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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

A DIFERENÇA - "Todas essas qualidades negativas ainda me acompanham... Só existe, porém, um ponto, meu caro, que não posso esquecer. É que, antes de ser espírita-cristão, eu fazia força para correr atrás de todas elas e agora, que sou cristão e espírita, faço força para fugir delas todas"

 

 

A reunião alcançava a parte final, e, na organização mediúnica, Bezerra de Menezes retinha a palavra.

O Benfeitor distribuía consolações, quando um companheiro o alvejou com azedume:

– Bezerra, não concordo com tanta máscara no ambiente espírita. Estou cansado de ser hipócrita. Falo contra mim mesmo. Posso, acaso, dizer que sou espírita-cristão?

Vejo-me fustigado por egoísmo e intolerância, avareza e ciúme; cometo desatenções e disparates; reconheço-me frequentemente caído em maledicência e cobiça; ainda não venci a desconfiança, nem a propensão para ressentir-me; quando menos espero, chafurdo-me nos erros da vaidade e do orgulho; involuntariamente, articulo ofensas contra o próximo; a ambição mora comigo e, por isso, agrido os meus semelhantes com toda a força de minha brutalidade; a crítica, o despeito, a maldade e a imperfeição me seguem constantemente.

Posso declarar-me espírita-cristão com tantos defeitos?

O venerável Bezerra de Menezes respondeu sereno:

– Eu também, meu amigo, ainda estou em meio de todas essas mazelas e sou espírita-cristão...

– Como assim? – revidou o consulente agitado.

– Perfeitamente – concluiu Bezerra de Menezes, sem alterar-se. – Todas essas qualidades negativas ainda me acompanham... Só existe, porém, um ponto, meu caro, que não posso esquecer. É que, antes de ser espírita-cristão, eu fazia força para correr atrás de todas elas e agora, que sou cristão e espírita, faço força para fugir delas todas...

E Bezerra de Menezes, sorrindo:

– Como vê meu amigo, há muita diferença.  



Irmão X

Do livro Momentos de Ouro, capítulo nº 12, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier, de autoria de Espíritos diversos.


sexta-feira, 11 de julho de 2014

Rivalidade entre os Médiuns

Rivalidade entre os Médiuns - Vianna de Carvalho


Remanescentes dos instintos agressivos, a rivalidade é presença negativa no caráter humano, que a criatura deve superar.

Se a competição saudável é estimuladora para desenvolver os valores humanos, potenciais momentaneamente adormecidos, a rivalidade decorre do primarismo animal, que atira as criaturas umas contra as outras.

O rival é antagonista apaixonado, a um passo da violência, na qual derrapa, facilmente, facultando-se a explosão de danos graves para si mesmo, bem como para os outros.

Infelizmente, perturbando a sociedade, na luta pela predominância do egoísmo, a rivalidade entre os homens leva-os aos estados belicosos, quando a solidariedade os engrandeceria, propiciando bênçãos a toda a comunidade.


É natural que, também, entre os médiuns, o morbo das rivalidades injustificáveis irrompa, virulento, enfermando quantos lhe permitem o contágio.
Invigilantes, olvidam-se da terapia do amor e deixam-se infelicitar, asfixiados pela inveja, pela mágoa, pelo ciúme, contribuindo para as lutas inglórias que, lamentavelmente, se instalam nos Grupos, nos quais esses se encontram em serviço.

No contubérnio que se estabelece, a rede de insensatez divide os membros do trabalho, que passam a antagonizar-se, embora abraçando os ideais da liberdade, da tolerância, do amor, da caridade.

Tais rivalidades têm sido responsáveis pelo malogro de empreendimentos significativos, elaborados com carinho através dos anos e que se desgastam, se desorganizam com facilidade, tornando-se redutor de decepções e amarguras.

A rivalidade é um mal que aguarda solução, combate de urgência.

Surge de forma sutil; instala-se com suavidade, qual erva parasita em tronco generoso, e passa a roubar a energia de que se nutre, terminando por prejudicar o hospedeiro que lhe dá guarida.

O médium deve ser um servidor da Vida, em benefício de todas as vidas.

A sua, há que se tornar a luta pelo auto aprimoramento, observando as mazelas e estudando as deficiências, a fim de mais crescer na escala dos valores morais, de modo a sintonizar com as Entidades Venerandas, nem sempre as que se tornaram famosas no Mundo, mas, que construíram as bases da felicidade pelo amanho do solo dos corações na execução do bem.

A ele cabe disputar a honra de servir e não a de aparecer; de ceder e nunca de impor; de amar e jamais a de fruir, apagando-se, para que fulja a luz da verdade imortal de que se faz instrumento.

Como do homem de bem se esperam a preservação e vivência dos valores éticos, do instrumento mediúnico se aguarda o perfeito entrosamento emocional e existencial entre o de que se faz portador e o comportamento cotidiano.

O médium espírita é simples, sem afetação, desprovido do tormento de provar a sua honestidade aos outros, porque sabe, que, no mundo, somente se experimenta, aflições, conforme o ensinou Jesus. Ademais, ele reconhece que está a serviço do bem, ao qual lhe cumpre atender com naturalidade e paz.

Médiuns rivais são antagonistas em justas infelizes, buscando vitória em nome das vaidades que corrompem o coração e envenenam a razão.

Se alguém se apresenta mais bem aquinhoado para o serviço mediúnico, mais endividado, certamente, o será, porquanto, a mediunidade a serviço do bem é via de acesso e de redenção para o Espírito e não moldura brilhante para as fulgurações terrestres.

Ao invés de rivalidade competitiva, as orações e os auxílios fraternais entre todos, a fim de que o êxito se apresente, não pelo aplauso humano, porém, pela abnegação e largo trabalho de edificação do bem entre os homens.
Vianna de Carvalho
(Página psicografada pelo médium Divaldo pereira Franco, em 06.03.1989, no Centro Espírita “Caminho da Redenção”, em Salvador, Bahia e publicada em “Reformador” de julho de 1990, e no livro "Médiuns e Mediunidade")

Glossário:
Amanho: lavoura, cultivo;
Contubérnio: Vida em comum, convivência, familiaridade, camaradagem, concubinato, mancebia. Tenda de campanha;
Fulgir: resplandecer, sobressair;
Justa: na idade média, combate entre dois cavaleiros, torneio, combate;
Morbo: estado patológico; doença.


Fonte: http://mediunsemediunidade.blogspot.com.br/2011/05/rivalidade-entre-os-mediuns-vianna-de.html

sábado, 6 de julho de 2013

A Cólera

UM ESPÍRITO PROTETOR
Bordeaux, 1863

            9 – O orgulho vos leva a vos julgardes mais do que sois, a não aceitar uma comparação que vos possa rebaixar, e a vos considerardes, ao contrário, de tal maneira acima de vossos irmãos, seja na finura de espírito, seja no tocante à posição social, seja ainda em relação às vantagens pessoais, que o menor paralelo vos irrita e vos fere. E o que acontece, então? Entregai-vos à cólera.
            Procurai a origem desses acessos de demência passageira, que vos assemelham aos brutos, fazendo-vos perder o sangue frio e a razão: procurai-a, e encontrareis quase sempre por base o orgulho ferido. Não é acaso o orgulho ferido por uma contradita, que vos faz repelir as observações justas e rejeitar, encolerizados, os mais sábios conselhos? Até mesmo a impaciência, causada pelas contrariedades, em geral pueris, decorre da importância atribuída à personalidade, perante a qual julgais que todos devem curvar-se.
            No seu frenesi, o homem colérico se volta contra tudo, à própria natureza bruta, aos objetos inanimados, que espedaça, por não o obedecerem. Ah!, se nesses momentos ele pudesse ver-se a sangue frio, teria horror de si mesmo ou se reconheceria ridículo! Que julgue por isso a impressão que deve causar aos outros. Ao menos pelo respeito a si mesmo, deveria esforçar-se, pois, para vencer essa tendência que o torna digno de piedade.
            Se pudesse pensar que a cólera nada resolve,que lhe altera a saúde, compromete a sua própria vida, veria que é ele mesmo a sua primeira vítima. Mas ainda há outra consideração que o deveria deter: o pensamento de que torna infelizes todos os que o cercam. Se tiver coração, não sentirá remorsos por fazer sofrer as criaturas que mais ama? E que mágoa mortal não sentiria se, num acesso de arrebatamento, cometesse um ato de que teria de recriminar-se por toda a vida!
            Em suma: a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede que se faça muito bem, e pode levar a fazer-se muito mal. Isso deve ser suficiente para incitar os esforços por dominá-la. O espírita, aliás, é incitado por outro motivo: o de que ela é contrária à caridade e à humildade cristãs.       
*
HAHNEMANN
Paris, 1863
                                             
            10 – Segundo a idéia muito falsa de que não se pode reformar a própria natureza, o homem se julga dispensado de fazer esforços para se corrigir dos defeitos em que se compraz voluntariamente, ou que para isso exigiriam muita perseverança. É assim, por exemplo, que o homem inclinado à cólera se desculpa quase sempre com o seu temperamento. Em vez de se considerar culpado, atribui a falta ao seu organismo, acusando assim a Deus pelos seus próprios defeitos. É ainda uma conseqüência do orgulho, que se encontra mesclado a todas as suas imperfeições.
            Não há dúvida que existem temperamentos que se prestam melhor aos atos de violência, como existem músculos mais flexíveis, que melhor se prestam a exercícios físicos. Não penseis, porém, que seja essa a causa fundamental da cólera, e acreditai que um Espírito pacífico, mesmo num corpo bilioso, será sempre pacífico, enquanto um Espírito violento, num corpo linfático, não seria mais dócil. Nesse caso, a violência apenas tomaria outro caráter. Não dispondo de um organismo apropriado à sua manifestação, a cólera seria concentrada, enquanto no caso contrário seria expansiva.
            O corpo não dá impulsos de cólera a quem não os tem, como não dá outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito. Sem isso, onde estariam o mérito e a responsabilidade? O homem que é deformado não pode tornar-se direito, porque o Espírito nada tem com isso, mas pode modificar o que se relaciona com o Espírito, quando dispõe de uma vontade firme. A experiência não vos prova, espíritas, até onde pode ir o poder da vontade, pelas transformações verdadeiramente miraculosas que se operam aos vossos olhos? Dizei, pois, que o homem só permanece vicioso porque o quer, mas que aquele que deseja corrigir-se sempre o pode fazer. De outra maneira, a lei do progresso não existiria para o homem.

