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sábado, 22 de maio de 2021

A FÉ SEGUNDO O NÍVEL EVOLUTIVO DE CADA UM. [...]As crianças (físicas na idade temporal ou intelectuais pela infância do "espírito"), interpretam fé como acreditar. [...]Os que vivem mais no plano astral (emocional) acham que a fé é um "sentimento", uma emoção, que se acende ou apaga, [...] Os intelectualizados que baseiam tudo no raciocínio horizontal e na pesquisa. preferem, como sinônimo de fé, a palavra convicção, certeza confiança.[...] Outros preferem considerar a fé: como demonstração de fidelidade[...]

                       A FÉ

Mat. 17-19-21
19. Então chegando-se os discípulos a Jesus em particular, perguntaram: "Por que não pudemos nós expulsá-lo"?
20. Jesus respondeu-lhes: "Por vossa falta de fé, pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para lá, e ele passará; e nada vos será impossível" .
21. Mas esse tipo não sai senão com oração e jejum".

Marc. 9:28-29
28. E tendo entrado ele em casa, perguntaramlhe seus discípulos particularmente: "Porque não pudemos nós expulsá-lo"?
29. Respondeu-lhes: "Esta espécie só pode sair pela oração e jejum".

Marcos tem o cuidado de avisar-nos que os discípulos se dirigiram ao Mestre "depois que estavam em casa", fato que Mateus assinala apenas com a expressão "em particular".

A pergunta revela ansiedade: "por que não pudemos expulsá-lo"?
E a resposta esclarece para todos: "por falta de fé".

Já havia sido dito que TUDO é possível ao que crê. E agora mais uma lição nos chega, com palavras "e comparações repetidas das lições rabínicas, onde era frequente a expressão "pequeno como grão de mostarda"; e também, para significar algo muito difícil, dizia se "como transportar montanhas". A uni-ão dos dois termos, porém, é particularidade do Evangelho.

O último versículo de Marcos (29) dá uma pequena desculpa aos discípulos: esse tipo (de espíritos) só pode sair pela oração e pelo jejum". Nem todos os códices têm "pelo jejum" (aleph, B, K ) , que é suprimido por Nestle, Swete, Lagrange, Huby e Pirot; Merck o coloca entre chaves; mas é mantido por von Soden, Vogels e Prat. Realmente, os rabinos ensinavam que "quem quer que ore sem ser atendido, ponha-se a jejuar" (cfr. Strack e Eillerbeck, o. c. , vol. 1, pág" 760). Esse versículo parece ter sido transportado para constituir o vers. 21 de Mateus, que falta em aleph, B, theta, em três minúsculos e em todas as versões copta, etiópica, siríaca hierosolymitana, e no mss. "k" da vetus latina, e na Vulgata.

Vem agora a lição sobre a fé. Preciosa e esclarecedora, incisiva e categórica. De fato, uma LIÇÃO.
O intelecto, na meditação em contato com o Eu verdadeiro ou com a individualidade ("em casa"),indaga das razões por que não conseguiu o domínio das emoções. E a resposta é taxativa: falta de fé.

A dúvida é o pior veneno para a criatura. Tiago (1:6-8) entendeu a lição do Mestre: "Peça-se com fé, sem hesitar, pois aquele que hesita é como a onda do mar impelida e agitada pelo vento; esse homem nada recebe do Senhor pois é homem de dupla alma, instável em todos os seus caminhos".(grifo nosso)

Que significa, afinal, pístis, a FÉ?
A definição vai depender do nível evolutivo em que cada um se encontre, para compreender o sentido da palavra. 

Vejamos:

1. As crianças (físicas na idade temporal ou intelectuais pela infância do "espírito"), interpretam fé como acreditar. Se acredito no que alguém me diz, sem pedir provas, demonstro fé na pessoa. Essa fé recebe geralmente o designativo de "fé do carvoeiro", ou do homem "crente" que, por não saber nada, acredita em tudo o que lhe dizem, sem capacidade para raciocinar por si: é a fé do simplório e do ignorante, exaltada em certos círculos humanos como virtude máxima, e até como condição essencial e única para a criatura "salvar-se".

2. Os que vivem mais no plano astral (emocional) acham que a fé é um "sentimento", uma emoção, que se acende ou apaga, aumenta e diminui, segundo o estado emocional da criatura. É a fé que se conquista diante de um ato de generosidade ou se perde, num segundo, diante de uma desilusão; mais baseada nos outros, com suas qualidades e defeitos, do que em si mesmos, em seu próprio conhecimento da verdade. É a fé que vibra altaneira e provoca, às vezes, gestos heróicos e repentinos, mas que também pode levar a extremos opostos de aridez e até de ateísmo absoluto, de materialidade total.

3. Os intelectualizados que baseiam tudo no raciocínio horizontal e na pesquisa. preferem, como sinônimo de fé, a palavra convicção, certeza confiança. Representa, então, uma virtude intelectual, um fruto da experiência, e não mais uma emoção. Supõe o conhecimento profundo do assunto: a certeza científica baseada nesse conhecimento é a fé. É a segurança do químico que, ao fazer as combinações de ácidos com bases, tem a certeza de que obterá um sal: fé absoluta, fé raciocinada e experimentada, com fundamento em fatos vividos e verificados sob controle.

