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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Evangelho em casa por Memei

quinta   reunião
Meimei
 
      
          No horário habitual do terceiro domingo de maio, Dona Zilda estava a postos na preparação do ambiente.
         Sobre a toalha, muito branca, que dava um tom de tranqüilidade e alegria ao aposento, achavam-se os livros e o jarro com água pura.
         Veloso e os filhinhos, juntamente de Marta, deram entrada no recinto.
         O grupo conversava, afetuosamente, mas o relógio lembrou-lhes a obrigação em pauta, badalando as seis da tarde.
 
PRECE INICIAL
 
         O mentor do conjunto orou, reverentemente:
 
         -Senhor Jesus; deste-nos vida dinâmica, para que seja naturalmente vivida. Movimenta-se nosso corpo, o tempo avança e a evolução caminha.
         Ajuda-nos, Senhor, para que a nossa fé também ande, a expressar-se em ação permanente no bem.
         A ti, Excelso Benfeitor, que traduziste confiança no Pai, em amor aos semelhantes, encomendamos a nossa aspiração de servir. Assim seja.
 
LEITURA
 
         Efetuada a oração de início, Veloso entregou o Novo Testamento às mãos de Marta, que o abriu, cuidadosamente, devolvendo-o ao orientador, que se deteve, conforme de hábito, no exame dos textos, passando a ler o versículo 12, do capítulo 15, nas Anotações do Apóstolo João: “O meu mandamento é este – que vos ameis uns aos outros, assim como vos amei”.
         Completando-se a preparação do comentário, Cláudio foi indicado para consultar a lição de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
         Aberto o volume e entregue a Dona Zilda, por recomendação de Veloso, a mãezinha, satisfeita, leu comovente a mensagem de Vicente de Paulo, em torno da caridade, inserta no capítulo XIII, entre as “Instruções dos Espíritos”.
 
