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domingo, 25 de abril de 2021

O TRIBUNO

CAPÍTULO 8 - O TRIBUNO

Castorino Silveira, dono de oratória eloquente, era daqueles que fazia da tribuna espírita a vitrine dos seus incontestáveis conhecimentos doutrinários.

Ao menos quinzenalmente, assumia - exibindo o porte e a altivez de um sacerdote - o púlpito da sociedade espírita a que se filiara e, por mais de hora, desfiava, a ouvintes pasmados, argumentos insofismáveis.

Condenava, veementemente, próceres*( influentes)  de outras religiões tachando-os, em reprimenda, de falsos profetas, pastores enganadores e outros epítetos*(sobrenomes).

Destarte( deste modo ) , ia largando sua semente entre espinheiros e terras inférteis, na malversação de suas riquezas verbais. Não contendo o seu entusiasmo, mais se perdia em largas gesticulações teatrais do que plantava amor e humildade.

Ao final das reuniões, todos transbordavam, uns em abraços, outros em lisonjas e elogios, outros ainda serenos ou desconfiados. Alguns ainda ruminavam as críticas ásperas que ouviram, talvez por incompreensão, ou mesmo porque não sentiam, na palavra inflamada de Castorino, a luminosa vibração que se irradia dos espíritos humildes. Se a uns Castorino Silveira convencia, a outros, todavia, sua pregação soava como uma algaravia*( tagarelice) , como o pipocar de rojões em festejos de roça. Eram lantejoulas verbais que apenas cintilavam, sem o valor intrínseco dos ensinamentos divinos, jóias da espiritualidade maior.

Um dia, Castorino Silveira, ao ser interpelado ao final de uma de suas palestras, sentiu uma dor aguda no peito. Despindo-se do fardo material, entre gemidos e estertores, viu-se subitamente, do outro lado da vida.

Quase que de imediato foi carregado em uma padiola*, no plano espiritual, rumo a um hospital, sob os cuidados de bondosos benfeitores.

Meses depois, Castorino recebeu alta. Desembaraçado, dirigiu-se, em companhia de um irmão, ao departamento onde seria entrevistado, para melhor avaliação de sua condição naquela colônia espiritual.
A essa altura, supondo-se refeito e adaptado, cogitava até em pleitear oportunidade para reiniciar as pregações doutrinárias, junto aos espíritos mais carentes.

Depois dos cumprimentos e apresentações, o irmão Benevides, um assistente social, lendo uma ficha que estava sobre a mesa, indagou:

- Então é o irmão Castorino Silveira?

- Claro! - confirmou Castorino, feliz por ser reconhecido de imediato, acrescentando:

- Como o irmão deve saber, eu fui um grande orador espírita. Desencarnei, vítima de um enfarte, ao sair de uma sessão. O tema da minha palestra, naquele dia, foi "A parábola do semeador".

- Sim, nós sabemos disso - interrompeu o irmão Benevides. Olhando fixamente para Castorino, esclareceu:

- Sua semeadura, irmão Castorino, se alguma vez germinou e produziu frutos em outras pessoas, não deu, para você mesmo, uma boa safra.

- Como assim? - indagou Castorino espantado, prosseguindo indignado:

- Eu fui um incansável lavrador da Seara do Mestre, espalhando a semente de O Evangelho Segundo o Espiritismo aos quatro ventos, com o meu verbo inflamado!

- É verdade, meu irmão. Você espalhou a semente aos quatro ventos, mas nenhuma germinou em seu coração.
Caído na superfície de sua alma, o calor da vaidade e do orgulho queimou-as.
Suas palavras, irmão Castorino, eram vazias de amor e de humildade. Visavam mais à promoção pessoal do que propriamente ao plantio do amor exemplificado pelo Mestre.

Castorino Silveira abaixou a cabeça. Em sua mente, projetavam-se cenas de suas incontáveis palestras, nas quais, gesticulando com ardor, discursava enfaticamente, demonstrando sua eloquente oratória.

Apercebeu-se, no quadro fluídico, de sua preocupação com a própria imagem, relegando a divulgação da Boa Nova a segundo plano.

Um frio cortou-lhe o coração ao ouvir as últimas palavras do irmão Benevides:

- Prepare-se, irmão Castorino, para em breve regressar à Terra. E, uma vez que nessa última encarnação você se engrandeceu e gratificou-se, esquecido de que o orador espírita deve dar provas cabais de humildade, retornará agora à vida física, na condição de surdo-mudo, para efetiva tarefa espírita em organização de deficientes. Aprenderá a Doutrina Espírita por meio da leitura silenciosa. Será um professor, e ensinará a outros irmãos, igualmente surdos-mudos, valendo-se apenas da gesticulação das mãos e dos dedos.

Irmão X


FONTE: 

LIVRO : CASOS E COISAS, DAQUI E DAÍ - 1ª EDIÇÃO / ANO: 2003

DITADO PELO ESPÍRITO : IRMÃO X

PSICOGRAFADO POR : HEITOR LUZ FILHO

quinta-feira, 28 de abril de 2016

A INDIGNAÇÃO[1] E O EFEITO."acreditar-se melhor do que o outro nada mais é do que demonstração de orgulho, que dá origem à cólera. Esse sentimento de cólera, em relação ao irmão que praticou a injustiça, passa a orbitar nosso psiquismo, ocasião em que passamos a relatar para outros irmãos em Cristo o lamentável fato que deu origem à indignação. "



