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domingo, 24 de outubro de 2021

A MAIOR DÁDIVA (...)a viúva deu muitíssimo, porque, enquanto os grandes senhores aqui testemunharam a própria vaidade, com inteligência, desfazendo-se de bens que só lhes constituíam embaraço à tranqüilidade futura, ela entregou ao Todo-Poderoso aquilo que significava alimento para o próprio corpo...

 
Irmão X
 
Na assembléia luzida do Templo de Jerusalém, os descendentes do povo escolhido exibiam generosidade invulgar à frente da preciosa arca de contribuições públicas.

Todos traziam algum tributo de consideração ao Santo dos Santos, cada qual mostrando a liberalidade da fé.

Vestes de linho e valiosas peles, enfeites dourados e aromas indefiníveis impunham, ali, deliciosas impressões aos sentidos.

Os fariseus, sobretudo, demonstravam apurado zelo no culto externo, destacando-se pela beleza das túnicas e pelos ricos presentes ao santuário.

Jesus e alguns discípulos, de passagem, acompanhavam as manifestações populares, com justificado interesse. E Judas, entre eles, empolgado pelo volume das oferendas, abeirava-se do cofre aberto, seguindo os menores movimentos dos doadores, com a cobiça flamejante no olhar.

A certa altura, aproximou-se do Messias e informou-o :
– Mestre: Jeroboão, o negociante de tapetes, entregou vinte peças de ouro!...

– Abençoado seja Jeroboão – acentuou Jesus, sereno –, porque conseguiu renunciar a excesso apreciável, evitando talvez pesados desgostos. O dinheiro demasiado, quando não se escora no serviço aos semelhantes, é perigoso tirano da alma.

O discípulo voltou ao posto de observação, com indisfarçável desapontamento, mas, decorridos alguns instantes, reapareceu, notificando:
– Zacarias, o velho perfumista, sentindo-se enfermo e no fim dos seus dias, trouxe cem peças!...

– Bem-aventurado seja ele – disse o Cristo, em tom significativo –, mais vale confiar a fortuna aos movimentos da fé que legá-la a parentes ambiciosos e ingratos... Zacarias prestou incalculável benefício a ele mesmo.

Judas tornou, de moto próprio, à fiscalização para comunicar, logo após, ao grupo galileu:
– A viúva de Cam, o mercador de cavalos que faleceu recentemente, acaba de entregar todo o dinheiro que recebeu dos romanos pela venda de grande partida de animais.

E, baixando o tom de voz, completava, cauteloso, o apontamento:
– Dizem por aí que alguns centuriões planejavam roubar-lhe os bens...
Jesus sorriu e considerou:
– Muitos recursos amontoados sem proveito provocam as sugestões do mal. Feliz dela que soube preservar-se contra os malfeitores.

O aprendiz curioso regressou à posição e retornou, loquaz :
– Mestre: Efraim, o levita de Cesaréia, entregou duzentas moedas! Duzentas!...
– Bem-aventurado seja Efraim – falou o Amigo Divino, sem afetação –, é grande virtude saber dar o que sobra, em meio de tantos avarentos que se rejubilam à mesa, olvidando os infelizes que não dispõem de uma côdea de pão!...

Nesse instante, penetrou o Templo uma viúva paupérrima, a julgar pela simplicidade com que se apresentava.

Diante do sorriso sarcástico de Judas, o Senhor acompanhou-a, de perto, no que foi seguido pelos demais companheiros.

A mulher humilde orou e apresentou duas moedinhas ao fausto religioso do santuário célebre.

Muitos circunstantes riram-se, irônicos, mas Jesus apressou-se a esclarecer:
– Em verdade, esta pobre viúva deu mais que todos os poderosos aqui reunidos, porquanto não vacilou em confiar ao Templo quanto possuía para o sustento próprio.

A observação caridosa e bela congelou a crítica reinante.
Pouco a pouco, o recinto enorme tornou à calma.

Israelitas nobres e sem nome abandonaram, rumorosamente, o domicílio da fé.

Jesus e os apóstolos foram os derradeiros na retirada.

Quando se dispunham a deixar a enorme sala vazia, eis que uma escrava de rosto avelhentado e passos vacilantes surgiu no limiar para atender à limpeza.
Movimenta-se em minutos rápidos.

Aqui, recolhe flores esmagadas, além, absorve em panos úmidos os detritos deixados por enfermos descuidados.

Tem um sorriso nos lábios e a paciência no olhar, brunindo o piso em silêncio, para que o ar se purificasse na sublime residência da Lei.

Pedro, agora a sós com o Messias, ainda impressionado com as lições recebidas, ousou interrogar:– Senhor, foi então a viúva pobre a maior doadora no Templo de nosso Pai?

– Realmente – elucidou Jesus, em tom fraterno –, a viúva deu muitíssimo, porque, enquanto os grandes senhores aqui testemunharam a própria vaidade, com inteligência, desfazendo-se de bens que só lhes constituíam embaraço à tranqüilidade futura, ela entregou ao Todo-Poderoso aquilo que significava alimento para o próprio corpo...

Em seguida a leve pausa, apontou com o indicador a serva anônima que se incumbia da limpeza sacrificial e concluiu :– A maior benfeitora para Deus, aqui, no entanto, ainda não é a viúva humilde que se desfez do pão de um momento...

É aquela mulher dobrada de trabalho, frágil e macilenta, que está fornecendo à grandeza do Templo o seu próprio suor.
 
 
Do livro Pontos e Contos. Pelo Espírito Irmão X. - Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Se hoje abandonassem o veículo de matéria densa, quem diz que seriam felizes? Reflexão em torno da mensagem no Livro Entre a Terra e o Céu.

Trecho retirado do Livro,Entre o Céu e a Terra,no capítulo 8, intitulada"Deliciosa Excursão". Uma linda mensagem para refletirmos acerca de nossos compromissos com o trabalho em pró de nossa evolução e da necessidade missionária de servirmos ao próximo.


...Antonina, porém, como se estivesse irradiando insopitável curiosidade, mesclada de alegria, voltou a exclamar:

Ah! se morrêssemos hoje!... se a carne não nos pesasse mais!...

( Nota  do Blog: nesta altura, as irmãs encarnadas estavam junto ao mentor espiritual, após o sono, para reverem seus filhos ,já desencarnados, em uma col
ônia , observando, maravilhadas, a beleza do plano Espiritual , com sentimento de permanecerem nesta região.)