4. Outros preferem considerar a fé: como demonstração de fidelidade (por exemplo, o Prof. Huberto Rohden, de quem recebemos uma carta a esse respeito). Esses, já vivendo acima do intelecto, sintonizados com a "razão" (ou individualidade), compreendem que a faculdade essencial à criatura é a fidelidade aos princípios. Uma vez conhecido o caminho e encontrado o Mestre, não haverá mais esmorecimentos nem desvios, não se permanecerá mais no saber, nem no dizer, nem mesmo no fazer, mas se exigirá de si mesmo o máximo, o SER, o SER TOTAL, INTEGRAL, ser igual ao Mestre, numa completa e total FIDELIDADE DE REPRODUÇÃO, como a cópia de carbono com o original, como a estátua de gesso com o molde de barro, como a imagem no espelho com quem se mira. Essa a interpretação que demos à quarta bem-aventurança (veja vol. 2): felizes os que buscam o ajustamento, a justeza, do modelado com o modelo, do cristão com o Cristo.

A qualquer dessas interpretações, podemos aplicar, cada um em seu grau, a lição ministrada: a fé, ainda que do tamanho de um grão de mostarda, ou seja, embora ainda esteja no início do desenvolvimento, nos primeiros passos da caminhada, já será suficiente para obter-se extraordinário efeito.

Lógico que o efeito corresponderá, em grandeza, ao adiantamento do nível evolutivo de quem a possuie a vive. Mas, não é mister diplomar-se como professor de matemática superior, para realizar as quatro operações. Desde que a faculdade exista, desde que a causa aja, o efeito é produzido. Para fazer luz numa lâmpada, não há necessidade de movimentar-se uma usina elétrica e nem mesmo de possante gerador: até uma pilha acende uma lâmpada de 6 volts, mas a luz é feita; é fraca, mas é luz.

Assim, a "montanha" poderá ser transportada de cá para lá. Seja uma montanha de dificuldades, ou de terra, ou de defeitos, ou de fluidos ou de correntes do astral, ou quaisquer outras.

A expressão "montanha" exprime, simplesmente, algo de grande, de imenso, de "impossível" de abraçar-se com os curtos braços humanos. Não há montanha que resista a quem tem fé: "nada é impossível ao que crê".

Quem meditar profundamente nessa frase, encontrará a força de vencer quaisquer obstáculos, quer interprete a fé como "crença", ou como "sentimento", ou como "convicção" ou como "fidelidade" a nosso-modelo, o CRISTO.

No entanto, há coisas que a fé opera apenas por meio da ORAÇÃO. Não é da "reza" repetida mecanicamente em novenas e trezenas, mas a oração da união total com o Cristo Interno, a meditação e o mergulho em que a criatura consegue "ajustar-se" totalmente ao Criador, em que a onda sonora sintoniza perfeitamente com a emissora, em que o cristão se CRISTIFICA (2.º Cor. 1:21).

A palavra "jejum" que aparece em alguns códices e é rejeitada por numerosos hermeneutas, tem sua razão de ser nesta interpretação, pois com ela não se entende o jejum da comida física, mas o jejum "da materialidade".

 Explicamo-nos: aquele que se desprende da matéria e vive unido do Espírito, ou seja, "que vive na matéria sem ser da matéria, ou que vive no mundo sem ser do mundo" (Huberto
Rohden), esse é o que "jejua". 

Com efeito, mesmo estando diante das iguarias tentadoras do mundo e de suas paixões, ele permanece sem nelas tocar, em oração (unido ao CRISTO) e em jejum (desligado da matéria). Então, está realmente ESPIRITUALIZADO, ou, melhor ainda, CRISTIFICADO. Esse é o que possui o poder máximo no domínio espiritual da Terra, com largas e profundas repercussões mesmo no domínio material, sem necessidade de buscar nem treinar "poderes", com exercícios exóticos.

Livro : Sabedoria do Evangelho Volume 4
Autor: Carlos Pastorino

domingo, 10 de fevereiro de 2013

O Paraíso Perdido (1) "...Ao dizer a Adão que tirará seu sustento da terra, com o suor do seu rosto, Deus simboliza a obrigação do trabalho; porém, por que faz do trabalho uma punição? Que seria da inteligência do homem, se ele não a desenvolvesse pelo trabalho? Que seria da terra, se não fosse fecundada, transformada, amainada pelo trabalho inteligente do homem?..."


