equilíbrio pelas trilhas do serviço.
A união demonstra a excelência da qualidade da Doutrina Espírita nos corações, mas a unificação preserva essa qualidade, para que passe à posteridade conforme recebemos do ínclito Codificador.
Em união somos felizes. Em unificação estamos garantindo a preservação do Movimento Espírita aos desafios do futuro.
Em união teremos resistência para enfrentar o mal que existe em nós e aquele que cerca o nosso caminho, tentando impossibilitar-nos o avanço. Em unificação estaremos consolidando as atividades que o futuro coroará de bênçãos.
Em união marcharemos ajudando-nos reciprocamente. Em unificação estaremos ampliando os horizontes da divulgação doutrinária em bases corretas e equilibradas.
Com união demonstraremos a nós mesmos que é possível amar sem exigir nada. Com unificação colocaremos as ideias pessoais em planos secundários, objetivando a coletividade.
Com união construiremos o bem, o belo e o nobre. Com Unificação traremos de volta o pensamento do Codificador, preservando a unidade da Doutrina e do Movimento Espírita. Com união entre os companheiros encarnados, tornaremos mais fácil o intercâmbio entre nós outros, os que os precedemos na viagem de volta, e eles, que rumam pela estrada difícil. Com unificação estaremos vivenciando o Evangelho de Jesus quando o Mestre assevera: Um só rebanho , um só pastor.
Unindo-nos, como verdadeiros irmãos, estabeleceremos o laço de identificação com os propósitos dos Mentores da Humanidade, que esperam a influência que o Espiritismo provocará no mundo, à medida que seja conhecido e adotado nas áreas da ciência, das artes, do pensamento filosófico e das religiões.
União para unificação, meus filhos, é o desafio do momento.
Rogando a Jesus que nos abençoe e nos dê a sua paz, o servidor humílimo e paternal de sempre,
Bezerra

Mensagem psicofônica recebida pelo médium Divaldo Pereira Franco, por ocasião do encerramento do 1º Congresso Espírita do Estado do Rio de Janeiro, na manhã de 25.01.2004, na sede da Federação Espírita do Rio de Janeiro, em Niterói, RJ.
Em 29.12.2009.
 
   

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Desunião e Divergência:"Uma comunidade que não admite o diálogo está condenada, por si mesma, a ficar parada no tempo..."



Nem sempre divergência significa desunião. Se é verdade que as divergências ou discordâncias algumas vezes já comprometeram a união entre pessoas e grupos, não se deve dar a este fato a extensão de uma regra geral, pois é apenas um episódio discrepante. Onde há duas pessoas frente a frente sempre há o que ou em que discordar. Seria impossível a existência de um grupo humano, por menor que fosse, sem um pensamento discordante, sem uma opinião contrária a qualquer coisa. Entre dois amigos, como entre dois irmãos muito afins pode haver divergência frontal ou inconciliável em matéria política, religiosa, social etc., sem que haja qualquer “arranhão” na amizade. Discutem, discordam, assumem posições opostas, mas continuam unidos.
Justamente por isso e pelo que observo na vida cotidiana, não creio que seja necessário abafar as divergências ou evitar qualquer discussão, ainda que em termos altos, simplesmente para preservar a união de um grupo ou de uma coletividade inteira. Seria o caso, em última hipótese, de acabar de vez com o diálogo e adotar logo um tipo de vida conventual. O diálogo é uma necessidade, pois é dialogando que trocamos idéias e permutamos opiniões e experiências. Uma comunidade que não admite o diálogo está condenada, por si mesma, a ficar parada no tempo. Cada qual naturalmente deve preparar-se ou educar-se espiritualmente para discutir ou divergir sem prevenções ou ressenti­mentos. O fato de não concordarmos com a opinião de um companheiro neste ou naquele sentido ou de não adotarmos a linha de pensamento de uma instituição deve ser encarado com naturalidade, mas não deve servir de motivo (jamais!) para que mudemos a maneira de tratar ou viremos as costas a alguém. Seria o caso de perguntar: e onde está o Evangelho, que se prega a todo momento?... Como falar em Evangelho, que é humildade e amor, e fugir a um abraço sincero ou negar um aperto de mão por causa de uma divergência ou de um ponto de vista?
Então, não é a divergência aqui ou ali que porventura “cava o abismo da desunião”, é a incompreensão, o personalismo, o radicalismo do elemento humano em qualquer campo do pensa­mento. Já ouvi dizer mais de uma vez que os espíritas são desunidos por causa das divergências internas. Sinceramente, não acompanho este ponto de vista. Acho que não há propriamente desunião, mas apenas desencontro de idéias, fora dos pontos cardeais da Doutrina. Somos uma comunidade composta de gente emancipada e, por isso mesmo, o campo está sempre aberto ao estudo e à crítica. Certos observadores gostariam, por exemplo, que o Movimento Espírita fosse um “bloco maciço sem nenhuma nota fora do conjunto. É uma pretensão utópica, pois não há um movimento religioso, político ou lá o que seja sem alguma voz discordante, aqui ou ali.
