EADE - LIVRO I
ROTEIRO
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Objetivos
• Elaborar uma linha histórica do Islamismo.
• Analisar os principais ensinamentos da religião
islã, à luz
do entendimento espírita.
IDÉIAS PRINCIPAIS
CRISTIANISMO E ESPIRITISMO
MÓDULO II - O CRISTIANISMO
• O [...] Islamismo não deixou de ser um grande benefício para a época em que
surgiu e para o país onde nasceu, porque fundou o
culto da unidade de Deus
sobre as ruínas da idolatria. Allan Kardec: Revista espírita. Jornal de estudos
psicológicos. Novembro de 1866.
• O Islamismo, ou Islã é uma religião monoteísta — revelada por Deus ou Allah
ao profeta Maomé, segundo a tradição islâmica —, cujos
ensinamentos estão
contidos no livro Alcorão. Ao contrário do que se
pensa, o Islã (ou Islam) não
foi enviado a um só povo, os árabes. As suras 21:107 e 7:158
dizem: “E não lhe
enviamos, senão como misericórdia para a Humanidade’’.
• A revelação divina, base da crença islâmica,
está resumida no seguinte artigo
de fé: Não há um Deus senão Alá, e
Maomé é seu Profeta.
• Numerosos Espíritos reencarnam com as mais altas
delegações do plano invisível.
Entre esses missionários, veio aquele que se chamou
Maomet, ao nascer em
Meca no ano 570. Filho da tribo dos Coraixitas, sua
missão era reunir todas as
tribos árabes sob a luz dos ensinos cristãos, de modo
a organizar-se na Ásia um
movimento forte de restauração do Evangelho do
Cristo, em oposição aos abusos
romanos, nos ambientes da Europa. Emmanuel: A caminho da luz, cap. 17.
ISLAMISMO
1. Informações básicas
Allan Kardec nos esclarece que há poucas informações sobre Maomé e
a religião que ele fundou: o Islamismo. Mas considera importante estudá-la.
Esclarece, ainda, que, a «[...] despeito de suas imperfeições, o
Islamismo não deixou de ser um grande benefício para a época em que surgiu e
para o país onde nasceu, porque fundou o culto da unidade de Deus sobre as
ruínas da idolatria.» 4
Destacamos, em seguida, informações básicas para o entendimento da
fé islâmica.
Islamismo ou Islã: religião monoteísta, supostamente revelada por
Deus, ou Allah, ao profeta Maomé, cujos ensinamentos estão contidos no livro Alcorão.
Ao contrário do que se pensa, o Islã (ou Islam) não foi enviado a
um só povo, os árabes. As suras 21:107 e 7:158 dizem: ‘’E não lhe enviamos,
senão como misericórdia para a Humanidade. digo, ó gentes, eu sou o mensageiro de
Allah para todos vocês’’.
Trata-se de uma religião que não possui o sistema sacerdotal comum
a muitas interpretações religiosas, cristãs e não-cristãs. Entretanto, os imãs, líderes de orações nas mesquitas e responsáveis por sermões, têm
boa educação teológica e são funcionários das mesquitas. 15
Allah ou Alá: palavra árabe que significa Deus, e que se relaciona,
etimologicamente,
à palavra hebraica El (ou Al, por corruptela), usada na Bíblia para nomear o “Deus dos
hebreus”. Para a religião Islã, Allah é um Juiz Onipotente, mas repleto de amor
e de compaixão, daí a razão de todas as suras (versículos) do Corão se
iniciarem com as palavras: “Em nome de Alá, o Misericordioso, o Compassivo’’.
Alá não é apenas o Deus a que todos os homem devem se submeter, é também o
único que pode perdoar e auxiliar. 11
Islã ou Islam: palavra árabe com dupla significação: paz (sentido etimológico) e submissão (sentido religioso). Trata-se de uma doutrina que teve origem na
Arábia e que, ainda hoje, guarda íntima relação com a cultura desse país, embora
atualmente só uma minoria dos muçulmanos seja árabe. A palavra “submissão” tem
um sentido muito específico para o Islamismo: o de que o homem deve se entregar
a Deus e se submeter a Sua vontade em todos os instantes e setores da vida
social. Esta é a condição para ser muçulmano. 10
Mahommad ou Maomé: nome que significa “o altamente louvado’’,
representa
o sumo-profeta dos muçulmanos. Descende de Ismael, filho de Abraão
com a escrava árabe Hagar. Nasceu por volta de 570 d.C., em Meca, importante centro
comercial de Hedjaz – região da Península Arábica, situada ao longo do Mar
Vermelho. Faleceu em Medina, com a idade de 63 anos. Na época em que Maomé
recebeu a revelação Islã, a região era habitada por povos nômades, organizados em
estirpes, por sua vez dividas em tribos, linhagens (clãs) e famílias poligâmicas.