O Ministro, contudo, imprimindo mais grave entonação à voz, mas sem perder a brandura que lhe era peculiar, considerou, de imediato:

Se hoje abandonassem o veículo de matéria densa, quem diz que seriam felizes? Quem de nós obterá a suprema ventura, sem a perfeita sublimação pessoal?

E, fitando Antonina com bondade misturada de compaixão, observou:
Agora, vocês visitarão filhinhos abençoados que a morte lhes arrebatou temporariamente ao convívio terrestre. Vocês se sentem como que num palácio dourado, em pleno paraíso de amor, mas, e os filhinhos que ficam? Haverá Céu sem a presença daqueles que amamos? Teremos paz sem alegria para os que moram em nosso coração? Imaginemos que as algemas do cárcere físico se partissem agora... O atormentado lar humano cresceria de vulto na saudade que as tomaria de assalto... A lembrança dos filhos aprisionados no Planeta acorrentá-las-ia ao mundo carnal, à maneira de forte raiz retendo a árvore no solo escuro. Os rogos e os gemidos, as lutas e as provas dos rebentos menos felizes da existência lhes falariam ao espírito mais imperiosamente que os cânticos de bem-aventurança dos filhos afortunados e, naturalmente, desceriam do Céu para a Terra, preferindo a posição de angustiadas servas invisíveis, trocando a resplendente glória da liberdade pelos dolorosos padecimentos da prisão, de vez que a ventura maior de quem ama reside em dar de si mesmo, a favor das criaturas amadas...

( Notas do Blog:nesta altura, Clarêncio,o mentor espiritual, se referia a felicidade de nossas irmãs, naquela ocasião, por estarem indo de encontro aos seus filhos, já desencarnados, fazendo-as refletirem,quanto ao desejo de renunciar a vida,sobre as consequências , onde estariam algemadas aos entes queridos, no plano físico, caso elas desencarnassem, naquele instante, por conta de não haverem  conquistado, ainda, a evolução espiritual , assim sendo seriam elementos de perturbação aos seus familiares levando angústias ao invés de os ajudarem de forma consciente , com amor e zelo ,sem paixões)

As duas mulheres ouviram as sensatas ponderações sem dizer palavra.
Finda a pausa ligeira, o instrutor continuou:
— Somos devedores uns dos outros!... Laços mil nos jungem os corações. Por enquanto, não há paraíso perfeito para quem volta da Terra, tanto quanto não existe purgatório integral para quem regressa ao humano sorvedouro! O amor é a força divina, alimentando-nos em todos os setores da vida e o nosso melhor patrimônio é o trabalho com que nos compete ajudar-nos mutuamente.

Na paisagem banhada de luz, experimentei mais alta veneração pela Natureza, que, em todas as esferas, é sempre um livro revelador da Eterna Sabedoria...
Nossas irmãs, tocadas por júbilo inexprimível, afiguravam-se-me formosas madonas de sonho, repentinamente vivificadas, diante de nós.

É pelo trabalho — prosseguiu o orientador — que nos despojamos, pouco a pouco, de nossas imperfeições. A Terra, em sua velha expressão física, não é senão energia condensada em época imemorial, agitada e transformada pelo trabalho incessante, e nós, as criaturas de Deus, nos mais diversos degraus da escada evolutiva, aprimoramos faculdades e crescemos em conhecimento e sublimação, através do serviço... O verme, arrastando-se, trabalha em benefício, do solo e de si mesmo; o vegetal, respirando e frutescendo, ajuda a atmosfera e auxilia-se. O animal, em luta perene, é útil à gleba em que se desenvolve, adquirindo experiências que lhe são valiosas, e nossa alma, em constantes peregrinações, através de for-mas variadas, conquista os valores indispensáveis à sublime ascensão... Somos filhos da eternidade, em movimentação para a glória da verdadeira vida e só pelo trabalho, ajustado à Lei Divina, alcançaremos o real objetivo de nossa marcha!

(Nota
 do Blog:A felicidade dos nossos grandes Missionários é o trabalho incessante em favor dos que necessitam, auxiliando nos para que possamos crescer espiritualmente, além de zelar pelo progresso de nosso planeta)

Antonina, que parecia mais acordada que a sua companheira, para a contemplação do excelso quadro que nos circundava, perguntou, com enlevo:
- Porque não guardamos a viva recordação de nossas existências anteriores? não seria bendita felicidade o reencontro consciente com aqueles que mais amamos?...
— Sim, sim... — confirmava Clarêncio, enquanto nossa deliciosa excursão prosseguia, célere — mas, na condição espiritual em que ainda nos situamos, não sabemos orientar os nossos desejos para o melhor. Nosso amor ainda é insignificante migalha de luz, sepultada nas trevas do nosso egoísmo, qual ouro que se acolhe no chão, em porções infinitesimais, no corpo gigantesco da escória. Assim como as fibras do cérebro são as últimas a se consolidarem no veículo físico em que encarnamos na Terra, a memória perfeita é o derradeiro altar que instalamos, em definitivo, no templo de nossa alma, que, no Planeta, ainda se encontra em fases iniciais de desenvolvimento. É por isso que nossas recordações são fragmentárias... Todavia, de existência a existência, de ascensão em ascensão, nossa memória gradativamente converte-se em visão imperecível, a serviço de nosso espírito imortal...

( Nota do Blog:Diante de nossas emoções desequilibradas, se soubéssemos do nosso passado, fatalmente, seríamos influenciados, sucumbindo. O objetivo  da reencarnação é o da  possibilidade  de construirmos uma nova história,onde possamos conquistar nossa evolução moral , nos redimindo do passado delituoso, reunindo com nossos irmãos ,de outrora, os nossos desafetos, e reconciliarmos , como nos recomenda o Evangelho, sem rancor e mácula, com Amor e Perdão.)