Tomava-se como referência, até bem pouco tempo, a “unidade monolítica” da Igreja Católica. Unidade relativa, diga-se de passagem. E o que se vê hoje? O fracionamento cada vez mais acentuado. Os grupos conservadores, porque se batem pela manutenção da Igreja tradicional, estão enfrentado os grupos renovadores, partidários de modificações estruturais; grupos que querem a Igreja fora da política estão em conflito com os grupos que querem justamente uma Igreja participante no campo político. Há, portanto, demanda de alto a baixo, com pro­gramas de reforma na teologia, como na administração e na disciplina eclesiástica. Logo, a Igreja não oferece hoje a unidade doutrinária que nos apontam às vezes, como modelo. E o Protestantismo, que é outro grande movimento religioso, não se divide em denominações e seitas, com características diferentes entre si? Batistas, presbiterianos, adventistas, congregacionistas etc. Não desejo criticar procedi­mentos religiosos, pois todos os cultos são respeitáveis, mas estou anotando fatos.
Voltemo-nos para mais longe, fora da faixa ocidental, e lá está o Budismo, também um movi­mento expressivo. Não cabe, aqui, discutir se o Budismo é ou não religião. Seja como for, ocupa um espaço considerável, mas também se ramificou. Existe, hoje, pelo menos mais de uma escola budista. O Positivismo, que viera da França, teve muita força no Brasil, mas não se manteve íntegro, pois o grande bloco se desmembrou entre científicos e religiosos no século passado. Sobrevive, hoje, uma religião sem Deus, sem cogitação acerca da vida futura, mas um culto ritualizado, com sacerdócio.
Muitos discípulos de Augusto Comte não queriam, de forma alguma, que o Positivismo se transformasse em religião e, por isso, eram chamados de científicos, ao passo que muitos outros absorveram logo o Positivismo como Religião da Humanidade. E realmente implantaram um culto religioso no Apostolado Positivista. Logo, também o Positivismo não conseguiu sustentar um padrão uniforme.
O fenômeno que se observa no meio espírita é muito diferente.
Sempre houve divergências, mas não se quebrou a unidade doutrinária, que é fundamental. O Espiritismo continua a ser um só, inconfundível, não se dividiu em diversos espiritismos. Há, entre nós, opiniões discordantes em determinados aspectos, porém, os princípios são os mesmos, não se alteraram. Não formamos sei­tas nem correntes à parte, apesar das divergências. Então, não há motivo para que estejamos vendo desunião onde há simples­mente desacordo de idéias.

Deolindo Amorim.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Primórdios do Movimento Espírita no Brasil


JUVANIR BORGES DE SOUZA
Palestra proferida na CONFERÊNCIA ESPÍRITA BRASIL-PORTUGAL, realizada
em Salvador (BA), de 16 a 19 de março de 2000.
I
A história do Espiritismo no Brasil é muito rica de fatos, de personagens e de
realizações. Um vasto documentário esparso está à espera de quem o reúna e
aprecie, com sensibilidade e conhecimento.
Ao contrário do que ocorreu nos países da Europa, nos quais os movimentos
oriundos da Nova Revelação cresceram rapidamente, nas primeiras décadas que
se seguiram aos trabalhos da Codificação, para depois estacionarem ou fenecerem,
o Movimento Espírita no Brasil cresceu continuamente, apesar das muitas vicissitudes
que teve de enfrentar.
II
É interessante observar que, antes do advento do Espiritismo, com a primeira
edição de “O Livro dos Espíritos”, em Paris, em 1857, já existiam idéias espíritas
irradiadas a partir de 1847-1848, nos Estados Unidos, com os fenômenos de
Hydesville.
III
Os primeiros experimentadores da mediunidade, no Brasil, saíram dos cultores
da homeopatia, com os médicos Bento Mure, francês, e João Vicente Martins,
português, aqui chegados em 1840, que aplicavam passes em seus clientes e falavam
em Deus, Cristo e Caridade, quando curavam.
José Bonifácio, o patriarca da Independência, cultor da homeopatia, é também
dos primeiros experimentadores do fenômeno espírita.
Em 1844, o Marquês de Maricá publicou um livro com os primeiros ensinamentos
de fundo espírita divulgados no Brasil (REFORMADOR de 1944, p. 207).
IV
Entretanto, o grupo mais antigo que se constituíra no Rio de Janeiro, para cultivar
o fenômeno espírita, foi o de Melo Morais, homeopata e historiador, por volta
de 1853, conforme registrado em Reformador de 1º de maio de 1883.
Freqüentavam esse grupo o Marquês de Olinda, o Visconde de Uberaba e
outros vultos do Império.
Os fenômenos das mesas girantes são noticiados pela primeira vez no Brasil
em 1853, pelo jornal O Cearense.
