Donde vieram esses homens, novos no meio dos homens? A Terra não lhes deu nascimento, porque eles nasceram antes de ela ser fecunda.[...]A sua cabeça é de ouro, as suas mãos de ferro e os seus pés de barro.[...]A geração proscrita traz na fronte o selo da sentença, mas também tem o da promessa no coração.Tinham pecado por sabedoria e orgulho, e o seu entendimento obscureceu-se.Passarão os anos e os séculos, e o entendimento estará nas trevas e as trevas no entendimento.Foi o entendimento quem pecou; as trevas são o seu castigo; não há outro[...]Eles serão considerados, não como peregrinos, mas como habitantes; é a sua justa sentença
VIII
Donde vieram esses homens, novos no meio dos homens? A Terra não lhes deu nascimento, porque eles nasceram antes de ela ser fecunda.
A Humanidade não se transforma num dia, mas no decurso de séculos e séculos.
No meio dos homens antigos da Terra descubro homens novos, meninos, mulheres e varões robustos; donde vieram esses homens que nasceram antes da fecundidade da Terra?
Em cima e ao redor da Terra, rodopiam os céus e os infernos com sementes de gerações e de luz.
O vento sopra para onde o impulsa a mão que criou a sua força, e o Espírito vai para onde o chama o cumprimento da lei.
Os homens novos que descubro entre os homens antigos da Terra, e que nasceram antes de esta ser fecundada, vêm a ela em cumprimento de uma lei e de uma sentença.
Eles vêm de cima, pois vêm envoltos em luz, e a sua luz é um farol para os que moravam nas trevas da Terra.
Se, porém, seus olhos e suas frontes desprendem luz, nos semblantes eles trazem o estigma da maldição. É a reprovação das suas consciências.
São árvores de pomposa folhagem, mas privadas de frutos, arrancadas e lançadas fora do paraíso, onde a misericórdia as havia colocado, e donde as desterrou por algum tempo.
A sua cabeça é de ouro, as suas mãos de ferro e os seus pés de barro.
Conheceram o bem, praticaram a violência e viveram para a carne.
Os que, entre eles, se aproveitaram da luz e praticaram a justiça, viram o ferro das suas mãos e o barro dos seus pés transformar-se em ouro, como o de suas cabeças, e ficaram residindo no paraíso até à sua elevação. Para os outros, a misericórdia foi justiça, e seu pecada acompanhou-os em maldição perpétua, até ao renascimento.
Eles tinham a luz, e desprezaram-na — e, em vez dela, surgiram o orgulho e o desejo de oprimir os bons.
Moisés viu a sua luz e disse: São anjos decaídos; viu-os feitos de barro e disse: São homens — Adão e Eva; e fê-los serem expulsos do paraíso pela tentação dos anjos decaídos.
Vós perguntais: Como se pode retrogradar no caminho da felicidade e da perfeição. Poderemos deste modo ir viver um dia na morada da ventura? Somos fracos, e o temor e o desânimo se apossam de nós.Recuperai a paz; eu, João, vo-lo digo: descansai no seio da sabedoria e da misericórdia do Pai, como descansei a minha cabeça no regaço e no amor do Filho, Jesus Cristo.
Na perfeição nunca se retrocede; o Espírito é sempre atraído para o centro da perfeição, que é Deus. Os homens de Adão, ao virem para a Terra, não perderam um só átomo do aperfeiçoamento adquirido.
Eles tinham sido elevados ao paraíso pela misericórdia divina e não pelos seus merecimentos, porque as felicidades são também provas, assim como os sofrimentos e as misérias.
Muitos saíram bem na prova e mostraram que era justiça o que tinha sido misericórdia; estes herdaram o paraíso até que aí fossem elevados, porque a felicidade da justiça se perpetua de tempos a tempos e de geração a geração.
Outros abusaram dos dons da misericórdia, e as suas obras clamaram justiça; e o peso dessas obras na balança da justiça fê-los descer a Terra, até ao renascimento.
Mas a misericórdia de Deus os segue sempre de século em século, de geração em geração.
A geração proscrita traz na fronte o selo da sentença, mas também tem o da promessa no coração.
Tinham pecado por sabedoria e orgulho, e o seu entendimento obscureceu-se.
Passarão os anos e os séculos, e o entendimento estará nas trevas e as trevas no entendimento.Foi o entendimento quem pecou; as trevas são o seu castigo; não há outro.
A obscuridade foi à sentença do entendimento ensoberbado — a luz, a promessa da misericórdia que subsiste e subsistirá.
E essa luz deve iluminar a todos os homens que vêm ao mundo para cumprir uma sentença.
A uns com o sol nascente, a outros o sol meridional, a outros com o sol poente, prestando-lhes o seu calor até a manhã em que ele despontará mais luminoso.
É lá no Oriente que irrompeu o primeiro albores do sol dos Espíritos, os crepúsculos do novo dia, a aurora da redenção. Bem-aventurados os que não dormem e têm os olhos voltados para o nascente do Sol: porque serão os primeiros a ver a luz e se regozijarão antes do dia, e o dia não os cegará.
Bem-aventurados os que choram por causa das trevas e da condenação, e cujos corações não edificam moradas nem levantam tendas.
Porque serão peregrinos no cárcere, e renascerão para morar perpetuamente, de geração em geração, nos cimos onde não há trevas; porque recuperarão os dons da misericórdia na consumação.
Ai dos que dormem com o rosto voltado para o poente!
Ai dos que olvidam e riem! Ai dos que estabelecem moradas e levantam tendas! Ai dos que se enraízam no pó!
Eles ficarão cegos antes de verem a luz — os seus olhos renascerão na obscuridade - e o seu dia não renascerá nem neste nem no século vindouro.
Eles serão considerados, não como peregrinos, mas como habitantes; é a sua justa sentença.Serão novamente plantados no pó das suas raízes, até à hora do fruto, na justiça e na renovação.
Eu - João*
Fonte=> Livro: Roma e o Evangelho=>Cap.Comunicações ou ensinos dos Espíritos=>28º Março de 1874=>VIII
*Nota dos autores:No começo desta comunicação, sabíamos que era Lamennais quem nos falava: mas a diferença do estilo e dos conceitos em alguns pontos nos fez suspeitar que não era ele só quem a inspirava. Com efeito, ao chegarmos a este ponto, tivemos a inefável satisfação de ver que o pensamento do evangelista João também nos vinha fortalecer e iluminar.
D. José Amigó y Pellícer
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