Todos os que se encontram estagiando neste orbe, verdadeiro planeta de provas e expiação, onde a imperfeição é generalizada, já experimentamos esse sentimento que, conquanto seja natural no ser humano, traz perniciosas conseqüências quando manifestado de forma exacerbada e constante.
Tornou-se comum em nosso cotidiano nos defrontarmos com  noticiários e relatos de fatos que nos revoltam, tamanha a injustiça e o ardil com que pessoas inescrupulosas conseguem promover a maldade, praticando atos indignos.
Nesse momento, a maior parte das pessoas se esquecem de que, também, são espíritos devedores (por débitos assumidos em tempos passados) e, acreditando-se melhores do que o irmão que promoveu a injustiça, se desequilibram, permitindo que essa revolta, inicialmente natural, se eleve fazendo eclodir a ira intensa.
Aliás, acreditar-se melhor do que o outro nada mais é do que demonstração de orgulho, que dá origem à cólera.
Esse sentimento de cólera, em relação ao irmão que praticou a injustiça, passa a orbitar nosso psiquismo, ocasião em que passamos a relatar para outros irmãos em Cristo o lamentável fato que deu origem à indignação.
Dessa maneira, a revolta se agiganta dentro de nós e passamos a contaminar outros irmãos com o mesmo pensamento de revolta e indignação, fazendo com que o conflito psíquico permaneça em nós, além das pessoas com quem repartimos esse fato nocivo.
A partir daí, o efeito deletério provocado por essa raiva, a permitir que esse conflito psíquico passe para o corpo, faz emergir a doença no físico, como decorrência  da somatização.
E mais uma vez, o desavisado irmão passa a sofrer as conseqüências de seu próprio ato, pela incúria na manutenção da sua paz, como efeito da intensificação da indignação pelos atos praticados por outros irmãos.
De início, não podemos nos olvidar de que somos espíritos com superlativa imperfeição (ricos de vícios e defeitos e pobres de virtudes) que, por diversas encarnações, preferimos nos afastar das leis de justiça, amor e caridade, que emanam do Criador, não sendo outro, senão esse, o motivo de permanecermos, ainda, neste santo educandário, que é o planeta Terra.
É importante lembrar, também, de que qualquer desequilíbrio irá toldar nossa visão, obscurecendo nosso pensamento, o que, de igual forma, nos impedirá de agir com acerto.
Ensina-nos o Evangelho de Jesus Cristo que devemos ser indulgentes para com o próximo e severos para conosco, o que torna evidente que qualquer juízo que venhamos a lançar contra o autor da injustiça será equivocado, pois, desconhecemos tudo a respeito desse irmão.
A propósito, confira-se a orientação do Evangelho Segundo o Espiritismo, na mensagem de José, Espírito protetor. (Bordéus, 1863.), a saber:
Oh homens! Quando será que julgareis os vossos próprios corações, os vossos próprios pensamentos, os vossos próprios atos, sem vos ocupardes com o que fazem vossos irmãos? Quando só tereis olhares severos sobre vós mesmos? Sede, pois, severos para convosco, indulgentes para com os outros. Lembrai-vos daquele que julga em última instância, que vê os pensamentos íntimos de cada coração e que, por conseguinte, desculpa muitas vezes as faltas que censurais, ou condena o que relevais, porque conhece o móvel de todos os atos. Lembrai-vos de que vós, que clamais em altas vozes: anátema! tereis, quiçá, cometido faltas mais graves. Sede indulgentes, meus amigos, porquanto a indulgência atrai, acalma, ergue, ao passo que o rigor desanima, afasta e irrita. - José, Espírito protetor (Bordéus, 1863).
Pode-se argumentar que a injustiça é sempre injustiça, o que é certo. Porém, a indignação nasce justamente do severo julgamento que realizamos a respeito do autor dos fatos, esquecendo, mais uma vez, nossa imperfeição e nossas dívidas do pretérito.
Conquanto a indignação possa revelar uma atitude elevada da pessoa, diante de injustiças cometidas por outrem, o fato é que sempre nos arvoramos em juizes implacáveis desses irmãos que praticam atos deploráveis e que, nesta encarnação, deixamos de praticar.
Entretanto, quem poderá ser tão implacável assim, a ponto de esquecer que ainda está no planeta Terra, onde se situam espíritos endividados que aqui se encontram para o devido resgate das dívidas do pretérito tenebroso?
Pelas dores físicas e morais que suportamos, podemos ter uma pálida idéia de nossas dívidas do passado, ao passo que nada sabemos a respeito do autor das injustiças.
É oportuna, também, a conclusão do espírito HAMMED, através da psicografia de Francisco do Espírito Santo Neto, em o livro RENOVANDO ATITUDES, editora Boa Nova, que diz:
“Julgar uma ação é diferente de julgar a criatura. Posso julgar e considerar a prostituição moralmente errada, mas não posso e não devo julgar a pessoa prostituída”. sic
O Iluminado espírito de HAMMED, no mencionado livro, nos traz a lição do Aposto dos Gentios, a saber:
Segundo Paulo de Tarso, “é indesculpável o homem, quem quer que seja, que se arvora em ser juiz. Porque julgando os outros, ele condena a si mesmo, pois praticará as mesmas coisas, atraindo-as para si, com seu julgamento”. sic[2]
Não se está aqui fazendo a apologia da inação diante das injustiças. O que é preciso entender é que a alteração emocional não permitirá a ninguém um juízo de valor equilibrado, prestando-se, apenas, à sua somatização. É necessário, pois, tentar aplicar a lição que Santo Agostinho, em o livro O LIVRO DOS ESPÍRITOS, na resposta à pergunta n. 919, nos oferta sobre o conhecimento de si mesmo como meio para se obter a reforma íntima, avaliando a cada dia nossos pensamentos, palavras e atos, pois, certamente, encontraremos muito o que mudar em nossa vida.
O iluminado espírito de Joana de Angelis, através da psicografia de Divaldo Pereira Franco, em o livro LEIS MORAIS DA VIDA, esclarece que: “Quando existe harmonia interior os ruídos de fora não ecoam pertubadoramente”. sic
No mesmo livro encontramos, também, a advertência seguinte: “Crês que mereces mais do que eles, os insensatos e perversos, que galopam sobre a fortuna e a glória, sem te dares conta de que as determinações divinas são sábias e jamais erram”.sic

Além do mais, não podemos olvidar da lição do Mestre Divino que disse: “Vós julgais segundo a carne, e eu a ninguém julgo”.sic
Portanto, diante dos lamentáveis fatos que assistimos diariamente, devemos alterar a maneira de ver e observar, de modo a evitar um julgamento equivocado que  produzirá desequilíbrios, afastando-nos da paz interior.
Que Jesus Cristo, nosso amado e Divino Mestre, nos felicite a todos com a Sua infinita PAZ.
César Luiz de Almeida
Grupo Espírita Fraternidade


[1]   1   Sentimento de cólera ou de desprezo experimentado diante de indignidade, injustiça, afronta; repulsa, revolta
 2   Derivação: por extensão de sentido.ira intensa; ódio, raiva

Fonte:  http://www.netluz.org/textos/msg/msg24.htm

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

NO MOMENTO DE JULGAR


                                               
Emmanuel

No momento de julgar alguém, como poderás julgar esse alguém, de todo, se não conheces tudo?
Terá sucedido um crime, estarrecendo a multidão.
Suponhamos que um homem desequilibrado haja posto uma bomba em certa casa, no intuito de destruir-lhe os moradores. Entretanto, por trás dele estão aqueles que fabricaram o engenho mortífero; os que o conservaram para utilização em momento oportuno; os outros que lhe identificaram o perigo, aprovando-lhe a existência; e aqueles outros ainda que, indiferentes,lhe acompanharam o fogo no estopim, se a mínima disposição de apagá-lo.
De que maneira medirias o remorso do espírito de um homem assassinado, na hipótese desse mesmo assassinado haver provocado o seu contendor até que o antagonista lhe furtasse o corpo, num instante de insanidade? E como observarias o pesar do semelhante, à vezes, ilhado no fundo de uma penitenciária, na posição de um vivo-morto, quando o imaginado morto permanece vivo? E com que metro verificarias o sofrimento de um e outro?
Com que pancadas ou palavras agressivas conseguirias punir, durante algumas horas, a criatura menos feliz que já carrega em si o tormento da culpa, à feição de suplício que lhe atenaza o coração, noite e dia?
Ante a queda moral de alguém, é mais razoável entrarmos para logo no assunto, na condição de partícipes dela, antes que nos alcemos à indébita função de censores.
Não precisaríamos tanto de justiça, se não praticássemos a injustiça e nem tanto de medicina se não tivéssemos doença.
Necessitaríamos, porventura, na Terra, de tantas e tão multiplicadas lições, em torno do bem, se o mal não nos armasse riscos, quase que em todas as direções do Planeta?
E onde estão aqueles que estejam usufruindo a glória da instalação segura no bem, sem o prejuízo de algum mal, ou aqueles outros que atravessam os espinheiros do mal, sem a vantagem de algum bem?
No momento de julgar, peçamos a Inspiração da Providência Divina para os magistrados que as circunstâncias vestiram com a toga, a fim de que acertem, nas suas decisões,em louvor do equilíbrio geral, porquanto é tão delicado o encargo de juiz chamado a interferir no corpo da ordem social, quão difícil é a tarefa do cirurgião convocado para interferir no corpo físico.
E quanto a nós outros, os que não somos trazidos a sentenças de lei, já que não nos achamos compromissados para isso, usemos a sobriedade e a compaixão em todos os nossos processos de vivência pessoal no cotidiano, conscientes, quanto devemos estar, de que os justos são as âncoras dos injustos e de que os bons constituem a esperança para todos aqueles que a maldade ensandece.
No momento de julgar, ainda que te coloquem no último banco, entre os últimos réus, e mesmo que se te negue o direito de defender a própria consciência edificada e tranqüila, a ninguém condenes, nem mesmo àqueles que, porventura, te condenem.
Usa sempre a misericórdia e acertarás.
Digitado por: Ismael Soares de Almeida