Subsídio para Estudo da questão 59 do livro dos Espíritos

O Paraíso Perdido
(1)
13. CAPÍTULO II _ 9. Ora, o Senhor Deus plantara desde o começo um jardim delicioso, no qual pôs o homem que ele formara. _ O Senhor Deus também fizera sair da terra toda espécie de árvores agradáveis à vista e cujos frutos eram agradáveis ao paladar e, no meio do paraíso, a árvore da vida, com a árvore da ciência do bem e do mal. (Ele fez sair, Jeová Eloim, da terra ("mim haadama") toda árvore agradável à vista e boa para comer-se e a árvore da vida ("vehetz hachayim") no meio do jardim e a árvore da ciência do bem e do mal).
15. O Senhor tomou, pois, o homem e o colocou no paraíso das delícias, a fim de que o cultivasse e guardasse. _ 16. Deu-lhe também esta ordem e lhe disse: Come de todas as árvores do paraíso. (Ele ordenou, Jeová Eloim, ao homem ("halhaadam") dizendo: De toda árvore do jardim podes comer). _ 17. Mas, não comas nunca o fruto da árvore da ciência do bem e do mal; portanto, logo que o comeres morrerás com toda a certeza. (E da árvore do bem e do mal "oumehetz hadaat tob vara") não comerás, pois que no dia em que dela comeres morrerás).
14. CAPÍTULO III _ 1. Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais que o Senhor Deus formara na Terra. E ela disse à mulher: Por que vos ordenou Deus que não comêsseis os frutos de todas as árvores do paraíso? (E a serpente ("nâhàsch") era mais astuta do que todos os animais terrestres que Jeová Eloim havia feito; ela disse à mulher ("el haischa"): Terá dito Eloim: Não comereis de nenhuma árvore do jardim?). 2. A mulher respondeu: Comemos dos frutos de todas as árvores que estão no paraíso. (Disse ela, a mulher, à serpente, do fruto ("miperi") das árvores do jardim podemos comer). _ 3. Mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do paraíso, Deus nos ordenou que não comêssemos dele e que não lhe tocássemos, para que não corramos o perigo de morrer. _ 4. A serpente replicou à mulher: Certamente não morrereis. _ 5. Mas, é que Deus sabe que, assim que houverdes comido desse fruto, vossos olhos se abrirão e sereis como deuses, conhecendo o bem e o mal.
6. A mulher considerou, então, que o fruto daquela árvore era bom para comer; que era belo e agradável à vista. E, tomando dele, o comeu e o deu a seu marido, que também comeu. (Ela viu, a mulher, que ela era boa, a árvore como alimento, e que era desejável a árvore para compreender ("leaskil"), e tomou de seu fruto, etc.
8. E como ouvissem a voz do Senhor Deus, que passeava à tarde pelo jardim, quando sopra um vento brando, eles se retiraram para o meio das árvores do paraíso, a fim de se ocultarem de diante da sua face. _ 9. Então o Senhor Deus chamou Adão e lhe disse: Onde estás? _ 10. Adão lhe respondeu: Ouvi a tua voz no paraíso e tive medo, porque estava nu, essa a razão por que me escondi. _ 11. O Senhor lhe retrucou: E como soubeste que estavas nu, senão por que comeste o fruto da árvore da qual eu te proibi que comesses? _ 12. Adão lhe respondeu: A mulher que me deste por companheira me apresentou o fruto dessa árvore e eu dele comi. _ 13. O Senhor Deus disse à mulher: Por que fizeste isso? Ela respondeu: A serpente me enganou e eu comi desse fruto.
14. Então, o Senhor Deus disse à serpente: Por teres feito isso, serás maldita entre todos os animais e todas as bestas da terra; rojar-te-ás sobre o ventre e comerás a terra por todos os dias de tua vida. _ 15. Porei uma inimizade entre ti e a mulher, entre a sua raça e a tua. Ela te esmagará a cabeça e tu tentarás morder-lhe o calcanhar.
16. Deus disse também à mulher: Afligir-te-ei com muitos males durante a tua gravidez: darás à luz com dor; estarás sob a dominação de teu marido e ele te dominará.
17. Disse em seguida a Adão: Por haveres escutado a voz de tua mulher e haveres comido do fruto da árvore de que te proibi que comesses, a terra te será maldita por causa do que fizeste e só com muito trabalho tirarás dela com que te alimentes, durante toda a tua vida. _ 18. Ela te produzirá espinhos e sarças e te alimentarás com a erva da terra. _ 19. E comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra donde foste tirado, porque és pó e em pó te tornarás.
20. E Adão deu à sua mulher o nome de Eva, que significa a vida, porque ela era a mãe de todos os viventes.
21. O Senhor Deus também fez para Adão e sua mulher vestiduras de peles com que os cobriu.
22. E disse: Eis aí Adão feito um de nós, sabemos o bem e o mal. Impeçamos, pois, agora, que ele deite mão à árvore da vida, que também tome o seu fruto e que, comendo desse fruto, viva eternamente. (Ele disse, Jeová Eloim: Eis aí, o homem foi como um de nós para o conhecimento do bem e do mal; agora ele pode estender a mão e tomar da árvore do bem e do mal; agora ele pode estender a mão e tomar da árvore da vida ("veata pen ischlachyado velaakch mechetz hachanyim"); comerá dela e viverá eternamente).
