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sexta-feira, 21 de abril de 2017

CURA DE BARTIMEU Segundo Carlos Pastorino "Jesus "manda que o tragam até Ele". O espírito leviano da alma coletiva demonstra sua psicologia: já não mais o repreendem para que se cale; ao invés, o encorajam e ajudam, como se tudo proviesse da generosidade deles![...] o cego arroja de si o manto, para não atrapalhá-lo na rapidez dos movimentos, e levanta-se de um salto, lépido e esperançoso. Jesus pergunta-lhe o que quer Dele: dinheiro? A resposta do cego é clara: "Senhor (Marcos manteve o arameu Rabboni) que eu veja de novo"! O verbo anablépô dá a entender que não se tratava de cego de nascença.[...]O mendigar a plenos pulmões, diante da multidão, sem deixar vencer-se pelas vozes que nos querem obrigar a calar, tem esse resultado: "entramos no reino dos céus", seguindo o Cristo na estrada, sem mais largá-Lo. Realmente, é esse o primeiro passo para o início da caminhada na Senda: VER com o intelecto aberto e com a alma liberta dos preconceitos mundanos. E, uma vez obtida a luz, saber abandonar tudo, para seguir o Mestre excelso.







Mat. 20:29-34
29. E saindo eles de Jericó,
acompanhou-o grande multidão.
30. E eis dois cegos sentados à
beira da estrada, ouvindo
que Jesus passa, gritaram,
dizendo: "Compadece-te de
nós, senhor filho de David”!
31. A multidão repreendia-os,
para que se calassem, mas
eles gritavam mais, dizendo:
"Senhor, filho de David,
compadece-te de nós"!
32. Parando, Jesus chamou-os
e disse: "Que quereis que
vos faça"?
33. Disseram-lhe: "Senhor, que
se abram nossos olhos"!
34. Compadecido, pois, Jesus
tocou-lhes os olhos e imediatamente
enxergaram de
novo e o seguiam.


Marc. 10:46-52
46. E chegaram a Jericó. E
saindo ele de Jericó com
seus discípulos, e bastante
gente, o filho de Timeu,
Bartimeu, cego e mendigo,
estava sentado à beira da
estrada.
47. E ouvindo que era Jesus o
Nazareno, começou a gritar
e dizer: "Jesus, filho de
David, compadece-te de
mim"!
48. E muitos mandaram que se
calasse, mas ele gritava
mais ainda: "Filho de David,
compadece-te de
mim"!
49. E parando, Jesus disse:
"Chamai-o". E chamaram
o cego, dizendo-lhe: "Confia,
levanta-te, ele te chama".
50. Alijando a capa e saltando,
ele veio para Jesus.
51. E falou-lhe Jesus, dizendo:
"Que queres que te faça"?
O cego disse-lhe: "Rabboni,
que eu veia de novo"!
52. E disse-lhe Jesus: "Vai, tua
fé te salvou". E imediatamente
viu de novo e o
acompanhou pela estrada.

Luc. 18:35-43
35. Aconteceu pois, ao aproximar-
se ele de Jericó, um
cego estava sentado, mendigando,
à beira da estrada.
36. Ouvindo passar uma multidão,
indagava o que era
aquilo.
37. Disseram-lhe que era Jesus,
o Nazareno, que passava.
38. E gritava, dizendo: "Jesus,
filho de David compadecete
de mim”!
39. E Os que iam à frente
mandavam que se calasse,
ele porém gritava mais ainda:
"Filho de David, compadece-
te de mim"!
40. Detendo-se, pois, Jesus
mandou que o conduzissem
a ele. Tendo chegado, perguntou-
lhe:
41. "Que queres que te faca"?
Ele disse: "Senhor , que eu
veja de novo".
42. E Jesus disse-lhe: “Vê. Tua
fé te salvou".
43. E de pronto viu de novo e
seguiu-o, louvando a Deus.
E, vendo, todo o povo deu
louvor a Deus.