O TÚNEL MEDIÚNICO

Irmão Saulo

 Na hora em que a descoberta da antimatéria pela Física levanta a hipótese dos universos duplos, cientificamente elaborada, a imagem do túnel mediúnico reveste-se de maior expressão. Essa imagem é também uma elaboração científica, e por sinal do eminente físico inglês Sir Oliver Lodge que sustentou o seguinte: Vivemos num mundo só, num verdadeiro Universo, mas que deve ser compreendido como Universo, dividido em duas partes. De um lado fica a planície dos Homens e do outro o planalto dos Espíritos. Dividindo as duas regiões ergue-se a montanha desconhecida.
A curiosidade humana é imensa e desde todos os tempos os homens vêm cavando e perfurando a base da montanha no anseio de ver o que existe do outro lado.Pouco a pouco um túnel foi sendo aberto. E de súbito os homens começaram a ouvir pancadas surdas que vinham ao seu encontro. São os moradores do planalto que, impelidos pela mesma curiosidade, perfuram também o seu túnel. Dia a dia as pancadas se tornam mais audíveis de lado a lado. As duas equipes se aproximam e chegamos no momento em que a abertura do túnel se torna iminente.
Essa imagem encontra o referendo atual da hipótese físico-astronômica dos Universo duplos. Isaac Azimov, em seu livro “O Universo”, considerando que as partículas de antimatéria produzidas em laboratório explodem ao encontrar-se com partículas correspondentes de matéria,numa explosão dupla, em que as duas se desintegram, propõe a existência de um elemento intermediário que ao mesmo tempo separa e liga os dois universos. Esses elementos corresponde à teoria do fluido universal no Espiritismo, tendo as mesmas características genéticas, dinâmicas e funcionais desse fluido.
Por outro lado, essas características são as mesmas do perispírito, elemento procedente do fluido universal e que serve de ligação entre o espírito e o corpo,na constituição psicossomática do homem. E é graças a esse elemento intermediário que ocorrem os fenômenos mediúnicos, permitindo a comunicação dos Espíritos através de pessoas especialmente sensíveis,como no caso de Francisco Cândido Xavier. O túnel mediúnico se abre, assim, pelo duplo esforço dos médiuns e dos espíritos,no anseio recíproco de vencerem a morte e a separação, para atingirem a era cósmica da comunicação transespaciais e transtemporal.
Nesse irrefreável e surdo processo, que se desenvolve nas profundezas do próprio homem,à revelia da sua cultura sensorial e portanto exterior, os Espíritos se mostram mais interessados no desenvolvimento moral da Humanidade Terrena. Isso porque a evolução intelectual do homem já o capacita para a integração na Humanidade Cósmica, que povoa os Universos duplos pelo Infinito. Essa a razão por que Chico Xavier, no seu trabalho psicográfico de mais de 40 anos, tendo publicado até agora 116 livros, além de milhares de mensagens incursionando várias vezes pelo campo das Ciências - recebe maior quantidade de comunicações de natureza filosófica e moral.


Livro “Chico Xavier pede licença” Psicografia Francisco C. Xavier Autores diversos

sábado, 2 de novembro de 2013

PERANTE OS CAÍDOS


Emmanuel 
Tão fácil relegar ao infortúnio os nossos irmãos caídos!... Muitos passam por aqueles que foram acidentados em terríveis enganos e nada encontram a fim de oferecer-lhes, senão frases como estas: "eu bem disse", "avisei muito"...
No entanto, por trás da queda de nosso amigo menos feliz estão as lutas da resistência, que só a Justiça Divina pode medir.
Este foi impelido à delinqüência e faz-se conhecido agora por uma ficha no cadastro policial; mas, até que se lhe consumasse a ruína, quanto abandono e quanta penúria terá arrastado na existência, talvez desde os mais recuados dias da infância!... Aquele se arrojou aos precipícios da revolta e do desânimo, abraçando o delírio da embriaguez; contudo, até que tombasse no descrédito de si mesmo, quantos dias e quantas noites de aflição terá atravessado, a estorcegar-se sob o guante da tentação para não cair!... Aquela entrou pelas vias da insensatez e acomodou-se no poço da infelicidade que cavou para si própria; todavia, em quantos espinheiros de necessidade e perturbação ter-se-á ferido, até que a loucura se lhe instalasse no cérebro atormentado!... Aquele outro desertou de tarefas e compromissos em cuja execução empenhara a vitória da própria alma e resvalou para experiências menos dignas, comprometendo os fundamentos da própria vida; no entanto, quantas lágrimas vertido, até que a razão se lhe entenebrecesse, abrindo caminho à irresponsabilidade e à demência!...
Diante dos companheiros apontados à censura, jamais condenes! Pensa nas trilhas de provação e tristeza que haverão perlustrado até que os pés se lhes esmorecessem, vacilantes, na jornada difícil! Reflete nas correntes de fogo invisível que lhes terão requeimado a mente, até que cedessem às compulsões terríveis das trevas!...
Então, e só então, sentirás a necessidade de pensar no bem, falar no bem, procurar o bem e realizar unicamente o bem, compreendendo, por fim, a amorosa afirmação de Jesus: "Eu não vim à Terra para curar os sãos".

 
Do livro “Alma e Coração”. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
 

sábado, 25 de maio de 2013

Não Julgueis

NÃO JULGUEIS
Acaba de vir às nossas mãos um bem lançado artigo a propósito da sentença que ora nos serve de epígrafe.

Alega-se no aludido artigo que os espíritas, quando no conselho de sentença, costumam absolver sistematicamente os réus.

Ignoramos se realmente tem sido essa a norma de conduta dos espíritas no júri.
Quanto a nós, declaramos que, todas as vezes que servimos como juiz de fato, absolvemos, e disso não estamos arrependidos, por isso que entendemos, em consciência, que tais réus deviam ser absolvidos.

No entanto, não pretendemos firmar a doutrina da absolvição incondicional. Casos há em que, para evitar mal maior, seria lícito votar de modo a conservar o acusado recluso, dadas as suas condições de perigo para a segurança social.
Assim procedendo, não estaremos julgando, mas acautelando a coletividade da qual somos parte integrante.

Demais, que são os criminosos de toda a espécie senão anormais, desequilibrados, enfermos da alma, numa palavra?
Faça-se, portanto, com eles o que se faz com os doentes de moléstias infectuosas: segreguemo-los da sociedade a fim de evitar as consequências do mal.
Esta medida é razoável, é humana, não há mesmo outra a tomar, uma vez que se preste aos segregados a devida assistência reclamada pelas suas condições.

Não há direitos sem deveres. Se assiste à sociedade o direito de separar os doentes dos sãos, cumpre-lhe o dever inalienável de assisti-los convenientemente.

Não é o criminoso que se deve combater: é o crime em suas várias formas. A Medicina não combate o enfermo, mas a enfermidade, suas causas e origens.
Enquanto a questão não for encarada sob este prisma, o crime continuará a proliferar, perturbando a ordem e a paz da sociedade.

Julgar? Quem somos nós para julgar nossos irmãos, se todos somos réus no tribunal de nossas consciências? Fazê-lo em nome da sociedade?
Pois é a sociedade mesma, tal como está constituída, a responsável por grande número de crimes que em seu seio se cometem.
As piores doenças são fruto do ambiente. Quando o meio é miasmático e deletério, as enfermidades se alastram, tornando-se endêmicas.
Tal é a nossa sociedade. A recrudescência do crime é efeito da materialidade e da hipocrisia reinantes no século. A higiene social seria o melhor antídoto contra o vício e o crime.

O Código pelo qual se regem as nações, ditas civilizadas, precisa ser reformado: e sê-lo-á fatalmente. Inspirado no Direito Romano, o Código cogita exclusivamente da aplicação de penas, quando devera curar da higiene da alma.

É natural que se condene ao trabalho o homem afeito à ociosidade, empregando-se processos adequados ao caso, ainda que não deixemos de reconhecer que a mesma inércia e apatia sejam, a seu turno, formas de desequilíbrio psíqui¬co.
O homem normal ama o trabalho, não pode permanecer inativo. Como a ociosidade, todos os demais vícios são, no fundo, falhas de caráter, distúrbios de ordem moral.
Para corrigi-los, duas medidas se impõem: educação individual e saneamento do ambiente.

Cadeira elétrica, forca e guilhotina não resolvem o problema em questão, como atestam as estatísticas de criminalidade dos países onde aquelas penas vigoram.
Eliminar a vida física do criminoso não lhe modifica o caráter, não lhe altera numa linha sequer o nível moral. Não é ao corpo, é ao espírito que cabe a responsabilidade pelos atos delituosos.
Despertar-lhe a consciência, elevar o grau de sua sensibilidade moral, eis o único processo eficiente no tratamento de tais enfermidades. Este processo chama-se educação.