Maomé — cognominado o Muhamad ou o glorificado —
pertencia à estirpe dos Kinanas da tribo de Banu Quraysh,
já adaptada à vida urbana, em Meca, e descendente da linhagem de Banu Abd manàf’. 7
Maomé vivia do transporte de caravanas e do comércio, em toda a
extensão da Península Arábica. Órfão de pai antes do nascimento, Maomé foi
criado, até os seis anos de idade, por sua mãe. Após o falecimento desta, foi
educado pelo avô e tio paternos, ambos politeístas. Aos 25 anos conheceu
Khadija, sua futura esposa, mulher bonita e rica, que também organizava
caravanas. Teve muitos filhos com ela. Aos 40 anos sentiu a necessidade de se
refugiar nas grutas de Meca para meditar sobre os destinos do homem, uma vez
que se encontrava insatisfeito com a prática politeísta da religião de sua
família.
A história do Islã nos informa que, certa vez, Maomé meditava na
caverna do monte Hira, no início do ano 610 d.C., quando o anjo Gabriel lhe
apareceu e disse: “tu és o escolhido’’. Em seguida, lhe transmitiu os primeiros
versículos da revelação corânica. 8 O instante do contato de
Maomé com o anjo é chamado de Noite do Poder,
porque, segundo a tradição islâmica, nessa noite foi possível “ouvir o mato
crescer e as árvores falando, e as pessoas que presenciaram essas coisas
enxergavam pelos olhos de Deus”.
Maomé relata que durante o contato com Gabriel, entrou em profundo
transe e que sua alma foi marcada, como por ferro em brasa, pelas palavras pronunciadas
pelo anjo. Desfazendo a sintonia, saiu aterrorizado da caverna, correu para
casa, e lá foi tomado de espasmos de agonia, imaginando que, daí em diante, se
transformaria num profeta, num louco ou num possesso. Reza a tradição que sua
esposa lhe teria dito: “Rejubila-te, caro esposo meu, e enche o teu coração de
alegria, pois serás o profeta deste povo.” 27
Maomé acreditava que somente o Islamismo conduziria a Humanidade à
salvação, porque o Judaísmo e o Cristianismo haviam corrompido o significado da
Revelação de Deus.
Corão ou Alcorão: os vocábulos têm o significado literal de
“leitura por excelência’’ ou “recitação’’. É o livro sagrado do Islamismo,
escrito em língua árabe, e teria sido revelado por Alá a Maomé por intermédio
do anjo Gabriel.
Após a revelação, Maomé passou a ser reconhecido pelos mulçumanos
como o maior dos profetas, o último mensageiro divino. O Corão foi documentado,
durante a vida do profeta, por cerca de 43 escribas, que receberam o título de califas.
Á medida que Maomé recebia a revelação, os registros eram feitos em pedaços de
couro, em folhas de tamareiras e em pedras polidas. Maomé não escreveu nada,
por ser iletrado. 5
O Corão possui 114 suratas ou suras — semelhantes a capítulos bíblicos
—, cada uma delas contendo um número variável de versículos. Nas
suratas encontramos relatos da história dos povos antigos; leis que
regulamentam a vida do muçulmano; fatos científicos; previsões sobre a vida
futura, e várias explicações para entender o Criador. As suratas, reveladas, respectivamente, em Meca e em Medina, são
classificadas em suratas antes da hégira (dispersão árabe), e em
suratas após a hégira.
As suratas reveladas em Meca abrangem normas sobre a crença em
Deus, em seus anjos, em seus livros, em seus apóstolos (mensageiros) e sobre o
Dia do Juízo Final. As suratas reveladas em Medina dizem respeito aos rituais e
à jurisprudência da religião Islã. 6 O Corão só é considerado
legítimo se escrito em árabe, uma vez que qualquer tradução significa
deturpação do texto original.
Assim, o seguidor da doutrina do Islam, ou muçulmano, tem como
obrigação saber a língua árabe para poder ler o Corão. 22
Umma ou uma: comunidade de crentes islâmicos, coordenadora do movimento
islâmico. Quando Maomé sofreu perseguição em Meca, cidade onde vivia, teve que
fugir com os seus seguidores para o norte da Península Arábica.
Na cidade de Medina, em Yatrib, fundou a primeira umma de crentes
islâmicos, que se tornou famosa por suas atividades. Essa cidade ficou
conhecida como “a cidade do profeta’’ (Madìnat anabi).