Fonte: O Evangelho Segundo O Espiritismo. Cap. 9 Bem Aventurados Os Mansos e Pacíficos itens 9 e 10
Allan Kardec- Tradutor: João Herculano Pires

sexta-feira, 8 de março de 2013

OBSESSORES TERRÍVEIS

04/03/2013


OBSESSORES TERRÍVEIS

Antes de lançares sobre os desencarnados a culpa pelos males e aflições que, tantas vezes, padeces na existência carnal, medita na ação dos obsessores terríveis que, em ti mesmo, acalentas, sequer cogitando de sua perniciosa influência.
Tais entidades espirituais, embora sejam tão invisíveis quanto às outras que afirmas te rondarem os passos, costumam ser mais presentes em tua existência que os pobres desencarnados que, indebitamente, rotulas de perturbadores, quando, na maioria das vezes, não passam de criaturas necessitadas de tuas preces.
De maneira sucinta, listaremos abaixo tais agentes das trevas que, habitualmente, se fazem mais presentes em teu dia a dia, sem que tomes qualquer providência para deles te libertar.
Ódio – sob a sua ação funesta és capaz de tomar atitudes altamente comprometedoras de tua paz e felicidade.
Inveja – a sua força pode ser tão avassaladora sobre ti que, debaixo de sua sugestão hipnótica, corres o risco de deixar de viver a tua própria vida para viver a vida dos outros.
Ciúme – no campo do relacionamento humano, já se perdeu a conta do número de vítimas feitas por esse espírito que tem o estranho poder de anular o discernimento de quem por ele é possuído.
Egoísmo – exige exclusividade e, igualmente, não se sabe quantos por ele vivem em regime de completa subjugação moral, a ponto de anular quase todas as possibilidades de crescimento espiritual da criatura a que se enlaça.
Desânimo – atuando com sutileza, suscita infindáveis questionamentos a respeito do que vale ou deixa de valer a pena, em matéria de esforço, e, não raro, se transfigura em depressão e descrença.
Revolta – a dor que esta entidade costuma provocar na alma em que se aloja é tão grande, que, infelizmente, só poderá ser desalojada com o auxílio de uma dor maior ainda.
Ociosidade – aparentemente inofensivo, porém, autêntico lobo em pele de ovelha, este obsessor é o que mais bem sabe se disfarçar e, assim, enganar aqueles que se comprazem em sua companhia.
Ambição – dos agentes das trevas, este, talvez, seja o mais inconsequente de todos, porque, em verdade, enquanto não leva a sua vítima para o túmulo não lhe concede trégua.
Muitos outros obsessores deste naipe, em falanges inumeráveis, óbvio, poderiam ser aqui ainda listados: orgulho, desfaçatez, sensualidade, cupidez, mentira, maledicência, leviandade...
Não obstante, crendo ter cumprido com o papel de denunciá-los, vamos parando por aqui, não sem antes afirmar que estes quadros de obsessão, para os quais quase ninguém cogita de tratamento espiritual sério, através, principalmente, da desobsessão no trabalho da Caridade, são os responsáveis por 90% dos desastres cuja culpa os homens encarnados acham muito mais fácil atribuir aos infelizes desencarnados que, também, tombaram sob o seu talante.

INÁCIO FERREIRA

Uberaba – MG, 4 de março de 2013.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

MULTIDÃO E JESUS


A multidão! Sempre o Senhor esteve visitado pela multidão.

A multidão, porém, são as chagas sociais, as dores superlativas, as agonias e decepções, as lutas e angústias, as dificuldades.

Em toda parte o Mestre esteve sempre cercado pela multidão.

Através das Suas mãos perpassavam as misericórdias, as blandícias, manifestava-se o amor. . .

O seu dúlcido e suave olhar penetrava a massa amorfa sob a dor repleta de aflitos e ansiosos lenindo as desesperações e angústias que penetram as almas como punhais afiados e doridos.

A multidão são o imenso vale de mil nonadas e muitas necessidades humanas mesquinhas, onde fermentam os ódios, e os miasmas da morte semeiam luto e disseminam a peste em avalanche desesperadora num contágio de longo porte. . .

Ele viera para a multidão, que somos todos nós, os sedentos de paz, os esfaimados de justiça, os atormentados pelo pão do corpo e na alma. ..

Todos os grandes Missionários desceram das altas planuras para as multidões que são o nadir da Humanidade.

Por isto sempre encontraremos Jesus cercado pela multidão.
Ele é paz.

Sua presença acalma, diminuindo o fragor da batalha, amainando guerras de fora quanto conflitos de dentro.

Ele é amor.

O penetrar do seu magnetismo dulcifica, fazendo que os valores negativos se convertam em posições refletidas, em aquisições de bênçãos.

Quando Ele passa, asserenam-se as ansiedades. Rei Solar, onde esteja, haverá sempre a claridade de um perene amanhecer.
Ele tomara a barca com os Amigos do ministério e vencera o mar na serenidade do dia.

As águas tépidas, aos ósculos do Astro-rei, refletem o céu azul de nuvens brancas e garças. . .

Há salmodias que cantam no ar, expectativas que dormem e despertam nos espíritos. . .

Chegando às praias de Genesaré, a notícia voa nos pés alígeros da ansiedade e a multidão se adensa. ..

As informações se alargam pelas aldeias vizinhas, pelos povoados ribeirinhos. . .

Todos trazem os seus. . . Os seus pacientes, familiares e conhecidos, problemas e querelas. . .

Exibem chagas purulentas, paralisias, dificuldades morais, misérias e tormentos de toda espécie.

Obsessos ululam e leprosos choram, cegos clamam e surdos-mudos atordoam-se.

A atroada dos atropelos que o egoísmo desatrelado produz, a inquietação individual, o medo de perder-se a oportunidade tumultua todos, os semblantes se angustiam, os ruídos se fazem perturbadores, enquanto Ele, impávido, sereno, acerca-se e toca, deixando-se tocar. . .

Transfiguram-se as faces, sorriem os rostos antes deformados, inovimentam-se os membros hirtos e os sorrisos, em lírios brancos ngastados nas molduras dos lábios arroxeados, abrem-se, exaltam o Rabi, cantam aleluias.

A música da saúde substitui a patética da enfermidade, a paz adorna a fronte fatigada dos guerreiros inglórios.

Partem os que louvam, chegam os que rogam. . .

Há silêncios que se quebram em ribombar de solicitações contínuas. Há vozes que emudecem na asfixia das lágrimas.

Das fímbrias das suas vestes, que brilham em claridade desconhecida, desprendem-se as virtudes e estas curam, libertam, asserenam, felicitam. . .

Genesaré encontra o seu apogeu, encanta-se com o Profeta. . . O Rabi, o Aguardado, reveste-se de misericórdia e todos exultam.

Narram os evangelistas que naquela visita à cidade formosa e humilde ocorreram todos os milagres que o amor produz.

No entanto, por cima de tais expectativas e conquistas transitórias, Jesus alonga o olhar para o futuro e descortina, além dos painéis porvindouros, a Nova Humanidade destituída das cangas atribulatórias, constringentes e justiçadoras com que o homem se libera, marchando na direção do Pai.

Até este momento, o Senhor sabe que os homens ainda são as suas necessidades imediatas e tormentosas em cantochões de agonia lenta. . .

Por muitos séculos soarão as vozes das multidões necessitadas e torpes, no festival demorado das lágrimas.
Mesmo hoje, evocando os acontecimentos de Genesaré, defrontam-se as multidões buscando as soluções imediatas para o corpo, no pressuposto de que estão tentando atender o espírito exculpando-se das paixões, aparentando manter os compromissos com Jesus mediante um comércio infeliz para com as informações e conquistas imperecíveis. . .

Cristianismo, todavia, é Jesus em nós, insculpido no santuário dos sentimentos, esflorando esperança e fé.

Atendamos à enfermidade, à viuvez, ao abandono, à solidão e à fome sem nos esquecermos de que, revivendo o Mestre Insuperável, os Imortais que ora retornam, buscam, essencialmente, libertar o homem de si mesmo, arrebentando os elos escravocratas que os fixam às mansardas soezes do primitivismo espiritual de cada um, a fim de alçá-lo à luz perene e conduzi-lo às praias da nova Genesaré do amor, onde Ele, até hoje, espera por todos nós, a aturdida multidão de todos os tempos.

(*) Mateus 14:34-36. Marcos 6:53-56. (Notas da Autora espiritual).
Amélia Rodrigues
Livro: Quando voltar a Primavera

sábado, 15 de dezembro de 2012

A TENTAÇÃO DO REPOUSO


Num campo de lavoura, grande quantidade de vermes desejava destruir
um velho arado de madeira, muito trabalhador, que lhes perturbava os planos
e, em razão disso, certa ocasião se reuniram ao redor dele e começaram a
dizer:
— Por que não cuidas de ti? Estás doente e cansado...
— Afinal, todos nós precisamos de algum repouso ...
— Liberta-te do jugo terrível do lavrador!
— Pobre máquina! A quantos martírios te submetes!...
O arado escutou... escutou... e acabou acreditando.
Ele, que era tão corajoso, que nem sentia o mais leve incômodo nas mais
duras obrigações, começou a queixar-se do frio da chuva, do calor do Sol, da
aspereza das pedras e da umidade do chão.
Tanto clamou e chorou, implorando descanso, que o antigo companheiro
concedeu-lhe alguns dias de folga, a um canto do milharal.
Quando os vermes o viram parado, aproximaram-se em massa, atacandoo
sem compaixão.
Em poucos dias, apodreceram-no, crivando-o de manchas, de feridas e de
buracos.
O arado gemia e suspirava pelo socorro do lavrador, sonhando com o
regresso às tarefas alegres e iluminadas do campo...
Mas, era tarde.
Quando o prestimoso amigo voltou para utilizá-lo, era simplesmente um
traste inútil.
A história do arado é um aviso para nós todos.
A tentação do repouso é das mais perigosas, porque, depois da
ignorância, a preguiça é a fonte escura de todos os males.
Jamais olvidemos que o trabalho é o dom divino que Deus nos confiou
para a defesa de nossa alegria e para a conservação de nossa própria saúde.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

18 Ciúme


Tipificando insegurança psicológica e desconfiança sistemática, a
presença do ciúme na alma transforma-se em algoz implacável do ser. O
paciente que lhe tomba nas malhas estertora em suspeitas e verdades, que
nunca encontram apoio nem reconforto.
Atormentado pelo ego dominador, o paciente, quando não consegue
asfixiar aquele a quem estima ou ama, dominando-lhe a conduta e o
pensamento, foge para o ciúme, em cujo campo se homizia a fim de entregarse
aos sofrimentos masoquistas que lhe ocultam a imaturidade, a preguiça
mental e o desejo de impor-se à vitima da sua psicopatologia.
No aturdimento do ciúme, o ego vê o que lhe agrada e se envolve apenas
com aquilo em que acredita, ficando surdo à razão, à verdade.
O ciúme atenaza quem o experimenta e aquele que se lhe torna alvo
preferencial.
O ciumento, inseguro dos próprios valores, descarrega a fúria do estágio
primitivista em manifestações ridículas, quão perturbadoras, em que se consome.
Ateia incêndios em ocorrências imaginárias, com a mente exacerbada pela
suspeita infeliz, e envenena-se com os vapores da revolta em que se rebolca,
insanamente.
Desviando-se das pessoas e ampliando o círculo de prevalência, o ciúme
envolve objetos e posições, posses e valores que assumem uma importância
alucinada, isolando o paciente nos sítios da angústia ou armando-o com
instrumentos de agressão contra todos e tudo.
O ciúme tende a levar sua vítima à loucura.
O ego enciumado fixa o móvel da existência no desejo exorbitante e
circunscreve-se à paixão dominadora, destruindo as resistências morais e
emocionais, que terminam por ceder-lhe as forças, deixando de reagir.
Armadilha do ego presunçoso, ele merece o extermínio através da
conquista de valores expressivos, que demonstrem ao próprio indivíduo as
suas possibilidades de ser feliz.
Somente o self pode conseguir essa façanha, arrebentando as algemas a
que se encontra agrilhoado, para assomar, rico de realizações interiores, superando
a estreiteza e os limites egóicos, expandindo-se e preenchendo os
espaços emocionais, as aspirações espirituais, vencidos pelos gases
venenosos do ciúme.
Liberando-se da compressão do ciúme, a pouco e pouco, o eu profundo
respira, alcança as praias largas da existência e desfruta de paz com alguém
ou não, com algo ou nada, porém com harmonia, com amor, com a vida.