COMENTÁRIO
 
         Finda a leitura, o orientador falou com segurança:
         -temos hoje um dos mais belos temas do Cristianismo – a caridade. Tão belo que Allan Kardec o inscreveu por senha no portal de seus princípios; “Fora da Caridade não há salvação”.
         É que a caridade é o próprio amor que o Mestre nos legou.
         E o amor do Cristo é luz que se estende a todos.
         Não apenas devoção afetiva aos que nos comungam a experiência do lar, mas devotamente fraternal a todas as criaturas.
         Seja onde for que surja a necessidade, os prestações de serviço são nossos simples deveres.
         A provação dos outros vale para nós como escola bendita, em que aprendamos igualmente a sofrer.
         Educandários diversos são mantidos para que adquiramos determinados conhecimentos.
         A química e a física, o idioma e a história pedem professores especiais.
         A experiência do cérebro exige a formação de vastos programas de ensino.
         O coração, ou melhor, o sentimento reclama o serviço do bem para instruir-me. E nenhuma instrutora mais eficiente que a caridade para infundirmos entendimento.
         A mão que se alonga para pedir-nos o necessário é uma oportunidade para que exerçamos o bem, mas constitui igualmente silenciosa acusação contra o egoísmo, na retenção do supérfluo.
         Contemplando infelizes crianças que não dispõem do agasalho e do pão com que se mantenham, somos espontaneamente forçados a situar-nos em lugar deles.
         A falta de trabalho remunerado, a moléstia insidiosa, a dificuldade maior em família e o fogão sem lume podem ser amanhã infortúnio igualmente nosso. Em razão disso, pelo menos ceder o que nos sobra, a benefício daqueles que carecem do essencial, é tarefa que se nos impõe à consciência.
         Entretanto, não é somente nos atos exteriores que a virtude sublime transparece para a edificação moral da Humanidade.
         A caridade é também atitude do coração nos menores gestos.
         Quantas vezes perdemos o governo de nós próprios, confiando-nos à irritação e à discórdia!...
         Nesses instantes, ficamos sempre entregues à compaixão dos que nos observam.
         Reparando nossos erros e identificando a necessidade de sermos perdoados, sentimos de perto como se faz imperioso o culto incessante da caridade em nossas relações uns com os outros.
         Olvidar as ofensas de que sejamos vítimas, não somente com os lábios, mas com todo o nosso coração, reconhecendo que poderíamos ter sido os ofensores, é manifestação de amor puro.
         Calar as imperfeições alheias entendendo que possuímos também as nossas, é ajudar nas situações mais difíceis, ainda mesmo despertando a calúnia contra nós, é começar a viver a fraternidade sem mácula.
         Quantas pessoas desejariam ter sido retas e nobres!
         Quantas rogam a Deus forças para que saiam do campo de sombra em que aprisionam por falta de vigilância!...
         Muitas delas estimariam pronunciar as palavras mais afáveis e mais doces, entretanto, o sentimento mal conduzido indu-las a falar, desajeitadamente.
         Se o papai chega do serviço, mostrando fatigado, é indispensável saibamos entender-lhe a necessidade de repouso, cessando o falatório ou o barulho. Se a refeição não apresenta os pratos de nossa preferência, se o café não nos satisfaz, é preciso aprender a sorrir, esquecendo os nossos caprichos e agradecendo às mãos que no-los preparam.
         Lina – (Fitando brejeiramente o irmão) – Ainda contem, quando o gatinho vomitou na sala, Cláudio agastou-se com Marta para tardar na limpeza, gritando palavras feias...
         CLÁUDIO – Ora essa! Eu queria o asseio...
         LINA – Mas, se Cláudio fosse caridoso, não precisava ter reclamado o serviço de Marta, não é mãezinha?
         D. ZILDA – O serviço em casa é de todos.
         VELOSO – Diga, pois, minha filha, que, se exercermos a caridade mútua, não reclamaremos de ninguém esse ou aquele trabalho. Se você viu a necessidade de higiene na sala, e ficou a esperar por Marta, a sua atitude não foi recomendável. Afirma você que Cláudio foi indelicado, mas, você, que via o quadro de serviço, poderia também ter sido caridosa com Marta, diminuindo-lhe a carga de trabalho, e para com Cláudio, ensinando-o como se deve agir.
         MARTA – (Sorrindo); – Reconheço-me culpada; entretanto, estava preparando bolos na cozinha, e o azeite a ferver não me deixava arredar o pé.
         D. ZILDA – Marta, você não precisa justificar-se.
         VELOSO – (Sorridente); – Não nos achamos num tribunal. Salientamos, apenas, o impositivo de sermos indulgentes, porquanto a caridade deve comparecer em tudo...
         CLÁUDIO – E quando Evandro e João, os meninos da vizinha, me atiram pedras?
         VELOSO – Meu filho, antes de qualquer reação, é imprescindível examine você a própria consciência, verificando se não existe alguma ofensa de sua parte a eles. Não se lembra de havê-los aborrecido? Responda sinceramente.
         CLÁUDIO – (Hesitante); – Bem, acheio-os tão miúdos e tão magros que lhes chamei, na escola, de “magricelas”.
         VELOSO – Alegro-me ao saber que você está falando a verdade, porque eu mesmo, há tempo, sem que me percebessem, observei que você os injuriava, de nossa janela. É muito raro, meu filho, haja persistência nesse ou naquele insulto, quando não o alimentamos, porquanto, se somos desconsiderados e perdoamos com toda a alma, a onda de crueldade ou de sombra não encontra combustível, acaba por si mesma.
         CLÁUDIO – Papai, e se eu não os tivesse ofendido e eles me apedrejassem mesmo assim?
         VELOSO – Nossa obrigação, meu filho, seria fazer silêncio e orar por eles, evitando qualquer ocasião de agravar o conflito. Pela oração, a bondade de Deis nos daria oportunidade de mostrar-lhes o nosso apreço.
         MARTA – Senhor Veloso, peço licença para contar aqui uma experiência sobre a oração. Nós temos uma vizinha. Dona Mercedes, que não conseguiu simpatizar comigo, desde a minha vinda para cá. Certa noite ouvi o senhor dizer a Dona Zilda que é caridade orar por aqueles que não nos estimam, a fim de que se faça harmonia entre eles e nós. Desde então, e isso faz muito tempo, comecei a lembrar-me de Dona Mercedes em minhas orações, rogando a Deus para que ela me perdoasse pela antipatia gratuita que eu lhe causava. Na ter-feira da semana passada, ela dirigiu-se a mim, perguntando se eu poderia auxilia-la na confecção do bolo de aniversário do Raulzinho, seu filho caçula. Muito contente, aceitei o convite e, com permissão de Dona Zilda, fui para a casa dela, durante a noite, e consegui armar o bolo e adorna-lo. Confesso ao senhor que fiz tudo com muita alegria e com muito carinho. Quando Dona Mercedes chegou à copa e notou o meu pequeno trabalho, ficou muito feliz e abraçou-me pela primeira vez. Desde esse dia, ela me cumprimenta, fitando-me nos olhos com muita bondade e, com grande surpresa para mim, deu-me uma linda colcha usada para minha cama.
         VELOSO – É uma experiência admirável, Marta. A oração dispõe e a caridade realiza. Como reconhecemos, é imprescindível cultivar a caridade com tudo, tudo...
         CLÁUDIO – Papai, o senhor disse “caridade para com tudo...” Como terei caridade para com uma xícara ou para com uma cadeira?
         VELOSO – Como não? Uma xícara ou uma cadeira manobradas com maldade pode fazer alvoroço e alvoroço em casa pode provocar enfermidade ou perturbação. A xícara serve-nos à mesa e deve ser lavada com cuidado. A cadeira serve-nos ao descanso e merece respeito.
         D. ZILDA – Meus filhos, o lar é a nossa primeira escola. Sem aprendermos aqui as lições da bondade, a se expressarem na paciência e na tolerância, no carinho e no entendimento que devemos aos que nos cercam, em vão ensinaremos, fora de nossa casa, qualquer virtude aos outros.
         VELOSO – E a todos nos cabe render graças a Deus por saber que é assim.
 
NOTA SEMANAL
 
            Veloso notificou que relataria um episódio edificante, sob o tema estudado, episódio esse que intitularia:
 
A BENFEITORA OCULTA
 
         Em grande cidade brasileira, Dona Rita Amaral, pobre viúva, mãe de dois meninos paralíticos, lavava roupa, a fim de ganhar o pão.
         Humilde e resignada, seu maior consolo era ouvir as lições do Evangelho, numa grande instituição espírita, responsável por vários serviços diários.
         Numa noite em que a abnegada irmã falara expressivamente quanto à assistência social, com alicerces na caridade pura, Dona Rita pediu avistar-se em particular com o diretor da organização.
         Conversaram ambos, longamente.
         Decorridos alguns dias, algo aconteceu no templo, chamando a atenção de todos.
         Os vasos sanitários daquela casa de socorro espiritual amanheciam brilhando.
         Todos os freqüentadores e visitantes se admiravam da limpeza sistemática e singular dos aludidos departamentos, o que perdurou por dezenove anos consecutivos, até que Dona Rita desencarnou.
         Foi então que o presidente do instituto, ao recordar0lhe a figura correta e simples, revelou que fora ela a benfeitora oculta da casa, efetuando-lhe as tarefas de higienização, sem qualquer pagamento, durante quase quatro lustros.
         Não lhe sendo possível colaborar com dinheiro, nas obras assistenciais da agremiação, oferecera-se para o asseio diário do edifício e, porque lhe não era possível comparecer durante o dia ao trabalho, à face dos deveres de mãe para com os filhinhos algemados ao catre, vinha, pontualmente, pela madrugada, atender ao serviço.
         O exemplo comoveu a todos e, ainda hoje, nos infunde a maior impressão.
 