V
Assim, quando “O Livro dos Espíritos”, em sua edição original francesa, chegou
ao Brasil, encontrou meio favorável ao seu entendimento e divulgação, especialmente
na elite social da Capital do Império.
4
VI
Em 1860 surgiram os dois primeiros livros espíritas em português: “Os tempos
são chegados” do professor Casimir Lieutaud, francês radicado no Rio de Janeiro,
e “O Espiritismo na sua expressão mais simples”, tradução do professor Alexandre
Canu, cujo nome só aparece na terceira edição, em 1862.
VII
Em 1863 o Espiritismo já era comentado com seriedade.
O Jornal do Commercio, o maior órgão da imprensa da Capital do Império de
então, publicava, em 23 de setembro, artigo favorável à nova Doutrina.
No ano de 1865, surge a primeira contestação de espíritas a comentários
desfavoráveis ao Espiritismo. O Diário da Bahia, de Salvador, transcrevera artigo
extraído da Gazette Médicale. Esse artigo, desfavorável e mordaz, assinado pelo
Dr. Déchambre, foi contestado pelos Drs. Luís Olímpio Teles de Menezes, José Álvares
do Amaral e Joaquim Carneiro de Campos, em réplica publicada em 28 de
setembro de 1865, artigo que mereceu comentários favoráveis de Allan Kardec na
Revue Spirite (vol. 8, pág. 334).
VIII
Os primeiros centros espíritas nos moldes preconizados por Kardec surgem
na Bahia (Grupo Familiar do Espiritismo), no Rio de Janeiro e em outros Estados, a
partir de 1865.
IX
Em 1869 é editado em Salvador O Eco d’Além-Túmulo, “Monitor do Espiritismo
no Brasil”, sob a direção de L. O. Teles de Menezes, que teve efêmera duração.
X
Em novembro de 1873 funda-se em Salvador, Bahia, a Associação Espírita
Brasileira, continuação do Grupo Familiar de Espiritismo.
Alguns membros dessa Associação fundaram, em 1874, em Salvador, o Grupo
Santa Teresa de Jesus.
XI
A 2 de agosto de 1873 é fundada a Sociedade Grupo Confúcio, primeira entidade
jurídica do Espiritismo no Brasil, com estatutos impressos, amplamente noticiada
na imprensa nacional e estrangeira.
Nomes como os dos Drs. Siqueira Dias, Silva Neto, Joaquim Carlos Travassos,
Casimir Lieutaud, Bittencourt Sampaio fizeram parte dessa sociedade, cuja
divisa era “Sem caridade não há salvação”.
A esse Grupo, de curta existência de menos de três anos, deve o Espiritismo
no Brasil: a primeira tradução das obras de Kardec, por Joaquim Carlos Travassos
(Fortúnio); a primeira assistência gratuita homeopática; a primeira revelação do
Espírito Guia do Brasil — o Anjo Ismael.
XII
Vale a pena rememorar, para a edificação das novas gerações, as previsões
de Ismael, em rara e eloqüente mensagem de transcendente significação no Grupo
Confúcio, eis que ela resume a orientação espiritual no que diz respeito à missão
do Brasil:
“O Brasil tem a missão de cristianizar. É a Terra da Promissão. A Terra de todos.
A Terra da fraternidade. A Terra de Jesus. A Terra do Evangelho...
“Na Era Nova e próxima, abrigará um povo diferente pelos costumes cristãos.
5
Cumpre ao que ouve os arautos do Espaço, que convocam os homens de boavontade
para o preparo da Nova Era, reconhecer em Jesus o chefe espiritual. Com
o Evangelho explicado à luz do Espiritismo, a moral de Jesus, semeada pelos jesuítas
e alimentada pelos católicos, atingirá a sua finalidade, que é rejuvenescer os
homens velhos, que aqui nascerão ou para aqui virão de todos os pontos do Globo,
cansados de lutas fratricidas e sedentos de confraternidade. A missão dos espíritas
no Brasil é divulgar o Evangelho em espírito e verdade. Os que quiserem cumprir o
dever, a que se obrigaram antes de nascer, deverão, pois, reunir-se debaixo deste
pálio trinitário: Deus, Cristo e Caridade.
“Onde estiver esta bandeira, aí estarei eu, Ismael.”
XIII
Ao Grupo Confúcio seguiu-se a Sociedade Espírita “Deus, Cristo e Caridade”,
fundada em março de 1876, com programação francamente evangélica cumprida
até 1879.
Mas, cindida a Sociedade, passou a denominar-se Sociedade Acadêmica,
em processo de seleção natural e de acordo com as inclinações dos elementos
humanos. Uma ala da entidade, tendo à frente Bittencourt Sampaio, Antônio Luiz
Sayão e Frederico Junior, destacou-se para fundar a “Sociedade Espírita Fraternidade”,
em 1880.
A “Fraternidade” subsistiu com a orientação evangélica até transformar-se em
“Sociedade Psicológica”, desaparecendo em 1893.
