A
mediunidade é uma só, é um todo, mas pode ser encarada
em seus vários aspectos funcionais, que são caracterizados como
formas variadas de sua manifestação. Kardec a dividiu, para efeito
metodológico, em duas grandes áreas bem diferenciadas: a mediunidade
de efeitos inteligentes e a de efeitos físicos. Essa divisão prevaleceu
nas ciências derivadas do Espiritismo. Charles Richet, fundador da Metapsíquica,
estabeleceu nessa ciência a divisão das duas áreas com os
nomes metapsíquica subjetiva e metapsiquica objetiva, correspondendo
exatamente à divisão espírita. Na Parapsicologia atual,
fundada por Rhine e McDougal, as duas área figuram com as denominações
de: Psigama (de fenômenos subjetivos ou mentais) e Psicapa (de fenômenos
objetivos ou de efeitos físicos). A chamada Ciência Psíquica
Inglesa, como a antiga Parapsicologia Alemã, a Psicobiofísica
de Schrenk-Notzing e outras várias escolas científicas mantiveram
essa divisão, o que prova o acerto metodológico de Kardec.
A expressão médium também prevaleceu, chegando até
mesmo à Parapsicologia Soviética, materialista, que a conserva
em suas publicações oficiais. Só alguns ramos científicos
sofisticados, como a Metergia e a Psicorragia inventaram substitutivos para
a cômoda e clara palavra médium, mas que não vulgarizam.
Na Metergia o médium se chama metérgio e na Psicorragia se chama
psicorrágico. Palavrões científicos só usados por
alguns médiuns pedantes que não querem dizer-se médiuns.
As denominações dadas pela Parapsicologia atual não são
pedantescas.
São
simples nomes de letras do alfabeto grego, tradicionalmente
empregadas nas Ciências para designação de fenômenos.
Também não é verdade que a parapsicologia atual tenha dado
outros nomes aos fenômenos para se diferenciar do Espiritismo. O problema
é outro: na pesquisa científica não se podem usar designações
que impliquem em interpretação antecipada do fenômeno. Escolhendo
letras gregas para designar os fenômenos a ser investigados, os parapsicólogos
usavam palavras neutras, como exige a metodologia científica. Uma questão
de método. Apesar deste critério, a palavra sensitivo, por exemplo,
escolhida para substituir médium, já foi abandonada por vários
psicólogos, que voltaram a expressão médium, como vimos
no caso soviético.
A
terminologia espírita adotada por Kardec é simples e precisa.
Mas no tocante às duas áreas fundamentais dos fenômenos
de efeitos inteligentes e efeitos físicos, era necessário um acréscimo.
Além dessa divisão fenomênica, havia o problema da divisão
funcional. Kardec notou a generalização da mediunidade e os espíritos
o socorreram, como se vê no Livro dos Médiuns, com uma especificação
curiosa. Temos assim duas áreas de função
mediúnica, designadas como mediunidade generalizada e mediunato. A
primeira corresponde à mediunidade natural, que todos os seres humanos
possuem, e a segunda corresponde a mediunidade de compromisso, ou seja, de médiuns
investidos espiritualmente de poderes mediúnicos para finalidades específicas
na encarnação.
Como
Kardec mencionou a existência de médiuns elétricos e várias
vezes comparou a mediunidade com a eletricidade, surgiu mais tarde entre alguns
estudiosos, entre os quais, Crawford, a idéia de uma divisão mais
explícita, com a designacão de mediunidade estática e mediunidade
dinâmica. A primeira corresponde à mediunidade natural, que todos
possuem e permanece geralmente em êxtase, com manifestações
moderadas e quase imperceptíveis. A segunda corresponde a mediunidade
ativa, que exige desenvolvimento e aplicação durante toda a vida
do médium.
A
falta de conhecimento desta divisão acarreta dificuldades e inconvenientes
na prática mediúnica, particularmente nos trabalhos de Centros
e Grupos. A mediunidade estática não é propriamente uma
forma de energia que permanece no organismo corporal em estado letárgico.
É simplesmente a disposição natural do espírito
para expandir-se, projetar-se e entrar em relação com outros espíritos.
A Parapsicologia atual confirmou a tese espírita das relações
telepáticas permanentes na vida social. Nossa mente funciona, segundo
acentua John Ehrenwald em seu estudo sobre relações interpessoais,
como ativo centro emissor e receptor de pensamentos. Estamos sempre conversando
sem o perceber. Muitos dos nosso monólogos são diálogos
com outras pessoas ou com espíritos. Mensagens de Emmanuel e André
Luiz, através de Chico Xavier, referem-se a inquirições
mentais que certos espíritos nos fazem, seja para aliviar nosso estado
mental e ajudar-nos a corrigi-lo, seja para fins obsessivos.
Um
obsessor aproxima de nós e sugere mentalmente o nome ou a figura de uma
pessoa. Começamos a pensar nessa pessoa e a desfilar na mente os dados
que possuímos sobre ela. O obsessor insiste e nós, sem percebermos,
vamos lhe dando a ficha da pessoa ou as nossas opiniões sobre ela. Ajudamos
o obsessor sem saber. De outras vezes ele pretende saber qual a nossa posição
em determinado caso de desentendimento a respeito de um seu amigo. Nós
a revelamos e ele passa a envolver-nos num processo obsessivo. Por isso Jesus
aconselhou: ''Vigiai e orai" . Devemos vigiar os nossos pensamentos e orar
por aqueles que consideramos em erro. Se fizermos assim certamente nos livraremos
de muitas perturbações e muitos aborrecimentos desnecessários.