ENCERRAMENTO
 
         Ante a quietude da pequena assembléia familiar, Veloso tomou a palavra e formulou a prece de encerramento:
 
         -Senhor Jesus; desejamos aprender a servir.
         Nos ensinam, Mestre, a procurar-te a presença divina no serviço de todos os dias! Entregamos-te, assim, as nossas vidas com os nossos sentimentos e idéias, com as nossas mãos e com as nossas possibilidades, rogando disponhas de nós, segundo a tua vontade. Assim seja.
 
*
         Logo após, Dona Zilda distribuiu a água fluidificada, entendendo-se com o pequeno grupo que conversava sobre a beleza das lições de Jesus.
         Lá fora, o céu noturno, resplendente de estrelas, parecia expressar à Humanidade um convite à paz e à ascensão, destacando-se entre as constelações o Cruzeiro do Sul no seu elevado simbolismo de libertação.
 
 
Da Obra “EVANGELHO EM CASA” – Espírito: MEIMEI –
Médium: FFRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Evangelho em Casa por Meimei

quarta  reunião
Meimei
 
      
     
         
         Naquele domingo, o segundo de maio, considerado Dia das Mães, o aposento mostrava-se adornado de flores.
         Quando Dona Zilda trouxe o jarro de água pura, sorriu imensamente feliz, percebendo que os filhos lhe haviam preparado afetuosa surpresa.
         No justo momento, Veloso penetrou no recinto, em companhia da sogra, Dona Rosália, senhora simples e amável, que abraçava os netos, Lina e Cláudio, a lhe apertarem as mãos.
         Marta compareceu logo após, e, fosse para agradar Dona Rosália ou para homenagear o Dia das Mães, Dona Júlia e Silvia entraram na sala, sendo recebidas com carinho e respeito.
 
PRECE INICIAL
 
            Vindo o silêncio, Veloso orou, sensibilizado:
 
         -Pai Celeste, nós te agradecemos a bênção do lar em que nos reúnes. Ensina-nos que ele não é apenas o retângulo de paredes que nos asila os corpos, mas o santuário que nos concedeste para aproximação de almas.
         Ajuda-nos, ó Deus de Infinita Bondade, a fim de que nossos olhos espirituais se mantenham abertos para as nossas responsabilidades em família, e aprendamos, assim, com a tua bênção, a amar-nos realmente uns aos outros. Assim seja.
 
LEITURA
 
         Terminada a oração, o chefe da casa passou o Novo Testamento a Dona Rosália, que o abriu, restituindo-o ao genro.
         Veloso fez minuciosa busca, à maneira de um examinador de pedras preciosas, procurando a mais bela, e, em seguida, leu o versículo 7, do capítulo 13, da Epístola do Apóstolo Paulo aos Romanos: “Portanto, daí a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra”.
         Completando a tarefa, como de hábito, o diretor do culto pediu à esposa trouxesse a estudo a parte de O Evangelho Segundo o Espiritismo, que deveria enriquecer as meditações daquela hora, e a lição extraída, ao acaso, foi a página intitulada “A Virtude”, de autoria do mensageiro Francisco Nicolau Madalena, entre as “Instruções dos espíritos”, no capítulo XVII.
 