O Ser Consciente
Divaldo/Joana de Angelis

sábado, 17 de novembro de 2012

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno " Espiritos Sofredores" parte 9

Claire

(Sociedade de Paris, 1861)
O Espírito que forneceu os ditados seguintes pertenceu a uma senhora que o médium conhecera quando na Terra. A sua conduta, como o seu caráter, justificam plenamente os tormentos que lhe sobrevieram. Além do mais, ela era dominada por um sentimento exagerado de orgulho e egoísmo pessoais, sentimento que se patenteia na terceira das mensagens, quando pretende que o médium apenas se ocupe com ela. As comunicações foram obtidas em diferentes épocas, sendo que as três últimas já denotam sensível progresso nas disposições do Espírito, graças ao cuidado do médium, que empreendera a sua educação moral.
1. - Eis-me aqui, eu, a desgraçada Claire. Que queres tu que te diga? A resignação, a esperança não passam de palavras, para os que sabem que, inumeráveis como as pedras da saraivada, os sofrimentos lhe perdurarão na sucessão interminável dos séculos. Posso suavizá-los, dizes tu... Que vaga palavra! Onde encontrar coragem e esperança para tanto? Procura, pois, inteligência obtusa, compreender o que seja um dia eterno. Um dia, um ano, um século... que sei eu? se as horas o não dividem, as estações não variam; eterno e lento como a água que o rochedo roreja, este dia execrando, maldito, pesa sobre mim como avalancha de chumbo... Eu sofro!... Em torno de mim, apenas sombras silenciosas e indiferentes... Eu sofro!
Contudo, sei que acima desta miséria reina o Deus Pai, para o qual tudo se encaminha. Quero pensar nEle, quero implorar-lhe misericórdia. Debato-me e vivo de rojo como o estropiado que rasteja ao longo do caminho. Não sei que poder me atrai para ti; talvez sejas a salvação. Eu te deixo mais calma, mais reanimada, qual anciã enregelada que se aquecesse a um raio de sol. Gélida, minha alma se reanima à tua aproximação.
2. - A minha desgraça aumenta dia a dia, proporcionalmente ao conhecimento da eternidade. Ó miséria! Malditas sejam as horas de egoísmo e inércia, nas quais, esquecida de toda a caridade, de todo o afeto, eu só pensava no meu bem-estar! Malditos interesses humanos, preocupações materiais que me cegaram e perderam! Agora o remorso do tempo perdido. Que te direi a ti, que me ouves? Olha, vela constantemente, ama os outros mais que a ti mesmo, não retardes a marcha nem en-gordes o corpo em detrimento da alma. Vela, conforme pregava o Salvador aos seus discípulos. Não me agradeças estes conselhos, porque se o meu Espírito os concebe, o coração nunca os ouviu. Qual o cão escorraçado rastejando de medo, assim me humilho eu sem conhecer ainda o voluntário amor. Muito tarda a sua divina aurora a despontar! Ora por minha alma dessecada e tão miserável!
3. - Por que me esqueces, até aqui venho procurar-te. Acreditas que preces isoladas e a simples pronúncia do meu nome bastarão ao apaziguamento das minhas penas? Não, cem vezes não. Eu urro de dor, errante, sem repouso, sem asilo, sem esperança, sentindo o aguilhão eterno do castigo a enterrar-se-me na alma revoltada. Quando ouço os vossos lamentos, rio-me, assim como quando vos vejo abatido. As vossas efêmeras misérias, as lágrimas, tormentos que o sono susta, que são? Durmo eu aqui? Quero (ouviste?) quero que, deixando as tuas lucubrações filosóficas, te ocupes de mim, além de fazeres com que outros mais também se ocupem. Não tenho expressões para definir esse tempo que se escoa, sem que as horas lhe assinalem períodos. Vejo apenas um tênue raio de esperança, foste tu que ma deste: não me abandones, pois.
4. - O Espírito S. Luís. - Este quadro é de todo verdadeiro e em nada exagerado. Perguntar-se-á talvez o que fez essa mulher para ser assim tão miserável. Cometeu ela algum crime horrível? roubou? assassinou? Não; ela nada fez que afrontasse a justiça dos homens. Ao contrário, divertia-se com o que chamais felicidade terrena; beleza, gozos, adulações, tudo lhe sorria, nada lhe faltava, a ponto de dizerem os que a viam: - Que mulher feliz! E invejavam-lhe a sorte. Mas, quereis saber?
Foi egoísta; possuía tudo, exceto um bom coração. Não violou a lei dos homens, mas a de Deus, visto como esqueceu a primeira das virtudes - a caridade. Não tendo amado senão a si mesma, agora não encontra ninguém que a ame e vê-se insulada, abandonada, ao desamparo no Espaço, onde ninguém pensa nela nem dela se ocupa.
Eis o que constitui o seu tormento. Tendo apenas procurado os gozos mundanos que hoje não mais existem, o vácuo se lhe fez em torno, e como vê apenas o nada, este lhe parece eterno. Ela não sofre torturas físicas; não vêm atormentá-la os demônios, o que é aliás desnecessário, uma vez que se atormenta a si mesma, e isso lhe é mais doloroso, porquanto, se tal acontecesse, os demônios seriam seres a ocuparem-se dela. O egoísmo foi a sua alegria na Terra; pois bem, é ainda ele que a persegue - verme a corroer-lhe o coração, seu verdadeiro demônio. S. Luís.
5. - Falar-vos-ei da importante diferença existente entre a moral divina e a moral humana. A primeira assiste a mulher adúltera no seu abandono e diz aos pecadores: "Arrependei-vos, e aberto vos será o reino dos céus."
Finalmente, a moral divina aceita todo arrependimento, todas as faltas confessadas, ao passo que a moral humana rejeita aquele e sorri aos pecados ocultos que, diz, são em parte perdoados. Cabe a uma a graça do perdão, e a outra a hipocrisia. Escolhei, Espíritos ávidos da verdade! Escolhei entre os céus abertos ao arrependimento e a tolerância que admite o mal, repelindo os soluços do arrependimento francamente patenteado, só para não ferir o seu egoísmo e preconceitos. Arrependei-vos todos vós que pecais; renunciai ao mal e principalmente à hipocrisia - véu que é de torpezas, máscara risonha de recíprocas conveniências.
6. - "Estou mais calma e resignada à expiação das minhas faltas. O mal não está fora de mim, reside em mim, devendo ser eu que me transforme e não as coisas exteriores.
"Em nós e conosco trazemos o céu e o inferno; as nossas faltas, gravadas na consciência, são lidas correntemente no dia da ressurreição. E uma vez que o estado da alma nos abate ou eleva, somos nós os juizes de nós mesmos. Explico-me: um Espírito impuro e sobrecarregado de culpas não pode conceber nem anelar uma ele-vação que lhe seria insuportável. Assim como as diferentes espécies de seres vivem, cada qual, na esfera que lhes é própria, assim os Espíritos, segundo o grau de adiantamento, movem-se no meio adequado às suas faculdades e não concebem outro senão quando o progresso (instrumento da lenta transformação das almas) lhes subtrai as baixas tendências, despojando-os da crisálida do pecado, a fim de que possam adejar antes de se lançarem, rápidos quais flechas, para o fim único e alme-jado - Deus! Ah! rastejo ainda, mas não odeio mais, e concebo a indizível felicidade do amor divino. Orai, pois, sempre por mim, que espero e aguardo."
Nota - Na comunicação a seguir, Claire fala de seu marido, que muito a martirizara, e da posição em que ele se encontra no mundo espiritual. Esse quadro que ela por si não pôde completar, foi concluído pelo guia espiritual do médium.
7. - Venho procurar-te, a ti, que por tanto tempo me deixas no esquecimento. Tenho, porém, adquirido paciência e não mais me desespero. Queres saber qual a situação do pobre Félix? Erra nas trevas entregue à profunda nudez de sua alma. Superficial e leviano, aviltado pelo sensualismo, nunca soube o que eram o amor e a amizade. Nem mesmo a paixão esclareceu suas sombrias luzes. Seu estado presente é comparável ao da criança inapta para as funções da vida e privada de todo o amparo. Félix vaga aterrorizado nesse mundo estranho onde tudo fulgura ao brilho desse Deus por ele negado.
8. - O guia do médium. - Vou falar por Claire, visto que ela não pode continuar a análise dos sofrimentos do marido, sem compartilhá-los:
"Félix - superficial nas idéias como nos sentimentos; violento por fraqueza; devasso por frivolidade - entrou no mundo espiritual tão nu quanto ao moral como quanto ao físico. Em reencarnar nada adquiriu e, conseqüentemente, tem de recomeçar toda a obra. - Qual homem ao despertar de prolongado sonho, reconhecendo a profunda agitação dos seus nervos, esse pobre ser, saindo da perturbação, reconhecerá que viveu de quimeras, que lhe desvirtuaram a existência. Então, maldirá do materialismo que lhe dera o vácuo pela realidade; apostrofará o positivismo que lhe fizera ter por desvarios as idéias sobre a vida futura, como por loucura a sua aspiração, como por fraqueza a crença em Deus. O desgraçado, ao despertar, verá que esses nomes por ele escarnecidos são a fórmula da verdade, e que, ao contrário da fábula, a caça da presa foi menos proveitosa que a da sombra. Georges."
Estudo sobre as comunicações de Claire
Estas comunicações são instrutivas por nos mostrarem principalmente uma das feições mais comuns da vida - a do egoísmo. Delas não resultam esses grandes crimes que atordoam mesmo os mais perversos, mas a condição de uma turba enorme que vive neste mundo, honrada e venerada, somente por ter um certo verniz e isentar-se do opróbrio da repressão das leis sociais. Essa gente não vai encontrar castigos excepcionais no mundo espiritual, mas uma situação simples, natural e consentânea com o estado de sua alma e maneira de viver. O insulamento, o abandono, o desamparo, eis a punição daquele que só viveu para si. Claire era, como vimos, um Espírito assaz inteligente, mas de árido coração. A posição social, a fortuna, os dotes físicos que na Terra possuíra, atraiam-lhe homenagens gratas à sua vaidade - o que lhe bastava; hoje, onde se encontra, só vê indiferença e vacuidade em torno de si.