Muçulmanos ou islamitas: são pessoas que professam o Islamismo. Podem ser
árabes, de origem árabe ou de qualquer outra etnia.
Caaba ou Ka’ba: palavra árabe que significa cubo. Situada em Meca, a caaba
é o santuário e a mais antiga mesquita dos muçulmanos. Trata-se de um edifício
quadrado coberto por um pano negro, que os muçulmanos acreditam ter vindo do
céu. Num canto da Caaba fica uma pedra negra incrustada na parede, de enorme
significado simbólico. Essa pedra é adorada como sendo o último pedaço da
morada celeste, sucessivamente restaurada por Abraão e por Ismael no fim do
Dilúvio Universal. 18
Mesquita: templo muçulmano de oração e de ofícios religiosos.
Minarete: torre da mesquita, de onde parte o chamado da oração. Antigamente,
ali havia uma pessoa – o muezim – que fazia o chamamento;
hoje, porém, ouve-se uma fita gravada. O “chamado da oração’’, feito em
diversas horas do dia, é assim: Alá é Grande, não há outro Deus senão Alá, e Maomé é seu profeta. Vinde para a oração, vinde para a salvação, Alá é
Grande, não há outro Deus senão Alá.
Meca, Mekka, Makkat ou Makkah: cidade da Arábia Saudita, capital da província
de Hedjaz. É a cidade santa dos muçulmanos, desde o
século VII da Era Cristã, por ter sido o local onde Maomé nasceu e onde está
localizada a mesquita mais importante dos islâmicos (Caaba). Geograficamente,
está localizada na parte ocidental da Península Arábica, próxima do Mar
Vermelho, cerca de 72 Km de Djidda (ou Jidda). Ocupa uma área situada entre
colinas e o vale do rio Uuede
Ibraim. Inicialmente foi chamada
Macoraba ou Makoraba, por Ptolomeu, rei do Egito. Depois recebeu o nome de
Bakka e, finalmente, Meca. No século XX a cidade foi transformada num emirado
árabe e capital do reino de Hedjaz, em 1916. No ano de 1924 Meca foi conquistada
por Ibn
Saud e passou a fazer parte do seu reino, que ele chamaria de
Arábia Saudita, em 1932.
Din: é, para a religião mulçumana, um sistema de vida, um conjunto de princípios
e práticas que regem o relacionamento do homem com o Criador; consigo mesmo,
com o seu semelhante, com outros seres da natureza, e com o ambiente em que
vive. O Din deve propiciar um estado de equilíbrio às vidas material e
espiritual. Os seus princípios são simples, em harmonia com a lógica,
fornecendo respostas a todas as questões, sejam elas referentes à família, ao
trabalho, à política, enfim, a tudo que diz respeito à existência do ser
humano. 20
2. A filosofia do Islã
A doutrina Islã possui três princípios, ou artigos de fé,
indissociáveis:
• o credo: trata-se de uma revelação divina e de uma religião
monoteísta;
• os deveres religiosos: estão resumidos em cinco, sendo
considerados os pilares da revelação;
• as relações pessoais: são princípios éticos e políticos
ensinados pelo islamismo.
2.1 - O credo Islã
Sempre se julga mal uma religião quando se toma como ponto de
partida exclusivo suas crenças pessoais, porque então é difícil justificar-se
um sentimento de parcialidade na apreciação dos princípios. [...] Se nos
reportarmos ao meio onde ela surgiu, aí encontramos quase sempre, se não uma
justificativa completa, ao menos uma razão de ser. É necessário, sobretudo,
penetrar-se no pensamento inicial do fundador e dos motivos que o guiaram.
