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sábado, 20 de outubro de 2012

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno. " Espíritos Sofredores" parte 4

EXPROBRAÇÕES DE UM BOÊMIO
(Bordéus, 19 de abril de 1862)
Homens, meus irmãos, eu vivi só para mim e agora expio
e sofro! Conceda-vos Deus a graça de evitardes os espinhos
que ora me laceram. Prossegui na senda larga do Senhor
e orai por mim, pois abusei dos favores que Deus faculta
às suas criaturas!
“Quem sacrifica aos instintos brutos a inteligência e os
bons sentimentos que Deus lhe dá, assemelha-se ao animal
que muitas vezes se maltrata. O homem deve utilizar-se
sobriamente dos bens de que é depositário, habituando-se a
visar a eternidade que o espera, abrindo mão, por conseqüência,
dos gozos materiais. A sua alimentação deve ter por
exclusivo fim a vitalidade; o luxo deve apenas restringir-se
às necessidades da sua posição; os gostos, os pendores, mesmo
os mais naturais, devem obedecer ao mais são raciocínio;
sem o que, ele se materializa em vez de se purificar. As paixões
humanas são estreitos grilhões que se enroscam na
carne e, assim, não lhes deis abrigo. Vós não sabeis o seu
preço, quando regressamos à pátria! As paixões humanas
vos despem antes mesmo de vos deixarem, de modo a
chegardes nus, completamente nus, ante o Senhor. Ah! cobri-
vos de boas obras que vos ajudem a franquear o Espaço
entre vós e a eternidade. Manto brilhante, elas escondem as
vossas torpezas humanas. Envolvei-vos na caridade e no amor
— vestes divinas que duram eternamente.”
Instruções do guia do médium. — Este Espírito está num
bom caminho, porquanto, além do arrependimento, aduz
conselhos tendentes a evitar os perigos da senda por ele
trilhada.
Reconhecer os erros é já um mérito e um passo efetivo
para o bem: também por isso, a sua situação, sem ser venturosa,
deixa de ser a de um Espírito infeliz.
Arrependendo-se, resta-lhe a reparação de uma outra
existência. Mas, antes de lá chegar, sabeis qual a existência
desses homens de vida sensual que não deram ao Espírito
outra atividade além da invenção de novos prazeres?
A influência da matéria segue-os além-túmulo, sem
que a morte lhes ponha termo aos apetites que a sua vista,
tão limitada como quando na Terra, procura em vão os
meios de os saciar. Por não terem nunca procurado alimento
espiritual, a alma erra no vácuo, sem norte, sem
esperança, presa dessa ansiedade de quem não tem diante
de si mais que um deserto sem limites. A inexistência
das lucubrações espirituais acarreta naturalmente a nulidade
do trabalho espiritual depois da morte; e porque não
lhe restem meios de saciar o corpo, nada restará para satisfazer
o Espírito.
Daí, um tédio mortal cujo termo não prevêem e ao qual
prefeririam o nada. Mas o nada não existe... Puderam ma-
tar o corpo, mas não podem aniquilar o Espírito. Importa
pois que vivam nessas torturas morais, até que, vencidos
pelo cansaço, se decidam a volver os olhos para Deus.

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno. " Espíritos Sofredores" parte 3