Essa punição é não somente mais mortificante do que a dor que inspira piedade e compaixão: mas é também um meio de obrigá-la a despertar o interesse de outrem a seu respeito, pela sua morte. A sexta mensagem encerra uma idéia perfeitamente verdadeira concernente à obstinação de certos Espíritos na prática do mal.
Admiramo-nos de ver como alguns deles são insensíveis à idéia e mesmo ao espetáculo da felicidade dos bons Espíritos. É exatamente a situação dos homens de-gradados que se deleitam na depravação como nas praticas grosseiramente sensuais. Esses homens estão, por assim dizer, no seu elemento; não concebem os prazeres delicados, preferindo farrapos andrajosos a vestes limpas e brilhantes, por se acharem naqueles mais à vontade. Daí a preterição de boas companhias por orgias báquicas e deboches. E de tal modo esses Espíritos se identificam com esse modo de vida, que da chega a constituir-lhes uma segunda natureza, acreditando-se incapazes mesmo de se elevarem acima da sua esfera. E assim se conservam até que radical transformação do ser lhes reavive a inteligência, lhes desenvolva o senso moral e os torne acessíveis às mais sutis sensações.
Esses Espíritos, quando desencarnados, não podem prontamente adquirir a delicadeza dos sentimentos, e, durante um tempo mais ou menos longo, ocuparão as camadas inferiores do mundo espiritual, tal como acontece na Terra; assim permanecerão enquanto rebeldes ao progresso, mas, com o tempo, a experiência, as tribulações e misérias das sucessivas encarnações, chegará o momento de conceberem algo de melhor do que até então possuíam. Elevam-se-lhes por fim as aspirações, começam a compreender o que lhes falta e principiam os esforços da regeneração.
Uma vez nesse caminho, a marcha é rápida, visto como compreenderam um bem superior, comparado ao qual os outros, que não passam de grosseiras sensações, acabam por inspirar-lhes repugnância.
- P. (a S. Luís). Que devemos entender por trevas em que se acham mergulhadas certas almas sofredoras? Serão as referidas tantas vezes na Escritura?
- R. Sim, efetivamente, as designadas por Jesus e pelos profetas em referências ao castigo dos maus.
Mas isso não passava de alegoria destinada a ferir os sentidos materializados dos seus contemporâneos, os quais jamais poderiam compreender a punição de maneira espiritual. Certos Espíritos estão imersos em trevas, mas deve-se depreender dai uma verdadeira noite da alma comparável à obscuridade intelectual do idiota. Não é uma loucura da alma, porém uma inconsciência daquele e do que o rodeia, a qual se produz quer na presença, quer na ausência da luz material. É, principalmente, a punição dos que duvidaram do seu destino. Pois que acreditaram em o nada, as aparências desse nada os supliciam, até que a alma, caindo em si, quebra as malhas de enervamento que a prostrava e envolvia, tal qual o homem oprimido por penoso sonhar luta em dado momento, com todo o vigor das suas faculdades, contra os terrores que de começo o dominaram. Esta momentânea redução da alma a um nada fictício e consciente de sua existência é sentimento mais cruel do que se pode ima-ginar, em razão da aparência de repouso que a acomete: - é esse repouso forçado, essa nulidade de ser, essa incerteza que lhe fazem o suplício. O aborrecimento que a invade é o mais terrível dos castigos, visto como coisa alguma percebe em torno nem coisas, nem seres; somente trevas, em verdade, representa isso tudo para ela. S. Luís.
(Claire) : Eis-me aqui. Também eu posso responder à pergunta relativa às trevas, pois vaguei e sofri por muito tempo nesses limbos onde tudo é soluço e misérias. Sim, existem as trevas visíveis de que fala a Escritura, e os desgraçados que deixam a vida, ignorantes ou culpados, depois das provações terrenas são impelidos a fria região, inconscientes de si mesmos e do seu destino. Acreditando na perenidade dessa situação, a sua linguagem é ainda a da vida que os seduziu, e admiram-se e espantam-se da profunda solidão: trevas são, pois, esses lugares povoados e ao mesmo tempo desertos, espaços em que erram obscuros Espíritos lastimosos, sem consolo, sem afeições, sem socorro de espécie alguma. A quem se dirigirem... se sentem a eternidade, esmagadora, sobre eles?... Tremem e lamentam os interesses mesquinhos que lhes mediam as horas; deploram a ausência das noites que, muitas vezes, lhes traziam, num sonho feliz, o esquecimento dos pesares. As trevas para o Espírito são: a ignorância, o vácuo, o horror ao desconhecido... Não posso continuar... Claire.
Ainda sobre este ponto obtivemos a seguinte explicação:
"Por sua natureza, possui o Espírito uma propriedade luminosa que se desenvolve sob o influxo da atividade e das qualidades da alma. Poder-se-ia dizer que essas qualidades estão para o fluido perispiritual como o friccionamento para o fósforo. A intensidade da luz está na razão da pureza do Espírito: as menores imperfeições morais atenuam-na e enfraquecem-na. A luz irradiada por um Espírito será tanto mais viva, quanto maior o seu adiantamento. Assim, sendo o Espírito, de alguma sorte, o seu próprio farol, verá proporcionalmente à intensidade da luz que produz, do que resulta que os Espíritos que não a produzem acham-se na obscuridade."
Esta teoria é perfeitamente exata quanto à irradiação de fluidos luminosos pelos Espíritos superiores e é confirmada pela observação, conquanto se não possa inferir seja aquela a verdadeira causa, ou, pelo menos, a única causa do fenômeno; primeiro, porque nem todos os Espíritos inferiores estão em trevas; segundo, porque um mesmo Espírito pode achar-se alternadamente na luz e na obscuridade; e terceiro, finalmente, porque a luz também é castigo para os Espíritos muito imperfeitos. Se a obscuridade em que jazem certos Espíritos fosse inerente à sua personalidade, essa obscuridade seria permanente e geral para todos os maus Espíritos, o que aliás não acontece. As vezes os perversos mais requintados vêem perfeitamente, ao passo que outros, que assim não podem ser qualificados, jazem, temporariamente, em trevas profundas.
Assim, tudo indica que, independente da luz que lhes é própria, os Espíritos recebem uma luz exterior que lhes falta segundo as circunstâncias, donde força é concluir que a obscuridade depende de uma causa ou de uma vontade estranha, constituindo punição especial da soberana justiça, para casos determinados.
Pergunta (a S. Luís). -- Qual a causa de a educação moral dos desencarnados ser mais fácil que a dos encarnados? As relações pelo Espiritismo estabelecidas entre homens e Espíritos dão azo a que estes últimos se corrijam mais rapidamente sob a influência dos conselhos salutares, mais do que acontece em relação aos encarnados, como se vê na cura das obsessões.
Resposta (Sociedade de Paris) . - O encarnado, em virtude da própria natureza, está numa luta incessante devido aos elementos contrários de que se compõe e que devem conduzi-lo ao seu fim providencial, reagindo um sobre o outro.
A matéria facilmente sofre o predomínio de um fluido exterior; se a alma, com todo o poder moral de que é capaz, não reagir, deixar-se-á dominar pelo intermediário do seu corpo, seguindo o impulso das influências perversas que o rodeiam, e isso com facilidade tanto maior quanto os invisíveis, que a subjugavam, atacam de preferência os pontos mais vulneráveis, as tendências para a paixão dominante.
Outro tanto se não dá com o desencarnado, que, posto sob a influência semimaterial, não se compara por seu estado ao encarnado. O respeito humano, tão preponderante no homem, não existe para aquele, e só este pensamento é bastante para compeli-lo a não resistir longamente às razões que o próprio interesse lhe aponta como boas.
Ele pode lutar, e o faz mesmo geralmente com mais violência do que o encarnado, visto ser mais livre. Nenhuma cogitação de interesse material, de posição social se lhe antepõe ao raciocínio. Luta por amor do mal, porém cedo adquire a convicção da sua impotência, em face da superioridade moral que o domina; a perspectiva de melhor futuro lhe é mais acessível, por se reconhecer na mesma vida em que se deve completar esse futuro; e essa visão não se turva no turbilhão dos prazeres humanos. Em uma palavra, a independência da carne é que facilita a conversão, principalmente quando se tem adquirido um tal ou qual desenvolvimento pelas provações cumpridas.
Um Espírito inteiramente primitivo seria pouco acessível ao raciocínio, o que aliás não se dá com o que já tem experiência da vida. Demais, no encarnado como no desencarnado, é sobre a alma, é sobre o sentimento que se faz mister atuar.
Toda ação material pode sustar momentaneamente os sofrimentos do homem vicioso, mas o que ela não pode é destruir o princípio mórbido residente na alma.
Todo e qualquer ato que não vise aperfeiçoar a alma, não poderá desviá-la do mal. S. Luís.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O Tormento do Egoismo



Desde o momento da fissão do Self com o ego, que o eixo do equilíbrio ficou fragmentado.

O esforço de crescimento intelecto-moral do ser humano deve ser o logro da perfeita identificação desses dois arquétipos com a sua consequente fusão harmônica proporcionadora do equilíbrio emocional.

Infelizmente, porém, remanescendo os instintos agressivos em predomínio na psique humana, o ego assume a diretriz do comportamento, trazendo sempre à tona os conflitos de insegurança, de insatisfação, de morbidez, que são decorrência dos períodos ancestrais percorridos antes do surgimento das emoções superiores.

Em razão dessa governança perturbadora o ego está sempre vigilante e dominador, em luta contínua para manter-se, dominado pelo medo de perder a posição de que desfruta.

Disfarçando-se com habilidade, torna-se agressivo, porque é receoso, exibe as qualidades que não possui, exatamente para superar o complexo de inferioridade para voos mais altos no conhecimento e na emoção, atribuindo-se direitos e privilégios que teme lhe sejam retirados, pouco, no entanto, preocupando-se com os deveres que lhe dizem respeito.

