NO DOMÍNIO DAS PROVAS
Emmanuel
Imaginemos um pai que, a pretexto de amor, decidisse
furtar um filho querido de toda relação com os revezes do mundo.
Semelhante rebento de tal devoção afetiva seria mantido em
sistema de exceção.
Para evitar acidentes climáticos inevitáveis, descansaria
exclusivamente na estufa, durante a fase de berço e, posto a cavaleiro, de
perigos e vicissitudes, mal terminada a infância, encerrar-se ia numa
cidadela inexpugnável, onde somente prevalecesse a ternura paterna, a
empolgá-lo de mimos.
Não freqüentaria qualquer educandário, a fim de não aturar
professores austeros ou sofrer a influência de colegas que não lhe
respirassem o mesmo nível; alfabetizado, assim, no reduto doméstico,
apreciaria unicamente os assuntos e heróis de ficção que o genitor lhe
escolhesse.
Isolar-se-ia de todo o contacto humano para não arrostar
problemas e desconheceria todo o noticiário ambiente para não recolher
informações que lhe desfigurassem a suavidade interior.
Candura inviolável e ignorância completa.
Santa inocência e inaptidão absoluta.
Chega, porém, o dia em que o genitor, naturalmente
vinculado a interesses outros, se ausenta compulsoriamente do lar e,
tangido pela necessidade, o moço é obrigado a entrar na corrente da vida
comum.
Homem feito, sofre o conflito da readaptação , que lhe
rasga a carne e a alma, para que se lhe recupere o tempo perdido, e o
filho acaba, enxergando insânia e crueldade onde o pai supunha cultivar
preservação e carinho.
A imagem ilustra claramente a necessidade da encarnação e
da reencarnação do espírito nos mundos; inumeráveis da imensidade cósmica,
de maneira a que se lhe apurem as qualidades e se lhe institua a
responsabilidade na consciência.
Dificuldades e lutas semelham materiais didáticos na
escola ou andaimes na construção; amealhada a cultura, ou levantado o
edifício, desaparecem uns e outros.
Abençoemos, pois, as disciplinas e as provas com que a
Infinita Sabedoria nos acrisolam as forças, enrijando-nos o caráter.
Ingenuidade é predicado encantador na personalidade, mas
se o trabalho não a transfigura em tesouro de experiência, laboriosamente
adquirido, não passará de flor preciosa a confundir-se no pó da terra, ao
primeiro golpe de vento.
(De “Coragem”, de
Francisco Cândido Xavier – Espíritos Diversos)
Nenhum comentário:
Postar um comentário