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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

ADULTÉRIO E PROSTITUIÇÃO

 Emmanuel

Atire-lhe a primeira pedra aquele que estiver isento de pecado, disse Jesus.
Esta sentença faz da indulgência um dever para nós outros porque ninguém há que não necessite, para si próprio, de indulgência.
Ela nos ensina que não devemos julgar com mais severidade os outros, do que nos julgamos a nós mesmos, nem condenar em outrem aquilo de que nos absolvemos.
Antes de profligarmos a alguém uma falta, vejamos se a mesma censura não nos pode ser feita.
Do item 13, do Cap. X, de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
 
É curioso notar que Jesus, em se tratando de faltas e quedas, nos domínios do espírito, haja escolhido aquela da mulher, em falhas do sexo, para pronunciar a sua inolvidável sentença: "aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra".
Dir-se-ia que no rol das defecções, deserções, fraquezas e delitos do mundo, os problemas afetivos se mostram de tal modo encravados no ser humano que pessoa alguma da Terra haja escapado, no cardume das existências consecutivas, aos chamados "erros do amor".
Penetre cada um de nós os recessos da própria alma, e, se consegue apresentar comportamento irrepreensível, no imediatismo da vida prática, ante os dias que correm, indague-se, com sinceridade, quanto às próprias tendências.
Quem não haja varado transes difíceis, nas áreas do coração, no período da reencarnação em que se encontre, investigue as próprias inclinações e anseios no campo íntimo, e, em sã consciência, verificará que não se acha ausente do emaranhado de conflitos, que remanescem do acervo de lutas sexuais da Humanidade.
Desses embates multimilenares, restam, ainda, por feridas sangrentas no organismo da coletividade, o adultério que, de futuro, será classificado na patologia das doenças da alma, extinguindo-se, por fim, com remédio adequado, e a prostituição que reúne em si homens e mulheres que se entregam às relações sexuais, mediante paga, estabelecendo mercados afetivos.
Qual ocorre aos flagelos da guerra, da pirataria, da violência homicida e da escravidão que acompanham a comunidade terrestre, há milênios, diluindo-se, muito pouco a pouco, o adultério e a prostituição ainda permanecem, na Terra, por instrumentos de prova e expiação, destinados naturalmente a desaparecer, na equação dos direitos do homem e da mulher, que se harmonizarão pelo mesmo peso, na balança do progresso e da vida.
Note-se que o lenocínio de hoje, conquanto situado fora da lei, é o herdeiro dos bordéis autorizados por regulamentação oficial, em muitas regiões, como sucedia notadamente na Grécia e na Roma antigas, em que os estabelecimentos dessa natureza eram constantemente nutridos por levas de jovens mulheres orientais, direta ou indiretamente adquiridas, à feição de alimárias, para misteres de aluguel.
Tantos foram os desvarios dos Espíritos em evolução no Planeta – Espíritos entre os quais muito raros de nós, os companheiros da Terra, não nos achamos incluídos - que decerto Jesus, personalizando na mulher sofredora a família humana, pronunciou a inesquecível sentença, convocando os homens, supostamente puros em matéria de sexualidade, a lançarem sobre a companheira infeliz a primeira pedra.
Evidentemente, o mundo avança para mais elevadas condições de existência.
Fenômenos de transição explodem aqui e ali, comunicando renovação.
E, com semelhantes ocorrências, surge para as nações o problema da educação espiritual, para que a educação do sexo não se faça irrisão com palavras brilhantes mascarando a licenciosidade.
Quando cada criatura for respeitada em seu foro íntimo, para que o amor se consagre por vínculo divino, muito mais de alma para alma que de corpo para corpo, com a dignidade do trabalho e do aperfeiçoamento pessoal luzindo na presença de cada uma, então os conceitos de adultério e prostituição se farão distanciados do cotidiano, de vez que a compreensão apaziguará o coração humano e a chamada desventura afetiva não terá razão de ser.
Psicografia : Francisco Cândido Xavier Livro : Vida e Sexo
 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

MATEUS, 5º, 27 ao 30. Adultério no coração. Extirpação de todos os maus pensamentos


MATEUS: capítulo 5º, versículo 27. Aprendeste que aos antigos fora dito:
Não cometerás adultério. — 28. E eu te digo que quem quer que olhe para uma
mulher, cobiçando-a, já cometeu adultério no seu coração. 29. Se o teu olho
direito te for motivo de escândalo — arranca-o e atira-o longe de ti, porqüanto
melhor te é que pereça um dos membros do teu corpo do que ser todo este
lançado na geena. — 30. Se a tua mão direita te for motivo de escândalo —
corta-a e atira-a longe de ti, porqüanto melhor te é que pereça um dos
membros do teu corpo do que ir todo este para a geena.

São simbólicas as palavras de Jesus, constantes nestes versículos.
Devemos, pois, procurar-lhes o verdadeiro sentido. Elas têm, primeiramente,
uma acepção de ordem geral, porqüanto visam fazer compreensível que os homens
devem abster-se de toda má palavra, de toda ação má e de todos os
maus pensamentos.
Quanto ao dizer que devem ser arrancado o olho e cortada a mão que se
tornem causa de escândalo, bem se vê que também nesse ponto usou Ele de
uma linguagem figurada, composta de imagens materiais, como convinha aos
Espíritos daquela época. Falando a criaturas materiais, só por meio de tais
imagens podia impressioná-las fortemente.
O ensino moral, que delas decorre, é que não basta nos abstenhamos do
mal; que precisamos praticar o bem e que, para isso, mister se faz destruamos
em nós tudo o que possa ser causa de obrarmos mal, seja por atos, seja por
palavras, seja por pensamentos, sem atendermos ao sacrifício que porventura
nos custe a purificação dos nossos sentimentos.
Não se estranhe o dizermos que podemos obrar mal pelo pensamento.
Embora ela não exista perante os homens, porque estes não percebem o que
se passa no íntimo do Espírito, incorre em falta, aos do Senhor, tanto quanto se
praticasse uma ação má, aquele que formula um mau pensamento, porque. o
Senhor, que lê o íntimo dos seres, vê a mácula que na alma produz um pensamento
mau e toda mácula significa que a criatura se afastou do seu Criador.
Daí vem o ser a concupiscência, no dizer de Jesus, equiparada ao
adultério. Para Deus, o Espírito, em quem ela se manifestou, cometeu falta
Idêntica à em que teria caído, se houvera consumado o adultério, mesmo
porque, as mais das vezes, só uma dificuldade material qualquer impede que o
pensamento concupiscente se transforme em ato.