É o ego que se cerca de presunção e de avareza, de ciúme e de desfaçatez, de suspeitas constantes e de censuras aos outros, de forma que não se torne conhecido, permanecendo na obscuridade dos seus propósitos enfermiços.

Pode manifestar-se gentil com certa autenticidade, ocultando, porém, interesses mesquinhos, quais os de autopromoção e de exibicionismo, reagindo sempre quando não recebendo a resposta a que aspira nas suas artimanhas. Faz-se, então, adversário soez e persistente de todos aqueles que lhe não concedem o valor que se atribui, podendo tornar-se violento e insano.

Identificado, logo se permite exteriorizar todas as mazelas que lhe são peculiares, tecendo redes de intrigas, fomentando a maledicência, pugnando pela divisão dos grupos, quando então mais fácil se lhe torna o domínio.

O egoísmo é virose perigosa que ataca a sociedade contemporânea, qual ocorreu em todas as épocas da história da humanidade.

Combatido pela ética e pela moral, tem sido motivo de cuidados especiais por todas as doutrinas religiosas, especialmente pelo Cristianismo, que nele encontra um perverso adversário da solidariedade, do amor e da lídima caridade.

O Espiritismo, na sua condição de restaurador do pensamento de Jesus, tem, no egoísmo, a condição de bafio pestilencial, que necessita de terapia preventiva muito bem elaborada e tratamento persistente depois que se encontra instalado.

Não ceder-se espaço ao egoísmo, sob qualquer forma em que se manifeste, deve ser a atitude do cristão sincero, do espírita consciente das suas responsabilidades.

Evitar agasalhá-lo em qualquer dos seus disfarces, é uma forma segura de precatar-se da sua vigorosa constrição.

Não foram poucos os missionários do bem que se permitiram tombar nas artimanhas nefastas do egoísmo, conforme hoje sucede em todos os segmentos da sociedade.

O altruísmo, que lhe é oposto, constitui-lhe estímulo vigoroso para a união do eixo psicológico fragmentado, fazendo que o bem e o mal encontrem a emoção comum do amor que lhes é a meta a conquistar.

Das nascentes do ser brotam as emoções, a princípio violentas, como resultado das experiências afligentes, tornando-se, a pouco e pouco, equilibradas e propiciadoras de felicidade.

Na razão direta em que o Espírito desabrocha a consciência e a perfeita lucidez em torno dos objetivos essenciais da sua existência na Terra, o egoísmo vai-se diluindo e cedendo lugar à solidariedade, por facultar a vivência das emoções mais elevadas, aquelas que santificam o ser no exercício da lídima caridade.

Passa a reconhecer o seu real valor de aprendiz da vida, facultando-se a solidariedade de que necessita, a fim de mais amplamente penetrar nas razões profundas do existir.

Não se jacta, nem se subestima, permanecendo identificado com a realidade que o cerca e procurando alcançar os patamares mais nobres da evolução.

A humildade surge-lhe naturalmente enquanto compreende a grandeza da vida e o seu papel de cooperador na obra magnífica da Criação.

A alegria de viver adorna-o, dando-lhe um suave encantamento em tudo quanto faz e sente, porque se reconhece membro efetivo do conjunto universal.

Enquanto se atormenta nas sensações do medo, da incerteza e das suspeitas, a prepotência alucina-o, porém, quando percebe que a sua segurança encontra-se no ser e não no poder, nos valores internos e não nas aquisições de fora, passa automaticamente para os comportamentos pacíficos e pacificadores.

Colocando-se a serviço do Bem, é dúctil à verdade e ao dever, não elegendo postos nem lugares de destaque, mas dispondo-se a trabalhar em qualquer setor em que seja colocado, aí dando mostras da felicidade de produzir.

Jesus, na carpintaria de Seu pai, aprendeu o ofício modesto e o exerceu, quando era possuidor do conhecimento universal.

Podendo expressar a Sua mensagem com o verbo profundo e complexo que decifrasse os enigmas do universo, optou pela singeleza e poesia da linguagem do povo modesto, compondo poemas insuperáveis com os grãos de mostarda, peixes e pães, semeadura e sega, redes e moedas, ovelhas e azeite, ultrapassando todos os pensadores do passado e mesmo do futuro.

Ninguém falou com a destreza e magia com que Ele narrou as maravilhas do Seu reino, estimulou os alquebrados a levantar-se e prosseguir, amparou os tíbios e os fortaleceu, recuperou os perdidos e mortos, dando-lhes significados existenciais.

Enfrentou o farisaísmo com sabedoria, mas sem presunção, embaraçou os jactanciosos não os humilhando, e pairou acima do biótipo comum pela grandeza de que era portador, não em decorrência de homenagens e honrarias mentirosas.

Recebeu com naturalidade o carinho e o destaque merecido, através das lágrimas de uma mulher recuperada do processo obsessivo e destacou que, naquele gesto, ela o embalsamava por antecipação...

A honraria foi maior para aquela que lhe beijou e ungiu com perfume os pés do que Ele próprio...

...E, no entanto, é o Rei Solar!

Recorda-te que a pérola pálida e preciosa é uma defesa do organismo da ostra à agressividade do grão de areia no seu organismo. Silenciosa e continuamente, o animálculo envolve o invasor na exsudação da sua mucosa ferida e abençoa-o com deslumbrante beleza.

A humildade realiza o mesmo, quando o egoísmo tenta espezinhá-la, submetê-la e destruí-la.

Examina as nascentes da alma e extirpa o egoísmo no seu nascedouro, trabalhando sem cansaço pela tua ascensão na obra de amor que tens pela frente, mantendo-te altruísta e solidário em tudo.

Com esse poder defluente do esforço de ser melhor, alcançarás a emoção afetuosa da alegria de autossuperação das tendências infelizes, logrando as bênçãos da verdadeira fraternidade.


Divaldo Franco/Joana de Angelis

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

OS MALEFÍCIOS DA GULA


"A natureza não traçou o limite do necessário em nossa própria organização?
— Sim, mas o homem é insaciável.A natureza traçou o limite de suas necessidades na sua organização, mas os vícios alteraram a sua constituição e criaram para ele necessidades artificiais." (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro Terceiro. Capítulo V. Lei de Conservação. Pergunta 716.)


"A alimentação animal, para o homem, é contrária à lei natural?
- Na vossa constituição física, a carne nutre a carne, pois do contrário o homem perece. A lei de conservação impõe ao homem o dever de conservar as suas energias e a sua saúde, para poder cumprir a lei do trabalho. Ele deve alimentar-se, portanto, segundo o exige a sua organização." (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro terceiro. Capítulo V. Lei de Conservação. Pergunta 723.)


O excesso na alimentação é vício igualmente nocivo ao nosso organismo. Imaginemos a sobrecarga de trabalho que os nossos órgãos são obrigados a desenvolver desnecessariamente, apenas para satisfazer o exagerado prazer da gustação. Todo excesso de trabalho leva ao desgaste prematuro, quer de uma máquina, quer dos órgãos físicos, ou do corpo somático na sua generalidade. O desenvolvimento avantajado e antiestético dos órgãos responsáveis pela digestão caracteriza o glutão.

A gula também é uma manifestação de egoísmo. A porção alimentar que poderia sustentar mais uma ou duas pessoas é totalmente digerida por apenas uma, com visível prejuízo para a coletividade. A quantidade necessária de proteínas, gorduras, sais minerais, etc., para manter o corpo físico, é mais ou menos a metade ou a terça parte daquilo que nós normalmente ingerimos. A nossa alimentação diária já é excessiva. Todos nós normalmente ingerimos mais do que o necessário; somos, em alguma proporção, glutões. As pessoas gordas vivem, de um modo geral, muito menos que as magras e, além disso, estão sujeitas a enfermidades com mais frequência. Grandes quantidades de alimentos deglutidos não significa ter boa saúde.

Teoricamente, a energia alimentar contida numa amêndoa seria suficiente para nos nutrir o dia inteiro, caso soubéssemos e estivéssemos em condições próprias para absorvê-las por completo. Para aproveitar as energias e os valores alimentícios durante as refeições, é necessário que tenhamos a mente tranquilizada e as emoções acalmadas, além de estarmos concentrados na absorção dos mesmos. Quando nas refeições ocorrem discussões e contrariedades, ingerimos mal, provocando perturbações estomacais e impregnamos os alimentos mastigados de vibrações negativas altamente perniciosas ao nosso espírito.

Embora consideremos as proteínas de origem animal importantes à nossa subsistência, a preferência pelos produtos naturais, como cereais, verduras, frutas, ovos, mel, leite e seus derivados, é no nosso entender mais condizente com a natureza da criatura que busca ascender espiritualmente.
Porém, sejamos realistas e não nos fanatizemos seguindo a alimentação frugal como objetivo de ascensão espiritual, pois não é o que entra pela boca que nos faz melhores, mas o esforço que empreendemos em fazer com que através dela saiam apenas palavras confortadoras, dóceis, construtivas.

As gorduras que se acumulam no nosso organismo em forma de triglicérides e colesterol, prejudiciais ao nosso sistema circulatório, devem ser minoradas, até como recomendação médica geral. O comer exagerado é um vício, quando não, um costume que criamos para satisfazer nosso próprio orgulho e o prazer de saborear incontidamente os deliciosos quitutes. É realmente atraente o prazer de comer bem. Quem faz os alimentos se esmera para ser elogiado, agrada-o bem servir socialmente.
Quem aproveita os alimentos não se contém; o sabor não estabelece limites, mais e mais vai sendo engolido. O processo sugestivo é também um meio para se libertar, porém a orientação alimentar para as pessoas excessivamente gordas ou descontroladas nesse sentido deve ser dada por médico especialista, pois o controle alimentar por conta própria pode provocar um desbalanceamento, com graves consequências.

O processo sugestivo entra como meio de reação ao vício. Quando o desejo e os estímulos exagerados do apetite, diante de suculentos pratos e bonitas travessas, nos impulsionam a comer desmedidamente, podemos reagir pensando nos futuros prejuízos ao nosso corpo e nas consequências nocivas ao nosso espírito. Procuremos sempre reagir aos excessos alimentares, contendo os impulsos da gula, principalmente aos domingos, quando procuramos descansar o corpo físico das sobrecargas semanais. Há um preceito que ensina: "devemos terminar as refeições com fome".