COMENTÁRIO
 
         Falou, então, Veloso com inflexão de sentimento profundo:
         -Meus filhos; tenho hoje a minha garganta como que embargada de emoção.
         Nesta data, comemoramos o Dia das Mães.
         Diz-nos a Epístola, na palavra do Apóstolo Paulo, que nos cabe entregar a cada um aquilo que devemos e, no livro de Allan Kardec, encontramos formosa exortação à virtude.
         Lembro-me, assim, do débito irresgatável para com nossas mãezinhas, depositárias da virtude celeste. Sem elas, sem a coragem sublime com que nos acolhem nos braços, não teríamos passagem pela escola deste mundo.
         É preciso ser por si próprias dons inefáveis de Deus para suportarem os sacrifícios a que se impõem por nossa causa, em verdade, os corações maternos, para ver-nos felizes, não hesitaria em transformar-se no prato que nos alimenta, na veste nos que agasalha, nos brinquedos que nos alegram ou no leito que nos propicia repouso...
         Há preço, meus filhos, para todas as utilidades da vida, menos para o amor dos anjos maternais, que se entregam à morte, pouco a pouco, na intimidade do lar, para que possamos efetivamente viver.
         O dinheiro pode pagar o trabalho de todas as profissões conhecidas no mundo, menos o ofício das mães que se levantam com a luz da alvorada, a fim de que não nos falte pão à mesa, e que prolongam a vigília e o cansaço noite adentro, para que a enfermidade não nos domine e para que o rumor não nos perturbe o descanso...
         Em razão disso, nenhum de nós pode ou sabe recompensar-lhes o ministério que, à força de crescer em abnegação e ternura, se torna verdadeiramente divino.
         Louvaremos, pois, neste dia, essas heroínas obscuras que se escondem na luta doméstica, prometendo honrá-las o melhor que pudermos, não somente lhes cercando a presença com as flores de nosso carinho, mas também cumprindo, com lealdade, os nossos próprios deveres.
         Respeitando-as, a elas que exprimem com tanto brilho a Divina Bondade, cultivaremos no lar o primeiro campo de nossas obrigações. Sem que sejamos, ai, corretos e nobres, é impossível venhamos, algum dia, a ser corretos e nobres para com o mundo.
         Ninguém olvide que a nossa tranqüilidade e segurança, originariamente, são frutos do pesado labor de nossas mães, constantemente inclinadas à própria renunciação, a favor de nossa felicidade.
         Dir-se-ia que estão sempre dispostas a desaparecer para que nos mostremos, a se rebaixarem para que nos ergamos, a monopolizarem a dor ara que não nos escasseie alegria e também a morrer para que vivamos.
         Faremos, assim, do nosso culto de hoje uma oração gratuitória a Deus, nosso Pai Celestial, por nos haver concedido o tesouro da devoção materna neste mundo.
         E lembrar-nos-emos de todas as mães que peregrinam na Terra... Das que respiram sob dourados tetos, padecendo, quase sempre, a traição dos entes mais caros; das que se enfeitam de ouro e pérolas, trazendo, muitas vezes, o coração semelhante a uma concha de lágrimas a se lhes encravar no peito dorido; das que gemem, na soledade, sob trabalho rude, para que os filhos conquistem alimento e remédio, higiene e instrução; das que residem sob as arcadas de pontes abandonadas ou em sombrios recantos das vias públicas, estendendo as mãos à generosidade pública, a fim de que os rebentos do próprio seio não se extingam de fome; das que enlouqueceram de sofrimento no santuário doméstico, perante as cruzes que, em muitas ocasiões, esposos e filhos lhes algemem às costas, e daquelas que, soluçando, se apartaram dos filhos queridos para fia-los à cinza do túmulo... Todas são missionárias do Senhor, chorando e padecendo, servindo e amando.
         Recebam, por toda a parte, os nossos pensamentos de gratidão e carinho, e, porque não contamos com palavras adequadas à nossa necessidade de reconhecimento, peçamos à Mãe Santíssima – anjo guardião de Jesus – a todas envolva em seu manto constelado de virtudes excelsas para que nunca lhes faltem as bênçãos da paz e da alegria, seja onde for.
 
CONVERSAÇÃO
 
         Via-se que o orientador queria continuar e que a pequena assembléia desejava prosseguir ouvindo; no entanto, a emoção era visível em todos os rostos.
         Silvia, a filha mais velha, que participava do culto pela primeira, levantou-se e, abeirando-se do Senhor Veloso, beijou-lhe a mão direita que descansava nas páginas do Evangelho.
         O pai, comovido, retirou os óculos e limpou uma lágrima.
         Em seguida, pediu que fosse iniciada a conversação da noite.
         Pesava o silêncio, mas as crianças se incumbiram de rompê-lo:
         LINA – (Voltando-se para Cláudio) – Fale alguma coisa.
         CLÁUDIO – (Que estivera ausente na véspera, em busca da vovó) – Estou sentindo falta de Dona Romualda e de Milota...
         VELOSO – Fomos ontem, sábado, assistir à iniciação do culto do Evangelho, na residência dessas nossas amigas... Dona Romualda decidiu organizar o mesmo serviço; entretanto, de vez em quando estará conosco.
         LINA – Milota disse-nos que hoje ficariam em casa por ser Dia das Mães.
         D. ROSÁLIA – O culto do Evangelho em casa é uma bênção que todos devemos cultivar. O contacto com o pensamento de Nosso Senhor Jesus-Cristo ilumina os nossos próprios pensamentos. Tornamo-nos mais calmos, mais compreensivos, mais operosos e, sobretudo, mais irmãos...
         D. JÚLIA – (Dirigindo-se especialmente a Dona Rosália) – Estou muito surpreendida, pois não pensava que os espíritas dedicassem tanto amor às lições do Divino Mestre.
         D. ROSÁLIA – Minha filha, nós, na Religião Espírita, não podíamos conservar raízes diferentes das do Evangelho. Aliás, você, também cristã, embora adotando interpretações diversas da nossa, não pode esquecer que Nosso Senhor Jesus-Cristo deixou o sepulcro vazio e foi o verdadeiro restaurador da doutrina da imortalidade da alma e da comunicação dos Espíritos, entretendo-se, muito tempo, depois da morte, com os próprios discípulos.
         D. JÚLIA – Sem dúvida. Não se pode negar o fato. (Nesse momento, alguém bate à porta. O dono da casa ausenta-se e volta, esclarecendo tratar-se de assunto alusivo à sua profissão, motivo por que não introduzira o visitante na sala, marcando-lhe encontro noutro horário).
         LINA – Papai, desejo perguntar ao senhor se posso recitar para mãezinha uma quadra que aprendi ontem com uma colega na escola...
         VELOSO – como não, minha filha?
         LINA – (Levantando-se e colocando-se diante de Dona Zilda):
                   Mãezinha terna e querida,
                   Estrela sempre a brilhar,
                   Seu amor é a nossa vida
                   Na vida de nosso lar.
         CLÁUDIO – Papai, eu posso falar também?
         VELOSO – Perfeitamente, meu filho.
         CLÁUDIO – (Encaminhando-se igualmente para perto de Dona Zilda) – Mãezinha, a senhora é o tesouro de nossos corações!
         D. ZILDA – (Chorando e abraçando os filhos) – Meus filhos! Meus filhos!... Deus abençoe a todos nós.
         (Alguém bate, de novo, à porta e ergue-se Veloso para atender. Dessa vez, porém, regressa trazendo um senhor descalço, humildemente trajado, que penetrou na sala, com singelo chapéu às mãos).
         VELOSO – (Falando particularmente com Dona Zilda) –É o nosso Glicério.
         D. ZILDA – Muito bem. Boa-noite, Glicério. Sente-se conosco.
         GLICÉRRIO – Dona Zilda, apesar de muito constrangido, venho comunicar à senhora que minha mulher e meus dois filhos caíram doentes de uma só vez e estamos muitos necessitados...
         D. ZILDA – Confiemos em Deus, Glicério. Espere um pouco e, no término de nossas orações, providenciaremos o que nos seja possível.
         (O visitante toma lugar ao lado das crianças, que o acolhem com simpatia).
         D. ROSÁLIA – (Voltando-se para o genro) – Sinto bastante que Lisbela, tão febril hoje, não tenha podido vir às nossas preces.
         (A estimada senhora referia-se à jovem que a auxiliava nos serviços domésticos e que, ao chegar à residência da filha, na véspera, aí se acamara, sob a pressão de forte gripe).
         VELOSO – Lembrá-la-emos, rogando aos Benfeitores Espirituais nos ajudem a vê-la melhorada e mais forte. Além disso, depois de nossa reunião, poderemos, juntos, envolve-la nas vibrações do passe curativo.
         Lina, Cláudio e Marta solicitaram permissão para se ausentarem do aposento, alguns instantes.
         Com a aprovação de Veloso, demandaram saleta próxima e voltaram, em momentos rápidos: lina e Cláudio trazendo rosas que ofereceram a Dona Zilda e a Dona Rosália, e Marta, um lindo bolo que entregou a dona da casa.
         As senhoras homenageadas agradeceram, contentes.
         A emotividade reinante predispunha à reflexão, e, tudo, indicando que a palestra alcançava o termo, Cláudio pediu fosse Dona Rosália indicada para contar a história edificante da noite.
        