Longe de nós a intenção de absolver Maomé de todas as suas faltas, nem sua religião
de todos os erros que chocam o mais vulgar bom-senso. Mas a bem da verdade, devemos
dizer que também seria pouco lógico julgar essa religião conforme o que dela faz
o fanatismo, como o seria julgar o Cristianismo segundo a maneira por que
alguns cristãos o praticam. É bem certo que, se os mulçumanos seguissem em
espírito o Alcorão, que o Profeta lhes deu por guia, seriam, sob muitos
aspectos, completamente diferentes do que são. 2 Para apreciar a obra de
Maomé é preciso remontar à sua fonte, conhecer o homem e o povo ao qual ele se
havia dado a missão de regenerar, e só então se compreende que, para o meio onde ele vivia, seu código
religioso era um progresso real. 3
A revelação divina, base da crença islâmica, está resumida no seguinte artigo
de fé: Não há um Deus senão Alá, e
Maomé é seu Profeta. Esta coluna mestra da
religião islâmica é a unicidade de Allah, chamada de Tauhid. A crença na unicidade de Deus é entendida sob três enfoques:
a) unicidade do Criador ou Arububia. Significa que Alá criou e mantém o universo,
coisas e seres, pois Ele é o Senhor de tudo e de todos;
b) unicidade da divindade ou Tahid al uluhia. Expressa que Alá é o Único que devemos adorar e somente a Ele
devemos dirigir nossas súplicas, dispensando intermediários entre Ele e os
homens;
c) unicidade dos nomes e atributos de Alá ou Tauhid al assmá ua sifát. Esclarece que a Alá pertencem todos os nomes e atributos da
perfeição, razão suficiente para nos submetermos totalmente
a Ele, pois é “Allah, o Único! O Absoluto! Jamais gerou ou foi gerado. E nada é comparável a
Ele’’ (Alcorão,surata 112). 21
O credo em Deus único produz, como conseqüência, a crença na
existência de anjos que, nos livros sagrados do Islamismo, são entendidos como
mensageiros divinos que executam as determinações de Alá. Esses mensageiros são
feitos de luz, possuem mãos, pés e asas. Incansáveis, jamais agridem; possuem
poderes sobrenaturais, são extremamente virtuosos, têm várias ocupações e podem
assumir a forma humana. 22
Quando revestidos de corpo físico, os mensageiros divinos se
revelam como pessoas especiais, portadoras de uma missão divina, apesar de
possuírem corpos de carne e ossos, de sentirem o que nós sentimos, de adoecerem
e morrerem, como qualquer um de nós. 23
O credo islâmico aceita e venera alguns livros, considerados
sagrados, porque foram revelados por Alá, por meio dos mensageiros que
assumiram a forma física. Os principais livros sagrados são: Torah, de Moisés; Salmos, de Davi; Evangelho,
de Jesus e Alcorão, o último dos livros santos, o qual permanece inalterado.
Abraão, Moisés, Jesus e Maomé são mensageiros divinos, entre os vinte e cinco
citados no Corão. 23
A crença no Dia do Juízo Final é outro artigo de fé islâmica.
Acredita-se que, após a morte, seremos ressuscitados, e, nesse dia, todos os
nossos atos serão julgados por Alá. A justiça, então, será feita e quem tiver
seguido o caminho revelado por Alá, terá o paraíso como morada eterna. As
pessoas que preferiram atender os desejos inferiores e os caprichos terão o
inferno como morada na eternidade. Os mortos aguardam, dormindo, o dia do
julgamento.
A crença na predestinação, outro artigo de fé, significa ter
convicção que Alá é o Senhor e que Ele colocou tudo no seu devido lugar,
criando a felicidade e o sofrimento. Dessa forma, o tempo da vida de cada um
está nas mãos de Alá. O homem possui livre arbítrio, mas não pode sair do
círculo permitido por Ele; deve esforçar-se para conseguir de maneira lícita o
que deseja para mudar uma situação, não devendo acomodar-se e nem culpar o
destino pela sorte ou azar. 24
O céu e o inferno estão descritos com detalhes no Corão, e dão
margem a diferentes tipos de interpretação muçulmana. 11
Uma das críticas mais severas do Islamismo contra o Cristianismo é
que, por este centralizar a palavra de Deus em Jesus (“E o Verbo se fez carne,e
habitou entre nós’’ – João 1:14), a religião cristã teria produzido uma ruptura
na essência do monoteísmo. Tal fato não aconteceu com o Islamismo, já que o
Corão é, literalmente, a palavra de Deus. Na verdade, são equívocos de
interpretação, pois, se no Cristianismo a palavra de Deus está centralizada numa
pessoa (Jesus), no Islamismo está num livro (Alcorão). Sendo assim, os muçulmanos
não consideram correto comparar Jesus com Maomé e a Bíblia
com o Corão. Aceitam que há um paralelo entre o Evangelho e o
Corão, porque ambos são de origem divina, revelados por mensageiros de Alá.
Consideram a Bíblia, como um todo, mais como um texto histórico,
ao passo que o Corão é “incriado e existe de sempre’’.