sábado, 18 de agosto de 2012

ATIRE A PRIMEIRA PEDRA -LIVRO : LUZ DO MUNDO-DIVALDO-AMÉLIA RODRIGUES


Apedrejar!

Transcorreram as Festas dos Tabernáculos e as gentes retornavam às cidades, aos povoados, aos campos, às atividades diárias.

Aqueles dias foram de júbilos e exaltação nos quais a alma de Israel se rejuvenescera, tomada do entusiasmo festivoque irrompera em Jerusalém naquela ocasião.

As comemorações evocativas dos dias passados, no deserto, sob tendas, após a saída do Egito, significavam a vitória do povo sobre o estigma do cativeiro e das rudes provações.

Aquela fora uma ceifa dadivosa.
Os peregrinos vinham de toda parte confundir os seres nos sorrisos generalizados e a capital se transformava na Casa de todos.

Naqueles dias de outubro já se conhecia a estranha e poderosa voz do Cantor
Diferente, delimitando as novas fronteiras do Reino de Deus. As multidões esfaimadas ouviam aquela Palavra e se entusiasmavam, acompanhando o singular Peregrino.

A fome de pão se misturava à necessidade da paz, e as massas angustiadas, especialmente naquele período, aguardavam o Messias. Havia sinais comprobatórios
da Sua vinda. Muitos foram, pressurosos, à "Casa da Passagem" para escutar, na vau do Jordão, o Batista. Êle, no entanto, afirmara e todos repetiam: — Eu souapenas o preparador dos caminhos, para Êle passar.. . aquele que segue primeiro, à frente, endireitando a passagem...
E de fato, êle passara deixando um apelo veemente para a consciência dos homens: o do arrependimento de todos os erros, com o conseqüente nascimento do homem novo sobre os escombros do homem velho.

Herodes, ao decapitá-lo, penetrou em funda amargura, no entanto, o povo que lhe conhecia a vida atribulada e a conduta adulterina comentava, mordaz, sobre as consequências do seu crime e os lastimáveis resultados que adviriam no futuro.

A Voz, porém, se fizera mais forte, surpreendentemente, após ti morte de João.
Paralíticos e cegos, leprosos e meretrizes, pescadores e a grande plebe a ouviam...
Homens representativos dentre os doutores e os levitas a escutavam e conquanto se ressentissem das duras verdades que ela enunciava, não conseguiam condições para silenciá-la, reconhecendo-a autêntica.

Expectativas felizes pareciam dominar todo o Israel e os sonhos de liberdade longamente acalentados voltavam a interessar as paixões dos sôfregos corações humanos.

Preconizava um Reino e ensinava onde repousavam as suas primeiras balizas, já
fincadas no solo dos espíritos. Todavia, quando se fitavam os olhos transparentes Daquele que projetava a voz da esperança se identificavam neles a melancolia e a poesia latentes que esparziam em farta messe.

Êle viera a Jerusalém para participar das Festas, conhecer o povo mais intimamente, nas explosões coletivas, nas exaltações generalizadas. Muitos O viram e O escutaram antes, provocando que as notícias da Sua presença comunicasse intensas emoções no povo e nos encarregados da Lei e da Religião.
Onde surgia todos O buscavam. . .
Êle estava próximo à porta Nicanor, do lado leste do Templo, chegando pelo caminho do Monte das Oliveiras, acompanhado dos discípulos.

Narra João, com emotividade e linguagem sucinta :
"Os Escribas e os Fariseus trouxeram uma mulher que fora surpreendida em adultério e a apresentaram dizendo: Mestre, esta mulher foi apanhada em adultério. Moisés manda que se lapidem tais mulheres pelo apedrejamento. Tu, pois, que dizes?" (*)
Êle olhou de relance a mulher ultrajada e se abaixou, sensibilizado, e com o dedo
começou a traçar garatujas no solo. (1)
A interrogação se demorava no ar, sem resposta.

Êle era o Embaixador da Verdade, porém o Príncipe representativo da Paz e do Amor. Moisés significava a aspereza literal da Lei fria e dura. Roma retirara de Israel o direito sobre a vida dos seus filhos. Ninguém, senão o Imperador ou seus Representantes, poderia dispor da vida de qualquer pessoa.

O adultério era condenado pelo Decálogo de forma irreversível. Outras mulheres ali foram trazidas "pela gola dos vestidos" e apedrejadas, até consideradas mortas, noutros tempos...
Sua resposta, de qualquer natureza, criaria dificuldades.

Com as Festas havia nos corações uma cantilena de tolerância e benignidade, uma quase tendência ao perdão por parte do povo. Perdoá-la, no entanto, não seria
conivir com o adultério, oferecendo o estímulo da aceitação tácita do nefasto crime?
— "Tu que dizes?"
Havia ali corações em febre de desejos irreprimíveis, devastadores.