Mas se pudéssemos reconhecer no mundo os nossos antigos afetos, se pudéssemos rever os semblantes amigos de outras eras, identificando-os... — aventurou Antonina, reverente.
Retomar o contacto com os melhores, seria recuperar igualmente os piores — atalhou Clarêncio, bondoso — e, indiscutivelmente, não possuímos até agora o amor equilibrado e puro, que se consagra aos desígnios superiores, sem paixão. Ainda não sabemos querer sem desprezar, amparar sem desservir. Nossa afetividade, por enquanto, padece deploráveis inclinações. Sem o esquecimento transitório, não saberíamos receber no coração o adversário de ontem para regenerar-nos, regenerando-o. A Lei é sábia. De qualquer modo, porém, não olvidemos que nosso espírito assinala todos os passos da jornada que lhe é própria, arquivando em si mesmo todos os lances da vida, para formar com eles o mapa do destino, de acordo com os princípios de causa e efeito que nos governam a estrada, mas somente mais tarde, quando o amor e a sabedoria sublimarem a química dos nossos pensamentos, é que conquistaremos a soberana serenidade, capaz de abranger o pretérito em sua feição total...
O Ministro fez ligeiro intervalo, sorriu paternalmente para nós e rematou:
— A Lei, contudo, é invariavelmente a Lei. Viveremos em qualquer parte, com os resultados de nossas ações, assim como a árvore, em qualquer trato do solo, produzirá conforme a espécie a que se subordina.
O firmamento parecia responder às sugestões da palestra admirável.
Bandos de aves mansas pousavam na ramaria que brilhava não longe de nós.
O Sol apresentava perceptíveis raios diferentes, até agora desconhecidos à apreciação comum na Terra, provocando indefiníveis combinações de cor e luz.
Por abençoada e colorida colméia de amor, harmonioso casario surgiu ao nosso olhar.
Centenas de gárrulas crianças brincavam entre fontes e flores de maravilhoso jardim...

Fonte: Livro “Entre a Terra e o Céu” – Psicografia de Francisco Cândido Xavier pelo Espírito de André Luiz

quinta-feira, 29 de abril de 2021

O ÓBULO DA VIÚVA POBRE " Seu ato foi, portanto, um ato de santidade, porque de suprema renúncia."

O ÓBULO DA VIÚVA POBRE
 
"Sentando-se Jesus em frente ao gazofilácio, observava como o povo punha ali as suas dádivas. Muitos ricos deitavam grandes quantias; chegando, porém, uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas, que valem um quadrante. Chamando, então, Jesus os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais que todos os ofertantes; pois estes deram do que lhes sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo o que possuía, tudo de que dispunha para o seu sustento".

Vendo em Jesus o Mestre, o Educador que ensina através das páginas do livro da vida fazendo do mundo uma escola, vamos considerar o fruto de sua observação, com respeito à dádiva dos ricos e à da viúva pobre. 

 Narra o texto que Jesus acompanhava o gesto daqueles que depositavam no tesouro do templo as suas ofertas. O excelso intérprete da justiça divina verificou que os homens ricos lançavam vultosas somas no gazofilácio, julgando, talvez, assegurar com seu ouro uma bela posição no reino dos céus. O que, porém, chamou a atenção dele, de modo particular, foi a insignificante oferta da viúva pobre, que deitou no cofre sacro duas moedinhas de cobre, no valor dum quadrante, ou seja, 4 centavos.

O Mestre observa a atitude daquela mulher, penetra o seu íntimo, devassa os recessos mais secretos do seu coração e predica assim aos discípulos: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deitou mais na arca do templo que todos os ofertantes. Porque estes deram do que lhes sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo o que possuía, tudo o que tinha reservado para o seu sustento. É significativa a expressão — em verdade vos digo — com que Jesus costumava preceder as sentenças graves que proferia. Em verdade quer dizer na realidade, de fato, isto é assim, e não como os homens querem que seja, ou supõem que há de ser.

A linguagem humana é capciosa: traduz o convencionalismo de cada época; reflete a opinião sempre errônea e falsa da conceituação vigente adotada pela maioria, ou, ainda, a expressão da ignorância oficializada pelos usos e costumes sociais. Apartando-se deste círculo vicioso, o Sábio Instrutor da humanidade acentua que o seu dizer é — em verdade — isto é, fora de todo o conceito terreno eivado de dolo; fora de todo o juízo humano pronunciado levianamente, sem conhecimento de causa, na ignorância dos fatores ocultos que determinam os acontecimentos e os fenômenos que caem sob o domínio dos sentidos.

Ele estava em condições de apreciar os fatos da vida com justeza, pois que não os julgava pelas aparências, porém mediante plena compreensão dos elementos que entram em jogo para produzi-lo. Daí a sua autoridade acerca dos julgamentos que emitia e das lições que ministrava, fazendo-as preceder desta advertência: em verdade vos digo. Vejamos, agora, o que Ele, em verdade, nos ensina neste caso do óbolo da viúva pobre.

A maneira como Jesus aprecia o mérito ou demérito das nossas obras difere, sobremaneira, do critério, usado pelos homens. No episódio, que ora nos serve de tema, vemos que Ele reputou a oferenda da viúva como a maior de todas depositadas no gazofilácio. Nada obstante, foi a menor, a mais pequenina numericamente falando. Isto porque o Mestre se louvou, não nas aparências, isto é, no que se podia perceber com os sentidos, mas nos motivos íntimos que impeliram os ofertantes a lançar suas dádivas na arca do templo. Por que o fizeram eles? Quais os fatores que preponderaram no ânimo dos ricos para que dessem grandes somas?
A vaidade, talvez, porque as ofertas eram feitas publicamente; o interesse — quem sabe? — de comprar com o seu ouro a simpatia dos deuses, esperando, por esse processo, alcançar a desejada felicidade futura; ou, ainda, para serem agradáveis aos influentes sacerdotes e aos poderosos pontífices, usufrutários e desfrutadores das rendas do templo. Tais motivos, por si só, invalidam, moralmente, as mais vultosas dádivas. Os que agiram visando àqueles alvos já receberam a sua recompensa, de acordo com os planos concebidos.

Quanto à viúva, cabe-lhe o mérito da máxima sinceridade com que agiu. Essa virtude é que dá valimento ao seu gesto. Ela considerava a espórtula ao templo como um dever sagrado, portanto imprescindível. A prova do que dizemos está no esforço que fez; mais do que esforço, no sacrifício, visto como se privou do único recurso pecuniário de que dispunha, o qual se destinava ao seu próprio sustento! Seu ato foi, portanto, um ato de santidade, porque de suprema renúncia.

A soma total de todo o ouro, deitado, no decurso dos séculos, no gazofilácio do famoso templo de Jerusalém, não valia, por certo, a excelsitude do sentimento que, do fundo do coração daquela pobre mulher desprotegida, a compeliu a privar-se das suas duas únicas moedinhas, reservadas para atender à mais premente e cruel das necessidades humanas — que é o pão de cada dia.