É ofensivo chamar os seguidores do Islã de maometanos. Eles se
dizem muçulmanos, ou seguidores do Islã, uma vez que Maomé foi apenas um
profeta (o maior deles), não criou uma religião, mas revelou a religião
verdadeira. 12
2.2 - Os deveres religiosos
São práticas, resumidas em cinco pilares que se complementam e devem
ser aceitas integralmente pelo mulçumano. Significa dizer que aquele que nega parcial
ou totalmente um pilar, não é considerado muçulmano. 21 Tais práticas podem ser assim resumidas:
Credo ou Shahada: também chamado de testemunho, está resumido na expressão:
“Não há Deus senão Alá e Maomé é seu Profeta’’. Este testemunho
deve
ser repetido pelos fiéis, várias vezes durante o dia, e também
deve ser proclamado
do alto dos minaretes na hora de cada oração. Este ato de fé
encontra-se registrado
nas paredes das mesquitas. O Shahada é porta de entrada para o
Islam, considerado
a chave do paraíso. 25 É o primeiro testemunho que
deve ser sussurrado aos
ouvidos do recém-nascido e o último que o moribundo ouve. 13 A crença islâmica
é clara, simples, indo ao encontro do filtra (conhecimento inato do ser humano).
Não aceita acréscimos nem que se retire algo dela. 21
Oração ou Salat: representa a comunicação direta dos homens com Alá, sem intermediários.
A oração é proferida por meio de um ritual que envolve
movimentos, recitações do Corão e louvores a Alá. Para o
muçulmano, quando
ele se posiciona para orar e diz Allahu Akbar (Alá
é o Maior) ele sai, então, da
esfera mundana para o plano superior. 26
As orações são pronunciadas cinco vezes ao dia. Antes de cada
oração, propriamente dita, ouve-se o chamado vindo dos minaretes, dando tempo
ao crente para, ritualmente, se tornar limpo. Os muçulmanos acreditam que as atividades
biológicas tornam as pessoas naturalmente impuras. A purificação consiste em
lavar o corpo inteiro em água corrente. Às vezes é permitido lavar apenas o
rosto e as mãos. É comum a existência de casas de banhos próximas às mesquitas.
A maioria das orações islâmicas são fórmulas fixas, embora haja
também a
oração espontânea, na qual o fiel diz a Deus algo pessoal. As
preces são acompanhadas
de gestos específicos. Os gestos têm mais valor do que as
palavras. As cinco orações diárias podem ser ditas em qualquer lugar, desde que
a pessoa se ajoelhe e ore voltada para Meca.
É recomendável que o fiel faça uma das preces diárias na mesquita,
ou que aí ore, pelo menos, uma vez por semana. É especialmente relevante a
oração de sexta-feira, ao meio-dia, porque nesta prática religiosa está incluído
um sermão.
Os que comparecem às mesquitas devem estar respeitosamente
vestidos, tirar os sapatos antes de entrar e acompanhar os gestos de quem
dirige as orações, de forma ordenada e disciplinada. O líder das orações
posiciona-se à frente do grupo, direcionado para Meca, de costas para a
congregação. Somente os homens oram no salão principal da mesquita,
reservando-se as galerias para as mulheres, as quais podem, também, ficar
escondidas atrás de uma cortina, existente no fundo do templo. Qualquer homem
adulto muçulmano pode ser um imã, ou dirigente das preces. 14
Caridade ou Zakat: trata-se de uma taxa, ou imposto formal,
obrigatório, fixado em 2,5%, sobre a riqueza e a propriedade do muçulmano, 16 que este deve doar à mesquita.
O Jejum ou Siám: é o quarto dever islâmico. O Corão proíbe aos
muçulmanos de comerem carne de porco, de cachorro, raposa, asno — alimentos de
uso comum em certa culturas orientais —, por considerarem estes animais impuros.
Proíbe também a ingestão de sangue sob qualquer forma. Assim, o abate de
animais utilizados na alimentação segue normas ritualísticas, para que não
sobre qualquer resíduo de sangue. O vinho e outras bebidas alcoólicas são também
proibidas. 9
No nono mês do ano muçulmano — o Ramadã —, mês sagrado do jejum, há
um dia de jejum especial. Entre o nascer e o pôr-do-sol desse dia é proibido desenvolver
qualquer tipo de atividade. Após o poente, o jejum é suspenso com boa comida e
bebida em todas as residências. Em geral, é costume os homens ficarem na
mesquita durante a noite especial do Ramadan, ouvindo o Corão, alimentando-se
e bebendo festivamente. O Ramadan foi o mês em que Maomé teve a sua primeira
revelação. O jejum simboliza o retiro que todo muçulmano deveria fazer, como
Maomé fez. 17
Peregrinação a Meca ou Hajj: é o quinto dever religioso. Cabe a todo muçulmano
adulto, que tenha condições, realizar peregrinação a Meca, pelo menos uma vez
na vida. Para os muçulmanos, Meca e Caaba são o centro do mundo. Não só os
fiéis se voltam para Meca quando oram: também as mesquitas são construídas com
o eixo mais longo apontando para lá. Os mortos igualmente são enterrados
voltados para Meca. Esta cidade é visitada anualmente por cerca de 1,5 milhão
de peregrinos, metade dos quais vem de fora da Arábia. A grande mesquita foi
reconstruída para receber, atualmente, 600 mil peregrinos. Somente as pessoas
que conseguem provar que são muçulmanas
entram na cidade santa.