A sociedade viverá sempre às voltas com os delinquentes, enquanto não cumprir o dever que lhe assiste de educá-los. Até aqui, a sociedade, baseando-se no parecer de criminólogos materialistas, invoca apenas o direito de punir.

Por isso ela também vai sendo punida. Há de suportar as consequências do seu erro até que emende a mão. Aliás, já os prenúncios de uma reforma se vão fazendo sentir.

Resta ainda considerar que a única pena que resulta benéfica na regeneração dos criminosos é aquela que dimana naturalmente do próprio crime. Toda penalidade imposta de fora, com caráter de vindita, é contraproducente.
Avilta o moral dos fracos e exacerba o ânimo dos fortes; produz, por conseguinte, hipócritas, cínicos e revoltados. Não regenera: corrompe. Só a educação, equilibrando os poderes do espírito, produz resultado prático, eficiente e positivo.

O código materialista deve ceder lugar ao código espiritualista.
Este não cogitará de julgar e menos ainda de aplicar esta ou aquela pena como castigo, mas tratará da educação moral, não dessa moral caricata, para uso externo, vazada em moldes ritualísticos, mas da moral evangélica, da moral positiva que se funda nas leis naturais que regem os destinos do espírito.

O Espiritismo vem ensinar à Humanidade a reger-se, não mais pelo código romano, mas pelo código divino que reflete a indefectível justiça e a soberana vontade do Céu!

Vinicius
Livro Mestre da Educação

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

OS DEFEITOS DOS NOSSOS IRMÃOS


Nos ensinamentos de Jesus em M t 7: 1-5 em que adverte quanto ao hábito de julgar o próximo, deu-nos o seguinte exemplo:
- "Por que vês tu, pois, argueiro no olho do teu irmão, e não vês a trave no teu olho?
Ou como dizes a teu irmão: deixa-me tirar-te do teu olho um argueiro, quando tu tens no teu uma trave?
Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás claramente para tirar o argueiro do olho do teu irmão".
É hábito bastante generalizado notarmos os defeitos dos nossos semelhantes, sem atinarmos com os nossos próprios erros e falhas.
No dizer de Jesus, é muito comum vermos um cisco no olho do nosso irmão e não sentirmos a trave que está em nosso próprio olho.
No tocante a esse trecho, o Mestre nos recomendou que procuremos remover os empecilhos que estão em nossos próprios olhos e, então, com o olho agora bom poderemos ver as qualidades boas que adornam os nossos irmãos.
O orgulho e a inveja têm sido a fonte geratriz de muitos males dessa natureza.
Muitas pessoas, não podendo conformar-se com as qualidades nobres que notam nos outros, ou que se salientam neles, em vez de procurarem ver nessas pessoas um paradigma, envidando esforços para igualá-las, preferem denegri-las apontando falhas irrisórias, quando na realidade possuem outras maiores em profusão.
Os acusadores de Israel que perseguiram a mulher adúltera a fim de apedrejá-la, viram a falha que ela havia cometido, mas nenhum deles se preocupou em ver antes a montanha de iniqüidades e defeitos que portavam no coração.
Eles viram o cisco no olho da mulher, mas não notaram as traves que tinham nos olhos.
Somente após ter Jesus proferido o sentencioso: "quem não tiver pecados, atire a primeira pedra", eles puderam sentir a extensão dos defeitos que eles próprios possuíam, resolvendo então abandonar a idéia de apedrejar a pobre mulher.
Paulo Alves Godoy

Os quatro Sermões de Jesus

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Observe para Atender

A piedade é o melancólico, mas
celeste precursor da caridade.
primeira das virtudes que a tem
por irmã e cujos benefícios ela
prepara e enobrece.
(Alan Kardec, E.S.E. Cap.XIII- ltem 17).

Você comentará falhas alheias, sem resultado edificante, e se fará dilapidador das fraquezas do próximo. Você censurará o vizinho, sem lhe retificar a posição, e se converterá em juiz impiedoso das vicissitudes dos outros.
Você discutirá as imperfeições do amigo, sem lhe modificar a situação moral, e se transformará em algoz de
quem já é vitima de si mesmo.
Você debaterá problemas dos conhecidos, sem os solucionar, e se tornará leviano examinador das causas
que lhe não pertencem.
Você exporá feridas do caráter das pessoas, sem as medicar, e se situará na condição de enfermeiro negligente em doenças a que lhe não cabe oferecer assistência.
*
Cale o verbo que não ajuda, observe e sirva.
Você caminha sob a mesma ameaça. Os outros observam-no também.
Deixe que a tentação da censura morra asfixiada no algodão do silêncio.
Ninguém é infeliz por prazer.
Os que mais erram são doentes contumazes que requerem o medicamento fraterno da prece e do entendimento.
O comentário improdutivo é gás que asfixia as plantas da esperança alheia.
Sua censura é espinho na alma do vizinho.
A exposição dos insucessos do próximo é estilete a ferir-lhe a chaga aberta.
*
Recorde o Mestre e examine-se.
Sua ascensão apóia-se na ascensão dos companheiros.
A queda de alguém é embaraço em seu caminho.
Auxilie sem exigência e indistintamente.
Permita ao grande tempo a tarefa de corrigir e educar. Confira a você mesmo o impositivo somente de ajudar.
* * *
Franco, Divaldo Pereira. Da obra: Glossário Espírita-Cristão.
Ditado pelo Espírito Marco Prisco.
4a edição. Salvador, BA: LEAL, 1993.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Maledicência



“Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão, fala mal da lei e julga a lei; e, se tu julgas a lei, já não és observador da lei, mas juiz.”
(Tiago, 4: 11)
Nem todas as horas são adequadas ao rumo da ternura na esfera das conversações leais.
A palestra de esclarecimento reclama, por vezes, a energia serena em afirmativas sem indecisão; entretanto, é indispensável grande cuidado no que
concerne aos comentários posteriores.
A maledicência espera a sinceridade para turvar lhe as águas e inutilizar lhe esforços justos.
O mal não merece a coroa das observações sérias. Atribuir lhe grande importância nas atividades verbais é dilatar lhe a esfera de ação. Por isso mesmo, o conselho de Tiago reveste se de santificada sabedoria.
Quando surja o problema de solução difícil, entre um e outro aprendiz, é razoável procurem a companhia do Mestre, solucionando o à claridade da sua luz,mas que nunca se instalem na sombra, a distância um do outro, para comentários maliciosos da situação, agravando a dor das feridas abertas.
“Falar mal”, na legítima significação, será render homenagem aos instintos inferiores e renunciar ao título de cooperador de Deus para ser crítico de suas obras.
Como observamos, a maledicência é um tóxico sutil que pode conduzir o discípulo a imensos disparates.
Quem sorva semelhante veneno é, acima de tudo, servo da tolice, mas sabemos, igualmente, que muitos desses tolos estão a um passo de grandes
desventuras íntimas. Livro: Fonte Viva


1- Tua medida ( Livro Renovando Atitudes ditada pelo espírito Hammed)