Assim fazendo, naturalmente aprenderemos a comer menos, absorvendo melhor as energias alimentícias através de uma atitude tranquila e de uma mentalização positiva nas qualidades substanciosas dos mesmos. Comendo pouco nos alimentamos muito: essa é a chave para adquirir o equilíbrio alimentar e vencer a gula.

sábado, 29 de setembro de 2012

29 - Vigilância, Abnegação


A - Vigilância

"Todo pensamento impuro pode se originar de duas fontes: a própria imperfeição da alma ou uma funesta influência que sobre ela se exerça. Neste último caso, há sempre indício de uma fraqueza, que nos torna aptos a receber essa influência, demonstrando que somos almas imperfeitas. Dessa forma, aquele que falir não poderá alegar como desculpa a influência de um Espirito estranho, desde que esse Espírito não o teria induzido ao mal se o tivesse encontrado inacessível à sedução."

(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XXVIII. Coletânea de Preces Espíritas. Para Resistir a Uma Tentação, 20. Prefácio.)

A condição interior de atenção para com as próprias emoções, desejos, impulsos, pensamentos, gestos, olhares, atitudes e respostas verbalizadas consiste na preocupação em pautar nossas reações dentro de padrões condizentes com o conhecimento evangélico. A observação de nós mesmos deverá ser aplicada de modo permanente, e não apenas quando já ocorreu a transgressão. Entendemos claramente que a vigilância define um trabalho preventivo e não corretivo.
A vigilância tem, assim, sua atuação como meio de combate aos defeitos, de algum modo já conhecidos ou identificados, para que, com a devida antecedência e precaução, evitemos as ocorrências dos mesmos. O trabalho preventivo, a exemplo do que se desenvolve na especializada área da Segurança do Trabalho, procura relacionar numa atividade os riscos de acidentes e seus graus. As causas de acidentes são muito bem estudadas e todas as campanhas de prevenção visam à conscientização do homem que executa um trabalho produtivo, para que o desempenhe dentro de certas normas de segurança, específicas a cada tipo de atividade.

Há dispositivos de proteção nas máquinas, há cores e sinalização, há meios de prevenção contra incêndios e há também os equipamentos de proteção individual para uso do trabalhador. Estes são alguns dos meios para evitar acidentes. Muito análogos ao que queremos aqui relacionar com a nossa vigilância interior são, em Segurança do Trabalho, os chamados "atos inseguros". Sabe o operário que, ao executar um "ato inseguro", poderá lhe ocorrer um acidente, como por exemplo: trabalhar na construção de edifício sobre andaimes sem guarda-corpo; subir em postes sem o cinto de segurança; operar máquinas de desbaste sem óculos de proteção; remover peças com as mãos sem luvas em prensas de moldagem, etc.
Então, o que poderá também acontecer àquele que, conhecendo as suas fraquezas ou inseguranças, se arrisca a determinadas situações de perigo? Estará se expondo a sofrer um deslize moral, a lhe ocorrer um acidente de graves consequências. O que precisamos conhecer bem são as nossas próprias situações de risco, para não cometermos erros, caindo em tentações, e depois amargurar os arrependimentos das nossas falhas.

As tentações são os nossos riscos; estamos a elas sujeitos, e a nossa própria insegurança é resultado das imperfeições que ainda temos. Contamos sempre com os meios de proteção e de segurança individuais nos Espíritos Protetores, que, até certo ponto, afastam-nos das influências perigosas. Cabe-nos, no entanto, agir com firmeza, resistindo às tentações conhecidas.
Podemos muito bem evitar os "atos inseguros", escapando das situações de perigo, ou nos munindo dos meios de proteção para enfrentá-las.

Como formas de proteção, além do auxílio espiritual, contamos com a prece, a vontade, o esclarecimento, o esforço próprio. Ninguém melhor do que nós mesmos para precavermo-nos das situações que representam riscos às nossas próprias inseguranças morais.
Relacionemos algumas delas, talvez as mais comuns:

a) Diante dos convites de companhias que nos estimulam ao fumo, ao jogo, ao álcool, ao tóxico;

b) Nas discussões de assuntos polêmicos, que nos levam a intrigas, agressões, contendas;

c) Nas elaborações de pensamentos eróticos, que nos predispõem aos condicionamentos do sexo;

d) Na direção dos olhares maliciosos, que nos conduzem à cobiça;

e) Nas economias exageradas dos gastos, que se resumem em avareza;

f) Nas absorções de ressentimentos ou amarguras, que se cristalizam em intolerâncias, incompreensões;

g) Nos comentários desavisados, que nos conduzem à maledicência;

h) Nos afloramentos das emoções fortes, que nos fazem manifestar orgulho, presunção;

i) Nos ímpetos de defesa das nossas idéias, que refletem o personalismo;
j) Nas inquietações por algo desejado, que definem a impaciência;

l) Nos esquecimentos de obrigações assumidas, que caracterizam a negligência;

m) Nos descansos prolongados, que indicam ociosidade.

"Reconhece-se que um pensamento é mau quando ele se distancia da caridade — base de toda moral verdadeira; quando tem por princípio o orgulho, a vaidade e o egoísmo; quando sua concretização pode prejudicar alguém; quando, enfim, nos induza a coisas diferentes das que quereríamos que os outros nos fizessem."

B - Abnegação

"A piedade, quando bem sentida, é amor; o amor é devo lamento; devotamento é esquecimento, esquecimento de si mesmo, e este esquecimento é a abnegação em favor da criatura menos feliz, é a virtude por excelência, praticada pelo Divino Mestre e ensinada em sua doutrina tão santa e sublime; quando essa doutrina for restabelecida em sua pureza primitiva, quando for admitida por todos os povos, fará a Terra feliz, fazendo reinar em sua face a concórdia, a paz e o amor."

(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XIII. Que a Mão esquerda Não Saiba o Que Faz a Direita. Item 17. A Piedade - Michel.)

A abnegação é indicativa daquilo que fazemos em favor de alguém, ou de alguma causa, sem interesse próprio, com esquecimento de nós mesmos, ou até com sacrifício do que possa nos pertencer.

Há alguns exemplos na História das Civilizações de criaturas abnegadas, que se dedicaram ao bem-estar do próximo, trabalhando de alguma forma para deixar aos homens uma contribuição marcante nas áreas do conhecimento, das descobertas científicas, das investigações, das religiões, dos direitos humanos, da moral, da caridade, etc. Por esse espírito de sacrifício próprio deixaram seus nomes aureolados de respeito e admiração.

Na própria História do Brasil rendemos homenagens aos personagens cívicos que colocaram o interesse da nação brasileira acima dos seus e dos das elites da época.

É o que muito nos falta hoje: pureza de intenções, abnegação, sacrifício de interesses, renúncia a proveitos pessoais, amor às causas nobres, dedicação às criaturas na miséria, desprendimento dos valores materiais. Devemos reconhecer, também, que há inúmeros corações vivendo em silêncio dando extraordinários exemplos de abnegação, sem fazer qualquer menção ao que realizam, ou sem serem identificados publicamente.

Todos temos, no entanto, possibilidades de praticar a abnegação, se não integralmente dedicados a uma obra mas, em nosso tempo disponível, procurando algo realizar sem remuneração, com desprendimento, dedicados a certas benemerências ao próximo, de qualquer natureza.

A prática da abnegação concretiza o exercício da caridade, dever humano que não podemos dispensar de nossas obrigações. O benefício desinteressado é o único agradável a Deus. Quem presta sua ajuda aos pequeninos que nada têm, sabe de antemão que não receberá deles agradecimentos ou retribuições. Por essa razão os serviços dedicados aos mais carentes devem caracterizar a caridade autêntica.

Admitimos que também podemos treinar a abnegação nas pequenas coisas, todas as vezes que voluntariamente renunciamos a algo nosso em favor do próximo.

A abnegação é o oposto do egoísmo. Praticando-a, o combatemos naturalmente.

Vejamos, em nossas atividades corriqueiras, algumas das muitas oportunidades que temos de praticar a abnegação:

a) Dedicando algumas horas do nosso lazer numa atividade assistência!;

b) Ministrando esclarecimentos evangélicos às criaturas em aprendizagem;

c) Oferecendo graciosamente os próprios serviços profissionais, onde possam ser mais úteis, aos que não os possam pagar;

d) Ensinando, sem interesse financeiro, os conhecimentos que detemos em quaisquer áreas;

e) Trabalhando no próprio lar, em algumas horas livres, na confecção de roupas e agasalhos para famílias carentes;

f) Contribuindo, com trabalho pessoal, no plantão vigilante a familiares ou amigos em convalescença;

g) Procurando conduzir o que realizarmos na esfera política ou social em benefício da maioria desprivilegiada, mesmo sacrificando
interesses próprios;

h) Indagando sempre, em nossas deliberações administrativas, se estamos atendendo aos princípios de justiça, tolerância e bondade para com o próximo;

i) Pautando tudo que fizermos nas produções diárias dentro do ideal de perfeição, aprimorando sempre para o melhor ao nosso alcance.

"A beneficência é bem compreendida, quando se limita ao círculo de pessoas da mesma opinião, da mesma crença ou do mesmo partido? — Não, é imperioso sobretudo abolir o espírito de seita e de partido, pois todos os homens são irmãos. O verdadeiro cristão vê irmãos em todos os seus semelhantes, e para socorrer o necessitado não busca saber a sua crença, a sua opinião, seja ela qual for." (Id., ibid. Item 20. Luís.)

Ney P. Peres

06 - OS MALEFÍCIOS DOS ABUSOS SEXUAIS

Ney Prieto Peres
"O aborto provocado é um crime, qualquer que seja a época da concepção? - Há sempre crime, no momento em que se transgride a lei de Deus. A mãe, ou qualquer outro, cometerá sempre um crime ao tirar a vida à criança antes do seu nascimento, porque isso é impedir a alma de passar pelas provas de que o corpo devia ser o instrumento. " Allan Kardec.O Livro dos Espíritos. Capítulo VII. Retorno à Vida Corporal. Pergunta 358.)

Também pelos abusos sexuais comprometemos o nosso corpo físico e o nosso equilíbrio emocional, dispersando as energias vitais procriadoras e enfraquecendo a nossa mente com imagens eróticas e perniciosas. Como todo ato natural, a união sexual representa uma manifestação divina quando as condições espirituais e os reais objetivos são seguidos. Da união sexual decorre a continuidade da espécie, possibilitando aos espíritos em processo de encarnação a oportunidade para seu desenvolvimento.

No ato sexual, além das atividades propriamente geradoras, importante permuta de hormônios e princípios magnéticos ativos processam-se entre o homem e a mulher. Além do aspecto biológico, há também, na união sexual, a permuta de vibrações sutis e de elementos espirituais vitalizantes de que ambos se abastecem no equilíbrio necessário das uniões afetivas dignas.

Desse modo, não nos cabe deturpar uma manifestação divina dos nossos espíritos como através dos tempos vem sendo feito. Dirigimo-nos em particular aos jovens que, na fase de sua formação física e moral, possam estar desperdiçando as suas energias procriadoras, tão importantes no fortalecimento do sistema cerebral e de todos os seus órgãos do corpo. Devemos canalizar o seu dinamismo energético na prática sadia de atividades produtivas, nos estudos, nos esportes nas artes, na música, além das oportunidades de ajuda ao próximo que oferece a Assistência Social e o trabalho junto às crianças faveladas nos serviços de Moral Cristã.