As mulheres caem porque encontram alçapões disfarçados no solo das ansiedades, nos quais são atiradas pela volúpia de homens que as hipnotizam com desejos infrenes.

Atrás de cada organização feminina violada, há um companheiro oculto.
Em cada adúltera se esconde um adúltero, comparsa do mesmo erro. Onde estaria aquele que a infelicitou, explorando a sua fraqueza e a abandonando?

A mulher, não obstante desvalorizada, não representava qualquer significação antes d'Êle. Só depois, quando Êle a ergueu do nada em que se encontrava é que passou a ocupar o devido lugar de rainha e santa no altar do amor dos corações...
— "Tu que dizes?"
Êle não a fitou certamente para poupá-la da transparência da Sua visão.

— "Aquele que dentre vós estiver sem erro, atire-lhe a primeira pedra..."
A frase Lhe fluiu dos lábios lentamente, com segurança, nitidez, serenidade.
Continuou a escrever no chão. "Atire-lhe a primeira pedra." A pedrada!
Mas todos ali estavam mergulhados em erros, laborando em terreno infeliz de preconceitos violados, de legislação desrespeitada, de ultrajes ocultos, de crimes que a consciência temia enfrentar diretamente.
Os que estivessem isentos de erros!.. . Quem estaria nessa condição?
A exuberância da luz solar incide sobre as personagens da cena que marcaria História na História...

"Em silêncio os circunstantes se afastaram, um a um a começar dos mais velhos a terminar pelos mais novos, ficando Jesus e a mulher."
Sim, os mais velhos trazem maior soma de empeços e problemas, remorsos e azedumes.. .
É fácil esmagar e exigir quando não se olha interiormente as paisagens do espírito.
Adúlteras, porque há adúlteros que as malsinam.

O silêncio dominou o local em que se encontravam.
Só então Êle se levantou outra vez.
Fitando-a, agora, com doçura e compreendendo o seu drama íntimo, revisando aqueles dias passados, que foram de dissipações, falou, em melodia de ternura e disciplina:
— "Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? Nem eu tão pouco te condeno: vai e não tornes a pecar!
A autoridade do Rabi penetra o espírito da mulher infeliz e repudiada, e harmoniza o país da sua alma em guerra. Antes do erro quanta indecisão e incerteza, quanta frustração e receio atormentaram aquele ser!

Quanto flagelo interior experimenta todo aquele que se entrega ao erro, ao pecado!
"Não tornes a pecar!"
Todo o Evangelho se assenta nessa base: da compaixão e da misericórdia.
Ter oportunidade nova mas não repetir o erro.
Cair e levantar-se.
Equivocar-se e retificar a atitude.
Nem conivência com a irresponsabilidade nem dureza com a correção.

Todos se podem enganar, no entanto, perseverar no engano é acumpliciamento com a ignorância e a leviandade.
O Reino de Deus, cantado por Jesus, é o amor em todas as latitudes e dimensões a alongar-se pela Terra inteira numa explosão de misericórdia e educação.
"Não tornes a pecar."
"Isento de erro."

Apedrejar a própria consciência, lapidando-a, aprimorando o espírito para galgar maior expressão de paz e ventura.
— ... "Atire a primeira pedra!"
(*) João 8: 1 a 11.
(1) Narram diversos intérpretes deste texto, que escrevendo no chão, o Senhor grafava
a marca moral do erro de cada um, que O observava fazendo que recordasse sua própria
imperfeição. Por exemplo: ladrão, adúltero caluniador...
Notas da autora espiritual.

Encontro de Reparação.



          Encontro de Reparação
          O diálogo, na praça ensolarada, no qual a mulher adúltera foi compreendida por Jesus, tornou-se um esperado escândalo.

          Surpreendentemente, o Mestre não censurou o delito, recomendando a lapidação da equivocada, nem a liberou de responsabilidade, considerando-a inocente.

          Reportou-se, isto sim, à leviandade dos acusadores que se encontravam incursos no mesmo crime.

          Tal atitude havia desconcertado os intrigantes e vingadores gratuitos, que se rebelavam contra a terrível chaga do organismo social, que é o adultério, esquecidos de que, ao lado da caída encontrava-se o comparsa que tombara no mesmo erro.

          Passada a surpresa e debandada a multidão sedenta de sangue, e porque a sós, com a infortunada, o Senhor recomendou-lhe que não voltasse a pecar a fim de que não lhe acontecesse mal pior, conforme era habitual.

          Naquela noite, no entanto, quando o episódio já esmaecia, inclusive, entre os discípulos, a mulher, decidida a imprimir novo rumo à existência, procurou o Amigo Divino, na residência que O acolhia ...

          Demonstrando, no constrangimento que exteriorizava, todo o drama, e sofrimento maceradores, solicitou e conseguiu uma entrevista com Aquele graças a cuja interferência tivera a vida poupada.

          Compreendendo a angústia que a apunhalava, o Senhor ensejou-lhe o início da conversa de edificação, saudando-a com carinho e sem afectação.

          - Rogo perdão - disse ela reticente - por vir perturbar-Vos a paz.

          - A verdadeira paz - retrucou-lhe, calmo - é a que flui do coração aclimatado ao culto do dever, que nada perturba.

          "Fala, tranquila e te ouvirei... "

          - Sinto-me aturdida - ripostou-Lhe em pranto - sem saber que rumo dar à minha existência. Lutei muito antes de tombar... O sedutor rondou-me os passos como lobo voraz, ante a presa invigilante ...

          "Meu esposo, passados os primeiros dias da novidade conjugal, retornou às noitadas alegres, deixando-me em solidão... Enferma da alma e carente de bondade, permiti-me envenenar por tormentos que não merecem compaixão.