 Capítulo 10, item 11
“Não julgueis, afim de que não sejais julgados, porque vós sereis julgados segundo houverdes julgado os outros, e se servirá para convosco da mesma medida da qual vos servistes para com eles.”
(Capítulo 10, item 11) 2*
Toda opinião ou juízo que desenvolvemos no presente está intimamente ligado a fatos antecedentes. Quase sempre, todos estamos vinculados a fatores de situações pretéritas, que incluem atitudes de defesa, negações ou mesmo inúmeras distorções de certos aspectos importantes da vida. Tendências ou pensamentos julgadores estão sedimentados em nossa memória profunda, são subprodutos de uma série de conhecimentos que adquirimos na idade infantil e também através das vivências pregressas. Censuras, observações, admoestações, superstições, preconceitos, opiniões, informações e influências do meio, inclusive de instituições diversas, formaram em nós um tipo de ―"reservatório moral" - coleção de regras e preceitos a ser rigorosamente cumpridos -, do qual nos servimos para concluir e catalogar as atitudes em boas ou más.
Nossa concepção ético-moral está baseada na noção adquirida em nossas experiências domésticas, sociais e religiosas, das quais nos servimos para emitir opiniões ou pontos de vista, a fim de harmonizarmos e resguardarmos tudo aquilo em que acreditamos como sendo ―"verdades absolutas". Em outras palavras, como forma de defender e proteger nossos ―"valores sagrados", isto é, nossas aquisições mais fortes e poderosas, que nos servem como forma de sustentação.
Em razão disso, os freqüentes julgamentos que fazemos em relação às outras pessoas nos informam sobre tudo aquilo que temos por dentro. Explicando melhor, a ―"forma" e o ―"material" utilizados para sentenciar os outros residem dentro de nós.
Melhor do que medir ou apontar o comportamento de alguém seria tomarmos a decisão de visualizar bem fundo nossa intimidade, e nos perguntarmos onde está tudo isso em nós. Os indivíduos podem ser considerados, nesses casos, excelente espelho, no qual veremos quem somos realmente. Ao mesmo tempo, teremos uma ótima oportunidade de nos transformar intimamente, pois estaremos analisando as características gerais de nossos conceitos e atitudes inadequados.
Só poderemos nos reabilitar ou reformar até onde conseguimos nos perceber; ou seja, aquilo que não está consciente em nós dificilmente conseguiremos reparar ou modificar.
Quando não enxergamos a nós mesmos, nossos comportamentos perante os outros não são totalmente livres para que possamos fazer escolhas ou emitir opiniões. Estamos amarrados a formas de avaliação, estruturadas nos mecanismos de defesa - processos mentais inconscientes que possibilitam ao indivíduo manter sua integridade psicológica através de uma forma de ―"auto-engano".
Certas pessoas, simplesmente por não conseguirem conviver com a verdade, tentam sufocar ou enclausurar seus sentimentos e emoções, disfarçando-os no inconsciente.
Em todo comportamento humano existe uma lógica, isto é, uma maneira particular de raciocinar sobre sua verdade; portanto, julgar, medir e sentenciar os outros, não se levando em conta suas realidades, mesmo sendo consideradas preconceituosas, neuróticas ou psicóticas, é não ter bom senso ou racionalidade, pois na vida somente é válido e possível o ―auto-julgamento‖.
Não obstante, cada ser humano descobre suas próprias formas de encarar a vida e tende a usar suas oportunidades vivenciais, para tornar-se tudo aquilo que o leva a ser um ―eu individualizado‖. Devemos reavaliar nossas idéias retrógradas, que estreitam nossa personalidade, e, a partir daí, julgar os indivíduos de forma não generalizada, apreciando suas singularidades, pois cada pessoa tem uma consciência própria e diversificada das outras tantas consciências. Julgar uma ação é diferente de julgar a criatura. Posso julgar e considerar a prostituição moralmente errada, mas não posso e não devo julgar a pessoa prostituída. Ao usarmos da empatia, colocando-nos no lugar do outro, ―"sentindo e pensando com ele", em vez de ―"pensar a respeito dele", teremos o comportamento ideal diante dos atos e atitudes das pessoas.
Segundo Paulo de Tarso, ―é indesculpável o homem, quem quer que seja, que se arvora em ser juiz. Porque julgando os outros, ele condena a si mesmo, pois praticará as mesmas coisas, atraindo-as para si, com seu julgamento‖.3* O ―"Apóstolo dos Gentios" manifesta-se claramente, evidenciando nessa afirmativa que todo comportamento julgador estará, na realidade, estabelecendo não somente uma sentença, ou um veredicto, mas, ao mesmo tempo, um juízo, um valor, um peso e uma medida de como julgaremos a nós mesmos. Essencialmente, tudo aquilo que decretamos ou sentenciamos tornar-se-á nossa ―"real medida": como iremos viver com nós mesmos e com os outros. O ser humano é um verdadeiro campo magnético, atraindo pessoas e situações, as quais se sintonizam amorosamente com seu mundo mental, ou mesmo de forma antipática com sua maneira de ser. Dessa forma, nossas afirmações prescreverão as águas por onde a embarcação de nossa vida deverá navegar.
Com freqüência, escolhemos, avaliamos e emitimos opiniões e, conseqüentemente, atraímos tudo aquilo que irradiamos. A psicologia diz que uma parte considerável desses pensamentos e experiências, os quais usamos para julgar e emitir pareceres, acontece de modo automático, ou seja, através de mecanismos
não perceptíveis. É quase inconsciente para a nossa casa mental o que escolhemos ou opinamos, pois, sem nos dar conta, acreditamos estar usando o nosso ―"arbítrio", mas, na verdade, estamos optando por um julgamento predeterminado e estabelecido por ―arquivos que registram tudo o que nos ensinaram a respeito do que deveríamos fazer ou não, sobre tudo que é errado ou certo.
Poder-se-á dizer que um comportamento é completamente livre para eleger um conceito eficaz somente quando as decisões não estão confinadas a padrões mentais rígidos e inflexíveis, não estão estruturadas em conceitos preconceituosos e não estão alicerçadas em idéias ou situações semelhantes que foram vivenciadas no passado.
Nossos julgamentos serão sempre os motivos de nossa liberdade ou de nossa prisão no processo de desenvolvimento e crescimento espiritual.
Se criaturas afirmarem ―"idosos não têm direito ao amor", limitando o romance só para os jovens, elas estarão condenando-se a uma velhice de descontentamento e solidão afetiva, desprovida de vitalidade.
Se pessoas declararem ―"homossexualidade é abominável" e, ao longo do tempo, se confrontarem com filhos, netos, parentes e amigos que têm algum impulso homossexual, suas medidas estarão estabelecidas pelo ódio e pela repugnância a esses mesmos entes queridos.
Se indivíduos decretarem ‗"jovens não casam com idosos", estarão circunscrevendo as afinidades espirituais a faixas etárias e demarcando suas afetividades a padrões bem estreitos e apertados quanto a seus relacionamentos.
Se alguém subestimar e ironizar ―"o desajuste emocional dos outros", poderá, em breve tempo, deparar-se em sua própria existência com perplexidades emocionais ou dilemas mentais que o farão esconder-se, a fim de não ser ridicularizado e inferiorizado, como julgou os outros anteriormente.
Se formos juízes da ―"moral ideológica" e ―"sentimental", sentenciando veementemente o que consideramos como ―"erros alheios", estaremos nos condenando ao isolamento intelectual, bem como ao afetivo, pela própria detenção que impusemos aos outros, por não deixarmos que eles se lançassem a novas idéias e novas simpatias.
―"Não julgueis, a fim de que não sejais julgados, ou mesmo", ―"se servirá para convosco da mesma medida da qual vos servistes para com eles", quer dizer, alertemo-nos quanto a tudo aquilo que afirmamos julgando, pois no ―"auditório da vida" todos somos ―"atores" e ―"escritores" e, ao mesmo tempo, ―"ouvintes" e ―''espectadores" de nossos próprios discursos, feitos e atitudes.
Para sermos livres realmente e para nos movermos em qualquer direção com vista à nossa evolução e crescimento como seres eternos, é necessário observarmos e concatenarmos nossos ―"pesos" e ―"medidas", a fim de que não venhamos a sofrer constrangimento pela conduta infeliz que adotarmos na vida em forma de censuras e condenações diversas.

