Os mundos habitados
Herculano Pires
“Ouvi falar que o Espiritismo traçou uma escala dos mundos.
Isso é verdade? Como é esta escala?”
Existe realmente uma escala dos mundos, mas não no sentido
absoluto. Não como um sistema rígido. Kardec, como sabemos, era um homem de
ciência e sabia tratar desses problemas com a flexibilidade necessária, para
não transformar certas afirmações ou tentativas de esclarecer as coisas em
formas dogmáticas. Então Kardec, examinando o problema da pluralidade dos
mundos no Universo e considerando que logicamente essa pluralidade deve
corresponder, também, à expansão da humanidade, que não pertence apenas à
Terra, mas a todos os mundos do Espaço, procurou estabelecer uma idéia, como
ele diz, uma sugestão, referente às diferentes espécies de mundos que existem.
E criou a escala dos mundos, da seguinte maneira:
•
Mundos
primitivos, em estado de provação – Isso nos vem da própria sugestão da
História da Terra. Quando examinamos a Terra no seu desenvolvimento, vemos que
ela já foi um mundo onde não havia a existência humana, não havia o homem, nem
sequer animais; enfim, não havia vida de espécie alguma. Depois surgiu a vida,
que se foi desenvolvendo, do reino mineral para o reino vegetal, do vegetal
para o animal, até atingir o reino hominal, com o surgimento do homem. Sendo
assim, a própria Terra nos oferece uma idéia bem positiva, bem clara, do que
são as várias formas do mundo. Os mundos primitivos são aqueles que estão ainda
em desenvolvimento, onde a vida começa a surgir e se desenvolver.
•
Mundos de
Provas e expiações – Esses, como a Terra, são mundos onde a vida já se
desenvolveu, em que o homem apareceu e em que se desenvolve, também, a
civilização. Como o próprio nome indica, nesses mundos o homem está sendo
provado pelas dificuldades terrenas e passando pelas expiações e atrocidades
derivadas do uso do seu livre-arbítrio, cometidas em vidas anteriores.
•
Mundos de
regeneração – nesses mundos a humanidade se liberta das expiações e passa a
enfrentar apenas as provas evolutivas, porque já adquiriu um grau evolutivo que
lhe permite libertar-se daquilo que popularmente se conhece como “pagamento das
dívidas do passado”.
•
Mundos
felizes - esses são mundos onde a Humanidade, já regenerada, está em
condições morais que lhe permitem viver uma vida divina, que podemos considerar
semelhante à vida dos deuses. Sua constituição é de natureza etérea, de matéria
mais estratificada que a do nosso planeta. O homem vive aí uma vida
paradisíaca.
•
Mundos
celestes ou divinos – Considerado pelo Espiritismo como os mundos
superiores, estes são os mundos habitados pelos Espíritos puros.
Assim, temos uma escala do mundo sobreposta à variedade de
formas de mundos habitados pela Humanidade, que não é terrena, é cósmica. A
Humanidade é cósmica, isto é, existe no Cosmos.
Esta é a posição do Espiritismo a respeito do assunto e, como
o ouvinte naturalmente já percebeu, pelas muitas manifestações científicas que
têm surgido, divulgadas, inclusive, nos noticiários dos jornais, do rádio e da
televisão a respeito de pesquisas sobre tudo isso, essa concepção espírita está
de pleno acordo com a era cósmica que estamos vivendo.
– 0 –
“Camille Flammarion foi espírita. Disseram-me mesmo que ele
foi médium de Allan Kardec, o que eu duvido. Foi ele quem deu a Kardec a idéia
de que existem outros mundos habitados?”
Não, não foi Flammarion quem deu essa idéia. Foram os Espíritos,
nas suas comunicações com Kardec, que explicaram a existência dos mundos
habitados no Universo. O ouvinte duvida que Flammarion tenha sido médium de
Kardec. Por que duvida disso? É tão conhecido o problema de Flammarion, nas
suas relações com o Espiritismo! Ele, realmente, aceitou a teoria da
pluralidade dos mundos habitados e escreveu um livro sobre isso. Trabalhou com
Kardec, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, como médium psicógrafo.
Posso adiantar-lhe que o Capítulo de A
Gênese, de Allan Kardec, intitulado “Uranografia Geral”, foi recebido
psicograficamente por Flammarion. Nesse capítulo, ele recebeu informações do
Espírito Galileu Galilei sobre a pluralidade dos mundos habitados.
Mundos sem vida
“Como o Espiritismo explica a existência de um mundo sem vida
alguma, como a Lua e provavelmente Marte?”
O senhor, agora, me lembrou de uma falha que cometi, na lição
passada, ao expor o problema sobre a escala espírita dos mundos. Realmente, há
nessa escala um outro tipo de mundo que eu não citei, porque está incluída na
própria fase dos Mundos Primitivos. São os Mundos
Transitórios, que, segundo os Espíritos disseram a Kardec, são
completamente áridos, muitos deles sem mesmo terem atmosfera, como acontece com
a Lua.
Alguns deles, porém, já possuem atmosfera. São aqueles em que
a vegetação se desenvolveu, em que houve a possibilidade, em virtude da
existência de água nas suas entranhas, do desenvolvimento da própria atmosfera.