(1) Paraíso, do latim "paradisus", do grego "paradeisos", jardim, vergel, lugar plantado de árvores. A palavra hebraica empregada na Gênese é "hagan", que tem a mesma significação.
Em seguida a alguns versículos damos a tradução literal do texto hebraico, o que torna mais fiel a explicação do pensamento primitivo. O sentido alegórico assim é ressaltado mais claramente.
O Paraíso Perdido
23. O Senhor Deus o fez sair do jardim de delícias, a fim de que fosse trabalhar no cultivo da terra donde ele fora tirado. _ 24. E, tendo-o expulsado, colocou querubins (1) diante do jardim de delícias, os quais faziam brilhar uma espada de fogo, para guardar o caminho que conduzia à árvore da vida.
(1) Do hebreu "cherub", "keroub", boi, "charab", lavrar; anjos do segundo coro da primeira hierarquia, os quais eram representados com quatro asas, quatro faces e pés de boi.
15. Sob uma imagem pueril e por vezes ridícula, se nos detivermos na forma, a alegoria esconde freqüentemente as maiores verdades. Haverá fábula mais absurda, à primeira vista, que a de Saturno, um deus que devorava pedras, tomando-as por seus filhos? Porém, ao mesmo tempo, que encontramos de mais profundamente filosófico e verdadeiro, que essa figura, se procurarmos seu sentido moral! Saturno é a personificação do tempo; sendo todas as coisas a obra do tempo, ele é o pai de tudo o que existe; mas também, tudo se destrói com o tempo. Saturno devorando as pedras é o emblema da destruição, pelo tempo dos corpos os mais duros que são seus filhos, pois que eles se formaram com o tempo. E quem escapa a essa destruição, segundo a mesma alegoria? Júpiter, o emblema da inteligência superior, do princípio espiritual que é indestrutível. Essa imagem é mesmo tão natural, que, na linguagem moderna, sem alusão à Fábula antiga, se diz de uma coisa deteriorada, que ela foi devorada pelo tempo, derruída, devastada pelo tempo.
Toda a mitologia pagã, na realidade, não passa de um vasto quadro alegórico dos diversos lados bons e maus da humanidade. Para os que procuram seu espírito, é um curso completo da mais alta filosofia tal como sucede com nossas fábulas modernas. O absurdo seria tomar a forma pelo fundo.
16. O mesmo sucede com a Gênese, onde é preciso enxergar as grandes verdades morais sob figuras materiais, as quais, tomadas ao pé da letra, seriam tão absurdas, como em nossas fábulas, se tomássemos ao pé da letra as cenas e os diálogos atribuídos aos animais.
Adão é a personificação da humanidade; sua falta individualiza a fraqueza do homem, no qual predominam os instintos materiais aos quais não sabe resistir. (1)
A árvore, como árvore da vida, é o emblema da vida espiritual; como árvore da ciência é a da consciência que o homem adquire, do bem e do mal, mediante o desenvolvimento de sua inteligência e do livre-arbítrio em virtude do qual ele escolhe entre os dois; marca o ponto em que a alma do homem, cessando de ser guiada somente por seus instintos, toma posse de sua liberdade e incorre na responsabilidade de seus atos.
O fruto da árvore é o emblema do objetivo dos desejos materiais do homem; é a alegoria da cobiça e da concupiscência; resume sob uma mesma imagem os motivos de arrastamento ao mal; comer o fruto é sucumbir à tentação. Ele cresce no meio do jardim das delícias para mostrar que a sedução está no meio dos prazeres, e fazer lembrar que se o homem concede preponderância aos gozos materiais, prende-se à terra e afasta-se de seu destino espiritual. (2)
A morte da qual foi ameaçado, para o caso de que ele afrontasse a proibição que lhe era feita, é uma advertência para as conseqüências inevitáveis, físicas e morais, que decorrem da violação das leis divinas que Deus gravou em sua consciência. É bem evidente que aqui não se trata da morte corporal, pois, que, depois de sua falta, Adão viveu ainda por muito tempo, mas sim da morte espiritual, ou em outras palavras, da perda dos bens que resultam do progresso moral, perda cuja expulsão do jardim de delícias é a imagem.
(1) Hoje é bem reconhecido que a palavra hebraica "haadam" não é um nome próprio, e que seu significado é: "o homem em geral, a humanidade", o que destrói toda a estrutura erguida sobre a personalidade de Adão.
(2) Em nenhum texto, o fruto é indicado como "a maçã"; esta palavra só se encontra nas versões infantis. A palavra do texto hebreu é "peri", que tem os mesmos significados que em francês, sem especificação da espécie, e talvez possa ser tomado no sentido material, moral, alegórico, em sentido próprio e figurado. Entre os Israelitas, não há interpretação obrigatória; quando uma palavra tem diversas significações, cada um a compreende como quiser, desde que a interpretação não seja contrária à gramática. A palavra "peri" tem sido traduzida pelo latim "matum", que se refere à maçã e a todas as espécies de frutos. É derivado do grego "mélon", particípio do verbo "mélo", interessar, tomar cuidado, atrair.