          "Com sede de ternura, embriaguei-me de concupiscência e ansiosa pela água pura do amor, chafurdei no lodaçal dos desejos doentios. O resultado foi a tragédia ...

          "Abandonada e sem lar, agora padeço o desprezo e a zombaria geral, não sabendo que rumo seguir, nem como agir.

          "Peço-Vos um roteiro e uma lâmpada acesa de


          esperança, a fim de prosseguir... "

          Jesus penetrou naquela alma, ansiosa e sofrida, nela encontrando as dores da Humanidade através dos tempos e considerou, bondoso:

          - A paciência e a confiança em Deus serão as duas providências iniciais que te facultarão a cura e a renovação da saúde. Cometido o erro, ele passa a pesar na economia social e a sobrecarregar a consciência culpada.

          "Não são de importância o que os outros pensam de nós e a cobrança, pela impiedade, com que .desejam fazer justiça. O problema íntimo é vital, e somente quando o homem se reintegra no concerto da ordem, do bem, é que pode fruir de tranquilidade.

          "Arma-te de humildade e confia no amanhã.

          "A memória do povo é fraca e passa rápida em relação às virtudes do próximo. Todavia, é firme, clara e duradoura de referência às faltas alheias, sempre recordadas com o ácido da acusação e os acepipes da malícia.

          "O exemplo decorrente do arrependimento se transforma na defesa do equivocado, que assim repara perante o Pai, ante si mesmo e a sociedade, o engano perpetrado."

          - Para onde irei, agora? - inquiriu, vencida ..

          - As aves dos céus têm ninho, as serpentes e feras os seus covis, mas o filho do Homem não tem onde se agasalhar, vivendo sob a abóbada estrelada e avançando na direcção do Infinito ...

          "Assim, busca a oportunidade de reparação e adapta-te à situação actual, aguardando o amanhã com a disposição de quem compreende o prejuízo a si mesmo causado, ao arrojar fora o hoje ...

          "A negligência do esposo ingrato e leviano não constitui respaldo para que assumisses compromisso infeliz semelhante. E porque ele é doente também, vivendo num organismo comunitário alienado do amor, não tem condições de distender-te a mão amiga, quando dele necessitas e conforme de ti no futuro igualmente dependerá.

          "A vida é feita de permutas, que facilitam a felicidade para todos, sem cujo concurso faz-se mais difícil.

          "Segue, porém, renovada pela certeza do triunfo, porquanto todo aquele que se levanta da queda, encontra apoio na fé e na luta para firmar-se.

          "O Pai Criador não desampara filho algum e vela, devotado, por todos."

          Fazendo-se um silêncio natural, profundo e tocante, foi a mulher quem o arrebentou, rogando:

          - Permiti-me, seguir-Vos, na minha pequenez, e dai-me a Vossa bênção.

          Jesus envolveu a sofredora em uma onda de ternura ímpar, e, erguendo-a, pois que, comovida, se Lhe prosternara aos pés, concluiu:

          - Vai, filha, e não sofras mais. Aqueles que se arrependem e buscam ensejo de redenção, encontram-no. Há sempre um lugar no rebanho do amor para as ovelhas que retornam e desejam avançar.

          "Onde quer que vás, eu estarei contigo e a luz da verdade, no archote do bem brilhará à frente, clareando o teu caminho."

          No céu silencioso, a sinfonia dos astros espalhava luz cintilante, apontando o futuro.

          *

          Dez anos depois, na cidade de Tiro, uma casa humilde de aspecto e rica de amor, recolhia peregrinos cansados e enfermos sem ninguém.

          Uma mulher, que traía na face desgastada vestígios de grande beleza em decadência, reunia ali os infelizes, limpava-lhes as chagas e falava-lhes de Jesus.

          Tornara-se, por isso, querida e respeitada por todos.

          Num cair de tarde amena, chegou, trazido por mãos piedosas, um homem chagado, em extrema penúria, quase morto sob o fardo de mil vicissitudes.

          Recolhido com carinho, teve as úlceras lavadas e aliviadas com unguentos medicamentosos, recebendo caldo reconfortante das mãos da caridade.

          Quando se recobrou um pouco do desalento que o vitimava, ouviu a mensagem de encorajamento, em nome de Jesus, enunciada com unção e carinho pela desconhecida benfeitora.

          Emocionado, e quase sem vitalidade, indagou interessado:

          - Esse Jesus a quem vos referis é o galileu que foi crucificado em Jerusalém?

          - Sim, é Ele mesmo. Morreu por nós, mas volveu ao nosso convívio para nunca mais deixar-nos.

          - E vós O conhecestes para terdes a certeza de que os Seus ensinos são verdadeiros?

          - Sim, eu O conheci oportunamente, quando a mim Ele salvou-me ...

          - Também eu tive a honra de O conhecer - respondeu o moribundo, quase sem forças - mas não soube beneficiar-me. A vós Ele salvou, mas, eu, egoísta e mau, O detestei, afastando-me da Sua presença, confuso e amargurado.

          - Que vos fez Ele para que fugísseis, magoado?

          - Salvou a minha mulher que adulterara contra mim e não me concedeu uma palavra, sequer, de consolação. Não pude compreendê-lO, então.

          "Abandonei a companheira a quem eu infelicitara com os meus vícios e envenenei-me de dor.

          "Passados os anos e havendo despertado para a verdade, tenho-a buscado em vão por toda parte, até que a doença me devorou o corpo e aqui estou... "

          Embargada pelas emoções em desenfreio, naquele momento, a mulher recordou-se da praça e do diálogo, à noite, com o Mestre, um decénio antes, reconheceu o companheiro do passado e sem dizer-lhe nada, segurou-lhe a mão suavemente e o consolou:

          - O arrependimento do erro, a confiança em Deus e a paciência são os primeiros passos para a reparação de qualquer delito.