Em Meca, o primeiro rito é caminhar em torno da Caaba sete vezes.
Nessa ocasião muitos peregrinos tentam beijar a pedra negra. Outro rito
importante acontece entre o meio-dia e o pôr-do-sol, quando os peregrinos se
postam no monte Arafat, sem permissão de proteger a cabeça do sol intenso, renovando,
assim, o seu pacto com Deus. Segundo a tradição, foi no monte Arafat que Adão e
Eva se encontraram de novo, depois de expulsos do jardim do Éden. O ponto
máximo dos rituais são os sacrifícios. Em geral, os peregrinos matam um animal
(carneiro, boi, bode, camelo) com o propósito de lembrar como Abraão foi
obediente a Deus, quando se dispôs a sacrificar seu próprio filho. 18
2.3 - As relações pessoais
São normas relativas à convivência social, ética e política.
Tradicionalmente, não há no Islã distinção entre religião e política, entre fé
e moral. Todas as obrigações religiosas, morais e sociais estão estabelecidas
na sagrada lei muçulmana, a xariá. Trata-se de um conjunto de leis que se
fundamentam no Corão, e também no Suna e no haddif. No Corão há instruções fixas e rígidas sobre o governo, a
política, a sociedade, a economia, o casamento, a moral, o status da mulher etc.
Se o Corão não fornecer instruções precisas sobre assuntos
específicos, os muçulmanos as pesquisam no Suna (muito usado pelos sunitas,
uma das divisões islâmicas). Suna são relatos de ações,
palavras e reflexões definidas por Maomé e pelos califas. A outra fonte
legalista de consulta é o haddit, coletâneas que tratam da vida e das pregações
de Maomé.
Essas fontes, inclusive o Corão, se reportam a uma vida em
sociedade que não mais existe, surgindo, pois, a necessidade de se fazer
adaptações no presente.
As adaptações seguem dois princípios: o da similaridade, ou analogia, e o do consenso. O princípio da
similaridade ou analogia, procura solucionar um problema atua, a partir de um
exemplo análogo existente no Corão ou nas demais fontes. O princípio do
consenso parte da afirmação de Maomé de que os fiéis nunca podem concordar,
coletivamente, sobre algo errado. Assim, as decisões estabelecidas pelos fiéis,
em assembléias específicas, são automaticamente aceitas pelos líderes
religiosos (especialistas legais).
Por exemplo: certa ocasião alguns líderes religiosos quiseram
proibir a ingestão do café, proibição que foi totalmente rejeitada pelos fiéis
numa assembléia convocada para resolver esse assunto (solução foi dada pelo
princípio da similaridade).
Uma das subdivisões do movimento Islã, os xiitas, aceitam, além
dessa três fontes citadas (Corão, Suna e Haddit), a interpretação dos imans. Já os sunitas não aceitam qualquer interpretação islâmica
ocorrida após Maomé.
O Corão não questiona o direito à propriedade privada, mas impõe
certas limitações ao acúmulo de riquezas e bens, porque “sendo a riqueza uma tentação,
afasta os homens de Deus’’.
As mulheres representam um capítulo à parte nas relações pessoais.
Na verdade, no Corão há duas afirmações que se contradizem: a da sura 4:31 e a da
sura 2:228, respectivamente expressas assim: “os homens têm autoridade sobre as
mulheres, porque Deus os fez superiores a elas’’; “as mulheres devem, por
justiça, ter direitos semelhantes àqueles exercidos contra elas’’. Esta última citação
dificilmente é utilizada.
É notória a diferença de tratamento que é dado aos homens daquele
que
as mulheres recebem, sobretudo dentro do casamento. A poligamia é
permitida na maioria dos estados muçulmanos, não existindo na Turquia nem na Tunísia.
O divórcio é possível, desde que iniciado pelo homem, mas, em geral, é
dificultado, pois, segundo Maomé “é a atividade legal menos preferida por Deus’’.
Devemos lembrar que o índice de divórcio nos países árabes é o mais alto do
mundo.