O Paraíso Perdido
17. Hoje, a serpente muito se distancia de personificar a astúcia; ela entra nesta narrativa, em relação à sua forma, mais do que a seu caráter; é uma alusão à perfídia dos maus conselhos que deslizam como a serpente, e dos quais, por esta razão, freqüentemente não desconfiamos. Ao demais, se a serpente, por haver enganado a mulher, foi condenada a arrastar-se sobre seu ventre, isso poderia significar que antes possuía pernas, e neste caso não se trataria de uma serpente. Por que, pois, impor à credulidade singela das crianças, como verdades, alegorias tão evidentes se, falseando suas apreciações, mais tarde se faz com que considerem a Bíblia como um tecido de fábulas absurdas?
Ademais, é preciso notar que a palavra hebraica "nâhâsch" traduzida pela palavra serpente, provém da radical "nâhâsch" que significa: fazer encantamentos, adivinhar as coisas escondidas, e pode significar: encantador, adivinho. Ela é encontrada com essa significação, no Gênesis, cap. XLIV, versículos 5 e 15, a propósito da taça que José fez esconder no saco de viagem de Benjamin: "A taça que haveis roubado é aquela na qual meu Senhor bebeu, e da qual ele se serve para adivinhar (nâhâsch (1)). _ Ignorais que não há ninguém que me iguale na ciência de adivinhar? (nâhâsch)" _ No Livro dos Números, Cap. XXIII, vers. 23: "Não há encantamentos (nâhâsch) em Jacó, nem adivinhos em Israel." Por conseguinte, a palavra nâhâsch tomou também o significado de serpente, réptil do qual os encantadores se serviam em seus ritos. Não é senão na versão dos Setenta, que a palavra "nâhâsch" foi traduzida por serpente; essa versão, segundo Hutcheson, apresenta o texto hebreu corrompido em muitas passagens: foi escrita em grego no II século antes da era cristã. As inexatidões dessa versão, sem dúvida, são relativas às modificações que a língua hebraica sofreu em tal lapso de tempo; pois o hebraico do tempo de Moisés já era então língua morta, que diferia do hebraico vulgar tanto quanto o grego antigo e o árabe literário do grego e do árabe moderno. (2).
É provável, pois, que Moisés tenha entendido, por sedutor da mulher, o desejo indiscreto de conhecer as coisas escondidas, suscitado pelo Espírito de adivinhação, o que está de acordo com o sentido primitivo da palavra "nâhâsch", adivinhar; e, por outro lado, com essas palavras: "Deus sabe que depois de comerdes deste fruto, vossos olhos serão abertos, e vós sereis como deuses. _ Ela viu, a mulher, que a árvore era desejável para compreender (léaskil), e ela tomou de seu fruto. "Não se deve esquecer que Moisés queria proibir, de entre os hebreus, a arte da adivinhação, usada entre os egípcios, como o prova sua proibição de interrogar os mortos, e o Espírito de Piton ("O Céu e o Inferno", segundo o Espiritismo, cap. XII).
18. A passagem onde se diz que: "O Senhor passeava pelo paraíso, depois do meio-dia, quando se elevava um vento brando, "é uma imagem ingênua e quase pueril, que a crítica não deixou de assinalar; mas nada tem que deva causar surpresa, se nos reportarmos à idéia que os hebreus dos tempos primitivos faziam da Divindade. Para essas inteligências frustradas, incapazes de conceber abstrações, Deus deveria revestir uma forma concreta e eles a relacionavam à humanidade como ao único ponto conhecido. Moisés lhes falava como a crianças por imagens sensíveis. No caso de que se trata, era a potência soberana personificada, como os pagãos o faziam, sob figuras alegóricas, com as virtudes, os vícios e as idéias abstratas. Mais tarde, os homens despojaram a idéia da forma, tal como o menino, tornado adulto, procura o senso moral nos contos que ouviu desde o berço. Portanto, é preciso considerar essa passagem como uma alegoria da Divindade supervisando ela mesma os objetos de sua criação. O grande rabino Wogue, assim o traduziu: "Ouviram a voz do Eterno Deus, percorrendo o jardim, do lado de onde vem o dia."
19. Se a falta de Adão fosse literalmente a de haver comido um fruto, ela não poderia, por sua natureza quase pueril, justificar o rigor com que foi atingida. Não se poderia tampouco admitir que o fato fosse aquele que geralmente se supõe; a menos que Deus, considerando tal fato como um crime irremissível, houvesse condenado a sua própria obra, pois que ele havia criado o homem para a propagação da espécie. Se Adão houvesse entendido assim a proibição de tocar no fruto da árvore e com ela se houvesse conformado escrupulosamente, onde estaria a Humanidade e que teria sido feito dos desígnios do Criador?
Deus não criara Adão e Eva para que permanecessem sós na Terra; e a prova está nas palavras que lhe são dirigidas imediatamente após sua formação, ainda quando estavam no paraíso terrestre:
"Deus os abençoou e lhes disse: Crescei e multiplicai-vos, enchei a terra e dominai-a." (Cap. I, vers. 28). Pois que a multiplicação do homem era uma lei, desde o paraíso terrestre, sua expulsão não pode ter como causa o fato suposto.