O Soberano Intérprete da divina justiça costumava computar, no seu julgamento, os valores morais, e não somente os de ordem material, como fazem os homens. Por isso teve em maior estimação a mesquinha oferta da viúva, comparada com a opulenta doação dos ricos: estes, sem nenhum esforço deram uma insignificante parcela do muito que possuíam. O juízo humano se funda no testemunho dos sentidos. O juízo divino se baseia no critério da razão e no senso do coração. A verdade, como disse muito bem Flammarion, não está no que vemos, mas naquilo que escapa à apreciação dos nossos órgãos visuais.

A balança da excelsa justiça não pesou o ouro que os ricos deitaram no gazofilácio, mas sim, o ouro que eles retiveram em seu poder. Estabelecido o confronto, constatou que a dádiva foi exígua. No que respeita, porém, à viúva pobre, a oferta foi maravilhosa, pois que ela havia dado tudo quanto tinha. Quem dá tudo que possui dá o máximo. Não é possível haver dádiva maior. Tal o critério que Jesus empregou ao proferir a sentença: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais que todos os ricos.

Pela ordem destas considerações, ou seja, por associação natural de idéias em torno deste episódio evangélico, ocorre-nos à mente um fato que nos vem provar quanto a nossa sociedade vive divorciada dos precípuos elementos de justiça. Queremos nos referir à maneira de aquilatar-se o valor do trabalho, de onde decorre, conseqüentemente, a distribuição da riqueza. Costuma-se dividir o trabalho humano em duas categorias: o intelectual e o manual, isto é, o da inteligência e o dos músculos.
Os primeiros fazem jus a remunerações desproporcionalmente maiores que os últimos. O trabalho intelectual chega, por vezes, à culminância de um valor meramente estimativo, fora de qualquer princípio de equidade, enquanto que o labor dos músculos, quanto mais rude e mais penoso, tanto menos valia representa. Será justa semelhante maneira de julgar o produto da atividade humana? Por que motivo vale muito o esforço intelectual e vale pouco, quase nada, o esforço muscular? Será, talvez por que se empresta uma certa nobreza ao trabalho intelectual? Mas será, acaso, menos elevado ou menos nobre o trabalho manual?

Parece-nos que aqueles que arroteiam o solo, abrindo leiras para receber a semente no milagre cotidiano da multiplicação dos pães, exercem o mais humano e santo dos labores. Demais, o que cumpre considerarmos é a utilidade do trabalho executado. A significação do vocábulo trabalho, segundo os economistas, é a atividade humana empregada na produção de utilidades. Ora, o trabalho dos músculos é tão necessário à sociedade como o da inteligência. Um não é, em rigor, superior a outro, porque ambos os ramos de atividade preenchem as necessidades da vida humana.

Onde, pois, a razão de tamanha disparidade no cômputo que se faz dos produtos manuais em comparação com os intelectuais? A única explicação está em que são os intelectuais que fazem as leis e regulam a sua aplicação na sociedade. Vivemos sob o despotismo da inteligência. Daí procede a iniquidade. Sim, a iniquidade porquanto o lixeiro ou o cavoucador que despende o seu maior esforço e que, como a viúva pobre, dá tudo quanto tem, merece perceber um salário que lhe proporcione, e à sua família, relativo conforto e bem-estar. Eles têm direito à vida e aos legítimos prazeres que refrigeram e amenizam as asperezas da luta cotidiana.

O que Jesus apreciou na dádiva da viúva foi o supremo esforço que ela empregou, despojando-se de tudo que possuía, para atender às solicitações da sua crença. Por isso, e só por isso, as suas duas moedinhas de cobre valiam mais que os punhados de ouro que os nababos daquela época lançaram na arca do templo. Apliquemos este critério no valor que damos ao trabalho, e cheguemos à conclusão de que muito merece aquele que muito se esforça, aquele que faz o melhor que pode no exercício do mister que exerce, seja este de que natureza for.

Em realidade, todo o trabalho é intelectual. Os músculos são dirigidos pela inteligência. Não há labor puramente manual, pois que o homem não é máquina de função mecânica e monótona. Os que exercem os rudes misteres musculares são aqueles cuja inteligência ainda não foi educada suficientemente para lhes proporcionar um trabalho menos árduo e mais compensador.

Neste mundo, dadas as suas condições de planeta atrasado, de mundo expiatório, os que sabem mais se locupletam dos que sabem menos, sendo esta a razão das formidáveis desproporções no aquilatar-se o valor das várias modalidades de trabalho, e, como consequência, da distribuição da riqueza.

E, assim se explica a advertência do Mestre dirigida aos seus discípulos: Se a vossa justiça não for superior à dos escribas e fariseus, não entrareis no reino de Deus. A justiça que vigora neste mundo é justiça de escribas e fariseus, cujos frutos são a miséria, as rivalidades e as guerras.

Vinícius

Do Livro : Na Escola do Mestre

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Na hora do passe





Dirigia José Petitinga distinta organização espírita na capital baiana, quando um rapaz, interessado em grandes projetos de assistência social, veio procurá-lo.


E entre ambos a conversação se alongou.

— Petitinga, não podemos ficar parados. A hora é de trabalho, trabalho…

— Também penso assim.

— Que acha você levantarmos um orfanato para as criancinhas desamparadas de Salvador?

— Excelente projeto.

— E um sanatório para obsidiados?

— Muito importante.

— E uma vila completa para os nossos irmãos infelizes que moram em casebres misérrimos? Uma vila, Petitinga, em que pudéssemos reunir muitas famílias?

— O plano é uma bênção.

— Um lar para velhinhos é uma necessidade… Às vezes volto para a casa, à noite, e vejo anciãos na calçada. Que diz você de um albergue moderno, de amplas proporções?

— Isso seria uma concessão de Deus.


 — Noto igualmente que precisamos de um instituto diferente para os alcoolizados. Uma casa-hospital, em que os internados esqueçam o vício… Que opinião é a sua?


— Nem tenho expressões. Uma obra dessas é um monumento de amor.

 — E uma escola? Que diz você de uma escola? — Uma escola, em bases espíritas, é caminho do Reino de Deus.

Petitinga não cabia em si de contente.

Afinal — pensava — surpreendera ave rara.

Alguém que iria longe, homem disposto a trabalhar e a sofrer pela causa.