          "Deus é amor, e, Jesus, por isso mesmo nunca está longe daqueles que O querem e buscam.

          "Agora durma em paz enquanto eu velo, porquanto, nós ambos já O encontramos ... "


          
Pelos caminhos de Jesus -  Divaldo Pereira Franco – Amélia Rodrigues

A mulher equivocada

A mulher equivocada

Matéria publicada no Jornal Mundo Espírita - fevereiro/2004

Seu nome não é citado nos Evangelhos, nem as tradições apostólicas o registraram de alguma forma que alcançasse os nossos dias.

O evangelista João é o único a narrar seu encontro com Jesus, no capítulo 8 do seu Evangelho, nos versículos 2 a 11, portanto, deve ter sido testemunha ocular.

As folhas do outono juncavam o chão. Terminadas estavam as festividades dos Tabernáculos, ou Festa das Tendas, considerada pelo povo de Israel a mais espetacular de todas as festas.

Para a celebrar, cada família devia construir nos arredores de Jerusalém uma cabana de folhagens, na qual residiria por uma semana. As cabanas deviam relembrar aos filhos de Israel que Iavé os fizera morar nelas, quando saíram do Egito e peregrinavam pelo deserto. Dos rituais, fazia parte toda manhã, uma procissão de sacerdotes que descia o monte Moriá até a fonte de Siloé, acompanhada pelo povo, que levava palmas, ao som do shofar (longo chifre de carneiro que serve de trombeta).

Colhida a água em vaso de ouro, tornava a multidão a subir a colina do templo, onde os sacerdotes derramavam o líquido, misturado com vinho, no altar dos holocaustos.

Jesus viera a Jerusalém para participar da Festa e permanecera, concluídas as festividades, pregando. Naquele dia, "Ele estava próximo à porta Nicanor, do lado leste do Templo, chegando pelo caminho do Monte das Oliveiras, acompanhado dos discípulos." (1)

Então, um grupo de fariseus, em meio a um grande alvoroço, lhe trouxe uma jovem mulher, aparentemente apanhada em flagrante adultério.

Diga-se que, entre o povo de Israel, a definição de adultério não era a mesma para o homem e a mulher. O homem somente era acusado de adultério se tivesse relações com uma mulher casada ou noiva, porque, entendia-se, agredia outro homem. A mulher, adulterando, agredia o matrimônio.

Suspeita de adultério, era submetida à prova da água amarga. Devia beber uma monstruosa bebida à base de pó apanhado no Templo. Se vomitasse ou ficasse doente, era considerada culpada. Surpreendida em flagrante, a pena era a morte, que igualmente era aplicada à mulher que fosse violada dentro dos muros da cidade, pois supunha a Lei que, dentro da cidade, se ela tivesse gritado por socorro, teria sido ouvida e socorrida.

Os fariseus submetem a adúltera ao julgamento de Jesus. Em verdade, embora tivessem olhos de lince para todas as faltas do próximo, a questão daquela hora visava muito mais aproveitar o incidente para armar uma cilada ao Profeta de Nazaré do que zelar pela pureza do matrimônio.

Eles a jogaram no chão e ela ali ficou, sem coragem sequer de erguer os olhos. Sabia que delinqüira e conhecia a penalidade. Sabia, igualmente, que ninguém dela se apiedaria. Ninguém, senão Ele.

Enquanto a indagação dos fariseus aguarda uma resposta do Rabi, sobre a pecadora, Ele se inclinou e traçou na areia do pavimento caracteres misteriosos.

Que escreveria Ele? O nome do cúmplice que se evadira? O nome do marido que, ferido no orgulho, permitia fosse sua esposa tão vilmente tratada?

Narram diversos intérpretes do texto evangélico, que Ele grafava a marca moral do erro de cada um. Curiosos, os que ali esperavam a sentença de morte, para se extasiarem no espetáculo de sangue e impiedade, podiam ler: ladrão, adúltero, caluniador... Em síntese, as suas próprias mazelas morais.

Crescia a expectativa. Jesus se ergueu, percorreu o olhar perscrutador pela turbamulta dos acusados, que sentiu atingir-lhes a intimidade, e disse tranqüilamente:

"Aquele dentre vós que estiver sem erro, atire-lhe a primeira pedra."

Em silêncio, os circunstantes se afastaram, um a um, a começar pelos mais velhos. "Sim, os mais velhos trazem maior soma de empeços e problemas, remorsos e azedumes..." (1)

No meio da indecisão geral, Jesus tornou a traçar na areia sinais enigmáticos. Quando o silêncio se fez, Ele se levantou. Ali estava a mulher à espera do seu castigo. Se todos os demais haviam partido, ela devia esperar da parte dEle a sentença e a execução. O Divino Pastor considerou a fragilidade do ser humano e, compadecido com suas misérias morais, lhe disse: "Mulher, onde estão aqueles que te acusavam? Ninguém te condenou?"

"Ninguém, Senhor" - ousou responder à meia-voz. Então, em vez do sibilar mortífero das pedras, ela ouviu as palavras do perdão e da vida: "Nem eu tão pouco te condeno: vai e não tornes a pecar!"

As anotações evangélicas se resumem ao episódio. Contudo, o espírito Amélia Rodrigues nos conta que, naquela noite, a equivocada procurou o Mestre, na residência que O acolhia.

Falou da fraqueza que a dominara, nos dias da mocidade, sentindo-se sozinha. O esposo, poucos dias após o matrimônio, retomara as noitadas alegres e despreocupadas junto dos amigos. Ela se sentira carente e cedera ao cerco do sedutor, que a brindava com atenção e pequenos mimos.