Observe-se a definição de rumos, com a preocupação de alguns adeptos desavisados,
suprimindo o qualificativo “Espírita” e substituindo-o por “Acadêmica” e
“Psicológica” nas duas Sociedades.
Em 6 de agosto de 1880 era criada, em Campos, Estado do Rio de Janeiro, a
Sociedade Campista de Estudos Espíritas.
XIV
É criado em janeiro de 1881, na cidade de Areias, São Paulo, o Grupo Espírita
Areense, que lançou, no mesmo ano, o jornal União e Crença.
É no ano de 1881 que o Espiritismo é perseguido pela polícia, pela primeira
vez, sendo proibidas as sessões da “Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade”,
a Sociedade de maior prestígio à época.
XV
Em 6 de setembro de 1881, instalou-se, no Rio de Janeiro, o primeiro Congresso
Espírita do Brasil, do qual resultou o Centro da União Espírita do Brasil,
dentro da Sociedade Acadêmica.
XVI
Ainda em 1881, a 21 de novembro, instalou-se no Rio de Janeiro a “Associação
Amor e Caridade”; em março de 1882, a “Sociedade Espírita Allan Kardec” e
em setembro de 1882 o “Grupo Espírita Santo Antonio de Pádua”.
XVII
Augusto Elias da Silva, fotógrafo português radicado no Rio de Janeiro, observando
as difíceis condições para se fazer a defesa do Espiritismo pela imprensa,
contra os ataques impiedosos e insultuosos do Catolicismo, a religião oficial do
Estado, funda, em 21 de janeiro de 1883, o jornal Reformador.
Esse órgão, que recebeu o apoio de espíritas militantes de grande prestígio
na época, como Bezerra de Menezes e o Major Francisco Raimundo Ewerton Qua6
dros, procedeu à análise serena e segura de uma Pastoral católica que pregava o
ódio aos espíritas.
Por essa época já existiam várias Sociedades Espíritas na Capital do Império
e em algumas províncias.
XVIII
Em 2 de janeiro de 1884 é fundada a Federação Espírita Brasileira. A iniciativa
coube a Augusto Elias da Silva, que recebeu o apoio de Ewerton Quadros, Xavier
Pinheiro, Fernandes Figueira, Silveira Pinto e outros.
Instalada a novel Sociedade, com a eleição da primeira diretoria, uma das
primeiras resoluções foi a incorporação do órgão Reformador à nova Sociedade.
É interessante frisar que, apesar de sua denominação — Federação — não
contava a instituição com nenhuma filiação de qualquer outra entidade, inicialmente.
Torna-se, pois, evidente, que os objetivos da Sociedade, no campo federativo,
projetava-se no futuro, sendo seus fundadores os instrumentos de uma planificação
maior da Espiritualidade.
XIX
Ainda em 1883, surge em Campos (no atual Estado do Rio de Janeiro), em
fevereiro, a “Sociedade Espírita Concórdia” e em outubro do mesmo ano, em Macaé,
a “Sociedade Espírita Luz Macaense”.
O “Grupo Ismael” (Grupo de Estudos Evangélicos do Anjo Ismael), célula de ligação
entre os trabalhadores dos dois planos da vida, funciona desde 15 de julho
de 1880, fundado por Antônio Luiz Sayão e Bittencourt Sampaio. Dele fizeram parte
Bezerra de Menezes, Frederico Junior, Domingos Filgueiras, Pedro Richard, Albano
do Couto e muitos outros companheiros provindos de diversos núcleos.
Acedendo Bezerra de Menezes em aceitar a presidência da Federação em
1895, o “Grupo Ismael” acompanhou o apóstolo do Espiritismo no Brasil, apoiou-o
na direção da Casa e integrou-se nela, até os dias atuais.
XX
Alguns grupos espíritas da Capital aderiram à Federação, a partir de 1885,
como o “Grupo Espírita Menezes” (REFORMADOR de 15-2-1885) e elementos
prestigiosos na sociedade fluminense: o Dr. Francisco de Menezes Dias da Cruz,
homeopata, o Dr. Castro Lopes, filólogo e escritor, e vários outros.
XXI
Mas o fato de maior significação nos arraiais espiritistas foi, sem dúvida, a
adesão ao Espiritismo do eminente político, médico e católico, Dr. Adolfo Bezerra
de Menezes Cavalcanti, perante um auditório de 2.000 pessoas, no salão de honra
da Guarda Velha, no dia 16 de agosto de 1886.
A impressa registrou o acontecimento, o telégrafo levou a notícia às Províncias,
a Federação recebeu muitas adesões e os círculos católicos agitaram-se.
De novembro de 1886 a dezembro de 1893, Bezerra escreveu ininterruptamente,
aos domingos, sob o pseudônimo de Max, os célebres artigos sobre o Espiritismo,
no jornal O Paiz, o mais lido no Brasil, na época.
