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quarta-feira, 21 de abril de 2021
TIRADENTES DIALOGA COM IRMÃO X SOBRE A INCONFIDÊNCIA MINEIRA.
sábado, 30 de janeiro de 2021
DOIS COMPANHEIROS - "Os que administram são mordomos, os que obedecem são operários, mas, no coração augusto de Nosso Pai, estamos inscritos indistintamente na categoria de cooperadores de suas obras."
Leonel
e Benjamim, dois velhos amigos do Plano espiritual, mutuamente associados no
erro e na reparação, depois de minucioso exame do passado, decidiram-se a pedir
concessão de novas experiências no mundo. Esposando opiniões diversas entre si,
buscaram o orientador, ansiosos da necessária permissão para pronto regresso à
luta humana.
Após
anotar-lhes as observações, sorriu o mentor amigo e obtemperou:
— É oportuna a solicitação:
Vocês necessitam intensificar o aprendizado, iluminar o entendimento, adquirir
sabedoria. Escolheram ambos o mesmo gênero de provas?
Levantou-se
Leonel, explicando:
— Estamos acordes no pedido,
mas, não temos a mesma preferência no capítulo das tarefas. Por minha parte,
desejaria a oportunidade de movimentar patrimônios terrestres, nos círculos da
fortuna e da autoridade…
Antes
que ele terminasse, Benjamim embargou-lhe a palavra e esclareceu:
— Cá por mim, escolhi a
condição de pobreza e sofrimento. Pediria, se possível, a supressão de toda
possibilidade de contentamento na Terra. Encareço problemas de penúria e
dificuldades, a fim de valorizar o que hei recebido da Providência.
Estampando
no semblante o sorriso sereno da sabedoria, o generoso orientador considerou:
— Não posso interferir na
liberdade de ambos. Conhecem vocês a extensão dos débitos contraídos. De algum
tempo, sou testemunha da luta enorme em que se empenharam para o resgate.
Fizeram jus, por isto, a novo ensejo de trabalho e elevação. Devo ponderar,
todavia, que, embora divergentes na escolha, ainda não poderão afastar-se um do
outro, na próxima experiência de redenção. Partilha, no
erro, determina partilha de responsabilidades e consequências. Ser-lhes-ão
abertas as portas do serviço santificador. Não se desunam, pois; nos caminhos
da purificação, jamais desprezem a possibilidade de aprender. Fortuna e pobreza
são bancas de provas na escola das experiências terrestres. São continentes da
probabilidade. Ambos oferecem horizontes largos e divinas realizações. Que
saibam receber as bênçãos de Deus, são os meus votos.
Leonel
e Benjamim ouviram os conceitos judiciosos, renovaram promessas e partiram mais
tarde. Atendendo a própria escolha, nasceu o primeiro na casa farta de rico
proprietário rural, que lhe fora muito amado noutras existências. Daí a dias,
velha serva da casa rica era igualmente mãe, fornecendo ao segundo o ensejo de
realizar os planos traçados.
Enquanto
houve paisagens risonhas de infância, ambos os companheiros, tão unidos pelo
coração e tão distantes pelo nascimento, viveram no róseo céu da harmonia; mas,
quando Leonel começou a sorver o conteúdo dos livros propriamente do mundo,
verificaram-se os primeiros sinais de incompreensão. Cada vez que o jovem
bem-nascido regressava ao círculo doméstico em gozo de férias escolares, assinalava-se
maior distância entre ele e o camarada da meninice. Quando o anel de grau lhe
brilhou nos dedos, estava consumada a separação. Passando a administrar
interesses da família nos estabelecimentos do campo e da cidade, era ele o
chefe, enquanto Benjamim se classificava no extenso quadro dos servidores.
Nessa
zona de testemunho ativo, entenderam que deviam proceder como estranhos,
absolutamente separados entre si. No fundo, admiravam-se e amavam-se
reciprocamente; contudo, as ilusões terrestres os encegueciam.
Se
Leonel se mostrava mais enérgico, atento às responsabilidades de administrador,
desfazia-se Benjamim em críticas acerbas e gratuitas, levado pelo despeito. Se
Benjamim aumentava, involuntariamente, a lista de necessidades pessoais,
multiplicava Leonel o rigor, levado pelo autoritarismo.
A
certa altura da experiência, não mais se saudaram um ao outro. Atritaram-se,
trocaram acusações mútuas. O servo abandonou o trabalho diversas vezes,
desejoso de experimentar a sorte em regiões diferentes; todavia, incapaz de
iludir o espírito da Lei, voltava sempre, implorando readmissão. Leonel, por
sua vez, renovava a concessão de serviço, embora com agravo crescente de
exaspero e tirania recíprocos. Se o empregado solicitava melhoria de salário, o
patrão restringia a remuneração e os benefícios.
Embriagado
na visão de lucros fabulosos, Leonel pusera a mente no egoísmo total.
