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terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

CONHECENDO O LIVRO: O CÉU E O INFERNOS - CAP.VII-ESPÍRITOS ENDURECIDOS: UM ESPÍRITO ABORRECIDO------"A maioria dos Espíritos dessa categoria busca uma existência terrestre apenas como distração, e para romper a insuportável monotonia de sua existência espiritual; assim eles chegam aí muitas vezes sem resoluções tomadas para o bem, é por isso que devem recomeçar até que, enfim, o progresso real se faça sentir neles. ""

 

(Bordeaux, 1862.)

 

Este Espírito apresenta-se espontaneamente ao médium, e reclama preces.

 

1. O que vos leva a pedir preces?
– R. Estou cansado de vagar sem objetivo. 

P. – Há muito tempo que estais nessa posição? 

– R. Cento e oitenta anos aproximadamente. 

– O que fizestes na terra? 

– R. Nada de bom.

2. Qual é vossa posição entre os Espíritos? 

– R. Estou entre os entediados. 

P. – Isso não forma uma categoria. 

– R. Tudo forma categoria entre nós. Cada sensação encontra ou seus semelhantes, ou seus simpatizantes que se reúnem.

3. Por que, se não estáveis condenado ao sofrimento, permanecestes tanto tempo sem vos aperfeiçoardes? 

– R. Estava condenado ao tédio, é um sofrimento entre nós; tudo o que não é alegria é dor. 

P. – Fostes, portanto, forçado a permanecer errante contra vossa vontade? 

– R. São causas demasiado sutis para vossa inteligência material. 

P. – Tentai fazer-me compreendê-las; será um começo de utilidade para vós. 

– R. Eu não poderia, porque não tem termo de comparação. Uma vida extinta na terra deixa ao Espírito que não a aproveitou, o que o fogo deixa ao papel que consumiu: faíscas, que lembram às cinzas ainda unidas entre si o que foram e a causa do seu nascimento, ou se quiseres, da destruição do papel. Essas faíscas são a lembrança dos laços terrestres que percorrem o Espírito até que ele tenha dispersado as cinzas de seu corpo. Somente então ele se reencontra, essência etérea, e deseja o progresso.

4. Quem pode vos ocasionar o tédio de que vos queixais? 

– R. Consequência da existência. O tédio é o filho da ociosidade; eu não soube empregar os longos anos que passei na terra, sua consequência se faz sentir em nosso mundo.

5. Os Espíritos que, como vós, vagam atormentados pelo tédio, não podem fazer cessar esse estado quando querem? 

– R. Não, eles nem sempre podem, porque o tédio lhes paralisa a vontade. Eles sofrem as consequências de sua existência; foram inúteis, não tiveram nenhuma iniciativa, não encontram nenhuma ajuda entre si. Ficam abandonados a si mesmos até que a lassidão desse estado neutro os faça desejar mudar; então, à menor vontade que desperta neles, eles encontram apoio e bons conselhos para auxiliar seus esforços e perseverar.

6. Podeis dizer-me alguma coisa sobre a vossa vida terrestre? 

– R. Ah, bem pouca coisa, deves compreendê-lo. O tédio, a inutilidade, a ociosidade provêm da preguiça; a preguiça é mãe da ignorância.

7. Vossas existências anteriores não vos fizeram avançar? 

– R. Sim, todas, mas muito fracamente, pois todas foram o reflexo umas das outras. Sempre há progresso, mas tão pouco sensível, que é inapreciável para nós.

8. Aguardando que recomeceis uma outra existência, quereis vir mais frequentemente perto de mim? 

– R. Chama-me para me coagires a isso; prestar-me-ás um favor.

9. Podeis dizer-me por que vossa letra muda frequentemente? 

– R. Porque perguntas muito; isso me cansa, e preciso de ajuda.

 

O guia do médium

É o trabalho da inteligência que o cansa e que nos obriga a lhe prestar ajuda para que ele possa responder às tuas perguntas. É um desocupado do mundo dos Espíritos como o foi do mundo terrestre. Trouxemo-lo para tentar tirá-lo da apatia desse tédio que é um verdadeiro sofrimento, mais penoso às vezes do que os sofrimentos agudos, pois ela pode prolongar-se indefinidamente. Consegues imaginar a tortura da perspectiva de um tédio sem fim? A maioria dos Espíritos dessa categoria busca uma existência terrestre apenas como distração, e para romper a insuportável monotonia de sua existência espiritual; assim eles chegam aí muitas vezes sem resoluções tomadas para o bem, é por isso que devem recomeçar até que, enfim, o progresso real se faça sentir neles.

fonte: Livro O Céu e o Inferno - Allan kardec.
Segunda Parte- Cap. VII - Espíritos Endurecidos 

 

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

CONHECENDO O LIVRO: O CÉU E O INFERNO - CAP.VII - ESPÍRITOS ENDURECIDOS : Angèle, nulidade sobre a terra---"Sem defeitos sérios, mas sem qualidades, ela fez a infelicidade do marido, perdeu o futuro de seus filhos, arruinou o bem-estar deles por sua incúria e sua preguiça. Falseou o julgamento e o coração deles, primeiro pelo seu exemplo, depois abandonando-os aos cuidados dos domésticos que nem mesmo tomava o cuidado de escolher. Sua vida foi inútil para o bem e por isso mesmo culpada, pois o mal nasce do bem negligenciado.""

 
(Bordeaux, 1862.)
 
Um Espírito se apresenta espontaneamente ao médium sob o nome de Angèle.

1. Vós vos arrependeis de vossas faltas? – R. Não.
– Então por que vindes a mim?
– R. Para fazer uma tentativa.
– Então não sois feliz?
– R. Não.
– Estais sofrendo?
– R. Não. – O que vos falta então?
– R. A paz.

Observação: Certos Espíritos não consideram como sofrimentos senão os que lhes lembram as dores físicas, embora convindo que seu estado moral é intolerável.
 
2. Como pode faltar-vos a paz na vida espiritual?
– R. Um arrependimento do passado.
P. – O arrependimento do passado é um remorso; vós vos arrependeis então?
– R. Não; é por temor do futuro. 
P. – Que temeis vós?
– R. O desconhecido.
3. Quereis dizer-me o que fizestes em vossa última existência? Isso talvez me ajude a vos esclarecer.
– R. Nada. 
4. Em que posição social estáveis?
– R. Média.
P. – Fostes casada?
– R. Casada e mãe.
P. – Cumpristes com zelo os deveres dessa dupla posição?
– R. Não; meu marido me aborrecia, meus filhos também.
5. Como se passou vossa vida?
– R. A divertir-me enquanto solteira, a aborrecer-me casada.
P. – Quais eram vossas ocupações?
– R. Nenhuma.
P. – Então quem cuidava de vossa casa? – R. A doméstica.
6. Não é nessa inutilidade que é preciso procurar a causa de vossos arrependimentos e de vossos temores?
– R. Talvez tenhas razão.
P. – Não basta convir. Quereis, para reparar essa existência inútil, ajudar os Espíritos culpados que sofrem à vossa volta?
– R. Como?
– Ajudando-os a se aperfeiçoarem pelos vossos conselhos e vossas preces.
– R. Não sei rezar.
P.  – Nós o faremos juntos, aprendereis; quereis? –
R. Não.
P. – Por quê?
– R. A fadiga.  
 
Instrução do guia do médium.
 
 Nós damos-te instruções pondo-te sob os olhos os diversos graus de sofrimento e de posição dos Espíritos condenados à expiação em consequência de suas faltas.
Angèle era uma dessas criaturas sem iniciativa, cuja vida é tão inútil para os outros quanto para elas mesmas. Amando apenas o prazer, incapaz de procurar no estudo, no cumprimento dos deveres da família e da sociedade essas satisfações do coração que são as únicas que podem dar encanto à vida, porque pertencem a todas as idades, ela não pôde empregar seus jovens anos senão em distrações frívolas; depois, quando os deveres sérios chegaram, o mundo havia feito o vazio em torno dela, porque ela havia feito o vazio no seu coração. Sem defeitos sérios, mas sem qualidades, ela fez a infelicidade do marido, perdeu o futuro de seus filhos, arruinou o bem-estar deles por sua incúria e sua preguiça. Falseou o julgamento e o coração deles, primeiro pelo seu exemplo, depois abandonando-os aos cuidados dos domésticos que nem mesmo tomava o cuidado de escolher. Sua vida foi inútil para o bem e por isso mesmo culpada, pois o mal nasce do bem negligenciado. Compreendei bem todos que não basta abster-vos das faltas: é preciso praticar as virtudes que lhes são opostas. Estudai os mandamentos do Senhor, meditai sobre eles, e compreendei que, se eles vos colocam uma barreira que vos detém à beira do mau caminho, eles vos forçam ao mesmo tempo a voltar atrás para tomar o caminho oposto que leva ao bem. O mal é oposto ao bem; portanto, aquele que o quer evitar deve entrar no caminho oposto, sem o quê sua vida é nula; suas obras estão mortas e Deus nosso pai não é o Deus dos mortos, mas o Deus dos vivos.

P. Posso vos perguntar qual fora a existência anterior de Angèle? A última devia ser sua consequência.

R. Ela havia vivido na preguiça beata e na inutilidade da vida monástica. Preguiçosa e egoísta por gosto, ela quis tentar a vida de família, mas o Espírito progrediu muito pouco. Ela repeliu sempre a voz íntima que lhe mostrava o perigo; o declive era suave, ela preferiu deixar-se ir a fazer um esforço para se deter no início. Hoje ela ainda compreende o perigo que existe em se manter nessa neutralidade, mas não se sente com força para tentar o menor esforço para daí sair. Orai por ela, despertai-a; forçai seus olhos a se abrirem para a luz: é um dever, não negligencieis nenhum.
 O homem foi criado para a atividade: atividade de espírito, é sua essência; atividade do corpo, é uma necessidade. Preenchei, portanto, as condições de vossa existência, como Espírito destinado à paz eterna. Como corpo destinado ao serviço do Espírito, vosso corpo não é senão uma máquina submetida à vossa inteligência; trabalhai, cultivai então a inteligência, a fim de que ela dê uma impulsão salutar ao instrumento, que deve ajudar o Espírito a cumprir sua tarefa; não lhe deis repouso nem trégua, e lembrai-vos de que a paz à qual aspirais não vos será dada senão depois do trabalho; portanto, durante todo o tempo em que tiverdes negligenciado o trabalho, todo esse tempo durará para vós a ansiedade da espera.
Trabalhai, trabalhai sem cessar; cumpri todos os vossos deveres sem exceção; cumpri-os com zelo, com coragem, com perseverança, e vossa fé vos sustentará. Aquele que cumpre com consciência a tarefa mais ingrata, mais vil em vossa sociedade, é cem vezes mais elevado aos olhos do Altíssimo, do que aquele que impõe essa tarefa aos outros e negligencia a sua. Tudo consiste em degraus para subir ao céu: não os quebreis, pois, sob vossos pés, e contai que estais cercados de amigos que vos estendem a mão, e apoiam aqueles que põem sua força no Senhor. 