AUGUSTE MICHEL
(Havre, março de 1863)
Era um moço rico, boêmio, gozando larga e exclusivamente
a vida material. Conquanto inteligente, o indiferentismo
pelas coisas sérias era-lhe o traço característico.
Sem maldade, antes bom que mau, fazia-se estimar
por seus companheiros de pândegas, sendo apontado na
sociedade por suas qualidades de homem mundano. Não
fez o bem, mas também não fez o mal. Faleceu em conseqüência
de uma queda da carruagem em que passeava.
Evocado alguns dias depois da morte por um médium que
indiretamente o conhecia, deu sucessivamente as seguintes
comunicações:
8 de março de 1863. — “Por enquanto apenas consegui
desprender-me e dificilmente vos posso falar. A queda que
me ocasionou a morte do corpo perturbou profundamente o
meu Espírito. Inquieta-me esta incerteza cruel do meu futuro.
O doloroso sofrimento corporal experimentado nada é comparativamente
a esta perturbação. Orai para que Deus me
perdoe. Oh! que dor! oh! graças, meu Deus! que dor! Adeus.”
18 de março. — “Já vim a vós, mas apenas pude falar
dificilmente. Presentemente, ainda mal me posso comunicar
convosco. Sois o único médium, ao qual posso pedir
preces para que a bondade de Deus me subtraia a esta
perturbação. Por que sofrer ainda, quando o corpo não mais
sofre? Por que existir sempre esta dor horrenda, esta angústia
terrível? Orai, oh! orai para que Deus me conceda
repouso... Oh! que cruel incerteza! Ainda estou ligado ao
corpo. Apenas com dificuldade posso ver onde devo encontrar-
me; meu corpo lá está, e por que também lá permaneço
sempre? Vinde orar sobre ele para que eu me desembarace
dessa prisão cruel... Deus me perdoará, espero. Vejo
os Espíritos que estão junto de vós e por eles posso falar-
-vos. Orai por mim.”
6 de abril. — “Sou eu quem vem pedir que oreis por
mim. Será preciso irdes ao lugar em que jaz meu corpo,
a fim de implorar do Onipotente que me acalme os
sofrimentos? Sofro! oh! se sofro! Ide a esse lugar — assim é
preciso — e dirigi ao Senhor uma prece para que me perdoe.
Vejo que poderei ficar mais tranqüilo, mas volto
incessantemente ao lugar em que depositaram o que me
pertencia.”
O médium, não dando importância ao pedido que lhe faziam
de orar sobre o túmulo, deixara de atender. Todavia, indo aí, mais
tarde, lá mesmo recebeu uma comunicação.
11 de maio. — “Aqui vos esperava. Aguardava que
viésseis ao lugar em que meu Espírito parece preso ao seu
invólucro, a fim de implorar ao Deus de misericórdia e bondade
acalmar os meus sofrimentos. Podeis beneficiar-me
com as vossas preces, não o esqueçais, eu vo-lo suplico.
Vejo quanto a minha vida foi contrária ao que deveria ser;
vejo as faltas cometidas.
“Fui no mundo um ser inútil; não fiz uso algum proveitoso
das minhas faculdades; a fortuna serviu apenas à satisfação
das minhas paixões, aos meus caprichos de luxo e
à minha vaidade; não pensei senão nos gozos do corpo, desprezando
os da alma e a própria alma. Descerá a misericórdia
de Deus até mim, pobre Espírito que sofre as conseqüências
das suas faltas terrenas? Orai para que Ele me
perdoe, libertando-me das dores que ainda me pungem.
Agradeço-vos o terdes vindo aqui orar por mim.”
8 de junho. — “Posso falar e agradeço a Deus que mo
faculta. Compreendi as minhas faltas e espero que Deus
me perdoe. Trilhai sempre na vida de conformidade com a
crença que vos alenta, porque ela vos reserva de futuro um
repouso que eu ainda não tenho. Obrigado pelas vossas
preces. Até outra vista.”
30 de julho. — “Presentemente sou menos infeliz, visto
não mais sentir a pesada cadeia que me jungia ao corpo.
Estou livre, enfim, mas ainda não expiei e preciso é que
repare o tempo perdido se eu não quiser prolongar os sofrimentos.
Espero que Deus, tendo em conta a sinceridade do
arrependimento, me conceda a graça do seu perdão. Pedi
ainda por mim, eu vo-lo suplico.
A insistência do Espírito, para que se orasse sobre o seu
túmulo, é uma particularidade notável, mas que tinha sua razão
de ser se levarmos em conta a tenacidade dos laços que ao corpo
o prendiam, à dificuldade do desprendimento, em conseqüência
da materialidade da sua existência. Compreende-se que, mais próxima,
a prece pudesse exercer uma espécie de ação magnética
mais poderosa no sentido de auxiliar o desprendimento. O costume
quase geral de orar junto aos cadáveres não provirá da intuição
inconsciente de um tal efeito? Nesse caso, a eficácia da prece
alcançaria um resultado simultaneamente moral e material.