            NOTA SEMANAL
 
         A bondosa vovó sorriu e falou:
         -Recordarei para nós um antigo conto de Andersen (Hans Christian Andersen, poeta e contista dinamarquês), o grande amigo das crianças. Trata-se da
 
HISTÓRIA DE UMA MÃE
 
         Havia uma sofredora mulher que velava aflita, à cabeceira do filhinho doente, quando a Morte chegou para busca-lo.
         Sem que ela pudesse ensaiar qualquer defesa, a Morte arrebatou o menino da cabana.
         Desesperada, a mãezinha saiu a gritar para reaver o pequenino, mas a Morte veloz desaparecera.
         Chorando, avançou a infeliz, estrada fora, quando, em plena noite, encontrou uma mulher que poderia encaminha-la; esta, todavia, em troca da informação, pediu-lhe cantar todas as canções com que a pobre embalava o filhinho.
         Embora em lágrimas, ela repetiu todas as cantigas com que afagava o pequenino, ao pé do berço.
         A mulher ensinou-lhe, então, que a Morte se dirigira para certo espinheiro.
         Sem vacilar, a desditosa mãezinha enlaçou-o, aquecendo-lhe os espinhos que a noite enregelara...
         Quando o seu corpo já se mostrava coberto de chagas, o espinheiro explicou que a Morte seguira no rumo de grande lago.
         A peregrina ensangüentada chegou ao lago, mas o lago fazia coleção de pérolas e, para prestar-lhe o serviço, pediu-lhe os belos olhos.
         A infortunada viajante arrancou os próprios olhos e lhes deu.
         O lago, desse modo, transportou-a, ferida e cega, para o outro lado da terra, onde a Morte costumava guardar as criancinhas.
         Era um grande cemitério, guardado por monstruosa mulher que, para ensinar-lhe o lugar exato onde a Morte aportaria naquela noite, lhe reclamou a linda cabeleira.
         Sem qualquer hesitação, ela deixou-se tosar e, logo após, quase irreconhecível, foi colocada em posição de perceber a chegada do pequeno que procurava.
         Esperou... Esperou...
         Em dado instante ouviu que a Morte regressava com os meninos que recolhera.
         Atenta, escutava as vozes diversas, qual se registrasse a presença de um bando de passarinhos, quando, dentre todas, distinguiu o choro de seu próprio filho e, apesar de cega, avançou para ele, gritando, jubilosa:
         -Meu filhinho!... Meu filhinho!... – E agarrou-o nos braços, a beija-lo, enternecidamente.
         A própria Morte, emocionada, perguntou-lhe então:
         -Como fizeste para chegar aqui, antes de mim?
         Ela, chorando e rindo, pôde apenas dizer:
         -Sou mãe.
 
            ENCERAMENTO
 
         Quando Dona Rosália terminou, todos choravam...
         Veloso, enxugando as lágrimas, conseguiu simplesmente balbuciar a prece final:
 
         -Deus de Infinita Bondade, nós te agradecemos o amor de nossas mães!... Guarda-as para sempre sob tua Bênção, conferindo-lhes a felicidade que não lhes sabemos dar.
         Louvado sejas, Pai Nosso! Assim seja.
 