E como o tempo passava e tinha serviço urgente, convidou:

— Bem, meu amigo, a sua palavra brilha para mim. Continuemos conversando em serviço. Estou justamente na hora do passe a dois irmãos tuberculosos e terei muito prazer no seu concurso…

Mas o moço, incompreensivelmente, alterou o semblante. Fez-se lívido. Repetiu, várias vezes, o gesto de quem expulsa a poeira do paletó, e ele, que sonhava tantas obras de caridade, respondeu, desenxabido:

— Ora, Petitinga, isso não. Você compreende. Não posso buscar moléstias contagiosas. Tenho família.

E lá se foi…


Livro : A Vida Escreve


.Hilário Silva/Psicografia de Francisco C. Xavier



terça-feira, 11 de novembro de 2014

diretrizes individuais nos grupos

André Luiz
 
Se você foi chamado a cooperar num grupo de atividade cristã, agradeça as oportunidades de servir e esqueça seus direitos imaginários para que a luz do dever resplandeça em seu caminho.
 
Pagar mensalidade do estilo e colaborar com o dinheiro não é difícil; dê o concurso direto de suas forças na obra a realizar.
 
Guarde para seus companheiros a gentileza de que se sente credor diante deles; a cordialidade é alicerce da paz.
 
Antes de exigir novas manifestações dos amigos espirituais, não deixe de manifestar, por sua vez, através de atos, palavras e pensamentos, os sublimes valores que já recebeu; se o intercâmbio com o plano invisível é agradável, o trabalho da experiência humana é eminentemente importante.
 
Aplique os ensinamentos evangélicos no serviço diário a que consagra o coração; se você não está interessado em espiritualizar-se, é inútil que as entidades superiores se sacrifiquem por sua causa.
 
Não use a crítica, nem a reprovação; faça o bem que estiver ao seu alcance, porque o problema não é o de repetir - “se fosse comigo faria assim” - mas de imprimirmos nossas obrigações pessoais à frente do Cristo.
 
Não perca tempo reclamando contra a ingratidão, procurando o espinho ou medindo as pedras da estrada; lembre-se de que o seu grupo é também uma orquestra convocada a executar o serviço de Jesus para a Harmonia Divina da vida e, se você não usar o instrumento que lhe compete com a eficiência devida, a música viverá sempre desafinada.
 
De “Relicário de Luz”, de Francisco Cândido Xavier

NOSSA CASA. "A mente é a casa onde cada um de nós reside..."(...)Se encontramos alegria na crítica ou na perversidade, naturalmente nos demoramos no cárcere escuro da maledicência ou do crime..."

NOSSA  CASA

Emmanuel
 
A mente é a casa onde cada um de nós reside, segundo as nossas próprias concepções.
A imaginação é o arquiteto de nosso verdadeiro domicílio.
Se julgarmos que o ouro é o material adequado à nossa construção, cedo sofremos a ventania destruidora ou enregelante da ambição e da inveja, do remorso e do tédio, que costuma envolver a fortuna, em seu castelo de imprevidência.
Se supomos que o poder humano deve ser o agasalho de nosso Espírito, somos apressadamente defrontados pela desilusão que habitualmente coroa a fronte das criaturas enganadas pelos desvarios da autoridade.
Se encontramos alegria na crítica ou na perversidade, naturalmente nos demoramos no cárcere escuro da maledicência ou do crime.
Moramos, em espírito, onde projetamos nosso pensamento.
Respiramos o bem ou o mal, de acordo com as nossas preferências na vida.
Na Terra, muitas vezes temos a máscara física emoldurada em honrarias e esplendores, conservando-nos intimamente em deploráveis cubículos de padecimentos e trevas.
Só o trabalho incessante no bem pode oferecer-nos a milagrosa química do amor para a sublimação de nosso lar interno.
Por isso mesmo, disse Jesus: - “Meu Pai trabalha até hoje e eu trabalho também”
Idealizemos mais luz para o nosso caminho.
Abracemos o serviço infatigável aos nossos semelhantes e a nossa experiência, de alicerces na Terra, culminará feliz e vitoriosa, nos esplendores do Céu.
(De “Coragem”, de Francisco Cândido Xavier – Espíritos Diversos)
 

CRÍTICA E NÓS. (...)"Escapam da crítica exclusivamente as obras que nunca saem de plano..."

CRÍTICA  E  NÓS

Emmanuel
 
Diante da tarefa que se te reserva, no levantamento do bem comum, é justo respeitar o que os outros dizem, no campo da crítica; entretanto, é forçoso não paralisar o serviço e nem prejudicar o serviço, em virtude daquilo que os outros possam dizer.
*
Guardar a consciência tranqüila e seguir adiante.     
*
Escapam da crítica exclusivamente as obras que nunca saem de plano, à maneira da música que não atrai a atenção de ninguém, quando não se retira da pauta.
*
Viver a própria tarefa é realizá-la; e realizá-la é sofrê-la em si.
*
Censores e adversários, expectadores e simpatizantes podem efetivamente auxiliar e auxiliam sempre, indicando-nos os pontos vulneráveis e aspectos imprevistos da construção sob nossa responsabilidade, através das opiniões que emitem; no entanto, é preciso esquecer que se encontram vinculados a compromissos de outra espécie.
*
Encargo que nos pertença respira conosco e se nos erige no caminho em alegria, aflição, apoio e vida. Cabe a nós conduzi-lo, executá-lo, aperfeiçoá-lo, revivescê-lo.
*
Muitos querem que sejamos desse modo; que nos comportemos daquela maneira; que assumamos diretrizes diversas daquelas em que persistimos, ou que vejamos a estrada pelos olhos que os servem; todavia é imperioso considerar que cada um de nós é um mundo por si, com movimentos particulares e órbitas diferentes.
*
Sustentemo-nos fiéis ao nosso trabalho e rendamos culto à paz de consciência, atendendo aos deveres que as circunstâncias nos conferiram e, oferecendo o melhor de nós mesmos, em proveito do próximo, estejamos tranqüilos, porque, tanto nós quanto os outros, somos o que somos com a obrigação de melhorar-nos, a fim de que cada um possa servir sempre mais, na edificação da felicidade de todos, com aquilo que é, e com aquilo que tem.