Nosso esforço em reformular os conceitos e as manifestações desavisadas do sexo é indispensável, improrrogável. Convém controlar os impulsos sexuais, moderá-los com justificativas cristãs, coerentes com a pureza em que se devem manter o corpo e o espírito. Mudar a nossa imaginação viciada no que se relaciona ao sexo e às suas manifestações. Orientar definitivamente os desejos de prazer procurados nas expressões animalizadoras, esforçando-se no trabalho de se espiritualizar em todos os sentidos, dentro de princípios renovadores.

A corrente tendenciosa, nos nossos dias, de dar livre expansão aos impulsos sexuais incorre numa completa distorção dos sentimentos de afeição e respeito. Sexo exige, antes de tudo, responsabilidade por parte de quem o pratica. E digam as consciências que propagam o "amor livre" até onde estão dispostas a assumir, em nome desse "amor", as consequências dos seus atos livres! União de corpos pressupõe união de almas, afeto, compromisso de um para com o outro num propósito sério.

As grandes provas de amor são dadas exatamente na medida da capacidade de renúncia e de sacrifício, em respeito e zelo pela criatura amada, e, como decorrência, em assumir a vida daqueles seres gerados por esse mesmo amor. O sexo exerce enorme influência em nossa vida, o seu potencial de realização pode ser comparado a uma grande represa que armazena e controla vultuosa massa de água, canalizando-a e transportando-a por condutos, fazendo-a movimentar potentes turbinas, geradoras de energia elétrica, distribuída em incontáveis benefícios. Conter, disciplinar, canalizar todo o nosso potencial de energias sexuais que está sediado na alma, utilizando-o nas realizações proveitosas em que colocamos o nosso entusiasmo, o nosso dinamismo, o nosso coração, é obra divina, digna e edificante.

Os abusos e as distorções do sexo levam, à semelhança de um dique rompido, às inundações desastrosas, ao desequilíbrio emocional, ao envolvimento nas teias grosseiras da nossa animalidade, ao embotamento dos nossos valores criadores e ao viciamento da nossa imaginação. "A união permanente de dois seres é um progresso na marcha da humanidade." (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Pergunta 695.) "A abolição do casamento é o retorno à vida dos animais." .)

Resumimos, com Emmanuel (Emmanuel. Vida e Sexo. Introdução.), todas as considerações úteis relativas ao sexo nas seguintes normas: "Não proibição, mas educação. Não abstinência imposta, mas emprego digno, com o devido respeito aos outros e a si mesmo. Não indisciplina, mas controle. Não impulso livre, mas responsabilidade".

Aos Aprendizes do Evangelho é feito um convite à ponderação e ao posicionamento com relação a esse importante problema que a Humanidade enfrenta, e que, cada um, na tentativa de realizar a sublimação pessoal, tantas vezes já recomeçou nas oportunidades reencarnatórias, ou seja, o aprendizado na aplicação do sexo à luz do amor e da vida.

A - UM ROTEIRO PARA AUTO-ANÁLISE

No campo das afeições, ao analisarmos a gradação dos nossos impulsos de sentimentos em relação a outrem, parece ficar evidente a sequência que vai da simples simpatia à união propriamente dita, num processo crescente de aproximação e envolvimento de almas.
Com o intuito de facilitar a nossa reflexão quanto aos aspectos das manifestações afetivas, indicamos, a nosso ver, a sequência natural e crescente que estamos sujeitos a passar, nas ligações do coração.

Enumeramos nessa sequência três fases naturais: 1ª. aproximação; 2ª. contato; 3ª. ligação.

1ª. - Aproximação: Esta fase se inicia na "simpatia", prossegue na "admiração", estabelece-se na "amizade". Até esse ponto o nível de aproximação é o mais comum entre as criaturas, e não ultrapassou os limites de um relacionamento social. Das "amizades" podem surgir as expressões ou impulsos de "carinho", que são os primeiros sintomas de afeição mais profunda. A partir dessa etapa podemos ou não atingir a segunda fase.

2ª. - Contato: Esta fase tem seu começo na "atração" entre pessoas, quando já penetramos no terreno emocional. Da "atração" surge o "desejo" e logo após o contato na forma de "carícias". O nível de aprofundamento a que se pode chegar nesse estágio leva, conseqüentemente, à ligação.

3ª. - Ligação: Nesta etapa, o contato atinge certos níveis de "sensações" mútuas, chegando irresistivelmente ao seu clímax no relacionamento sexual. Ao chegar nesse ponto, subentende-se uma aceitação de parte a parte, que pressupõe ter sido completada a terceira fase, e que, para existir, implica na "responsabilidade" de ambos em assumir, um para o outro, uma vida em comum, numa "união" de propósitos. Laços mais estreitos foram tecidos e agora, num relacionamento conjugal, espera-se concretizar todo um conjunto de ideais.

Em resumo:
1ª. fase - Aproximação

• simpatia
• admiração
• amizade
• carinho
2ª. fase - Contato

• atração
• desejo
• carícia

3ª. fase - Ligação

- sensação
- relação sexual
- responsabilidade
- união

Onde encontramos os desequilíbrios?

Quando não nos é permitido transgredir de uma fase a outra. Senão, vejamos: ao nos aproximarmos de alguém e ao sentirmos "carinho", além de "simpatia", "admiração" e "amizade", estamos começando a entrar na fase de "contato". Portanto, caso não possamos ultrapassar uma simples "amizade", a atitude coerente é não passar dos sentimentos de "carinho".

Quando há um encaminhamento para o "contato" pela "atração" e "desejo", torna-se mais difícil impedir o aprofundamento, que poderá marchar para uma "ligação". É o que ninguém quer fazer, ou seja, parar na hora certa, impedir que os envolvimentos progridam. Quando não reagimos adequadamente e estabelecemos as "ligações" ilícitas, cometemos adultério, colhemos os dissabores, perturbamos os compromissos assumidos anteriormente, destruímos laços afetivos, comprometemos nossa consciência que fugiu às responsabilidades.

Nas transgressões, ao passarmos de uma das etapas à seguinte, encontramos os desequilíbrios afetivos e os enganos do coração, que devemos evitar. Vamos assim realizando a nossa auto-análise e nos posicionando prudentemente dentro desse esquema apresentado. Levemos em conta que as ligações afetivas ilícitas constituem o terreno das provas mais difíceis de serem superadas, e que por elas nos comprometemos a pesados encargos nesta e em vidas futuras.

Analisemos o que nos diz Mateus e o que esclarece Allan Kardec, relativamente ao adultério. Embora a nossa maioria social esteja embriagada nas manifestações desenfreadas do sexo, não acreditamos que essas verdades a seguir colocadas tenham sido superadas nos atuais dias controvertidos.

"Ouvistes o que foi dito aos Antigos: Não cometereis adultério. Porém, eu vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher com mau desejo para com ela, já em seu coração adulterou com ela." (Mateus, 5 :27-28.)

"É necessário fazer uma distinção importante. À medida que a alma que está no caminho errado adianta-se na vida espiritual, instrui-se e, pouco a pouco, despe-se das imperfeições conforme sua vontade seja mais ou menos forte, em virtude do livre-arbítrio. Todo pensamento menos puro é resultante da pouca evolução da alma, mas, de acordo com o desejo que alimenta de aprimorar-se, mesmo esse pensamento menos puro se lhe propicia uma oportunidade de adiantar-se, porque ela o repele com energia.
É indício do esforço despendido para apagar uma mancha e não ceder, se surgir uma nova oportunidade de satisfazer a um desejo menos digno, e, após ter resistido, sentir-se-á mais robustecido e alegre pela vitória conquistada. Ao contrário, a alma que não teve boas resoluções procura uma ocasião de praticar o erro e, se não o efetiva, não é por virtude de sua vontade, mas por falta de oportunidade.
É, pois, tão culpada quanto o seria se o tivesse cometido. Em resumo, o progresso está realizado na pessoa que nem ao menos concebe um pensamento menos puro, o progresso está em vias de realização na que tem um pensamento dessa natureza e o repele, e, naquela que ao surgir tal pensamento nele se compraz, o mal está em todo seu vigor. Numa o trabalho está feito, na outra, por fazer. E Deus, que é justo, leva em consideração todos esses fatores na responsabilidade dos atos e pensamentos dos homens."(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo VIII. Bem-aventurados os Puros de Coração. Pecado por Pensamentos. Adultério.)

B - ALGUMAS AUTO-AFIRMAÇÕES PARA DOMINAR DESEJOS SEXUAIS

Para superar as eventuais fraquezas e a pouca firmeza nos propósitos de dominar os impulsos eróticos e os pensamentos de prazer sexual, sugerimos repetir com frequência as afirmações que seguem, procurando sentir o mais profundamente possível o seu conteúdo:

"QUERO TRANQUILAMENTE SUPERAR OS ENVOLVIMENTOS ERÓTICOS E COMPREENDER AS ATRAÇÕES SEXUAIS COMO IMPULSOS DINÂMICOS DA ALMA E EXPRESSÕES DE AMOR EM VIAS DE SUBLIMAÇÃO".

"BUSCO ADQUIRIR EQUILÍBRIO, BEM-ESTAR, SAÚDE E APLICAR AS ENERGIAS SEXUAIS DA ALMA EM TRABALHO PRODUTIVO".

"DESPERDIÇAR ENERGIAS PROCRIADORAS É AUMENTAR TENSÕES, COMPROMETER O EQUILÍBRIO PSÍQUICO E DESGASTAR OS RECURSOS ORGÂNICOS".

"TENHO VONTADE E ENERGIA SUFICIENTES PARA REPELIR OS DESEJOS SEXUAIS QUE AINDA POSSAM ME ATORMENTAR".

"EVITAREI, CALMA E FIRMEMENTE, PENSAMENTOS OU IMAGENS QUE DESPERTEM SENSAÇÕES E DESEJOS SEXUAIS".

02 - FUMAR É SUICÍDIO


"Quando o homem está mergulhado, de qualquer maneira, na atmosfera do vicio, o mal não se torna para ele um arrastamento quase irresistível? — Arrastamento, sim; irresistível, não. Porque no meio dessa atmosfera de vícios encontra, às vezes, grandes virtudes. São Espíritos que tiveram a força de resistir, e que tiveram, ao mesmo tempo, a missão de exercer uma boa influência sobre os seus semelhantes."
(Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Livro Terceiro. Capítulo I. A Lei Divina ou Natural. Pergunta 645.)
Procuramos, aqui, tecer algumas considerações sobre o vício do fumo, hábito puramente imitativo e que não tem qualquer justificativa

A - O FUMAR, COMO COMEÇOU?