Desvairado de inconformação, Benjamim concentrava-se na rebeldia, daí
resultando aumento intensivo de vaidade, orgulho, presunção, ciúme, despeito e
indisciplina no coração de ambos.
A
Providência Divina, que jamais deixou criaturas em abandono, enviou-lhes
socorro através da assistência religiosa. Mas o patrão, afeiçoado ao
Catolicismo Romano, inclinava toda leitura edificante a favor da própria causa,
valia-se dos conselhos do sacerdote amigo que o assistia, para justificar os
erros e o seu feitio egoístico. Obcecavam-no o apego ao dinheiro e a ideia de
lucros fáceis. Quanto ao empregado, tornara-se espiritista convicto, porém,
cegavam-no a inconformação e a revolta. Qualquer advertência dos instrutores
espirituais era interpretada ao inverso. Se o amigo
do outro lado da vida aludia à paciência, não enxergava ele a informação
própria e sim o defeito alheio, ou a insuficiência dos outros. Se ouvia
dissertações sobre a caridade, lembrava os afortunados do mundo, com ironia.
Benjamim era, afinal, desses enfermos que consideram o remédio excelente para
outrem, mas, nunca para si mesmos. Enquanto Leonel se valia das consolações da
Igreja Católica para consolidar tradições autocráticas, Benjamim esquecia as
lições do Espiritismo, para armazenar indisciplinas e difundir desesperações.
Absolutamente
envenenados de teorias mentirosas, terminaram ambos a experiência humana, na
posição de inimigos irreconciliáveis.
Despertando
na vida real, sentiam-se estranhamente algemados um ao outro. Cercavam-nos
sombras espessas e tristes; e como se houvessem enlouquecido, perdendo a luz da
memória, somente a custo de muitos anos conseguiram fixar recordações das existências
obscuras.
Quando
a lembrança lhes felicitou o espírito abatido, compreenderam a situação,
desolados, e puseram-se à procura daquele mentor generoso que lhes havia
banhado o coração de sábios conselhos.
Depois
de longo tempo, que lhes marcou angústias dilacerantes, foram readmitidos à
presença do carinhoso orientador, que, ante as lágrimas de ambos, exclamou
serenamente:
— Não estranho a dor que lhes
fere o espírito enfermo, à face do tempo perdido e do ensejo malbaratado. Não
lhes faltou inspiração divina para o êxito necessário. Entretanto, esqueceram,
mais uma vez, a lei do uso, internando-se no abuso criminoso, olvidando que
pobreza e fortuna constituem oportunidades do serviço divino na Terra. Os que administram são mordomos, os que obedecem são operários,
mas, no coração augusto de Nosso Pai, estamos inscritos indistintamente na
categoria de cooperadores de suas obras. Se era justo obter moderação,
paciência, confiança, fé e resistência sublime com os valores da pobreza, e
ganhar humildade, ponderação, entendimento, autodomínio, bondade e paz com os
valores da riqueza, adquiriram vocês desesperação, rebeldia, vaidade e
ruína. Não posso asseverar que voltaram piores que no
passado escabroso, porque ninguém regride na evolução perpétua da vida; mas
posso afiançar que voltaram mais sujos. A crise de ambos é de estacionamento
complicado. Enquanto outros irmãos nossos costumam deter a marcha em jardins ou
florestas, preferiram vocês a parada em lamaçal inconcebível. Valeram-se das
sagradas posições de administrar e obedecer, tão só no propósito de oprimir e
menosprezar. Esqueceram que todo trabalho honesto, no mundo, é título da
Confiança Divina. Não observo qualquer traço de
superioridade moral entre um e outro. Ambos faliram desastradamente. É a dolorosa
experiência dos que prometem sem saberem cumprir, é o fracasso do aprendiz pelo
descuido próprio. Não vos declarei que pobreza e riqueza são continentes da
probabilidade? Cultivaram, porém, a terra das concessões benditas, enchendo-a
de ervas venenosas e povoando-a de monstros e fantasmas. Mascararam-se a si
mesmos e caíram no pântano. Que posso fazer, agora, senão lamentar a
imprevidência?
Ambos
os companheiros de infortúnio ouviam-no em pranto.
Reunindo todo o cabedal de
energias próprias, Leonel adquiriu coragem e interrogou:
— Não poderíamos, entretanto,
recomeçar juntos a prova da fortuna e da pobreza? Estou convencido de que
venceremos agora.
— Sim — respondeu o instrutor
sabiamente —, a medida é possível. No entanto, segundo observei, vocês regressaram
enlameados. A oportunidade desejável, por enquanto, é a de se lavares
convenientemente, a fim de prosseguir caminho.
Calou-se
o mentor amigo. Leonel e Benjamim entenderam sem dificuldade. E depois de algum
tempo renasciam na Terra, procurando o tanque fundo e vasto do sofrimento.
Reportagens do Além Túmulo