Caros amigos leitores , gostaríamos, na medida do possível ,contar com a interação de todos ,através de comentários , tornando se seguidores deste blog divulgando para seus conhecidos ,para que assim possamos estudar e aprendermos juntos , solidários e fraternos. Inscrevam-se no blog!

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Kardec, o operariado e a educação


Fonte: O Mestre na Educação - FEB - 6ª Edição

Allan Kardec, inteligentemente cognominado por Flammarion – o bom senso encarnado, comentando, em “O Livro dos Espíritos”, certos conceitos provindos do Mais Alto, a propósito do trabalho e do operariado, assim se exprime:
“ Não basta se diga ao homem que lhe corre o dever de trabalhar. É preciso que aquele que tem de prover à sua existência por meio do trabalho encontre em que se ocupar, o que nem sempre acontece. Quando se generaliza, a suspensão do trabalho assume as proporções de um flagelo, qual a miséria. A ciência econômica procura remédio para isso no equilíbrio entre a produção e o consumo. Mas, esse equilíbrio, dado seja possível estabelecer-se, sofrerá sempre intermitências, durante as quais não deixa o trabalhador de ter que viver. Há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. Considerando-se a aluvião de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as conseqüências desastrosas que daí decorrem? Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, o penhor da segurança de todos ”.
A falta daquele elemento insubstituível, a que alude o inolvidável codificador da Doutrina Espírita, há perto de um século, ainda perdura, lamentavelmente.
Tudo que se tem feito até aqui, a prol das classes obreiras, ressente-se de uma lacuna, sem cujo preenchimento de pouco proveito serão os benefícios que lhes pretendem outorgar as leis em vigor e outras mais que posteriormente se decretem em favor das mesmas. A omissão em apreço é aquela apontada por Kardec: a educação; não a educação intelectual isoladamente, mas a educação moral; não ainda essa moral espetaculosa que se reduz às aparências e exterioridades, interessando apenas os sentidos, porém a educação moral que forma e consolida caracteres; que, apelando para a razão e para o coração, cria personalidades, eleva o nível evolutivo e desperta no indivíduo o senso da dignidade própria e do valor pessoal, decorrentes da conduta e fruto legítimo dos seus atos no seio da família e da sociedade.
É disso que ainda não cogitaram os nossos legisladores. Se, porém, eles olvidarem essa medida de tanta relevância, cumpre aos espíritas lembrar-lhes a obrigação de fazê-lo, dando o exemplo dentro da esfera em que exercem suas atividades.
É certo que as leis trabalhistas, nascidas da evolução social que em todo o orbe se processa, são, em tese, necessárias e boas; porém, não é menos certo que às mesmas é imprescindível adicionar os processos educativos de cunho espiritual, uma vez que “Não só de pão viverá o homem”, segundo o sábio dizer do maior e do mais generoso dos amigos e defensores dos humildes – Jesus Cristo.
Não basta focalizarmos o analfabetismo como a nódoa vergonhosa de nossa decantada civilização. A decadência moral, a corrupção de costumes, a repetição cotidiana de crimes repugnantes e bárbaros, a desfaçatez e a impudência com que se tramam e se urdem as transações venais, em todos os setores, constituem, em seu conjunto, algo que enodoa, conspurca e macula mais o nome, a história e o conceito de um povo do que o analfabetismo.
O desenvolvimento da inteligência, desacompanhado da vigilância e orientação dos sentimentos, produz mais malefícios que proveitos, porque amplia e dilata as possibilidades de êxito na prática de velhacarias e vilezas, como na maneira astuta e sagaz de fugir às responsabilidades, iludindo as massas ingênuas e incautas. É ainda produto da inteligência impudente o forrar-se à obrigação de dar contas dos mandatos, seja na esfera pública, seja na particular, acoroçoando assim o regime da irresponsabilidade, cujas conseqüências funestas explicam a desordem e a indisciplina que, partindo das altas camadas, se derramam e se espraiam por todas as baixadas.
Não basta que acenemos às classes obreiras com certos direitos que até há pouco, criminosamente, não se lhes concedia; cumpre completar a obra da sua reabilitação, incutindo-lhes noções do dever, base e fundamento do direito natural e legitimo.
Do contrário, estaremos semeando em sua mente idéias desordenadas, subversivas e contraproducentes, cavando, ao mesmo tempo, profundo vale de separação entre aqueles de cujo mútuo entendimento e cooperação dependem a ordem e a prosperidade das nações.
É óbvio que o desequilíbrio entre o dever e o direito é responsável pela confusão e pelo desajustamento, que cada vez se manifestam mais acentuados em nosso meio.
Façamos obra cristã, e não demagógica, em beneficio dos nossos irmãos que manejam os músculos e os braços, visando em realidade o seu progresso, soerguendo-lhes o nível consciente do valor que enobrece, em todo sentido, máxime e particularmente no que concerne à formação do caráter, condição esta indispensável ao bom êxito em qualquer empreendimento humano; necessidade essa de que carecem tanto os dirigentes com os dirigidos, mais ainda os primeiros que os últimos, levando em consideração a maior soma de responsabilidade que lhes cabe.
Do menosprezo a tão grande problema resulta o estado lamentável de nossa sociedade, o que deu lugar às seguintes judiciosas considerações de Kardec, acima citadas.
Honremos e dignifiquemos a memória daquele que, tendo “olhos de ver”, soube deduzir de um simples e corriqueiro caso de tiptologia – tal como fez Newton observando a queda de uma maçã desprendida do caule -, a magnífica e esplêndida Doutrina Espírita, conjugando ciência, filosofia e religião, ou seja, todos os grandes ramos de especulações que absorvem a inteligência e o sentimento humano.
Rendamos-lhes a maior e a mais eficiente homenagem, a que condiz com aquele critério e aquele bom senso que sempre o distinguiu, fundando escolas que venham preencher a grande lacuna por ele apontada há mais de um século, lacuna que ainda persiste.
Esse, o monumento condigno que os espíritas devem erigir, num gesto de gratidão, em memória do amigo e assistente de João Henrique Pestalozzi, o inolvidável educador e consumado pedagogo de Zurique.
Educa e transformarás a irracionalidade em inteligência, a inteligência em humanidade e a humanidade em angelitude – diz Emmanuel.

Nenhum comentário:

Postar um comentário