2* A presente citação e todas as demais que iniciam cada capítulo foram extraídas de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec. (Nota do autor espiritual.)
3* Romanos, 2:1

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Falar com amor


Aylton Paiva
Incorre em culpa o homem, por estudar os defeitos alheios?
Incorrerá em grande culpa, se o fizer para os criticar e divulgar,
porque será faltar com a caridade. Se o fizer, para tirar daí proveito,
para evitá-los, tal estudo poderá ser-lhe de alguma utilidade.
Importa, porém, não esquecer que a indulgência para com os defeitos
de outrem é uma das virtudes contidas na caridade.”
(Questão 903 de O Livro dos Espíritos.)
“Ninguém sendo perfeito, seguir-se-á que ninguém tem o direito
de repreender o seu próximo?
Certamente que não é essa a conclusão a tirar-se, porquanto
cada um de vós deve trabalhar pelo progresso de todos e, sobretudo,
daqueles cuja tutela vos foi confiada. Mas, por isso mesmo, deveis
fazê-lo com moderação, para um fim útil, e não, como as mais
das vezes, pelo prazer de denegrir. Neste último caso, a repreensão
é uma maldade; no primeiro, é um dever que a caridade manda seja
cumprido com todo o cuidado possível.” (O Evangelho segundo
o Espiritismo, cap. X – Bem-aventurados os que são misericordiosos,
item 19.)

Em nossa vida social, que envolve os ambientes familiar e profissional, grupo religioso,
momentos de lazer, temos que conviver necessariamente com o próximo.
Jesus nos mandou amar o próximo como a nós mesmos, porém como amaremos o próximo quando ele fala ou tem comportamento que achamos não estar correto, quando analisados pelo princípio do direito e dever a que todos estamos submetidos? Simplesmente silenciar,
omitir-se, ainda que as suas palavras ou conduta possam prejudicar o outro?
Observamos, então, que amar o próximo estabelece ações concretas para que possamos ajudá-lo, tanto quanto a nós mesmos.
É necessário saber analisar e exercitar a crítica, e não a maledicência, para amorosamente falar com a pessoa, de forma construtiva.
Nesses momentos em que devemos exercitar a crítica, a Doutrina Espírita e a Psicologia trazem- -nos orientações oportunas a fim de que a nossa ação verdadeiramente
construa algo de bom e útil para o outro e também para nós.
Com base em onze itens extraídos de um estudo de Psicologia sobre habilidades sociais cristãs (referência ao final), podemos associar princípios espíritas a todas as situações em que a crítica for pertinente ou necessária.
Então, tendo em vista o conhecimento do Espiritismo e o conhecimento da Psicologia com
relação à crítica, deve-se, ao FAZER:
1. Dirigir-se diretamente à pessoa.
A análise e as observações que precisamos fazer a respeito de alguém devem ser feitas diretamente a ela, pelo respeito e consideração para com essa pessoa.
Fazer comentários sobre uma pessoa com outra é, na maioria das vezes, dar ensejo à maledicência e cair na famosa “fofoca”, ou seja, comentário que não deseja oferecer algo
positivo ao outro, mas denegri- -lo, rebaixá-lo numa tentativa de, falsamente, elevar a própria personalidade.
2. Referir-se ao comportamento e não à pessoa.
Quando se analisa e se faz uma crítica sobre o erro de uma pessoa, deveremos apontar o erro no seu comportamento e não fazer um julgamento negativo sobre ela.
3. Escolher a ocasião adequada.
Para que uma crítica seja bem recebida é necessário que a pessoa a quem iremos fazê-la seja respeitada.
Precisamos analisar se a ocasião é a melhor. Se não há alguém por perto, a quem não interessa o que vamos dizer. Se a pessoa já não está com o estado emocional alterado por outros problemas ou questões íntimas.
4. Controlar a emoção.
Crítica não é desabafo.
Por mais que a conduta da pessoa ou o erro que ela cometeu tenha produzido em nós algo de ruim, desde a irritação até a raiva, ao nos diri-girmos a ela precisamos ter sob controle
as nossas emoções, porque ninguém constrói nada de produtivo agredindo, ao utilizar-se da crítica.
5. Evitar produzir desconforto excessivo no interlocutor.
Se efetivamente queremos usar a crítica como forma positiva de ajudar, melhorar, aperfeiçoar o outro, deveremos não só ter o controle das emoções, como, também, usar
as palavras de forma adequada para esclarecer e orientar.
6. Ao fazer a crítica, apresentar um aspecto positivo e, em seguida, falar do comportamento inadequado.
Ao final, referir-se a outro comportamento adequado da pessoa.
É muito difícil receber uma crítica com tranqüilidade, por isso, comecemos apresentando à pessoa algo que ela tenha de bom, falando de forma autêntica e verdadeira; em seguida apresentemos a crítica.
Quando necessário, para amenizar o impacto emocional produzido, comentemos algo positivo que a pessoa também tem. Ela se tornará mais receptiva à análise feita.
7. Ao falar, ser claro e sucinto.
Quando fizermos a crítica, deveremos falar com clareza, com tranqüilidade e prender-nos estritamente ao que necessariamente tenha que ser dito naquele instante.
Ficar com circunlóquios e repetições desnecessárias acaba por irritar o interlocutor, bloqueando a sua possível receptividade.
8. Evitar estilo professoral e moralista.
Ao fazer uma crítica nunca deveremos posicionar-nos como se falássemos de cátedra ou com pretensa superioridade moral ou espiritual.
Considerando-se o erro como elemento inerente às nossas experiências
de aprendizagem, ao fazer a crítica não deveremos assumir uma postura de quem não erra nunca e já se sente como um ser perfeito.
Esse comportamento gera uma postura por parte da outra pessoa de defensibilidade e de bloqueio; ainda que a crítica seja procedente ela, mentalmente, já terá assumido
um estado mental e emocional de impermeabilidade.
9. Dar oportunidade ao outro para se justificar.
O grande avanço nas normas do Direito que regem a elaboração das leis, principalmente na área da punibilidade, foi o estabelecimento do princípio do contraditório.
Ninguém pode ser condenado se não tiver o direito de responder às acusações que lhe são imputadas, ou seja, o inarredável direito de defesa.
Da mesma forma, no relacionamento comum, quando surge um fato em que alguém é criticado, ele tem o direito de se justificar e deve ser-lhe dada a oportunidade para tal.
Se a sua argumentação justifica ou não a ocorrência, dependerá de nova
análise, podendo ser acolhida ou não.
10. Não permitir atitudes subservientes.
Como há aquelas pessoas que ao serem criticadas, no sentido de apontar-lhes erros, se irritam ou se enraivecem partindo para o ataque a fim de se defender, outras assumem
um comportamento de subserviência, ou seja, de se rebaixar, desconsiderando-se.
Adotam uma postura de “coitadinho inferior”
É preciso mostrar à pessoa o erro cometido e que se deseja apenas a sua reparação, sem que isso fira a sua dignidade e a sua auto-estima.
Às vezes esse comportamento revela uma compreensão autêntica da sua falha, mas exagerado quanto à autocrítica, outras vezes, porém,pode manifestar uma manobra para
escusar-se de encarar os próprios erros.
11. Manter contato visual sem ser intimidatório.
Ao dialogarmos com a pessoa a qual fazemos a crítica, mantenhamos
contato visual com ela, sem que ele seja intimidatório ou que a
nossa postura revele uma pretensa superioridade.
Que esse contato visual expresse compreensão, clareza e firmeza respeitosa para com a pessoa a quem estamos expressando a nossa crítica.
Finalmente, ao adotarmos o comportamento de fazer a crítica de maneira construtiva e educativa, estaremos atendendo à orientação do Mestre Jesus: “Fazei aos homens
tudo o que queirais que eles vos façam, pois é nisto que consistem a
lei e os profetas.” (Mateus, 7:12.)
“Tratai todos os homens como quereríeis que eles vos tratassem.”
(Lucas, 6:31.)
BIBLIOGRAFIA:
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1. ed.
especial. Rio de Janeiro: FEB, Parte Terceira,
cap. XII, 2005.
_____. O Evangelho segundo o Espiritismo,
3. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, cap. X,
2005.
PRETTE, Almir e Zilda. Habilidades Sociais
Cristãs, 1. ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes,
2003.

Revista o Reformador-Ano 2005-outubro

sábado, 18 de agosto de 2012

ATIRE A PRIMEIRA PEDRA -LIVRO : LUZ DO MUNDO-DIVALDO-AMÉLIA RODRIGUES


Apedrejar!

Transcorreram as Festas dos Tabernáculos e as gentes retornavam às cidades, aos povoados, aos campos, às atividades diárias.