*
         Depois da oração, por muito tempo, ninguém pôde articular palavra..
         Dona Zilda, no entanto, após distribuir a água fluidificada, serviu aos presentes saboroso café, acompanhado com as fatias do bolo de que Marta lhe fizera oferta.
         A seguir, rumou para o casebre de Glicério, a fim de ali ajudar no que lhe fosse possível.
 
 
Da Obra “EVANGELHO EM CASA” – Espírito: MEIMEI –
Médium: FFRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Evangelho em Casa-Por Meimei

segunda  reunião
Meimei
 
      
 No domingo imediato, à mesma hora, Dona Zilda preparou a mesma para o culto evangélico; entretanto, havia um problema a considerar.
         Chovia muito e Dona Romualda com a filhinha Milota, menina-moça, achava-se em cada, de visita, e, em razão do temporal, adiavam o “até logo”.
         Ouvido no assunto Veloso ponderou que o horário não devia ser modificado.
         E alegrou, sensato:
         -É sempre distinto estender aos amigos um lanche ou um café... Por que não lhe proporcionar a bênção da oração?
         Dona Zilda sorriu e, no instante preciso, Dona Romualda e Milota, consultadas, aceitaram alegremente o ensejo que se lhes oferecia.
 
PRECE INICIAL
 
         Ante o grupo, agora acrescido de mais duas pessoas, Veloso orou, sensibilizado:
 
         -Senhor Jesus, que, um dia, disseste “eu sou a luz do mundo”, ilumina-nos a visão para que venhamos a conhecer o caminho em que te possamos atender a vontade.
         Permite, ó Mestre, que os teus mensageiros nos assistam e inspirem, e sustenta-nos o espírito para que sejamos dignos de tua confiança. Assim seja.
 
LEITURA
 
         Formulada a oração, o orientador do culto entregou a Dona Romualda o exemplar do Novo Testamento, pedindo-lhe que o abrisse.
         A interpelada, curiosa, atendeu.
         Prosseguindo, Veloso procurou o trecho mais apropriado, lendo a sentença última do versículo 13, do capítulo 20, do Apocalipse: “... E foram julgados, cada um segundo a as obras”.
         Desdobrando-se a consulta, foi Cláudio quem descerrou as páginas de O Evangelho Segundo o Espiritismo, passando-o aos olhos paternos, que leram, no capítulo XVIII, inserta entre as “Instruções dos Espíritos”, a mensagem de Simeão, intitulada “Pelas suas Obras é que se reconhece o cristão”.
 
COMENTÁRIO
 
         Aquietaram-se os presentes, e Veloso comentou:
         -É importante observar como se ajustam hoje os textos lidos.O Evangelho Segundo o Espiritismo, em perfeita consonância com o Novo Testamento, pede-nos atenção para as obras.
         É que, por toda parte, vemos que Deus e o Homem se mostram associados em todas as realizações.        
         Ninguém constrói sobre o nada.
         Algo que se faz reclama algo para que se faça.
         Um engenheiro erguerá uma casa, mas, não prescinde do solo como base nem dispensa os materiais comuns para que a edificação se levante.
         Um técnico fabricará certa máquina, mas, para isso, precisará dos recursos da terra.
         Um pomicultor recolherá farta messe de furtos; contudo, necessitou valer-se do campo.
         Assim também, na esfera do pensamento.
         Um professor de música ensinará essa arte sublime aos alunos, mas, não conseguirá faze-lo a distância dos conhecimentos acumulados pelos professores que o antecederam.
         Como é fácil reconhecer, a matéria-prima para a moldagem dessa ou daquela obra, nesse ou naquele campo de trabalho de Deus, através das forças que o representam.
         É o mesmo que se Deus nos enviasse a gleba e o metal, a árvore e o fio e a experiência com eles fazemos a lavoura e a casa, a utilidade e a veste, a arte e a indústria que expressam, dessa forma, empreendimentos em que o Criador e a criatura tomam parte.
         Deus é, assim, o sócio paternal de todas as iniciativas de seus filhos, os homens e as mulheres do mundo.
         Em razão disso, a vida é responsabilidade a que não podemos fugir, porque, sendo a Natureza propriedade efetiva de Deus, ainda mesmo quando estejamos efetuando o mal, usamos o que pertence a Deus, para consuma-lo.
         Exemplifiquemos.
         Um administrador emprestará a determinado servo, larga faixa de solo para que plante a boa semente e ajude a comunidade.
         O servo, manobrando o livre-arbítrio, prevalecer-se-á intensamente da oportunidade, cultivando-a com todas as suas forças. Poderá proceder de maneira deficitária, aproveitando-a imperfeitamente, e, às vezes, abusará da concessão, seja entregando-a aos vermes destruidores, ou desviando-lhe as finalidades ao transforma-la em hospedagem de malfeitores.
         Para o bem ou para o mal, o servo está inevitavelmente ligado à obra que realizou, recebendo a paga de conformidade com o que fez.
         Se tratar o empréstimo com dignidade, receberá mais terrenos e mais recursos; contudo, se trabalhou pelo mínimo, pequenina ser-lhe-á a remuneração de si para consigo; e, se dilapidou a dádiva, empregando-a com desonestidade, carregará consigo o arrependimento e a dor moral, até que se lhe expunha a sombra da culpa.
         Veloso estampou significativa expressão e acentuou:
         -Em todas as nossas ações, gastamos o que é de Deus, para fazer o que é nosso. É desse modo que a criatura imprime a marca de si mesma onde se encontre, quer queira, quer não, e receberá sempre, conforme o ensinamento de Jesus, segundo as próprias obras.
 