O que deu crédito a essa suposição, é o sentimento de vergonha do qual Adão e Eva se sentiram tomados à vista de Deus, e que os levou a se esconderem. Porém essa mesma vergonha é uma figura de comparação: ela simboliza a confusão que todo culpado experimenta na presença daquele a quem ofendeu.
(1) Isso demonstraria que a mediunidade pelo copo d'água seria conhecida pelos egípcios? (Revue Spirite, junho de 1868, pág. 161).
(2) A palavra "nâhâsch" existia na língua egípcia, com o significado de negro, provavelmente porque os negros tinham o dom do encantamento e da adivinhação. É talvez por isso que as esfinges, de origem assíria, eram representadas com uma figura de negro.
O Paraíso Perdido
20. Qual é, pois, em definitivo, essa falta tão grande que pode atingir com a reprovação perpétua todos os descendentes daquele que a cometeu? Caim, o fratricida, não foi tratado tão severamente. Nenhum teólogo pode defini-la logicamente, pois todos, não abandonando a letra giraram num círculo vicioso.
Hoje, sabemos que tal falta não é um ato isolado, pessoal, de um indivíduo, mas encerra, sob um fato único, alegórico, o conjunto das prevaricações das quais se tornou culpada a humanidade ainda imperfeita da Terra e que se resumem nessas palavras: infração à lei de Deus. Eis porque a falta do primeiro homem, simbolizando a humanidade, é figurada por um ato de desobediência.
21. Ao dizer a Adão que tirará seu sustento da terra, com o suor do seu rosto, Deus simboliza a obrigação do trabalho; porém, por que faz do trabalho uma punição? Que seria da inteligência do homem, se ele não a desenvolvesse pelo trabalho? Que seria da terra, se não fosse fecundada, transformada, amainada pelo trabalho inteligente do homem?
Está dito: (Cap. II, vers. 5 e 7) "O Senhor Deus ainda não havia feito chover sobre a terra, e não havia ainda o homem para a trabalhar. O Senhor formou o homem com o limo da terra." Tais palavras, juntadas a estas: Enchei a terra, provam que o homem era, desde a sua origem, desti nado a ocupar toda a terra e a cultivá-la; e, por outro lado, que o paraíso não era um lugar circunscrito a um canto do globo. Se a cultura da terra devia ser uma conseqüência da falta de Adão, daí teria resultado que, se Adão não houvesse pecado, a terra teria ficado inculta, e as finalidades de Deus não se haveriam cumprido.
Por que diz ele à mulher que, devido a ela haver cometido a falta, daria à luz com dores? Como pode a dor do parto ser para ela um castigo, pois é uma conseqüência do organismo, e que tem sido provado fisiologicamente que ela é necessária? Como uma coisa que é segundo as leis da Natureza, pode ser uma punição? Isso os teólogos ainda não explicaram, e não poderão fazê-lo enquanto não saírem do ponto de vista em que se colocaram; e todavia essas palavras, que parecem ser tão contraditórias, podem ser justificadas.
22. Para iniciar, observemos que, se no momento da criação de Adão e Eva, sua alma tivesse sido tirada do nada, como alguns ensinam, deviam ser leigos em todas as coisas; não deviam saber o que é morrer. Desde que fossem os únicos sobre a Terra, enquanto viveram no paraíso terrestre, não tinham visto ninguém morrer; como, pois, teriam podido compreender em que consistia a ameaça de morte que Deus lhes fazia? Como teria Eva podido compreender que dar à luz com dor seria uma punição, pois, que, acabando de nascer para a vida, ela jamais tinha tido filhos, tanto mais que era a única mulher do mundo?
As palavras de Deus, pois, nenhum sentido deveriam ter para Adão e Eva. Apenas tirados do nada, não podiam saber, nem porque, nem como haviam saído dali; não deviam entender o Criador, nem a finalidade da proibição que lhes era feita. Sem nenhuma experiência das condições da vida, pecaram como crianças que agem sem discernimento, o que torna mais incompreensível ainda a terrível responsabilidade que Deus fez pesar sobre eles e sobre a humanidade inteira.
23. Aquilo que é um impasse para a teologia, o Espiritismo explica sem dificuldade, e de maneira racional, pela anterioridade da alma e a pluralidade das existências, lei sem a qual tudo é mistério e anomalia na vida do homem.
Com efeito, admitamos que Adão e Eva já houvessem vivido, e tudo se encontra justificado: Deus não lhes fala como a meninos, mas sim como a seres em estado de compreender,e que o compreendem, prova evidente de que têm uma aquisição anterior de conhecimento. Admitamos, ademais, que hajam vivido num mundo mais adiantado e menos material que o nosso, onde o trabalho do Espírito supria o trabalho do corpo; que por sua rebelião à lei de Deus, figurada pela desobediência, houvessem sido excluídos e exilados como punição sobre a Terra, onde o homem, por força da natureza do globo, está adstrito a um trabalho corporal; Deus teria razão em lhes dizer: "cultivareis a terra e dela tirareis vosso sustento, com o suor de vosso rosto;" e à mulher: "Dareis à luz com dor", pois esta é a condição deste mundo. (Cap. XI, ns. 31 e seguintes).