MONOD.

fonte: Livro O Céu e o Inferno - Allan Kardec.
Segunda Parte - Cap. 7 - Espíritos Endurecidos.

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 199

 
Aliás, não é racional considerar-se a infância como um estado normal de inocência. Não se vêem crianças dotadas dos piores instintos, numa idade em que ainda nenhuma influência pode ter tido a educação? Alguns não há que parecem trazer do berço a astúcia, a felonia, a perfídia, até pendor para o roubo e para o assassínio, não obstante os bons exemplos que de todos os lados se lhes dão? A lei civil as absorve de seus crimes, porque, diz ela, obraram sem discernimento. Tem razão a lei, porque, de fato, elas obram mais por instinto do que intencionalmente. Donde, porém, provirão instintos tão diversos em crianças da mesma idade, educadas em condições idênticas e sujeitas às mesmas influências? Donde a precoce perversidade, senão da inferioridade do Espírito, uma vez que a educação em nada contribuiu para isso? As que se revelam viciosas, é porque seus
Espíritos muito pouco hão progredido. Sofrem então, por efeito dessa falta de progresso, as conseqüências , não dos atos que praticam na infância, mas dos de suas existências anteriores. Assim é que a lei é uma só para todos e que todos são atingidos pela justiça de Deus.
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Comentário pelo Espírito Miramez:

 
Fonte:http://www.olivrodosespiritoscomentado.com/fev4q199c.html
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Livro dos Espíritos:
 
347. Que utilidade encontrará um Espírito na sua encarnação em um corpo que morre poucos dias depois de nascido?
“O ser não tem então consciência plena da sua existência; a importância da morte é quase nenhuma. Freqüentemente é, como já dissemos, uma prova para os pais.” 
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Anna Bitter

Ser atingido pela perda de um filho adorado é um desgosto doloroso; mas ver um filho único que dá as mais belas esperanças, no qual se concentraram suas únicas afeições, definhar sob seus olhos, extinguir-se sem sofrimentos, por uma causa desconhecida, uma dessas bizarrias da natureza que desconcertam a sagacidade da ciência; ter esgotado inutilmente todos os recursos da arte e adquirido a certeza de que não há nenhuma esperança, e aguentar essa angústia de cada dia durante longos anos sem lhe prever o fim, é um suplício cruel que a fortuna aumenta, em vez de aliviá-lo, porque se tem a esperança de ver um dia um ser querido desfrutar dela.
Tal era a situação do pai de Anna Bitter; assim, um desespero sombrio se apossara da sua alma, e seu caráter se azedava cada vez mais à vista desse espetáculo pungente cuja saída não podia ser senão fatal embora indeterminada. Um amigo da família, iniciado no Espiritismo, acreditou dever interrogar seu Espírito protetor a esse respeito, e recebeu dele a resposta seguinte:
“Aceito dar-te a explicação do estranho fenômeno que tens sob os olhos, porque sei que ao pedir-ma não és movido por uma indiscreta curiosidade, mas pelo interesse que diriges a essa pobre criança, e porque surgirá para ti, crente na justiça de Deus, um ensinamento valioso. Aqueles que o Senhor quer atingir devem curvar sua fronte e não o maldizer e se revoltar, pois ele nunca atinge sem causa. A pobre garota, cujo decreto de morte o Onipotente suspendera, deve em breve voltar para o nosso seio, pois Deus teve compaixão dela, e seu pai, esse desgraçado entre os homens, deve ser atingido na única afeição da sua vida, por ter troçado do coração e da confiança daqueles que o cercam. Por um momento seu arrependimento tocou o Altíssimo, e a morte suspendeu seu gládio sobre essa cabeça tão querida; mas a revolta voltou, e o castigo segue sempre a revolta. Felizes de vós quando é nesta terra que sois castigados! Orai, meus amigos, por essa pobre criança, cuja juventude tornará difíceis os últimos momentos; a seiva é tão abundante nesse pobre ser, apesar do seu estado de definhamento, que a alma se desprenderá com dificuldade. Oh! orai; mais tarde ela vos ajudará, e ela mesma vos consolará, pois seu Espírito é mais elevado do que o das pessoas que a rodeiam.
“Foi por uma permissão especial do Senhor que pude responder ao que me perguntaste, porque é preciso que esse Espírito seja ajudado a fim que o desprendimento seja mais fácil para ele.”
O pai morreu depois de ter sofrido o vazio do isolamento da perda da filha. Eis as primeiras comunicações que ambos deram após a morte.
A filha. Obrigada, meu amigo, por vos terdes interessado pela pobre criança, e por terdes seguido os conselhos do vosso bom guia. Sim, graças às vossas preces, pude deixar mais facilmente meu envoltório terrestre, pois meu pai, infelizmente, não orava: maldizia. No entanto, não lhe quero mal: era devido à sua grande ternura por mim. Peço a Deus para lhe fazer a graça de ser esclarecido antes de morrer; incito-o, encorajo-o; minha missão é aliviar seus últimos instantes. Por vezes um raio de luz divina parece penetrar até ele; mas não é senão um relâmpago passageiro, e ele volta logo às suas ideias iniciais. Há nele apenas um germe de fé asfixiado pelos interesses do mundo, e que só novas provas mais terríveis poderão desenvolver; pelo menos assim o temo. Quanto a mim, não tinha senão um resto de expiação a cumprir, é por isso que ela não foi muito dolorosa, nem muito difícil. Na minha estranha doença, eu não sofria; era antes um instrumento de provação para meu pai, pois ele sofria mais de me ver naquele estado do que eu; eu estava resignada, e ele não. Hoje estou recompensada, Deus fez-me a graça de abreviar minha estada na Terra, e agradeço-lhe. Estou feliz no meio dos bons Espíritos que me cercam; todos nos dedicamos às nossas ocupações com alegria, pois a inatividade seria um cruel suplício.

(O pai, aproximadamente um mês após a morte.) P. Nosso objetivo, ao chamar-vos, é inquirir sobre vossa situação no mundo dos Espíritos, para vos sermos úteis se estiver em nosso poder. – R. O mundo dos Espíritos! Não vejo nenhum. Não vejo senão os homens que conheci e dos quais nenhum pensa em mim e sente minha falta; pelo contrário, eles parecem estar contentes de se terem livrado de mim.
P. Dais-vos bem conta da vossa situação?
– R. Perfeitamente. Durante algum tempo acreditei ser ainda do vosso mundo, mas agora sei muito bem que não sou mais.
P. Como explicar então que não víeis outros Espíritos à vossa volta? – R. Ignoro-o; entretanto, tudo é claro à minha volta.
P. Não revistes vossa filha? – R. Não; ela morreu; procuro-a, chamo-a inutilmente. Que vazio horroroso sua morte me deixou na Terra! Ao morrer, eu me dizia que a reencontraria sem dúvida; mas nada; sempre o isolamento à minha volta; ninguém que me dirija uma palavra de consolo e de esperança. Adeus; vou procurar minha filha.
O guia do médium. Este homem não era ateu, nem materialista; mas era daqueles que creem vagamente, sem se preocupar com Deus nem com o futuro, absorvidos como estão pelos interesses da terra. Profundamente egoísta, teria sem dúvida sacrificado tudo para salvar a filha, mas teria também sacrificado sem escrúpulo todos os interesses de terceiros em seu benefício pessoal. Exceto por sua filha, não tinha apego por ninguém. Deus o puniu por isso, como sabeis; tirou-lhe sua única consolação na terra, e como ele não se arrependeu, ela também que lhe é tirada no mundo dos Espíritos. Ele não se interessava por ninguém na terra, ninguém se interessa por ele aqui; está sozinho, abandonado: essa é sua punição. A filha está perto dele, no entanto, mas ele não a vê; se a visse, não seria punido. O que ele faz? dirige-se a Deus? arrepende-se? Não; murmura continuamente; blasfema até; faz, numa palavra, como fazia na terra. Ajudai-o, pela prece e com conselhos, a sair de sua cegueira.
Livro: O Céu e o Inferno
Segunda Parte - Exemplos - Capítulo VIII - Expiações terrestres

domingo, 29 de maio de 2016

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno : Antoine Bell "(...)Ao guia do médium: - Um Espírito obsessor pode, realmente, levar o obsidiado ao suicídio? (...)a obsessão que, de si mesma, é já um gênero de provação, pode revestir todas as formas. Mas isso não quer dizer isenção de culpabilidade"