Ao mesmo tempo que escrevia, Bezerra pregava a união dos espíritas e concitava
os confrades à harmonia e à fraternidade.
É, por isso, considerado o campeão da unificação do Movimento Espírita,
com base na união e na tolerância entre os espíritas.
7
XXII
Em meados de fevereiro de 1889, previamente anunciado pela Espiritualidade,
o Espírito Allan Kardec viria “fazer uma análise da marcha da doutrina no Rio de
Janeiro, dirigindo-se a todos os espíritas”.
Através do notável médium Frederico Junior, da Sociedade Fraternidade,
Kardec ofereceu as conhecidas “Instruções” para o Movimento Espírita de então.
XXIII
Bezerra de Menezes vê na Federação, nos anos de 1888-89, então sob sua
presidência, a organização ideal onde se poderia unificar o Movimento Espírita. Por
isso nela instalou, em 1889, o Centro da União Espírita do Brasil, com a aprovação
dos grupos espíritas então existentes no Rio de Janeiro.
Mas a união dos espíritas não foi conseguida, apesar dos esforços de Bezerra
e do apelo do Espírito Allan Kardec.
Prevalecia a divergência entre “místicos” e “científicos”.
XXIV
Em São Paulo, Batuíra fundara, em 1890, o maior núcleo espírita do País, com
sede própria, e um órgão de divulgação, o Verdade e Luz, de grande tiragem. Deu
seu apoio à Federação e tornou-se o representante dela em São Paulo.
XXV
Em maio de 1887, foi fundada em Porto Alegre (Rio Grande do Sul) a Sociedade
Espírita Rio Grandense.
XXVI
Em fevereiro de 1890 surge em Maceió, Alagoas, o Centro Espírita das Alagoas.
XXVII
Em 1890, o Dr. Polidoro Olavo de São Thiago trouxe à Federação Espírita
Brasileira uma iniciativa feliz: a criação da Assistência aos Necessitados, em moldes
espíritas.
E o Dr. Pinheiro Guedes, em 1890, incorporou à pequena biblioteca da FEB
um acervo importantíssimo de livros sobre todos os ramos do conhecimento.
XXVIII
Proclamada a República em 1889, em 1890 surge o novo Código Penal, no
qual o Espiritismo era enquadrado como transgressão à lei, em alguns de seus dispositivos
dúbios.
O fato serviu para que os espíritas de todas as tendências se unissem contra
tais dispositivos, do que resultou a explicação do autor do Código, Dr. Antônio Batista
Pereira, de que tais disposições não atingiam o Espiritismo filosófico, religioso,
moral, educativo, mas o espiritismo criminoso, expressão infeliz então usada.
XXIX
Em compensação, o grande acontecimento que favoreceu o Espiritismo,
como também a todas as religiões praticadas no Brasil, foi a Constituição Republicana,
de 24 de fevereiro de 1891, que constituiu o Estado leigo, sem os liames que
o ligavam à Igreja Católica Romana.
XXX
Já por essa época fundavam-se, por todos os Estados brasileiros, núcleos
espíritas.
8
Em 1892 era fundada em Natal, Rio Grande do Norte, a Sociedade Natalense
de Estudos Espíritas.
Em maio de 1893 surgiu, na Bahia, o Grupo Espírita Amor e Caridade.
Nesse mesmo ano funda-se em Cuiabá, Estado de Mato Grosso, a Sociedade
Espírita Cristo e Caridade, com seu órgão A Verdade.
Em 1894 é criado em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, o Grupo Espírita Allan
Kardec.
Em outubro de 1894 instala-se em Lavras, Estado de Minas Gerais, o Centro
Espírita Luz e Caridade.
Em julho de 1895, funda-se em São Francisco do Sul, Santa Catarina, o Centro
Espírita Caridade de Jesus.
Em julho de 1897 instalou-se em Cáceres, Mato Grosso, o Grupo Espírita
Apóstolos de Cristo e da Verdade.
Nesse mesmo ano de 1897 é organizada a Livraria da FEB, por abnegados
espíritas.
XXXI
Bezerra de Menezes, aceitando a presidência da Federação Espírita Brasileira,
é empossado em 3 de agosto de 1895.
Começa uma nova fase para a Instituição, cuja influência se estende por todo
o território nacional.
Em 1897 são transferidos à Federação os direitos autorais, para a língua
portuguesa, de todas as obras de Allan Kardec, fato de suma importância para a
difusão da Doutrina Espírita no Brasil.
XXXII
Os inimigos e dissidentes internos do Movimento Espírita no Brasil sempre se
firmaram no divisionismo, no personalismo, no despreparo e nas interpretações
pessoais de determinados adeptos e nas vaidades individuais, em contraposição
aos princípios doutrinários.
Desde os primórdios do Espiritismo esses fatores estiveram presentes no
seio de seus movimentos, por toda parte. No Brasil não seria diferente.