Nada que a desculpasse, reconhecia. E agora, consumada a tragédia, para onde iria? O esposo não a receberia, após o espetáculo público. Também não poderia contar com a proteção paterna, porque fora levada à execração pública, não simplesmente recebendo uma carta de repúdio, o que poderia servir até como indenização ao seu pai, pois o marido que assim procedesse deveria devolver uma parte do dote da noiva ao sogro.

Não havia lugar para ela em Jerusalém.Que seria dela, só e desprotegida?

O Mestre lhe acenou com horizontes de renovação, discorrendo sobre a memória do povo que é duradoura para com as faltas alheias. Ela sentiu, nas entrelinhas, que deveria buscar outras paragens, lugares onde não a conhecessem, nem o drama que acabara de viver.

Na despedida, Jesus a confortou: "...Há sempre um lugar no rebanho do amor para as ovelhas que retornam e desejam avançar. Onde quer que vás, eu estarei contigo e a luz da verdade, no archote do bem brilhará à frente, clareando o teu caminho."

Dez anos passados e ei-la, em Tiro, em casa humilde, onde recebe peregrinos cansados e enfermos sem ninguém. Um pouso de amor ela erguera ali.

Não esquecera jamais daquele entardecer e da entrevista noturna. Tornara-se uma divulgadora da Boa Nova. De seus lábios brotavam espontâneas as referências ao Doce Rabi, alentando as almas, enquanto limpava as chagas dos corpos doentes.

Foi em um cair de tarde que lhe trouxeram um homem quase morto. Ela o lavou e pensou-lhe as chagas. Deu-lhe caldo reconfortante e tão logo o percebeu aliviado das dores, lhe ofereceu a mensagem de encorajamento, em nome de Jesus.

Emocionado, confessa ele que conhecera o Galileu, num infausto dia, em Jerusalém. Odiara-O, então, porque Ele salvara a mulher que adulterara, a sua esposa, mas não tivera para com ele, o ofendido, nenhuma palavra.

O tempo lhe faria meditar em como se equivocara em seu julgamento. Confessa que, desde algum tempo, vinha buscando a companheira, procurando-a em muitos lugares, sem êxito. Até que a doença lhe visitara o corpo, consumindo-lhe as energias.

"Embargada pelas emoções em desenfreio, naquele momento, a mulher recordou-se da praça e do diálogo, à noite, com o Mestre, um decênio antes, reconheceu o companheiro do passado e sem dizer-lhe nada, segurou-lhe a mão suavemente e o consolou: '...Deus é amor, e, Jesus, por isso mesmo nunca está longe daqueles que O querem e buscam. Agora durma em paz enquanto eu velo, porquanto, nós ambos já O encontramos..." (2)

Bibliografia:
01.FRANCO, Divaldo Pereira. Atire a primeira pedra. In:___. Luz do mundo. Pelo espírito Amélia Rodrigues. Salvador: LEAL, 1971. cap. 13.
02.______. Encontro de reparação. In:___. Pelos caminhos de Jesus. Pelo espírito Amélia Rodrigues. Salvador: LEAL, 1988. cap. 15.
03.______. A consciência de culpa. In:___. Trigo de Deus. Pelo espírito Amélia Rodrigues. Salvador: LEAL, 1993. cap. 13.
04.ROHDEN, Huberto. A adúltera. In:___. Jesus nazareno. 6. ed. São Paulo: UNIÃO CULTURAL. v. 2, cap. 92.
05.ROPS, Daniel. Família, "Meus ossos e minha carne". In:___. A vida cotidiana na Palestina no tempo de Jesus. Livros do Brasil. pt. 2, cap. 2, item VII.
06. SAULNIER, Christiane e ROLLAND, Bernard. As instituições religiosas. In:___. A Palestina no tempo de Jesus. 2. ed. São Paulo: PAULINAS, 1983. item As festas.
07.VAN DER OSTEN, A . Adultério. In:___. Dicionário enciclo-pédico da bíblia. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1985.

JESUS e três motivadores psicológicos ::.

:: JESUS e três motivadores psicológicos ::.
     Estudo por: Adilton Pugliese
     IN : Revista "Reformador" Maio 2005 - nº.2114 - Ed.FEB (págs.19 e 20)
 
No Evangelho segundo o Espiritismo, mantendo diálogo com um Espírito que se identifica como São Luís (Luís IX, Rei de Fraça - 1214-1270); Allan Kardec faz três perguntas que podem ser resumidas numa única questão: (1)
"- É permitido repreender os outros, notar as imperfeições de outrem, divulgar o mal de outrem?"
O Espírito São Luís destaca algumas condições:
(1) podemos fazê-lo com moderação, tudo depende da intenção;
(2) com um fim útil, como uma caridade, mas com todo o cuidado, sem prazer de denegrir, o que seria uma maldade. Ele sugere que a censura que alguém faça a outrem deve dirigi-la a si próprio. Isso nos lembra a imagem da atitude do dedo indicador em riste, apontando, acusando, mas enquanto um dedo acusa quatro apontam para o acusador.

Interpretando e trazendo para a actualidade esses ensinamentos, o Espírito Joanna de Ângelis tece comentários em torno da nossa atitude quando alguém está sendo acusado. O que devemos fazer? Qual deverá ser a nossa posição? E se formos nós os acusados?
Recomenda a Benfeitora mantermo-nos em silêncio, porquanto os acontecimentos podem ter antecedentes que são ignorados pelos que acusam e observam e que nem sempre as coisas são como se apresentam. Destaca, por fim, que quem está sendo acusado merece comiseração e oportunidade de reeducação. (2)
Ao refletirmos em torno dessas orientações fizemos uma conexão com três motivadores psicológicos que podem influenciar nas atitudes de acusados e acusadores :
(1) a auto-estima, que pode apresentar-se em nível alto, médio ou baixo, e que pode ser o reflexo de antecedentes desta ou de outras vidas;
(2) a afectividade, expressando, sentimento de compaixão ou de piedade; e
(3) a empatia, sugerindo colocar-se psicológica e emocionalmente no lugar do acusado, ensejando a sua reeducação.