ANTOINE BELL

Era o caixa de uma casa bancária do Canadá e suicidou-se a 28 de fevereiro de 1865. Um dos nossos correspondentes, médico e farmacêutico residente na mesma cidade, deu-nos dele as informações que se seguem: 
"Conhecia-o, havia perto de 20 anos, como homem pacato e chefe de numerosa família. De tempos a certa parte imaginou ter comprado um tóxico na minha farmácia, servindo-se dele para envenenar alguém. Muitas vezes vinha suplicar-me para lhe dizer a época de tal compra, tomado então de alucinações terríveis. Perdia o sono, lamentava-se, batia nos peitos. A família vivia em constante ansiedade das 4 da tarde às 9 da manhã, hora esta em que se dirigia para a casa bancária, onde, aliás, escriturava os seus livros com muita regularidade, sem que jamais cometesse um só erro. Habitualmente dizia sentir dentro de si um ente que o fazia desempenhar com acerto e ordem a sua contabilidade. Quando se afigurava convencido da extravagância das suas idéias, exclamava: - "Não; não; quereis iludir-me... lembro-me... é a verdade..." 
A pedido desse amigo, foi ele evocado em Paris, a 17 de abril de 1865.
1. - Evocação. - R. Que pretendeis de mim? Sujeitar-me a um interrogatório? É inútil, tudo confessarei.
2. - Bem longe de nós o pensamento de vos afligir com perguntas indiscretas; desejamos saber apenas qual a vossa posição nesse mundo, bem como se poderemos ser-vos úteis... - R. Ah! Se for possível, ser-vos-ei extremamente grato. Tenho horror ao meu crime e sou muito infeliz!
3. - Temos a esperança de que as nossas preces atenuarão as vossas penas. Afigura-se-nos que vos achais em boas condições, visto como o arrependimento já vos assedia o coração - o que constitui um começo de reabilitação. Deus, infinitamente misericordioso, sempre tem piedade do pecador arrependido. Orai conosco. (Faz-se a prece pelos suicidas, a qual se encontra em O Evangelho segundo o Espiritismo.) 
Agora, tende a bondade de nos dizer de quais crimes vos reconheceis culpado. Tal confissão, humildemente feita, ser-vos-á favorável.
- R. Deixai primeiro que vos agradeça por esta esperança que fizestes ralar no meu coração. Oh! há já bastante tempo que vivia numa cidade banhada pelo Mediterrâneo. Amava, então, uma bela moça que me correspondia; mas, pelo fato de ser pobre, fui repelido pela família. A minha eleita participou-me que desposaria o filho de um negociante cujas transações se estendiam para além de dois mares, e assim fui eu desprezado. Louco de dor, resolvi acabar com a vida, não sem deixar de assassinar o detestado rival, saciando o meu desejo de vingança. Repugnando-me os meios violentos, horrorizava-me a perpetração do crime, porém o meu ciúme a tudo sobrepujou. Na véspera do casamento, morria o meu rival envenenado, pelo meio que me pareceu mais fácil. Eis como se explicam as reminiscências do passado... Sim, eu já reencarnei, e preciso é que reencarne ainda... Oh! meu Deus, tende piedade das minhas lágrimas e da minha fraqueza!
4. - Deploramos essa infelicidade que retardou vosso progresso e sinceramente vos lamentamos; dado, porém, que vos arrependais, Deus se compadecerá de vós. Dizei-nos se chegastes a executar o vosso projeto de suicídio... 
- R. Não; e confesso, para vergonha minha, que a esperança se me desabrochou novamente no coração, com o desejo de me aproveitar do crime já cometido. Traíram-me, porém, os remorsos e acabei por expiar, no último suplício, aquele meu desvario: enforquei-me.
5. - Na vossa última encarnação tínheis a consciência do mal praticado na penúltima? 
- R. Nos últimos anos somente, e eis como: - eu era bom por natureza, e, depois de submetido, como todos os homicidas, ao tormento da visão perseverante da vítima, que me perseguia qual vivo remorso, dela me descartei depois de muitos anos, pelo meu arrependimento e pelas minhas preces. Recomecei outra existência - a última -que atravessei calmo e tímido. Tinha em mim como que vaga intuição da minha inata fraqueza, bem como da culpa anterior, cuja lembrança em estado latente conservara.
Mas um Espírito obsessor e vingativo, que não era outro senão o pai da minha vítima, facilmente se apoderou de mim e fez reviver no meu coração, como em mágico espelho, as lembranças do passado. 
Alternadamente influenciado por ele e por meu gula, que me protegia, eu era o envenenador e ao mesmo tempo o pai de família angariando pelo trabalho o sustento dos filhos. Fascinado por esse demônio obsessor, deixei-me arrastar para o suicídio. Sou muito culpado realmente, porém menos do que se deliberasse por mim mesmo. Os suicidas da minha categoria, incapazes por sua fraqueza de resistir aos obsessores, são menos culpados e menos punidos do que os que abandonam a vida por efeito exclusivo da própria vontade. 
Orai comigo para que o Espírito que tão fatalmente me obsidiou renuncie à sua vingança, e orai por mim para que adquira a energia, a força necessária para não ceder à prova do suicídio voluntário, prova a que serei submetido, dizem-me, na próxima encarnação. 
Ao guia do médium: - Um Espírito obsessor pode, realmente, levar o obsidiado ao suicídio? 
- R. Certamente, pois a obsessão que, de si mesma, é já um gênero de provação, pode revestir todas as formas. Mas isso não quer dizer isenção de culpabilidade. O homem dispõe sempre do seu livre-arbítrio e, conseguintemente, está em si o ceder ou resistir às sugestões a que o submetem. 
Assim é que, sucumbindo, o faz sempre por assentimento da sua vontade. Quanto ao mais, o Espírito tem razão dizendo que a ação instigada por outrem é menos culposa e repreensível, do que quando voluntariamente cometida. Contudo, nem por isso se inocenta de culpa, visto como, afastando-se do caminho reto, mostra que o bem ainda não está vinculado ao seu coração.
6. - Como, apesar da prece e do arrependimento terem libertado esse Espírito da visão tormentosa da sua vitima, pôde ele ser atingido pela vingança de um obsessor na última encarnação?
- R. O arrependimento, bem o sabeis, é apenas a preliminar indispensável à reabilitação, mas não é o bastante para libertar o culpado de todas as penas. Deus não se contenta com promessas, sendo preciso a prova, por atos, do retorno ao bom caminho. Eis por que o Espírito é submetido a novas provações que o fortalecem, resultando-lhe um merecimento ainda maior quando delas sai triunfante. 
O Espírito só arrosta com a perseguição dos maus, dos obsessores, enquanto estes o não encontram assaz forte para resistir-lhes. Encontrando resistência, eles o abandonam, certos da inutilidade dos seus esforços. 
    Nota - Estes dois últimos exemplos mostram-nos a renovação da mesma prova em sucessivas encarnações, e por tanto tempo quanto o da sua ineficácia. Antoine BeIl patenteia-nos, enfim, o fato muito instrutivo do homem perseguido pela lembrança de um crime cometido em anterior existência, qual um remorso e um aviso. Vemos ainda por aí que todas as existências são solidárias entre si; que a justiça e bondade divinas se ostentam na faculdade ao homem conferida de progredir gradualmente, sem jamais privá-lo do resgate das faltas; que o culpado é punido pela própria falta, sendo essa punição, em vez de uma vingança de Deus, o meio empregado para fazê-lo progredir. 

    Fonte: O Céu e o Inferno. Allan Kardec => Suicidas=>Antoine Bell

domingo, 21 de setembro de 2014

CONDESSA PAULA,ESPÍRITOS FELIZES

CONDESSA PAULA

(O Céu e o Inferno - Segunda Parte - Exemplos, cap. II - Espíritos felizes)