Do Livro “Coragem”. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
 

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

10 - O LEGADO DA TOLERÂNCIA


A perene madrugada inebriava aquelas vidas.
Dias assinalados pela apoteose da esperança, inundados de amor, em que a cornucópia da misericórdia derramava bênçãos em abundância, constituíam uma quadra que jamais a Terra experimentara nos seus fastos passados ou voltaria a
gozar no futuro...
A paisagem dos corações cada vez se multiplicava pela presença dos aflitos e angustiados que se atropelavam na expectativa de fruir os resultados felizes daqueles momentos, que, talvez, fossem interrompidos logo mais...
As conjunturas da política dominante e ignominiosa do usurpador estrangeiro produziam sulcos de revolta no solo das almas, e os bajuladores armavam ciladas nas bocas torpes dos representantes da comunidade, procurando pôr a perder o Pomicultor Sublime.
Onde Êle surgia, à semelhança de radiosa luz, atraía necessitados do corpo e da alma. Suas sementes de amor eram espalhadas fartamente em tentativas constantes de futura fecundação abençoada.
Os convidados ao colégio da fraternidade, que conviviam na Sua intimidade, armazenavam os grãos da vida, aprimorando a terra íntima do espírito para fecundá-los oportunamente.
Não compreendiam, porém, em toda a magnitude a grandeza da Mensagem que Êle espalhava em fortuna farta.
Assim, repontavam ciúmes em forma de zelo exacerbado, — queixas injustificáveis, —todas essas bagatelas da pequenez humana na planície das paixões, sem forças para superarem os óbices, galgando por fim o planalto da compreensão geral.
A Boa Nova seguia triunfalmente e muitos que dela sebeneficiavam saíam a comunicar a outros corações o milagre da sua claridade lenificadora.
As narrações exaltadas competiam com os ódios que explodiam resultantes do despeito gratuito dos comensais da politicagem religiosa e da administração ingrata.
* * *
Senhor, eis que encontramos um homem pelo caminho que curava em Teu Nome, expulsando Espíritos infelizes, — revelou, expedito, João, retornando de pequena viagem. (*)
E que fizeste? — Inquiriu Jesus.
Repreendemo-lo — protestou o discípulo inexperiente. — Expusemos que êle não tinha o direito de usar o Teu nome, pois que não privava contigo, não formava no grupo dos nossos. E fi-lo, defendendo os nossos objetivos para que os propósitos de elevação em que nos empenhamos não se entorpeçam através de
pessoas incapazes de imprimir à própria vida a excelência da lição que nos transmite.
Brilhavam em júbilo os olhos do jovem companheiro, excessivamente zeloso quanto ao futuro do Evangelho nascente.
Jesus, porém, fitou-o com infinita bondade, admoestando-o, benigno:
— Fizeste mal; pois todo aquele que não é contra nós é por nós.
"Se alguém em meu nome expulsa Espíritos maus, asserenando obsessos e acalmando obsessores, cultivando nas almas o pólen da saúde que se converte em pomar de tranqüilidade, não poderá voltar-se contra nós, depois, assacando calúnias e no futuro erguendo-nos acusações. A palavra de amor é moeda de paz
para aquisição do continente das almas."
E desejando expressar de maneira inolvidável o significado da tolerância e da caridade, prosseguiu:
— O servidor do Evangelho deve fiscalizar com sincera acuidade as nascentes íntimas dos sentimentos de modo a cercear no começo os adversários cruéis, que são o egoísmo e o orgulho, a inveja e o ciúme com toda a corte de nefandos sequazes. . . Os inimigos de fora não conseguem atingir o homem, senão exteriormente, pois que só alcançam a forma, sem lobrigarem mudar a constituição
intrínseca do ser. Vinculado ao ideal superior da vida a que se entrega, o discípulo sincero compreende os que dormem no amolecimento das paixões, desculpa os perseguidores e não receia que outros corações, também, fascinados pela luz da verdade, desejem integrar-se no lídimo ideal da solidariedade a benefício de todos.
Dia virá em que a Mensagem da Boa Nova se espalhará pelos múltiplos campos do mundo em formosa semeadura de abnegação, convocando multidões ao ministério excelso. Irmanados no ideal do serviço, todos aqueles que nos não combaterem ajudar-nos-ão, contribuindo eficientemente para a colheita dos resultados valiosos.
Como se se alongasse pelos confins dos tempos, pressentindo as dores acerbas e as lutas árduas pela implantação do Reino de Deus entre os homens, o Mestre concluiu:
Irromperão em catadupas violentas os rios do sofrimento, de quando em quando, arrebentando represas e correndo destruidores com o objetivo de esmagar os que estejam à frente, em nome das paixões irrefreáveis, ou em caudais contínuas
ameaçando arrastar os que teimem em suportar-lhes o ímpeto. . . Eu estarei vigilante, porém, acima das vicissitudes, socorrendo os timoneiros da fé e recolhendo os náufragos.. . No entanto, as desagregações internas, as disputas intestinas pela supremacia de uns em detrimento de outros, as lutas pela herança,
esgrimindo as armas nefastas das guerras surdas e as intrigas sutis, serão mais danosas do que as agressões que procedam do mundo contra o nosso ideal de amor. . . 

"Interliguem-se todos aqueles que sonham com a imortalidade, os que me amam, afastando barreiras e derrubando obstáculos para que mais rapidamente se implantem as realidades do amor e do perdão no solo das vidas...
"Ninguém se escandalize nunca, por encontrar fora da grei o mensageiro da saúde, o intermediário do bem, porque aparentemente estejam desvinculados das linhas conhecidas do serviço.
"Meu Pai dispõe de recursos que nos escapam e como é o Autor de tudo e de todos, cumpra cada um irrestritamente com o seu dever, transferindo para Êle, o Senhor de todos nós, os resultados do nosso trabalho."
Silenciou, tranqüilo, e uma aragem de confraternização penetrou melhor nos homens que O escutavam, no reduzido grupo da amizade, como se avaliassem as responsabilidades que lhes cabiam.
Face ao dever maior, a tolerância é medida de justo progresso, tradutora das conquistas realizadas pelo discípulo fiel e afervorado da Verdade, no serviço redentor.
(*) Marcos 9:38 a 42.
Nota da Autora espiritual. 


