A busca da Verdade
Herculano Pires
“Professor, considero o Espiritismo uma tentativa ingênua de
racionalizar a Religião. As transmissões não são racionais. São realizações
emocionais, para ajudarem o homem a suportar a vida. Como o senhor me responderia
a isto?”
Respondo que continua em vigor o seu preconceito. O senhor
está tratando com preconceito o problema religioso. Quem lhe disse que se
chegou à conclusão, do ponto de vista científico e religioso, de que a religião
seja isto, apenas um problema emocional? Não. O senhor conhece, por exemplo, a
posição pragmática de William James, nos Estados Unidos, no tocante às religiões?
O senhor sabe que ele encarou as religiões sob o ponto de vista racional e
didático e chegou à conclusão de que a Religião tem uma finalidade prática,
muito importante, na vida humana?
O senhor sabe que Augusto Comte, o grande filósofo do Positivismo,
que fez a sua filosofia baseada inteiramente no estado subjetivo da ciência,
acabou criando aquilo que ele chamou a religião da humanidade? Sabe que no Rio
de Janeiro existem centros positivistas, onde o senhor pode assistir às
cerimônias religiosas? Que Augusto Comte confirmou a existência da Metafísica
baseando-se nas experiências concretas e positivas? Que para ele as religiões
não tratavam de um Deus imaterial, abstrato, mas daquilo que ele chamava a
Deusa, que é a própria humanidade, o culto da humanidade?
A religião não tem apenas um sentido emocional, mas também um
sentido de busca da verdade. A religião faz parte do campo do conhecimento. No
tocante ao Espiritismo, nós consideramos o seu conhecimento, no sentido geral,
em três campos, três grandes províncias, por assim dizer, que são: a Ciência, a
Filosofia e a Religião. As ligações entre esses campos do conhecimento são
ligações praticamente genéticas. Por que? Porque sempre a Ciência nasce da
experiência do homem, no contato com a natureza, da sua procura em conhecer a
realidade das coisas, em descobrir as leis que as governam e servir-se delas,
para poder utilizar-se delas.
A Ciência dá os dados sobre a realidade. Esses dados vão
levar o homem a formular um conceito da natureza, a criar uma concepção do mundo,
da vida. Essa concepção do mundo é a Filosofia. Então, a Ciência nasce da
experiência humana na Terra. A Filosofia nasce das conquistas da Ciência. Essas
conquistas se projetam na concepção do mundo formal, que é a Filosofia, e
permitem que o homem tenha um comportamento adequado àquilo que ele considera
ser o mundo, na feição moral. Mas a moral mostra que o homem não é um ser
efêmero, como nos parece, pela sua aparência material. Assim, o ser, que sobrevive
após a morte, nos leva, naturalmente, à Religião. A Religião é, então, a busca
da verdade, da mesma forma que a Ciência, da mesma forma que a Filosofia. Cada
uma testa e estrutura o seu conhecimento; cada uma no seu campo. Todas elas
exercem, em conjunto, uma função, que é a busca da verdade.
O senhor se engana, portanto, ao considerar a Religião como
apenas um campo da emoção. O senhor fala isso por causa da fé. Mas é preciso
lembrar que Allan Kardec fez a crítica da fé e chegou à conclusão de que a fé
verdadeira é a fé que se ilumina, à luz da razão.
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