Já os inimigos externos são conhecidos por suas atuações, desde meados do
século XIX, no Brasil: a) o positivismo, de grande influência nos primórdios da República;
b) o materialismo, opositor permanente; c) a classe clerical obscurantista.
XXXIII
Enquanto a Europa recebeu o Espiritismo nas suas expressões fenomênicas
e experimentais, não excluindo a remuneração pelos trabalhos mediúnicos, o que
desvirtua o caráter e a índole da Doutrina Espírita, no Brasil cultiva-se o Espiritismo
em seus múltiplos aspectos, mas com ênfase nos seus aspectos morais-religiosos,
com base no Evangelho de Jesus.
A expressão “Pátria do Evangelho”, usada pelo Espírito Humberto de Campos
em seu livro, é a reafirmação desse fato.
Para combater a tendência desagregadora do Movimento, de parte de alguns
adeptos, o grande remédio é a transformação interior do espírita, através da educação
do pensamento pela Mensagem do Evangelho do Cristo.
A grande tarefa a ser realizada pelo Movimento, antes da reforma das instituições,
é a regeneração moral do espírita, para que suas instituições reflitam seu
progresso individual e coletivo.
9
XXXIV
Desaparecendo Bezerra de Menezes do cenário dos encarnados, em 11 de
abril de 1900, após quatro anos e meio de intenso trabalho de persuasão, de paciência
e de exemplificação, deixava consolidada a Federação Espírita Brasileira,
com a orientação doutrinária que as administrações posteriores seguiriam.
Ficaram superadas as divergências internas, o academicismo, para cuidar-se
do estudo sério da Doutrina e do Evangelho, com o fortalecimento dos sentimentos
de solidariedade e de fraternidade.
Findara o século, desencarnara o ínclito timoneiro, mas as bases da grande
obra da união entre os espíritas ficaram delineadas.
É certo que um dos objetivos de Bezerra e de seus seguidores — a unificação
de todas as entidades espíritas em torno de uma instituição representativa dos ideais
de fraternidade entre os espíritas — não pudera concretizar-se.
A união pela harmonia e coesão preconizada por Allan Kardec nas célebres
mensagens de 1889 só seria conseguida quase meio século depois, em 1949.
XXXV
O sucessor de Bezerra de Menezes na presidência da FEB, um jovem de 30
anos, Leopoldo Cirne, seguiu o roteiro de seu antecessor, reajustando pormenores
impostos pelas circunstâncias.
Em 1901, procedeu-se à revisão dos Estatutos, com inovações de alto interesse
para o Movimento Espírita, destacando-se a filiação das instituições espíritas
de todo o Brasil aos quadros da Federação Espírita Brasileira, com vistas à unificação,
sob a forma federativa, plenamente aprovada na prática.
Multiplicaram-se desde então os atos de adesão, sem prejuízo da autonomia
administrativa e patrimonial das entidades adesas — Centros, Grupos, Uniões, Federações
— de todo o vasto território do País continental.
XXXVI
A 3 de outubro de 1904, a FEB organizou um intenso programa de três dias,
comemorativo do centenário de nascimento de Allan Kardec.
O convite dirigido a todas as entidades espíritas do País foi bem recebido.
Reuniram-se na então Capital da República os representantes de Centros e
Sociedades Espíritas do Amazonas, Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso,
Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São
Paulo, além das Casas Espíritas da Capital Federal.
O ponto mais importante desse Congresso foi o congraçamento geral e a
aprovação das “Bases de Organização Espírita”, documento que passou a orientar
a marcha do Movimento Espírita de nosso País, até nossos dias.
O desenvolvimento do Movimento, sua expansão com a criação de inúmeras
Instituições Espíritas, tornou-se notório, desde então.
As “Bases” preconizaram a criação de uma Instituição na Capital de cada
Estado brasileiro, a qual ficaria incumbida de filiar os Centros e Associações estaduais,
formando assim, com a FEB, uma rede de entidades fortalecidas na solidariedade
e na fraternidade, sob a inspiração e a égide da Doutrina Espírita.
As obras de Allan Kardec, em edições especiais e populares, foram publicadas
pela FEB nesse mesmo ano de 1904.
XXXVII
10
No período de 1905 a 1930, continuou expandindo-se o Movimento Espírita,
por todo o Brasil, com a criação de Grupos, Centros e Federações nos Estados,
além de periódicos espíritas, para a divulgação da Doutrina.
Queremos destacar, nesse período, dois fatos importantes, dentre os inúmeros
acontecimentos ocorridos:
O primeiro foi a mensagem, de alta significação, recebida em 9 de março de
1920, do Espírito de Verdade, que se manifestou através do Anjo Ismael, pelo médium
Albino Teixeira, então secretário da FEB.