Aqueles dias foram de júbilos e exaltação nos quais a alma de Israel se rejuvenescera, tomada do entusiasmo festivoque irrompera em Jerusalém naquela ocasião.

As comemorações evocativas dos dias passados, no deserto, sob tendas, após a saída do Egito, significavam a vitória do povo sobre o estigma do cativeiro e das rudes provações.

Aquela fora uma ceifa dadivosa.
Os peregrinos vinham de toda parte confundir os seres nos sorrisos generalizados e a capital se transformava na Casa de todos.

Naqueles dias de outubro já se conhecia a estranha e poderosa voz do Cantor
Diferente, delimitando as novas fronteiras do Reino de Deus. As multidões esfaimadas ouviam aquela Palavra e se entusiasmavam, acompanhando o singular Peregrino.

A fome de pão se misturava à necessidade da paz, e as massas angustiadas, especialmente naquele período, aguardavam o Messias. Havia sinais comprobatórios
da Sua vinda. Muitos foram, pressurosos, à "Casa da Passagem" para escutar, na vau do Jordão, o Batista. Êle, no entanto, afirmara e todos repetiam: — Eu souapenas o preparador dos caminhos, para Êle passar.. . aquele que segue primeiro, à frente, endireitando a passagem...
E de fato, êle passara deixando um apelo veemente para a consciência dos homens: o do arrependimento de todos os erros, com o conseqüente nascimento do homem novo sobre os escombros do homem velho.

Herodes, ao decapitá-lo, penetrou em funda amargura, no entanto, o povo que lhe conhecia a vida atribulada e a conduta adulterina comentava, mordaz, sobre as consequências do seu crime e os lastimáveis resultados que adviriam no futuro.

A Voz, porém, se fizera mais forte, surpreendentemente, após ti morte de João.
Paralíticos e cegos, leprosos e meretrizes, pescadores e a grande plebe a ouviam...
Homens representativos dentre os doutores e os levitas a escutavam e conquanto se ressentissem das duras verdades que ela enunciava, não conseguiam condições para silenciá-la, reconhecendo-a autêntica.

Expectativas felizes pareciam dominar todo o Israel e os sonhos de liberdade longamente acalentados voltavam a interessar as paixões dos sôfregos corações humanos.

Preconizava um Reino e ensinava onde repousavam as suas primeiras balizas, já
fincadas no solo dos espíritos. Todavia, quando se fitavam os olhos transparentes Daquele que projetava a voz da esperança se identificavam neles a melancolia e a poesia latentes que esparziam em farta messe.

Êle viera a Jerusalém para participar das Festas, conhecer o povo mais intimamente, nas explosões coletivas, nas exaltações generalizadas. Muitos O viram e O escutaram antes, provocando que as notícias da Sua presença comunicasse intensas emoções no povo e nos encarregados da Lei e da Religião.
Onde surgia todos O buscavam. . .
Êle estava próximo à porta Nicanor, do lado leste do Templo, chegando pelo caminho do Monte das Oliveiras, acompanhado dos discípulos.

Narra João, com emotividade e linguagem sucinta :
"Os Escribas e os Fariseus trouxeram uma mulher que fora surpreendida em adultério e a apresentaram dizendo: Mestre, esta mulher foi apanhada em adultério. Moisés manda que se lapidem tais mulheres pelo apedrejamento. Tu, pois, que dizes?" (*)
Êle olhou de relance a mulher ultrajada e se abaixou, sensibilizado, e com o dedo
começou a traçar garatujas no solo. (1)
A interrogação se demorava no ar, sem resposta.

Êle era o Embaixador da Verdade, porém o Príncipe representativo da Paz e do Amor. Moisés significava a aspereza literal da Lei fria e dura. Roma retirara de Israel o direito sobre a vida dos seus filhos. Ninguém, senão o Imperador ou seus Representantes, poderia dispor da vida de qualquer pessoa.

O adultério era condenado pelo Decálogo de forma irreversível. Outras mulheres ali foram trazidas "pela gola dos vestidos" e apedrejadas, até consideradas mortas, noutros tempos...
Sua resposta, de qualquer natureza, criaria dificuldades.

Com as Festas havia nos corações uma cantilena de tolerância e benignidade, uma quase tendência ao perdão por parte do povo. Perdoá-la, no entanto, não seria
conivir com o adultério, oferecendo o estímulo da aceitação tácita do nefasto crime?
— "Tu que dizes?"
Havia ali corações em febre de desejos irreprimíveis, devastadores.

As mulheres caem porque encontram alçapões disfarçados no solo das ansiedades, nos quais são atiradas pela volúpia de homens que as hipnotizam com desejos infrenes.

Atrás de cada organização feminina violada, há um companheiro oculto.
Em cada adúltera se esconde um adúltero, comparsa do mesmo erro. Onde estaria aquele que a infelicitou, explorando a sua fraqueza e a abandonando?

A mulher, não obstante desvalorizada, não representava qualquer significação antes d'Êle. Só depois, quando Êle a ergueu do nada em que se encontrava é que passou a ocupar o devido lugar de rainha e santa no altar do amor dos corações...
— "Tu que dizes?"
Êle não a fitou certamente para poupá-la da transparência da Sua visão.

— "Aquele que dentre vós estiver sem erro, atire-lhe a primeira pedra..."
A frase Lhe fluiu dos lábios lentamente, com segurança, nitidez, serenidade.
Continuou a escrever no chão. "Atire-lhe a primeira pedra." A pedrada!
Mas todos ali estavam mergulhados em erros, laborando em terreno infeliz de preconceitos violados, de legislação desrespeitada, de ultrajes ocultos, de crimes que a consciência temia enfrentar diretamente.
Os que estivessem isentos de erros!.. . Quem estaria nessa condição?
A exuberância da luz solar incide sobre as personagens da cena que marcaria História na História...

"Em silêncio os circunstantes se afastaram, um a um a começar dos mais velhos a terminar pelos mais novos, ficando Jesus e a mulher."
Sim, os mais velhos trazem maior soma de empeços e problemas, remorsos e azedumes.. .
É fácil esmagar e exigir quando não se olha interiormente as paisagens do espírito.
Adúlteras, porque há adúlteros que as malsinam.

O silêncio dominou o local em que se encontravam.
Só então Êle se levantou outra vez.
Fitando-a, agora, com doçura e compreendendo o seu drama íntimo, revisando aqueles dias passados, que foram de dissipações, falou, em melodia de ternura e disciplina:
— "Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? Nem eu tão pouco te condeno: vai e não tornes a pecar!
A autoridade do Rabi penetra o espírito da mulher infeliz e repudiada, e harmoniza o país da sua alma em guerra. Antes do erro quanta indecisão e incerteza, quanta frustração e receio atormentaram aquele ser!

Quanto flagelo interior experimenta todo aquele que se entrega ao erro, ao pecado!
"Não tornes a pecar!"
Todo o Evangelho se assenta nessa base: da compaixão e da misericórdia.
Ter oportunidade nova mas não repetir o erro.
Cair e levantar-se.
Equivocar-se e retificar a atitude.
Nem conivência com a irresponsabilidade nem dureza com a correção.

Todos se podem enganar, no entanto, perseverar no engano é acumpliciamento com a ignorância e a leviandade.
O Reino de Deus, cantado por Jesus, é o amor em todas as latitudes e dimensões a alongar-se pela Terra inteira numa explosão de misericórdia e educação.
"Não tornes a pecar."
"Isento de erro."

Apedrejar a própria consciência, lapidando-a, aprimorando o espírito para galgar maior expressão de paz e ventura.
— ... "Atire a primeira pedra!"
(*) João 8: 1 a 11.
(1) Narram diversos intérpretes deste texto, que escrevendo no chão, o Senhor grafava
a marca moral do erro de cada um, que O observava fazendo que recordasse sua própria
imperfeição. Por exemplo: ladrão, adúltero caluniador...
Notas da autora espiritual.

Encontro de Reparação.



          Encontro de Reparação
          O diálogo, na praça ensolarada, no qual a mulher adúltera foi compreendida por Jesus, tornou-se um esperado escândalo.