A circuncisão é obrigatória. A mutilação sexual das mulheres não
encontra qualquer referência no Corão. No entanto, é praticada em algums países
muçulmanos, notadamente nos do norte da África. A tradição de usar o véu, ou chador, não encontra apoio no Corão, foi uma tradição iniciada pelas
mulheres pertencentes a famílias ricas. Entretanto, o Corão orienta os maridos
no sentido surrarem as esposas: “Quanto àquelas de quem temes desobediências, deves
admoestá-las, enviá-las a uma cama separada e bater nelas.’’ 19 (sura 4)
3. A doutina Islã e o Espiritismo
Antes da fundação do Papado, em 607, as forças espirituais se
viram compelidas a um grande esforço no combate contra as sombras que ameaçavam
todas as consciências. Muitos emissários do Alto tomam corpo entre as falanges
católicas no intuito de regenerar os costumes da Igreja. Embalde, porém, tentam
operar o retorno de Roma aos braços do Cristo, conseguindo apenas desenvolver o
máximo de seus esforços no penoso trabalho de arquivar experiências para
gerações vindouras. Numerosos Espíritos reencarnam com as mais altas delegações
do plano invisível. Entre esses missionários veio aquele que se chamou Maomet,
ao nascer em Meca no ano 570. Filho da tribo dos Coraixitas, sua missão era
reunir todas as tribos árabes sob a luz dos ensinos cristãos, de modo a
organizar-se na Ásia um movimento forte de restauração do Evangelho do Cristo,
em oposição aos abusos romanos, no ambiente da Europa. Maomet, contudo, pobre e
humilde no começo de sua vida, que deveria ser de sacrifício e exemplificação, torna-se
rico após o casamento com Khadidja e não resiste ao assédio dos Espíritos da Sombra,
traindo nobres obrigações espirituais com as suas fraquezas. Dotado de grandes faculdades
mediúnicas inerentes ao desempenho dos seus compromissos, muitas vezes foi
aconselhado por seus mentores do Alto, nos grandes lances de sua existência,
mas não conseguiu triunfar das inferioridades humanas. É por essa razão que o
missionário do Islã deixa entrever, nos seus ensinos, flagrantes contradições.
A par do perfume cristão se evola de muitas das suas lições, há um espírito
belicoso, de violência e de imposição; junto da doutrina fatalista encerrada no
Alcorão, existe a doutrina da responsabilidade individual, divisando-se através
de tudo isso uma imaginação superexcitada pelas forças do bem e do mal, num
cérebro transviado do verdadeiro caminho. Por essa razão o Islamismo, que
poderia representar um grande movimento de restauração do ensino de Jesus,
corrigindo desvios do Papado nascente, assinalou mais uma vitória das Trevascontra
a Luz e cujas raízes era necessário extirpar. 28
Certas práticas, impostas por Maomé, não encontraram apoio na revelação
islâmica.
Maomet, nas recordações do dever que o trazia à Terra, lembrando os trabalhos
que lhe competiam na Ásia, a fim de regenerar a Igreja para Jesus, vulgarizou a
palavra infiel, entre as várias famílias do seu povo,
designando assim os árabes que lhe eram insubmissos, quando a expressão se
aplicava, perfeitamente, aos sacerdotes transviados do Cristianismo.
Com o seu regresso ao plano
espiritual, toda a Arábia estava submetida à sua doutrina, pela força da
espada; e, todavia os seus continuadores não se deram por satisfeitos com semelhantes
conquistas. Iniciaram no exterior as “guerras santas’’, subjugando toda a África
setentrional, no fim do século VII. Nos primeiros anos do século atravessaram o
estreito de Gibraltar, estabelecendo-se na Espanha, em vista da escassa resistência
dos visigodos atormentados pela separação, e somente não seguiram o além dos
Pirineus porque o plano espiritual assinalara um limite às suas operações,
encaminhando Carlos Martel para as vitórias de 732. 29
Importa considerar que Ismael, guia espiritual do Brasil, filho de
Hagar e Abraão, deu origem à descendência árabe, assim como Isaac, filho de
Abraão com a judia Sara, formou a raça judaica. Ambos, Ismael e Isaac são
aparentados, portanto, de Maomé.