Nela está prevista a missão do Brasil, antecedendo as páginas proféticas do
Espírito Humberto de Campos em “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”,
como se pode observar no pequeno trecho abaixo transcrito:
“A Árvore do Evangelho, plantada há dois mil anos na Palestina, eu a transplantei
para o rincão de Santa Cruz, onde o meu olhar se fixa, nutrindo o meu espírito
a esperança de que breve ela florescerá estendendo a sua fronde por toda a
parte e dando frutos sazonados de amor e perdão.” (Grifos nossos.)
O segundo fato foi a convocação de uma “Constituinte do Espiritismo” para se
reunir no Rio de Janeiro, idéia esdrúxula pelo seu próprio conteúdo, que não vingou.
Mas do encontro resultou a criação da Liga Espírita do Brasil, que se propôs a filiar
Centros Espíritas em âmbito nacional, em trabalho semelhante e concorrente ao da
FEB, dividindo o Movimento.
A Liga Espírita do Brasil subsistiu por mais de duas décadas, transformandose
em entidade estadual com o “Pacto Áureo”, em 1949.
XXXVIII
Era chegado o tempo de ampliar a divulgação da Doutrina Espírita pelo livro e
pela imprensa.
Impunham-se novas traduções das obras da Codificação e de clássicos do
Espiritismo.
A essa tarefa gigantesca dedicaram-se espíritas de escol, dentre os quais
destacamos a figura de Guillon Ribeiro, o grande presidente da FEB no período de
1930 a 1943.
Suas traduções primorosas das obras de Allan Kardec continuam sendo as
melhores na língua vernácula.
Inúmeras outras obras clássicas da Doutrina foram traduzidas para o português.
Ao mesmo tempo, a FEB cogitava da montagem de uma oficina gráfica própria
para a edição das obras espíritas, o que conseguiria, por etapas, a partir de
1939.
XXXIX
A partir de 1930 o Movimento Espírita Brasileiro, que desde os fins do século
XIX contou com médiuns notáveis, como Frederico Junior, João Gonçalves do Nascimento,
Bittencourt Sampaio, Zilda Gama, Albino Teixeira, e muitos outros, vê surgir
o mais notável medianeiro do século XX: Francisco Cândido Xavier.
Sua primeira obra psicografada, lançada pela FEB em 1932 — “Parnaso de
Além-Túmulo” — causou verdadeiro impacto nos meios culturais brasileiros. Essa
obra de poetas brasileiros e portugueses desencarnados, sui generis, confundiu os
céticos e agraciou os adeptos e simpatizantes do Espiritismo.
O moço humilde de Pedro Leopoldo começava sua missão de médium espírita
e de homem, que se prolongaria até nossos dias, contribuindo de forma extra11
ordinária para que a Doutrina Espírita e o Evangelho de Jesus fossem divulgados
de forma correta, persistente, admirável.
Emmanuel, André Luiz, Humberto de Campos e uma plêiade de Espíritos de
escol lançaram-se a um trabalho de longo curso junto aos homens, de esclarecimento
e de fraternidade através do livro espírita.
XL
Em julho de 1944, a viúva de Humberto de Campos, D. Catarina Vergolino de
Campos, ingressou em juízo com uma ação declatória contra a Federação Espírita
Brasileira e o médium F. C. Xavier, visando a obter, por sentença judicial, a declaração
de que a obra literária do Espírito Humberto de Campos era ou não do brilhante
escritor. O interesse era, no fundo, utilitarista, tendo em vista os direitos autorais.
A decisão judicial foi justa, precisa, e estabeleceu uma diretriz segura para a
questão da psicografia, declarando a autora carecedora da ação, com ganho de
causa para a Federação e o médium.
XLI
Autores espirituais como Emmanuel e André Luiz têm importância muito grande
no desdobramento da Codificação Espírita, pelo fato de suas obras esclarecerem
e complementarem as obras básicas da Doutrina Espírita, sem prejuízo ou
contraposição dos princípios fundamentais da Terceira Revelação.
Sínteses históricas da Terra e do Brasil, ensaios sociológicos, romances históricos,
comentários evangélicos à luz do Espiritismo e, a partir de 1943, toda a
série de André Luiz, iniciada com “Nosso Lar”, enriqueceram extraordinariamente a
literatura espírita no Brasil, que se vai expandindo para além-fronteiras em inúmeras
traduções para diversas línguas.
XLII
Fato que não poderíamos deixar de mencionar nesta pequena resenha é o da
instalação, em 1948, do Departamento Editorial da FEB.
Já que a Espiritualidade realizava sua parte, fazendo chegar aos homens as
lições mais belas, claras e úteis através de livros de grande importância para o esclarecimento
e edificação da Humanidade, era necessário que alguém cuidasse da
parte que competia aos encarnados.
O Presidente Wantuil de Freitas cuidou de dotar a FEB de uma editora à altura
das necessidades.
Posteriormente, outras editoras seguiram o exemplo, ampliando-se enormemente
a capacidade de editoração de livros, revistas e jornais no Movimento Espírita
nacional.
XLIII
Não obstante o lado positivo do Movimento em constante expansão, o divisionismo
no seu seio continuava, alimentado pelo personalismo, pelas vaidades e pelas
interpretações infelizes da Doutrina.