Era uma mulher jovem, bela, rica, de nascimento ilustre de acordo com o mundo, e ademais, um modelo consumado de todas as qualidades do coração e do espírito. Morreu com trinta e seis anos, em 1851. Era uma dessas pessoas cuja oração fúnebre se resume a estas palavras, em todas as bocas: “Por que Deus retira tão cedo tais pessoas da face da terra?” Bem-aventurados aqueles que fazem assim bendizer sua memória! Ela era boa, doce e indulgente para todo o mundo; sempre pronta a desculpar ou atenuar o mal, em vez de o envenenar; nunca a maledicência lhe sujou os lábios. Sem soberba nem orgulho, tratava seus inferiores com uma benevolência que não tinha nada da baixa familiaridade, e sem afetar para com eles ares de altivez ou uma proteção humilhante. Compreendendo que as pessoas que vivem de seu trabalho não vivem de rendas, e que precisam do dinheiro que lhes é devido, seja para seu estado, seja para viver, nunca fez esperar um salário; o pensamento de que alguém pudesse sofrer por falta de pagamento de sua parte, teria sido um remorso de consciência para ela. Não era dessas pessoas que sempre acham dinheiro para satisfazer suas fantasias e nunca têm para pagar o que devem; não compreendia que pudesse ser de bom gosto para um rico ter dívidas, e ter-se-ia sentido humilhada se se pudesse dizer que seus fornecedores eram obrigados a lhe fazer empréstimos. Assim, por ocasião de sua morte, só houve lamentos e nenhuma reclamação.
Sua benevolência era inesgotável, mas não era essa benevolência oficial que se exibe aos olhos de todos; era a caridade do coração e não a da ostentação. Só Deus sabe as lágrimas que secou e os desesperos que acalmou, pois essas boas ações tinham por testemunhas apenas Ele e os desgraçados que ela assistia. Sobretudo, ela sabia descobrir esses infortúnios ocultos, que são os mais pungentes, e que socorria com a delicadeza que eleva o moral em vez de abatê-lo.
Sua posição e as altas funções do marido a obrigavam a um governo da casa ao qual não podia esquivar-se; mas, satisfazendo as exigências de sua posição sem mesquinhez, mantinha uma ordem que, evitando os desperdícios ruinosos e as despesas supérfluas, lhe permitia realizá-lo com a metade do que teria custado a outros sem fazer melhor.
Ela podia dessa forma tirar de sua fortuna uma parte maior para os necessitados. Retirara dela um capital importante cuja renda era exclusivamente reservada a essa destinação sagrada para ela, e considerava-a como tendo isso a menos para gastar com sua casa. Encontrava assim o meio de conciliar seus deveres para com a sociedade e para com a desgraça.[1]
Evocada, doze anos após a morte, por um de seus parentes iniciado no Espiritismo, ela deu a comunicação seguinte em resposta a diversas perguntas que lhe eram dirigidas:[2]
“Tendes razão, meu amigo, de pensar que sou feliz; com efeito, sou feliz, além de tudo o que se pode exprimir, e, no entanto, ainda estou longe do último degrau. Eu estava, porém, entre os bem-aventurados da terra, pois não me recordo de ter sentido desgosto real. Juventude, saúde, fortuna, homenagens, tinha tudo o que constitui a felicidade entre vós; mas o que é essa felicidade perto desta que se experimenta aqui? O que são as vossas mais esplêndidas festas, onde se exibem os mais ricos enfeites, perto destas assembleias de Espíritos resplandecendo de um brilho que vossa vista não poderia suportar, e que é o apanágio da pureza? O que são vossos palácios e vossos salões dourados perto destas moradas aéreas, dos vastos campos do espaço, matizados de cores que fariam empalidecer o arco-íris? O que são vossos passeios vagarosos em vossos parques, perto das corridas através da imensidão, mais rápidas do que o raio? O que são vossos horizontes limitados e nebulosos perto do espetáculo grandioso dos mundos movendo-se no universo sem limites sob a poderosa mão do Altíssimo? Como vossos concertos mais melodiosos são tristes e agudos perto desta suave harmonia que faz vibrar os fluidos do éter e todas as fibras da alma! Como vossas maiores alegrias são tristes e insípidas perto da inefável sensação de felicidade que penetra incessantemente todo o nosso ser como um eflúvio benfazejo, sem nenhuma inquietação, nenhuma apreensão, nenhum sofrimento! Aqui tudo respira amor, confiança, sinceridade; por toda a parte corações afetuosos, em toda a parte amigos, em parte alguma invejosos e ciumentos. Tal é o mundo onde estou, meu amigo, e ao qual chegareis infalivelmente seguindo o reto caminho.
“Porém, aborreceria logo uma felicidade uniforme; não acrediteis que a nossa seja isenta de peripécias; não é nem um concerto perpétuo, nem uma festa sem fim, nem uma beata contemplação durante a eternidade; não, é o movimento, a vida, a atividade. As ocupações, embora isentas de fadigas, trazem-lhe uma incessante variedade de aspectos e de emoções pelos mil incidentes ali espalhados. Todos têm sua missão a cumprir, seus protegidos a assistir, amigos da terra a visitar, mecanismos da natureza a dirigir, almas sofredoras a consolar; vão, vêm, não de uma rua à outra, mas de um mundo ao outro; juntam-se, separam-se para se reunirem em seguida; convergem num ponto, comunicam o que fizeram, congratulam-se pelos sucessos obtidos; põem-se de acordo, assistem-se reciprocamente nos casos difíceis; enfim, asseguro-vos que ninguém tem tempo de se entediar por um segundo.
“Neste momento, a terra é nosso grande tema de preocupação. Quanto movimento entre os Espíritos! Que numerosas coortes aí afluem para concorrer para a sua transformação! Dir-se-ia uma nuvem de trabalhadores ocupados a desbravar uma floresta, sob a condução de chefes experientes; uns abatem as velhas árvores com o machado, arrancam as profundas raízes; preparando outros o terreno, lavrando e semeando estes, edificando aqueles a nova cidade sobre as ruínas carcomidas do velho mundo. Enquanto isso, os chefes se reúnem, deliberam e enviam mensageiros para dar ordens em todas as direções. A terra deve ser regenerada num dado tempo; é preciso que os desígnios da Providência se cumpram; é por isso que todos põem mãos à obra. Não acrediteis que eu seja simples espectadora desse grande trabalho; teria vergonha de ficar inativa quando todo o mundo se ocupa; uma importante missão me é confiada, e esforço-me para cumpri-la o melhor possível.
“Não foi sem lutas que cheguei ao lugar que ocupo na vida espiritual; crede que minha última existência, por mais meritória que vos pareça, não teria bastado para isso. Durante várias existências passei pelas provas do trabalho e da miséria que escolhera voluntariamente para fortalecer e purificar minha alma; tive a felicidade de sair delas vitoriosa, mas restava uma a suportar, a mais perigosa de todas: a da fortuna e do bem-estar material, de um bem-estar sem nenhuma amargura: ali residia o perigo. Antes de tentá-la, quis sentir-me suficientemente forte para não sucumbir. Deus levou em conta minhas boas intenções e concedeu-me a graça de me apoiar. Muitos outros Espíritos, seduzidos pelas aparências, apressam-se a escolhê-la; fracos demais, infelizmente, para enfrentar o perigo, as seduções triunfam de sua inexperiência.
“Trabalhadores, estive nas vossas fileiras; eu, a nobre dama, como vós ganhei meu pão com o suor do meu rosto; aguentei privações, sofri intempéries, e foi o que desenvolveu as forças viris da minha alma; sem isso, eu teria provavelmente fracassado na minha última prova, o que me teria feito recuar para bem longe. Como eu, tereis também por vossa vez a prova da fortuna, mas não vos apresseis em pedi-la demasiado cedo; e vós que sois ricos, tende sempre presente o pensamento de que a verdadeira fortuna, a fortuna imperecível, não está na terra, e compreendei a que custo podeis merecer os benefícios do Onipotente.”

PAULA, na Terra, condessa de ***.


[1] Pode-se dizer que essa dama era o retrato vivo da mulher benfazeja, traçado no Evangelho segundo o espiritismo, cap. XIII.
[2] Extraímos desta comunicação, cujo original é em língua alemã, as partes instrutivas para o assunto que nos ocupa, suprimindo o que é apenas um interesse de família.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Conhecendo o Livro O Céu e o Inferno "Doutrina das Penas Eternas" item 25

Capítulo VI
Doutrina das Penas Eternas
Ezequiel Contra a Eternidade das Penas e o Pecado Original
25 — Aos que pretendem encontrar na Bíblia a justificação da eternidade das penas podemos opor os textos contrários, que não permitem nenhuma dúvida a respeito. As seguintes palavras de Ezequiel são a mais decisiva negação, não somente das penas irremissíveis, mas também da possibilidade de recair sobre toda a sua descendência a falta cometida pelo pai do gênero humano:
1) Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: 2) Que tendes vós, vós que acerca da terra de Israel proferiste este provérbio, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram? 3) Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, jamais direis este provérbio em Israel. 4) Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha; a alma que pecar, essa morrerá. 5) Sendo, pois, o homem justo e fazendo juízo e justiça; 7) não oprimindo a ninguém, tornando ao devedor a coisa penhorada, não roubando, dando o seu pão ao faminto e cobrindo ao nu com vestes; 8) não dando seu dinheiro à usura, não recebendo juros, desviando a sua mão da injustiça e fazendo verdadeiro juízo entre homem e homem; 9) andando nos meus estatutos, guardando os meus juízos e procedendo retamente o tal justo certamente viverá, diz o Senhor Deus.
10) Se ele gerar um filho ladrão, derramador de sangue, que fizer a seu irmão qualquer destas coisas. 13) esse filho morrerá, por todas estas abominações que ele fez e o seu sangue será sobre ele.
14) Eis que, se ele gerar um filho que veja todos os pecados que seu pai fez e, vendo-os, não cometer coisas semelhantes, 17) não morrerá pela iniqüidade de seu pai, mas certamente viverá. 18) Quanto a seu pai, porque praticou extorsão, roubou os bens do próximo e fez o que não era bom no meio do seu povo, eis que morrerá por causa de sua iniqüidade.
19) Mas direis: Por que não leva o filho a iniqüidade do pai? Porque o filho fez o que era reto e justo e guardou todos os meus estatutos e os praticou, por isso certamente viverá.
20) A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai a iniqüidade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele e a perversidade do perverso cairá sobre este.
21) Mas se o perverso se converter de todos os pecados que cometeu e guardar todos os meus estatutos, e fizer o que é reto e justo, certamente viverá, não será morto. 22) De todas as transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele; pela justiça que praticou, viverá.
23) Acaso tenho eu prazer na morte do perverso? diz o Senhor Deus. Não, desejo eu antes que ele se converta do seu caminho e viva. (Ezequiel, cap, XVIII, vs. 1 a 23.)
11) Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho e viva. (Ezequiel, cap. XXXIII, v. 11)(24)
(24) Nota-se a falta do versículo 6 do cap. XVIII de Ezequiel. A omissão foi proposital. Kardec deixou de lado esse versículo porque ele se refere a ordenações judaicas da lei de pureza (superadas pelo Evangelho) como se pode ver conferindo-se o texto com a Bíblia. Como se pode alegar que a omissão oculta segunda intenção o que se já tem feito, damos aqui esse versículo: "Não comendo carne sacrificada nos altos, nem levantando os olhos para os ídolos da casa de Israel, nem contaminando a mulher do seu próximo, nem se chegando à mulher na sua menstruação." Como se vê, esse versículo quebra a harmonia do texto em sua aplicação atual. Os vs. 12, 15 e 16 foram também suprimidos porque repetem aquelas ordenações.
Tanto no original francês, como em todas as traduções correntes entre nós ocorreu também um erro de citação, que corrigimos aqui. O versículo 23 do cap. XVIII foi mencionado como pertencente ao cap. XXVIII. Um pequeno engano, certamente gráfico, ainda hoje mantido nas próprias edições francesas e belgas. (N. do T.)
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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Conhecendo o Livro O Céu e o Inferno : "Espíritos Endurecidos"Lapomemeray

LAPOMMERAY

Castigo pela luz
Em uma das sessões da Sociedade de Paris, durante a qual se discutira a perturbação que geralmente acompanha a morte, um Espírito, ao qual ninguém fizera alusão e muito menos se pretendera evocar, manifestou-se espontaneamente pela seguinte comunicação, que, conquanto não assinada, se reconheceu como sendo de um grande criminoso recentemente atingido pela justiça humana:
"Que dizeis da perturbação? Para que essas palavras ocas? Sois sonhadores e utopistas. Ignorais redondamente o assunto do qual vos ocupais. Não, senhores, a perturbação não existe, a não ser nos vossos cérebros. Estou bem morto, tão morto quanto possível e vejo claro em mim, ao derredor de mim, por toda parte!... A vida é uma comédia lúgubre! Insensatos os que se retiram da cena antes que o pano caia. A morte é terror, aspiração ou castigo, conforme a fraqueza ou a força dos que a temem, afrontam ou imploram. Mas é também para todos amarga irrisão.
"A luz ofusca-me e penetra, qual flecha aguda, a sutileza do meu ser. Castigaram-me com as trevas do cárcere e acreditavam castigar-me ainda com as trevas do túmulo, senão com as sonhadas pelas superstições católicas...
"Pois bem, sois vós que padeceis da obscuridade, enquanto que eu, degredado social, me coloco em plano superior. Eu quero ser o que sou!... Forte pelo pensamento, desdenhando os conselhos que zumbem aos meus ouvidos... Vejo claro... Um crime! É uma palavra! O crime existe em toda parte. Quando executado pelas massas, glorificam-no, e, individualizado, consideram-no infâmia. Absurdo!
"Não quero que me deplorem... nada peço... lutarei por mim mesmo, só, contra esta luz odiosa. Aquele que ontem era um homem."
Analisada esta comunicação na assembléia seguinte, reconheceu-se no próprio cinismo da sua linguagem um profundo ensinamento, patenteando na situação desse infeliz uma nova fase do castigo que espera o culpado. Efetivamente, enquanto alguns são imersos em trevas ou num absoluto insulamento, outros sofrem por longos anos as angústias da extrema hora, ou acreditam-se ainda encarnados.
Para estes, a luz brilha, gozando o Espírito, e plenamente, das suas faculdades, sabendo-se morto e não se lastimando, antes repelindo qualquer assistência e afrontando ainda as leis divinas e humanas. Quererá isto dizer que escapassem à punição? De modo algum; é que a justiça de Deus completa-se sob todas as formas, e o que a uns causa alegria é para outros um tormento. A luz faz o suplício desse Espírito, e é ele próprio que o confessa, em que pese ao seu orgulho, quando diz que lutará por si mesmo, só, contra essa luz odiosa. E ainda nesta frase: - "a luz ofusca-me e penetra, qual flecha aguda, a sutileza do meu ser".
Essas palavras: - "sutileza do meu ser", são características, dando a entender que sabe que o seu corpo e fluídico e penetrável à luz, à qual não pode escapar, luz que o penetra qual aguda flecha. Este Espírito aqui está colocado entre os endurecidos, em razão do muito tempo que levou, antes que manifestasse arrependimento - o que é também um exemplo a mais para provar que o progresso moral nem sempre acompanha o progresso intelectual. Entretanto, pouco a pouco se foi corrigindo, e deu mais tarde ditados instrutivos e sensatos. Hoje, ele poderá ser colocado entre os Espíritos arrependidos. Convidados a emitirem a sua apreciação a respeito, os nossos guias espirituais ditaram as três seguintes comunicações, aliás dignas da mais séria atenção.