Narra Humberto de Campos (Irmão X) que Jesus, dirigindo-se a
Ismael, um dos seus mais elevados mensageiros do Orbe, teria dito:
— Ismael, manda o meu coração que doravante sejas o zelador dos
patrimônios imortais que constituem a Terra do Cruzeiro. Recebe-a nos teus
braços de trabalhador devotado da minha seara, como a recebi no coração,
obedecendo a sagradas inspirações do Nosso Pai. Reúne as incansáveis falanges
do Infinito, que cooperam nos ideais sacrossantos de minha doutrina, e inicia,
desde já, a construção da pátria do meu ensinamento. Para aí transplantei a
árvore da minha misericórdia e espero que a cultives com a tua abnegação e com
o teu sublimado heroísmo. Ela será a doce paisagem dilatada do Tiberíades, que os
homens aniquilaram na sua voracidade de carnificina. Guarda este símbolo da paz
e inscreve na sua imaculada pureza o lema da tua coragem e do teu propósito de
bem servir à causa de Deus e, sobretudo, lembra-te sempre de que estarei
contigo no cumprimento dos teus deveres, com os quais abrirás para a humanidade
dos séculos futuros
um caminho novo, mediante a sagrada revivescência do Cristianismo.
Ismael recebe o lábaro bendito das mãos compassivas do Senhor,
banhado em lágrimas de reconhecimento, e, como se entrara em ação o impulso
secreto da sua vontade, eis que a nívea bandeira tem agora uma insígnia. Na sua
branca substância, uma tinta celeste inscrevera o lema imortal: “Deus, Cristo e
Caridade’’. Todas as almas ali reunidas entoam um hosana melodioso e
intraduzível à sabedoria do Senhor do Universo. São vibrações gloriosas da
espiritualidade, que se elevam pelos espaços ilimitados, louvando o Artista
Inimitável e o Matemático Supremo de todos os sóis e de todos os
mundos. 31
Todas as suas realizações e todos os seus feitos, forros dos
miseráveis troféus de glorias sanguinolentas, tiveram suas origens profundas no
plano espiritual, de onde Jesus, pelas mãos carinhosas de Ismael, acompanha
desveladamente a evolução d pátria extraordinária, em cujos céus fulguram as
estrelas da cruz. São elas, ainda um grito de fé e de esperança aos que
estacionam no meio do caminho. 30
1. KARDEC, Allan. Revista
espírita. Jornal de estudos psicológicos. Ano 1866.
Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Poesias traduzidas por Inaldo
Lacerda
Lima. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Ano 9, agosto de 1866, n.º 8,
Item: Maomé
e o Islamismo, p. 304.
2. ______. p. 304-305.
3. ______. p. 305.
4. ______. Novembro de 1866, n.º 11, item: Maomé e o Islamismo
(2.º artigo),
p.432.
5. ALCORÃO SAGRADO. Tradução de Samir El Hayek. São Paulo:
Tangará,
1975, p. xi-xii (apresentação).
6. ______.p.xix.
7. JACONO, Claudio Lo. Islamismo. Tradução de Anna Maria Quirinol. São
Paulo: Globo, 2002. A História, item: Maomé e a umma islâmica,
p.6.
8. ______. p.7-8.
9. ______. As instituições mulçumanas, item: outros preceitos, p.
70.
10. HELLEN, V., NOTAKER, H. E GAARDER, J. O livro das religiões. Tradução
de Isa Mara Lando. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, item:
Islã: p.118.
11.______. Item: o credo, p. 123-124.
12. ______. p. 125-126.
13. ______. p. 126.
14. ______. Item: obrigações religiosas – os cinco pilares,
p.127-128.
15. ______. p. 128.
16. ______. p. 128-130.
17. ______. p. 129.
18. ______. p. 129-130.
19. ______. Item: relações humanas – ética e política, p. 130-134.
20. MUNZER, Armed Isbelle. Descobrindo o Islam. Rio de Janeiro: Azaan, 2002.
Cap. 1 (O conceito de Din), p.1.
21. ______. Cap. 2. (A crença islâmica) , p. 5.
21. ______. (O Tauhid), p. 5-6.
22. ______. (A crença nos anjos), p. 6.
23. ______. (A crença nos livros. A crença nos mensageiros), p.
6-8.
REFERÊNCIAS
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Islamismo
24. ______. (A crença no juízo final), p. 8-9.
25. ______. Cap. 3 (As obrigações do Islam), p. 13.
26. ______. (O salat. O zacat), p. 13-14.
27. SMITH, Huston. As religiões do mundo. Tradução de Merle Scoss. São
Paulo: Editora Pensamento-Cultrix, 2001. Cap. 6 (Islamismo), item:
o selo
dos profetas, p. 220.
28. XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel.
32. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 17, (A idade medieval),
item: o
Islamismo, p. 149-151.
29. ______. Item: as guerras do Islã, p. 151.
30. ______. Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho. Pelo
Espírito
Humberto de Campos. 30 ed.Rio de Janeiro: FEB, 2004, item:
esclarecendo,
p. 16-17.
31. ______. Cap. 3 (Os degredados), p. 36-37.
Fonte: FEB