Amélia Rodrigues
Livro : Luz do Mundo


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Entre Chamados e Escolhidos


 
Emmanuel
 
Apreciando aquele ensinamento dos “chamados e escolhidos”, a destacar-se da palavra do Senhor, nas lições do Evangelho, mentalizemos  o assunto, transferindo-o a uma oficina terrestre.
Em favor da produção de serviço, são aí admitidos colaboradores de variada procedência, escalonados em classes diversas.
Todos são chamados pela obra a fazer, a fim de conjugarem esforços dentro das finalidades da instituição a que se ajustam.
Entretanto, raros se portam à altura dos compromissos que assumem.
Muitos deles devoram o tempo, renovando indagações incessantes acerca dos problemas comezinhos da casa, a pretexto de recolherem esclarecimentos e diretrizes.
São os servos ociosos.
Outros muitos confiam-se à irascibilidade e à cólera, arrojando de si os fluídos empestados da indisciplina com que espalham o fogo da rebelião e o gelo do desânimo, anulando máquinas e desencorajando os companheiros.
São os servos revoltados.
Muitos ainda entregam-se ao culto da lisonja, abandonando as obrigações que lhes cabem, para tecerem elogios venenosos à pessoa dos dirigentes, com o fim de lhes subornarem a consciência, à cata de vantagens materiais.
São os servos bajuladores.
Muitos se refugiam nos programas extensos, salientando o futuro com discursos brilhantes, nos quais se reportam a imaginárias realizações, abominando os deveres humildes que consideram indignos da inteligência que lhes é própria.
Mas há um tipo de cooperador que indaga pouco e age muito, que cultua a dignidade pessoal sem descer aos desvarios do orgulho, que sustenta o respeito devido à ordem sem se render à adulação e que traça diretivas de trabalho para cumpri-las, cada dia, ao preço do próprio amor e da própria renúncia.
Servos desses são aqueles que o serviço elege por seus diretores, sem qualquer recurso a caprichos particulares.
Assim, para que te faças escolhido como sustentáculo na obra  da luz e do amor, não basta te consagres a longas plataformas verbais ou a preciosas promessas da boca, vazias de substância e sentido.
Antes de tudo, é imprescindível saibamos escolher a própria luz e o próprio amor como normas de nossa vida, porque assim, através do constante serviço aos outros, edificaremos o verdadeiro serviço a nós mesmos em abençoada e permanente ascensão.
 
F É,   P A Z   E   A M O R  -  Francisco Cândido Xavier - Emmanuel

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

NA EDIFICAÇÃO DA FÉ


Emmanuel

 
Ninguém edificará o santuário da fé no coração, sem associar-se, com toda alma, ao trabalho, naquilo que o trabalho oferece de belo e de superior dentro da vida.
                                                                     *
Para alcançar, porém, a divina construção, não nos basta os primores intelectuais, a eloqüência preciosa, o êxtase contemplativo ou a desenvoltura dos cálculos no campo da inteligência.
                                                                     *
Grandes gênios do raciocínio são, por vezes, demônios da tirania e da morte.
                                                                     *
Admiráveis doutrinadores, em muitas ocasiões, são vitrinas de palavras brilhantes e vazias.
                                                                     *
Muitos adoradores da Divindade, frequentemente, mergulham na preguiça a pretexto de cultuar a Glória Celeste.
                                                                     *
Famosos matemáticos, não raro, são símbolos de sagacidade e exploração inferior.
                                                                     *
Amemos o trabalho que a Eterna Sabedoria nos conferiu, onde nos situamos, afeiçoando-nos à sua execução sempre mais nobre, cada dia, e seremos premiados pela grande compreensão, matriz abençoada de toda a confiança, de toda a serenidade e de todo o engrandecimento do espírito.
                                                                     *
Para penetrar os segredos da estatuária, o escultor repete os golpes do buril milhões de vezes.
                                                                     *
Para produzir o vaso de que se orgulhará em sua missão bem cumprida, o oleiro demora-se infinitamente ao contato da argila.
                                                                     *
Para expor as peças com que enriquecerá o conforto humano, o carpinteiro, de mil modos, recapitulará o aprimoramento do tronco bruto.
                                                                     *
Não te queixes se a fé ainda te não cora a razão.
                                                                     *
Consagra-te aos pequeninos sacrifícios, na esfera de tuas diárias obrigações, à frente dos outros, cede de ti mesmo, exercita a bondade, inflama o otimismo por onde passes, planta a gentileza ao redor de teus sonhos, movimenta-te no ideal de sublimação que elegeste para lavo de teu destino...
                                                                     *
Aprende a repetir para que te aperfeiçoes...
                                                                     *
Não vale fixar indefinidamente as estrelas, amaldiçoando as trevas que ainda nos cercam.
                                                                     *
Acendamos a vela humilde de nossa boa vontade, no chão de nossa pobreza individual, para que as sombras terrestres diminuam e o esplendor solar sintonizar-se-á com a nossa flama singela.
                                                                     *
A tomada insignificante é o refletor da usina, quando ligada aos seus poderosos padrões de força.
                                                                     *
Confessemos Jesus em nossos atos de cada hora, renovando-nos com ELE, avançando felizes em SEU roteiro de renunciação, auxiliando a todos e servindo cada vez mais, em SEU NOME, e, de inesperado, reconheceremos nossa alma inundada por alegria indizível e por silenciosa luz...
                                                                     *
É que o trabalho de comunhão como o Mestre terá realizado em nós a Sua Obra Gloriosa e a fé perfeita e divina, por tesouro inalienável, brilhará conosco, definitivamente incorporada à nossa vida e ao nosso coração.

Da Obra “A Verdade Responde” – Espíritos: Emmanuel E André Luiz – Médium: Francisco Cândido Xavier
Digitado por: Lúcia Aydir
 

domingo, 30 de março de 2014

O Cristão que Voltou "...Não procures Jesus como admirador apaixonado, mas inútil... Torna ao plano terrestre, luta, chora, sofre e ajuda no círculo dos outros homens..."

O Cristão que Voltou

Conta-se que certo cristão de recuados tempos, após reconhecer a grandeza do Evangelho, tomou-se de profunda ansiedade pela completa integração com o Senhor. Ouvia, seguidos de paz celeste, as preleções dos missionários da Revelação Divina e, embora tropeçasse nos caminhos ásperos da Terra, permanecia em perene contemplação do Céu, repetindo:

Jamais serei como os outros homens, arruinados e falidos na fé! Oh! meu Salvador, suspiro pela eterna união contigo!