Abraham Maslow (1908-1970) (3) , um dos teóricos da terceira-força em Psicologia, que é a Psicologia Humanista, após o Behaviorismo e a Psicanálise, viu no atendimento das necessidades do Ego - destacando a auto-estima e a afectividade - motivadores psicológicos que fortaleceriam o ser humano nos confrontos que mantêm, periodicamente, com os desafios existenciais, motivadores esses que, juntamente com a empatia, são trabalhados pelos chamados terapeutas da auto-ajuda.
Esses motivadores, embora utilizados como técnicas modernas dentro de uma visão holística do ser humano, ou numa visão transpessoal , que identifica o homem com uma alma preexistente ao nascimento e sobrevivente à morte, têm suas raízes na época do Cristianismo primitivo.
JESUS os praticou e estimulou numa comovedora aula em praça pública.

O relato é feito pelo evangelista João (8:3-11), que certamente presenciou o episódio, em Jerusalém, quando Jesus retornava ao Templo, para ensinar, acompanhado de enorme multidão.
Aproxima-se, então, um grupo de escribas e fariseus, apresentando-lhe uma mulher apanhada em adultério.
Pondo-a no meio do povo disseram-lhe:
- Mestre, esta mulher acaba de ser surpreendida em flagrante adultério. Moisés nos ordena na Lei que as adúlteras sejam apedrejadas.
Qual, sobre isso, a Tua opinião? E Tu, que dizes?
Era uma Lei antiga, prevista em livros de Moisés, no Deuteronómio (22:22) e no Levítico (20:10), tradição, porém, arcaica e em desuso naquele tempo, sobretudo porque o Decálogo já previa "não matarás" e a condenação desse delito era simbólica, considerando que desde o domínio romano a pena de morte fora retirada do Sinédrio e reservada ao Procurador de Roma. (4)


         "De nada adianta apedrejar o corpo e sim apedrejar a consciência"
Imaginemos a cena em praça pública: a multidão enfurecida, provocada pelos fariseus, assumindo o papel dos jurados, a expressar decisão antecipada; a mulher, acuada e sendo acusada, na posição de ré, aguardando veredicto e sentença; e Jesus, feito ali, pelos que a acusavam, advogado e juiz.

Em todos os tempos o Mestre sempre é chamado para defender os fracos e em diversas ocasiões coloca-se ao lado das mulheres, socorrendo-as, defendendo-as e, sobretudo, através delas exemplifica a necessidade do exercício da misericórdia, como observamos nos relatos que envolveram a mulher hemorroíssa, a mulher encurvada, a viúva de Naim, a mulher cananéia, a samaritana, Salomé mãe dos filhos de Zebedeu, Maria Madalena, Marta e Maria, a pecadora citada por Lucas e a mulher de Betânia, aquela que envolveu a cabeça de Jesus com perfume caro e puríssimo, tendo sido o seu acto questionado pelos discípulos, levando o Mestre a declarar que "onde quer que venha a ser proclamado o Evangelho o que ela fez jamais será esquecido." (Mateus, 26: 6-13).

- Tu, pois, que dizes? Insistia a multidão dos acusadores.

Era aquele um momento histórico do Cristo. Era, em verdade, uma cilada. Desafiando-O, promovendo-O a advogado de defesa e de acusação e simultaneamente a juiz, queriam a Sua perdição. Para a multidão pouco importava a mulher. A expectativa de todos era em torno da decisão que Ele tomaria. Como reagiria ao desafio? Se desculpar a mulher estará transgredindo a Lei de Moisés; se confirmar a sentença, Sua misericórdia, que intensamente prega, será colocada em dúvida.

Nesse instante , o silêncio do Cristo, que escrevia no chão com o dedo, segundo o Evangelista que testemunhou o facto, é por Ele quebrado, quando ao erguer-se, pronuncia a sentença:

" - Aquele que dentre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra."

A multidão fica em choque. Não esperava por isso. Era um conjunto de seres-instinto , comandados pelas sensações. Egocêntricos e violentos, haviam desafiado o homem-razão, que no dizer do Espírito Manoel Philomeno de Miranda são homens que
"pensam com calma nas circunstâncias mais graves, desenvolvendo o sentimento do altruísmo". (5) Ao pronunciar a sentença inesquecível o objectivo do Mestre é terapeutico e pedagógico: busca desenvolver nos acusadores a postura da empatia , de se colocarem no lugar daquela mulher, compreendendo as suas lutas e estimulando-os a serem empáticos , embora tenham preferido ser egocêntricos. Assim, os fariseus e seus liderados, desafiados agora pelo Cristo, que lhes submete a Lei de todos os tempos, de todos os mundos, a Lei das Causas e dos Efeitos, retiram-se vencidos.

Dirige-se, então, à mulher:
" - Onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou? Nem Eu tão pouco te condenarei.
Vai, e não peques mais."


É toda a expressão da afectividade . O Mestre não a condena. Orienta, conversa, interage, respeita a situação difícil daquela mulher, preocupando-se com ela. Sabe que está sujeita aos mecanismos da Lei Divina e que "de nada adianta apedrejar o corpo e sim apedrejar a consciência, lapidando-a através de acções renovadoras".