O paraíso terrestre, de que inutilmente se procuraram os traços sobre a Terra, era pois a figura do mundo feliz onde Adão havia vivido, ou antes, a raça dos Espíritos que ele personifica. A expulsão do paraíso marca o momento no qual tais Espíritos vieram encarnar-se entre os habitantes deste mundo, e a mudança de situação que daí decorreu. O anjo armado com espada flamejante, que defende a entrada do paraíso, simboliza a impossibilidade em que se encontram os Espíritos dos mundos inferiores de penetrar nos mundos superiores antes de o haver merecido, através de sua purificação. (Ver Cap. XIV, ns. 8 e seguintes).
24. Caim, (depois da morte de Abel) respondeu ao Senhor: _ Minha iniqüidade é demasiado grande para que eu possa obter perdão. Vós me expulsais hoje de cima da Terra, e eu me irei ocultar da vossa face. Irei fugitivo e vagabundo sobre a Terra, até que me encontre alguém que me mate. _ O Senhor lhe respondeu: _ Não, isto não acontecerá, pois quem quer que mate Caim, será por isso punido severamente. _ E o Senhor colocou um sinal sobre Caim, para que os que o encontrassem não o matassem.
Caim, tendo se retirado da face do Senhor, foi vagabundear sobre a Terra, e habitou a região oriental do Éden. Aí conheceu sua mulher; ela concebeu e deu à luz Enoque. Ele construiu ("vaïehi bônê", literalmente: ele estava construindo) uma cidade que denominou Henoch (Enoquia) do nome de seu filho. (Cap. IV, vers. 13 a 16).
25. Se nos prendermos à letra da Gênese, eis a que conseqüências chegamos: Adão e Eva estavam sozinhos no mundo após sua expulsão do paraíso terrestre; não foi senão depois que tiveram filhos, Caim e Abel. Ora, Caim tendo morto seu irmão e se retirado para outra região, não tornou a ver mais seu pai e sua mãe, os quais de novo ficaram sozinhos; não foi senão muito tempo depois, com a idade
de cento e trinta anos, que Adão teve um terceiro filho, chamado Seth. Depois do nascimento de Seth, viveu ainda, segundo a genealogia bíblica, oitocentos anos, e teve filhos e filhas.
Quando Caim veio se estabelecer no oriente do Éden, não havia na Terra senão três pessoas: seu pai e sua mãe, e de seu lado, ele sozinho. Entretanto, teve mulher e filho; quem poderia ser essa mulher, e onde poderia ele tê-la tomado? O texto hebreu diz: estava construindo uma cidade, e não, construiu, o que indica uma ação presente e não ulterior; porém uma cidade supõe habitantes, pois não é de se presumir que Caim a fizesse para si, sua mulher e seu filho, nem que ele a pudesse construir sozinho.
É, pois, forçoso inferir-se de tal relato, que a região era povoada; ora, não podia ser pelos descendentes de Adão, dos quais não havia outro senão Caim.
A presença de outros habitantes ressalta igualmente dessas palavras de Caim: "Serei fugitivo e vagabundo, e quem quer que me encontre me matará", e da resposta que Deus lhe deu. Por quem ele temeria ser morto, e qual seria o efeito do sinal que Deus colocou sobre ele, se não devesse encontrar ninguém? Se, pois, havia sobre a Terra outros homens além da família de Adão, é que ali já estavam antes dele; do que se conclui, com os elementos do próprio texto da Gênese, que Adão não é o primeiro, nem o único pai do gênero humano. (Cap. XI, nº 34). (1)
26. Para lançar luz sobre todas as partes da Gênese espiritual, foram necessários os conhecimentos que o Espiritismo trouxe, demonstrando as relações entre o princípio espiritual e o princípio material, a natureza da alma, sua criação no estado de simplicidade e ignorância, sua união com o corpo, sua marcha progressiva indefinida através de existências sucessivas, e através de mundos que são outros tantos degraus na via do aperfeiçoamento, seu gradual livramento da influência da matéria mediante o uso de seu livre-arbítrio, a causa de suas inclinações boas ou más, assim como de suas aptidões, o fenômeno do nascimento e da morte, o estado do Espírito na erraticidade, enfim, o futuro que é o prêmio de seus esforços para sua melhoria e de sua perseverança no bem.
Graças a esta luz, o homem sabe doravante de onde vem, para onde vai, porque está sobre a Terra e porque sofre; sabe que seu futuro está entre suas mãos, e que a duração de seu cativeiro aqui embaixo depende dele. A Gênese, tirada da alegoria estreita e mesquinha, lhe aparece grande e digna da majestade, da bondade e da justiça do Criador. Considerada sob esse ponto de vista, a Gênese confundirá a incredulidade e a vencerá.
(1) Não é nova esta concepção. La Peyrére, sábio teólogo do século XVII, em seu livro "Preadamitas", escrito em latim e publicado em 1655, tirou do texto original da Bíblia, alterado pelas traduções, a prova clara de que a Terra era povoada antes de Adão. Esta é a opinião atual de muitos eclesiásticos esclarecidos.