O costume herdado dos animais de farejar, cheirar e provar o gosto, certamente levou o homem, em épocas muito distantes a experimentar o gosto da fumaça. Provavelmente, alguns homens pré-históricos mais astutos resolveram enrolar algumas folhinhas secas e provar sua fumaça. Através dos tempos, devem ter experimentado muitas delas, não as aprovando pelo seu gosto amargo. No entanto, aquela folha larga e amarelada, depois balizada de Nicotiana Tabacum, deve ter provocado algo de estranho no experimentador pela ação ativa do alcalóide que ela contém (bastam apenas 40 a 60 miligramas dele para matar um homem).

Historicamente, consta que em 1560 o embaixador francês João Nicot enviou à rainha Catarina de Medicis as primeiras remessas daquele vegetal, cultivado em seus jardins em Lisboa, porque o julgava uma erva perfumada e dotada de propriedades terapêuticas. A rainha patrocinou a difusão do fumo como medicamento, utilizando-o em pílulas, pomadas, xaropes, infusões, banhos, etc. Porém, desses usos surgiram — o que a rainha encobriu — inúmeros envenenamentos, intoxicações e mortes. O idealista Nicot, que deu seu nome ao alcalóide nicotina, enquadrado entre os "venenos eufóricos", deve ter experimentado no Plano Espiritual os arrependimentos de sua triste iniciativa, acompanhando os casos mórbidos que suas perfumadas folhinhas provocaram.

B - O FALSO PRAZER - UMA ILUSÃO

O hábito de fumar começa, em geral, na infância ou na adolescência, incentivado pelos mais velhos e tendo exemplos até mesmo dentro de casa. São os garotos provocados pelos coleguinhas que fumam e que, na sua imaginação, já se sentem homens feitos (como se o fumar fosse uma condição de ser adulto). A tentativa é feita, provoca tosse e tonturas, mas dizem eles — são os sacrifícios do noviciado. O melhor vem depois: dá charme, auto-segurança, estímulo cerebral, é bacana, as menininhas gostam. Enfim, atende a tudo aquilo que o adolescente deseja: auto-afirmação, prestígio entre os amiguinhos, pose de artista, companhias a qualquer hora, namoradinhas, e, nesse contexto, a ilusão do prazer de ser querido e estar realizado. Faz parte do grupo. Quem não fuma, não entra na "patota".

Entretanto, ninguém conta nem fala das desvantagens e dos males do fumo. Ninguém vê e nem pode examinar os tóxicos que a fumacinha leva ao organismo. Hoje já se fala, até na televisão, sobre o alcatrão e a nicotina que o cigano contém, mas o que é mesmo isso? Ah, isso ninguém conhece. E ninguém conhece porque não é divulgado, porque não interessa divulgar. O que interessa é vender. E os nossos amiguinhos caem como patinhos, levados também pelas exuberantes propagandas dos fabricantes, sem saberem nada sobre os venenos que ingerem, sobre as doenças que provocam, as mortes que causam. E sem saberem que as estatísticas médicas provam que, dentre oito fumantes, um certamente sofrerá de câncer, e ainda que cada cigarro encurta a vida do homem em quatorze minutos. Falem dessas verdades aos garotos que queiram ensinar outros a fumar.

C - O QUE SOFRE O ORGANISMO HUMANO?

A quantidade de nicotina absorvida varia de 2,5 a 3,5 miligramas por cigarro. Ao ser tragada, a fumaça entra pelos pulmões carregando vários gases voláteis, que se condensam no alcatrão, passando à corrente sanguínea juntamente com a nicotina. Esta é tóxica, venenosa; o alcatrão é cancerígeno. Esses componentes agem na intimidade celular, principalmente nas células do sistema nervoso central, modificando o seu metabolismo, ou seja, as transformações físico-químicas que lhes permitem realizar os trabalhos de assimilação e desassimilação das substâncias necessárias à sua função. Essas alterações provocam no fumante a sensação momentânea de bem-estar, com supressão dos estados de ansiedade, medo, culpa. É o efeito de uma ação tóxica e mórbida levada ao sistema nervoso central. Aos instantes iniciais de estímulos segue-se um retardo da atividade cerebral e, em seguida, depressão, apatia, angústia.

Esses elementos químicos tóxicos, além desses efeitos, agravam as doenças cardíacas, como a angina, o enfarte, a hipertensão, a arterios­clerose. As vias respiratórias se irritam e, progressivamente, intoxicam-se, dando origem a traqueítes, bronquites crônicas, enfïsemas pulmonares, insuficiência respiratória, além dos casos de câncer bucal, da faringe, da laringe, do pulmão e do esôfago. A mulher é ainda mais sensível aos efeitos da nicotina, principalmente na gravidez, quando a nicotina atravessa a placenta, ocasionando danos ao feto, contamina o leite materno e pode também provocar abortos, natimortos e prematuros. Há também casos de esterilidade acarretada pelo fumo.

Em trabalhos recentes, ficou comprovada a diminuição da capacidade visual dos fumantes de 26% ou mais. A ação tóxica afeta também as glândulas, dificultando as funções orgânicas. Numa universidade norte-americana, uma pesquisa provou que os índices de reprovação são bem maiores entre os fumantes do que entre os não-fumantes. Porém, o que melhor retrata esse quadro é o fato de um fumante que absorve dois maços por dia, durante 30 anos, ter sua vida diminuída em 8 ou 10 anos. Portanto, esta é, indubitavelmente, uma forma de suicídio.

D - O PERISPÍRITO FICA IMPREGNADO

Os efeitos nocivos do fumo transpõem os níveis puramente físicos, atingindo o envoltório sutil e vibratório que modela, vivifica e abastece o organismo humano, denominado perispírito ou corpo espiritual. O perispírito, na região correspondente ao sistema respiratório, fica, graças ao fumo, impregnado e saturado de partículas semimateriais nocivas que absorvem vitalidade, prejudicando o fluxo normal das energias espirituais sustentadoras, as quais, através dele, se condensam para abastecer o corpo físico. O fumo não só introduz impurezas no perispírito - que são visíveis aos médiuns videntes, à semelhança de manchas, formadas de pigmentos escuros, envolvendo os órgãos mais atingidos, como os pulmões —, mas também amortece as vibrações mais delicadas, bloqueando-as, tornando o homem até certo ponto insensível aos envolvimentos espirituais de entidades amigas e protetoras.

Após o desencarne, os resultados do vício do fumo são desastrosos, pois provocam uma espécie de paralisia e insensibilidade aos trabalhos dos espíritos socorristas por longo período, como se permanecesse num estado de inconsciência e incomunicabilidade, ficando o desencarnado prejudicado no recebimento do auxílio espiritual. Numa entrevista dada ao jornalista Fernando Worm (publicada na Folha Espirita, agosto de 1978, ano V, n° 53), Emmanuel, através de Chico Xavier, responde às seguintes perguntas:

F.W. A ação negativa do cigarro sobre o perispírito do fumante prossegue após a morte do corpo físico? Até quando?
Emmanuel: O problema da dependência continua até que a impregnação dos agentes tóxicos nos tecidos sutis do corpo espiritual ceda lugar à normalidade do envoltório perispiritual, o que, na maioria das vezes, tem a duração do tempo em que o hábito perdurou na existência física do fumante. Quando a vontade do interessado não está suficientemente desenvolvida para arredar de si o costume inconveniente, o tratamento dele, no Mundo Espiritual, ainda exige quotas diárias de sucedâneos dos cigarros comuns, com ingredientes análogos aos dos cigarros terrestres, cuja administração ao paciente diminui gradativamente, até que ele consiga viver sem qualquer dependência do fumo.

F.W. Como descreveria a ação dos componentes do cigarro no perispírito de quem fuma?
Emmanuel: As sensações do fumante inveterado, no Mais Além, são naturalmente as da angustiosa sede de recursos tóxicos a que se habituou no Plano Físico, de tal modo obcecante que as melhores lições e surpresas da Vida Maior lhe passam quase que inteiramente despercebidas, até que se lhe normalizem as percepções. O assunto, no entanto, com relação à saúde corpórea, deveria ser estudado na Terra mais atentamente, já que a resistência orgânica decresce consideravelmente com o hábito de fumar, favorecendo a instalação de moléstias que poderiam ser claramente evitáveis. A necropsia do corpo cadaverizado de um fumante em confronto com o de uma pessoa sem esse hábito estabelece clara diferença.

E - DEIXAR DE FUMAR: UM TRABALHO DE REFORMA INTIMA

O esclarecimento trazido pelo Espiritismo vem aduzir maior número de razões, e com maior profundidade, àqueles defendidos pela Medicina e Saúde Pública. Dentro de um propósito transformista, que a vivência doutrinária nos evidencia, é indispensável abandonar o fumo, principalmente os que se dedicam aos trabalhos de assistência espiritual, que veiculam energias vitalizantes, transmitidas nos serviços de passes.

O zelo e o respeito ao organismo, que nos é legado na presente existência, devem nos levar a compreender que não temos o direito de comprometê-lo com a carga de toxinas que o fumo acrescenta, alertando-nos com relação a esse problema. A necessidade de cada vez mais nos capacitarmos espiritualmente não pode dispensar a libertação de vícios, dentre eles o fumo. Encontramos inúmeras razões que justificam o deixar de fumar e não conseguimos enumerar uma apenas que, objetivamente, justifique o vício.

F - A VONTADE É A FERRAMENTA FUNDAMENTAL

Há vários métodos que ensinam como deixar de fumar, porém todos partem de um pressuposto: Vontade.
A vontade pode ser fraca ou forte, e ela diz muito do propósito e da capacidade de decisão que imprimimos à nossa vida. A vontade, como vimos, pode ser fortalecida por afirmações repetidas por nós mesmos, como forças desencadeadoras de nossas potencialidades psíquicas, pensando e até dizendo: "eu quero deixar de fumar", "eu não tenho necessidade do fumo", "eu vou deixar de fumar". Assim, vamos fortalecendo a vontade e, ao largarmos o cigarro, devemos fazê-lo de uma só vez, pois não é aconselhável deixar aos poucos. O acompanhamento médico, porém, é recomendado em qualquer caso.

Resistir de todos os modos aos impulsos que naturalmente vão surgir: dessa forma, no decorrer dos dias, a autoconfiança aumenta. Com isso desenvolvemos um treinamento de grande valor com relação ao domínio e ao controle da vontade, conduzindo-a em direção ao aperfeiçoamento interior, trabalho esse do qual sempre nos afastamos, levados por envolvimentos de toda sorte. Nada se conquista sem trabalho. E, vencendo o fumo, capacitamo-nos a superar outros condicionamentos que nos prejudicam igualmente na caminhada ev