I

Sob o ponto de vista das existências, os Espíritos na erraticidade podem considerar-se inativos e na expectativa; mas, ainda assim, podem expiar, uma vez que o orgulho e a tenacidade formidável dos seus erros não os tolham no momento da progressiva ascensão. Tivestes disso um exemplo terrível na última comunicação desse criminoso impenitente, debatendo-se com a justiça divina a constringi-lo depois da dos homens.
Neste caso a expiação ou, antes, o sofrimento fatal que os oprime, ao invés de lhes ser útil, inculcando-lhes a profunda significação de suas penas, exacerba-os na rebeldia, e dá azo às murmurações que a Escritura em sua poética eloqüência denomina ranger de dentes.
Esta frase, simbólica por excelência, é o sinal do sofredor abatido, porém insubmisso, isolado na própria dor, mas bastante forte ainda para recusar a verdade do castigo e da recompensa! Os grandes erros perduram no mundo espiritual quase sempre, assim como as consciências grandemente criminosas. Lutar, apesar de tudo, e desafiar o infinito, pode comparar-se à cegueira do homem que, contemplando as estrelas, as tivesse por arabescos de um teto, tal como acreditavam os gauleses do tempo de Alexandre.
O infinito moral existe! E miserável e mesquinho é quem, a pretexto de continuar as lutas e imposturas abjetas da Terra, não vê mais longe no outro mundo, do que neste.
Para esse a cegueira, o desprezo alheio, o egoístico sentimento da personalidade, são empecilhos ao seu progresso. Homem! é bem verdade que existe um acordo secreto entre a imortalidade de um nome puro, legado à Terra, e a imortalidade realmente conservada pelos Espíritos nas suas sucessivas provações. Lamennais.

II

Precipitar um homem nas trevas ou em ondas de luz não dará o mesmo resultado? Num como noutro caso, esse homem nada vê do que o cerca, e habituar-se-á mesmo mais facilmente à sombra do que à monótona claridade elétrica, na qual pode estar submerso. O Espírito manifestado na última sessão exprime bem a verdade quando diz: "Oh! eu saberei libertar-me dessa odiosa luz." De fato, essa luz é tanto mais terrível, horrorosa, quanto ela o penetra completamente e lhe devassa os pensamentos mais recônditos. Aí está uma das circunstâncias mais rudes de tal castigo espiritual. O Espírito encontra-se, por assim dizer, na casa de vidro pedida por Sócrates. Disso decorre ainda um ensinamento, visto como o que seria alegria e consolo para o sábio, transforma-se em punição infamante e contínua para o perverso, para o criminoso, para o parricida, sobressaltado em sua própria personalidade. Meus filhos, calculai o sofrimento, o terror dos hipócritas que se compraziam em toda uma existência sinistra a planejar, a combinar os mais hediondos crimes no seu foro íntimo, quais feras refugiadas no seu antro, e que hoje, expulsas desse covil intimo, não se podem furtar à investigação dos seus pares...
Arrancada que lhe seja a máscara da impassibilidade, todos os pensamentos se lhe estampam na fronte! Sim, e além de tudo nenhum repouso, nada de asilo para esse formidando criminoso. Todo pensamento mau - e Deus sabe se a sua alma o exprime -se lhe trai por fora e por dentro, como impelido por choque elétrico irresistível. Procura esquivar-se à multidão, e a luz odiosa o devassa continuamente. Quer fugir, e desanda numa carreira infrene, desesperada, através dos espaços incomensuráveis, e por toda a parte luz, olhares que o observam. E corre, e voa novamente em busca da sombra, em busca da noite, e sombra e noite não mais existem para ele! Chama pela morte... Mas a morte não é mais que palavra sem sentido. E o infeliz foge sempre, a caminho da loucura espiritual - castigo tremendo, dor horrível, a debater-se consigo para se desembaraçar de si mesmo, porque tal é a lei suprema para além da Terra, isto é: o culpado busca por si mesmo o seu mais inexorável castigo.
Quanto tempo durará esse estado? Até o momento em que a vontade, por fim vencida, se curve constrangida pelo remorso, humilhada a fronte altiva ante os Espíritos de justiça e ante as suas vítimas apaziguadas.
Notai a lógica profunda das leis imutáveis; com isso o Espírito realizará o que escrevia nessa altaneira comunicação tão clara, tão lúcida, tão desconsoladoramente egoística, comunicação que vos deu na sexta-feira passada, redigindo-a por um ato da sua própria vontade. Éraste.

III

A justiça humana não faz distinção de individualidades, quanto aos seres que castiga; medindo o crime pelo próprio crime, fere indistintamente os infratores, e a mesma pena atinge o paciente sem distinção de sexo, qualquer que seja a sua educação. De modo diverso procede a justiça divina, cujas punições correspondem ao progresso dos seres aos quais elas são infligidas. Igualdade de crimes não importa, de fato, igualdade individual, visto como dois homens culpados, sob o mesmo ponto de vista, podem separar-se pela dessemelhança de provações, imergindo um deles na opacidade intelectiva dos primeiros círculos iniciadores, enquanto que o outro dispõe, por haver ultrapassado esses círculos, da lucidez que isenta o Espírito da perturbação. E nesse caso não são mais as trevas a puni-lo, mas a agudeza da luz espiritual que vara a inteligência terrena e lhe faz sentir as dores de uma chaga viva.
Os seres desencarnados que presenciam a representação material dos seus crimes, sofrem o choque da eletricidade física: padecem pelos sentidos. E aqueles que pelo Espírito estejam desmaterializados sofrem uma dor muito superior que lhes aniquila, por assim dizer, em seus amargores, a lembrança dos fatos, deixando subsistir a noção de suas respectivas causas.
Assim, pode o homem, a despeito da sua criminalidade, possuir um progresso interno e elevar-se acima da espessa atmosfera das baixas camadas, isto pelas faculdades intelectuais sutilizadas, embora tivesse, sob o jugo das paixões, procedido como um bruto. A ausência de ponderação, o desequilíbrio entre o progresso moral e o intelectual, produzem essas tão freqüentes anomalias nas épocas de materialismo e transição. A luz que tortura o Espírito é, portanto e precisamente, o raio espiritual inundando de claridades os secretos recessos do seu orgulho e descobrindo-lhe a inanidade do seu fragmentário ser. Aí estão os primeiros sintomas, as primeiras angústias da agonia espiritual, e que prenunciam a dissolução dos elementos intelectuais e materiais componentes da primitiva dualidade humana, e que devem desaparecer na unidade grandiosa do ser acabado. Jean Reynaud.
Além de se completarem reciprocamente, estas três comunicações, obtidas simultaneamente, apresentam o castigo debaixo de um novo prisma, aliás eminentemente filosófico e racional. É provável que os Espíritos, querendo tratar do assunto de acordo com um exemplo, tivessem provocado a manifestação do culpado
Ao lado deste quadro vivo, baseado sobre um fato, eis, para estabelecer um paralelo, este que um pregador de Montreuil-sur-Mer, em 1864, por ocasião da quaresma, traçou do inferno:
"O fogo do inferno é milhões de vezes mais intenso que o da Terra, e se acaso um dos corpos que lá se queimam, sem se consumirem, fosse lançado ao planeta, empestá-lo-ia de um a outro extremo! O inferno é vasta e sombria caverna, eriçada de agudas pontas de lâminas de espadas aceradas, de lâminas de navalhas afiadíssimas, nas quais são precipitadas as almas dos condenados." (Ver a Revue Spirite, julho de 1864, pág. 199.)