Esses mundos transitórios, assim considerados, não têm condições de
habitabilidade e, justamente por isso, não têm habitantes permanentes. Ninguém
pode, por exemplo, viver permanentemente na Lua, a não ser de maneira
artificial, servindo-se dos recursos da Terra, porque a Lua não tem atmosfera.
Entretanto, nos Mundos Transitórios, os Espíritos se acomodam, por assim dizer,
nos seus trabalhos que realizam no Cosmos.
O senhor vai dizer que isto é, por certo, um caso de imaginação,
tirado da mitologia ou coisa semelhante. Mas a verdade é que os Espíritos somos
nós mesmos. É preciso lembrar dos Espíritos não como fantasmas, não como
criaturas abstratas, imaginárias, mas como criaturas humanas, desprovidas do
corpo material. Nós não somos animais. Temos um corpo animal como instrumento
de nossa manifestação, na vida terrena. Somos provenientes do Reino Animal, na
nossa evolução, mas por termos atingido um plano superior, em que se manifesta
a consciência, nós superamos a animalidade, porque a nossa essência é
espiritual e não material.
Temos, pois, de nos lembrar dos Espíritos como seres humanos,
dotados de todas as capacidades que possuímos, aqui na Terra, sendo que as
mesmas são criadas em virtude de eles estarem revestidos de um corpo mais leve
do que o nosso corpo material, que é o perispírito. O senhor teria a
possibilidade de dizer que tudo isso é imaginação. E se eu lembrar ao senhor
que as pesquisas existentes neste caso demonstraram a existência real do
perispírito, o corpo espiritual do homem? O senhor poderá objetar-me, como
costumam fazer os céticos, que essas pesquisas nunca chegaram a comprovações
decisivas. Na verdade, chegaram. Chegaram, sim senhor.
Se o senhor ler os trabalhos científicos a respeito, verá que
chegaram a resultados conclusivos, mas foram rejeitados pela maioria dos
cientistas, que não se importaram em pesquisar nesse campo. Por que William
Crookes se dedicou a estudar os fenômenos espíritas? Por que ele era espírita?
Não, porque ele nem acreditava nisso. Depois da investigação da sociedade
Dialética de Londres, que quis acabar com o Espiritismo e acabou, na verdade,
se dividindo em duas partes, uma a favor e outra contrária, depois desse
fracasso William Crookes foi chamado à liça. Era um homem de grande prestígio,
de grande capacidade científica no campo da investigação, principalmente para
fazer aquilo que a Sociedade Dialética não havia conseguido fazer.
É bem conhecido o episódio de Crookes. Ele trabalhou apenas
três meses na investigação espírita, afastando-se, portanto, do campo das suas
pesquisas habituais, do seu trabalho costumeiro. Pois bem, Crookes ficou mais
de três anos na pesquisa espírita e provou a existência de todos os fenômenos
espíritas. Então, o que fizeram aqueles mesmos que haviam solicitado a sua
presença nesse campo? Disseram que ele havia perdido a razão.
Como ter provado a existência dos Espíritos, pelo mesmo
Crookes, que havia provado a existência da matéria radiante? As conquistas de
Crookes antes do seu trabalho espírita eram válidas, mas as conquistas no campo
da investigação espírita não deveriam ser válidas. Veja o senhor o preconceito,
a falta de arejamento espiritual para enfrentar os problemas. Ainda recentemente,
um grande cientista francês afirmou, através de um trabalho muito bem feito,
sobre a tradição dos cientistas no mundo atual, em face dos problemas
parapsicológicos, que existe na Ciência uma lei de conservação da estrutura
científica, denominada Lei de Alergia ao Futuro, que funcionou na Ciência.
Quanto a Crookes, saiu do campo do presente imediato e investigou
a realidade dos fenômenos espíritas, com o que se projetava no futuro. Então os
seus próprios colegas se voltaram contra ele. Temos também o caso de Charles Richet,
que projetou suas pesquisas em Argel, provocando as manifestações de um
Espírito materializado, que ele examinou como fisiologista, em todas as
minúcias de sua manifestação; comprovou e afirmou a realidade da materialização
e foi acusado, pelos seus próprios colegas, de que tinha cometido um grave erro
de ter sido ludibriado por afirmações do cocheiro do general Noel, em cuja casa
foram feitas as experiências. Acontece que esse cocheiro havia sido despedido
pelo general Noel; era ladrão e bêbado. Então Richet perguntou a seus colegas
na França: vocês preferem ficar com as afirmações do cocheiro bêbado ou com as
minhas?
Como o senhor vê, o problema é muito sério, muito grave e nós
precisamos compreender que temos que deixar de lado os preconceitos e encarar a
verdade. Vamos examinar as pesquisas científicas em si e verificar a constância
com que essas pesquisas não mudam. Desde os tempos de Kardec até hoje, estão
sempre terminando, concluindo, pela existência real do fenômeno. Então a
realidade se impõe, através da pesquisa científica, e não pode ser
absolutamente negada com essa simplicidade, essa facilidade com que tem sido
feita.
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