CONVERSAÇÃO
 
         O diretor da equipe doméstica deu por finda a explanação, e o entendimento natural começou entre os circunstantes.
         Cláudio falou em primeiro lugar, reclamando contra a chuva abundante que caía lá fora.
         VELOSO – Meu filho, evitemos criticar a Natureza. Ainda agora, falávamos das concessões de Deus. Sol e chuva, calor e frio são processos da Providência Divina para doar-nos pão e saúde, equilíbrio e conforto.
         O temporal que surja menos agradável ao nosso ânimo significa melhoria na fonte, flor no jardim, fruto no campo e alívio à tensão atmosférica.
         Agradeçamos ao tempo, na expressão em que se manifeste, porque todo tempo e, no fundo, bênção de Deus.
         LINA – Papai, o senhor se referia à nossa obrigação de sermos bons, usando os recursos de Deus... Compreendi que Deus é sempre bondoso e que, se aparece algum mal, em nossa vida, é por nossa conta.
         VELOSO – Isso mesmo, filhinha.
         D. Zilda – Imaginemos uma enxada e um lavrador. A enxada foi concedida ao lavrador para que ele empregue no amanho do solo e, em companhia dela, atinja a colheita farta. Mas se o cultivador a utiliza por instrumento de agressão, na pessoa de um companheiro, isso ocorre sobre a responsabilidade do seu sentimento infeliz e não do programa de serviço. A enxada, que é boa, nada tem que ver com a falta cometida...
         VELOSO – Idéia muito bem lembrada. Em verdade, somos sempre nos, as criaturas humanas, quem cria o mal.
         MILOTA – (Mostrando-se desajustada) – Vocês não costumam freqüentar o cinema aos domingos?
         LINA – Papai e mãezinha julgam mais convenientes, para nós, as exibições que se faz durante o dia...
         MILOTA – Pensei que fossem contra...
         D. ZILDA  - (Sorrindo) – Não, Milota, não somos contra o cinema. Isso seria agir contra o progresso. Veloso e eu, no entanto, cremo-nos na obrigação de selecionar os filmes que nos possam tomar tempo. O cinema é poderoso fator de influência e ninguém precisa buscar exemplos infelizes.
         D. ROMUALDA – Perdoem a Milota pela intromissão. Minha filha não está percebendo a seriedade de nossa reunião e trouxe à baila um tema inoportuno. Aliás, quero acreditar que o exame do Evangelho, como está sendo feito, permite a exposição dos mais íntimos problemas que nos afligem...
         VELOSO – Sem dúvida.
         D. ROMUALDA (Desdobrando um fragmento de jornal que trazia na bolsa) – Desde a semana passada, tenho um caso que sobremaneira me preocupa. (E estendendo o noticiário) – Trata-se do Dr. Neves, meu vizinho, homem admirável por suas virtudes sociais e domésticas. Advogado correto e funcionário distinto, foi baleado na via pública.... Não sei se deva falar neste assunto aqui...
         VELOSO – Como não? Os quadros da vida, expostos na imprensa, podem e devem ser estudados respeitosamente à luz da Doutrina Espírita.
         D. ROMUALDA – Conheci o Dr. Neves. Era homem de procedimento exemplar. Soube-se que havia contrariado propósitos desonestos de uma empresa, na repartição em que servia, adquirindo, então, imerecidamente, o ódio que o abateu, sem que, até hoje, se descubra o assassino... Um acontecimento assim, tão lamentável, espanta e fere a gente... Como interpreta-lo, do ponto de vista espírita?
         VELOSO – Apenas a reencarnação poderá confortar-nos. Certamente, o Dr. Neves, em alguma de suas existências passadas, que, de momento, não podemos precisar, terá cometido um delito desses, na pessoa de alguém...
         D. ROMUALDA – Mas, estamos assim expostos a semelhante rigor? Se um homem que exterminou a vida de outro, utilizando um revólver, deverá igualmente morrer na existência seguinte, por golpes de arma da mesma espécie, jamais encerraremos a carreira do crime.
         D. ZILDA – Aliás, disse Jesus ao Apóstolo Pedro “quem fere pela espada, pela espada morrerá”. (Mateus, 26:52).
         VELOSO – Mas, o mesmo Divino Mestre ensinou que se deve perdoar setenta vezes sete, que é nossa obrigação amar os inimigos e orar em favor daqueles que nos injuriam e nos perseguem. E se disse a Pedro a exortação a que nos reportamos, inspirou o mesmo apóstolo para que deixasse em sua carta a promessa divina de que “o amor cobrirá a multidão de nossos pecados” (Pedro, 4:8), induzindo-nos dessa maneira, à “caridade ardente uns para com os outros”. Os Instrutores Espirituais ensinam-nos que o bem praticado atenua os extingue o mal que causamos a outrem, ferindo a nós mesmos. Em muitas circunstâncias, somos desculpados por nossas vítimas. Entretanto, o débito que contraímos permanece, registrado na Lei da Eterna Justiça, reclamando resgate. Em que idade o Dr. Neves sofreu o assalto a que aludimos?
         D. ROMUALDA – Aos cinqüenta.
         VELOSO – Suponhamos que ele, em uma de suas existências passadas, tenha sido o autor de um homicídio, nas mesmas condições, ao contar meio século de experiência física. Aceita essa hipótese, admitamos tenha pedido, antes de renascer no berço terreno, uma provação expiatória como a que acaba de deixar... Se vivesse incorretamente, é possível tivesse encontrado o golpe em alguma dissipação, atraindo a censura alheia em seu desfavor; todavia, cumprindo irrepreensivelmente os seus deveres, como aconteceu, foi vítima perfeita, sem ser o algoz de ninguém, adquirindo, assim larga onda de simpatia e respeito em seu benefício. Contudo, presumamos que o Dr. Neves, além das próprias obrigações, procurasse, acima de tudo, a prática do bem ao próximo, sem qualquer espírito de recompensa... Aos cinquenta de idade, por trazer na própria lama os sinais da falta cometida, provavelmente experimentaria moléstia grave, no órgão ligado ao assunto, e desencarnaria em conseqüência. E talvez, se mencionado irmão fizesse dessa mesma conduta um apostolado de abnegação incessante, no amparo aos necessitados, ao atingir meio século no corpo físico, possivelmente viria a padecer a enfermidade conseqüente, obtendo, põem, mais tempo de abençoada internação nos serviços da Terra, à maneira do devedor que consegue expressiva moratória por merecimento adquirido...
         D. ROMUALDA – Nobres conclusões! Entendemos, assim, com mais segurança, a função da dor...
         D. ZILDA – Compreendemos, então, que tanto maior seja a soma de bem que façamos, mais amplos se nos faz o crédito diante da Lei Divina.
         VELOSO – Evidentemente.
         MILOTA – Dona Zilda, que devemos classificar como sendo o bem?
         D. ZILDA – Creio, filha, que o bem real para nós será sempre fazer o bem aos outros em primeiro lugar.
         D. ROMUALDA – Bela definição.
         LINA – Mãezinha, quando tentamos dominar os nossos pensamentos de preguiça ou de insubordinação, a fim de sermos melhores para os outros, é igualmente um bem, não é?
         D. ZILDA – Bem muito grande, muito louvável.
         MARTA – (Sorrindo); – Devo comunicar ao Senhor Veloso e a Dona Zilda que, depois do nosso culto evangélico, na semana passada, Lina tem tido nova conduta para comigo. Muito afável e correta, não me oferece qualquer motivo a preocupações. Além disso, agora me auxilia quando pode, na cozinha e na limpeza.
         VELOSO – Louvado seja Deus!
 