De fato, conquanto não guardasse o fingimento do fariseu, em pronunciando semelhantes palavras, fixava as lutas e fraquezas do próximo, com indisfarçável horror.

Assombravam-no os conflitos humanos e as experiências alheias repercutiam-lhe na alma angustiosamente. Não seria razoável refugiar-se na oração e aguardar o encontro divino?

Figurava-se-lhe o mundo velho campo lodoso, ao qual era indispensável fugir.

Concentrado em si mesmo, adotou o isolamento como norma a seguir no trato com os semelhantes. Desligado de todos os interesses do trabalho humano, vivia em prece contínua, na expectativa de absoluta identificação com o Mestre. Se alguma pessoa lhe dirigia a palavra, respondia receoso, utilizando monossílabos apressados. Pesados tributos de sofrimento exigia a vida de bocas levianas e insensatas e, por isso, temia oferecer opiniões e pareceres. Nas assembléias de oração, quase nunca era visto em companhia de outrem. Desviara-se de tudo e de todos na sua sede de Jesus Cristo. À noite, sonhava com a sublime união e, durante o dia, consagrava-se a longos exercícios espirituais, absorvidos na preparação do dia glorioso.

Nem por isso, contudo, a vida deixada de acenar-lhe ao espírito, convidando-lhe o coração ao esforço ativo. No lar, no templo, na via pública, o mundo chamava-o a pronunciamento em setores diversos. Entretanto, mantinha-se inflexível. Detestava as uniões terrestres, desdenhava os laços afetivos que unem os seres e, zombava de todas as realizações planetárias e punha toda a sua esperança na rápida integração com o Salvador. Se encontrava companheiros cogitando de serviços políticos, recordava os tiranos e os exploradores da confiança pública, asseverando que semelhantes atividades constituíam um crime. À frente de obrigações administrativas, afirmava que a secura e a dureza caracterizam a atitude dos que dirigem as obras terrenas e, perante os servidores leais em ação, classificava-os à conta de bajuladores e escravos inúteis. Examinando a arte e a beleza, desfazia-se em acusações gratuitas, definindo-as por elemento de
exaltação condenável da carne transitória e, observando-a ciência, menoscabava-lhe as edificações. Unir-se-ia a Jesus, - ponderava sempre – e jamais entraria em acordo com a existência no mundo.

Se companheiros abnegados lhe pediam colaboração em serviços terrestres, perguntava:

Para quê?

E acrescentava:

Os felizes são bastante endurecidos para se aproveitarem de meu concurso, e os infelizes bastante desesperados, merecendo, por isso mesmo, a purificação pela dor. Não perturbarei meu trabalho, seguirei ao encontro de meu Senhor. E de tal modo viveu apaixonado pela glória do encontro celeste que se retirou, um dia, do corpo, pela influência da morte, revestido de pureza singular. Na leveza das almas tranqüilas, subiu, orgulhoso de sua vitória, para ter com o Senhor e com Ele identificar-se para sempre.

No esforço de ascensão, passou por velhos desiludidos, mães atormentadas, pois sofredores, jovens sem rumo e espíritos informados de todas sorte... Não lhes deu atenção, todavia. Suspirava por Cristo, pretendia-lhe a convivência para a eternidade.

Peregrinou dias e noites, procurando ansiosamente, até que, em dado instante, lhe surgiu aos olhos maravilhados um palácio deslumbrante. Luzes sublimes banhavam-no todo e, lá dentro harmonias celestes se fazem ouvir em deliciosa surdina.

O crente ajoelhou-se e chorou de júbilo intenso. Palpita-lhe descompassado o coração amante. Ia, enfim, concretizar o longo sonho.

Contudo, antes que se dispusesse a bater junto à portaria resplandecente, apareceu-lhe um anjo, diante do qual se prosterna, extasiado e feliz. Quis falar, mas não pôde. A emoção embargava-lhe a voz, todavia, o mensageiro afagou-lhe a fronte e exclamou compassivo:

Jesus compadeceu-se de ti e mandou-me ao teu encontro.

Estamos no Reino do Senhor? – inquiriu, afinal, o crente venturoso.

Sim, respondeu o emissário angélico, - temos à frente o início de vasta região bem-aventurada do Reino.

Posso entrar? – indagou o cristão contente.

O anjo fixou nele o olhar melancólico e informou.

Ainda não meu amigo.

E ante o interlocutor, profundamente decepcionado, continuou:

Realizaste a fiel adoração do Mestre, mas não executaste o trabalho do Pai. Teu coração em verdade palpitou pelo Cristo, entretanto, Jesus não se enfeita de admiradores apaixonados como as árvores que se adornam de orquídeas. Não pede cortejadores para a sua glória e sim espera que todos os seus aprendizes sejam também glorificados. Por isso, em sua passagem pela Terra nunca se afirmou proprietário do mundo ou doador das bênçãos. Antes, atendeu a todos os sublimes deveres do serviço comum e convidou os homens a cumprir os superiores desígnios do nosso Eterno Pai. Não deixou os discípulos diretos, aos quais chamou amigos, na qualidade de flores ornamentais de sua doutrina e sim na categoria de sal da Terra destinado à glorificação do gosto de viver. Estabelecera-se longa pausa que o mísero desencarnado não ousou interromper. O mensageiro, porém, acariciando-o, com bondade, observou ainda:

Volta, meu amigo, e completa a realização espiritual! Não procures Jesus como admirador apaixonado, mas inútil... Torna ao plano terrestre, luta, chora, sofre e ajuda no círculo dos outros homens! A dor conferir-te-á dons divinos, o trabalho abrir-te-á portas benditas de elevação, a experiência encher-te-á o caminho de infinita luz e a cooperação entregar-te-á tesouros de valor imortal! Não necessitarás, então, procurar o Senhor, como quem busca um ídolo, porque o Senhor te procurará como amigo fiel! Volta e não temas!

Nesse momento, algo aconteceu de inesperado e doloroso. Desapareceram o palácio, o anjo e a paisagem de luz... Estranha escuridão pesou no ambiente e, quando o pobre desencarnado tornou a sentir o beijo da luz nos olhos lacrimosos, encontrava-se, no mesmo lar modesto de onde havia saído, ansioso agora por retomar o trabalho da realização divina noutra forma carnal.

Livro: Coletâneas do Além- Irmão X psicografado por Francisco Cândido Xavier
Fonte: http://www.caminhosluz.com.br/detalhe.asp?txt=6340