          Surpreendentemente, o Mestre não censurou o delito, recomendando a lapidação da equivocada, nem a liberou de responsabilidade, considerando-a inocente.

          Reportou-se, isto sim, à leviandade dos acusadores que se encontravam incursos no mesmo crime.

          Tal atitude havia desconcertado os intrigantes e vingadores gratuitos, que se rebelavam contra a terrível chaga do organismo social, que é o adultério, esquecidos de que, ao lado da caída encontrava-se o comparsa que tombara no mesmo erro.

          Passada a surpresa e debandada a multidão sedenta de sangue, e porque a sós, com a infortunada, o Senhor recomendou-lhe que não voltasse a pecar a fim de que não lhe acontecesse mal pior, conforme era habitual.

          Naquela noite, no entanto, quando o episódio já esmaecia, inclusive, entre os discípulos, a mulher, decidida a imprimir novo rumo à existência, procurou o Amigo Divino, na residência que O acolhia ...

          Demonstrando, no constrangimento que exteriorizava, todo o drama, e sofrimento maceradores, solicitou e conseguiu uma entrevista com Aquele graças a cuja interferência tivera a vida poupada.

          Compreendendo a angústia que a apunhalava, o Senhor ensejou-lhe o início da conversa de edificação, saudando-a com carinho e sem afectação.

          - Rogo perdão - disse ela reticente - por vir perturbar-Vos a paz.

          - A verdadeira paz - retrucou-lhe, calmo - é a que flui do coração aclimatado ao culto do dever, que nada perturba.

          "Fala, tranquila e te ouvirei... "

          - Sinto-me aturdida - ripostou-Lhe em pranto - sem saber que rumo dar à minha existência. Lutei muito antes de tombar... O sedutor rondou-me os passos como lobo voraz, ante a presa invigilante ...

          "Meu esposo, passados os primeiros dias da novidade conjugal, retornou às noitadas alegres, deixando-me em solidão... Enferma da alma e carente de bondade, permiti-me envenenar por tormentos que não merecem compaixão.

          "Com sede de ternura, embriaguei-me de concupiscência e ansiosa pela água pura do amor, chafurdei no lodaçal dos desejos doentios. O resultado foi a tragédia ...

          "Abandonada e sem lar, agora padeço o desprezo e a zombaria geral, não sabendo que rumo seguir, nem como agir.

          "Peço-Vos um roteiro e uma lâmpada acesa de


          esperança, a fim de prosseguir... "

          Jesus penetrou naquela alma, ansiosa e sofrida, nela encontrando as dores da Humanidade através dos tempos e considerou, bondoso:

          - A paciência e a confiança em Deus serão as duas providências iniciais que te facultarão a cura e a renovação da saúde. Cometido o erro, ele passa a pesar na economia social e a sobrecarregar a consciência culpada.

          "Não são de importância o que os outros pensam de nós e a cobrança, pela impiedade, com que .desejam fazer justiça. O problema íntimo é vital, e somente quando o homem se reintegra no concerto da ordem, do bem, é que pode fruir de tranquilidade.

          "Arma-te de humildade e confia no amanhã.

          "A memória do povo é fraca e passa rápida em relação às virtudes do próximo. Todavia, é firme, clara e duradoura de referência às faltas alheias, sempre recordadas com o ácido da acusação e os acepipes da malícia.

          "O exemplo decorrente do arrependimento se transforma na defesa do equivocado, que assim repara perante o Pai, ante si mesmo e a sociedade, o engano perpetrado."

          - Para onde irei, agora? - inquiriu, vencida ..

          - As aves dos céus têm ninho, as serpentes e feras os seus covis, mas o filho do Homem não tem onde se agasalhar, vivendo sob a abóbada estrelada e avançando na direcção do Infinito ...

          "Assim, busca a oportunidade de reparação e adapta-te à situação actual, aguardando o amanhã com a disposição de quem compreende o prejuízo a si mesmo causado, ao arrojar fora o hoje ...

          "A negligência do esposo ingrato e leviano não constitui respaldo para que assumisses compromisso infeliz semelhante. E porque ele é doente também, vivendo num organismo comunitário alienado do amor, não tem condições de distender-te a mão amiga, quando dele necessitas e conforme de ti no futuro igualmente dependerá.

          "A vida é feita de permutas, que facilitam a felicidade para todos, sem cujo concurso faz-se mais difícil.

          "Segue, porém, renovada pela certeza do triunfo, porquanto todo aquele que se levanta da queda, encontra apoio na fé e na luta para firmar-se.

          "O Pai Criador não desampara filho algum e vela, devotado, por todos."

          Fazendo-se um silêncio natural, profundo e tocante, foi a mulher quem o arrebentou, rogando:

          - Permiti-me, seguir-Vos, na minha pequenez, e dai-me a Vossa bênção.

          Jesus envolveu a sofredora em uma onda de ternura ímpar, e, erguendo-a, pois que, comovida, se Lhe prosternara aos pés, concluiu:

          - Vai, filha, e não sofras mais. Aqueles que se arrependem e buscam ensejo de redenção, encontram-no. Há sempre um lugar no rebanho do amor para as ovelhas que retornam e desejam avançar.

          "Onde quer que vás, eu estarei contigo e a luz da verdade, no archote do bem brilhará à frente, clareando o teu caminho."

          No céu silencioso, a sinfonia dos astros espalhava luz cintilante, apontando o futuro.

          *

          Dez anos depois, na cidade de Tiro, uma casa humilde de aspecto e rica de amor, recolhia peregrinos cansados e enfermos sem ninguém.

          Uma mulher, que traía na face desgastada vestígios de grande beleza em decadência, reunia ali os infelizes, limpava-lhes as chagas e falava-lhes de Jesus.

          Tornara-se, por isso, querida e respeitada por todos.

          Num cair de tarde amena, chegou, trazido por mãos piedosas, um homem chagado, em extrema penúria, quase morto sob o fardo de mil vicissitudes.

          Recolhido com carinho, teve as úlceras lavadas e aliviadas com unguentos medicamentosos, recebendo caldo reconfortante das mãos da caridade.

          Quando se recobrou um pouco do desalento que o vitimava, ouviu a mensagem de encorajamento, em nome de Jesus, enunciada com unção e carinho pela desconhecida benfeitora.

          Emocionado, e quase sem vitalidade, indagou interessado:

          - Esse Jesus a quem vos referis é o galileu que foi crucificado em Jerusalém?

          - Sim, é Ele mesmo. Morreu por nós, mas volveu ao nosso convívio para nunca mais deixar-nos.

          - E vós O conhecestes para terdes a certeza de que os Seus ensinos são verdadeiros?

          - Sim, eu O conheci oportunamente, quando a mim Ele salvou-me ...

          - Também eu tive a honra de O conhecer - respondeu o moribundo, quase sem forças - mas não soube beneficiar-me. A vós Ele salvou, mas, eu, egoísta e mau, O detestei, afastando-me da Sua presença, confuso e amargurado.

          - Que vos fez Ele para que fugísseis, magoado?

          - Salvou a minha mulher que adulterara contra mim e não me concedeu uma palavra, sequer, de consolação. Não pude compreendê-lO, então.

          "Abandonei a companheira a quem eu infelicitara com os meus vícios e envenenei-me de dor.

          "Passados os anos e havendo despertado para a verdade, tenho-a buscado em vão por toda parte, até que a doença me devorou o corpo e aqui estou... "

          Embargada pelas emoções em desenfreio, naquele momento, a mulher recordou-se da praça e do diálogo, à noite, com o Mestre, um decénio antes, reconheceu o companheiro do passado e sem dizer-lhe nada, segurou-lhe a mão suavemente e o consolou:

          - O arrependimento do erro, a confiança em Deus e a paciência são os primeiros passos para a reparação de qualquer delito.

          "Deus é amor, e, Jesus, por isso mesmo nunca está longe daqueles que O querem e buscam.

          "Agora durma em paz enquanto eu velo, porquanto, nós ambos já O encontramos ... "


          
Pelos caminhos de Jesus -  Divaldo Pereira Franco – Amélia Rodrigues