ANGÈLE, nulidade sobre a Terra

(Bordéus, 1862)
Com este nome, um Espírito se apresentou espontaneamente ao médium.
1. - Arrependei-vos das vossas faltas? - R. Não. - P. Então por que me procurais? - R. Para experimentar. - P. Acaso não sois feliz? - R. Não. - P. Sofreis? - R. Não. - P. Que vos falta, pois? - R. A paz.
Nota - Sob este nome, um Espírito se apresenta espontaneamente ao médium, habituado a este gênero de manifestações, pois sua missão parece ser a de assistir os Espíritos inferiores que o seu guia espiritual lhe conduz, no duplo propósito da sua própria instrução e do progresso deles.
- P. Quem sois? Este nome é de homem ou de mulher? - R. De homem, e tão infeliz quanto possível. Sofro todos os tormentos do inferno.
- P. Mas se o inferno não existe, como podeis sofrer-lhe as torturas? - R. Pergunta inútil. - P. Compreendo, mas outros precisam de explicações... - R. Isso pouco me incomoda.
- P. O egoísmo não será uma das causas do vosso sofrimento? - R. Pode ser.
- P. Se quiserdes ser aliviado, começai repudiando as más tendências ... - R. Não te incomodes com o que não é da tua conta; principia orando por mim, como praticas com os outros, e depois veremos.
- P. A não me auxiliardes com o vosso arrependimento, a prece pouco valor poderá ter. - R. Mas falando, em vez de orares, menos ainda me adiantarás.
- P. Então desejais adiantar-vos? - R. Talvez... não sei. Vejamos o essencial, isto é, se a prece alivia os sofrimentos.
- P. Unamos então os nossos pensamentos com a firme vontade de obter o vosso alívio. - R. Vá lá.
- P. (Depois da prece.) Estais satisfeito? - R. Não como fora para desejar.
- P. Mas o remédio, aplicado pela primeira vez, não pode curar imediatamente um mal antigo... - R. É possível...
- P. Quereis voltar? - R. Se me chamares...
O guia da médium. - Filha, terás muito trabalho com este Espírito endurecido, mas o maior mérito não advém de salvar os não perdidos. Coragem, perseverança, e triunfarás afinal. Não há culpados que se não possam regenerar por meio da persuasão e do exemplo, visto como os Espíritos, por mais perversos, acabam por corrigir- se com o tempo. O fato de muitas vezes ser impossível regenerá-los prontamente, não importa na inutilidade de tais esforços. Mesmo a contragosto, as idéias sugeridas a tais Espíritos fazem-nos refletir. São como sementes que, cedo ou tarde, tivessem de frutificar. Não se arrebenta a pedra com a primeira marretada.
Isto que te digo pode aplicar-se também aos encarnados e tu deves compreender a razão por que o Espiritismo não faz imediatamente homens perfeitos, mesmo entre os adeptos mais crentes.
A crença é o primeiro passo; vindo em seguida a fé e a transformação a seu turno; mas, além disso, força é que muitos venham revigorar-se no mundo espiritual.
Entre os Espíritos endurecidos, não há só perversos e maus. Grande é o número dos que, sem fazer o mal, estacionam por orgulho, indiferença ou apatia. Estes, nem por isso, são menos infelizes, pois tanto mais os aflige a inércia quanto mais se vêem privados das mundanas compensações.
Intolerável, por certo, se lhes torna a perspectiva do infinito, porém eles não têm nem a força nem a vontade para romper com essa situação. Referimo-nos a esses indivíduos que levam uma existência ociosa, inútil a si como ao próximo, acabando muita vez no suicídio, sem motivos sérios, por aborrecimento da vida.
Em regra, tais Espíritos são menos passíveis de imediata regeneração, do que os positivamente maus, visto como estes ao menos dispõem de energia, e, uma vez doutrinados, votam-se ao bem com o mesmo ardor que lhes inspirava o mal.
Aos outros, muitas encarnações se fazem precisas para que progridam, e isto pouco a pouco, domados pelo tédio, procurando, para se distraírem, qualquer ocupação que mais tarde venha transformar-se em necessidade.

sábado, 6 de julho de 2013

Conhecendo o Livro " O Céu e o Inferno " Suicidas- Parte 9

ANTOINE BELL

Era o caixa de uma casa bancária do Canadá e suicidou-se a 28 de fevereiro de 1865. Um dos nossos correspondentes, médico e farmacêutico residente na mesma cidade, deu-nos dele as informações que se seguem:
"Conhecia-o, havia perto de 20 anos, como homem pacato e chefe de numerosa família. De tempos a certa parte imaginou ter comprado um tóxico na minha farmácia, servindo-se dele para envenenar alguém. Muitas vezes vinha suplicar-me para lhe dizer a época de tal compra, tomado então de alucinações terríveis. Perdia o sono, lamentava-se, batia nos peitos. A família vivia em constante ansiedade das 4 da tarde às 9 da manhã, hora esta em que se dirigia para a casa bancária, onde, aliás, escriturava os seus livros com muita regularidade, sem que jamais cometesse um só erro. Habitualmente dizia sentir dentro de si um ente que o fazia desempenhar com acerto e ordem a sua contabilidade. Quando se afigurava convencido da extravagância das suas idéias, exclamava: - "Não; não; quereis iludir-me... lembro-me... é a verdade..."
A pedido desse amigo, foi ele evocado em Paris, a 17 de abril de 1865.
1. - Evocação. - R. Que pretendeis de mim? Sujeitar-me a um interrogatório? É inútil, tudo confessarei.
2. - Bem longe de nós o pensamento de vos afligir com perguntas indiscretas; desejamos saber apenas qual a vossa posição nesse mundo, bem como se poderemos ser-vos úteis... - R. Ah! Se for possível, ser-vos-ei extremamente grato. Tenho horror ao meu crime e sou muito infeliz!
3. - Temos a esperança de que as nossas preces atenuarão as vossas penas. Afigura-se-nos que vos achais em boas condições, visto como o arrependimento já vos assedia o coração - o que constitui um começo de reabilitação. Deus, infinitamente misericordioso, sempre tem piedade do pecador arrependido. Orai conosco. (Faz-se a prece pelos suicidas, a qual se encontra em O Evangelho segundo o Espiritismo.)
Agora, tende a bondade de nos dizer de quais crimes vos reconheceis culpado. Tal confissão, humildemente feita, ser-vos-á favorável.
- R. Deixai primeiro que vos agradeça por esta esperança que fizestes ralar no meu coração. Oh! há já bastante tempo que vivia numa cidade banhada pelo Mediterrâneo. Amava, então, uma bela moça que me correspondia; mas, pelo fato de ser pobre, fui repelido pela família. A minha eleita participou-me que desposaria o filho de um negociante cujas transações se estendiam para além de dois mares, e assim fui eu desprezado. Louco de dor, resolvi acabar com a vida, não sem deixar de assassinar o detestado rival, saciando o meu desejo de vingança. Repugnando-me os meios violentos, horrorizava-me a perpetração do crime, porém o meu ciúme a tudo sobrepujou. Na véspera do casamento, morria o meu rival envenenado, pelo meio que me pareceu mais fácil. Eis como se explicam as reminiscências do passado... Sim, eu já reencarnei, e preciso é que reencarne ainda... Oh! meu Deus, tende piedade das minhas lágrimas e da minha fraqueza!
4. - Deploramos essa infelicidade que retardou vosso progresso e sinceramente vos lamentamos; dado, porém, que vos arrependais, Deus se compadecerá de vós. Dizei-nos se chegastes a executar o vosso projeto de suicídio...
- R. Não; e confesso, para vergonha minha, que a esperança se me desabrochou novamente no coração, com o desejo de me aproveitar do crime já cometido. Traíram-me, porém, os remorsos e acabei por expiar, no último suplício, aquele meu desvario: enforquei-me.
5. - Na vossa última encarnação tínheis a consciência do mal praticado na penúltima?
- R. Nos últimos anos somente, e eis como: - eu era bom por natureza, e, depois de submetido, como todos os homicidas, ao tormento da visão perseverante da vítima, que me perseguia qual vivo remorso, dela me descartei depois de muitos anos, pelo meu arrependimento e pelas minhas preces. Recomecei outra existência - a última -que atravessei calmo e tímido. Tinha em mim como que vaga intuição da minha inata fraqueza, bem como da culpa anterior, cuja lembrança em estado latente conservara.
Mas um Espírito obsessor e vingativo, que não era outro senão o pai da minha vítima, facilmente se apoderou de mim e fez reviver no meu coração, como em mágico espelho, as lembranças do passado.
Alternadamente influenciado por ele e por meu gula, que me protegia, eu era o envenenador e ao mesmo tempo o pai de família angariando pelo trabalho o sustento dos filhos. Fascinado por esse demônio obsessor, deixei-me arrastar para o suicídio. Sou muito culpado realmente, porém menos do que se deliberasse por mim mesmo. Os suicidas da minha categoria, incapazes por sua fraqueza de resistir aos obsessores, são menos culpados e menos punidos do que os que abandonam a vida por efeito exclusivo da própria vontade.
Orai comigo para que o Espírito que tão fatalmente me obsidiou renuncie à sua vingança, e orai por mim para que adquira a energia, a força necessária para não ceder à prova do suicídio voluntário, prova a que serei submetido, dizem-me, na próxima encarnação.
Ao guia do médium: - Um Espírito obsessor pode, realmente, levar o obsidiado ao suicídio?
- R. Certamente, pois a obsessão que, de si mesma, é já um gênero de provação, pode revestir todas as formas. Mas isso não quer dizer isenção de culpabilidade. O homem dispõe sempre do seu livre-arbítrio e, conseguintemente, está em si o ceder ou resistir às sugestões a que o submetem.
Assim é que, sucumbindo, o faz sempre por assentimento da sua vontade. Quanto ao mais, o Espírito tem razão dizendo que a ação instigada por outrem é menos culposa e repreensível, do que quando voluntariamente cometida. Contudo, nem por isso se inocenta de culpa, visto como, afastando-se do caminho reto, mostra que o bem ainda não está vinculado ao seu coração.
6. - Como, apesar da prece e do arrependimento terem libertado esse Espírito da visão tormentosa da sua vitima, pôde ele ser atingido pela vingança de um obsessor na última encarnação?
- R. O arrependimento, bem o sabeis, é apenas a preliminar indispensável à reabilitação, mas não é o bastante para libertar o culpado de todas as penas. Deus não se contenta com promessas, sendo preciso a prova, por atos, do retorno ao bom caminho. Eis por que o Espírito é submetido a novas provações que o fortalecem, resultando-lhe um merecimento ainda maior quando delas sai triunfante.
O Espírito só arrosta com a perseguição dos maus, dos obsessores, enquanto estes o não encontram assaz forte para resistir-lhes. Encontrando resistência, eles o abandonam, certos da inutilidade dos seus esforços.
    Nota - Estes dois últimos exemplos mostram-nos a renovação da mesma prova em sucessivas encarnações, e por tanto tempo quanto o da sua ineficácia. Antoine BeIl patenteia-nos, enfim, o fato muito instrutivo do homem perseguido pela lembrança de um crime cometido em anterior existência, qual um remorso e um aviso. Vemos ainda por aí que todas as existências são solidárias entre si; que a justiça e bondade divinas se ostentam na faculdade ao homem conferida de progredir gradualmente, sem jamais privá-lo do resgate das faltas; que o culpado é punido pela própria falta, sendo essa punição, em vez de uma vingança de Deus, o meio empregado para fazê-lo progredir.