Livro Genese / Allan Kardec

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Aprendendo com o Livro dos Espíritos questão 59

 
Diz também a Bíblia que o mundo foi criado em seis dias e põe a época da sua criação há quatro mil anos, mais ou menos, antes da era cristã. Anteriormente, a Terra não existia; foi tirada do nada: o texto é formal. Eis, porém, que a ciência positiva, a inexorável ciência, prova o contrário. A história da formação do globo terráqueo está escrita em caracteres irrecusáveis no mundo fóssil, achando-se provado que os seis dias da criação indicam outros tantos períodos, cada um de, talvez, muitas centenas de milhares de anos. Isto não é um sistema, uma doutrina, uma opinião insulada; é um fato tão certo como o do movimento da Terra e que a Teologia não pode negar-se a admitir, o que demonstra evidentemente o erro em
que se está sujeito a cair tomando ao pé da letra expressões de uma linguagem freqüentemente figurada. Dever-se-á daí concluir que a Bíblia é um erro? Não; a conclusão a tirar-se é que os homens se equivocaram ao interpretá-la.
Escavando os arquivos da Terra, a Ciência descobriu em que ordem os seres vivos lhe apareceram na superfície, ordem que está de acordo com o que diz a Gênese, havendo apenas a notar-se a diferença de que essa obra, em vez de executada milagrosamente por Deus em algumas horas, se realizou, sempre pela Sua vontade, mas conformemente à lei das forças da Natureza, em alguns milhões de anos. Ficou sendo Deus, por isso, menor e menos poderoso? Perdeu em sublimidade a Sua obra, por não ter o prestígio da instantaneidade? Indubitavelmente, não. Fora mister fazer-se da Divindade bem mesquinha idéia, para se não reconhecer a sua onipotência nas leis eternas que ela estabeleceu para regerem os mundos. A ciência, longe de apoucar a obra divina, no-la mostra sob aspecto mais grandioso e mais acorde com as noções que temos do poder e da majestade de Deus, pela razão mesma de ela se haver efetuado sem derrogação das leis da Natureza.
A existência do homem antes do dilúvio geológico ainda é, com efeito, hipotética. Eis aqui, porém, alguma coisa que o é menos. Admitindo-se que o homem tenha aparecido pela primeira vez na Terra 4.000 anos antes do Cristo e que, 1650 anos mais tarde, toda a raça humana foi destruída, com exceção de uma só família, resulta que o povoamento da Terra data apenas de Noé, ou seja: de 2.350 anos antes da nossa era. Ora, quando os hebreus emigraram para o Egito, no décimo oitavo século, encontraram esse país muito povoado e já bastante adiantado em civilização. A História prova que, nessa época, as Índias e outros países também estavam florescentes, sem mesmo se ter em conta a cronologia de certos povos, que remonta a uma época muito mais afastada. Teria sido preciso, nesse caso, que do vigésimo quarto ao décimo oitavo século, isto é, que num espaço de 600 anos, não somente a posteridade de um único homem houvesse podido povoar todos os imensos países então conhecidos, suposto que os outros não o fossem, mas também que, nesse curto lapso de tempo, a espécie humana houvesse podido elevar-se da ignorância absoluta do estado primitivo ao mais alto grau de desenvolvimento intelectual, o que é contrário a todas as leis antropológicas.
A diversidade das raças corrobora, igualmente, esta opinião, O clima e os costumes produzem, é certo, modificações no caráter físico; sabe-se, porém, até onde pode ir a influência dessas causas. Entretanto, o exame fisiológico demonstra haver, entre certas raças, diferenças constitucionais mais profundas do que as que o clima é capaz de determinar. O cruzamento das raças dá origem aos tipos intermediários. Ele tende a apagar os caracteres extremos, mas não os cria; apenas produz variedades. Ora, para que tenha havido cruzamento de raças, preciso era que houvesse raças distintas. Como, porém, se explicará a existência delas, atribuindo-se-lhes uma origem comum e, sobretudo, tão pouco afastada? Como se há de admitir que, em poucos séculos, alguns descendentes de Noé se tenham transformado ao ponto de produzirem a raça etíope, por exemplo?
Tão pouco admissível é semelhante metamorfose, quanto a hipótese de uma origem comum para o lobo e o cordeiro, para o elefante e o pulgão, para o pássaro e o peixe. Ainda uma vez: nada pode prevalecer contra a evidência dos fatos. Tudo, ao invés, se explica, admitindo-se: que a existência do homem é anterior à época em que vulgarmente se pretende que ela começou; que diversas são as origens; que Adão, vivendo há seis mil anos, tenha povoado uma região ainda desabitada; que o dilúvio de Noé foi uma catástrofe parcial, confundida com o cataclismo geológico; e atentando-se, finalmente, na forma alegórica peculiar ao estilo oriental, forma que se nos depara nos livros sagrados de todos os povos. Isto faz ver quanto é prudente não lançar levianamente a pecha de falsas a doutrinas que podem, cedo ou tarde, como tantas outras, desmentir os que as combatem. As idéias religiosas, longe de perderem alguma coisa, se engrandecem, caminhando de par com a Ciência. Esse o meio único de não apresentarem lado vulnerável ao cepticismo.
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O dia certo da criação da Terra e o momento em que surgiu o homem na face da mesma escapa a qualquer inventiva que deseje oferecer os dados exatos, para a curiosidade humana. Alguns escritores modernos atiram críticas desrespeitosas ao velho livro iniciado pelo Legislador Hebreu, por este dizer que a Terra foi feita em seis dias apenas. Esquecem-se esses defensores da verdade que a própria verdade, em se visitando a humanidade, veste a capa da relatividade, para não ser um veículo de perturbação. Muitos segredos existentes na Bíblia estão em forma de parábolas ou envolvidos na letra, para oferecer conforto às variadas classes de criaturas. Encontramos esse processo de comunicação no próprio Novo Testamento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele usou as parábolas para falar à multidão. Esse modo de falar por vezes atravessa séculos e mais séculos, conduzindo a mensagem para quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir, como Ele mesmo Se refere aos ansiosos pela verdade. A própria ciência moderna nos dá uma visão da paciente mutação das coisas. Vejamos a transformação do carvão em diamante, feita pela natureza em milhões de anos. Nada é feito com violência. Observemos a petrificação de animais encontrados nas rochas, e a própria pedra que já foi água em passado de difícil demarcação.
O fanatismo em tomo da Bíblia é obra dos homens que ainda não alcançaram o bom senso, pois ele existe em todas as religiões, senão na própria ciência ou filosofia. Compete a cada um de nós um estudo sério sobre a matéria e uma meditação respeitosa sobre os assuntos ventilados no Livro Sagrado, chegando à conclusão de que o bem feito por ele em todo o mundo ultrapassa as nossas esperanças em outras fontes. O próprio Jesus a chamou de lei, dizendo: “Não vim destruir a lei, mas dar-lhe cumprimento.” E o Novo Testamento sentiu-se seguro ligado ao Velho, como criança obediente ao pai, para depois ajudá-lo no seu roteiro de novas eras. O Mestre tinha grande zelo no cumprimento das escrituras, pois foi Ele mesmo, do mundo espiritual, quem enviou Moisés e os profetas, no anúncio de todas as verdades, do modo que elas foram pregadas, para depois consolidá-las com a Sua própria presença, que o mundo recebeu como um prêmio dos Céus, para nunca mais se esquecer dessas bênçãos de Deus aos filhos da Terra.
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