NOTA SEMANAL
 
         Sobrevindo a quietude, Veloso perguntou a Dona Zilda se não desejava relatar algum episódio de suas tarefas pessoais ou ler alguma narrativa referente às anotações da noite.
         A esposa sorriu e respondeu:
         -Apontamento escrito não tenho, mas, lembro-me de uma história que aconteceu aqui mesmo, em nossa rua. É um acontecimento que demonstra o quanto pode a força do Evangelho de Jesus em nossa vida, para que saibamos edificar com Deus a nossa felicidade e a felicidade dos outros. Posso transmiti-lo, na forma de um conto, que intitularei:
 
O LEITEIRO CRISTÂO
 
         Dona Moema, nossa vizinha, e eu notamos que o leiteiro Calimério, de um dia para outro, modificou para melhor o produto que nos vendia.
         Fizera-se o leite excelente.
         E Dona Moema, com dois filhinhos de berço; foi a primeira a assinalar a transformação.
         Informou-me que as crianças mostravam-se tão melhoradas e tão robustas que me convidava a apelarmos, juntas, para ele, a fim de que a situação fosse mantida no mesmo nível.
         Concordei e abordamo-lo na manhã seguinte.
         -Calimério – disse Dona Moema para começar – que houve com o leite, agora tão apetitoso?
         -Dona Moema – replicou nosso entrevistado – para que eu não mude de intenção e procedimento, notifico à senhora que, no mês passado, comecei a freqüentar uma aula de Evangelho e compreendi que a ninguém mais deveria enganar.
         E, colocando o olhar ansioso em nós duas, como quem rogava a nossa aprovação, ajuntou:
         -Confesso às senhoras que, até no mês passado, sempre misturei água no leite, para aumentar o meu rendimento. Mas, desde que conheci as lições de Jesus, já não mais posso agir assim... Peço-lhes me perdoem!
 
         Confiou-se Dona Zilda a breve intervalo e, depois concluiu:
         -Estudemos o exemplo de Calimério renovado. Com os ensinos do Evangelho, fez-se correto e, fazendo-se correto, é verdadeiro benfeitor de nosso equilíbrio orgânico, pela honradez com que nos fornece o alimento.
         Quando cada um de nos estiver trabalhando com a probidade do leiteiro cristão, o mundo será o Reino Divino que teremos edificado com Deus.
 
ENCERRAMENTO
 
         A narrativa inspirou grande contentamento e formosas reflexões. Ao fim de elevados lembretes, Veloso orou para terminar:
 
         -Senhor Jesus, agradecemos-te as bênçãos desta hora e rogamos-te força para fixar as tias lições sublimes em nossa própria conduta. Ajuda-nos, Mestre, nas execuções de tua vontade. Assim seja.
 
**
         Logo após, a dona da casa serviu a água em pequeninas taças, enquanto os presentes passavam a conversar alegremente sobre a excelência do Evangelho no lar.
 
 
Da Obra “EVANGELHO EM CASA” – Espírito: MEIMEI –
Médium: FFRANCISCO CÂNDIDO XAVIER