De início precisamos resolver uma dificuldade. Mateus e Marcos dizem que a cura foi efetuada ao sair de Jericó e Lucas que foi ao entrar na cidade. Estudemos a topografia.
A cerca de 26 ou 30 km de Jerusalém, havia uma cidade antiquíssima, chamada Jericó, construída perto da fonte de Eliseu. Cidade desde Números e Deuteronômio, ficou célebre quando os israelitas, sob o comando de Josué, a tomaram, ao entrar na Terra Prometida, tendo sido derrubadas suas muralhas
ao som das trombetas e dos gritos dos soldadas hebreus. Era chamada a "cidade das palmeiras" (Deut. 34:3), pois estava num oásis fértil. Suas ruínas foram descobertas nas escavações de 1908-1910.
Acontece que Herodes o Grande, e mais tarde Arquelau, aproveitando o oásis, construíram outra cidade mais ao sul, com o mesmo nome, no local em que o Ouadi eI-Kelt desemboca na planície. Local maravilhoso para morar no inverno, porque as montanhas da Judéia o protegiam contra os ventos frios de oeste. Foram construídos grandes palácios suntuosos, com piscinas luxuosas, um anfiteatro e um hipódromo, termas e templos, etc. Jericó tornou-se a segunda cidade da Palestina em importância e extensão, depois de Jerusalém.
Para os israelitas Mateus e Marcos, a Jericó verdadeira era a "velha", pois a nova era "pagã". Para o grego Lucas, Jericó era a cidade nova. Compreende-se, então, que ao sair da velha e entrar na nova cidade, tenha o cego encontrado Jesus. Tanto assim que, logo a seguir Lucas narra o episódio de Zaqueu, que habitava a cidade nova.
Mas os cegos eram dois ou só havia um? Mateus diz que eram dois, contra a opinião de Marcos e de Lucas, que afirmam ter sido um, sendo que o primeiro lhe dá até o nome, demonstrando estar muito bem informado do que ocorreu. Alguns exegetas alegam que de fato os cegos costumavam andar em duplas, para se distraírem conversando durante as longas horas de espera, e para se consolarem de seu infortúnio. Observamos, entretanto, que Mateus gosta de dobrar, como no caso dos dois cegos, narrado em 9:27, dos dois obsidiados de Gerasa (8:28), embora Marcos (5:1-20) e Lucas (8:26-36) digam ter sido um (cfr. vol. 3).
Também aqui os exegetas dividem suas opiniões, procurando justificar: um dos cegos, Bartimeu, tomou
a iniciativa e chamou sobre si a atenção; o outro, que o acompanhava, nem foi quase notado, a não ser por Mateus, presente à cena, pois Marcos ouviu o relato de Pedro, e Lucas só veio a saber dos fatos muito mais tarde, pela tradição oral. É o que diz Agostinho: hinc est ergo quod ipsum solum voluit commemorare Marcus, cujus illuminatio tam claram famam huic miráculo comparavit, quam erat illius nota calámitas, isto é, "daí porque Marcos só quis recordar aquele único, cuja cura adquiriu uma fama tão grande com esse prodígio, quanto era conhecida a calamidade dele" (Patrol. Lat. vol. 34, col.1138).
De qualquer forma, a anotação de Marcos e Lucas, de que se tratava de "mendigos" (prosaítês), confirma a realidade, já que, àquela época, não havia preocupação de aproveitar os estropiados: desde que a criança nascesse defeituosa, só havia um caminho: a mendicância.
O local escolhido pelos dois era excelente: passagem obrigatória para todos os peregrinos que, por ocasião da Páscoa que se aproximava, vinham da Transjordânia e da Galiléia, dirigindo-se para Jerusalém.
Quanto ao nome, dado em arameu, observamos que geralmente (cfr. Marc. 3:17; 7:11, 34; 14:26, etc.) é dado primeiro o nome, e depois o significado; no entanto aqui se inverte: primeiro aparece a tradução, "filho de Timeu", e depois o nome "Bartimeu". Portanto, nome patronímico, como tantos outros (cfr. Barjonas, Bartolomeu, Barjesus, Barnabé, Baraquias, Barrabás, Barsabás, etc.).
Ao perceber a pequena multidão bulhenta que passava, o cego indagou de que se tratava, e foi informado de que era o taumaturgo-curador Jesus o Nazareno, filho de David.