sábado, 25 de maio de 2013

Conhecendo o livro O Céu e o Inferno " Suicidas" parte 8

FÉLICIEN

Era um homem rico, instruído, poeta de espírito, possuidor de caráter são, obsequioso e ameno, de perfeita honradez.
Falsas especulações comprometeram-lhe a fortuna, e, não lhe sendo possível repará-la em razão da idade avançada, cedeu ao desânimo, enforcando-se em dezembro de 1864, no seu quarto de dormir.
Não era materialista nem ateu, mas um homem de gênio um tanto superficial, ligando pouca importância ao problema da vida de além-túmulo. Conhecendo-o intimamente, evocamo-lo, quatro meses após o suicídio, inspirados pela simpatia que lhe dedicávamos.
Evocação. - Choro a Terra na qual tive decepções, porém menores do que as experimentadas aqui. Eu, que sonhava maravilhas, estou abaixo da realidade do meu ideal. O mundo dos Espíritos é bastante promíscuo, e para torná-lo suportável fora mister uma boa triagem. Custa-me a crer. Que esboço de costumes espíritas se poderia fazer aqui! O próprio Balzac, estando no seu elemento, não faria tal esboço senão de modo rústico. Não o lobriguei, porém... Onde estarão esses grandes Espíritos que tão energicamente profligaram os vícios da Humanidade! Deviam eles, como eu, habitar por aqui antes de se alçarem a regiões mais elevadas. Apraz-me observar este curioso pandemônio, e assim fico por aqui.
    Nota - Apesar de o Espírito nos declarar que se acha numa sociedade assaz promíscua e, por conseguinte, de Espíritos inferiores, surpreendeu-nos a sua linguagem, dado o gênero de morte, ao qual, aliás, não faz qualquer referência. A não ser isso, tudo mais refletiu seu caráter. Tal circunstância deixava-nos em dúvida sobre a identidade.
- P. Tende a bondade de nos dizer como morrestes... - R. Como morri? Pela morte por mim escolhida, a que mais me agradou, sendo para notar que meditei muito tempo nessa escolha com o intuito de me desembaraçar da vida. Apesar disso, confesso que não ganhei grande coisa: - libertei-me dos cuidados materiais, porém, para encontrá-los mais graves e penosos na condição de Espírito, da qual nem sequer prevejo o termo.
- P. (ao guia do médium). O Espírito em comunicação será efetivamente o de Félicien? Esta linguagem, quase despreocupada, torna-se suspeita em se tratando de um suicida...
- R. Sim. Entretanto, por um sentimento justificável na sua posição, ele não queria revelar ao médium o seu gênero de morte. Foi por isso que dissimulou a frase, acabando no entanto por confessá-lo diante da pergunta direta que lhe fizestes, e não sem angústias. O suicídio fá-lo sofrer muito, e por isso desvia, o mais possível, tudo o que lhe recorde o seu fim funesto.
- P. (ao Espírito). A vossa desencarnação tanto mais nos comoveu, quanto lhe prevíamos as tristes conseqüências, além da estima e intimidade das nossas relações. Pessoalmente, não me esqueci do quanto éreis obsequioso e bom para comigo. Seria feliz se pudesse testemunhar-vos a minha gratidão, fazendo algo de útil para vós.
- R. Entretanto, eu não podia furtar-me de outro modo aos embaraços da minha posição material. Agora, só tenho necessidade de preces; orai, principalmente, para que me veja livre desses hórridos companheiros que aqui estão junto de mim, obsidiando-me com gritos, sorrisos e infernais motejos. Eles chamam-me covarde, e com razão, porque é covardia renunciar à vida. É a quarta vez que sucumbo a essa provação, não obstante a formal promessa de não falir... Fatalidade!... Ah! Orai... Que suplício o meu! Quanto sou desgraçado! Orando, fazeis por mim mais que por vós pude fazer quando na Terra; mas a prova, ante a qual fracassei tantas vezes, aí está retraçada, indelével, diante de mim! E preciso tentá-la novamente, em dado tempo... Terei forças? Ah! recomeçar a vida tantas vezes; lutar por tanto tempo para sucumbir aos acontecimentos, é desesperador, mesmo aqui! Eis por que tenho carência de força. Dizem que podemos obtê-la pela prece... Orai por mim, que eu quero orar também.
    Nota - Este caso particular de suicídio, posto que realizado em circunstâncias vulgares, apresenta uma feição especial. Ele mostra-nos um Espírito que sucumbiu muitas vezes à provação, que se renova a cada existência e que renovará até que ele tenha forças para resistir.
    Assim se confirma o fato de não haver proveito no sofrimento, sempre que deixamos de atingir o fim da encarnação, sendo preciso recomeçá-la até que saiamos vitoriosos da campanha.
Ao Espírito do Sr. Félicien. - Ouvi, eu vo-lo peço, ouvi e meditai sobre as minhas palavras. O que denominais fatalidade é apenas a vossa fraqueza, pois se a fatalidade existisse o homem deixaria de ser responsável pelos seus atos. O homem é sempre livre, e nessa liberdade está o seu maior e mais belo privilégio. Deus não quis fazer dele um autômato obediente e cego, e, se essa liberdade o torna falível, também o torna perfectível, sem o que somente pela perfeição poderá atingir a suprema felicidade. O orgulho somente pode levar o homem a atribuir ao destino as suas infelicidades terrenas, quando a verdade é que tais infelicidades promanam da sua própria incúria. Tendes disso um exemplo bem patente na vossa última encarnação, pois tínheis tudo que se fazia preciso à felicidade humana, na Terra: espírito, talento, fortuna, merecida consideração; nada de vícios ruinosos, mas, ao contrário, apreciáveis qualidades... Como, no entanto, ficou tão comprometida a vossa posição? Unicamente pela vossa imprevidência. Haveis de convir que, agindo com mais prudência, contentando-vos com o muito que já vos coubera, antes que procurando aumentá-lo sem necessidade, a ruína não sobreviria. Não havia nisso nenhuma fatalidade, uma vez que podíeis ter evitado tal acontecimento. A vossa provação consistia num encadeamento de circunstâncias que vos deveriam dar, não a necessidade, mas a tentação do suicídio; desgraçadamente, apesar do vosso talento e instrução, não soubestes dominar essas circunstâncias e sofreis agora as conseqüências da vossa fraqueza.
Essa prova, tal como pressentis com razão, deve renovar-se ainda; na vossa próxima encarnação tereis de enfrentar acontecimentos que vos sugerirão a idéia do suicídio, e sempre assim acontecerá até que de todo tenhais triunfado.
Longe de acusar a sorte, que é a vossa própria obra, admirai a bondade de Deus, que, em vez de condenar irremissivelmente pela primeira falta, oferece sempre os meios de repará-la.
Assim, sofrereis, não eternamente, mas por tanto tempo quanto reincidirdes no erro. De vós depende, no estado espiritual, tomar a resolução bastante enérgica de manifestar a Deus um sincero arrependimento, solicitando instantemente o apoio dos bons Espíritos. Voltareis então à Terra, blindado na resistência a todas as tentações Uma vez alcançada essa vitória, caminhareis na via da felicidade com mais rapidez, visto que sob outros aspectos o vosso progresso é já considerável. Como vedes, há ainda um passo a franquear, para o qual vos auxiliaremos com as nossas preces. Estas só serão improfícuas se nos não secundardes com os vossos esforços.
- R. Oh! obrigado! Oh! obrigado por tão boas exortações. Delas tenho tanto maior necessidade, quanto sou mais desgraçado do que demonstrava. Vou aproveitá-las, garanto, no preparo da próxima encarnação, durante a qual farei todo o possível por não sucumbir. Já me custa suportar o meio ignóbil do meu exílio. Félicien.