O Espírito Amélia Rodrigues, através do médium Divaldo Franco (6) , narra que naquele mesmo dia, à noite, Jesus teria o Encontro da Reparação com aquela mulher, quando se estabelece um diálogo motivador, e o Mestre busca elevar a sua auto-estima, afectada pelo acontecimento que poderia destruir a sua vida, comprometendo a oportunidade reencarnatória. A misericórdia do Cristo, através da aplicação da empatia, da afectividade e da auto-estima, motivaria aquela alma sofrida a vivenciar uma existência renovada, agora nas directrizes do amor e da caridade.



(1) - KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo.
       117 ed.FEB, cap.X, item 19, p.180.

(2) - FRANCO, Divaldo. Vida Feliz
       pelo Espírito Joanna de Ângelis. 12.ed. LEAL, p.53.

(3) - MASLOW, Abraham H. Uma Teoria da Motivação Humana
       O Comportamento Humano na Empresa.
       BALCÃO, Yolanda Ferreira.
       CORDEIRO, Laerte Leite. 2.ed. FGV, p.337.



(4) - PASTORINO, C. Torres. Sabedoria do Evangelho.
       Ed. Sabedoria, 1977, volume 5, p.71.

(5) - FRANCO, Divaldo P. Loucura e Obsessão
       pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. 7.ed. LEAL,
       p.241.

(5) - Franco, Divaldo C. Pelos Caminhos de Jesus
       pelo Espírito Amélia Rodrigues. 1.ed. LEAL, p.131.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O pecado e a atitude pecaminosa


"Tendes ouvido o que foi dito: Não adulterareis. Eu, porém, vos digo que todo o que põeseus olhos em uma mulher, para a cobiçar, já no seu coração cometeu adultério... E'necessário que haja escândalos, mas ai do homem por quem o escândalo vem."A atitude pecaminosa e o pecado consumado são igualmente passíveis de condenaçãopela soberana justiça do céu.Há capacidade para o mal, como há para o bem. O estado pecaminoso está incurso na leidivina, ainda mesmo que, por esta ou aquela circunstância, não se objetive o pecado.A justiça da Terra julga pelas aparências. A do céu julga segundo a reta equidade. Parao julgamento do mundo é mister que o mal se concretize para que exista e sejacondenado. Para o juízo divino, que penetra o âmago dos corações, não é istonecessário: ele constata o mal latente e o exprobra desde logo.E assim se explicam as palavras de Jesus: E' preciso que haja escândalo; mas aidaquele por quem vem o escândalo. Sim, é preciso que a maldade humana, oculta nospélagos insondáveis do Espírito, se manifeste, se mostre à luz do dia para que odelinqüente se reconheça como tal, e, suportando as conseqüências dolorosas do delito, secorrija e se converta. Enquanto a sujidade permanece escondida, o homem se julga puro;quando, porém, extravasa a lama pútrida que jazia acamada no fundo de sua alma, eledesperta para a realidade e se reconhece pecador. E' o que sucedeu com oMancebo, cuja paixão pelas riquezas mundanas Jesus tornou patente.Sendo a confissão da culpa o início da redenção, é preciso que haja escândalo, vistocomo o homem só se curva à evidência dos seus pecados quando estes se tornamostensivos, não lhe sendo mais possível dissimulá-los.Que importa que o adultério não se haja consumado, se ele existe no coração? Que importaque o homem mau não haja tirado a vida a ninguém, se ele é homicida de pensamento,se alimenta ódio contra seu próximo e se regozija com as alheias desventuras ?Quem diria que Judas seria capaz de vender a Jesus-Cristo por trinta dinheiros, senãoo mesmo Jesus, que sabia existir na alma cúpida daquele discípulo a avareza, a sedeinsaciável de ouro que, no dizer de Paulo, é a raiz de todos os males? Nesse caso,dir-se-á: porque, então, Jesus chamou Judas para o apostolado? Justamente porqueera preciso que o escândalo se verificasse, já em proveito da missão que Jesus vinhadesempenhar na Terra, já no do próprio Judas, cuja redenção teve início precisamenteapós a prática daquele crime de traição. O tremendo remorso de que se viu possuído éo atestado certo do despertar de sua consciência até ali mergulhada na embriaguez debastardas paixões.Noutro terreno menos grave, vemos Pedro, o apóstolo arrojado, cujo temperamentoardoroso tão bem se prestava a transmitir as mensagens do céu, negar três vezes o seuMestre, a despeito mesmo de haver sido por ele prevenido dessa prova pela qual deviapassar. A negação de Pedro foi, a seu turno, um escândalo; mas, era preciso  que assim sucedesse para que Pedro se acautelasse contra uma ralha de seu bondoso caráter.Jesus estava certo de que Pedro podia negá-lo; porem Pedro, a parte mais interessadano caso, ignorava que de tal fosse capaz. Após a consumação do ato pecaminoso, ficou-seconhecendo melhor; e, como é sabido, do conhecimento próprio depende a obra de nossoaperfeiçoamento. Pedro, no conceito de Jesus, era o mesmo, antes e depois da negação. Estafalta, ou melhor, a capacidade de praticar ou incorrer em tal gênero de pecado, já Jesus haviadescortinado no interior daquele apóstolo.De todos estes comentos ressalta grande e proveitosíssima lição de humildade, que convém assi-nalar. Do exposto, é forçoso concluir que existe em todos nós grandes falhas de caráter,muitas e variadas capacidades de pecar. Esta convicção, do que em realidade somos, há de nostornar mais benevolentes, menos descaridosos para com as quedas alheias. Veremos com olhosmais complacentes as vitimas do crime; e, — como os acusadores da mulher adúltera, aos quaisJesus forçou reconhecer as culpas próprias — não nos sentiremos com ânimo de atirar-lhes aprimeira pedra.

Livro: Em torno do Mestre- Vinícius