A Palavra "Nazareno" aparece com mais frequência sob a forma "Nazoreu" (nâshôray e nazôraios, em hebr. e grego). Porém, não se confunda essa palavra com "nazireu"! Com efeito, nos evangelhos temos onze vezes a forma nazoreu (Mt. 2:23 e 26:71; João, 18:5,7, e 19:19; Atos, 2:22; 3:6; 4:10; 6:14; 22:8;
24:5 e 26:9) contra seis vezes a forma "nazareno" (Marc. 1:24; 10:47; 14:67 e 16:6, e Luc. 4:34 e 24:19). Mesmo neste local o texto de Mateus varia nos códices entre nazarenus (Vaticano e outros) e nazoreu (Sinaítico e outros).
Ao saber de quem se tratava, o cego gritou em altos brados, pedindo compaixão. A multidão tenta fazê-lo calar-se, mas ele não quer perder aquela oportunidade e grita mais forte ainda.
Marcos dá pormenores vivos: Jesus pára e manda chamá-lo. Lucas, médico, é mais preciso na linguagem:
Jesus "manda que o tragam até Ele". O espírito leviano da alma coletiva demonstra sua psicologia: já não mais o repreendem para que se cale; ao invés, o encorajam e ajudam, como se tudo proviesse da generosidade deles!
Ao saber-se chamado, o cego arroja de si o manto, para não atrapalhá-lo na rapidez dos movimentos, e levanta-se de um salto, lépido e esperançoso. Jesus pergunta-lhe o que quer Dele: dinheiro? A resposta do cego é clara: "Senhor (Marcos manteve o arameu Rabboni) que eu veja de novo"! O verbo anablépô dá a entender que não se tratava de cego de nascença.
Como sempre, Jesus atribui a cura, que foi instantânea, à fé ou confiança (pistis) do cego. A certeza de obter o favor era tão firme, que foi possível curá-lo.
E o cego "acompanhou Jesus pela estrada", feliz de estar novamente contemplando a luz e de poder ver o homem que o tirara das trevas.
Aqui novamente deparamos com um fato que simboliza uma iluminação obtida por um espírito que sabe o que quer e que quer o que sabe. Não é pedida nenhuma vantagem pessoal, mas a luz da compreensão. Bartimeu (filho do "honorável"), embora mergulhado nas trevas em que o lançaram seus erros, ainda sabe reconhecer o momento propício de uma invocação, para obter a visão plena do espírito, e sabe seguí-la depois que a obteve, acompanhando Jesus pela estrada da vida.
Apesar de muita gente querer impedir que o cego grite por compaixão, este não desiste de sua pretensão.
Sua confiança é ilimitada; e esse espírito está enquadrado na primeira bem-aventurança: "felizes os que mendigam o espírito, porque deles é o reino dos céus".
O mendigar a plenos pulmões, diante da multidão, sem deixar vencer-se pelas vozes que nos querem obrigar a calar, tem esse resultado: "entramos no reino dos céus", seguindo o Cristo na estrada, sem mais largá-Lo. Realmente, é esse o primeiro passo para o início da caminhada na Senda: VER com o intelecto aberto e com a alma liberta dos preconceitos mundanos. E, uma vez obtida a luz, saber abandonar tudo, para seguir o Mestre excelso.
Hoje não temos mais o Mestre Jesus em corpo a perambular pelas ruas de nossas cidades. Mas quantas vezes passa o Cristo por nós e, distraídos, deixamos escapar a oportunidade.
Passa o Cristo no meio da multidão azafamada, preocupada pelos negócios, interesseira de vantagens materiais, e não sabemos descobri-Lo, e deixamos desvanecer-se o ensejo.
Passa o Cristo entre os furacões e as tempestades de nossa alma, e nós, atormentados e dominados pelas emoções, nem reparamos em Sua passagem.
Passa o Cristo silencioso nas solidões tristes das horas vazias, nos abandonos cruéis de todos os amigos, nas fugas amedrontadas de nossos companheiros, e não percebemos Sua vibração misteriosa e profunda a convocar-nos ao Seu coração amoroso.
Quantas vezes já terá passado o Cristo, sem que o tenhamos percebido!

Sabedoria do Evangelho volume 6 - Carlos Pastorino