Mas muitos espíritas estavam atentos à necessidade da união fraterna e da
unificação do Movimento.
Surge então a oportunidade do entendimento entre correntes diversas, representadas
por espíritas conscientes de seus deveres perante a Doutrina.
A ocasião para esse entendimento ocorreu no mês de outubro de 1949, por
ocasião da realização de um Congresso da Confederação Espírita Pan-Americana.
Após tentativas de aproximação dos responsáveis por diversos segmentos do
Movimento Espírita de diversos Estados brasileiros, encontram-se todos na sede
da Federação Espírita Brasileira no Rio de Janeiro, no dia 5 de outubro de 1949.
Esse encontro, que ficou conhecido como a Grande Conferência Espírita do
Rio de Janeiro, posteriormente denominado “Pacto Áureo”, pelos seus resultados e
importância, é um marco decisivo na história do Espiritismo no Brasil, pelas suas
conseqüências, pelas suas disposições e sobretudo pelo induzimento à concórdia,
à fraternidade, ao trabalho útil, à tolerância, à solidariedade entre os cultores de
uma Doutrina Superior, que precisa ser entendida em sua verdadeira índole e finalidade
e que induz os homens aos sentimentos do Amor e da Justiça.
XLIV
Entendemos que os primórdios do Movimento Espírita no Brasil poderiam ser
situados nos primeiros anos do Espiritismo em nossa Pátria, nos meados do século
XIX.
Mas poderiam ser entendidos também em face de determinados acontecimentos
marcantes.
Preferimos esta última hipótese, escolhendo o “Pacto Áureo” como o fato inconfundível
que divide duas fases do Movimento.

Revista O Reformador abril de 2000

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A VAIDADE RELIGIOSA

12/11/2012


A VAIDADE RELIGIOSA

Ramakrishna, um dos maiores avatares que a Humanidade já conheceu, dizia que “podem desaparecer gradualmente as vaidades comuns a todos os homens, mas difícil de morrer é a vaidade de um religioso a respeito da sua religiosidade”.
Analisando o sábio conceito, observamos, no entanto, que maior vaidade existe no religioso não em relação aos demais religiosos, adeptos de crenças diferentes da que ele professa, mas sim em relação ao seu entendimento dos preceitos doutrinários que abraça, que considera superior ao entendimento de seus próprios irmãos de fé.
Vejamos se conseguimos ser mais claros no que pretendemos dizer.
Por exemplo: até certo ponto, compreende-se a rivalidade entre os adeptos de duas crenças religiosas, em suas interpretações da Verdade, por vezes absolutamente antagônicas uma à outra, através de princípios praticamente inconciliáveis. Como, porém, compreender-se o ódio com o qual, não raro, um espírita se lança contra outro, apenas e tão somente porque, sobre determinado tema, possuem um ângulo de visão um pouco diferente entre si?!
Numa Casa Espírita há quem, frequentemente, discuta – e discuta feio! – por conta do passe, da reunião mediúnica, da tarefa assistencial, cada qual buscando, vaidosamente, a primazia de seu ponto de vista.
No Movimento Espírita, infelizmente, a vaidade campeia, nos deixando profundamente envergonhados e entristecidos conosco mesmos, que falhamos nas mais comezinhas demonstrações de nossa fé.
Debaixo de estranha fascinação, muitos comparecem a essa ou àquela reunião apenas com o propósito de discordar do companheiro que, no fundo, está procurando fazer o melhor ao seu alcance, preocupado com o conteúdo, e não com o rótulo.
Muitos outros, a fim de continuarem vinculados às atividades de seus respectivos grupos, impõem certas condições:
- Tem que ser do meu jeito, ou eu me afasto...
- Eu sou o fundador desta Casa – coloquei muito dinheiro do bolso aqui...
- Sou o mais antigo frequentador e não aceito que passem por cima de minha autoridade...
- Aqui quem toma todas as decisões sou eu – não acato nem a palavra do Guia...
A vaidade de um espírita a respeito de seus conhecimentos, ou pseudoconhecimentos, é muito difícil de morrer, e mesmo quando morre, durante muito tempo, permanece mumificada... Como falou Ramakrishna, é mais fácil que lhe desapareça qualquer outra vaidade comum!
Daí a necessidade de nos empenharmos, com todas as forças do espírito, para que o Espiritismo, em nossas existências, não seja mais um pedestal para as ilusões efêmeras que buscamos, das quais, evidentemente, haveremos de nos arrepender amargamente.
Feliz, pois, do espírita cujo único propósito na Doutrina, a cada dia, já seja o de tão somente servir, incondicionalmente, à Causa do Evangelho Redivivo, sobre o homem velho que resiste em “morrer” dentro de si lançando mais uma pá de cal!...

INÁCIO FERREIRA

Uberaba – MG, 12 de novembro de 2012.