domingo, 5 de maio de 2013

Conhecendo o Livro Céu e o Inferno - Suicidas -Parte 7-Um Ateu

UM ATEU

M.J.-B.D... era um homem instruído, mas em extremo saturado de idéias materialistas, não acreditando em Deus nem na existência da alma. A pedido de um parente, foi evocado dois anos depois de desencarnado, na Sociedade Espírita de Paris.
1. - Evocação. - R. Sofro. Sou um réprobo.
2. - Fomos levados a evocar-vos em nome de parentes que, como tais, desejam conhecer da vossa sorte. Podereis dizer-nos se esta nossa evocação vos é penosa ou agradável? - R. Penosa.
3. - A vossa morte foi voluntária? - R. Sim. Nota - O Espírito escreve com extrema dificuldade. A letra é grossa, irregular, convulsa e quase ininteligível. Ao terminar a escrita encoleriza-se, quebra o lápis e rasga o papel.
4. - Tende calma, que nós todos pediremos a Deus por vós. - R. Sou forçado a crer nesse Deus.
5. - Que motivo poderia ter-vos levado ao suicídio? - R. O tédio de uma vida sem esperança.
    Nota - Concebe-se o suicídio quando a vida é sem esperança; procura-se então fugir-lhe a qualquer preço. Com o Espiritismo, ao contrário, a esperança fortalece-se porque o futuro se nos desdobra. O suicídio deixa de ser objetivo, uma vez reconhecido que apenas se isenta a gente do mal para arrostar com um mal cem vezes pior. Eis por que o Espiritismo tem seqüestrado muita gente a uma morte voluntária. Grandemente culpados são os que se esforçam por acreditar, com sofismas científicos e a pretexto de uma falsa razão, nessa idéia desesperadora, fonte de tantos crimes e males, de que tudo acaba com a vida. Esses serão responsáveis não só pelos próprios erros, como igualmente por todos os males a que os mesmos derem causa.
6. - Quisestes escapar às vicissitudes da vida... Adiantastes alguma coisa? Sois agora mais feliz? - R. Por que não existe o nada?
7. - Tende a bondade de nos descrever do melhor modo possível a vossa atual situação. - R. Sofro pelo constrangimento em que estou de crer em tudo quanto negava. Meu Espírito está como num braseiro, horrivelmente atormentado.
8. - Donde provinham as vossas idéias materialistas de outrora? - R. Em anterior encarnação eu fora mau e por isso condenei-me na seguinte aos tormentos da incerteza, e assim foi que me suicidei.
    Nota - Aqui há todo um corolário de idéias. Muitas vezes nos perguntamos como pode haver materialistas quando, tendo eles passado pelo mundo espiritual, deveriam ter do mesmo a intuição; ora, é precisamente essa intuição que é recusada a alguns Espíritos que, conservando o orgulho, não se arrependeram das suas faltas. Para esses tais, a prova consiste na aquisição, durante a vida corporal e à custa do próprio raciocínio, da prova da existência de Deus e da vida futura que têm, por assim dizer, incessantemente sob os olhos. Muitas vezes, porém, a presunção de nada admitir, acima de si, os empolga e absorve. Assim, sofrem eles a pena até que, domado o orgulho, se rendem à evidência.
9. - Quando vos afogastes, que idéias tínheis das conseqüências? Que reflexões fizestes nesse momento? - R. Nenhuma, pois tudo era o nada para mim. Depois é que vi que, tendo cumprido toda a sentença, teria de sofrer mais ainda.
10. - Estais bem convencido agora da existência de Deus, da alma e da vida futura? - R. Ah! Tudo isso muito me atormenta!
11. - Tornastes a ver vosso irmão? - R. Oh! não.
12. - E por que não? - R. Para que confundir os nossos desesperos? Exila-se a gente na desgraça e na ventura se reúne, eis o que é.
13. - Incomodar-vos-ia a presença de vosso irmão, que poderíamos atrair aí para junto de vós? - R. Não o façais, que o não mereço.
14. - Por que vos opondes? - R. Porque ele também não é feliz.
15. - Receais a sua presença, e no entanto ela só poderia ser benéfica para vós. - R. Não; mais tarde...
16. - Tendes algum recado para os vossos parentes? - R. Que orem por mim.
17. - Parece que na roda das vossas relações há quem partilhe das vossas opiniões. Quereis que lhes digamos algo a respeito? - R. Oh! os desgraçados! Assim possam eles crer em outra existência, eis quanto lhes posso desejar. Se eles pudessem avaliar a minha triste posição, muito refletiriam.
(Evocação de um irmão do precedente, que professava as mesmas teorias, mas que não se suicidou. Posto que também infeliz, este se apresenta mais calmo; a sua escrita é clara e legível.)
18. - Evocação. - R. Possa o quadro dos nossos sofrimentos ser útil lição, persuadindo-vos da realidade de uma outra existência, na qual se expiam as faltas oriundas da incredulidade.
19. - Vós, e vosso irmão que acabamos de evocar, vos vedes reciprocamente? -R. Não; ele me foge.
    Nota - Poder-se-ia perguntar como é que os Espíritos se podem evitar no mundo espiritual, uma vez que aí não existem obstáculos materiais nem refúgios impenetráveis à vista. Tudo é, porém, relativo nesse mundo e conforme a natureza fluídica dos seres que o habitam. Só os Espíritos superiores têm percepções indefinidas, que nos inferiores são limitadas. Para estes, os obstáculos fluídicos equivalem a obstáculos materiais. Os Espíritos furtam-se às vistas dos semelhantes por efeito volitivo, que atua sobre o envoltório perispiritual e fluidos ambientes. A Providência, porém, qual mãe, por todos os seus filhos vela, e por intermédio dos mesmos, individualmente, lhes concede ou nega essa faculdade, conforme as suas disposições morais, o que constitui, conforme as circunstâncias, um castigo ou uma recompensa.
20. - Estais mais calmo do que vosso irmão. Podereis dar-nos uma descrição mais precisa dos vossos sofrimentos? - R. Não sofreis aí na Terra no vosso orgulho, no vosso amor-próprio, quando obrigados a reconhecer os vossos erros?
"O vosso Espírito não se revolta com a idéia de vos humilhardes a quem vos demonstre o vosso erro? Pois bem! Julgai quanto deve sofrer o Espírito que durante toda a sua vida se persuadiu de que nada existia além dele, e que sobre todos prevalecia sempre a sua razão. Encontrando-se de súbito em face da verdade imponente, esse Espírito sente-se aniquilado, humilhado. A isso vem ainda juntar-se o remorso de haver por tanto tempo esquecido a existência de um Deus tão bom, tão indulgente. A situação é insuportável; não há calma nem repouso; não se encontra um pouco de tranqüilidade senão no momento em que a graça divina, isto é, o amor de Deus, nos toca, pois o orgulho de tal modo se apossa de nós, que de todo nos embota, a ponto de ser preciso ainda muito tempo para que nos despojemos completamente dessa roupagem fatal. Só a prece dos nossos irmãos pode ajudar-nos nesses transes.
21. - Quereis falar dos irmãos encarnados, ou dos Espíritos? - R. De uns como de outros.
22. - Enquanto nos entretínhamos com o vosso irmão, uma das pessoas aqui presentes orou por ele: - essa prece lhe foi proveitosa? - R. Ela não se perderá. Se ele agora recusa a graça, outro tanto não fará quando estiver em condições de recorrer a essa divina panacéia.
    Nota - Aqui lobrigamos um outro gênero de castigo, mas que não é o mesmo em todos os cépticos. Para este Espírito, é independente do sofrimento a necessidade de reconhecer verdades que repudiara quando encarnado. As suas idéias atuais revelam certo grau de adiantamento, comparativamente às de outros Espíritos persistentes na negação de Deus. Confessar o próprio erro é já alguma coisa, porque é premissa de humildade. Na subseqüente encarnação é mais que provável que a incredulidade ceda lugar ao sentimento inato da fé.
Transmitindo a resultante destas duas evocações à pessoa que no-las havia solicitado, tivemos dela a seguinte resposta:
"Não podeis imaginar, meu caro senhor, o grande benefício advindo da evocação de meu sogro e de meu tio. Reconhecemo-los perfeitamente. A letra do primeiro, sobretudo, é de uma analogia notável com a que ele tinha em vida, tanto mais quanto, durante os últimos meses que conosco passou, essa letra era sofreada e in-decifrável. Aí se verificam a mesma forma de pernas, da rubrica e de certas letras. Quanto ao vocabulário e ao estilo, a semelhança é ainda mais frisante; para nós, a analogia é completa, apenas com maior conhecimento de Deus, da alma e da eternidade que ele tão formalmente negava outrora. Não nos restam dúvidas, portanto, sobre a sua identidade. Deus será glorificado pela maior firmeza das nossas crenças no Espiritismo, e os nossos irmãos encarnados e desencarnados se tornarão melhores. A identidade de seu irmão também não é menos evidente; na mudança de ateu em crente, reconhecemos-lhe o caráter, o estilo, o contorno da frase. Uma palavra, sobre todas, nos despertou atenção - panacéia - sua frase predileta, a todo instante repetida.
"Mostrei essas duas comunicações a várias pessoas, que não menos se admiraram da sua veracidade, mas os incrédulos, com as mesmas opiniões dos meus parentes, esses desejariam respostas ainda mais categóricas.
"Queriam, por exemplo, que M. D... se referisse ao lugar em que foi enterrado, onde se afogou, como foi encontrado, etc. A fim de os convencer, não vos seria possível fazer nova evocação perguntando onde e como se suicidou, quanto tempo esteve submergido, em que lugar acharam o cadáver, onde foi inumado, de que modo, se civil ou religiosamente, foi sepultado? Dignai-vos, caro senhor, insistir pela resposta categórica a essas perguntas, pois são essenciais para os que ainda duvidam. Estou convencido de que darão, nesse caso, imensos resultados.
"Dou-me pressa a fim de esta vos ser entregue na sexta-feira de manhã, de modo a poder fazer-se a evocação na sessão da Sociedade desse mesmo dia... etc."
Reproduzimos esta carta pelo fato da confirmação da identidade e aqui lhe anexamos a nossa resposta para ensino das pessoas não familiarizadas com as comunicações de além-túmulo.
"As perguntas que nos pediram para novamente endereçar ao Espírito de vosso sogro, são, incontestavelmente, ditadas por intenção louvável, qual a de convencer incrédulos, visto como em vós não mais existe qualquer sentimento de dúvida ou curiosidade. Contudo, um conhecimento mais aprofundado da ciência espírita vos faria julgar supérfluas essas perguntas. Em primeiro lugar, solicitando-me conseguir resposta categórica, mostrais ignorar a circunstância de não podermos governar os Espíritos, a nosso talante. Ficai sabendo que eles nos respondem quando e como querem, e também como podem. A liberdade da sua ação é maior ainda do que quando encarnados, possuindo meios mais eficazes de se furtarem ao constrangimento moral que por acaso sobre eles queiramos exercer. As melhores provas de identidade são as que fornecem espontaneamente, por si mesmos, ou então as oriundas das próprias circunstâncias. Estas, é quase sempre inútil provocá-las. Segundo afirmais, o vosso parente provou a sua identidade de modo inconcusso; por conseguinte, é mais que provável a sua recusa em responder a perguntas que podem por ele ser com razão consideradas supérfluas, visando satisfazer à curiosidade de pessoas que lhe são indiferentes. A resposta bem poderia ser a que outros têm dado em casos semelhantes, isto é: - "para que perguntar coisas que já sabeis?"
"A isto acrescentarei que a perturbação e sofrimentos que o assoberbam devem agravar-se com as investigações desse gênero, que correspondem perfeitamente a querer constranger um doente, que mal pode pensar e falar, a historiar as minúcias da sua vida, faltando-se assim às considerações inspiradas pelo seu próprio estado.
"Quanto ao objetivo por vós alegado, ficai certo de que tudo seria negativo. As provas de identidade fornecidas são bem mais valiosas, por isso que foram espontâneas, e não de antemão premeditadas. Ora, se estas não puderam contentar os incrédulos, muito menos o fariam interrogativas já preestabelecidas, de cuja conivência poderiam suspeitar.
"Há pessoas a quem coisa alguma pode convencer. Esses poderiam ver o vosso parente, com os próprios olhos, e continuariam a supor-se vítimas de uma alucinação.
"Duas palavras ainda, quanto ao pedido que me fizestes de promover essa evocação no mesmo dia do recebimento de vossa carta. As evocações não se fazem assim de momento; os Espíritos nem sempre correspondem ao nosso apelo; é preciso que queiram, e não só isso, mas que também possam fazê-lo. É preciso, ainda, que encontrem um médium que lhes convenha, com as aptidões especiais necessárias e que esse médium esteja disponível em dado momento. É preciso, enfim, que o meio lhes seja simpático, etc. Pela concorrência dessas circunstâncias nem sempre se pode responder, e importa muito conhecê-las quando se quer praticar com seriedade e segurança."