Os solilóquios do homem são sempre observados pelas testemunhas
invisíveis, boas e más, que nos cercam. A mediunidade estática
funciona como imanente no nosso psiquismo. Faz parte da nossa natureza, não
é uma graça nem uma prova, é um elemento essencial da nossa
constituição humana.
Recorrem
às casas espíritas muitas pessoas perturbadas e até mesmo
obsedadas, que em geral são consideradas como médiuns em fase
de desenvolvimento. Muitas delas são apenas vítimas de perseguição
de espíritos inferiores, resultantes de inquirições mentais.
Por esse ou outros motivos, essas criaturas estão realmente envolvidas
num processo de obsessão, mas não são médiuns em
desenvolvimento. Precisam de passes, de participação nas sessões,
mas não de sentar-se a mesa mediúnica para desenvolver mediunidade.
Essas pessoas, tratadas devidamente, livram-se da obsessão mas não
revelam mais os sintomas mediúnicos decorrentes da obsessão. Estas
pessoas não estão investidas de mediunato, não precisam
e nem podem desenvolver a sua mediunidade estática. Esta lhe serve para
guiar-se na vida através de intuições e percepções
extra-sensoriais. A obsessão ocasional, por sua vez, serviu para aproximá-la
do Espiritismo, despertar-lhe ou reanimar-lhe o sentimento religioso, encaminhá-la
num sentido mais elevado em sua maneira de viver, na busca de sintonias mentais
benéficas e não prejudiciais.
As
pessoas não dotadas de mediunato não estão desprovidas
dos recursos mediúnicos. Pelo contrário, podem ser muito sensíveis
e intuitivas, dispondo de percepções eficazes em todas as circunstâncias.
Os dirigentes de sessões não podem esquecer esse problema, que
lhes evitará muitos enganos no trato das manifestações
mediúnicas. As obsessões não são produzidas apenas
por espíritos. Há muitos casos de obsessões telepáticas,
provocadas por pessoas vivas. Kardec tratou desses casos referindo-se à
telepatia como telegrafia humana. Sentimentos de aversão, de ódio,
de vingança, acompanhados de pensamentos agressivos, podem dar a impressão
de verdadeiros processo de obsessão por espíritos inferiores.
Estes geralmente se envolvem em tais casos e manifestam-se nas sessões
com suas costumeiras bravatas, passando como os responsáveis por perturbações
em que apenas se intrometem.
Eliminando o processo telepático, esses espíritos se afastam,
sentem-se impotentes para prosseguir na temerária
empreitada. O Dr. Ehrenwald relata um caso da sua clínica psicanalítica,
em que o rapaz era rejeitado pelos companheiros de pensão. A rejeição
era oculta, pois todos fingiam apreciá-lo. Só a pesquisa do médico
provou o que se passava. Afastando o paciente para outro meio, os sintomas obsessivos
desapareceram gradualmente, na proporção que os algozes o esqueciam.
Esse famoso médico psicanalista, diante de casos desta ordem, propôs
a ampliação dos métodos de pesquisa Parapsicológica
com acréscimo dos métodos significativos da Psicologia e dos métodos
qualitativos da pesquisa espírita.
Havia realmente chegado a hora em que a Parapsicologia atual devia superar o
primarismo dos métodos de investigação puramente quantitativos,
sob controle estatístico, para enfrentar o problema das conseqüências
da ação telepática no meio social. Posteriormente a Profa.
Louise Rhine, esposa e colaboradora do Prof Rhine, publicava o seu livro 'Os
Canais Ocultos da Mente', relatando pesquisas de campo sobre os fenômenos
paranormais. Alegava que as pesquisas de laboratório eram demasiamente
frias e despojavam os fenômenos de sua riqueza emocional e seu significado.
O livro da senhora Rhine apresenta uma seqüência impressionante de
casos essencialmente espíritas.
Todos
os rios levam suas águas para o mar. Todas as ciências psíquicas
desembocam fatalmente no delta do Espiritismo. Não podemos desprezar
as suas pesquisas e as suas conclusões. Os parapsicólogos verdadeiros,
que são cientistas universitários, não devem ser confundidos
com sacerdotes inconscientes que apresentam ao público uma deformação
sectária e intencional da Parapsicologia. Esses padres, frades e pastores
que tripudiam sobre a ignorância e a ingenuidade do povo, são acionados
por interesses materiais evidentes e por entidades espirituais inferiores, que
servem da mediunidade estática deles mesmos para levá-las a campanhas
inglórias e a explorações deploráveis da boa fé
dos fiéis. Mas a verdade é que estão nas malhas da mediunidade
que negam e combatem.
A
mediunidade estática dorme nas suas próprias entranhas, à
espera de que se tornem capazes de percebê-la e compreendê-la. Na
linha natural dos processos de percepção, a mediunidade estática
aflora, às vezes, dadas as circunstâncias favoráveis, numa
eclosão semelhante ao desenvolvimento mediúnico. Há casos
de premonição que surgem de perigo eventual, casos de vidência
passageira, que parecem sintomas de mediunato em eclosão. É difícil
saber-se de imediato, o que se passa, principalmente em virtude do estado emocional
dos pacientes. Mas basta uma observação paciente, com a freqüência
a sessões mediúnicas, para logo se verificar que se trata apenas
de ocorrências isoladas e ocasionais. A mediunidade estática tende
sempre a voltar à sua acomodação no psiquismo normal. O
que às vezes complica essas ocorrências passageiras é a
insistência no desenvolvimento mediúnico ou as aplicações
terapêuticas de choques e dosagens excessivas de drogas nos receituários
médicos.
J. Herculano
Pires Livro : Mediunidade
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